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Guia de Roma: História, Cultura e Legado

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ROMANO
O S S E G R E D O S D O I M P É R I O
A F U N DAÇ ÃO D E R O M A • A R E P Ú B L I C A • I M P E R A D O R E S • A P O L Í T I C A D O “ PÃO E C I R C O ”
E X PA N S ÃO • E C O N O M I A • C U LT U R A • A R T E S • R E L I G I ÃO • C R I S E E D E C A D Ê N C I A • L E G A D O 
TODOS OS CAMINHOS
LEVAM A ROMA!
O IMPÉRIO ROMANO FOI UM DOS MAIS INFLUENTES E 
IMPORTANTES DA HISTÓRIA E, DURANTE 600 ANOS, 
ROMA FOI UMA DAS CIDADES MAIS DESLUMBRANTES 
DO MUNDO ANTIGO. 
Podemos começar a lista de legados pela nossa língua, o português, 
que é derivada do latim, a língua que era escrita e falada em Roma. Se-
guimos pelos algarismos romanos, representados por sete das letras do 
alfabeto, que também conhecemos. O Direito influenciou e deu origem a 
códigos jurídicos, adotados em sociedades ocidentais. Nas artes, os roma-
nos foram influenciados pelos gregos, e foram mestres na reprodução da 
figura humana. Em Florença, o Renascimento foi um dos períodos mais 
ricos de toda a história da arte, com mestres como Leonardo Da Vinci, 
Michelangelo e Botticelli encantando a humanidade. 
Os caminhos do Império Romano, na política, economia, artes, cul-
tura, arquitetura, religião e muito mais, você encontra aqui neste guia. E 
por falar em “caminhos”, a expressão “todos os caminhos levam a Roma” 
remete ao século 1, quando o Império Romano se estendia da Bretanha 
à Pérsia (hoje, da Inglaterra ao Irã), e chegou a incríveis 80 mil quilôme-
tros de estradas, constituindo-se importantes meios de comunicação, por 
onde mensageiros levavam ordens ao longo do império.
Boa leitura!
Os editores
redacao@editoraonline.com.br
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PREFÁCIO • CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA
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SUMÁRIO •
14 CAPÍTULO 2 • 
REPÚBLICA 
ROMANA 
O período republicano de Roma, que 
compreende de 509 a.C. a 27 a.C.
28 CAPÍTULO 4 • 
QUEDA DA 
REPÚBLICA 
Como os conflitos e a falta 
de consenso com relação 
às políticas sociais tornou 
praticamente insustentável o 
regime republicano em Roma
20 CAPÍTULO 3 • FORMAÇÃO 
E EXPANSÃO DO 
IMPÉRIO ROMANO 
O período de conquistas de outros 
territórios pelos romanos e como as 
conquistas mudaram a vida e a estrutura 
de Roma na área econômica 
38 CAPÍTULO 5 • ASCENSÃO 
DO IMPÉRIO ROMANO 
Após inúmeras guerras, um 
repaginado sistema monárquico 
de governo elaborado por 
César Augusto reaparece 
em 27 a.C. 
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 CAPÍTULO 1 • 
ORIGEM E 
FUNDAÇÃO 
DE ROMA
A fundação de Roma e como a mistura 
de diferentes povos (gregos, etruscos 
e italiotas) deu origem aos romanos
48 CAPÍTULO 6 • PRINCIPAIS 
IMPERADORES 
ROMANOS 
Conquistas, comportamentos e como as 
atitudes de cada um deles teve efeitos 
positivos e negativos no Império
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 CAPÍTULO 11 • 
RELIGIÃO 
O politeísmo e o credo 
nos deuses, retirados, 
em sua maioria, do 
próprio panteão 
grego. Constantino 
torna o cristianismo 
a religião oficial do 
Império Romano
58 CAPÍTULO 7 • PROBLEMAS 
SOCIAIS E A POLÍTICA 
DO PÃO E CIRCO 
O crescimento urbano em Roma, o desemprego 
na zona rural e as “benesses” feitas por meio 
das lutas de gladiadores nos estádios 
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CAPÍTULO 8 • 
ECONOMIA NA 
ROMA ANTIGA 
Como as relações 
econômicas colocaram 
as diferentes regiões do 
Império em contato umas 
com as outras e dinamizaram 
as produções de minérios e 
artesanal
80 CAPÍTULO 9 • RELIGIÃO 
CULTURA ROMANA 
Como a cultura romana foi influenciada 
pela cultura grega. A mitologia como forma 
e explicação da realidade 
92 CAPÍTULO 10 • ARTES 
A influência grega nas criações dos artistas de 
Roma e a introdução de novos elementos na 
arquitetura, como o arco redondo e a cúpula
112 CAPÍTULO 12 • CRISE E 
DECADÊNCIA DO 
IMPÉRIO ROMANO 
Por que o Império Romano chegou à 
decadência e como a corrupção dentro 
do governo e os gastos extravagantes 
do exército aceleraram o fim
124 CAPÍTULO 13 • 
LEGADO ROMANO 
As heranças nos aspectos culturais, 
científicos, artísticos e linguísticos, 
o que enriqueceu a cultural ocidental
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
G971
Guia conheça a história : Roma / -- [3. ed.] - São Paulo : On Line, 2016. 
 : il. 
 ISBN 978-85-432-0050-7
 1. Roma - História.
16-34727 CDD: 937
 CDU: 94(37)
18/07/2016 20/07/2016 
CAPÍTULO 1 • ORIGEM
7
CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA
 Em geral, os historiadores modernos dão co mo certo o surgimento da cidade 
de Roma, durante o século VIII a.C., como 
um vilarejo no centro da Itália. Aquelas ter-
ras na península Itálica já eram ocupadas 
desde o primeiro milênio antes de Cristo 
por diversos povos. Estas populações se 
aproveitavam do solo fértil e clima bastante 
ameno da região. Entre elas, estavam tribos 
úmbrias, sabinas e latinas, que instituíram 
aldeias agrícolas e pastoris.
Os especialistas ressaltam que Roma tem início 
por meio da junção de um grupo de sete aldeias 
latinas e sabinas, todas elas situadas às margens 
do rio Tibre. Tais povos tiveram uma relação bas-
tante estreita com os gregos – fundadores de colô-
nias loca lizadas ao sul daquela península – e com os 
etruscos, estabelecidos ao norte.
ANCESTRAIS
Segundo o historiador e professor da Universidade 
Harvard, Thomas R. Martin, as principais evidên-
cias dos ancestrais imediatos dos romanos vêm da 
escavação arqueológica de túmulos – datados dos 
séculos IX e VIII a.C. – dos povos chamados poste-
riormente de villanovianos.
Contudo, não há quaisquer razões para se acre-
ditar que essas populações, que habitavam em co-
munidades diferentes, se classificavam como um 
grupo unificado ou então homogêneo. Por outro 
lado, os estudos destacam claramente que estas 
pessoas realizavam atividades rudimentares de 
agricultura e também de criação de cavalos.
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DE VILAREJO 
A UMA POTÊNCIA
O SURGIMENTO DE ROMA, NO 
CENTRO DA ITÁLIA, DATA DO 
SÉCULO VIII A.C., PERÍODO EM QUE 
O FUTURO IMPÉRIO ERA APENAS 
UM PEQUENO AGRUPAMENTO 
DE POVOS DIVERSOS
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Às margens do 
Rio Tibre, surgiram 
as primeiras 
aldeias que deram 
origem a Roma
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GREGOS
No oitavo século antes de Cristo, os ro-
manos e os demais povos do sul e do 
centro da Itália já realizavam contato 
frequente com muitos comerciantes 
provenientes da Grécia que viajavam 
para o território italiano pelo mar. Tal 
intercâmbio econômico contribuiu subs-
tancialmente para o crescimento da so-
ciedade e cultura romanas.
Uma quantidade considerável de 
gregos fixou residência na região neste 
mesmo período atrás de oportunidades 
de enriquecer por meio da agricultura. 
Assim, algumas cidades povoadas ma-
joritariamente por cidadãos da Grécia 
tornaram-se, anos mais tarde, comuni-
dades extremamente representativas. 
Alguns exemplos são Sicília e Nápoles.
A aproximação com a cultura grega 
gerou um efeito no desenvolvimento 
do modo de vida dos romanos, que fo-
ram inspirados pelos modelos de litera-
tura, teatro e também arquitetura. Po-
rém, se por um lado, a Grécia influen-
ciou e foi alvo da constante admiração 
dos habitantes de Roma, por outro, era 
menosprezada devido à sua desunião 
política e inferioridade militar.
Templo na Sicília, Itália, 
mostra influência grega 
na formação romana
Busto de 
Heródoto: 
historiador 
acreditava que 
etruscos eram 
provenientes 
de Lídia, na 
Anatólia
Povo etrusco 
produzia peças 
bastante refinadas 
para a época
CURIOSIDADE
Os trabalhos arqueológicos 
mostram que os ancestrais 
romanos fabricavam armas de 
metal, além de outros objetos 
de bronze e ferro. Como 
o bronze é, basicamente, 
uma mistura de cobre e 
latão, e como o latão só era 
minerado em locais bem 
distantes da Itália, essas 
populações praticavam, muito 
provavelmente, um sofisticado 
comércio de longa distância.
ETRUSCOS
Há muito debate com relação à influência dos 
etruscos na vida romana. Alguns grupos de estu-
diosos consideram que este povo, situado ao norte 
de Roma, teria sido a força externamais relevante 
a afetar os modos romanos. Alguns especialistas 
até já especularam que eles teriam conquistado 
a Roma Antiga, com reis etruscos governando a 
nova cidade na parte final da monarquia.
CAPÍTULO 1 • ORIGEM
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A ORIGEM 
MITOLÓGICA 
ASSIM COMO EM OUTRAS 
CIVILIZAÇÕES E POVOS, AS ORIGENS 
DE ROMA FORAM CONTADAS 
POR MEIO DE MITOS. SEGUNDO 
A HISTÓRIA, O MAIOR IMPÉRIO 
DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA FOI 
FUNDADO PELOS GÊMEOS RÔMULO 
E REMO. A TRADIÇÃO RESSALTA 
QUE, QUANDO PEQUENOS, 
FORAM AMAMENTADOS POR 
UMA LOBA QUE OS ENCONTRARA 
ÀS MARGENS DO RIO TIBRE.
Rômulo e Remo, reza a lenda, seriam 
descendentes de Eneias, guerreiro e 
nobre troiano, filho da deusa Vênus e 
de Anquises. Conta-se que ele deixou 
Troia depois que a cidade foi destruída 
pelos gregos durante a famosa Guerra 
de Troia. Eneias seguiu, sem direção 
certa, pelo mar Adriático até chegar 
à região de Lácio, onde mais tarde ele 
iria levantar Roma.
Neste período, Eneias ficou mais 
próximo da população local e casou-
se com a filha do rei Latino, Lavínia. 
Posteriormente, foi o fundador da 
cidade de Alba Longa, onde iniciou 
a adoração aos mesmos deuses que 
costumava cultuar na região de 
origem dele. A cidade alcançou um 
período de crescimento e mudou a 
vida das pessoas que ali habitavam. O 
primeiro monarca de Alba Longa foi 
Ascânio, filho de Eneias. Ele gerou uma 
descendência no comando da cidade. 
Depois de doze gerações, nasceram 
Rômulo e Remo, filhos de Reia Sílvia.
A mãe dos gêmeos era filha de 
Numitor, rei de Alba Longa na época. 
Ela era uma vestal, ou seja, uma 
sacerdotisa da deusa Vênus. Ela havia 
se tornado uma vestal a mando do 
irmão de Numitor, seu tio Amúlio.
Amúlio tinha como plano ocupar o 
trono de Alba Longa e, para alcançar 
este objetivo, depôs o irmão, matou 
todos os filhos homens dele e ordenou 
que Reia Sílvia virasse uma sacerdotisa 
de Vênus. A intenção de Amúlio era que 
ela não pudesse ter filhos que viessem a 
competir com ele pelo poder da cidade.
Entretanto, Reia engravidou do deus 
Marte. Assim que soube do nascimento 
de Rômulo e Remo, Amúlio mandou 
que os gêmeos fossem jogados no 
rio Tibre. O que ele não previa é que 
Estátua 
ilustra a lenda 
de que Rômulo 
e Remo foram 
amamentados 
por uma loba 
quando bebês
Estátua de 
Vênus: mãe 
dos gêmeos 
seria uma 
sacerdotisa 
da deusa
CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA
festejaram como o dono do trono por 
ter um número maior de aves.
Durante a discussão que teve início por 
conta da indefinição, Rômulo matou 
Remo. Diante do falecimento do irmão, 
Rômulo tornou-se o primeiro monarca 
da cidade, que foi batizada com o 
nome de Roma em sua homenagem.
O poema épico Eneida, obra de 
Virgílio, é uma das obras utilizadas 
como fonte para a expansão deste 
mito. O historiador Tito Lívio também 
contribuiu, por meio de seu livro 
Desde a fundação da cidade, no 
desenvolvimento da narrativa.
as águas empurrariam o cesto onde 
as crianças estavam para as margens 
do rio. Ali, os dois foram achados 
por uma loba, que os amamentou e, 
consequentemente, os manteve vivos. 
Um pastor que passava pelo local viu as 
duas crianças e as levou imediatamente 
para serem criadas em sua aldeia.
A lenda conta que Rômulo e Remo 
cresceram, tornando-se pastores 
e caçadores. Viraram dois adultos 
fortes. No entanto, nesta época, 
eles foram descobertos por Amúlio. 
O rei capturou um dos irmãos, 
Remo, quando ambos participavam 
de um evento esportivo. Foi aí que 
Rômulo e Remo souberam que eram 
descendentes de Eneias e que possuíam 
o direito de reivindicar o trono. Eles 
também tiveram conhecimento da 
história por completo, que eram 
netos de Numitor e que Amúlio havia 
deposto o avô deles para se tornar 
rei. Eles, então, depuseram Amúlio, 
vingaram Numitor e o recolocaram 
no trono de Alba Longa.
Porém, os gêmeos não permaneceram 
por lá. Os dois decidiram fundar outra 
cidade, exatamente onde tinham 
sido abandonados quando bebês. 
Ergueram muros, mas não sabiam 
quem iria assumir o seu governo, pois, 
como eram gêmeos, não havia quem 
fosse mais velho. Para definir isto, cada 
um subiu em um dos morros da região. 
Remo foi para o Aventino e Rômulo 
para o Palatino para esperarem um 
presságio que decidiria de uma vez por 
todas aquela pendência. Remo recebeu 
o primeiro presságio: seis abutres. Mas 
Rômulo também recebeu um presságio 
na sequência: doze abutres.
Assim, aqueles que eram partidários de 
Remo o saudaram como rei por ter sido 
o primeiro. Já os favoráveis a Rômulo o 
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CAPÍTULO 1 • ORIGEM
No entanto, o próprio conhecimen-
to da origem dos homens e mulheres 
da Etrúria continua extremamente limi-
tado. Em parte porque os historiadores 
compreendem somente uma pequena 
parcela de seu idioma, que provavel-
mente não seja indo-europeu.
No século V a.C., o historiador Heró-
doto afirmava que os etruscos haviam 
emigrado de Lídia, na Anatólia, para a 
região onde hoje está a Itália. No en-
tanto, Dionísio de Halicarnasso recha-
çou a hipótese dizendo que o território 
italiano sempre foi a verdadeira casa 
desta população.
De qualquer maneira, sabe-se hoje 
que os etruscos não formavam um país 
unificado étnica ou politicamente. Eles 
moravam em incontáveis cidades in-
dependentes agrupadas nas colinas da 
região da Itália central.
Culturalmente, executavam peças 
de arte consideradas muito refinadas 
para a época, como joias e também 
esculturas. Porém, eles despendiam 
bastante dinheiro na importação de 
objetos luxuosos da região do Mediter-
râneo, sobretudo dos gregos. Os etrus-
cos, aliás, nutriam uma relação próxima 
com os habitantes da Grécia na época 
e adequaram aquela cultura à sua. Um 
exemplo são os famosos vasos gregos, 
encontrados intactos em túmulos etrus-
cos.
CURIOSIDADE
Os arqueólogos dão conta de que 
o povo etrusco tinha o costume de 
enterrar seus mortos em tumbas 
subterrâneas construídas na forma 
de réplicas – em escala menor – das 
casas onde moravam quando vivos. 
Eles revestiam a parte interior 
da residência com pinturas que 
retratavam episódios mitológicos e do 
cotidiano. As famílias desta população 
também adornavam os locais de 
sepultamento com objetos pessoais 
e de decoração. O objetivo era o de 
sempre reproduzir o conforto da vida 
real nas tumbas.
Os senadores romanos 
eram os responsáveis por 
escolherem o rei
MONARQUIA
A configuração inicial de governo dos romanos foi a monarquia. Basicamente, o 
rei era escolhido pelo Senado, formado por uma espécie de conselho de anciãos 
de origem nobre e de chefes de famílias aristocráticas. O monarca exercia funções 
judiciárias, administrativas, legislativas, militares e, até mesmo, religiosas. No en-
tanto, para tomar decisões consideradas mais relevantes, o rei fazia uma consulta 
junto aos senadores.
Os historiadores destacam que neste período de dois séculos e meio de história 
sete reis administraram Roma – sendo Rômulo o pioneiro. Destes, os quatro pri-
meiros eram sabinos e latinos, enquanto os três últimos eram de origem etrusca.
Afresco 
romano 
retrata 
conversa 
entre escravo 
e seus 
senhores
DESENVOLVIMENTO
De maneira geral, esse grupo de monarcas foi 
responsável pelo desenvolvimento urbano e 
fortalecimento romano. Pouco a pouco, Roma 
se tornou uma povoação maior e mais capaz 
de se proteger de possíveis ataques através da 
adoção de uma estratégia focada em duas fren-
tes: a absorção de outros povos e o acerto de 
alianças com sociedades vizinhas para a criação 
de uma cooperação militar.
O tempo provou que esta tática acabou sen-
do a mais correta, pois foi a responsável por for-
mar a base de expansão romana de longo prazo. 
A incorporação de estrangeiros era praticamente 
uma necessidade de sobrevivência para uma co-
munidade como Roma, que teve um nascimento 
tão frágil e pequeno.
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11
CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA
Além disto, a estratégia foi uma 
inovação no mundo antigo.Nem mes-
mo os gregos ou quaisquer outros 
grupos da época implementaram uma 
política parecida. A realidade é que os 
estados da Grécia Antiga quase nunca 
permitiam que um membro de fora se 
tornasse cidadão. O mundo grego em-
pregava o advento da cidadania apenas 
como um jeito de homenagear um es-
trangeiro rico que tivesse beneficiado 
a comunidade e que não possuísse a 
necessidade ou a intenção de se tornar 
cidadão comum.
Assim, a nova e exclusiva política 
romana de receber estrangeiros de bra-
ços abertos com o intuito de elevar o 
número de cidadãos foi o segredo para 
se transformar no Estado mais podero-
so que o planeta já viu.
A ação era tão essencial que o go-
verno de Roma oferecia até mesmo 
aos escravos a chance de mobilidade 
social ascendente. Os nobres romanos 
tinham escravos como suas proprie-
dades, da mesma forma como ocorria 
em todas as outras sociedades antigas. 
Na época, os servos eram considerados 
apenas um bem e não seres humanos. 
Eles passaram a ter a oportunidade de 
ganharem o direito da cidadania após 
o período de liberdade. Alguém virava 
escravo ao ser capturado na guerra, 
vendido no mercado internacional por 
invasores que o haviam sequestrado ou 
por nascer de uma mãe escrava. Este 
servo poderia comprar a sua liberda-
de com ganhos que o mestre permitia 
que juntasse para incentivar o trabalho 
mais intenso ou podia ainda receber a 
liberdade como presente no testamen-
to do proprietário.
Vale ressaltar que o escravo liber-
to tinha suas obrigações legais com o 
ex-proprietário na forma de cliente. 
Em contrapartida, homens e mulheres 
libertos, como era a designação oficial, 
tinham direitos civis completos, como o 
casamento legal. Mesmo não podendo 
ser eleitos a cargos políticos nem servir 
no exército, seus filhos se tornavam ci-
dadãos de Roma com direitos integrais.
Como em outros tantos casos, havia 
uma lenda que fornecia uma origem 
antiga desta política bastante incomum 
de inclusão de estrangeiros. Rômulo, 
de acordo com a história, teria perce-
bido que Roma, depois da fundação, 
não reunia condições de crescer ou 
se preservar, pois não tinha mulheres 
suficientes para darem à luz crianças 
necessárias para elevar o seu número 
de habitantes. Desta maneira, ele teria 
enviado representantes às sociedades 
vizinhas para pedir o direito de que 
seus homens, sem importar a classe 
social, pudessem casar com as mulhe-
res de qualquer comunidade próxima. 
Rômulo instruía os mensageiros a di-
zer que, apesar de a comunidade de 
CURIOSIDADE
Hoje, o Fórum Romano 
apresenta uma aglomeração 
de ruínas de séculos da 
história. Pouco ou quase 
nada restou da arquitetura 
daquela época. Mesmo assim, 
um passeio pelo local coloca 
o turista em um ambiente 
revestido pelos áureos 
momentos de Roma. »»
Roma ser pequena naquele momento, 
os deuses tinham concedido a ela um 
futuro bastante próspero.
No entanto, todos os povos ao re-
dor teriam recusado a solicitação de 
alianças matrimoniais. Sem saída, o 
rei decidiu preparar um plano bastante 
arriscado. Ele mandaria sequestrar mu-
lheres. Para tanto, convidou o povo sa-
bino para uma festa religiosa em Roma 
e raptou todas as moças solteiras.
O episódio gerou uma batalha san-
grenta entre as duas comunidades vi-
zinhas. Porém, em meio à guerra, as 
noivas sabinas teriam se precipitado 
contra os combatentes, fazendo com 
que a luta fosse interrompida. Foi então 
que as novas esposas dos romanos im-
ploraram aos dois grupos que parassem 
de se digladiar e fizessem as pazes. 
Caso contrário, poderiam matá-las ali 
mesmo. Diante da súplica, romanos e 
sabinos cessaram a batalha e combina-
ram as duas populações em um Estado 
romano ampliado.
A lenda consegue explicar, por 
meio do papel das mulheres neste in-
cidente específico, como a imigração e 
a assimilação de outros povos forma-
ram a base de poder na Roma Antiga. 
A história ainda destaca o ideal romano 
tradicional da mulher sendo a mãe dos 
cidadãos romanos, disposta, inclusive, 
a se sacrificar corajosamente pela so-
brevivência daquela sua comunidade.
Fórum Romano 
era o espaço 
para reuniões 
políticas, jurídicas 
e comerciais na 
Roma Antiga
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12
CAPÍTULO 1 • ORIGEM
ARISTOCRACIA 
DA ROMA ANTIGA
O AMBIENTE ARISTOCRÁTICO ROMANO, UMA 
ESPÉCIE DE NOBREZA HEREDITÁRIA, ERA 
COMPOSTO POR CIDADÃOS DENOMINADOS 
PATRÍCIOS. ESTE SELETO GRUPO PERDUROU 
DURANTE PRATICAMENTE TODO O PERÍODO 
HISTÓRICO DE ROMA, DESDE A SUA ORIGEM 
ATÉ A QUEDA DO PODEROSO IMPÉRIO. O CERNE 
DESTA ARISTOCRACIA MUDOU MUITO POUCO 
EM TERMOS DE CARACTERÍSTICAS BÁSICAS, 
APESAR DAS DIVERSAS VARIAÇÕES EM TERMOS 
DE PODER E INFLUÊNCIA NO DECORRER DOS 
SÉCULOS SEGUINTES.
Em linhas gerais, as chamadas famílias patrícias 
eram aquelas que descendiam dos fundadores da 
cidade de Roma, o que mostra que a importância 
e o prestígio delas vinha de uma longa data, 
em tempos em que a região ainda estava sob o 
governo dos principais membros das antigas tribos 
itálicas. Vale ressaltar que a palavra “patrício” é 
derivada do latim “patres”, que significa “pais”.
Originalmente, era aproximadamente 130 o 
número de famílias patrícias. No começo da fase 
republicana, a inserção de novas famílias foi vetada, 
assim como o matrimônio com os cidadãos plebeus. 
Tal proibição fez com que houvesse uma diminuição 
progressiva e acentuada no número de aristocratas 
em virtude da morte de muitos de seus 
integrantes. Por conta disto, Júlio César 
decidiu, anos depois, instaurar lei que 
permitia o ingresso de novos núcleos 
familiares na aristocracia romana.
O interesse em fazer parte deste 
grupo não era meramente 
uma questão de status social. 
Na verdade, os patrícios 
detinham diversos privilégios 
governamentais. Eles 
possuíam, por exemplo, 
o direito à isenção de 
impostos. Tinham também 
a possibilidade exclusiva de 
se tornarem soberanos de 
Roma. Além disto, ainda 
poderiam ser oficiais, 
magistrados e senadores, 
o que era vetado para a 
maior parte dos cidadãos.
Normalmente, eles exerciam 
funções bastante elevadas 
na religião, no exército, na 
administração pública e 
também no sistema judiciário. 
Eram donos de enormes 
porções de terra e ainda tinham 
os plebeus como credores. 
Os patrícios moravam em um 
domus – uma mansão – ou em 
suas propriedades rurais.
EXPANSÃO
A política que visava absorver os estrangeiros teve um efeito tão 
grande que a população romana cresceu consideravelmente em 
dois séculos. Neste período, o território já ocupava cerca de 780 
quilômetros quadrados do Lácio, terras agrícolas suficientes para 
sustentar até 40 mil famílias.
Provavelmente por meio dos serviços especializados de en-
genheiros etruscos, os romanos drenaram, no século VI a.C., a 
seção aberta no sopé dos montes Palatino e Capitolino, que an-
tes era pantanosa, para ser o centro da cidade. O espaço recém-
-criado, chamado de Fórum Romano, permaneceu sendo a seção 
mais histórica e simbólica de Roma por mil anos.
A construção dele como um local de reunião para assuntos 
políticos, jurídicos e comerciais, além de funerais públicos e fes-
tivais, ocorreu quase ao mesmo tempo em que os atenienses 
criaram a ágora na Grécia para servir de centro público aberto. 
Isso demonstra os desenvolvimentos culturais comuns que acon-
teciam na região do Mediterrâneo na época.
No decorrer dos anos, foram erguidas novas e grandes cons-
truções no entorno do Fórum. Estas edificações eram usadas para 
encontros entre autoridades, realização de julgamentos e fun-
ções administrativas do governo.
Estátua de Júlio César, que 
muitos anos depois permitiu 
o ingresso de novas famílias 
na aristocracia
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REIS
A figura do rei nutria uma forte valorização na Roma 
Antiga. Os monarcas eram reconhecidos como céle-
bres fundadores de tradições duradouras. Um exem-
plo é Numa Pompílio, o segundo a assumir o trono 
(governou de 715 a.C. até 673 a.C.), que ganhou fama 
pelo estabelecimento dos rituais religiosos públicos e 
sacerdócios que veneravam os deuses para pedirsu-
porte a Roma.
Túlio Hostílio foi o sucessor de Numa Pompílio e go-
vernou entre os anos de 673 a.C. e 641 a.C. Ele ganhou 
mais notoriedade por conta de suas guerras com Alba 
Longa, Fidene e Veios, que se notabilizaram como as 
primeiras conquistas de território latino e o primeiro 
aumento dos domínios fora dos muros de Roma.
Anco Márcio assumiu o reinado de Roma após o fa-
lecimento de Túlio Hostílio e permaneceu no comando 
por 25 anos. Conhecido por ter alcançado uma admi-
nistração tranquila, foi o último rei de origem sabina. 
Estruturou a cidade com a construção de aquedutos, 
fundou o porto de Óstia e ergueu a primeira ponte de 
madeira sobre o rio Tibre.
Depois da morte de Anco Márcio, Tarquínio Prisco 
foi até a Comitia Curiata – a assembleia popular – e 
conseguiu convencer seus integrantes que ele devia 
ser eleito rei no lugar dos filhos do falecido monarca, 
pois estes ainda eram apenas adolescentes. Desta for-
CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA
ESTRUTURA 
SOCIAL
Grande parte dos romanos acreditava 
mesmo que a região tomou forma de 
comunidade no século VIII a.C., quando 
esteve sob domínio de reis. Este teria 
sido o primeiro período monárquico 
de Roma. Entretanto, os historiadores 
modernos concluem que pouco se sabe 
sobre os eventos do período formativo 
da história local.
Mesmo assim, as lendas que ron-
dam a monarquia da época demons-
tram a existência de ideias relevantes 
que os cidadãos romanos tinham sobre 
suas origens. Tais linhas de pensamen-
to auxiliam na compreensão da estru-
tura da política e também da sociedade 
já nos tempos posteriores de Repúbli-
ca, sistema que surgiu na parte final do 
século VI a.C. assim que a monarquia 
foi derrubada. Um fato curioso é que 
os romanos, pelo resto de sua história, 
referiram-se ao governo como republi-
cano, mesmo depois da restauração da 
monarquia no Império.
O termo técnico romano para a co-
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CURIOSIDADE
Reza a lenda que o rei Túlio 
Hostílio, terceiro monarca 
de Roma, morreu atingido 
por um raio como punição 
por seu orgulho.
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ma, Tarquínio sucedeu a Anco Márcio. 
Ele assumiu o trono em 616 a.C. e nele 
continuou até 578 a.C, quando teria 
sido morto em um complô promovido 
pelos três filhos de Anco Márcio.
Sérvio Túlio, também etrusco, era 
genro de Tarquínio Prisco e assumiu o 
poder por influência de sua sogra, Ta-
naquil. Ele governou entre 578 a.C. e 
535 a.C. Ficou famoso pela criação de 
instituições básicas para organizar os 
cidadãos romanos em grupos para fins 
políticos e militares, além de instaurar 
com bastante sucesso a prática de con-
cessão de cidadania a escravos libertos.
O sétimo e último rei romano antes 
da instauração da república foi Tarquí-
nio, o Soberbo. Ele chegou ao trono em 
535 a.C. e o deixou em 509 a.C., quando 
uma série de eventos culminou em sua 
deposição e no encerramento do primei-
ro período monárquico em Roma.
Festival de reconstituição da história 
em Moscou, na Rússia, mostra um 
pouco da vida dos patrícios romanos
munidade política como um todo era 
“povo romano” (populus Romanus), 
mas na realidade essa definição não 
sugeria propriamente um ambiente de 
democracia. A realidade é que a clas-
se dominante quase sempre tinha as 
rédeas do governo local. Assim como 
na sociedade contemporânea mundial, 
algumas poucas famílias possuíam os 
comandos político e econômico dentro 
do cenário romano.
Desta maneira, os plebeus, maior 
parcela da população – composta por 
artesãos, comerciantes e camponeses – 
viviam em condições sociais pouco con-
fortáveis. Os clientes, pessoas livres e 
pobres, dependiam das famílias patrí-
cias, para as quais prestavam regular-
mente favores, serviços e davam apoio 
político e militar. Em troca, recebiam 
ajuda econômica e proteção. Quanto 
mais clientes um patrício tivesse sob a 
sua proteção, mais importância política 
e social ele conquistava. Por fim, os es-
cravos, em geral prisioneiros de guerra 
ou endividados, compunham uma par-
cela da população não muito numerosa 
no período monárquico.
SÉCULOS X E IX A.C. 
Os villanovianos, gregos e etruscos começam 
a se desenvolver na região da Itália.
753 A.C. 
Rômulo funda
Roma e torna-se 
o primeiro rei.
716 A.C. 
Rômulo 
morre sob 
circunstâncias 
misteriosas.
715 A 673 A.C. 
Numa Pompílio 
torna-se rei e 
estabelece rituais 
religiosos públicos 
e sacerdócios.
SÉCULO VI A.C. 
Roma se expande para 
controlar o território de 
780 quilômetros quadrados 
na região central da Itália 
e cria seu Fórum.
578 A 535 A.C. 
Sérvio Túlio assume 
o trono e passa a 
organizar os cidadãos 
em grupos políticos e 
militares. Estabelece a 
concessão de cidadania 
a escravos libertos.
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CAPÍTULO 2 • REPÚBLICA
A ROMA REPUBLICANA
OPOSIÇÃO DA 
ARISTOCRACIA 
FEZ FRACASSAR 
O PERÍODO 
MONÁRQUICO 
NO TERRITÓRIO 
ROMANO E ABRIU 
CAMINHO PARA 
UMA NOVA FORMA 
DE GOVERNO
 Tudo indicava que eram bons os ventos que sopravam sobre a monarquia de 
Roma. Era praticamente um consenso que 
Sérvio Túlio – governante entre os anos de 
578 a.C. e 535 a.C. – havia criado bases só-
lidas para organizar os cidadãos romanos 
em grupos para fins políticos e militares. 
A ideia de conceder cidadania a escravos 
libertos também parecia ser um passo im-
portante para a consolidação do regime.
Contudo, os monarcas passaram a ter o do-
mínio ameaçado pelas classes mais abastadas. 
Esta oposição direta imprimiu forte pressão, pois 
as famílias ricas se consideravam equivalentes 
sociais do rei e, portanto, requeriam mais status 
e poder em suas mãos. O apoio que pessoas co-
muns davam ao monarca também as incomoda-
va profundamente.
Esta guerra fria colocava os reis em posição 
de insegurança absoluta, pois havia o medo de 
que um integrante mais poderoso da alta clas-
se recorresse à violência para tomar o trono. Em 
busca de um apoio contra tais pessoas, os mo-
narcas costumavam ter como importantes alia-
dos cidadãos donos de riqueza suficiente para 
lhes abastecer com armas, mas que não reuniam 
dinheiro para fazer parte da classe alta.
Mesmo com esta salvaguarda, alguns dos 
mais ricos romanos conseguiram, em 509 a.C., 
depor o rei Tarquínio, o Soberbo. Ele perdeu o 
trono por conta de um episódio envolvendo Lu-
crécia. Esta peculiar integrante da classe alta de 
Roma teria sido estuprada pelo filho do rei após 
ser ameaçada com uma faca. Apesar de o marido 
e seu pai terem pedido a ela que não se culpasse 
pelo incidente, Lucrécia cometeu suicídio. Antes 
CURIOSIDADE
Segunda a lenda, o 
rei Tarquínio, o Soberbo, 
era um etrusco que ascendeu 
ao trono depois que a filha 
de Sérvio, Túlia, o forçou 
a desposá-la e, em seguida, 
matar o próprio pai dela.
de morrer, no entanto, ela solicitou aos 
familiares que a vingassem.
A deposição de Tarquínio foi lidera-
da por Lúcio Júnio Brutus, que alcançou 
êxito na missão ao se unir a homens 
autointitulados libertadores. A aliança 
entre estes integrantes da classe alta 
foi suficiente para a abolição da mo-
narquia romana.
Após o episódio, ficou estabeleci-
da a República Romana. A justificativa 
para a entrada do novo regime era que 
o governo capitaneado por um único 
homem, como era o caso da monar-
quia, levava a terríveis abusos de po-
der, como o estupro de Lucrécia.
O termo “República” é originado do 
latim res publica, que significa “a coi-
sa do povo”, “o assunto do povo” ou 
“comunidade”. Esse era o ideal do go-
verno romano: ser para a comunidade. 
Porém, esse conceito nunca foi coloca-
do completamente em prática, pois a 
classe alta dominou o governo e a so-
ciedade neste período.
15
Pintura do espanhol Eduardo Rosales retrata 
o suicídio de Lucrécia, que culminou na queda 
da monarquia e na instituição do período 
republicano em Roma
CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA
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REPÚBLICA 
DOS CARGOS
O período republicano em Roma ficou 
marcado pelo surgimento de inúmeros 
postos políticos. Taiscargos visavam 
satisfazer os anseios da elite patrícia 
em participar ativamente do governo. 
Esta situação foi o estopim para o apa-
recimento de conflitos sociais diversos 
na época.
Esta presença de membros da clas-
se alta nos postos mais importantes e 
nas decisões políticas de Roma promo-
veu uma disputa acirrada entre estes e 
os plebeus mais abastados, que eram 
os encarregados de exercerem ativida-
des econômicas e militares.
Mas as fontes de conflito entre pa-
trícios e plebeus no início da República 
eram também econômicas. Os plebeus 
pobres eram os mais desesperados por 
alívio das políticas dos patrícios no perí-
odo. Com o aumento populacional, esta 
fatia da população precisava de mais 
terra para cultivar e se alimentar. Os 
integrantes da elite, no entanto, domi-
navam a maior parte das propriedades 
e ainda faziam empréstimos aos pobres.
Com a falta de terra para plantio e 
os altos juros de suas dívidas, muitos 
plebeus chegaram ao ponto de saírem 
do limite sagrado da cidade para um 
povoado temporário em uma colina que 
ficava nas proximidades. Além disto, os 
plebeus se recusaram a servir no exér-
cito da milícia de cidadãos. A secessão 
funcionou. A defesa romana ficou bas-
tante prejudicada, pois não contava com 
um exército permanente profissional. 
Essa situação fez com que os patrícios 
precisassem ceder, algo que eles, natu-
ralmente, não gostavam nem um pouco. 
Assim, tiveram que costurar um acordo 
com os plebeus.
16
CURIOSIDADE
A Lei das Doze Tábuas 
transformou-se em um símbolo 
nacional do compromisso 
romano com a justiça legal. 
400 anos depois, as crianças 
ainda eram obrigadas a 
decorar essas antigas leis.
CAPÍTULO 2 • REPÚBLICA
DIREITO 
ROMANO
De acordo com a tradição local, o acerto 
entre as duas partes foi o que levou à 
criação das primeiras leis escritas em 
Roma. O código legal passou a vigo-
rar depois da visita de uma delegação 
romana a Atenas, onde foi estudado 
como a cidade grega desenvolveu um 
código de direito escrito. Apesar des-
ta pesquisa, foi necessário um tempo 
grande para que as duas ordens roma-
nas atingissem o acordo final sobre as 
leis. Isso porque o pacto precisaria, por 
um lado, proteger os plebeus e, por ou-
tro, garantir o status dos patrícios.
A Lei das Doze Tábuas, o código es-
crito mais antigo do direito romano, foi 
promulgado entre os anos de 451 e 449 
a.C. Apesar de gerar avanços, os patrí-
cios aproveitaram a ocasião para incluir 
a abolição do matrimônio com plebeus. 
Contudo, era muito importante à clas-
se plebeia ter um código de leis escrito 
com o intuito de evitar que os magis-
trados patrícios, que julgavam a maio-
ria das ações legais, tivessem decisões 
arbitrárias e injustas apenas por causa 
de interesses pessoais.
De modo geral, a Lei das Doze Tábu-
as trazia questões muito práticas e sim-
ples, como “Se alguém for chamado a 
juízo, compareça” ou “Se uma árvore se 
SISTEMA 
POLÍTICO
A constituição romana incluía vários 
funcionários eleitos e o Senado como 
órgão especial. O posto de cônsul era o 
mais alto no período republicano. Como 
a República foi criada para evitar que 
apenas um homem tomasse o governo 
por um tempo indeterminado, o cônsul 
surgiu para que dois líderes do Estado 
fossem eleitos para prestar serviço em 
Ilustração presente no Museu de Madri retrata o sonho de um patrício e sua esposa
inclina sobre o terreno do vizinho, que 
os seus galhos sejam podados à altura 
de mais de quinze pés”. Esse conjunto 
de regras mostrava que o romano tinha 
um intenso interesse pelo direito civil. 
Já o código penal nunca chegou a ser 
extenso. Desta forma, os tribunais não 
tinham um conjunto vasto de regras 
para orientar os vereditos.
conjunto. O tempo de governo era de 
um ano e estava proibida a reeleição 
para mandatos consecutivos.
A palavra cônsul tinha o significado 
de “aquele que cuida da comunidade”. 
Era uma forma de deixar claro que os 
detentores do posto deveriam agir em 
nome dos interesses de todos os roma-
nos. As principais atribuições dos côn-
sules eram fornecer liderança sobre a 
orientação política e civil, além de co-
mandar o exército em tempos de guer-
ra. O embate para alcançar este posto 
era intenso, pois ocupá-lo se tratava de 
uma maneira de elevar o prestígio fa-
miliar por um longo período. Algumas 
famílias com apenas um cônsul entre 
os seus ancestrais tinham o costume de 
se chamar de “nobres”.
Já o Senado, que perdurou durante 
todos os séculos da história romana, 
pode ser considerado a instituição mais 
influente da “constituição romana”. 
Importante lembrar que a casa datava 
da época monárquica e que mesmo os 
reis não tomavam decisões importan-
tes sozinhos, uma vez que era uma 
tradição romana sempre pedir conse-
lho a amigos e a idosos. Deste modo, 
os monarcas reuniram um grupo seleto 
de experientes conselheiros que eram 
chamados de senadores (palavra latina 
para idosos). Portanto, o costume de o 
líder tomar conselho sempre prosse-
guiu durante o período republicano.
Durante a maior parte da história, o 
Senado funcionava com cerca de trezen-
tos membros. O general Sulla dobrou 
este número com o advento de uma 
profunda reforma em 81 a.C. Júlio Cé-
sar, por sua vez, subiu o montante para 
novecentos com o objetivo de conseguir 
partidários durante a guerra civil da 
década de 40 a.C. Em 13 a.C., Augusto 
reduziu o contingente de senadores no-
vamente para seiscentos.
Segundo historiadores, o Senado 
sempre incluiu patrícios e plebeus da 
elite. O tempo encarregou-se de obrigar 
os candidatos a possuírem uma quantia 
grande de propriedades para poderem 
entrar na disputa ao posto de senador.
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CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA
No início da República, os senadores 
eram escolhidos pelos cônsules entre os 
homens já eleitos anteriormente como 
magistrados menores. Tempos depois, 
a seleção passou a ser realizada pelos 
censores, que eram magistrados espe-
ciais de alto prestígio. Uma das maiores 
influências do Senado recaía sobre as 
decisões relativas à declaração e con-
dução de guerras. Importante observar 
que, nesta época, Roma vivia em confli-
tos armados quase que continuamente.
Um aspecto relevante é que no 
período republicano o Senado não de-
tinha o poder de votar projetos, ele 
apenas agia como conselheiro. Ou seja, 
não possuía o direito oficial de vetar ou 
liberar quaisquer decisões do governo 
executivo, mas sim um status de res-
peito e consideração em meio aos cida-
dãos romanos.
CARGOS
Obviamente, o posto de cônsul era tido 
como o mais importante em Roma. Na 
sequência, os demais cargos seguiam 
uma ordem de prestígio. Mas, para al-
cançar os lugares mais elevados, era 
necessário seguir um plano de carreira, 
que tinha início por volta dos vinte anos 
de idade, geralmente como assistente 
de oficial. A seguir, a escalada seguia 
tentando a eleição de menor valor, a de 
questor, que era responsável pela admi-
nistração financeira do Estado. O cargo 
seguinte era o de edil, que carregava 
consigo a difícil tarefa de gerenciar a 
manutenção de ruas, esgotos, templos, 
mercados e demais obras públicas.
O passo seguinte dentro da hierar-
quia do poder romano era buscar a vitó-
ria na eleição para o cargo anual de pre-
tor, magistratura muito prestigiosa e que 
só perdia em importância para a vaga 
de cônsul. Em geral, os pretores tinham 
como incumbência a administração da 
justiça e o comando de tropas de guerra.
Assim, o poder e o prestígio des-
sas posições as tornavam o centro da 
disputa entre patrícios e plebeus por 
postos públicos. Em 337 a.C., a pressão 
da classe plebeia forçou a aprovação de 
lei que abria todos os cargos de forma 
uniforme entre as duas ordens.
A “constituição romana” tinha ain-
da duas posições de governo especiais 
não anuais: censor e ditador. O primeiro, 
que deveria ser um ex-cônsul, cuidava 
da contagem periódica de cidadãos e 
de suas propriedades para que os im-
postos pudessem ser cobrados de uma 
maneira mais justa e os romanos classi-
ficados parao serviço militar. Já o cargo 
de ditador era ocupado somente em 
emergências nacionais graves, quando 
se tornava necessária a rápida tomada 
de decisões para garantir a boa saúde 
do Estado. Geralmente, a posse de um 
ditador significava que Roma havia so-
frido uma perda militar muito grande e 
precisava de uma ação extremamente 
cirúrgica para que um desastre fosse 
evitado. O ditador tinha plenos poderes, 
suas decisões não poderiam ser ques-
tionadas, mas a sua permanência no 
posto era de, no máximo, seis meses.
FUNCIONÁRIOS 
ASSALARIADOS
A entrada na carreira pública, no entan-
to, estava longe de gerar lucros finan-
ceiros aos portadores dos cargos, que 
não recebiam salário por seu trabalho. 
Ao contrário, os funcionários, inclusi-
ve, gastavam parte do seu dinheiro ao 
exercerem tais atividades. Desta forma, 
fica claro que somente aqueles homens 
que tinham condições financeiras privi-
legiadas podiam cumprir o funcionalis-
mo público. Estes, normalmente, obti-
nham renda por meio de propriedade 
familiares ou suporte financeiro de 
amigos mais próximos.
Além disto, assim como nos dias 
de hoje, os custos de uma campanha 
eleitoral eram bastante exacerbados. 
Os candidatos, por vezes, desprendiam 
uma quantidade razoável de recursos 
e até contraíam dívidas enormes. Não 
bastasse isto, era desejável que, depois 
de eleito, um funcionário do governo 
pagasse, com seu dinheiro, obras públi-
cas em estradas, templos e aquedutos.
Mas, se no início, a carreira pública 
conferia só status social, depois de um 
tempo a conquista de novos territórios 
ajudava muitos a ganharem dinhei-
ro. Estes funcionários passaram a ter o 
direito legal de enriquecer ganhando 
presas de guerra quando exerciam os 
postos de comandantes em batalhas 
de conquistas vencidas. Outra forma de 
obter ganhos – ilicitamente – era pelo 
recebimento de propina enquanto ad-
ministrava as províncias dos territórios 
conquistados pelos romanos. »»
Figura de senador e seus escravos: parlamentar 
romano era uma espécie de conselheiro do cônsul
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MACCARI, César 
(1840-1919), Cícero 
Denunciando Catilina, 
1880, Roma
CURIOSIDADE
Para conseguirem apoio dos 
eleitores, candidatos a cargos 
públicos em Roma financiavam 
festivais de luta entre 
gladiadores e batalhas de 
animais trazidos da África.
CAPÍTULO 2 • REPÚBLICA
ASSEMBLEIAS
As decisões em Roma eram tomadas 
por meio da votação em assembleias. 
Nestes eventos ao ar livre, eram defi-
nidos os resultados de pleitos e aprova-
das novas leis. No entanto, os historia-
dores afirmam que tais ocasiões apre-
sentavam um nível de complexidade 
muito grande. Os cidadãos – adultos e 
livres – se reuniam depois da convoca-
ção de um funcionário público.
Os debates ocorriam antes das as-
sembleias em um grande agrupamento 
do qual qualquer um – mesmo não ci-
dadãos e mulheres – podiam participar, 
mas somente cidadãos homens tinham 
o direito à palavra. Por outro lado, to-
dos podiam expressar suas opiniões 
através de aplausos ou vaias para aqui-
lo que era falado.
Entretanto, no início da assembleia 
em si, apenas poderiam ser votadas 
propostas feitas pelos funcionários pú-
blicos. Era momento também de solici-
tar emendas às propostas.
Nesta época, a cidade de Roma pos-
suía três assembleias eleitorais diferen-
tes: Assembleia das Centúrias, Assem-
bleia Tribal dos Plebeus e Assembleia 
Tribal do Povo. A apuração, porém, não 
estabelecia a regra de “um homem, 
um voto”. Na Assembleia das Centú-
rias, por exemplo, os cidadãos eram di-
vididos em pequenos grupos segundo 
as regras específicas de cada encontro. 
Estes grupos, em geral, não eram equi-
valentes em tamanho. Primeiramente, 
os integrantes de cada círculo votavam 
individualmente para que fosse deter-
minado qual seria o voto único do gru-
po na assembleia. Assim, a soma dos 
votos únicos dos grupos definia uma 
assembleia.
O grande problema é que este pro-
cedimento, aparentemente democráti-
co, gerava distorções nos resultados das 
eleições. Os homens mais ricos e pode-
rosos compunham grupos menores que 
possuíam votos com o mesmo peso de 
grupos bem maiores formados por ci-
dadãos pobres. Assim, nem sempre a 
vontade da maioria absoluta das pes-
Em busca de votos, candidatos a cargos 
públicos promoviam lutas entre gladiadores 
para cativar os cidadãos romanos
soas era respeitada. Para piorar, a vota-
ção começava dos mais ricos até chegar 
aos menos abastados. Com isso, os in-
tegrantes das classes mais afortunadas 
podiam votar em bloco na assembleia 
e, quando o pleito chegava aos mais 
pobres, a maioria de votos já estava 
praticamente decidida.
Já os grupos eleitorais na Assem-
bleia Tribal dos Plebeus eram deter-
minados segundo o local onde os 
cidadãos moravam. Este assembleia 
obteve o nome da instituição romana 
de tribos. À época, chegava a 35 o nú-
mero de tribos, que eram estruturadas 
em termos geográficos para dar uma 
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CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA
cano, todas as propostas aprovadas 
pelos plebeus nestas reuniões eram 
tidas somente como recomendações, 
nunca como leis. Assim, os aristocra-
tas, que dominavam o governo ro-
mano nesta época, em muitos casos 
simplesmente ignoravam os encami-
nhamentos dados nestes plebiscitos.
Contudo, os plebeus passaram a se 
revoltar com tal falta de consideração 
da elite para com os seus pedidos e 
desejos. Diante disso, a prática da se-
cessão foi uma ferramenta mais uma 
vez importante para pressionar a aris-
tocracia romana. Repetido por várias 
vezes, esse instrumento de luta fez 
com que os patrícios fossem obriga-
dos a ceder. Um novo movimento de 
revolta em 287 a.C. culminou em um 
acordo que tornava as decisões toma-
das nos plebiscitos plebeus uma fonte 
de leis oficiais.
Essa mudança fez com que os re-
sultados de votos dados na Assem-
bleia dos Plebeus passassem de meras 
recomendações a uma das principais 
fontes de legislação, que atingiam, 
inclusive, os próprios patrícios. O reco-
nhecimento destes plebiscitos acabou, 
assim, com o conflito das ordens entre 
patrícios e plebeus.
A Assembleia Tribal dos Plebeus 
era responsável por eleger, entre ou-
tros, os dez tribunos. Estes eram funcio-
nários públicos especiais e poderosos 
dedicados a proteger os interesses da 
classe plebeia. O poder dos tribunos de 
obstruir ações de outros funcionários 
públicos e de assembleias dava a eles 
um potencial enorme de influenciar o 
governo de Roma. Desta maneira, os 
detentores do cargo passaram a ser 
odiados por integrantes da elite roma-
na, que, em inúmeras ocasiões, tinham 
os seus desejos políticos negados por 
conta da influência deles.
Posteriormente, a Assembleia 
Tribal também passou a ter reuniões 
ampliadas com as presenças de pa-
trícios e plebeus. Os encontros com 
este formato ganharam o nome de As-
sembleia Tribal do Povo. Tais reuniões 
serviam para eleger, por exemplo, os 
questo res e ainda podiam decretar leis 
e rea lizar julgamentos considerados 
de me n or importância.
Apesar de todas as tentativas de 
chegar a um denominador comum, 
a luta entre classes e poderes gerou, 
durante a República, muitos conflitos 
políticos sérios. Tais confrontos, acre-
ditam alguns historiadores contempo-
râneos, eram causados pelo fato de 
várias instituições poderem criar leis 
ou normas equivalentes. Como Roma 
não tinha uma Suprema Corte, não 
era possível resolver disputas sobre a 
validade das leis que estavam sobre-
postas ou em discordância umas com 
as outras.
Mesmo com toda esta movimenta-
ção e efervescência, os romanos mais 
ricos e de maior status social continu-
aram dominando a maior parte do go-
verno republicano de Roma.
509 A.C.
Depois do estupro 
e suicídio de 
Lucrécia, membros 
da elite derrubam a 
monarquia e 
instituem a República.
451 A.C. E 449 A.C.
Com o desenvolvimento 
da República, é criada 
a Lei das Doze Tábuas, 
o mais antigo código 
escrito do direito romano.
337 A.C.
Após pressão dos plebeus, 
os patrícios são obrigados 
a aceitar a criação de 
umalei que distribuía 
todos os cargos públicos 
de forma uniforme entre 
as duas ordens.
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287 A.C.
Novamente depois 
de grande pressão, a 
assembleia plebeia 
deixa de ser um 
mero conselho e 
ganha o caráter de 
formadora de leis.Sh
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vantagem a proprietários de terras 
ricos da zona rural. Esta assembleia 
não incluía os chamados patrícios. 
Constituída, basicamente, de eleitores 
plebeus, conduzia julgamentos e as 
mais diferentes formas de negócios 
públicos imagináveis. Sobretudo nos 
primeiros séculos do período republi-
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CAPÍTULO 3 • EXPANSÃO
GUERRAS 
E AVANÇO 
TERRITORIAL
OS ROMANOS ENFRENTARAM DURAS BATALHAS PARA 
CONSEGUIREM AMPLIAR DE MANEIRA SIGNIFICATIVA SEU 
DOMÍNIO NO PERÍODO REPUBLICANO
 Durante sua época republicana, Roma travou guerras que a ajudaram a ampliar o domínio 
territorial de um modo bastante significativo. Esta 
expansão sobre terras anteriormente governadas 
por outros povos foi fundamental no projeto de 
formação de um verdadeiro império.
Se trouxe ganhos de terras, este movimento tam-
bém gerou profundas mudanças na sociedade de Roma. 
Após dominar diversos arraiais, os romanos passaram a 
ter contato muito estreito com o modo de viver de outras 
culturas. O caso mais claro foi a interação com os gregos. 
Esta relação levou, inclusive, à criação da primeira obra de 
literatura romana escrita em latim.
Além disto, a expansão fez com que uma infinidade 
de pequenos agricultores da Itália caísse na pobreza. Tal 
situação gerou conflito entre os membros da elite sobre 
o que fazer com estes conterrâneos necessitados. Era o 
prenúncio do fim da República.
Expansão romana: mapa mostra que, no segundo século depois de Cristo, 
o império dominava boa parte da Europa, Ásia Menor e norte da África
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CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA
Nos cem anos seguintes, travaram in-
tensas lutas contra os etruscos da loca-
lidade de Veios, ao norte do rio Tibre. A 
vitória veio no ano de 396 a.C. e ajudou 
os romanos a praticamente dobrarem o 
seu território. Nesta época, o exército 
romano já era considerado o mais pode-
roso da região do Mediterrâneo. A sua 
maior unidade era a legião, composta 
por, aproximadamente, 5 mil soldados 
de infantaria. Cada legião ainda tinha a 
retaguarda de 300 tropas de cavalaria, 
além de engenheiros responsáveis por 
atividades de apoio.
A legião era subdividida em unida-
de menores, que eram lideradas pelos 
chamados centuriões. Tratava-se de 
uma forma de garantir maior mobilida-
de do exército em caso de necessidade 
de uma reação rápida a situações ines-
peradas durante os combates. Essa for-
mação deixava espaços entre os grupos 
de cem homens, o que permitia que os 
soldados de infantaria permanecessem 
atrás dos grandes escudos enquanto fa-
ziam bom uso das lanças para romper a 
linha de frente d o inimigo. Em seguida, 
eles empunhavam suas espadas para o 
temido combate corpo a corpo.
Segundo historiadores, as espadas 
usadas pela infantaria eram especial-
mente feitas para golpear oponentes 
a uma distância bem curta. Além dis-
so, tais homens passavam por rigoroso 
treinamento para conseguirem suportar 
os sangrentos confrontos. Essa boa e 
intensa preparação do exército auxiliou 
Roma a avançar em suas investidas. 
Em 220 a.C., o imperialismo começava 
a ganhar contornos mais fortes depois 
que toda a Itália ao sul do rio Pó estava 
sob controle dos valentes romanos.
Quando vencia as ásperas batalhas, 
Roma tinha como estratégia escravizar 
os povos derrotados. Quando não fazia 
isso, os forçava a ceder extensões de 
terra bastante consideráveis. Com re-
lação a povos italianos conquistados, 
os romanos não os obrigavam a pagar 
impostos, mas exigiam que estes pres-
tassem ajuda militar nas batalhas. Os 
novos aliados recebiam uma parte dos 
despojos de guerra – como escravos 
e terra. Em linhas gerais, a estratégia 
romana era agregar ex-adversários e, 
assim, fazer com que sua riqueza fos-
se ainda maior com o passar do tempo. 
Diante deste cenário, os especialistas 
no tema enfatizam que o imperialismo 
romano era inclusivo.
Legião do exército romano era composta 
por 5 mil soldados de infantaria
UM MILHÃO 
DE HABITANTES
A REPÚBLICA NÃO FOI UM 
MOMENTO APENAS DE 
EXPANSÃO TERRITORIAL. DE 
ACORDO COM HISTORIADORES, 
A CIDADE DE ROMA TAMBÉM 
ALCANÇOU UM AUMENTO 
POPULACIONAL SIGNIFICATIVO 
NESTE PERÍODO E TERIA SIDO A 
PRIMEIRA CIDADE DO PLANETA 
A ATINGIR A IMPRESSIONANTE 
MARCA DE UM MILHÃO 
DE HABITANTES HÁ CERCA 
DE 2.500 ANOS.
Apesar de alguns especialistas 
não concordarem com a 
afirmação e dizerem que 
Alexandria, no Egito, seria a 
dona do feito, a maioria dos 
peritos costuma dar o título a 
Roma. Com o passar do tempo, 
a cidade italiana foi perdendo 
espaço e acabou ultrapassada 
por outras localidades. 
Atualmente, as cinco maiores 
metrópoles do mundo são 
Tóquio, Cidade do México, Nova 
Iorque, Mumbai e São Paulo.
CURIOSIDADE
A eficiência e força do exército 
romano eram bem conhecidas no 
primeiro século depois de Cristo. 
Tanto é verdade que, na carta 
bíblica aos cristãos da igreja de 
Éfeso, escrita por volta de 60 d.C., 
o famoso apóstolo São Paulo utiliza 
como exemplo os armamentos e 
peças do vestuário de um soldado 
de Roma para rogar que os efésios 
permanecessem fiéis aos seus 
ensinamentos. Ele usa expressões 
como “armadura de Deus”, “cinto 
da verdade”, “couraça da justiça”, 
“escudo da fé”, “capacete da 
salvação” e “espada do Espírito” 
(Efésios 6:11-17).
PRIMEIROS 
COMBATES 
As batalhas iniciais ocorreram na região 
central da Itália. Os romanos obtive-
ram importante triunfo sobre vizinhos 
latinos em 499 a.C., pouco depois que 
o regime republicano foi estabelecido. 
Apóstolo São Paulo utilizou as peças do 
vestuário de um soldado romano para 
exemplificar como deveria estar preparado 
um cristão para enfrentar suas provações
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CAPÍTULO 3 • EXPANSÃO
EXPANSÃO 
Por volta de 300 a.C., a taxa populacio-
nal de Roma chegou, diante deste am-
biente de progresso, a níveis considera-
dos altíssimos para o período. Somente 
dentro do muro de fortificação da ci-
dade viviam cerca de 150 mil pessoas. 
Para conseguir abastecer toda esta alta 
demanda, foram levantados aquedutos 
que levavam água potável para a ci-
dade. Além disto, a presa das guerras 
vencidas era usada para financiar um 
amplo projeto de edificações de casas.
Fora das muralhas, aproximada-
mente 750 mil cidadãos romanos liber-
tos moravam em diferentes regiões da 
Itália na terra tomada dos povos locais. 
A população rural, contudo, acabou 
passando por percalços econômicos na 
época por conta do aumento da taxa de 
natalidade – o que levava à impossibi-
lidade em conseguir sustentar famílias 
maiores – e também pela dificuldade 
em manter uma fazenda produtiva 
quando muitos homens estavam em 
campanhas militares muito longas e 
desgastantes. Além disso, as grandes 
porções de terras nas mãos de poucos 
contribuíram para o surgimento de no-
vos conflitos velados entre romanos ri-
cos e pobres.
PRIMEIRA 
GUERRA PÚNICA 
Um combate, no mínimo, bem diferente 
colocou à prova a hegemonia romana 
entre os anos de 280 e 275 a.C. A bata-
lha na cidade grega de Taranto colocou 
Roma diante de um exército equipado 
com elefantes de guerra. A tática foi 
utilizada pelo general mercenário Pirro 
para tentar conter o quase inevitável 
avanço adversário sobre o sul da Itália.
Diante de um inimigo tão podero-
so, os líderes romanos convenceram as 
assembleias a votarem favoravelmente 
ao enfrentamento desta ameaça. Ape-
sar de todas as dificuldades, após cinco 
anos, Pirro abandonou a guerra e retor-
nou à Grécia. Assim, Roma obteve total 
controle do sul da Itália até a costa do 
Mediterrâneo no fim da península.
Diante desta expansão em direção 
ao sul, os romanos estavam à beira da 
região dominada por Cartago, um Es-
tado bastante próspero que ficava do 
outro lado do mar Mediterrâneo, na 
regiãoonde atualmente está localizada 
a Tunísia. Em 800 a.C., os fenícios colo-
nizaram Cartago, uma região favorável 
para o comércio marítimo e com áreas 
agrícolas férteis em sua parte central. 
O comércio dos cartagineses foi expan-
dido por toda a região oeste do Medi-
terrâneo, até mesmo sobre a ilha da 
Sicília, localizada em uma faixa estreita 
de mar na ponta da península italiana.
A prosperidade de Cartago gerou um 
ávido interesse dos romanos. O grande 
problema é que lhes faltava experiência 
naval para um combate marítimo, algo 
que sobrava para os cartagineses. Os ci-
dadãos de Roma, no século III a.C., não 
contavam com praticamente nenhum 
conhecimento tecnológico para cons-
truir um navio de guerra e também não 
possuíam a organização necessária para 
formar uma marinha poderosa.
Dessa forma, uma batalha parecia 
inviável. Além disso, não havia traço 
de inimizade entre os povos para que 
fosse precipitado qualquer tipo de ação 
romana contra Cartago. Porém, um epi-
sódio insignificante mudou este cená-
rio e levou a uma guerra destruidora 
com mais de um século de duração.
Tudo começou quando, em 264 
a.C., um bando de mercenários na ci-
dade de Messina, no extremo nordeste 
da Sicília, encontrava-se em situação 
de perigo depois que o serviço militar 
para o qual foi contratado terminou em 
fracasso. Desesperados, eles decidiram 
solicitar auxílio de Cartago e Roma ao 
mesmo tempo. O senado romano não 
entrava em um consenso sobre o que 
fazer com relação ao pedido de resgate 
dos mercenários. No entanto, o cônsul 
patrício Ápio Cláudio Cáudice convenceu 
a maioria a votar pelo envio de tropas 
para a região da Sicília com a promes-
sa de garantia de excelentes despojos. 
Assim, o envio do exército para Messina 
tornava-se a primeira expedição militar 
de Roma fora da Itália.
O que ninguém esperava é que Car-
tago também enviaria soldados àquela 
região. O encontro dos dois exércitos 
eclodiu uma batalha entre as forças das 
potências econômicas. Como resultado, 
houve a Primeira Guerra Púnica entre 
os anos de 264 a.C. e 241 a.C. A vitória 
romana veio a partir da persistência. 
Preparada a sacrificar vidas e gastar 
muito dinheiro no conflito, Roma per-
Em 300 a.C., a população apenas dentro da 
Roma fortificada já era de 150 mil pessoas
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CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA
deu 250 mil homens e cerca de qui-
nhentos navios de guerra construídos 
recentemente. Um século depois, o his-
toriador Políbio, da Grécia, considerou a 
Primeira Guerra Púnica a maior guerra 
da história em duração, intensidade e 
escala de operações.
O que impressiona é que, forçada a 
lutar no mar contra um rival muito me-
lhor preparado para estas condições, 
Roma decidiu desenvolver sua mari-
nha a partir do zero. Copiou os navios 
e táticas do adversário com a ajuda dos 
gregos e conseguiu, finalmente, con-
quistar Messina. Assim, findava-se a 
Primeira Guerra Púnica em 241 a.C.
Com o triunfo, os romanos torna-
ram-se os mestres da próspera Sicília, 
região repleta de portos e campos. A 
receita que vinha dos impostos que os 
romanos recebiam dos sicilianos era 
tão elevada que, em 238 a.C., outras 
SEGUNDA 
GUERRA PÚNICA 
Depois da longa guerra diante de Carta-
go, os romanos decidiram fazer alianças 
com comunidades que ficavam ao leste 
da Espanha com o intuito de bloquear 
o poder inimigo na região. Roma, con-
tudo, dava garantias de que não iria 
interferir no lado sul do rio Ebro, loca-
lidade de domínio cartaginês.
Entretanto, as autoridades de uma 
cidade de nome Sagunto, que ficava 
justamente naquela região, solicitaram 
auxílio romano contra Cartago. Vale 
destacar que se tratava de um local 
com intensa atividade comercial em 
recursos minerais e agrícolas na Espa-
nha. Diante do pedido, o senado roma-
no simplesmente ignorou a promessa 
feita anteriormente de não intervir na 
cidade e decidiu socorrer.
Talvez, o principal motivo para a 
quebra do pacto tenha sido a visão ro-
mana de que os cartagineses eram bár-
baros de moral inferior. Eles os conde-
navam pela prática de sacrificar bebês e 
crianças em emergências nacionais para 
recuperar o favor dos deuses.
Assim, em 218 a.C., 23 anos de-
pois do primeiro combate entre Roma 
e Cartago, tinha início a Segunda Guerra 
Púnica, que só chegaria ao fim em 201 
Imagem de antiga construção em Sagunto: conflito 
na região precipitou Segunda Guerra Púnica
Ilustração de 
navio romano 
durante 
viagem no mar 
Mediterrâneo 
em meio a 
uma grande 
tempestade
duas colônias cartaginenses – as ilhas 
de Córsega e Sardenha – também fo-
ram anexadas pelo império.
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CAPÍTULO 3 • EXPANSÃO
go, os romanos voltaram as atenções 
para o embate contra os gauleses no 
norte da Itália. Este grupo celta era 
considerado muito perigoso, sobretudo 
depois que saqueou Roma de modo de-
vastador no ano de 387 a.C. Tratava-se, 
portanto, de uma defesa preventiva. 
No fim do século III a.C., os romanos já 
controlavam todo o vale do Pó – antes 
em poder dos gauleses – e, consequen-
temente, toda a Itália até os Alpes.
TERCEIRA 
GUERRA PÚNICA 
O ano de 146 a.C. marcou a aniqui-
lação de Cartago ao final da Terceira 
Guerra Púnica (149 a.C. a 146 a.C.). O 
derradeiro combate começou no mo-
mento em que Cartago, já recuperado 
do pagamento de indenizações impos-
tas por Roma após a Segunda Guerra 
Púnica, atacou o vizinho rei da Numí-
dia, Massinissa, aliado romano. Desta 
vez, a cidade foi completamente des-
truída e o território passou a ser uma 
província do império. A destruição de 
Cartago como um Estado independen-
te foi uma resposta aos insistentes pe-
didos do senador romano Marco Pórcio 
Catão, que temia as ameaças, ainda 
que tímidas, daquele rival.
 
MUDANÇAS 
Como consequência das atividades 
militares e diplomáticas intensas, as 
relações romanas com o sul da Itália, 
Sicília, Grécia e Ásia Menor tornaram-
-se mais efetivas e fizeram com que 
os romanos tivessem um contato mais 
aprofundado com a cultura grega. Essa 
interação influenciou profundamente o 
desenvolvimento da arte, arquitetura 
e literatura na cultura de Roma. O pri-
meiro templo de mármore construído 
na capital, por exemplo, foi erguido 
Templo em homenagem 
a Júpiter mostra influência 
grega na cultura romana
CURIOSIDADE
Em 249 a.C., durante a 
Primeira Guerra Púnica, a 
derrota de Roma em uma 
batalha foi explicada como 
punição divina pelo suposto 
sacrilégio cometido pelo cônsul 
Cláudio Pulcro. Segundo lenda 
romana, antes de um combate, 
o comandante precisava ver 
aves se alimentando como 
um sinal de sorte. Entretanto, 
quando algumas galinhas, 
provavelmente enjoadas com o 
balanço do navio, se rejeitaram 
a comer no convés, Cláudio, 
em um ataque de raiva, as teria 
lançado ao mar e dito: “Ora, que 
bebam, então”. Apesar disto, 
ele deu início à batalha e perdeu 
93 de seus 123 navios em uma 
espetacular derrota naval. Mais 
tarde, o cônsul foi punido pelo 
desacato arrogante à tradição.
a.C. Este novo longo combate foi ainda 
mais desgastante. Tudo porque o gene-
ral cartaginês Aníbal Barca fez uso de 
uma audaciosa tática. Ele marchou com 
suas tropas e elefantes pelas passagens 
cobertas de neve nos Alpes para inva-
dir a Itália. Em 216 a.C., 30 mil romanos 
foram dilacerados naquela que ficou co-
nhecida como Batalha de Canas.
Aníbal conhecia o tamanho do po-
derio romano e tinha como estratégia 
tentar provocar revoltas nas cidades 
italianas aliadas a Roma. Ele ainda 
apostou corretamente em uma aliança 
com o rei Filipe V, da Macedônia, em 
215 a.C., o que forçou os romanos a lu-
tarem na Grécia. O general de Cartago 
gerou inúmeras dificuldades aos seus 
oponentes durante quinze anos. Ele 
marchou pela Itália neste período, des-
truiu parte do território romano e ame-
açou, inclusive, a soberania da capital.
Porém, Aníbal falhou em sua táti-
ca de jogar os aliados italianos contra 
Roma. Eles, muito pelo contrário, per-
maneceram leais e o general teve de 
finalizar a campanha de guerrilhana 
Itália para retornar ao norte da África 
juntamente com todo o seu exército em 
203 a.C. Naquele mesmo ano, os roma-
nos, sob o comando do general Cipião, 
lançaram ataque importante contra Car-
tago. Após longos anos, finalmente Aní-
bal seria definitivamente derrotado na 
batalha de Zama, em 202 a.C.
Para concretizar a vitória, os roma-
nos impuseram aos cartagineses um 
acordo de paz punitivo. Eles foram obri-
gados a afundar navios, pagar indeniza-
ções de guerra muito elevadas durante 
cinquenta anos e abrir mão de territó-
rios na Espanha. Roma ainda lutaria pos-
teriormente contra indígenas espanhóis 
pelo controle das áreas, mas os lucros 
que as terras eram capazes de gerar aos 
seus donos – principalmente por meio 
da extração mineral – faziam a difícil 
empreitada valer a pena. Essas receitas 
eram tão grandes que garantiam a reali-
zação de projetos de prédios públicos de 
custo elevadíssimo em Roma.
Depois do sucesso diante de Carta-
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CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA
Antes do acontecimento das Guer-
ras Púnicas, Roma mantinha uma ope-
ração bélica que seguia os padrões 
mediterrâneos normais, ou seja, cam-
panhas militares curtas programadas 
que não interferiam nas atividades 
relacionadas à agricultura. Os comba-
tes sazonais permitiam que os homens 
permanecessem em casas nos períodos 
do ano em que necessitavam semear 
e colher, além de supervisionar o aca-
salamento e abate de animais. Mas, 
a partir da Primeira Guerra Púnica, as 
campanhas passaram a ser demasiada-
mente extensas e impediam que estes 
voltassem periodicamente aos lares.
Em muitos casos, mulheres e crian-
ças – sobretudo familiares de soldados 
– morriam de fome por não contarem 
com a figura masculina para lhes ga-
rantir a provisão necessária. Outras mu-
lheres decidiam buscar a sobrevivência 
se prostituindo nas cidades da Itália. 
Diversas famílias agrícolas se endivida-
vam e tinham de vender a terra. Por sua 
vez, ricos proprietários de terras podiam 
adquirir estes terrenos para criar plan-
tações ainda maiores. Já os latifundiá-
rios aumentavam as suas posses ainda 
mais ocupando, de modo ilegal, terras 
públicas que Roma havia confiscado dos 
povos derrotados na Itália.
Servos retratado em mosaico romano
MIGRAÇÃO 
Sem condições para plantar e viver dig-
namente, muita gente passou a migrar 
para Roma. Na capital, homens procu-
ravam um trabalho subalterno. As mu-
lheres aguardavam serviços ocasionais 
na produção de tecidos. Este exército 
de pobres desesperados em busca de 
alimento inchou a população da cidade. 
Este cenário transformara o ambiente 
político romano em um verdadeiro bar-
ril de pólvora. Estas famílias inteiras de 
miseráveis estavam dispostas a apoiar 
através de seus votos quaisquer políti-
cos que prometessem atender às suas 
necessidades mais básicas. De alguma 
maneira, os mais carentes precisavam 
ser alimentados para que grandes ma-
nifestações fossem evitadas ao máximo.
Roma, no final do século II a.C., foi 
obrigada a importar grãos para conse-
guir alimentar minimamente sua ex-
no ano de 146 a.C. em homenagem a 
Júpiter, seguindo a tradição dos gregos 
de usarem este tipo de pedra brilhante.
A literatura também ganhou corpo 
a partir dos conhecidos e admirados 
modelos gregos. Por volta de 200 a.C., 
a primeira história romana foi escri-
ta no idioma grego. Já a peça literária 
mais antiga escrita em latim, um po-
ema longo produzido após a Primeira 
Guerra Púnica, foi uma adaptação da 
Odisséia, de Homero.
Mas as mudanças sociais no Impé-
rio Romano também foram profundas 
no período. A classe alta auferiu ganhos 
consideráveis nos séculos II e III a.C, so-
bretudo por meio do recebimento de 
presas de guerra.
Além disto, a criação de novas pro-
víncias gerou a necessidade de uma 
quantidade mais elevada de líderes 
militares e políticos que não podia 
ser fornecida pelo número tradicional 
de funcionários públicos eleitos. Com 
isto, um ajuntamento cada vez maior 
de funcionários passou a ter poderes 
estendidos para comandar tropas e 
administrar estas províncias. Todavia, 
como o governador provincial geria 
por lei marcial, ninguém era capaz de 
impedir que ele enriquecesse por meio 
de corrupção e extorsão. Claro que nem 
todos eram corruptos. Verdade também 
que poucos dos do que praticavam atos 
ilegais eram punidos. Um dos poucos 
exemplos foi Verres, processado por 
Cícero, em 70 a.C., por crimes adminis-
trativos na Sicília.
POBREZA 
Na época, a base econômica continuou 
sendo a agricultura. Nestes séculos, os 
agricultores trabalharam em pedaços de 
terra pequenos no interior da Itália. Pa-
ralelamente, os proprietários também 
representavam a principal fonte de sol-
dados do exército. Devido a este quadro, 
a República passou por imensuráveis di-
ficuldades, econômicas e sociais. Duran-
te as guerras, a produção agrícola ficou 
demasiadamente desguarnecida.
Estátua de Cícero, 
responsável por processar 
um governador da Sicília
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CAPÍTULO 3 • EXPANSÃO
499 A.C.
Romanos vencem 
guerra contra 
vizinhos latinos.
396 A.C. 
Roma alcança vitória 
na batalha contra 
etruscos em Veios.
300 A.C. 
Aumento populacional: 
Cidade de Roma chega 
a 150 mil moradores.
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preços subsidiados pelo Estado. Conse-
guiu ainda aprovar projetos de obras 
públicas por toda a Itália para fornecer 
emprego aos pobres.
As mais revolucionárias de todas 
as ações foram as suas propostas de 
dar cidadania romana a diversos ita-
lianos e constituir um tribunal de júri 
para senadores acusados de prática 
de corrupção enquanto exerciam car-
gos governamentais nas províncias. A 
proposta de cidadania fracassou. Já o 
estabelecimento do tribunal para pro-
cessos contra os senadores gerou uma 
enorme polêmica, pois suas causas 
seriam analisadas por homens ricos. 
À época, estes cidadãos, conhecidos 
como equestres, eram mais envolvi-
dos em negócios, mas mantinham suas 
ambições em serem designados a car-
gos públicos. A entrada deles no funcio-
nalismo, contudo, era frequentemente 
bloqueada pelos senadores.
A proposta de Caio de fazer com que 
os equestres atuassem como jurados no 
júri dos senadores acusados de ilegali-
dades na administração das províncias 
marcou a ascensão deles na política ro-
mana. Tal ameaça deixou o senado em 
fúria. Os senadores, então, em 121 a.C., 
publicaram documento que autorizava 
o cônsul Opímio a empregar força mi-
litar dentro da cidade de Roma, onde, 
segundo a tradição, nem mesmo os 
funcionários públicos tinham tal poder. 
Caio ainda buscou contratar um guarda-
-costas para tentar se proteger contra 
ataques inesperados. Mas, sem saída, 
ele, para fugir da detenção e execução 
volvidas para redistribuir terras públi-
cas para romanos que não tinham pro-
priedades. Tal medida foi adotada sem 
a consulta e aprovação dos senadores. 
A manobra era legal – já que o senado 
não podia barrar quaisquer medidas –, 
mas extremamente estranha à tradição 
romana. Ele afrontou ainda mais o cos-
tume político romano ao simplesmente 
ignorar o senado sobre a questão do 
financiamento desta proposta de refor-
ma agrária.
As reformas levantadas por Tibério 
para auxiliar os agricultores desapro-
priados tinham, obviamente, uma raiz 
política, pois ele precisava quitar um 
débito com rivais políticos e tinha o 
objetivo de se tornar popular como um 
defensor do povo mais sofrido.
Esse ímpeto de Tibério, contudo, 
foi barrado de maneira violenta. Um 
ex-cônsul chamado Cipião Nasica or-
ganizou violento ataque surpresa con-
tra ele. Um grupo de senadores e seus 
clientes assassinaram Tibério e seus 
companheiros a golpes no monte Capi-
tolino no final do ano de 133 a.C. Deste 
modo sangrento e nada republicano 
teve início esta triste história de violên-
cia e assassinato como tática política 
em Roma.
Caio Graco venceu eleição para tri-
buno em 123 a.C. e, mais uma vez, em 
122 a. C. Assim como o irmão Tibério, 
ele deu o pontapé inicial a algumasre-
formas que ameaçavam muito a elite 
romana. Além de manter as reformas 
agrárias, introduziu ainda leis que ga-
rantiam grãos a cidadãos de Roma a 
cessiva população urbana. O mesmo 
havia feito Atenas cerca de trezentos 
anos antes. Além disto, o senado ro-
mano fazia um trabalho de supervisão 
no mercado de grãos especulação no 
suprimento alimentar básico e garantir 
a distribuição em tempos de escassez.
No entanto, essa política gerava 
muita controvérsia. Enquanto alguns lí-
deres entendiam que esta era a única 
solução possível para o problema que 
batia à porta, outra parcela significati-
va discordava com bastante veemência, 
mas também não buscava propor uma 
alternativa melhor. Desta maneira, esta 
política permaneceu. No decorrer dos 
anos, a quantidade de necessitados 
cresceu vertiginosamente. Dezenas de 
milhares faziam parte desta grande lista 
de pessoas com direito ao recebimento 
dos subsídios sem qualquer custo. Pros-
seguir ou não com este gasto exponen-
cial gerava cada vez mais discussão.
CONFLITOS 
INTERNOS 
A total falta de consenso em torno do 
auxílio aos pobres teve efeitos devas-
tadores até mesmo em núcleos fami-
liares proeminentes. Tibério Graco e 
Caio Graco vieram de uma das famílias 
de classe alta mais distintas de Roma: 
Cornélia, mãe de ambos, era filha do 
lendário general Cipião Africano. Tibé-
rio foi eleito para o posto de tribuno 
plebeu em 133 a.C. Imediatamente, fez 
com que a Assembleia Tribal dos Ple-
beus adotasse leis de reforma desen-
CURIOSIDADE
Uma parte dos ganhos 
com despojos de guerra 
era direcionada para a 
construção de templos. Para 
o romano, a construção de 
locais sagrados era uma 
forma de garantir maior 
segurança para todos, pois 
acreditava-se que os deuses 
ficariam satisfeitos por 
terem mais santuários que 
os homenageassem.
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CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA
que se avizinhavam, ordenou a um de seus escravos 
que cortasse a sua garganta.
Depois dos falecimentos de Tibério e Caio Graco, 
os membros da alta classe romana viram-se cada vez 
mais divididos. Não havia qualquer possibilidade de 
se estabelecer consenso com relação à ajuda irrestrita 
ou não aos pobres que tomavam a capital do império. 
Certos líderes políticos ainda preservavam suas alian-
ças políticas. Outros simplesmente tinham o objetivo 
de promover abertamente as suas carreiras fingindo 
ser adeptos de um ou de outro lado. Porém, indepen-
dentemente da postura adotada, o racha dentro da 
elite continuou sendo uma plena fonte 
de efervescência política e violência gra-
tuita nos últimos anos de República.
Vista do Monte Capitolino, onde 
Tibério e seus companheiros teriam 
sido assassinados em 133 a.C.
Estátua equestre do 
Imperador Marco Aurélio 
em frente ao Capitólio 
(datada de 175 a.C.). 
Sua imagem foi utilizada 
para ilustrar a moeda de 
50 cents de euro italiano
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280 A.C. 
Tropas romanas 
vencem forças 
gregas no 
Sul da Itália.
264 A.C. A 241 A.C. 
Roma vence a Primeira 
Guerra Púnica.
218 A.C. A 201 A.C. 
Aníbal invade Itália, mas 
é superado por romanos 
na Segunda Guerra Púnica.
149 A.C. A 146 A.C. 
Romanos obtém vitória definitiva sobre 
Cartago na Terceira Guerra Púnica.
130 A.C. E 120 A.C. 
Cônsules Tibério 
e Caio incitam 
violento conflito 
político e acabam 
assassinados.
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CAPÍTULO 4 • MUDANÇA
O FIM DA ERA 
REPUBLICANA 
OS CONFLITOS ENTRE INTEGRANTES DA ELITE ROMANA 
E AS REVOLTAS INTERNAS DESTRUÍRAM O REGIME E 
MARCARAM UM NOVO TEMPO DENTRO DO IMPÉRIO
A falta de consenso com relação a políticas sociais tornou insustentável o regime repu-
blicano em Roma no século I a.C. O processo de 
deterioração começou na época dos mandatos 
dos cônsules Tibério e Caio Graco e durou cerca 
de cem anos. As guerras civis no período tam-
bém ajudaram a acelerar ainda mais este mo-
mento de degradação.
Além disso, o Estado romano passou a enfrentar re-
beliões internas e externas. Na época, cerca de 70 mil 
escravos escaparam de propriedades na região da Sicília 
e uniram-se com o objetivo de organizarem um levante. 
A revolta durou três anos. Também foi preciso estancar 
uma guerra estrangeira com Jugurta, rei-cliente rebelde 
na África do Norte. Por fim, guerreiros gauleses precipi-
taram diversos ataques nas regiões do norte da Itália.
O ambiente inóspito abriu caminho para um novo 
tipo de líder, alguém sem vínculo com a nobreza, mas 
muito hábil na condução militar e com melhor reputa-
ção para o cargo de cônsul. Estes novos candidatos ao 
cargo, mesmo não tendo um histórico familiar distinto, 
passaram a ser chamados de novos homens.
Porém, eles precisaram vencer o preconceito social 
para alcançarem tal posto. Isso foi possível por meio de 
atitudes consideradas nobres, como a generosidade com 
soldados – que recebiam despojos e tinham suas ne-
cessidades atendidas. Em geral, o combatente romano 
comum era pobre. Assim, ele via nesta nova figura um 
comandante a quem devia ter como patrono e prestar 
obediência. Este personagem nutria mais empatia do 
que senadores ou integrantes de assembleias. Assim, o 
sistema patrono-cliente tornou-se mais um jeito de os 
líderes conseguirem poder individual do que um suporte 
para os interesses da comunidade de Roma em si.
Shutterstock
29
CONHEÇA A HISTÓRIA • ROMA
»»
Imagem mostra local de 
reunião dos senadores na 
época da República, que 
começaria a se degradar no 
início do século I a.C.
CAPÍTULO 4 • MUDANÇA
PRECURSOR
Caio Mário (157 a.C. a 86 a.C.) foi quem 
mais colocou a ideia reformada de li-
derança em prática. Sem raízes nobres, 
ele teria não teria chance alguma de 
chegar a um posto de liderança den-
tro do cenário tradicional romano. Sua 
condição o levaria, no máximo, a uma 
carreira pública em cargos minoritários 
dentro do senado.
Contudo, uma grande e urgente ne-
cessidade de Roma fez com que o jogo 
virasse completamente para ele. No fi-
nal do século II a.C., o império precisava 
de homens com suas características e 
capacidades para levar um exército à 
vitória. Mário serviu com maestria na 
guerra norte-africana e ganhou noto-
riedade. Tais combates haviam se ar-
rastado por muito tempo por conta da 
falta de competência de outros gene-
rais. Somente com a chegada dele que 
Estátua de Caio 
Mário, que 
instituiu em 
Roma sistema 
patrono-cliente
os romanos puderam finalmente cami-
nhar rumo à vitória.
Assim, o general começou a subir 
alguns importantes degraus na escada 
de cargos eletivos. O apoio a interesses 
de patronos nobres e o casamento com 
uma mulher pertencente a uma famosa 
família de patrícios o auxiliaram ainda 
mais na empreitada que tinha como 
objetivo maior o cargo de cônsul. As-
tuto, Caio Márcio soube usar a sua boa 
reputação e o histórico invejável de 
triunfos militares para vencer as elei-
ções para um dos cônsules de 107 a.C.
Sua popularidade era notória entre 
os eleitores. Tanto que as vitórias con-
tra os celtas do norte – este povo tentou 
em inúmeras oportunidades invadir a 
Itália no fim do século II a.C. – o fizeram 
ser escolhido cônsul por seis mandatos 
seguidos, algo sem precedentes.
Caio Mário ainda nutria o respeito 
do senado, que lhe homenageou com a 
honra militar definitiva de Roma. Trata-
va-se de um raro reconhecimento dado 
somente a generais que obtinham 
triunfos considerados estupendos. No 
dia de recebimento da nomeação, o ge-
neral desfilava pelas ruas da cidade em 
uma carruagem militar e era aclamado 
pela multidão.
Porém, mesmo com a popularidade 
em alta, Mário nunca foi unanimidade 
na elite romana. Ele era visto como 
um ameaçador ‘novo rico’. Seu grande 
apoio vinha mesmo da ordem equestre 
– classe aristocrática considerada mais 
baixa – e do povo comum. É provável 
que os equestres tenham incentivado 
sua entrada na nobreza com a intenção 
de provarem o valor desta classe social.
A notoriedade de

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