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ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
Professora Dra. Anne Morais
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Plano de ensino
 DISCIPLINA	ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
CÓDIGO	JUR8134	CARGA HORÁRIA: 	40 H
	
EMENTA
A persuasão da linguagem: retórica. Narrativa jurídica. Teoria da argumentação. A questão da existência da lógica jurídica (Silogismo). Lógica e Linguagem. A Gramática e o Estilo Lógico. Interpretação e Ideologia. A força ideológica da linguagem e o poder do discurso jurídico. Linguagem jurídica e seus aspectos, culturais, sociais, econômicos e ideológicos. A linguagem das decisões judiciais e da necessidade de ser compreendida. Argumentação jurídica em casos concretos. 
OBJETIVOS DA DISCIPLINA
Estimular a leitura de textos relativos ao Direito, para uso do vocabulário jurídico, da aquisição de estruturas linguísticas de peças judiciais, retórica e lógica da argumentação. Aprimorar o domínio da oralidade. Aprimorar a escrita na Ciência do Direito, apresentando as Teorias da argumentação. Reconhecer habilidades estratégicas de persuasão características do discurso jurídico e da prática forense.
VISÃO DETALHADA DAS UNIDADES
UNIDADE 1	
A Linguagem e o discurso jurídico
OBJETIVOS DA UNIDADE 1
Identificar os estudos da linguagem na era Clássica. Relacionar os estudos da linguagem da era clássica com o século XXI. Identificar os principais aspectos da linguagem jurídica no século XXI. Utilizar os conceitos de persuasão no discurso oral
Utilizar os conceitos de persuasão no discurso escrito.
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Conteúdo:	
1.1-	Linguagem na era clássica – Grécia
1.2-	Linguagem jurídica no século XXI
1.3-	A persuasão na linguagem oral e escrita
UNIDADE 2	
A narrativa jurídica
OBJETIVOS DA UNIDADE 2
Identificar os elementos da narrativa. Descrever as características da narração da Petição. Descrever as características da narração na Contestação. Redigir textos narrativos. Redigir textos narrativos da área jurídica.
Conteúdo:	
2.1-	Estrutura da narrativa
2.2-	Narração da Petição inicial
2.3-	Narração da Contestação
UNIDADE 3 
Teoria da argumentação	
OBJETIVOS DA UNIDADE 3
Identificar a estrutura da argumentação. Identificar as estratégias de persuasão. Relacionar a estrutura da argumentação ao discurso jurídico. Redigir textos argumentativos.
Conteúdo:	
3.1-	Estrutura da argumentação e estratégias de persuasão
3.2-	Ordem dos argumentos no discurso
3.3-	Argumentação jurídica
UNIDADE 4	
O Discurso Jurídico e a Prática Forense 
OBJETIVOS DA UNIDADE
Definir ideologia e discurso. Utilizar a linguagem jurídica nos contextos específicos.
Analisar textos jurídicos.
Conteúdo:	
4.1-	A força ideológica da linguagem e o poder do discurso jurídico.
4.2-	Linguagem jurídica e seus aspectos, culturais, sociais, econômicos e ideológicos.
4.3-	Leitura e análise dos Textos Legais. 
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METODOLOGIA
A metodologia utilizada visa a preparar os alunos para uma sociedade pluralista, em constante processo de transformação e proporcionar uma educação preocupada com o desenvolvimento humano. Para tal, as atividades propostas deverão favorecer a didática do aprender a aprender, a reflexão, a construção e reconstrução do conhecimento além de proporcionar a autonomia do estudante. Além das aulas expositivas dialogadas será proposta a exposição oral com participação direta dos alunos, discussões de textos, debates, seminário, estudo de casos, atividades de pesquisa, aulas teóricas expositivas e aulas práticas, com utilização de quadro, trabalhos em grupo e estudo dirigido. Aulas expositivas e análise de casos concretos. As aulas expositivas devem, na medida do possível, conviver com atividades práticas que viabilizem a compreensão da aplicação prática dos conhecimentos específicos da disciplina, como o estudo de casos concretos e a pesquisa em torno das decisões dos tribunais pátrios.
ATIVIDADES DISCENTES
Realização de leituras dirigidas, interpretação, produção, reescrita de textos; participação em debates e em trabalhos de grupos; realização de questões discursivas e objetivas.
PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO
O processo de avaliação do desempenho dos alunos será realizado através dos seguintes instrumentos: realização de provas discursivas e objetivas e produção de trabalho individual e em grupo 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
DAMIÃO, Regina Toledo; HENRIQUES, Antonio. Curso de português jurídico. 10. Ed. São Paulo: Atlas, 2009.
MACCORMICK, Neil. Argumentação jurídica e teoria do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2006. 
VOESE, Ingo. Argumentação jurídica: teoria, técnicas, estratégias. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2006.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
ARIOSI, Mariângela de F. Manual de redação jurídica. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000.
GONÇALVES, Wilson José. Comunicação jurídica: perspectiva da semiótica. Campo Grande: UCDB, 2002. 
XAVIER, Ronaldo Caldeira. Português no direito. 15ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996.
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Argumentação na Era Clássica
 Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=Zflrf2TE 4xQ
A retórica surgiu na Sicília no século V a.c com Empedocle de Agrigento. Chega até a Grécia Antiga através do sofista Córax, discípulo de Empedocle; 
A origem da retórica é judiciária. Segundo Olivier Reboul, dois tiranos sicilianos, Gélon e Hierão, povoaram Siracusa, atualmente comuna italiana da região da Sicília, e distribuíram terras para mercenários à custa de deportações, transferências de população e expropriações. Com a queda dos tiranos e o fim da guerra civil que lhes sucederam, os cidadãos reivindicaram suas propriedades, tendo como consequência a instauração de inúmeros processos judiciários, formando-se júris populares para versar sobre os conflitos.
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- Como não existiam advogados nessa época, era preciso dar a esses cidadão uma forma de se defender. Foi então que Córax publicou sua “Arte Oratória”. Além disso, Córax deu a primeira definição da retórica: “ela é criadora de persuasão”. 
Alegava que sua retórica não argumenta a partir do verdadeiro, mas a partir do verossímil. Afinal, se a verdade fosse algo conhecido por todos, unívoca e transparente, “não haveria mais âmbito judiciário, e os tribunais se reduziriam a câmaras de registro” (REBOUL, p.3). 
Seus estudos serviram de base para os primeiros teorizadores.
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O objeto da retórica antiga
Para os estudiosos Chaim Perelmann e Lucie Tyteca, o objeto da retórica antiga é, acima de tudo, a arte de falar em público de modo persuasivo.
Conhecer o auditório, suas crenças, valores, funções é determinante para a construção de um discurso direcionado, forte e persuasivo.
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Córax
É considerado o inventor do argumento “o córax” que significa dizer que uma coisa é inverossímil por ser verossímil demais. 
Exemplo: Se alguém grita aos quatro ventos que irá matar uma outra pessoa; e, no outro dia, essa pessoa morre, seria verossímil demais que o assassino fosse quem a jurou de morte. Uma terceira pessoa provavelmente teria cometido o crime sabendo que aquela seria incriminada. 
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Tísias
Pupilo de Córax, pagava-o para ser ensinado. 
Existe uma anedota sobre o aprendizado de Tísias. 
A história conta que Tísias se recusou a pagar as aulas ministradas pelo seu mestre Córax alegando que, se fora bem instruído pelo mestre, estava apto a convencê-lo de não cobrar. Se este não ficasse convencido, era porque o discípulo ainda não estava devidamente preparado, fato que o desobrigava de qualquer pagamento. 
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A Retórica
Retórica = Arte de falar bem, de persuadir pelo discurso;
Arte: tradução do termo grego téchné, designa tanto uma habilidade espontânea quanto uma competência adquirida através do ensino.
Discurso retórico = instrumento de sedução e de manipulação, cujo objetivo é a persuasão;
Discurso: “toda produção verbal, escrita ou oral, constituída por uma frase ou por uma sequência de frases, que tenha começo e fim e apresente certa unidade de sentido”. (REBOUL, p. XVI)
“O verdadeiro orador é um artista no sentido de descobrir argumentos mais eficazes do que se esperava, figuras que ninguém teria ideiae que se mostram ajustadas [...]” (REBOUL, p. XVI)
Para estudarmos o poder do discurso e as maneiras de utilizá-lo em nosso benefício, é necessário compreender como tudo começou. 
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Discurso retórico
Discurso de Marco Antonio
https://www.youtube.com/watch?v=VpSa_AHfkDg
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Os sofistas
Grupos de mestres que viajavam para atrair estudantes e cobrar-lhes taxas para educá-los. Górgias, por exemplo, ganhava um salário de 100 minas, o que representava na época o salário diário de 10.000 operários.
Os mais conhecidos destes foram Protágoras – “o homem é a medida de todas as coisas” (481-420 A.C.), Górgias (483-376 A.C.), e Isócrates (436-338 A.C.). 
Acreditavam na democratização da educação e na possibilidade do indivíduo adquirir o conhecimento e, logo, desenvolver sua segunda natureza; entretanto, o saber transmitido estava a serviço do poder, de dominar através da palavra. 
Abalaram os valores tradicionais;
Criaram a teoria do contra-argumento. Eles ensinavam que todo e qualquer argumento poderia ser contraposto por outro argumento, e que a efetividade de um dado argumento residiria na verossimilhança (aparência de verdadeiro, mas não necessariamente verdadeiro) perante uma dada plateia;
Ensinavam a arte retórica;
Para eles, a palavra deveria ser usada para seduzir os ouvintes;
Construíram tábuas de modificação da palavra originária. Surgiram o que chamamos de figura de linguagem. A retórica chamava tais recursos de figuras do discurso; 
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Para a sofística, segundo Reboul, era possível argumentar em favor de uma tese fraca. 
Aristóteles irá afirmar que tanto a retórica (subjetiva) quanto a dialética (objetiva), ao contrário da sofística, são capazes de fazer a distinção entre o verdadeiro e o aparente.
A Retórica junto com a Lógica e a Gramática constituíam o trivium, as três artes liberais ensinadas nas universidades da Idade Média. Até o século XIX foi uma parte central da educação ocidental.
POR QUE ISSO MUDOU? 
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Descartes e a concepção racionalista
O desprezo sofrido pela retórica deu-se, segundo Perelmann/Tyteca, em virtude da natureza retórica. Seu campo de argumentação é o verossímil, o provável, o plausível, na medida em que escapa às certezas do cálculo. 
Descartes considerava “quase como falso tudo quanto era apenas verossímil”(apud PERELMANN-TYTECA, p. 1). Essa atitude dos teóricos e lógicos do conhecimento fez com que a retórica ficasse esquecida e desprestigiada.
 QUAL O SIGNIFICADO PARA VOCÊS DA PALAVRA RETÓRICA HOJE?
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No Direito..
Manuel Atienza, em Teorias da Argumentação Jurídica, observa que a prática do Direito consiste de um modo geral em argumentar, tanto para quem elabora a lei como para quem aplica a lei, como para quem se debruça nela com objetivo jurídico.
 As estratégias retóricas são importantes ao operador do Direito, pois tratará da maneira subjetiva do ato de argumentar e, em certas situações, é importantíssima para os objetivos do operador. 
Um espaço jurídico em que esse uso fica evidente é no Tribunal do Júri.
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Platão
Discordava das ideias dos sofistas, pois:
negava a democratização da educação. Acreditava que cada indivíduo possui uma natureza para determinada função;
era contra a arte, contra a retórica (como produtora de verdade), contra a imitação, considerava-a como eticamente perigosa;
a única função da linguagem é o ato da comunicação.
 
 		Platão e outros filósofos gregos questionaram a honestidade do discurso retórico. Para eles, a linguagem deveria estar voltada para a verdade, para a filosofia.
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Pirâmide platônica
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 Retórica de Aristóteles
Aristóteles, na obra Retórica, sistematiza a teoria sobre a argumentação;
Com ele, a retórica assumiu-se como a arte de bem falar; e a elocução passa a ser a essência da própria retórica; 
Todos nós nos servimos da retórica e da dialética.
O persuasivo do discurso comporta duas faces: argumentativa (objetiva) e oratória (subjetiva).
Oratória: recurso de expressão, de comoção, de afetividade;
Argumentação: recurso formal.
Entimema = silogismo
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Esquema retórico aristotélico
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Modelo triádico em Retórica de Aristóteles
Quem fala, o que fala e com quem fala. (três aspectos importantes para compreender a retórica). 
Relação entre orador e público é determinante.
No livro I, Aristóteles analisa e fundamenta os três gêneros retóricos: o deliberativo (que procura persuadir ou dissuadir), o judiciário (que acusa ou defende) e o epidítico (que elogia ou censura). Além disso, argumentos em favor da utilidade da retórica são apresentados.
No livro II, o plano emocional é analisado em sua relação com a recepção do discurso retórico. 
No livro III, o estilo e a composição do discurso retórico são analisados. Além de elementos como clareza, correção gramatical e ritmo, o uso da metáfora e as partes que compõem um discurso também estão presentes neste livro.
Tópicos (nome de um dos seis trabalhos de Aristóteles) = teoria, dialética, estrutura do argumento;
Retórica = prática; oratória; elocução, auditório, emoção.
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“para ser um bom orador, não basta saber falar; é preciso saber também a quem se está falando, compreender o discurso do outro, [...] detectar suas ciladas, sopesar a força de seus argumentos e sobretudo captar o não-dito”. (REBOUL, p. XIX)
Exemplo: Nas eleições de 1981 na França, o candidato a reeleição Giscard d’Estaing disse a seu oponente François Mitterrand o seguinte: “O senhor conhece a cotação do marco hoje?”. Mitterrand, sabendo que o outro candidato queria valer-se da imagem de economista sério, um especialista, um mestre, responde o seguinte: “Senhor Giscard, não sou seu aluno”. Não se falou mais em cotação até o final do debate.
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Tipos de persuasão: ethos, pathos e logos
Aristóteles apresenta três modos de persuasão:
Ethos = provas que se baseiam no caráter do orador, de modo a inspirar a confiança do auditório.
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Exemplos no mundo jurídico.
Exemplo retirado de dissertação de Daniela Miranda (USP):
AD: Sinto muito... O SEnhor está nerVOso.
PJ: Não estou nervoso.
AD: Está nervoso... toma um pouco d’água... Por gentiLEza..me perMIta continuar.
PJ: Eu estou CALmo.
[...]
PJ: [...] Até no palco o senhor dá show. [...]
Eu acho que o senhor não precisava fazer nada disso que o senhor fez.. O senhor é exageRAdo
Ethos Promotor: nervoso, descontrolado.
Ethos Advogado de Defesa: exagerado, dançarino de sapateado e não advogado; contraditório, não conhecedor das leis (em outras partes não mencionadas aqui)
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Nixton X Kennedy em 1960
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Estratégias
 ”Nixon insistiu na campanha até poucas horas antes do debate ter iniciado pela primeira vez, ele não estava completamente recuperado da sua permanência no hospital e, assim, parecia pálido, doentio, abaixo do peso, e cansado. Ele também se recusou a se arrumar muito para o primeiro debate, e como resultado, a sua barba por fazer mostrou destaque nas telas das TVs da época em preto e branco. A má aparência de Nixon na televisão no primeiro debate é refletido pelo fato de que sua mãe, o chamou imediatamente depois do debate para perguntar se ele estava doente. Kennedy, pelo contrário, descansado e preparado extensivamente, apareceu bronzeado, confiante e relaxado durante o debate. Há uma estimativa de que 70 milhões de espectadores assistiram ao primeiro debate.”
Em assunto de ethos na política, apela-se para a idade, experiência, relação familiar, doença etc.
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Ethos discursivo X ethos pré-estabelecido
Ethos discursivo: aquele produzido no discurso pelo próprio orador. Imagem do próprio orador criada pelo discurso.
 Ex: “Eu, como representante do Ministério Público, sou responsável a ponto de não acusar sem provas concretas” (promotora em Tribunal do Júri).
Ethos pré-estabelecido ou ethos prévio: imagem do orador já construída pelo auditório antes mesmo do discurso se efetivar.
 Ex: Tenho uma imagem pré-concebida do governador X. Quando ele discursa,essa imagem afetará meu juízo sobre o que ele diz.
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Ethos projetivo x ethos projetivo representado x ethos efetivo
Ethos projetivo representado: Aquele produzido pelo orador de uma terceira pessoa.
 Ex: Defensor ao criar uma imagem positiva do réu. “O réu sempre foi responsável, não tem antecedentes criminais, estuda, ajuda a família...”
Ethos projetivo: imagem que o auditório cria do orador.
Ethos efetivo: imagem que o orador acredita ter e ser.
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Pathos
Provas que se baseiam nas emoções ou paixões suscitadas junto ao auditório, de modo a impressionar o público favoravelmente em relação ao orador ou desfavoravelmente em relação ao adversário.
Segundo Olivier Reboul (1998, p.48), o pathos é "o conjunto de emoções, paixões e sentimentos que o orador deve suscitar no auditório com seu discurso". 
Para Aristóteles, no Livro II de Retórica, ensina como mexer com a emoções do auditório a fim de causar-lhes compaixão, ódio, medo, indignação.
 Ele afirma que "as paixões são as causas das mudanças nos nossos julgamentos e são acompanhadas por dor e prazer" (ARISTÓTELES, 2011, p.123). 
https://www.youtube.com/watch?v=K2K9519Upes
http://www.youtube.com/watch?v=CNJ1LLcsQII
https://www.youtube.com/watch?v=_LCjh2aNPO4
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Exemplos de uso do Pathos
"vocês precisam agir com responsabilidade, pois decidirão a vida de uma terceira pessoa aqui hoje"; 
"Cabe a vocês dizer se o réu tinha ou não ciência que tinha chumbinho na coca-cola”. (Isso é feito a partir do uso do verbo na terceira pessoa do singular ou plural, uso do pronome de tratamento você/vocês, ou do verbo na primeira pessoa do plural;
“Nós vivemos um absurdo de homicídios”. 
Essa estratégia de inserir o receptor no centro do discurso, nesse ambiente jurídico, tem como objetivo mexer com os sentimentos do receptor que uma vez sensibilizado, sentindo-se responsável pela lei e pela ordem, movido pelo medo e pelo ódio, pela compaixão e pela pena, pode vir a tomar uma atitude favorável à defesa ou à acusação do réu.
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No caso do assassinato da modelo Angela Diniz pelo namorado na época Doca Street, a defesa tentou criar uma imagem de Angela que causasse ódio no júri, alguém fútil que instigava Doca à violência causando-lhe ciúmes a todo o tempo. Essa tática, aliada a outras estratégias da defesa, fez com que Doca Street fosse inocentado no primeiro julgamento.
“O senhor bateu, o senhor bateu, o senhor bateu! Senhor Daniel, eu precisaria dizer a eles [jurados] que é repugnante, que é abjeto, que é nojento matar alguém e, depois, na entrada do motel, dizer que quer a suíte presidencial. Isso é nojento, isso é asqueroso!” (promotor para o júri no caso Suzane e irmãos Cravinhos) Para que o auditório sinta ódio, é necessário, segundo
Aristóteles (2011, p.123), que o orador saiba três coisas: "[...] investigar qual é a disposição da pessoa que se encoleriza, com que pessoas ela geralmente se encoleriza e quais os motivos que a induzem à cólera".
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Logos
Provas que se baseiam no conteúdo do próprio discurso. Para Aristóteles, o logos constitui o elemento propriamente dialético da retórica.
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Atividade
Reconheça nos discursos abaixo o(s) tipo(s) de persuasão utilizado(s).
http://www.youtube.com/watch?v=OzDWJ4QdoIA
http://www.youtube.com/watch?v=rcD8KzJHPdY
https://www.youtube.com/watch?v=gYQB7mHuREs
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Os cinco cânones tradicionais do discurso retórico
Invenção
 Em função do auditório e do assunto a debater, procurava-se escolher o tipo de discurso, os argumentos e a estrutura argumentativa mais adequada a determinado público. Isto inclui as escolhas sobre os fatos que devem ser incluídos e quais tipos de argumentos seriam mais eficientes. O orador deve conhecer, nesse momento, as referências e crenças de seu público.
 
 Sobre tal cânone, Aristóteles afirmou que o orador deve "descobrir os melhores meios disponíveis de persuasão".
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Disposição
A disposição está relacionada à escolha da melhor organização para os argumentos. A disposição envolve delinear e escolher a ordem na qual os fatos devem ser apresentados. 
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A organização do discurso
O modelo clássico apresenta três momentos fundamentais:
a) Introdução. Apresentação da tese e sua contextualização. Este momento é decisivo para captar a adesão do auditório.O orador deve partir coisas que não suscitem polêmica, como fatos, verdades, presunções ou até valores, de modo a gerar um primeiro acordo com o auditório, predispondo-o a aceitar as suas conclusões.  
b) Argumentação. Apresentação dos argumentos que sustentam a tese. Antecipando possíveis críticas são também apresentados alguns contra-argumentos e feita a sua refutação. A ordem dos argumentos depende muito do auditório. Três alternativas possíveis:
- Ordem crescente. "O Inconveniente da ordem crescente é que,  começando por argumentos fracos, ela indisponha o auditório, tire brilho à imagem do orador, esmoreça  o seu prestígio e a atenção que lhe é dada", Chain Perelman (Império Retórico)
- Ordem decrescente. " A ordem decrescente, terminando os discurso com os argumentos mais fracos, deixa ao auditórios uma má impressão, muitas vezes a única coisa que eles se lembram", Chain Perelman (Império Retórico)
- Ordem mista. Os argumentos mais fortes são colocados no princípio e no fim, sendo os restantes colocados no meio do discurso.
c) Conclusão. Síntese dos resultados atingidos que justificam a tese inicial.
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Disposição: divisão
Introdução (exórdio)
Declaração dos Fatos (narratio)
Divisão (partitio)
Prova (confirmatio)
Refutação (Refutatio)
Conclusão (peroratio)
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Introdução: 1) introduzir o seu tema e; 2) estabelecer a credibilidade.
Declaração dos fatos: Não basta listar secamente um monte de fatos. Torne-os interessantes para ler ou ouvir. Crie uma história. Narre.
 Ex: O promotor pode dizer: "O réu, Sr. Faz-viúvas, atirou na vítima John Smith, um filantropo amado pela comunidade , vinte vezes à queima-roupa na frente das crianças da vítima." O advogado do réu pode transmitir o mesmo fato assim: "John Smith foi baleado.“ (http://confrariadavirilidade.blogspot.com.br/2015/10/retorica-classica-os-cinco-canones-da.html)
 Divisão: ordem dos argumentos/fatos
Prova: ênfase nas provas, argumentos mais fortes, relacionando ao que foi narrador. 
Refutação: já mostrar alguns problemas de seus argumentos e explicá-los, antes que seu oponente o faça (ele será repetitivo). Refutar também possíveis argumentos de seu oponente (Ex: réu usando muletas).
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Elocução
Na retórica clássica, a elocução se refere a dois tipos diferentes de ênfases que um escritor ou orador pode usar para tornar sua obra mais atraente: ornamentação e orquestração. 
Ornamentação = as imagens e as figuras de linguagem utilizadas.
 Orquestração = ritmo da linguagem, entonação. 
http://www.youtube.com/watch?v=NOCJKCENFOA
http://www.youtube.com/watch?v=0hjAeY5Gb2k (1:11)
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Ornamentação
As figuras retóricas: desempenham papel persuasivo.
“A religião é o ópio do povo” (Marx)
“O tráfico é o câncer de nossa sociedade” (promotora em Tribunal do Júri)
“O cobertor é curto” (Dilma)
 
 Metáforas, antíteses, metonímias, hipérbole, ironia, figuras de repetição, de ritmo; tudo isso é importante para a construção de um discurso sedutor e persuasivo. 
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Memória
Aspecto muito importante na Grécia e Roma antiga, mas não tão utilizada nos dias de hoje. Os oradores compunham suas falas inteiramente em suas cabeças. Para tanto, usavam recursos mnemônicos e padrões estritos para se certificarem que lembrariam de toda a fala.
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Ação
Ato de apresentar a fala. Ao planejar a ação de uma fala, os gregos e romanos não deixavam nada para o acaso. Eles planejavam movimentos de braço, contato visual, postura, tudo. Eles também planejavam o tom de suas vozes, quão rápida ou lentamente falar, o ritmo de sua fala e a altura da voz. A ideia era fazer uma conexão emocional com aplateia, mais ou menos como um ator competente pode conduzir uma plateia às lágrimas ou ao riso.
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Exercício
5. Nicolau Maquiavel, no século XV, afirmava que moral política não deveria confundir-se com moral religiosa. O trecho abaixo exemplifica bem o pensamento deste grande diplomata e escritor italiano: “Um príncipe não deve, portanto, importar-se por ser considerado cruel se isso for necessário para manter os seus súditos unidos e com fé. Com raras exceções, um príncipe tido como cruel é mais piedoso do que os que por muita clemência deixam acontecer desordens que podem resultar em assassinatos e rapinagem, porque essas consequências prejudicam todo um povo, ao passo que as execuções que provêm desse príncipe ofendem apenas alguns indivíduos” (MAQUIAVEL, 2002, p. 208). (2,0)
 
 Tendo em vista a distância histórica, geográfica e social da época de Maquiavel aos nossos dias, elabore um esquema retórico, dividido nos cinco cânones utilizados por Aristóteles, para convencer o seu leitor de que A moral política não deve ser confundida com a moral religiosa em nossa contemporaneidade. Não se esqueça de explicar como utilizará cada cânone. (2,0)
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Dialética
Dialética = refutar a tese do interlocutor, colocando-o em contradição. Ex: Diálogos de Platão.
Para Platão, seria a técnica de perguntar, responder e refutar. Segundo ele, é através do diálogo que se atinge o verdadeiro conhecimento. A partir da decomposição de uma ideia se chega a uma síntese que também deve ser examinada.
Hegel vai afirmar que a verdade é o todo; logo a dialética deve enxergar este todo e identificar as contradições que o compõem. Para Hegel, a contradição é o princípio básico do movimento pelo qual os seres existem;
A dialética será marcada
pelo jogo de perguntas e respostas;
pelo confronto de ideias;
pela arte da controvérsia.
pela discussão entre dois polos antagônicos;
pelo método dialético: raciocínio que permite contestação e controvérsia.
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Íon, de Platão
Pequeno trecho retirado da obra Íon, de Platão
Íon – “Inclina-te suavemente, disse, sobre o carro bem polido, sobre o lado esquerdo; em seguida, aguilhoa o cavalo da direita, excitando-o com a voz, e folga-lhe as rédeas.” [...]
Sócrates – Basta. Agora, Íon, qual dos dois é o melhor para julgar se esses versos de Homero são correctos ou não: o médico ou o cocheiro?
Íon – O cocheiro, evidentemente.
Sócrates – É por que ele conhece essa arte ou por outra razão?
Íon – Não, porque conhece a arte. [...]
Sócrates – [...] concordas que uma arte tem uma natureza e outra tem outra?
Ìon – Sim.
Sócrates – Ora, não concordas que, tal como eu penso, consoante o conhecimento se refere a um objecto ou a um outro, assim se denomina esta arte ou aquela?
Íon – Sim. [...]
Sócrates – Deste modo, aquele que não possui uma arte não estará em estado de conhecer bem o que se diz ou se faz nessa arte?
Ìon – Dizes a verdade.
Sócrates – Acerca dos versos que recitaste de Homero, qual dos dois, tu ou um cocheiro, os julgará melhor?
*
Ìon – O cocheiro.
Sócrates – Porque tu, com efeito, és rapsodo e não cocheiro.
Íon – Sim. [...]
Sócrates – Visto que conhece a arte militar, conhecê-la como general ou como rapsodo.
Íon – Para mim, parece-me que não há diferença.
Sócrates – Como? Dizes que não há diferença? A arte do rapsodo e a do general são apenas uma, ou duas?
Íon – Parece-me que uma só.
Sócrates – Assim, quem é um bom rapsodo será também um bom general?
Íon – Certamente, Sócrates.
Sócrates – Do mesmo modo, quem for um bom general será também um bom rapsodo?
Íon – Não, não me parece isso.
Sócrates: Pois bem: tu é o melhor rapsodo da Grécia?
Íon – E de longe, Sócrates.
Sócrates – E é também, Íon, o melhor general da Grécia?
Íon – É correcto, Sócrates, porque aprendi em Homero.
Sócrates – Então, Íon, pelos deuses, sendo tu o melhor dos gregos como general, por que é que andas por aí a representar os Gregos e não comandas tropas? Ou pensas que um rapsodo ornamentado com uma coroa de ouro é muito necessário para os Gregos e um general não? 
[...]
*
Leitura do texto de Olivier Reboul.
Dicas:
Começar com perguntas que não tenham relação direta com o foco do diálogo para despistar o outro e fazê-lo ser favorável as suas perguntas. 
Em seguida, mude as perguntas de forma que a afirmação ou negação mostre que seu interlocutor está sendo incoerente com o que disse antes.
As perguntas precisam ser feitas modo direto, e a resposta, de preferência, seja em forma de Sim/Não.
Não deixe que o outro fale muito, perguntas objetivas.
Exemplo: Escola sem partido.
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Dialética X Retórica
https://www.youtube.com/watch?v=PJEt1AQgKus 
https://www.youtube.com/watch?v=1gGvtIhr9KI
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Jogo dialético: a força dos argumentos
A turma será dividida em dois grupos;
O tema é: Pena de morte;
O Grupo A deverá selecionar 3 argumentos a favor da pena de morte, escrever em uma folha e passar para o grupo B. O grupo B fará a mesma coisa.
O Grupo B e o GRUPO A deverão pensar em criar perguntas que façam com o que o outro se contradiga, descaracterizando cada argumento apresentado; 
O Grupo A começa fazendo perguntas ao grupo B para descaracterizar seu primeiro argumento. Depois o Grupo B, e assim sucessivamente. 
Cada grupo deve apenas responder a pergunta do outro grupo. Se for em formato de Sim/Não, apenas responder Sim/Não.
O objetivo não é uma guerra, mas a partir do jogo de perguntas e respostas, compreendermos como a dialética nos leva a outros caminhos, reflexões e nos aproxima do que gostaria Platão, da verdade.
*
 “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.” Albert Einstein

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