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ROMANO O S S E G R E D O S D O I M P É R I O A F U N DAÇ ÃO D E R O M A • A R E P Ú B L I C A • I M P E R A D O R E S • A P O L Í T I C A D O “ PÃO E C I R C O ” E X PA N S ÃO • E C O N O M I A • C U LT U R A • A R T E S • R E L I G I ÃO • C R I S E E D E C A D Ê N C I A • L E G A D O TODOS OS CAMINHOS LEVAM A ROMA! O IMPÉRIO ROMANO FOI UM DOS MAIS INFLUENTES E IMPORTANTES DA HISTÓRIA E, DURANTE 600 ANOS, ROMA FOI UMA DAS CIDADES MAIS DESLUMBRANTES DO MUNDO ANTIGO. Podemos começar a lista de legados pela nossa língua, o português, que é derivada do latim, a língua que era escrita e falada em Roma. Se- guimos pelos algarismos romanos, representados por sete das letras do alfabeto, que também conhecemos. O Direito influenciou e deu origem a códigos jurídicos, adotados em sociedades ocidentais. Nas artes, os roma- nos foram influenciados pelos gregos, e foram mestres na reprodução da figura humana. Em Florença, o Renascimento foi um dos períodos mais ricos de toda a história da arte, com mestres como Leonardo Da Vinci, Michelangelo e Botticelli encantando a humanidade. Os caminhos do Império Romano, na política, economia, artes, cul- tura, arquitetura, religião e muito mais, você encontra aqui neste guia. E por falar em “caminhos”, a expressão “todos os caminhos levam a Roma” remete ao século 1, quando o Império Romano se estendia da Bretanha à Pérsia (hoje, da Inglaterra ao Irã), e chegou a incríveis 80 mil quilôme- tros de estradas, constituindo-se importantes meios de comunicação, por onde mensageiros levavam ordens ao longo do império. Boa leitura! Os editores redacao@editoraonline.com.br Fo to s: S hu tt er st oc k PREFÁCIO • CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA 4 SUMÁRIO • 14 CAPÍTULO 2 • REPÚBLICA ROMANA O período republicano de Roma, que compreende de 509 a.C. a 27 a.C. 28 CAPÍTULO 4 • QUEDA DA REPÚBLICA Como os conflitos e a falta de consenso com relação às políticas sociais tornou praticamente insustentável o regime republicano em Roma 20 CAPÍTULO 3 • FORMAÇÃO E EXPANSÃO DO IMPÉRIO ROMANO O período de conquistas de outros territórios pelos romanos e como as conquistas mudaram a vida e a estrutura de Roma na área econômica 38 CAPÍTULO 5 • ASCENSÃO DO IMPÉRIO ROMANO Após inúmeras guerras, um repaginado sistema monárquico de governo elaborado por César Augusto reaparece em 27 a.C. Fo to s: S hu tt er st oc k6 CAPÍTULO 1 • ORIGEM E FUNDAÇÃO DE ROMA A fundação de Roma e como a mistura de diferentes povos (gregos, etruscos e italiotas) deu origem aos romanos 48 CAPÍTULO 6 • PRINCIPAIS IMPERADORES ROMANOS Conquistas, comportamentos e como as atitudes de cada um deles teve efeitos positivos e negativos no Império 5 100 CAPÍTULO 11 • RELIGIÃO O politeísmo e o credo nos deuses, retirados, em sua maioria, do próprio panteão grego. Constantino torna o cristianismo a religião oficial do Império Romano 58 CAPÍTULO 7 • PROBLEMAS SOCIAIS E A POLÍTICA DO PÃO E CIRCO O crescimento urbano em Roma, o desemprego na zona rural e as “benesses” feitas por meio das lutas de gladiadores nos estádios 68 CAPÍTULO 8 • ECONOMIA NA ROMA ANTIGA Como as relações econômicas colocaram as diferentes regiões do Império em contato umas com as outras e dinamizaram as produções de minérios e artesanal 80 CAPÍTULO 9 • RELIGIÃO CULTURA ROMANA Como a cultura romana foi influenciada pela cultura grega. A mitologia como forma e explicação da realidade 92 CAPÍTULO 10 • ARTES A influência grega nas criações dos artistas de Roma e a introdução de novos elementos na arquitetura, como o arco redondo e a cúpula 112 CAPÍTULO 12 • CRISE E DECADÊNCIA DO IMPÉRIO ROMANO Por que o Império Romano chegou à decadência e como a corrupção dentro do governo e os gastos extravagantes do exército aceleraram o fim 124 CAPÍTULO 13 • LEGADO ROMANO As heranças nos aspectos culturais, científicos, artísticos e linguísticos, o que enriqueceu a cultural ocidental CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ G971 Guia conheça a história : Roma / -- [3. ed.] - São Paulo : On Line, 2016. : il. ISBN 978-85-432-0050-7 1. Roma - História. 16-34727 CDD: 937 CDU: 94(37) 18/07/2016 20/07/2016 CAPÍTULO 1 • ORIGEM 7 CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA Em geral, os historiadores modernos dão co mo certo o surgimento da cidade de Roma, durante o século VIII a.C., como um vilarejo no centro da Itália. Aquelas ter- ras na península Itálica já eram ocupadas desde o primeiro milênio antes de Cristo por diversos povos. Estas populações se aproveitavam do solo fértil e clima bastante ameno da região. Entre elas, estavam tribos úmbrias, sabinas e latinas, que instituíram aldeias agrícolas e pastoris. Os especialistas ressaltam que Roma tem início por meio da junção de um grupo de sete aldeias latinas e sabinas, todas elas situadas às margens do rio Tibre. Tais povos tiveram uma relação bas- tante estreita com os gregos – fundadores de colô- nias loca lizadas ao sul daquela península – e com os etruscos, estabelecidos ao norte. ANCESTRAIS Segundo o historiador e professor da Universidade Harvard, Thomas R. Martin, as principais evidên- cias dos ancestrais imediatos dos romanos vêm da escavação arqueológica de túmulos – datados dos séculos IX e VIII a.C. – dos povos chamados poste- riormente de villanovianos. Contudo, não há quaisquer razões para se acre- ditar que essas populações, que habitavam em co- munidades diferentes, se classificavam como um grupo unificado ou então homogêneo. Por outro lado, os estudos destacam claramente que estas pessoas realizavam atividades rudimentares de agricultura e também de criação de cavalos. Shutterstock DE VILAREJO A UMA POTÊNCIA O SURGIMENTO DE ROMA, NO CENTRO DA ITÁLIA, DATA DO SÉCULO VIII A.C., PERÍODO EM QUE O FUTURO IMPÉRIO ERA APENAS UM PEQUENO AGRUPAMENTO DE POVOS DIVERSOS »» Às margens do Rio Tibre, surgiram as primeiras aldeias que deram origem a Roma 8 GREGOS No oitavo século antes de Cristo, os ro- manos e os demais povos do sul e do centro da Itália já realizavam contato frequente com muitos comerciantes provenientes da Grécia que viajavam para o território italiano pelo mar. Tal intercâmbio econômico contribuiu subs- tancialmente para o crescimento da so- ciedade e cultura romanas. Uma quantidade considerável de gregos fixou residência na região neste mesmo período atrás de oportunidades de enriquecer por meio da agricultura. Assim, algumas cidades povoadas ma- joritariamente por cidadãos da Grécia tornaram-se, anos mais tarde, comuni- dades extremamente representativas. Alguns exemplos são Sicília e Nápoles. A aproximação com a cultura grega gerou um efeito no desenvolvimento do modo de vida dos romanos, que fo- ram inspirados pelos modelos de litera- tura, teatro e também arquitetura. Po- rém, se por um lado, a Grécia influen- ciou e foi alvo da constante admiração dos habitantes de Roma, por outro, era menosprezada devido à sua desunião política e inferioridade militar. Templo na Sicília, Itália, mostra influência grega na formação romana Busto de Heródoto: historiador acreditava que etruscos eram provenientes de Lídia, na Anatólia Povo etrusco produzia peças bastante refinadas para a época CURIOSIDADE Os trabalhos arqueológicos mostram que os ancestrais romanos fabricavam armas de metal, além de outros objetos de bronze e ferro. Como o bronze é, basicamente, uma mistura de cobre e latão, e como o latão só era minerado em locais bem distantes da Itália, essas populações praticavam, muito provavelmente, um sofisticado comércio de longa distância. ETRUSCOS Há muito debate com relação à influência dos etruscos na vida romana. Alguns grupos de estu- diosos consideram que este povo, situado ao norte de Roma, teria sido a força externamais relevante a afetar os modos romanos. Alguns especialistas até já especularam que eles teriam conquistado a Roma Antiga, com reis etruscos governando a nova cidade na parte final da monarquia. CAPÍTULO 1 • ORIGEM Sh ut te rs to ck Sh ut te rs to ck Sh ut te rs to ck 9 A ORIGEM MITOLÓGICA ASSIM COMO EM OUTRAS CIVILIZAÇÕES E POVOS, AS ORIGENS DE ROMA FORAM CONTADAS POR MEIO DE MITOS. SEGUNDO A HISTÓRIA, O MAIOR IMPÉRIO DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA FOI FUNDADO PELOS GÊMEOS RÔMULO E REMO. A TRADIÇÃO RESSALTA QUE, QUANDO PEQUENOS, FORAM AMAMENTADOS POR UMA LOBA QUE OS ENCONTRARA ÀS MARGENS DO RIO TIBRE. Rômulo e Remo, reza a lenda, seriam descendentes de Eneias, guerreiro e nobre troiano, filho da deusa Vênus e de Anquises. Conta-se que ele deixou Troia depois que a cidade foi destruída pelos gregos durante a famosa Guerra de Troia. Eneias seguiu, sem direção certa, pelo mar Adriático até chegar à região de Lácio, onde mais tarde ele iria levantar Roma. Neste período, Eneias ficou mais próximo da população local e casou- se com a filha do rei Latino, Lavínia. Posteriormente, foi o fundador da cidade de Alba Longa, onde iniciou a adoração aos mesmos deuses que costumava cultuar na região de origem dele. A cidade alcançou um período de crescimento e mudou a vida das pessoas que ali habitavam. O primeiro monarca de Alba Longa foi Ascânio, filho de Eneias. Ele gerou uma descendência no comando da cidade. Depois de doze gerações, nasceram Rômulo e Remo, filhos de Reia Sílvia. A mãe dos gêmeos era filha de Numitor, rei de Alba Longa na época. Ela era uma vestal, ou seja, uma sacerdotisa da deusa Vênus. Ela havia se tornado uma vestal a mando do irmão de Numitor, seu tio Amúlio. Amúlio tinha como plano ocupar o trono de Alba Longa e, para alcançar este objetivo, depôs o irmão, matou todos os filhos homens dele e ordenou que Reia Sílvia virasse uma sacerdotisa de Vênus. A intenção de Amúlio era que ela não pudesse ter filhos que viessem a competir com ele pelo poder da cidade. Entretanto, Reia engravidou do deus Marte. Assim que soube do nascimento de Rômulo e Remo, Amúlio mandou que os gêmeos fossem jogados no rio Tibre. O que ele não previa é que Estátua ilustra a lenda de que Rômulo e Remo foram amamentados por uma loba quando bebês Estátua de Vênus: mãe dos gêmeos seria uma sacerdotisa da deusa CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA festejaram como o dono do trono por ter um número maior de aves. Durante a discussão que teve início por conta da indefinição, Rômulo matou Remo. Diante do falecimento do irmão, Rômulo tornou-se o primeiro monarca da cidade, que foi batizada com o nome de Roma em sua homenagem. O poema épico Eneida, obra de Virgílio, é uma das obras utilizadas como fonte para a expansão deste mito. O historiador Tito Lívio também contribuiu, por meio de seu livro Desde a fundação da cidade, no desenvolvimento da narrativa. as águas empurrariam o cesto onde as crianças estavam para as margens do rio. Ali, os dois foram achados por uma loba, que os amamentou e, consequentemente, os manteve vivos. Um pastor que passava pelo local viu as duas crianças e as levou imediatamente para serem criadas em sua aldeia. A lenda conta que Rômulo e Remo cresceram, tornando-se pastores e caçadores. Viraram dois adultos fortes. No entanto, nesta época, eles foram descobertos por Amúlio. O rei capturou um dos irmãos, Remo, quando ambos participavam de um evento esportivo. Foi aí que Rômulo e Remo souberam que eram descendentes de Eneias e que possuíam o direito de reivindicar o trono. Eles também tiveram conhecimento da história por completo, que eram netos de Numitor e que Amúlio havia deposto o avô deles para se tornar rei. Eles, então, depuseram Amúlio, vingaram Numitor e o recolocaram no trono de Alba Longa. Porém, os gêmeos não permaneceram por lá. Os dois decidiram fundar outra cidade, exatamente onde tinham sido abandonados quando bebês. Ergueram muros, mas não sabiam quem iria assumir o seu governo, pois, como eram gêmeos, não havia quem fosse mais velho. Para definir isto, cada um subiu em um dos morros da região. Remo foi para o Aventino e Rômulo para o Palatino para esperarem um presságio que decidiria de uma vez por todas aquela pendência. Remo recebeu o primeiro presságio: seis abutres. Mas Rômulo também recebeu um presságio na sequência: doze abutres. Assim, aqueles que eram partidários de Remo o saudaram como rei por ter sido o primeiro. Já os favoráveis a Rômulo o »» Sh ut te rs to ck Sh ut te rs to ck 10 CAPÍTULO 1 • ORIGEM No entanto, o próprio conhecimen- to da origem dos homens e mulheres da Etrúria continua extremamente limi- tado. Em parte porque os historiadores compreendem somente uma pequena parcela de seu idioma, que provavel- mente não seja indo-europeu. No século V a.C., o historiador Heró- doto afirmava que os etruscos haviam emigrado de Lídia, na Anatólia, para a região onde hoje está a Itália. No en- tanto, Dionísio de Halicarnasso recha- çou a hipótese dizendo que o território italiano sempre foi a verdadeira casa desta população. De qualquer maneira, sabe-se hoje que os etruscos não formavam um país unificado étnica ou politicamente. Eles moravam em incontáveis cidades in- dependentes agrupadas nas colinas da região da Itália central. Culturalmente, executavam peças de arte consideradas muito refinadas para a época, como joias e também esculturas. Porém, eles despendiam bastante dinheiro na importação de objetos luxuosos da região do Mediter- râneo, sobretudo dos gregos. Os etrus- cos, aliás, nutriam uma relação próxima com os habitantes da Grécia na época e adequaram aquela cultura à sua. Um exemplo são os famosos vasos gregos, encontrados intactos em túmulos etrus- cos. CURIOSIDADE Os arqueólogos dão conta de que o povo etrusco tinha o costume de enterrar seus mortos em tumbas subterrâneas construídas na forma de réplicas – em escala menor – das casas onde moravam quando vivos. Eles revestiam a parte interior da residência com pinturas que retratavam episódios mitológicos e do cotidiano. As famílias desta população também adornavam os locais de sepultamento com objetos pessoais e de decoração. O objetivo era o de sempre reproduzir o conforto da vida real nas tumbas. Os senadores romanos eram os responsáveis por escolherem o rei MONARQUIA A configuração inicial de governo dos romanos foi a monarquia. Basicamente, o rei era escolhido pelo Senado, formado por uma espécie de conselho de anciãos de origem nobre e de chefes de famílias aristocráticas. O monarca exercia funções judiciárias, administrativas, legislativas, militares e, até mesmo, religiosas. No en- tanto, para tomar decisões consideradas mais relevantes, o rei fazia uma consulta junto aos senadores. Os historiadores destacam que neste período de dois séculos e meio de história sete reis administraram Roma – sendo Rômulo o pioneiro. Destes, os quatro pri- meiros eram sabinos e latinos, enquanto os três últimos eram de origem etrusca. Afresco romano retrata conversa entre escravo e seus senhores DESENVOLVIMENTO De maneira geral, esse grupo de monarcas foi responsável pelo desenvolvimento urbano e fortalecimento romano. Pouco a pouco, Roma se tornou uma povoação maior e mais capaz de se proteger de possíveis ataques através da adoção de uma estratégia focada em duas fren- tes: a absorção de outros povos e o acerto de alianças com sociedades vizinhas para a criação de uma cooperação militar. O tempo provou que esta tática acabou sen- do a mais correta, pois foi a responsável por for- mar a base de expansão romana de longo prazo. A incorporação de estrangeiros era praticamente uma necessidade de sobrevivência para uma co- munidade como Roma, que teve um nascimento tão frágil e pequeno. Sh ut te rs to ck Sh ut te rs to ck 11 CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA Além disto, a estratégia foi uma inovação no mundo antigo.Nem mes- mo os gregos ou quaisquer outros grupos da época implementaram uma política parecida. A realidade é que os estados da Grécia Antiga quase nunca permitiam que um membro de fora se tornasse cidadão. O mundo grego em- pregava o advento da cidadania apenas como um jeito de homenagear um es- trangeiro rico que tivesse beneficiado a comunidade e que não possuísse a necessidade ou a intenção de se tornar cidadão comum. Assim, a nova e exclusiva política romana de receber estrangeiros de bra- ços abertos com o intuito de elevar o número de cidadãos foi o segredo para se transformar no Estado mais podero- so que o planeta já viu. A ação era tão essencial que o go- verno de Roma oferecia até mesmo aos escravos a chance de mobilidade social ascendente. Os nobres romanos tinham escravos como suas proprie- dades, da mesma forma como ocorria em todas as outras sociedades antigas. Na época, os servos eram considerados apenas um bem e não seres humanos. Eles passaram a ter a oportunidade de ganharem o direito da cidadania após o período de liberdade. Alguém virava escravo ao ser capturado na guerra, vendido no mercado internacional por invasores que o haviam sequestrado ou por nascer de uma mãe escrava. Este servo poderia comprar a sua liberda- de com ganhos que o mestre permitia que juntasse para incentivar o trabalho mais intenso ou podia ainda receber a liberdade como presente no testamen- to do proprietário. Vale ressaltar que o escravo liber- to tinha suas obrigações legais com o ex-proprietário na forma de cliente. Em contrapartida, homens e mulheres libertos, como era a designação oficial, tinham direitos civis completos, como o casamento legal. Mesmo não podendo ser eleitos a cargos políticos nem servir no exército, seus filhos se tornavam ci- dadãos de Roma com direitos integrais. Como em outros tantos casos, havia uma lenda que fornecia uma origem antiga desta política bastante incomum de inclusão de estrangeiros. Rômulo, de acordo com a história, teria perce- bido que Roma, depois da fundação, não reunia condições de crescer ou se preservar, pois não tinha mulheres suficientes para darem à luz crianças necessárias para elevar o seu número de habitantes. Desta maneira, ele teria enviado representantes às sociedades vizinhas para pedir o direito de que seus homens, sem importar a classe social, pudessem casar com as mulhe- res de qualquer comunidade próxima. Rômulo instruía os mensageiros a di- zer que, apesar de a comunidade de CURIOSIDADE Hoje, o Fórum Romano apresenta uma aglomeração de ruínas de séculos da história. Pouco ou quase nada restou da arquitetura daquela época. Mesmo assim, um passeio pelo local coloca o turista em um ambiente revestido pelos áureos momentos de Roma. »» Roma ser pequena naquele momento, os deuses tinham concedido a ela um futuro bastante próspero. No entanto, todos os povos ao re- dor teriam recusado a solicitação de alianças matrimoniais. Sem saída, o rei decidiu preparar um plano bastante arriscado. Ele mandaria sequestrar mu- lheres. Para tanto, convidou o povo sa- bino para uma festa religiosa em Roma e raptou todas as moças solteiras. O episódio gerou uma batalha san- grenta entre as duas comunidades vi- zinhas. Porém, em meio à guerra, as noivas sabinas teriam se precipitado contra os combatentes, fazendo com que a luta fosse interrompida. Foi então que as novas esposas dos romanos im- ploraram aos dois grupos que parassem de se digladiar e fizessem as pazes. Caso contrário, poderiam matá-las ali mesmo. Diante da súplica, romanos e sabinos cessaram a batalha e combina- ram as duas populações em um Estado romano ampliado. A lenda consegue explicar, por meio do papel das mulheres neste in- cidente específico, como a imigração e a assimilação de outros povos forma- ram a base de poder na Roma Antiga. A história ainda destaca o ideal romano tradicional da mulher sendo a mãe dos cidadãos romanos, disposta, inclusive, a se sacrificar corajosamente pela so- brevivência daquela sua comunidade. Fórum Romano era o espaço para reuniões políticas, jurídicas e comerciais na Roma Antiga Sh ut te rs to ck 12 CAPÍTULO 1 • ORIGEM ARISTOCRACIA DA ROMA ANTIGA O AMBIENTE ARISTOCRÁTICO ROMANO, UMA ESPÉCIE DE NOBREZA HEREDITÁRIA, ERA COMPOSTO POR CIDADÃOS DENOMINADOS PATRÍCIOS. ESTE SELETO GRUPO PERDUROU DURANTE PRATICAMENTE TODO O PERÍODO HISTÓRICO DE ROMA, DESDE A SUA ORIGEM ATÉ A QUEDA DO PODEROSO IMPÉRIO. O CERNE DESTA ARISTOCRACIA MUDOU MUITO POUCO EM TERMOS DE CARACTERÍSTICAS BÁSICAS, APESAR DAS DIVERSAS VARIAÇÕES EM TERMOS DE PODER E INFLUÊNCIA NO DECORRER DOS SÉCULOS SEGUINTES. Em linhas gerais, as chamadas famílias patrícias eram aquelas que descendiam dos fundadores da cidade de Roma, o que mostra que a importância e o prestígio delas vinha de uma longa data, em tempos em que a região ainda estava sob o governo dos principais membros das antigas tribos itálicas. Vale ressaltar que a palavra “patrício” é derivada do latim “patres”, que significa “pais”. Originalmente, era aproximadamente 130 o número de famílias patrícias. No começo da fase republicana, a inserção de novas famílias foi vetada, assim como o matrimônio com os cidadãos plebeus. Tal proibição fez com que houvesse uma diminuição progressiva e acentuada no número de aristocratas em virtude da morte de muitos de seus integrantes. Por conta disto, Júlio César decidiu, anos depois, instaurar lei que permitia o ingresso de novos núcleos familiares na aristocracia romana. O interesse em fazer parte deste grupo não era meramente uma questão de status social. Na verdade, os patrícios detinham diversos privilégios governamentais. Eles possuíam, por exemplo, o direito à isenção de impostos. Tinham também a possibilidade exclusiva de se tornarem soberanos de Roma. Além disto, ainda poderiam ser oficiais, magistrados e senadores, o que era vetado para a maior parte dos cidadãos. Normalmente, eles exerciam funções bastante elevadas na religião, no exército, na administração pública e também no sistema judiciário. Eram donos de enormes porções de terra e ainda tinham os plebeus como credores. Os patrícios moravam em um domus – uma mansão – ou em suas propriedades rurais. EXPANSÃO A política que visava absorver os estrangeiros teve um efeito tão grande que a população romana cresceu consideravelmente em dois séculos. Neste período, o território já ocupava cerca de 780 quilômetros quadrados do Lácio, terras agrícolas suficientes para sustentar até 40 mil famílias. Provavelmente por meio dos serviços especializados de en- genheiros etruscos, os romanos drenaram, no século VI a.C., a seção aberta no sopé dos montes Palatino e Capitolino, que an- tes era pantanosa, para ser o centro da cidade. O espaço recém- -criado, chamado de Fórum Romano, permaneceu sendo a seção mais histórica e simbólica de Roma por mil anos. A construção dele como um local de reunião para assuntos políticos, jurídicos e comerciais, além de funerais públicos e fes- tivais, ocorreu quase ao mesmo tempo em que os atenienses criaram a ágora na Grécia para servir de centro público aberto. Isso demonstra os desenvolvimentos culturais comuns que acon- teciam na região do Mediterrâneo na época. No decorrer dos anos, foram erguidas novas e grandes cons- truções no entorno do Fórum. Estas edificações eram usadas para encontros entre autoridades, realização de julgamentos e fun- ções administrativas do governo. Estátua de Júlio César, que muitos anos depois permitiu o ingresso de novas famílias na aristocracia Sh ut te rs to ck REIS A figura do rei nutria uma forte valorização na Roma Antiga. Os monarcas eram reconhecidos como céle- bres fundadores de tradições duradouras. Um exem- plo é Numa Pompílio, o segundo a assumir o trono (governou de 715 a.C. até 673 a.C.), que ganhou fama pelo estabelecimento dos rituais religiosos públicos e sacerdócios que veneravam os deuses para pedirsu- porte a Roma. Túlio Hostílio foi o sucessor de Numa Pompílio e go- vernou entre os anos de 673 a.C. e 641 a.C. Ele ganhou mais notoriedade por conta de suas guerras com Alba Longa, Fidene e Veios, que se notabilizaram como as primeiras conquistas de território latino e o primeiro aumento dos domínios fora dos muros de Roma. Anco Márcio assumiu o reinado de Roma após o fa- lecimento de Túlio Hostílio e permaneceu no comando por 25 anos. Conhecido por ter alcançado uma admi- nistração tranquila, foi o último rei de origem sabina. Estruturou a cidade com a construção de aquedutos, fundou o porto de Óstia e ergueu a primeira ponte de madeira sobre o rio Tibre. Depois da morte de Anco Márcio, Tarquínio Prisco foi até a Comitia Curiata – a assembleia popular – e conseguiu convencer seus integrantes que ele devia ser eleito rei no lugar dos filhos do falecido monarca, pois estes ainda eram apenas adolescentes. Desta for- CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA ESTRUTURA SOCIAL Grande parte dos romanos acreditava mesmo que a região tomou forma de comunidade no século VIII a.C., quando esteve sob domínio de reis. Este teria sido o primeiro período monárquico de Roma. Entretanto, os historiadores modernos concluem que pouco se sabe sobre os eventos do período formativo da história local. Mesmo assim, as lendas que ron- dam a monarquia da época demons- tram a existência de ideias relevantes que os cidadãos romanos tinham sobre suas origens. Tais linhas de pensamen- to auxiliam na compreensão da estru- tura da política e também da sociedade já nos tempos posteriores de Repúbli- ca, sistema que surgiu na parte final do século VI a.C. assim que a monarquia foi derrubada. Um fato curioso é que os romanos, pelo resto de sua história, referiram-se ao governo como republi- cano, mesmo depois da restauração da monarquia no Império. O termo técnico romano para a co- ta nt ri k7 1/ S hu tt er st oc k CURIOSIDADE Reza a lenda que o rei Túlio Hostílio, terceiro monarca de Roma, morreu atingido por um raio como punição por seu orgulho. W ik ip ed ia ma, Tarquínio sucedeu a Anco Márcio. Ele assumiu o trono em 616 a.C. e nele continuou até 578 a.C, quando teria sido morto em um complô promovido pelos três filhos de Anco Márcio. Sérvio Túlio, também etrusco, era genro de Tarquínio Prisco e assumiu o poder por influência de sua sogra, Ta- naquil. Ele governou entre 578 a.C. e 535 a.C. Ficou famoso pela criação de instituições básicas para organizar os cidadãos romanos em grupos para fins políticos e militares, além de instaurar com bastante sucesso a prática de con- cessão de cidadania a escravos libertos. O sétimo e último rei romano antes da instauração da república foi Tarquí- nio, o Soberbo. Ele chegou ao trono em 535 a.C. e o deixou em 509 a.C., quando uma série de eventos culminou em sua deposição e no encerramento do primei- ro período monárquico em Roma. Festival de reconstituição da história em Moscou, na Rússia, mostra um pouco da vida dos patrícios romanos munidade política como um todo era “povo romano” (populus Romanus), mas na realidade essa definição não sugeria propriamente um ambiente de democracia. A realidade é que a clas- se dominante quase sempre tinha as rédeas do governo local. Assim como na sociedade contemporânea mundial, algumas poucas famílias possuíam os comandos político e econômico dentro do cenário romano. Desta maneira, os plebeus, maior parcela da população – composta por artesãos, comerciantes e camponeses – viviam em condições sociais pouco con- fortáveis. Os clientes, pessoas livres e pobres, dependiam das famílias patrí- cias, para as quais prestavam regular- mente favores, serviços e davam apoio político e militar. Em troca, recebiam ajuda econômica e proteção. Quanto mais clientes um patrício tivesse sob a sua proteção, mais importância política e social ele conquistava. Por fim, os es- cravos, em geral prisioneiros de guerra ou endividados, compunham uma par- cela da população não muito numerosa no período monárquico. SÉCULOS X E IX A.C. Os villanovianos, gregos e etruscos começam a se desenvolver na região da Itália. 753 A.C. Rômulo funda Roma e torna-se o primeiro rei. 716 A.C. Rômulo morre sob circunstâncias misteriosas. 715 A 673 A.C. Numa Pompílio torna-se rei e estabelece rituais religiosos públicos e sacerdócios. SÉCULO VI A.C. Roma se expande para controlar o território de 780 quilômetros quadrados na região central da Itália e cria seu Fórum. 578 A 535 A.C. Sérvio Túlio assume o trono e passa a organizar os cidadãos em grupos políticos e militares. Estabelece a concessão de cidadania a escravos libertos. Fr an s H uy s W ik ip ed ia Sh ut te rs to ck Sh ut te rs to ck 14 CAPÍTULO 2 • REPÚBLICA A ROMA REPUBLICANA OPOSIÇÃO DA ARISTOCRACIA FEZ FRACASSAR O PERÍODO MONÁRQUICO NO TERRITÓRIO ROMANO E ABRIU CAMINHO PARA UMA NOVA FORMA DE GOVERNO Tudo indicava que eram bons os ventos que sopravam sobre a monarquia de Roma. Era praticamente um consenso que Sérvio Túlio – governante entre os anos de 578 a.C. e 535 a.C. – havia criado bases só- lidas para organizar os cidadãos romanos em grupos para fins políticos e militares. A ideia de conceder cidadania a escravos libertos também parecia ser um passo im- portante para a consolidação do regime. Contudo, os monarcas passaram a ter o do- mínio ameaçado pelas classes mais abastadas. Esta oposição direta imprimiu forte pressão, pois as famílias ricas se consideravam equivalentes sociais do rei e, portanto, requeriam mais status e poder em suas mãos. O apoio que pessoas co- muns davam ao monarca também as incomoda- va profundamente. Esta guerra fria colocava os reis em posição de insegurança absoluta, pois havia o medo de que um integrante mais poderoso da alta clas- se recorresse à violência para tomar o trono. Em busca de um apoio contra tais pessoas, os mo- narcas costumavam ter como importantes alia- dos cidadãos donos de riqueza suficiente para lhes abastecer com armas, mas que não reuniam dinheiro para fazer parte da classe alta. Mesmo com esta salvaguarda, alguns dos mais ricos romanos conseguiram, em 509 a.C., depor o rei Tarquínio, o Soberbo. Ele perdeu o trono por conta de um episódio envolvendo Lu- crécia. Esta peculiar integrante da classe alta de Roma teria sido estuprada pelo filho do rei após ser ameaçada com uma faca. Apesar de o marido e seu pai terem pedido a ela que não se culpasse pelo incidente, Lucrécia cometeu suicídio. Antes CURIOSIDADE Segunda a lenda, o rei Tarquínio, o Soberbo, era um etrusco que ascendeu ao trono depois que a filha de Sérvio, Túlia, o forçou a desposá-la e, em seguida, matar o próprio pai dela. de morrer, no entanto, ela solicitou aos familiares que a vingassem. A deposição de Tarquínio foi lidera- da por Lúcio Júnio Brutus, que alcançou êxito na missão ao se unir a homens autointitulados libertadores. A aliança entre estes integrantes da classe alta foi suficiente para a abolição da mo- narquia romana. Após o episódio, ficou estabeleci- da a República Romana. A justificativa para a entrada do novo regime era que o governo capitaneado por um único homem, como era o caso da monar- quia, levava a terríveis abusos de po- der, como o estupro de Lucrécia. O termo “República” é originado do latim res publica, que significa “a coi- sa do povo”, “o assunto do povo” ou “comunidade”. Esse era o ideal do go- verno romano: ser para a comunidade. Porém, esse conceito nunca foi coloca- do completamente em prática, pois a classe alta dominou o governo e a so- ciedade neste período. 15 Pintura do espanhol Eduardo Rosales retrata o suicídio de Lucrécia, que culminou na queda da monarquia e na instituição do período republicano em Roma CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA Sh ut te rs to ck »» REPÚBLICA DOS CARGOS O período republicano em Roma ficou marcado pelo surgimento de inúmeros postos políticos. Taiscargos visavam satisfazer os anseios da elite patrícia em participar ativamente do governo. Esta situação foi o estopim para o apa- recimento de conflitos sociais diversos na época. Esta presença de membros da clas- se alta nos postos mais importantes e nas decisões políticas de Roma promo- veu uma disputa acirrada entre estes e os plebeus mais abastados, que eram os encarregados de exercerem ativida- des econômicas e militares. Mas as fontes de conflito entre pa- trícios e plebeus no início da República eram também econômicas. Os plebeus pobres eram os mais desesperados por alívio das políticas dos patrícios no perí- odo. Com o aumento populacional, esta fatia da população precisava de mais terra para cultivar e se alimentar. Os integrantes da elite, no entanto, domi- navam a maior parte das propriedades e ainda faziam empréstimos aos pobres. Com a falta de terra para plantio e os altos juros de suas dívidas, muitos plebeus chegaram ao ponto de saírem do limite sagrado da cidade para um povoado temporário em uma colina que ficava nas proximidades. Além disto, os plebeus se recusaram a servir no exér- cito da milícia de cidadãos. A secessão funcionou. A defesa romana ficou bas- tante prejudicada, pois não contava com um exército permanente profissional. Essa situação fez com que os patrícios precisassem ceder, algo que eles, natu- ralmente, não gostavam nem um pouco. Assim, tiveram que costurar um acordo com os plebeus. 16 CURIOSIDADE A Lei das Doze Tábuas transformou-se em um símbolo nacional do compromisso romano com a justiça legal. 400 anos depois, as crianças ainda eram obrigadas a decorar essas antigas leis. CAPÍTULO 2 • REPÚBLICA DIREITO ROMANO De acordo com a tradição local, o acerto entre as duas partes foi o que levou à criação das primeiras leis escritas em Roma. O código legal passou a vigo- rar depois da visita de uma delegação romana a Atenas, onde foi estudado como a cidade grega desenvolveu um código de direito escrito. Apesar des- ta pesquisa, foi necessário um tempo grande para que as duas ordens roma- nas atingissem o acordo final sobre as leis. Isso porque o pacto precisaria, por um lado, proteger os plebeus e, por ou- tro, garantir o status dos patrícios. A Lei das Doze Tábuas, o código es- crito mais antigo do direito romano, foi promulgado entre os anos de 451 e 449 a.C. Apesar de gerar avanços, os patrí- cios aproveitaram a ocasião para incluir a abolição do matrimônio com plebeus. Contudo, era muito importante à clas- se plebeia ter um código de leis escrito com o intuito de evitar que os magis- trados patrícios, que julgavam a maio- ria das ações legais, tivessem decisões arbitrárias e injustas apenas por causa de interesses pessoais. De modo geral, a Lei das Doze Tábu- as trazia questões muito práticas e sim- ples, como “Se alguém for chamado a juízo, compareça” ou “Se uma árvore se SISTEMA POLÍTICO A constituição romana incluía vários funcionários eleitos e o Senado como órgão especial. O posto de cônsul era o mais alto no período republicano. Como a República foi criada para evitar que apenas um homem tomasse o governo por um tempo indeterminado, o cônsul surgiu para que dois líderes do Estado fossem eleitos para prestar serviço em Ilustração presente no Museu de Madri retrata o sonho de um patrício e sua esposa inclina sobre o terreno do vizinho, que os seus galhos sejam podados à altura de mais de quinze pés”. Esse conjunto de regras mostrava que o romano tinha um intenso interesse pelo direito civil. Já o código penal nunca chegou a ser extenso. Desta forma, os tribunais não tinham um conjunto vasto de regras para orientar os vereditos. conjunto. O tempo de governo era de um ano e estava proibida a reeleição para mandatos consecutivos. A palavra cônsul tinha o significado de “aquele que cuida da comunidade”. Era uma forma de deixar claro que os detentores do posto deveriam agir em nome dos interesses de todos os roma- nos. As principais atribuições dos côn- sules eram fornecer liderança sobre a orientação política e civil, além de co- mandar o exército em tempos de guer- ra. O embate para alcançar este posto era intenso, pois ocupá-lo se tratava de uma maneira de elevar o prestígio fa- miliar por um longo período. Algumas famílias com apenas um cônsul entre os seus ancestrais tinham o costume de se chamar de “nobres”. Já o Senado, que perdurou durante todos os séculos da história romana, pode ser considerado a instituição mais influente da “constituição romana”. Importante lembrar que a casa datava da época monárquica e que mesmo os reis não tomavam decisões importan- tes sozinhos, uma vez que era uma tradição romana sempre pedir conse- lho a amigos e a idosos. Deste modo, os monarcas reuniram um grupo seleto de experientes conselheiros que eram chamados de senadores (palavra latina para idosos). Portanto, o costume de o líder tomar conselho sempre prosse- guiu durante o período republicano. Durante a maior parte da história, o Senado funcionava com cerca de trezen- tos membros. O general Sulla dobrou este número com o advento de uma profunda reforma em 81 a.C. Júlio Cé- sar, por sua vez, subiu o montante para novecentos com o objetivo de conseguir partidários durante a guerra civil da década de 40 a.C. Em 13 a.C., Augusto reduziu o contingente de senadores no- vamente para seiscentos. Segundo historiadores, o Senado sempre incluiu patrícios e plebeus da elite. O tempo encarregou-se de obrigar os candidatos a possuírem uma quantia grande de propriedades para poderem entrar na disputa ao posto de senador. Sh ut te rs to ck 17 CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA No início da República, os senadores eram escolhidos pelos cônsules entre os homens já eleitos anteriormente como magistrados menores. Tempos depois, a seleção passou a ser realizada pelos censores, que eram magistrados espe- ciais de alto prestígio. Uma das maiores influências do Senado recaía sobre as decisões relativas à declaração e con- dução de guerras. Importante observar que, nesta época, Roma vivia em confli- tos armados quase que continuamente. Um aspecto relevante é que no período republicano o Senado não de- tinha o poder de votar projetos, ele apenas agia como conselheiro. Ou seja, não possuía o direito oficial de vetar ou liberar quaisquer decisões do governo executivo, mas sim um status de res- peito e consideração em meio aos cida- dãos romanos. CARGOS Obviamente, o posto de cônsul era tido como o mais importante em Roma. Na sequência, os demais cargos seguiam uma ordem de prestígio. Mas, para al- cançar os lugares mais elevados, era necessário seguir um plano de carreira, que tinha início por volta dos vinte anos de idade, geralmente como assistente de oficial. A seguir, a escalada seguia tentando a eleição de menor valor, a de questor, que era responsável pela admi- nistração financeira do Estado. O cargo seguinte era o de edil, que carregava consigo a difícil tarefa de gerenciar a manutenção de ruas, esgotos, templos, mercados e demais obras públicas. O passo seguinte dentro da hierar- quia do poder romano era buscar a vitó- ria na eleição para o cargo anual de pre- tor, magistratura muito prestigiosa e que só perdia em importância para a vaga de cônsul. Em geral, os pretores tinham como incumbência a administração da justiça e o comando de tropas de guerra. Assim, o poder e o prestígio des- sas posições as tornavam o centro da disputa entre patrícios e plebeus por postos públicos. Em 337 a.C., a pressão da classe plebeia forçou a aprovação de lei que abria todos os cargos de forma uniforme entre as duas ordens. A “constituição romana” tinha ain- da duas posições de governo especiais não anuais: censor e ditador. O primeiro, que deveria ser um ex-cônsul, cuidava da contagem periódica de cidadãos e de suas propriedades para que os im- postos pudessem ser cobrados de uma maneira mais justa e os romanos classi- ficados parao serviço militar. Já o cargo de ditador era ocupado somente em emergências nacionais graves, quando se tornava necessária a rápida tomada de decisões para garantir a boa saúde do Estado. Geralmente, a posse de um ditador significava que Roma havia so- frido uma perda militar muito grande e precisava de uma ação extremamente cirúrgica para que um desastre fosse evitado. O ditador tinha plenos poderes, suas decisões não poderiam ser ques- tionadas, mas a sua permanência no posto era de, no máximo, seis meses. FUNCIONÁRIOS ASSALARIADOS A entrada na carreira pública, no entan- to, estava longe de gerar lucros finan- ceiros aos portadores dos cargos, que não recebiam salário por seu trabalho. Ao contrário, os funcionários, inclusi- ve, gastavam parte do seu dinheiro ao exercerem tais atividades. Desta forma, fica claro que somente aqueles homens que tinham condições financeiras privi- legiadas podiam cumprir o funcionalis- mo público. Estes, normalmente, obti- nham renda por meio de propriedade familiares ou suporte financeiro de amigos mais próximos. Além disto, assim como nos dias de hoje, os custos de uma campanha eleitoral eram bastante exacerbados. Os candidatos, por vezes, desprendiam uma quantidade razoável de recursos e até contraíam dívidas enormes. Não bastasse isto, era desejável que, depois de eleito, um funcionário do governo pagasse, com seu dinheiro, obras públi- cas em estradas, templos e aquedutos. Mas, se no início, a carreira pública conferia só status social, depois de um tempo a conquista de novos territórios ajudava muitos a ganharem dinhei- ro. Estes funcionários passaram a ter o direito legal de enriquecer ganhando presas de guerra quando exerciam os postos de comandantes em batalhas de conquistas vencidas. Outra forma de obter ganhos – ilicitamente – era pelo recebimento de propina enquanto ad- ministrava as províncias dos territórios conquistados pelos romanos. »» Figura de senador e seus escravos: parlamentar romano era uma espécie de conselheiro do cônsul Sh ut te rs to ck 18 MACCARI, César (1840-1919), Cícero Denunciando Catilina, 1880, Roma CURIOSIDADE Para conseguirem apoio dos eleitores, candidatos a cargos públicos em Roma financiavam festivais de luta entre gladiadores e batalhas de animais trazidos da África. CAPÍTULO 2 • REPÚBLICA ASSEMBLEIAS As decisões em Roma eram tomadas por meio da votação em assembleias. Nestes eventos ao ar livre, eram defi- nidos os resultados de pleitos e aprova- das novas leis. No entanto, os historia- dores afirmam que tais ocasiões apre- sentavam um nível de complexidade muito grande. Os cidadãos – adultos e livres – se reuniam depois da convoca- ção de um funcionário público. Os debates ocorriam antes das as- sembleias em um grande agrupamento do qual qualquer um – mesmo não ci- dadãos e mulheres – podiam participar, mas somente cidadãos homens tinham o direito à palavra. Por outro lado, to- dos podiam expressar suas opiniões através de aplausos ou vaias para aqui- lo que era falado. Entretanto, no início da assembleia em si, apenas poderiam ser votadas propostas feitas pelos funcionários pú- blicos. Era momento também de solici- tar emendas às propostas. Nesta época, a cidade de Roma pos- suía três assembleias eleitorais diferen- tes: Assembleia das Centúrias, Assem- bleia Tribal dos Plebeus e Assembleia Tribal do Povo. A apuração, porém, não estabelecia a regra de “um homem, um voto”. Na Assembleia das Centú- rias, por exemplo, os cidadãos eram di- vididos em pequenos grupos segundo as regras específicas de cada encontro. Estes grupos, em geral, não eram equi- valentes em tamanho. Primeiramente, os integrantes de cada círculo votavam individualmente para que fosse deter- minado qual seria o voto único do gru- po na assembleia. Assim, a soma dos votos únicos dos grupos definia uma assembleia. O grande problema é que este pro- cedimento, aparentemente democráti- co, gerava distorções nos resultados das eleições. Os homens mais ricos e pode- rosos compunham grupos menores que possuíam votos com o mesmo peso de grupos bem maiores formados por ci- dadãos pobres. Assim, nem sempre a vontade da maioria absoluta das pes- Em busca de votos, candidatos a cargos públicos promoviam lutas entre gladiadores para cativar os cidadãos romanos soas era respeitada. Para piorar, a vota- ção começava dos mais ricos até chegar aos menos abastados. Com isso, os in- tegrantes das classes mais afortunadas podiam votar em bloco na assembleia e, quando o pleito chegava aos mais pobres, a maioria de votos já estava praticamente decidida. Já os grupos eleitorais na Assem- bleia Tribal dos Plebeus eram deter- minados segundo o local onde os cidadãos moravam. Este assembleia obteve o nome da instituição romana de tribos. À época, chegava a 35 o nú- mero de tribos, que eram estruturadas em termos geográficos para dar uma Sh ut te rs to ck CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA cano, todas as propostas aprovadas pelos plebeus nestas reuniões eram tidas somente como recomendações, nunca como leis. Assim, os aristocra- tas, que dominavam o governo ro- mano nesta época, em muitos casos simplesmente ignoravam os encami- nhamentos dados nestes plebiscitos. Contudo, os plebeus passaram a se revoltar com tal falta de consideração da elite para com os seus pedidos e desejos. Diante disso, a prática da se- cessão foi uma ferramenta mais uma vez importante para pressionar a aris- tocracia romana. Repetido por várias vezes, esse instrumento de luta fez com que os patrícios fossem obriga- dos a ceder. Um novo movimento de revolta em 287 a.C. culminou em um acordo que tornava as decisões toma- das nos plebiscitos plebeus uma fonte de leis oficiais. Essa mudança fez com que os re- sultados de votos dados na Assem- bleia dos Plebeus passassem de meras recomendações a uma das principais fontes de legislação, que atingiam, inclusive, os próprios patrícios. O reco- nhecimento destes plebiscitos acabou, assim, com o conflito das ordens entre patrícios e plebeus. A Assembleia Tribal dos Plebeus era responsável por eleger, entre ou- tros, os dez tribunos. Estes eram funcio- nários públicos especiais e poderosos dedicados a proteger os interesses da classe plebeia. O poder dos tribunos de obstruir ações de outros funcionários públicos e de assembleias dava a eles um potencial enorme de influenciar o governo de Roma. Desta maneira, os detentores do cargo passaram a ser odiados por integrantes da elite roma- na, que, em inúmeras ocasiões, tinham os seus desejos políticos negados por conta da influência deles. Posteriormente, a Assembleia Tribal também passou a ter reuniões ampliadas com as presenças de pa- trícios e plebeus. Os encontros com este formato ganharam o nome de As- sembleia Tribal do Povo. Tais reuniões serviam para eleger, por exemplo, os questo res e ainda podiam decretar leis e rea lizar julgamentos considerados de me n or importância. Apesar de todas as tentativas de chegar a um denominador comum, a luta entre classes e poderes gerou, durante a República, muitos conflitos políticos sérios. Tais confrontos, acre- ditam alguns historiadores contempo- râneos, eram causados pelo fato de várias instituições poderem criar leis ou normas equivalentes. Como Roma não tinha uma Suprema Corte, não era possível resolver disputas sobre a validade das leis que estavam sobre- postas ou em discordância umas com as outras. Mesmo com toda esta movimenta- ção e efervescência, os romanos mais ricos e de maior status social continu- aram dominando a maior parte do go- verno republicano de Roma. 509 A.C. Depois do estupro e suicídio de Lucrécia, membros da elite derrubam a monarquia e instituem a República. 451 A.C. E 449 A.C. Com o desenvolvimento da República, é criada a Lei das Doze Tábuas, o mais antigo código escrito do direito romano. 337 A.C. Após pressão dos plebeus, os patrícios são obrigados a aceitar a criação de umalei que distribuía todos os cargos públicos de forma uniforme entre as duas ordens. Shutterstock Sh ut te rs to ck 287 A.C. Novamente depois de grande pressão, a assembleia plebeia deixa de ser um mero conselho e ganha o caráter de formadora de leis.Sh ut te rs to ck vantagem a proprietários de terras ricos da zona rural. Esta assembleia não incluía os chamados patrícios. Constituída, basicamente, de eleitores plebeus, conduzia julgamentos e as mais diferentes formas de negócios públicos imagináveis. Sobretudo nos primeiros séculos do período republi- Sh ut te rs to ck 20 CAPÍTULO 3 • EXPANSÃO GUERRAS E AVANÇO TERRITORIAL OS ROMANOS ENFRENTARAM DURAS BATALHAS PARA CONSEGUIREM AMPLIAR DE MANEIRA SIGNIFICATIVA SEU DOMÍNIO NO PERÍODO REPUBLICANO Durante sua época republicana, Roma travou guerras que a ajudaram a ampliar o domínio territorial de um modo bastante significativo. Esta expansão sobre terras anteriormente governadas por outros povos foi fundamental no projeto de formação de um verdadeiro império. Se trouxe ganhos de terras, este movimento tam- bém gerou profundas mudanças na sociedade de Roma. Após dominar diversos arraiais, os romanos passaram a ter contato muito estreito com o modo de viver de outras culturas. O caso mais claro foi a interação com os gregos. Esta relação levou, inclusive, à criação da primeira obra de literatura romana escrita em latim. Além disto, a expansão fez com que uma infinidade de pequenos agricultores da Itália caísse na pobreza. Tal situação gerou conflito entre os membros da elite sobre o que fazer com estes conterrâneos necessitados. Era o prenúncio do fim da República. Expansão romana: mapa mostra que, no segundo século depois de Cristo, o império dominava boa parte da Europa, Ásia Menor e norte da África Sh ut te rs to ck 21 CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA Nos cem anos seguintes, travaram in- tensas lutas contra os etruscos da loca- lidade de Veios, ao norte do rio Tibre. A vitória veio no ano de 396 a.C. e ajudou os romanos a praticamente dobrarem o seu território. Nesta época, o exército romano já era considerado o mais pode- roso da região do Mediterrâneo. A sua maior unidade era a legião, composta por, aproximadamente, 5 mil soldados de infantaria. Cada legião ainda tinha a retaguarda de 300 tropas de cavalaria, além de engenheiros responsáveis por atividades de apoio. A legião era subdividida em unida- de menores, que eram lideradas pelos chamados centuriões. Tratava-se de uma forma de garantir maior mobilida- de do exército em caso de necessidade de uma reação rápida a situações ines- peradas durante os combates. Essa for- mação deixava espaços entre os grupos de cem homens, o que permitia que os soldados de infantaria permanecessem atrás dos grandes escudos enquanto fa- ziam bom uso das lanças para romper a linha de frente d o inimigo. Em seguida, eles empunhavam suas espadas para o temido combate corpo a corpo. Segundo historiadores, as espadas usadas pela infantaria eram especial- mente feitas para golpear oponentes a uma distância bem curta. Além dis- so, tais homens passavam por rigoroso treinamento para conseguirem suportar os sangrentos confrontos. Essa boa e intensa preparação do exército auxiliou Roma a avançar em suas investidas. Em 220 a.C., o imperialismo começava a ganhar contornos mais fortes depois que toda a Itália ao sul do rio Pó estava sob controle dos valentes romanos. Quando vencia as ásperas batalhas, Roma tinha como estratégia escravizar os povos derrotados. Quando não fazia isso, os forçava a ceder extensões de terra bastante consideráveis. Com re- lação a povos italianos conquistados, os romanos não os obrigavam a pagar impostos, mas exigiam que estes pres- tassem ajuda militar nas batalhas. Os novos aliados recebiam uma parte dos despojos de guerra – como escravos e terra. Em linhas gerais, a estratégia romana era agregar ex-adversários e, assim, fazer com que sua riqueza fos- se ainda maior com o passar do tempo. Diante deste cenário, os especialistas no tema enfatizam que o imperialismo romano era inclusivo. Legião do exército romano era composta por 5 mil soldados de infantaria UM MILHÃO DE HABITANTES A REPÚBLICA NÃO FOI UM MOMENTO APENAS DE EXPANSÃO TERRITORIAL. DE ACORDO COM HISTORIADORES, A CIDADE DE ROMA TAMBÉM ALCANÇOU UM AUMENTO POPULACIONAL SIGNIFICATIVO NESTE PERÍODO E TERIA SIDO A PRIMEIRA CIDADE DO PLANETA A ATINGIR A IMPRESSIONANTE MARCA DE UM MILHÃO DE HABITANTES HÁ CERCA DE 2.500 ANOS. Apesar de alguns especialistas não concordarem com a afirmação e dizerem que Alexandria, no Egito, seria a dona do feito, a maioria dos peritos costuma dar o título a Roma. Com o passar do tempo, a cidade italiana foi perdendo espaço e acabou ultrapassada por outras localidades. Atualmente, as cinco maiores metrópoles do mundo são Tóquio, Cidade do México, Nova Iorque, Mumbai e São Paulo. CURIOSIDADE A eficiência e força do exército romano eram bem conhecidas no primeiro século depois de Cristo. Tanto é verdade que, na carta bíblica aos cristãos da igreja de Éfeso, escrita por volta de 60 d.C., o famoso apóstolo São Paulo utiliza como exemplo os armamentos e peças do vestuário de um soldado de Roma para rogar que os efésios permanecessem fiéis aos seus ensinamentos. Ele usa expressões como “armadura de Deus”, “cinto da verdade”, “couraça da justiça”, “escudo da fé”, “capacete da salvação” e “espada do Espírito” (Efésios 6:11-17). PRIMEIROS COMBATES As batalhas iniciais ocorreram na região central da Itália. Os romanos obtive- ram importante triunfo sobre vizinhos latinos em 499 a.C., pouco depois que o regime republicano foi estabelecido. Apóstolo São Paulo utilizou as peças do vestuário de um soldado romano para exemplificar como deveria estar preparado um cristão para enfrentar suas provações »» Sh ut te rs to ck Sh ut te rs to ck CAPÍTULO 3 • EXPANSÃO EXPANSÃO Por volta de 300 a.C., a taxa populacio- nal de Roma chegou, diante deste am- biente de progresso, a níveis considera- dos altíssimos para o período. Somente dentro do muro de fortificação da ci- dade viviam cerca de 150 mil pessoas. Para conseguir abastecer toda esta alta demanda, foram levantados aquedutos que levavam água potável para a ci- dade. Além disto, a presa das guerras vencidas era usada para financiar um amplo projeto de edificações de casas. Fora das muralhas, aproximada- mente 750 mil cidadãos romanos liber- tos moravam em diferentes regiões da Itália na terra tomada dos povos locais. A população rural, contudo, acabou passando por percalços econômicos na época por conta do aumento da taxa de natalidade – o que levava à impossibi- lidade em conseguir sustentar famílias maiores – e também pela dificuldade em manter uma fazenda produtiva quando muitos homens estavam em campanhas militares muito longas e desgastantes. Além disso, as grandes porções de terras nas mãos de poucos contribuíram para o surgimento de no- vos conflitos velados entre romanos ri- cos e pobres. PRIMEIRA GUERRA PÚNICA Um combate, no mínimo, bem diferente colocou à prova a hegemonia romana entre os anos de 280 e 275 a.C. A bata- lha na cidade grega de Taranto colocou Roma diante de um exército equipado com elefantes de guerra. A tática foi utilizada pelo general mercenário Pirro para tentar conter o quase inevitável avanço adversário sobre o sul da Itália. Diante de um inimigo tão podero- so, os líderes romanos convenceram as assembleias a votarem favoravelmente ao enfrentamento desta ameaça. Ape- sar de todas as dificuldades, após cinco anos, Pirro abandonou a guerra e retor- nou à Grécia. Assim, Roma obteve total controle do sul da Itália até a costa do Mediterrâneo no fim da península. Diante desta expansão em direção ao sul, os romanos estavam à beira da região dominada por Cartago, um Es- tado bastante próspero que ficava do outro lado do mar Mediterrâneo, na regiãoonde atualmente está localizada a Tunísia. Em 800 a.C., os fenícios colo- nizaram Cartago, uma região favorável para o comércio marítimo e com áreas agrícolas férteis em sua parte central. O comércio dos cartagineses foi expan- dido por toda a região oeste do Medi- terrâneo, até mesmo sobre a ilha da Sicília, localizada em uma faixa estreita de mar na ponta da península italiana. A prosperidade de Cartago gerou um ávido interesse dos romanos. O grande problema é que lhes faltava experiência naval para um combate marítimo, algo que sobrava para os cartagineses. Os ci- dadãos de Roma, no século III a.C., não contavam com praticamente nenhum conhecimento tecnológico para cons- truir um navio de guerra e também não possuíam a organização necessária para formar uma marinha poderosa. Dessa forma, uma batalha parecia inviável. Além disso, não havia traço de inimizade entre os povos para que fosse precipitado qualquer tipo de ação romana contra Cartago. Porém, um epi- sódio insignificante mudou este cená- rio e levou a uma guerra destruidora com mais de um século de duração. Tudo começou quando, em 264 a.C., um bando de mercenários na ci- dade de Messina, no extremo nordeste da Sicília, encontrava-se em situação de perigo depois que o serviço militar para o qual foi contratado terminou em fracasso. Desesperados, eles decidiram solicitar auxílio de Cartago e Roma ao mesmo tempo. O senado romano não entrava em um consenso sobre o que fazer com relação ao pedido de resgate dos mercenários. No entanto, o cônsul patrício Ápio Cláudio Cáudice convenceu a maioria a votar pelo envio de tropas para a região da Sicília com a promes- sa de garantia de excelentes despojos. Assim, o envio do exército para Messina tornava-se a primeira expedição militar de Roma fora da Itália. O que ninguém esperava é que Car- tago também enviaria soldados àquela região. O encontro dos dois exércitos eclodiu uma batalha entre as forças das potências econômicas. Como resultado, houve a Primeira Guerra Púnica entre os anos de 264 a.C. e 241 a.C. A vitória romana veio a partir da persistência. Preparada a sacrificar vidas e gastar muito dinheiro no conflito, Roma per- Em 300 a.C., a população apenas dentro da Roma fortificada já era de 150 mil pessoas Sh ut te rs to ck 23 CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA deu 250 mil homens e cerca de qui- nhentos navios de guerra construídos recentemente. Um século depois, o his- toriador Políbio, da Grécia, considerou a Primeira Guerra Púnica a maior guerra da história em duração, intensidade e escala de operações. O que impressiona é que, forçada a lutar no mar contra um rival muito me- lhor preparado para estas condições, Roma decidiu desenvolver sua mari- nha a partir do zero. Copiou os navios e táticas do adversário com a ajuda dos gregos e conseguiu, finalmente, con- quistar Messina. Assim, findava-se a Primeira Guerra Púnica em 241 a.C. Com o triunfo, os romanos torna- ram-se os mestres da próspera Sicília, região repleta de portos e campos. A receita que vinha dos impostos que os romanos recebiam dos sicilianos era tão elevada que, em 238 a.C., outras SEGUNDA GUERRA PÚNICA Depois da longa guerra diante de Carta- go, os romanos decidiram fazer alianças com comunidades que ficavam ao leste da Espanha com o intuito de bloquear o poder inimigo na região. Roma, con- tudo, dava garantias de que não iria interferir no lado sul do rio Ebro, loca- lidade de domínio cartaginês. Entretanto, as autoridades de uma cidade de nome Sagunto, que ficava justamente naquela região, solicitaram auxílio romano contra Cartago. Vale destacar que se tratava de um local com intensa atividade comercial em recursos minerais e agrícolas na Espa- nha. Diante do pedido, o senado roma- no simplesmente ignorou a promessa feita anteriormente de não intervir na cidade e decidiu socorrer. Talvez, o principal motivo para a quebra do pacto tenha sido a visão ro- mana de que os cartagineses eram bár- baros de moral inferior. Eles os conde- navam pela prática de sacrificar bebês e crianças em emergências nacionais para recuperar o favor dos deuses. Assim, em 218 a.C., 23 anos de- pois do primeiro combate entre Roma e Cartago, tinha início a Segunda Guerra Púnica, que só chegaria ao fim em 201 Imagem de antiga construção em Sagunto: conflito na região precipitou Segunda Guerra Púnica Ilustração de navio romano durante viagem no mar Mediterrâneo em meio a uma grande tempestade duas colônias cartaginenses – as ilhas de Córsega e Sardenha – também fo- ram anexadas pelo império. »» Sh ut te rs to ck Th in ks to ck 24 CAPÍTULO 3 • EXPANSÃO go, os romanos voltaram as atenções para o embate contra os gauleses no norte da Itália. Este grupo celta era considerado muito perigoso, sobretudo depois que saqueou Roma de modo de- vastador no ano de 387 a.C. Tratava-se, portanto, de uma defesa preventiva. No fim do século III a.C., os romanos já controlavam todo o vale do Pó – antes em poder dos gauleses – e, consequen- temente, toda a Itália até os Alpes. TERCEIRA GUERRA PÚNICA O ano de 146 a.C. marcou a aniqui- lação de Cartago ao final da Terceira Guerra Púnica (149 a.C. a 146 a.C.). O derradeiro combate começou no mo- mento em que Cartago, já recuperado do pagamento de indenizações impos- tas por Roma após a Segunda Guerra Púnica, atacou o vizinho rei da Numí- dia, Massinissa, aliado romano. Desta vez, a cidade foi completamente des- truída e o território passou a ser uma província do império. A destruição de Cartago como um Estado independen- te foi uma resposta aos insistentes pe- didos do senador romano Marco Pórcio Catão, que temia as ameaças, ainda que tímidas, daquele rival. MUDANÇAS Como consequência das atividades militares e diplomáticas intensas, as relações romanas com o sul da Itália, Sicília, Grécia e Ásia Menor tornaram- -se mais efetivas e fizeram com que os romanos tivessem um contato mais aprofundado com a cultura grega. Essa interação influenciou profundamente o desenvolvimento da arte, arquitetura e literatura na cultura de Roma. O pri- meiro templo de mármore construído na capital, por exemplo, foi erguido Templo em homenagem a Júpiter mostra influência grega na cultura romana CURIOSIDADE Em 249 a.C., durante a Primeira Guerra Púnica, a derrota de Roma em uma batalha foi explicada como punição divina pelo suposto sacrilégio cometido pelo cônsul Cláudio Pulcro. Segundo lenda romana, antes de um combate, o comandante precisava ver aves se alimentando como um sinal de sorte. Entretanto, quando algumas galinhas, provavelmente enjoadas com o balanço do navio, se rejeitaram a comer no convés, Cláudio, em um ataque de raiva, as teria lançado ao mar e dito: “Ora, que bebam, então”. Apesar disto, ele deu início à batalha e perdeu 93 de seus 123 navios em uma espetacular derrota naval. Mais tarde, o cônsul foi punido pelo desacato arrogante à tradição. a.C. Este novo longo combate foi ainda mais desgastante. Tudo porque o gene- ral cartaginês Aníbal Barca fez uso de uma audaciosa tática. Ele marchou com suas tropas e elefantes pelas passagens cobertas de neve nos Alpes para inva- dir a Itália. Em 216 a.C., 30 mil romanos foram dilacerados naquela que ficou co- nhecida como Batalha de Canas. Aníbal conhecia o tamanho do po- derio romano e tinha como estratégia tentar provocar revoltas nas cidades italianas aliadas a Roma. Ele ainda apostou corretamente em uma aliança com o rei Filipe V, da Macedônia, em 215 a.C., o que forçou os romanos a lu- tarem na Grécia. O general de Cartago gerou inúmeras dificuldades aos seus oponentes durante quinze anos. Ele marchou pela Itália neste período, des- truiu parte do território romano e ame- açou, inclusive, a soberania da capital. Porém, Aníbal falhou em sua táti- ca de jogar os aliados italianos contra Roma. Eles, muito pelo contrário, per- maneceram leais e o general teve de finalizar a campanha de guerrilhana Itália para retornar ao norte da África juntamente com todo o seu exército em 203 a.C. Naquele mesmo ano, os roma- nos, sob o comando do general Cipião, lançaram ataque importante contra Car- tago. Após longos anos, finalmente Aní- bal seria definitivamente derrotado na batalha de Zama, em 202 a.C. Para concretizar a vitória, os roma- nos impuseram aos cartagineses um acordo de paz punitivo. Eles foram obri- gados a afundar navios, pagar indeniza- ções de guerra muito elevadas durante cinquenta anos e abrir mão de territó- rios na Espanha. Roma ainda lutaria pos- teriormente contra indígenas espanhóis pelo controle das áreas, mas os lucros que as terras eram capazes de gerar aos seus donos – principalmente por meio da extração mineral – faziam a difícil empreitada valer a pena. Essas receitas eram tão grandes que garantiam a reali- zação de projetos de prédios públicos de custo elevadíssimo em Roma. Depois do sucesso diante de Carta- Sh ut te rs to ck 25 CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA Antes do acontecimento das Guer- ras Púnicas, Roma mantinha uma ope- ração bélica que seguia os padrões mediterrâneos normais, ou seja, cam- panhas militares curtas programadas que não interferiam nas atividades relacionadas à agricultura. Os comba- tes sazonais permitiam que os homens permanecessem em casas nos períodos do ano em que necessitavam semear e colher, além de supervisionar o aca- salamento e abate de animais. Mas, a partir da Primeira Guerra Púnica, as campanhas passaram a ser demasiada- mente extensas e impediam que estes voltassem periodicamente aos lares. Em muitos casos, mulheres e crian- ças – sobretudo familiares de soldados – morriam de fome por não contarem com a figura masculina para lhes ga- rantir a provisão necessária. Outras mu- lheres decidiam buscar a sobrevivência se prostituindo nas cidades da Itália. Diversas famílias agrícolas se endivida- vam e tinham de vender a terra. Por sua vez, ricos proprietários de terras podiam adquirir estes terrenos para criar plan- tações ainda maiores. Já os latifundiá- rios aumentavam as suas posses ainda mais ocupando, de modo ilegal, terras públicas que Roma havia confiscado dos povos derrotados na Itália. Servos retratado em mosaico romano MIGRAÇÃO Sem condições para plantar e viver dig- namente, muita gente passou a migrar para Roma. Na capital, homens procu- ravam um trabalho subalterno. As mu- lheres aguardavam serviços ocasionais na produção de tecidos. Este exército de pobres desesperados em busca de alimento inchou a população da cidade. Este cenário transformara o ambiente político romano em um verdadeiro bar- ril de pólvora. Estas famílias inteiras de miseráveis estavam dispostas a apoiar através de seus votos quaisquer políti- cos que prometessem atender às suas necessidades mais básicas. De alguma maneira, os mais carentes precisavam ser alimentados para que grandes ma- nifestações fossem evitadas ao máximo. Roma, no final do século II a.C., foi obrigada a importar grãos para conse- guir alimentar minimamente sua ex- no ano de 146 a.C. em homenagem a Júpiter, seguindo a tradição dos gregos de usarem este tipo de pedra brilhante. A literatura também ganhou corpo a partir dos conhecidos e admirados modelos gregos. Por volta de 200 a.C., a primeira história romana foi escri- ta no idioma grego. Já a peça literária mais antiga escrita em latim, um po- ema longo produzido após a Primeira Guerra Púnica, foi uma adaptação da Odisséia, de Homero. Mas as mudanças sociais no Impé- rio Romano também foram profundas no período. A classe alta auferiu ganhos consideráveis nos séculos II e III a.C, so- bretudo por meio do recebimento de presas de guerra. Além disto, a criação de novas pro- víncias gerou a necessidade de uma quantidade mais elevada de líderes militares e políticos que não podia ser fornecida pelo número tradicional de funcionários públicos eleitos. Com isto, um ajuntamento cada vez maior de funcionários passou a ter poderes estendidos para comandar tropas e administrar estas províncias. Todavia, como o governador provincial geria por lei marcial, ninguém era capaz de impedir que ele enriquecesse por meio de corrupção e extorsão. Claro que nem todos eram corruptos. Verdade também que poucos dos do que praticavam atos ilegais eram punidos. Um dos poucos exemplos foi Verres, processado por Cícero, em 70 a.C., por crimes adminis- trativos na Sicília. POBREZA Na época, a base econômica continuou sendo a agricultura. Nestes séculos, os agricultores trabalharam em pedaços de terra pequenos no interior da Itália. Pa- ralelamente, os proprietários também representavam a principal fonte de sol- dados do exército. Devido a este quadro, a República passou por imensuráveis di- ficuldades, econômicas e sociais. Duran- te as guerras, a produção agrícola ficou demasiadamente desguarnecida. Estátua de Cícero, responsável por processar um governador da Sicília »» Sh ut te rs to ck Sh ut te rs to ck CAPÍTULO 3 • EXPANSÃO 499 A.C. Romanos vencem guerra contra vizinhos latinos. 396 A.C. Roma alcança vitória na batalha contra etruscos em Veios. 300 A.C. Aumento populacional: Cidade de Roma chega a 150 mil moradores. m r_ co ff ee / Sh ut te rs to ck preços subsidiados pelo Estado. Conse- guiu ainda aprovar projetos de obras públicas por toda a Itália para fornecer emprego aos pobres. As mais revolucionárias de todas as ações foram as suas propostas de dar cidadania romana a diversos ita- lianos e constituir um tribunal de júri para senadores acusados de prática de corrupção enquanto exerciam car- gos governamentais nas províncias. A proposta de cidadania fracassou. Já o estabelecimento do tribunal para pro- cessos contra os senadores gerou uma enorme polêmica, pois suas causas seriam analisadas por homens ricos. À época, estes cidadãos, conhecidos como equestres, eram mais envolvi- dos em negócios, mas mantinham suas ambições em serem designados a car- gos públicos. A entrada deles no funcio- nalismo, contudo, era frequentemente bloqueada pelos senadores. A proposta de Caio de fazer com que os equestres atuassem como jurados no júri dos senadores acusados de ilegali- dades na administração das províncias marcou a ascensão deles na política ro- mana. Tal ameaça deixou o senado em fúria. Os senadores, então, em 121 a.C., publicaram documento que autorizava o cônsul Opímio a empregar força mi- litar dentro da cidade de Roma, onde, segundo a tradição, nem mesmo os funcionários públicos tinham tal poder. Caio ainda buscou contratar um guarda- -costas para tentar se proteger contra ataques inesperados. Mas, sem saída, ele, para fugir da detenção e execução volvidas para redistribuir terras públi- cas para romanos que não tinham pro- priedades. Tal medida foi adotada sem a consulta e aprovação dos senadores. A manobra era legal – já que o senado não podia barrar quaisquer medidas –, mas extremamente estranha à tradição romana. Ele afrontou ainda mais o cos- tume político romano ao simplesmente ignorar o senado sobre a questão do financiamento desta proposta de refor- ma agrária. As reformas levantadas por Tibério para auxiliar os agricultores desapro- priados tinham, obviamente, uma raiz política, pois ele precisava quitar um débito com rivais políticos e tinha o objetivo de se tornar popular como um defensor do povo mais sofrido. Esse ímpeto de Tibério, contudo, foi barrado de maneira violenta. Um ex-cônsul chamado Cipião Nasica or- ganizou violento ataque surpresa con- tra ele. Um grupo de senadores e seus clientes assassinaram Tibério e seus companheiros a golpes no monte Capi- tolino no final do ano de 133 a.C. Deste modo sangrento e nada republicano teve início esta triste história de violên- cia e assassinato como tática política em Roma. Caio Graco venceu eleição para tri- buno em 123 a.C. e, mais uma vez, em 122 a. C. Assim como o irmão Tibério, ele deu o pontapé inicial a algumasre- formas que ameaçavam muito a elite romana. Além de manter as reformas agrárias, introduziu ainda leis que ga- rantiam grãos a cidadãos de Roma a cessiva população urbana. O mesmo havia feito Atenas cerca de trezentos anos antes. Além disto, o senado ro- mano fazia um trabalho de supervisão no mercado de grãos especulação no suprimento alimentar básico e garantir a distribuição em tempos de escassez. No entanto, essa política gerava muita controvérsia. Enquanto alguns lí- deres entendiam que esta era a única solução possível para o problema que batia à porta, outra parcela significati- va discordava com bastante veemência, mas também não buscava propor uma alternativa melhor. Desta maneira, esta política permaneceu. No decorrer dos anos, a quantidade de necessitados cresceu vertiginosamente. Dezenas de milhares faziam parte desta grande lista de pessoas com direito ao recebimento dos subsídios sem qualquer custo. Pros- seguir ou não com este gasto exponen- cial gerava cada vez mais discussão. CONFLITOS INTERNOS A total falta de consenso em torno do auxílio aos pobres teve efeitos devas- tadores até mesmo em núcleos fami- liares proeminentes. Tibério Graco e Caio Graco vieram de uma das famílias de classe alta mais distintas de Roma: Cornélia, mãe de ambos, era filha do lendário general Cipião Africano. Tibé- rio foi eleito para o posto de tribuno plebeu em 133 a.C. Imediatamente, fez com que a Assembleia Tribal dos Ple- beus adotasse leis de reforma desen- CURIOSIDADE Uma parte dos ganhos com despojos de guerra era direcionada para a construção de templos. Para o romano, a construção de locais sagrados era uma forma de garantir maior segurança para todos, pois acreditava-se que os deuses ficariam satisfeitos por terem mais santuários que os homenageassem. Th in ks to ck CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA que se avizinhavam, ordenou a um de seus escravos que cortasse a sua garganta. Depois dos falecimentos de Tibério e Caio Graco, os membros da alta classe romana viram-se cada vez mais divididos. Não havia qualquer possibilidade de se estabelecer consenso com relação à ajuda irrestrita ou não aos pobres que tomavam a capital do império. Certos líderes políticos ainda preservavam suas alian- ças políticas. Outros simplesmente tinham o objetivo de promover abertamente as suas carreiras fingindo ser adeptos de um ou de outro lado. Porém, indepen- dentemente da postura adotada, o racha dentro da elite continuou sendo uma plena fonte de efervescência política e violência gra- tuita nos últimos anos de República. Vista do Monte Capitolino, onde Tibério e seus companheiros teriam sido assassinados em 133 a.C. Estátua equestre do Imperador Marco Aurélio em frente ao Capitólio (datada de 175 a.C.). Sua imagem foi utilizada para ilustrar a moeda de 50 cents de euro italiano Sh ut te rs to ck Sh ut te rs to ck 280 A.C. Tropas romanas vencem forças gregas no Sul da Itália. 264 A.C. A 241 A.C. Roma vence a Primeira Guerra Púnica. 218 A.C. A 201 A.C. Aníbal invade Itália, mas é superado por romanos na Segunda Guerra Púnica. 149 A.C. A 146 A.C. Romanos obtém vitória definitiva sobre Cartago na Terceira Guerra Púnica. 130 A.C. E 120 A.C. Cônsules Tibério e Caio incitam violento conflito político e acabam assassinados. Th in ks to ck Ty le r M cK ay / Sh ut te rs to ck To ni fl ap / Sh ut te rs to ck 36 0b / Sh ut te rs to ck 28 CAPÍTULO 4 • MUDANÇA O FIM DA ERA REPUBLICANA OS CONFLITOS ENTRE INTEGRANTES DA ELITE ROMANA E AS REVOLTAS INTERNAS DESTRUÍRAM O REGIME E MARCARAM UM NOVO TEMPO DENTRO DO IMPÉRIO A falta de consenso com relação a políticas sociais tornou insustentável o regime repu- blicano em Roma no século I a.C. O processo de deterioração começou na época dos mandatos dos cônsules Tibério e Caio Graco e durou cerca de cem anos. As guerras civis no período tam- bém ajudaram a acelerar ainda mais este mo- mento de degradação. Além disso, o Estado romano passou a enfrentar re- beliões internas e externas. Na época, cerca de 70 mil escravos escaparam de propriedades na região da Sicília e uniram-se com o objetivo de organizarem um levante. A revolta durou três anos. Também foi preciso estancar uma guerra estrangeira com Jugurta, rei-cliente rebelde na África do Norte. Por fim, guerreiros gauleses precipi- taram diversos ataques nas regiões do norte da Itália. O ambiente inóspito abriu caminho para um novo tipo de líder, alguém sem vínculo com a nobreza, mas muito hábil na condução militar e com melhor reputa- ção para o cargo de cônsul. Estes novos candidatos ao cargo, mesmo não tendo um histórico familiar distinto, passaram a ser chamados de novos homens. Porém, eles precisaram vencer o preconceito social para alcançarem tal posto. Isso foi possível por meio de atitudes consideradas nobres, como a generosidade com soldados – que recebiam despojos e tinham suas ne- cessidades atendidas. Em geral, o combatente romano comum era pobre. Assim, ele via nesta nova figura um comandante a quem devia ter como patrono e prestar obediência. Este personagem nutria mais empatia do que senadores ou integrantes de assembleias. Assim, o sistema patrono-cliente tornou-se mais um jeito de os líderes conseguirem poder individual do que um suporte para os interesses da comunidade de Roma em si. Shutterstock 29 CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA »» Imagem mostra local de reunião dos senadores na época da República, que começaria a se degradar no início do século I a.C. CAPÍTULO 4 • MUDANÇA PRECURSOR Caio Mário (157 a.C. a 86 a.C.) foi quem mais colocou a ideia reformada de li- derança em prática. Sem raízes nobres, ele teria não teria chance alguma de chegar a um posto de liderança den- tro do cenário tradicional romano. Sua condição o levaria, no máximo, a uma carreira pública em cargos minoritários dentro do senado. Contudo, uma grande e urgente ne- cessidade de Roma fez com que o jogo virasse completamente para ele. No fi- nal do século II a.C., o império precisava de homens com suas características e capacidades para levar um exército à vitória. Mário serviu com maestria na guerra norte-africana e ganhou noto- riedade. Tais combates haviam se ar- rastado por muito tempo por conta da falta de competência de outros gene- rais. Somente com a chegada dele que Estátua de Caio Mário, que instituiu em Roma sistema patrono-cliente os romanos puderam finalmente cami- nhar rumo à vitória. Assim, o general começou a subir alguns importantes degraus na escada de cargos eletivos. O apoio a interesses de patronos nobres e o casamento com uma mulher pertencente a uma famosa família de patrícios o auxiliaram ainda mais na empreitada que tinha como objetivo maior o cargo de cônsul. As- tuto, Caio Márcio soube usar a sua boa reputação e o histórico invejável de triunfos militares para vencer as elei- ções para um dos cônsules de 107 a.C. Sua popularidade era notória entre os eleitores. Tanto que as vitórias con- tra os celtas do norte – este povo tentou em inúmeras oportunidades invadir a Itália no fim do século II a.C. – o fizeram ser escolhido cônsul por seis mandatos seguidos, algo sem precedentes. Caio Mário ainda nutria o respeito do senado, que lhe homenageou com a honra militar definitiva de Roma. Trata- va-se de um raro reconhecimento dado somente a generais que obtinham triunfos considerados estupendos. No dia de recebimento da nomeação, o ge- neral desfilava pelas ruas da cidade em uma carruagem militar e era aclamado pela multidão. Porém, mesmo com a popularidade em alta, Mário nunca foi unanimidade na elite romana. Ele era visto como um ameaçador ‘novo rico’. Seu grande apoio vinha mesmo da ordem equestre – classe aristocrática considerada mais baixa – e do povo comum. É provável que os equestres tenham incentivado sua entrada na nobreza com a intenção de provarem o valor desta classe social. A notoriedade de
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