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Pró-Reitoria de Graduação Curso de Direito Trabalho de Conclusão de Curso TRANSDISCIPLINARIDADE JURÍDICA: O CRIME DE PEDOFILIA E SUA REPERCUSSÃO EXTRAPENAL Autora: Edilene do Carmo Santos Orientador: Prof. Esp. Tágory Figueiredo Martins Costa Brasília - DF 2010 EDILENE DO CARMO SANTOS TRANSDISCIPLINARIDADE JURÍDICA: O CRIME DE PEDOFILIA E SUA REPERCUSSÃO EXTRAPENAL Trabalho apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Católica de Brasília, como requisito para obtenção do Título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Esp. Tágory Figueiredo Martins Costa Brasília 2010 Monografia de autoria de Edilene do Carmo Santos, intitulada “Transdisciplinaridade jurídica: o crime de pedofilia e sua repercussão extrapenal”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito da Universidade Católica de Brasília, em ___de____________2010, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: _________________________________________________________ Presidente. Prof. Esp. Tágory Figueiredo Martins Costa Orientador ___________________________________________ Integrante: Prof. Dr. ___________________________________________ Integrante: Prof. Dr. Brasília 2010 Dedico este trabalho, primeiro a Deus, pois sem ele eu nem sequer teria iniciado toda esta batalha. À minha família, em especial à minha filha, pois vem dela minha força para resistir às provações. Aos amigos que me apoiaram nos momentos mais difíceis. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado luz e sabedoria para vencer os obstáculos e chegar ao final deste trabalho. Agradeço especialmente ao meu orientador, Professor Tágory que soube me entender, direcionar e me acolher na hora mais difícil. Aos amigos Fabrício, Leiliane e Taísa pelo incentivo e pela contribuição, por que sem isso eu não teria conseguido. A meus pais que me inspiraram e me fizeram acreditar que era possível mesmo nos momentos que pensava em desistir. Ao meu marido, companheiro de todos os momentos e aos meus filhos pois vem deles a força pra conquistar meus objetivos. A todos os professores do curso que souberam transmitir o conhecimento para alçar novos vôos. Aos colegas de turma com os quais cursei algumas disciplinas, e, especialmente aos do décimo semestre por compartilharmos as nossas vivencias, experiências e aprendizados. “A melhor maneira de tornar as crianças boas é torná-las felizes” Oscar Wilde RESUMO SANTOS, Edilene do Carmo. Crime de Pedofilia: Transdisciplinaridade jurídica: o crime de pedofilia e sua repercussão extrapenal. 2010. 85f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direto - Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2010. Esta monografia busca fazer uma avaliação acerca das questões que envolvem o crime de pedofilia na Legislação Brasileira e os motivos da falta de tipificação no Código Penal. Será demonstrado resultados dos julgamentos que se relacionam ao crime, enfatizando a psicologia e a psiquiatria que estudam a pedofilia sob a ótica social e mental. O estudo levou em consideração para realização do trabalho o que traz o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Código Civil, a Constituição e os Direitos Humanos nas questões da penalização do indivíduo portador da Pedofilia. Também estudaremos o crime de pedofilia no mundo e as medidas de proteção que os Estados estrangeiros introduziram em suas respectivas legislações para combater a prática. Palavras-chave: Pedofilia. Doença. Legislação . Condenação. ABSTRACT SANTOS, Edilene Carmo. Crime of pedophilia: Transdisciplinarity legal: the crime of pedophilia and its impact extrapenal. 2010. 85f. End of Course Work (Graduate Direct - Catholic University of Brasilia, Brasilia, 2010. This monograph seeks to make an assessment about the issues surrounding the crime of pedophilia in Brazilian legislation and the reasons for the lack of typing in the Criminal Code. It will be demonstrated results of trials that relate to crime, emphasizing the psychology and psychiatry who study child abuse under a social and mental health. The study took into account when carrying out the work which brings the Statute for Children and Adolescents, the Civil Code, the Constitution and Human Rights on issues of criminalization of the individual with Pedophilia. We will also study the crime of pedophilia in the world and the security measures that foreign States have introduced in their respective laws to combat the practice. Keywords: Pedophilia. Disease. Legislation. Condemnation. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 11 CAPÍTULO 1 - A PEDOFILIA E SEUS ASPECTOS RELEVANTES ............................ 14 1.1. CONCEITO DE PEDOFILIA .................................................................................... 14 1.2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PEDOFILIA .............................................................. 16 1.3. A PEDOFILIA NA VISÃO DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE ................................ 18 1.3.1. O Diagnóstico ..................................................................................................... 19 1.3.1. As Causas e o Tratamento ................................................................................ 20 1.3.3 O Posicionamento dos Psicólogos.................................................................... 24 1.4. O CRIME DE PEDOFILIA NO DIREITO COMPARADO ......................................... 27 1.5. O CRIME DE PEDOFILIA NO BRASIL ................................................................... 29 1.6. A OMISSÃO LEGISLATIVA .................................................................................... 33 1.7. A LEGISLAÇÃO APLICADA NO DIREITO BRASILEIRO ....................................... 34 1.7.1. Crime Comum ou Hediondo .............................................................................. 36 1.8. AS PENAS APLICÁVEIS AO CASO ....................................................................... 36 1.9. A CONDENAÇÃO E A EXECUÇÃO DA PENA ....................................................... 38 1.10. A SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA – ASPECTOS RELEVANTES ............. 39 1.10.1. Circunstâncias Atenuantes e Agravantes ...................................................... 39 1.10.2. Outros Aspectos Considerados pelo Magistrado ......................................... 42 1.10.3. O Regime de Cumprimento da Pena............................................................... 43 1.10.4. A Possibilidade de Tratamento Médico .......................................................... 44 1.10.5. Outras Penalidades Aplicáveis ....................................................................... 45 1.10.6. Medidas Sócio-Educativas .............................................................................. 46 1.10.7. Liberdade Condicional ..................................................................................... 46 1.10.8 O cumprimento da Pena - Reintegração à Sociedade.................................... 48 CAPÍTULO2 - A POSSIBILIDADE DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS PELA PRÁTICA DA PEDOFILIA .............................................................. 50 2.1. A CONDENAÇÃO PENAL E OS EFEITOS CÍVEIS ................................................ 50 2.1.1. Vítima que não Possui Parentesco com o Condenado ................................... 51 2.1.1.1. A indenização por Dano Moral .......................................................................... 52 2.1.2. Vítima que Possui Parentesco com o Condenado .......................................... 53 2.1.2.1. A Possibilidade de Indenização por Dano Moral ............................................... 54 2.1.2.2. A Possibilidade de Indenização por Dano Material ...................................... 55 CAPITULO 3 – TRANSDICIPLINARIDADE JURÍDICA E OS REFLEXOS DA PRÁTICA DE PEDOFILIA EM OUTRAS ÁREAS DO DIREITO .................................................... 56 3.1. O REFLEXO DA CONDENAÇÃO NO DIREITO DE FAMÍLIA ................................. 56 3.1.1 O Exercício do Poder Familiar ........................................................................... 56 3.1.2. A Administração dos Bens do Menor ............................................................... 57 3.1.3. A Suspensão e Extinção do Poder Familiar ..................................................... 58 3.1.4. A perda do poder familiar por ato judicial – art.1638 do CC. .......................... 58 3.1.5. A Possibilidade de Convivência Familiar Após o Cumprimento da Pena ..... 60 3.2. REFLEXOS NO EXERCÍCIO DA TUTELA .............................................................. 61 3.3. REFLEXOS NA ADOÇÃO DE MENORES .............................................................. 62 3.3. CAUSAS PARA ANULAÇÃO DO CASAMENTO - APLICAÇÃO DO ART.1.557 DO CC .................................................................................................................................. 65 3.3.1. Causas para Dissolução do Casamento - Aplicação do art. 1.572 do CC ..... 67 3.4. REFLEXOS NO DIREITO DAS SUCESSÕES ........................................................ 68 3.5. A PEDOFILIA SOB UM ENFOQUE CONSTITUCIONAL ........................................ 70 3.6. REFLEXOS DA PEDOFILIA SOB A ÓTICA DOS DIREITOS HUMANOS .............. 74 3.7. NO DIREITO INTERNACIONAL ............................................................................. 75 CONCLUSÃO ................................................................................................................ 78 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 81 11 INTRODUÇÃO O tema a ser desenvolvido nesta pesquisa refere-se aos aspectos da condenação penal bem como seus reflexos na esfera cível, e ainda uma análise da legislação em relação à necessidade de se cominar, de forma expressa em lei, o crime de pedofilia. Procurando tratar de forma acautelada a discussão acerca do ordenamento jurídico que envolve a Condenação Penal do indivíduo Pedófilo na Esfera Cível, pois enquanto os atos cometidos pelos pedófilos são considerados Crimes, os profissionais de saúde, tais como médicos, psicólogos e psiquiatras procuram responder dentro de seus respectivos conhecimentos e estudos as explicações para este fenômeno. O objetivo desta monografia é estudar os aspectos da Condenação Penal na Esfera Civil, bem como as conseqüências advindas da condenação do indivíduo que comete crimes de pedofilia, e após pagar a sua pena, ainda seria penalizado dentro outros ramos do direito civil. Deste modo, esta monografia se justifica pela importância de se conhecer, por meio de uma forma abrangente, os principais aspectos civis relacionados à pedofilia, seus relatos históricos, a visão da psicologia, da medicina, os tipos de penas aplicadas aos pedófilos. Os estudos para identificar um indivíduo pedófilo e a linguagem jurídica brasileira sobre o assunto. O tema está sob o manto do Direito Penal, que determina e regula os crimes praticados contra a criança e o adolescente, bem como adentra em questões que são regidas pelo Direito Civil e ainda, uma leitura dos dispositipos de repressão ao desrespeito do Estatuto da Criança e do Adolescente, e ainda, uma abordagem ao Código Civil e suas aplicabilidades em razão do tema em prol de um entendimento dos reflexos relacionados ao direito privado. Diversos Parlamentares tem se envolvido com a causa e a busca por proteção integral das crianças e ainda estudam meios de evitar que ainda mais crianças sejam vítimas de pedófilos, tidos pela medicina como portadores de patologia. O Senador Magno Malta do Espírito Santo foi relator da CPI da Pedofilia e ainda conta com o apoio 12 do também Senador Marcelo Crivela. Estes, buscam a possibilidade de aplicação de castração química, tal medida, é foco de grandes discussões. O problema da pesquisa está em demonstrar a importância de se conhecer, por meio de uma forma abrangente, os principais aspectos civis relacionados à pedofilia, seus relatos históricos, a visão da psicologia, da medicina, os tipos de penas aplicadas aos pedófilos. Os estudos para identificar um indivíduo pedófilo e a linguagem jurídica brasileira sobre o assunto. O trabalho se justifica na escassa quantidade de material de pesquisa que estude o crime de pedofilia de forma transdisciplinar. Muito se fala em Direito Penal mas pouco ou nada quando o tema toca outros ramos do Direito. Dessa forma podemos chegar ao problema que é a necessidade de definição da imputabilidade do indivíduo pedófilo, bem como as punições civis a que este será submetido, como a anulação de casamento, a restrição, ou pelo menos, uma maior dificuldade em se cadastrar para a adoção e chegando a ser cogitada a possibilidade de ser excluído do rol de herdeiros legítimos. Evidente é a precisão de uma rápida normatização dos entendimentos, tendo em vista que a instabilidade legal pode colocar em risco a segurança jurídica e ainda, podem trazer danos que firam ferozmente a dignidade e a integridade física humana. Após uma leitura dos princípios norteadores e da conceituação de pedofilia, teremos o entendimento da condenação penal na esfera cível em relação ao pedófilo. A pesquisa será desenvolvida de modo a dividi-la em três capítulos. No primeiro capítulo irá se buscar o conceito de pedofilia, assim como a evolução histórica e o posicionamento dos profissionais de saúde. Será apresentado também o tipo de pena que é lhe é imposta, uma vez analisado na sentença de condenação os aspectos médicos e psicológicos do indivíduo. Também será colocado neste primeiro capítulo o Direito Comparado, verificando como em alguns países do mundo trata a questão dentro de suas realidades. No segundo capítulo, será abordado os reflexos que a Condenação Penal provoca na vida do indivíduo após o cumprimento da pena. Tratar-se-á dos direitos da vítima dentro da legislação brasileira: No Código Civil e no Estatuto da Criança e do Adolescente e quais os reflexos nos direitos civis do ex-condenado. 13 No terceiro capítulo será apresentado os reflexos da condenação no Direito de Família, especificamente dentro do artigo 1.557 e 1.572 ambos do Código Civil. Será exposta a situação sob a ótica dos Direitos Humanos e o posicionamento da Doutrina diante do fenômeno da pedofilia. Como já explanado, o objetivo desta monografia é demonstrar os aspectos da condenação penal na esfera cível do ex-condenado, e o devido embasamento jurídico para que criminosos comuns não se aproveitem da “omissão” do tratamento jurídico para esta prática e os verdadeiramente pedófilos possam arcar com suas responsabilidadesna sociedade civil mesmo depois de cumprirem suas penas, já que para estes a prisão não afasta o caráter patológico do problema. De um modo geral e longe de se pretender esgotar o assunto, este tema é de muita relevância para a Academia, considerando-se que até então não há na legislação brasileira uma posição a esse respeito. A obra do Jorge Trindade e Ricardo Breier, PEDOFILIA-Aspectos Penais e Psicológicos influenciaram de maneira esclarecedora o desenvolvimento desta monografia, haja vista a escassez de assunto em outras doutrinas. Para o desenvolvimento da pesquisa, serão utilizadas obras clássicas do Direito Civil, Direito Penal, Estatuto da Criança e do Adolescente. Será trazido à baila, ainda, o posicionamento de autores renomados como Jorge Trindade, que demonstra seu conhecimento ao dissertar sobre a Pedofilia. Por intermédio de um método interpretativo das leis e levando-se em conta a sua real aplicação, pretendemos demonstrar a real necessidade de se alcançarem os objetivos propostos, não obstante a supremacia do bem comum da sociedade, que é a segurança física e jurídica das nossas crianças, bem como a aplicabilidade legal dos dispositivos punitivos aos criminosos praticantes da pedofilia. 14 CAPÍTULO 1 - A PEDOFILIA E SEUS ASPECTOS RELEVANTES 1.1. CONCEITO DE PEDOFILIA De acordo com o Dicionário Aurélio1, “Pedofilia e a atração sexual de um adulto por criança”. Para Guimarães2, pedofilia é a perversão sexual na qual a atração sexual de um indivíduo adulto está dirigida primariamente para crianças pré-púberes ou não. Taborda, Chalub e Abdalla Filho3, explicam que de acordo com o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, da American Psychiatric Association 4ª edição revisada (DSM-IV-TR)4, a pedofilia é considerada dentro das parafilias, que consiste em fantasias, anseios sexuais ou comportamentos recorrentes, intensos e sexualmente excitantes. No conceito médico de Vanrell5, ele aduz que pedofilia trata-se de parafilia geralmente observada em indivíduos de sexo masculino, mas que, eventualmente, também se observa em mulheres. As crianças, indistintamente de sexo masculino ou feminino, constituem o objeto do erotismo mórbido. Considerando a Décima revisão da Classificação Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde (CID-10)6 da OMS, a pedofilia é um distúrbio psiquiátrico, classificando-se como Transtorno da preferência sexual, conforme descrito no código F65.4 que descreve a pedofilia como sendo a “preferência sexual por crianças, quer se trate de meninos, meninas ou de crianças de um ou do outro sexo, geralmente pré-púberes ou no início da puberdade”. _____________ 1 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: O dicionário da língua portuguesa. 3ª Ed. Totalmente revista e ampliada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, p.1116. 2 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri, (Coord). Dicionário compacto jurídico. 14. ed. São Paulo, SP: Rideel, 2010, p.179 3 TABORDA, José G. V.; CHALUB, Miguel; ABDALLA-FILHO, Elias (Colab). Psiquiatria forense. Porto Alegre: Artmed, 2004, p.298. 4 FRANCES, Allen. Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais. Lisboa: Clemepsi editores, 2002. 5 VARELL, Jorge Paulete. Sexologia. Forense. 2 ed.Leme: J.H. Mizuno, 2008, p.142. 6 CÓDIGO INTERNACIONAL DE DOENÇAS. CID.10. OMS-ONU disponível em <http://virtualpsy.locaweb.com.br/cid.php>. Acesso em 23 ago. 2010. 15 Vanrell7 ainda acrescenta que o simples projeto sexual envolvendo crianças, independentemente da realização do ato sexual, já caracteriza a pedofilia. Spizzirri8 considera a pedofilia um tema controverso. Para ele, pedofillia seria o ato daquele indivíduo que tem atração sexual exclusivamente por crianças. Alguns autores classificam esse tipo como “permanente”. Também há aqueles que apresentam esses sintomas quando estão diante de situações estressantes, sendo considerados do tipo “regressivo”. Bem como aqueles que molestam crianças sem fins estritamente sexuais. Etimologicamente, o termo pedofilia significa amor às crianças. Contudo, depreende-se do artigo 2º do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) a definição da idade da criança e do adolescente, já os artigos 240 e 241-E, trazem os crimes de conotação sexual praticados contra eles. Assim vejamos: Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Entretanto, o uso do termo pedofilia para descrever práticas criminosas contra crianças menores de 18 anos é visto como errado por muitos autores da área da psicologia, principalmente sobretudo quando os indivíduos são identificados sob um ponto de vista clínico, uma vez que a maioria dos crimes envolvendo atos sexuais contra crianças são realizados por indivíduos que não são clinicamente pedófilas. Vanrell9 assevera que, “não é necessário ocorrer relações sexuais para haver pedofilia”. Trindade e Breier10 asseveram que a pedofilia não é uma predileção “honesta e verdadeira” pela criança, mas uma maneira incomum de abuso sexual de crianças, que apresentam um vasto cenário de atividades, que vai desde um ato individual até as máfias de pedofilia dedicadas ao tráfico. _____________ 7 CID10, op.cit., 2010, p.143. 8 SPIZZIRR, Giancarlo. Pedofilia: considerações atuais. Diagn Tratamento. 2010. Disponível em: <http://www.apm.org.br/fechado/d_tratamento/RDTv15n1a1148.pdf.>. Acesso em: 23 ago. 2010 9 VANRELL, Ibid., 2008, p. 143. 10 TRINDADE, Jorge; BREIER, Ricardo Ferreira. Pedofilia: aspectos psicológicos e penais. São Paulo: Editora do Advogado, 2010, p. 22. 16 Alguns estudiosos, como Rezende e Amaral11, consideram a pedofilia como uma psicopatologia, perversão sexual compulsiva e obsessiva. 1.2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PEDOFILIA Embora os níveis de reprovação atualmente sejam altos, a existência desse comportamento como uma atitude comum e aceitável foi bem tolerável no passado. Taborda, Chalub e Abdalla FIlho12 lecionam que a atração de adultos por crianças é tão antiga quanto à própria história da humanidade. Psicólogos como Naura Liane de Oliveira Aded13 explica que esta prática era Cultivada com requinte na antiguidade, que o imperador Romano Tibério, um dos Césares da Antiguidade, tinha inclinações sexuais que incluíam crianças como objeto de prazer. Carvalho14, em seu artigo sobre a história da pedofilia, esclarece que na antiguidade Grega e Romana estava habituada aos relatos de estupros cometidos contra meninas, e que por isso, raramente elas possuíam o hímen intacto. Lá, o uso de menores para a satisfação sexual de adultos foi um costume tolerado e até bem zelado. Relata também que na China, castrar meninos para vendê-los a ricos pederastas foi um comércio legítimo durante milênios, que no mundo islâmico, a rígida moral que ordena as relações entre homens e mulheres, foi não raro, compensada pela tolerância para com a pedofilia homossexual. E que em alguns países isso durou até pelo menos o começo do século XX, fazendo da Argélia, por exemplo, um jardim das delícias para os viajantes depravados. _____________ 11 REZENDE, Rayana Vichieti; AMARAL, Sérgio Tibiriçá. Pedofilia: uma fantasia de poder sobre a inocência. Disponível em: <http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC /article/viewFile /2052/2127>. Acesso em: 8 set. 2010. 12 TABORDA; CHALUB; ABDALLA FILHO, 2004, p. 297. 13 ADED, Naura Liane de Oliveira (et. al.). Abuso sexual em crianças e adolescentes. Revisão em 100 anos de literatura Rev. Psiq. Clín. 33(4); 2006, p. 204-213. 14 CARVALHO, Olavo de. Cem anos de pedofilia. 2002. Disponível em: <http://www.olavodecarvalho.org/semana/04272002globo.htm>. Acesso em: 23 ago. 2010. 17 Vieira e Santos15 escrevem em seu artigo que, no Egito Antigo, as crianças eram submetidas aos caprichos sexuais dos poderosos faraós e na sociedade romana, o pater famílias possuía a pátria potestas, poder quase absoluto sobre os que dele dependiam. Assim, responsabilizava-se pela iniciação sexual dos filius. A prática do sexo entre o parter famílias e o filius estavam inteiramente fora do controle do Estado. Contudo, nos tempos atuais noticiários do mundo inteiro dão conta de casos de pedofilia, sobretudo dentro das igrejas, vejamos alguns exemplos. No site de notícias Euronewst, de 23 de abril de 2004, destaca a manchete da autoria de Antonio Provolo: “Quando eu tinha 11 anos, começaram as relações… no dormitório, na casa de banho… Muitas vezes éramos sodomizados na casa de banho. Durou quatro anos… E diziam-nos: „Não digas nada‟…”, conta Gianni Bisoli, uma das vítimas. “Só peço que estes padres sejam afastados. Só peço justiça”, diz Dario Laiti, que também foi vítima de abusos sexuais.” 16 . No mesmo site de notícias do referido jornal, em mesma manchete, Provolo destaca ainda: “Padre alemão próximo ao Papa é suspenso por casos de pedofilia. Bélgica: ex-bispo pedófilo se aposenta, Papa pode se reunir com vítimas de pedofilia no Reino Unido. Computadores com material pornográfico serão periciados”.17 Já no caderno Internacional de notícias do jornal brasileiro Diário do Grande ABC de 13 de setembro de 2010, destaca: Igreja católica belga, abalada por um escândalo de pedofilia sem precedentes, comprometeu-se esta segunda-feira a dar mais atenção às vítimas, após a publicação de um relatório com mais de uma centena de testemunhos de abuso sexual de menores nos últimos 50 anos, que o papa Bento XVI disse terem lhe causado dor. Existe também a internet, pois com o aparecimento da rede mundial de computadores, a pedofilia criminosa achou nela uma excelente oportunidade de abordar suas vítimas de forma anônima e atingir seu intento hediondo de abusar das crianças. Porém, vale ressaltar que já existem técnicas eficientes de localizar os mais _____________ 15 SANTOS, Tereza Rodrigues; SANTOS, Thiago Barbosa. Revista Consulex, p.12, n.242, ano xl, 15 fev.2007. 16 PROVOLO, Antonio. Testemunhas das vítimas de padres pedófilos. Euronews. Edição de 23 abr. 2010. Disponível em: <http://pt.euronews.net/2010/04/23/testemunhos-das-vitimas-dos-padres- pedofilos/>. Acesso em 20 out. 2010. 17 PROVOLO, Antonio. Padre próximo ao Papa é suspenso por envolvimento em pedofilia. Euronews. Edição de 23 abr. 2010. Disponível em: <http://pt.euronews.net/2010/04/23/Padreproximo aoPapaesuspensoporenvolvimentoempedofilia/>. Acesso em 20 out. 2010. 18 espertos criminosos virtuais, o que de certa maneira torna este anonimato da internet, relativo. 1.3. A PEDOFILIA NA VISÃO DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE Considerada uma parafilia, tipo de transtorno sexual. Para o psiquiatra GJ Balloni18, a Psiquiatria Forense se interessa, apenas, pela figura grave, que para se caracterizar exige os seguintes requisitos: (...) Caráter opressor, com perda de liberdade de opções e alternativas. O parafílico não consegue deixar de atuar dessa maneira. Caráter rígido, significando que a excitação sexual só se consegue em determinadas situações e circunstâncias estabelecidas pelo padrão da conduta parafílica. Caráter impulsivo, que se reflete na necessidade imperiosa de repetição da experiência. Assim Vanrell19, segundo seus ensinamentos, descreve: (...) O pedófilo é um tipo de indivíduo que teme o relacionamento sexual com pessoas adultas, por se sentir inferiorizado diante delas, quer por imaturidade psicossocial, quer pelo desgaste de suas energias que não lhe permitem realizar atos sexuais como na juventude ou lhe acarretam freqüentes “falhas” na obtenção do orgasmo, pela perda de seus atrativos físicos em conseqüência da idade. O referido autor discorre na mesma obra que num artigo publicado no Journal of Psychiatry Research (EUA), pesquisadores dizem que os pedófilos estudados apresentavam quantidade menor da chamada “massa branca”, massa responsável para ligar internamente partes diferentes do cérebro envolvidas na excitação sexual. E ainda completa que pesquisadores descobriram que ao serem estimuladas eroticamente, algumas regiões do cérebro dos pedófilos indicavam menos sinais de atividades que a de outros indivíduos voluntários. Discorre também que outros estudos também nos Estados Unidos confirmaram que o cérebro dos pedófilos realmente era diferente. Mas esses dados não significam que os pedófilos não deveriam ser _____________ 18 BALLONI, G.J. Disponível em: <http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=20>. Acesso em 03 nov. 2010. 19 VANRELL, op. cit., 2008, p.144 19 considerados responsáveis criminalmente por seus atos, isto é, que fossem inimputáveis. Pois, pesquisas como essas ainda não são conclusivas. Comentando o assunto em seu artigo, José Wilson Furtado20, afirma que a análise médico-legal dos delitos sexuais, assim como em todos os outros tipos de delito, procura relacionar o tipo ação com a personalidade do delinqüente e, como sempre, avaliar se, por ocasião do delito, o delinqüente tinha plena capacidade de compreensão do ato, bem como de auto determinar-se. 1.3.1. O Diagnóstico Os critérios diagnósticos para identificar a pedofilia – Código F65.4 no indivíduo, segundo o DSM-IV-TR21 são analisados da seguinte forma: Ao longo de um período mínimo de 6 meses, fantasias sexualmente excitantes recorrentes e intensas; impulsos sexuais ou comportamentos envolvendo atividade sexual com uma (ou mais de uma) criança pré-púbere (geralmente com idade inferior a 13 anos); As fantasias, impulsos sexuais ou comportamentos causam sofrimento clinicamente significativo, prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo; O indivíduo tem, no mínimo,16 anos e é pelo menos 5 anos mais velho que a criança no critério A. Dentro desses critérios do DSM-IV-TR deve-se especificar também se: Atração Sexual pelo sexo masculino Atração Sexual pelo sexo feminino Atração Sexual por Ambos os Sexos Limitada ao Incesto Especificar tipo: Exclusivo (atração apenas por crianças) Não- Exclusivo (por crianças e adultos). E por último o critério de diagnóstico DSM-IV-TR, inclui a Nota para a codificação, que impõe não incluir um indivíduo no final da adolescência envolvido em um relacionamento sexual contínuo com uma criança com 12 ou 13 anos de idade. _____________ 20 FURTADO, José Wilson. A pedofilia e o Evangelho. Disponível em <http://www.buscalegis. ufsc.br/revistas/index .php/buscalegis/article/viewFile/5064/4633>. Acesso em 21 out. 2010. 21 DSM-IV-TR, Ibid., 2010. 20 Conforme Pádua22, a pedofilia se insere nos transtornos parafílicos e não exige, e usualmente não deveria envolver um ato criminoso, eis que o portador de pedofilia pode conservar seus desejos em segredo por toda vida sem nunca compartilhá-los ou torná-los atos reais. EY, Bernard e Brisset23, explicam que a grande problemática da semiologia do Comportamento Sexual é o do diagnóstico do caráter patológico, pois não se podem considerar todos os desvios sexuais como doentio. Continuando, ao abordarem em sua obra o Comportamento humano no curso da vida cotidiana e das reações anti-sociais, explicam que, trata-se de comportamentos que devem ser atenciosamente estudadosem relação ao seu caráter patológico e, comumente, atribuídos ao estudo da criminologia. Balloni24 ensina que quando o comportamento sexual do indivíduo se baseia de maneira a atrapalhar a capacidade de relacionamento entre outros seres humanos fica então caracterizada a parafilia, que é a fantasia, o anseios sexual, ou comportamentos recorrentes, intensos, e sexualmente excitantes descritos no DSM-IV-TR, 2010. 1.3.1. As Causas e o Tratamento Segundo Trindade e Breier25, em todos os fenômenos psicológicos, as explicações sobre as causas das parafilias são dadas por correntes ou escolas psicológicas. E aduzem que embora as abordagens etiológicas se debrucem sobre aspectos multicausais ou multifatoriais em contraposição a modelos que se baseiam em uma única e exclusiva causa, eles explicam que, nenhuma linha teórica tem _____________ 22 SERAFIM, Antonio de Pádua. Pedofilia: da fantasia ao comportamento sexual violento. Núcleo de Psiquiatria e Psicologia Forense – NUFOR – Instituto de Psiquiatria – HCFMUSP. Disponível em: <http://www.visumconsultoria.com.br/docs/antoniodepaduaserafim.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2010. 23 EY, Henri; BERNARD, Paul; BRISSET, Charles. Tratado de psiquiatria. 5 ed. São Paulo: Masson e Atheneu, 1966, p. 92. 24 BALLONI, op cit., 2010. 25 TRINDADE, Jorge; BREIER, Ricardo. Pedofilia: Aspectos psicológicos e penais. 2. Ed, ver. Atual. De acordo com as leis 11.829/08 e 12.015/09. Porto alegre: Livraria do advogado, 2010. 21 apresentado explicações definitivas sobre o tema das parafilias nem sobre o tópico especial da pedofilia, mas esclarecem que todas elas têm procurado trazer aportes importantes que auxiliam a compreensão desse complicado fenômeno. Segundo Marcelo Zaranski26 ainda não se conhece as causas da pedofilia, ele explica que até então se acreditava que o ato criminoso dos pedófilos seria por conta de abusos sexuais sofridos na infância, contudo, hoje as pesquisas reconhecem que as crianças vítimas dos pedófilos não se tornam abusadoras sexuais quando adultas. Outras teorias apontam para o fato de que o uso do álcool e drogas são fatores que favorecem a pedofilia. De acordo com Marsden27 em seu artigo, atribui que a relação entre dependência química e transtornos de humor está bem formada na literatura, mas declara que são raros os relatos de caso de pacientes pedófilos dependentes químicos, embora diferentes estudos demonstrem possível relação do espectro compulsivo entre os dois quadros. Acrescenta ainda, que cabe ao terapeuta, durante a entrevista clínica e a avaliação de risco, abordar questões sexuais incluídas aos pacientes em tratamento para toxicodependência, avaliando possíveis inadequações e desvios com isso garantindo a abordagem adequada de todas as comorbidades28. Pádua29 também avalia que a passagem da fantasia para a ação pedófila, acredita-se, acontece mais frequentemente quando o indivíduo é exposto a situações de estresse intenso, situações de intensa pressão psicológica, por exemplo, discussão conjugal significante, desemprego, aposentadoria compulsória, etc. Ao lado dessas teorias, Wolpe30 ao tratar de Pedofilia Homossexual, relata em sua obra o caso de um medido-paciente de 40 anos que tivera durante 10 anos atividades sexuais com seus três filhos (13, 9 e 5 anos), descreve que este pedófilo _____________ 26 ZARANSKI, Marcelo. Causas do transtorno de Pedofilia e suas conseqüências. Disponível em <http: //www.webartigos.com/articles/33328/1/Causas-do-Transtorno-de-Pedofilia-e-suas- Consequencias/pagina1.html>. Acesso em 14 set. 2010 27 MARSDEN, Vanessa Fabiane Machado Gomes. Pedofilia, transtorno bipolar e dependência de álcool e opioides. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v58n2/v58n2a09.pdf>. Acesso em 30 ago.2010. 28 FERREIRA. 2007. COMORBIDADE. “Coexistência de Transtornos ou doenças mentais”. 29 SERAFIM, Antonio de Pádua et al. Perfil psicológico e comportamental de agressores sexuais de crianças. Rev. psiquiatr. clín. v.36, n.3, São Paulo, 2009. 30 WOLPE, Joseph. Prática da terapia comportamental. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, [s.d], p.296. 22 tinha vários problemas interpessoais antigos, principalmente com sua esposa por causa de impotência sexual branda e episódica com ela. Assim Zaranski31 em artigo sobre pedofilia, demonstra que as pesquisas têm relatado conexões entre a pedofilia e algumas características psicológicas, como baixa auto-estima e baixa habilidade social. Mas acrescenta que até recentemente, acreditava-se que a pedofilia fosse causada por essas características. Trindade e Breier32 apontam que o entendimento da dinâmica do desvio sexual começou em 1905, com a obra Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade e as noções de fixação, catexia e escolha objetal com Sigmund Freud33 (1856-1939). Estudioso da mente humana desenvolveu a Teoria Psicanalítica, destinado a tratar os comportamentos compulsivos e muitas doenças de natureza psicológica supostamente sem motivação orgânica. Fonseca34 em seu artigo na Revista Veja, ela arrazoa que há também as considerações em torno da religião que asseguram que o celibato dos sacerdotes católicos também é causa de pedofilia, entretanto, esse não é o entendimento de psicólogos e psiquiatras pois, nas palavras de Tomás Plante35 “isso não faz sentido, porque se um padre não resiste aos desejos sexuais, pode perfeitamente buscar uma pessoa adulta para satisfazê-lo, pois não há nenhuma razão para romper a castidade justamente com uma criança.”,alega o referido professor de psicologia da Universidade Santa Clara, na Califórnia. Em relação ao tratamento da pedofilia, entende-se que tem que haver um consenso entre a lei e as áreas da saúde que trata do assunto, muito formas de tratamento vem sendo proposta e estudadas, porém ainda se chegou a resultados plenamente positivos. Trindade e Breier36 discorrem sobre o tratamento da pedofilia explicando que o tratamento do transtorno de pedofilia, é uma dificuldade que envolve a própria controvérsia da matéria. Para eles o indivíduo pedófilo não tem remorso do seu modo _____________ 31 ZARANSKI, op. cit., 2010. 32 TRINDADE; BREIER, Ibid., p.39. 33 FREUD, Sigmund, 1905, p.39 Apud TRINDADE; BREIER, 2010, p. 49. 34 FONSECA, Ana Cláudia. Impunes, eles vão matar de novo. Veja, v.43, n.16, p.120-122, abr.2010 35 PLANTE, Tomás, 1999, Apud FONSECA, 2010, p.122 36 TRINDADE; BREIER, op. cit, 2010, p. 49. 23 de agir, não demonstra que quer mudar, principalmente em relação a tratamentos psicológicos, a menos que do seu comportamento resulte prejuízos nas situações familiares ou sociais. Assim avaliam que nesse contexto verifica-se que o indivíduo pedófilo só sente necessidade de se tratar quando tem problemas perante a lei, o que deixa claro que isso é um subterfúgio de autoproteçao. Os autores também esclarecem que a pedofilia como já assinalado anteriormente constitui um transtorno de preferência, um tipo de distúrbio que exige acompanhamento por toda a vida, uma vez que não há remissão total para esse tipo de distúrbio. Eles afirmam que isso significa que o custo social e o risco de reincidência são elevados. Trindade explana que, face ao demasiado insucesso das abordagens terapêuticas de cunho psicológico, para as quais os pedófilos apresentam um prognóstico reservado, e frente a relativa falha no que tange à reincidência crônica,explica que uma das escolhas tem sido a denominada castração. Eles aclaram que de um lado, situa-se a castração química ou a castração física, a castração física se dá através da extração dos testículos, para impedir a produçãode um hormônio, a testosterona, que estimula o desejo sexual. De outro, existe a possibilidade de uma castração química, a modificação dos neorotransmissores e a criação de mecanismos de obstrução do impulso e do desejo sexual. Vale lembrar que qualquer uma dessas duas modalidades enfrenta os obstáculos de ordem constitucional e mesmo ética. Nesse sentiido para o Médico Ricardo Zpizzirri37 a administração de antidepressivos tricíclicos ou inibidores seletivos da recaptação da serotonina (fluoxetina, principalmente) em altas doses é vastamente citada na literatura como recurso terapêutico relevante. Acompanhamento psicoterapêutico individual e/ou grupal é essencial no acompanhamento dessas condições. _____________ 37 SPIZZIRRI, Giancarlo. Pedofilia considerações Finais, Associação Paulista de Medicina, Disponível em: <http://www.apm.org.br/fechado/rdt_materia.aspx?idMateria=10369>. Acesso em 20 out. 2010. 24 A posição da Associação Brasileira de Psiquiatria38 é que a expressão castração química não é apropriada, porque traz "o conceito de punição, constrangimento, lesão corporal e sofrimento". Segundo a referida Associação, o tratamento médico da pedofilia tem várias etapas, incluindo a psicoterapia. De acordo com a entidade, "medicações para controle do impulso sexual podem ser indicadas", como antidepressivos e remédios que regulam a testosterona (hormônio responsável pelas características masculinas e regulação da função sexual). Ainda de acordo com a referida Associação, o uso desses medicamentos dificilmente excede 6 meses e que é reversível. Esclarece também que: "Medicações reguladoras da ação da testosterona são recomendadas para menos de 10% do total de pacientes que de fato sofrem da grave doença médica conhecida como pedofilia. Os pacientes devem entender o processo terapêutico, aceitar o tratamento e ter o apoio de familiares". Taborda, Chalub e Abdalla Filho39, completam que grupos de pacientes que usaram continuamente drogas antiandrogênicas (que inibem o desejo sexual) acompanhadas à psicoterapia têm mostrado menor índice de reincidência, em relação àqueles que fazem o tratamento somente de controle, que se recusaram ao uso da assim chamada castração química. 1.3.3 O Posicionamento dos Psicólogos Monteiro Filho40 aclara que o indivíduo pedófilo geralmente, tem baixíssima auto- estima, imaturidade emocional, e sente necessidade de compensar essas emoções, e senti-se superior, dominante, por isso, escolhem crianças e praticam violência _____________ 38 MALTA, Magno. Castração Química. Instituto Inb. Disponível em: <http://www.institutoinb.com.br /noticias /para-presidente-da-cpi-da-pedofilia-magno-malta-a-chamada-castracao-quimica-e-uma- medida-que-favorece-o-criminoso>. Acesso em 21 out. 2010. 39 TABORDA; CHALUB; ABDALLA-FILHO, Ibid., 2004, p.312. 40 MONTEIRO FILHO, Lauro. Observando a infância. Disponível em: <http://www.observatorio dainfancia.com.br/article.php3?id_article=60>. Acessado em 29 set. 2010. 25 psicológica. Não se relacionam com o adulto, pois teriam de estabelecer uma relação de igual para igual, o que é dificultoso para eles. Adelma Pimentel41, Especialista em prevenção contra a violência sexual de Crianças e Adolescentes, declara que a pedofilia é um desvio da conduta sexual. Mas que é importante entender que nem toda violência sexual contra criança pode ser classificada como pedofilia. E ressalta que na etimologia do signo, pedófilo era considerado quem ama crianças, não um criminoso. Cohen42, assim considera: (...) Sob o ângulo da psicopatologia forense, podemos considerar o autor do ato incestuoso como um indivíduo portador de uma perturbação da saúde mental que pode ser psicossocial (anti-social, dissocial, associal, amoral, imatura etc.) ou psicossexual (parafilias, como, por exemplo, pedofilia), e nestes casos o indivíduo deverá ser considerado semi-imputável. [...] esses indivíduos são doentes mentais (com quadros psicóticos orgânicos e outras psicoses), e, nessa condição, devem ser considerados Para Ferrari43, pode-se pensar nas três causas principais, que leva a pedofilia: (...) A primeira refere-se à sexualidade reprimida: crianças que apresentam um desenvolvimento afetivo-emocional conturbado, com dificuldade para manifestar e expressar seu desenvolvimento sexual, seus questionamentos, curiosidades, identificações com figuras de apego. É freqüente o pedófilo se aproximar de crianças afetivamente carentes, ou seja, daquelas que respondem a sua sedução, mesmo que ele seja um desconhecido: a criança é seduzida por quem lhe dedica uma atenção que os pais não lhe dão. A segunda causa que leva à pedofilia, encontra-se na pouca idade em que crianças, principalmente em países subdesenvolvidos, mergulhados na prostituição, trocando escola e as brincadeiras infantis por práticas libidinosas que lhes rendem algum dinheiro para sobreviver. A pobreza ocasiona muitas vítimas, mas as mais atingidas são as crianças. A terceira causa é a mais grave delas, pelo anonimato, pela ausência de informação e pelo grau de periculosidade. Está no campo dos desvios de personalidade, no proceder de fronteiriços que se apresentam, aparentemente, dentro da mais absoluta correção, mantendo em segredo um mundo povoado de abominável comportamento (FERRARI, 2004). 44 _____________ 41 PIMENTEL,Adelma. A Incidência da Sociedade Civil no Processo da Contrução da Política Nacional da Criança e do Adolescente. Disponível em <http://www.forumdca.org.br/arquivos/documentos/ACF9769.pdf>. Acesso em 30 out. 2010. 42 COHEN, Cláudio. O incesto: um desejo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1993. 43 FERRARI, Dalka C. A.; VECINA, Tereza C. C. (Org.). O fim do silêncio na violência familiar: teoria e prática. São Paulo, SP: Ágora, 2004, p. 330. 44 FERRARI, D. C. A., Pedofilia: uma das faces da violência sexual contra a criança. EDITAL (org.). Revista Brasileira de Psicodrama. v.12, n.2. São Paulo, 2004. p. 59-84. 26 Nesse sentido, Bernadete Pequin45, traz o entendimento de Freud46 sobre a definição do Princípio do Prazer: (...) Todo o comportamento humano é basicamente regido pela necessidade urgente de gratificação dos instintos, quer de forma direta, quer alucinatória (através de fantasias). De acordo com a primeira formulação freudiana, as atividades inconscientes (ou do ID) são completamente dominadas por este princípio: a fantasia não se distingue da realidade e, portanto, a satisfação do prazer pode ser imediata. (Mas, com o desenvolvimento do ego, a pessoa torna-se consciente das exigências da realidade (Princípio de Realidade); e, quando se estabelece a instituição moral do SUPER EGO, a pessoa passa a ter consciência de satisfações ideais). Ainda a autora acima referida pondera que o impulso desejoso continua a existir no inconsciente à espreita de oportunidade para se revelar, concebe a formação de um substituto do reprimido disfarçado e irreconhecível, para lançar a consciência substituta ao qual logo se liga a mesma sensação de desprazer que se julgava evitada pela repressão. Esta substituição da idéia reprimida – o sintoma – é protegida contra as forças defensivas do ego e em lugar do breve conflito, começa então um sofrimento interminável. A autora, ainda nesse contexto, cita os ensinamentos de Storr47 : (...) um paciente que sofre de um desvio sexual, apenas será capaz de trocá-lo por algo melhor quando sua capacidade para um amor adulto for realmente intensificada. Sabe-se que fantasias e compulsões sexuais aberrantes podem desaparecer de um dia para o outro, quando o homem por elas dominado se apaixona. Se capaz de apaixonar-se, no entanto, exige certo grau de maturidadeque o desviado não alcançou, e apenas quando está a ponto de superar sua tendência aberrante pode relacionar-se emocionalmente com outra pessoa, com suficiente segurança para apaixonar-se. E que um amor adulto certamente poderá ocorrer, mas apenas em circunstâncias que lhe permitam travar relações novas e melhores com outras pessoas das quais possa retirar uma convicção íntima de ter algum valor. A parte mais importante da tarefa do psicoterapeuta, portanto, é fornecer uma base de completa aceitação e segurança emocional com a qual o paciente pode amadurecer e da qual ele, finalmente, se possa desligar para estabelecer relações mais proveitosas. A psicóloga acima aduz que é fácil concluir que não acontece um único fator que contribui com a Pedofilia. Do ponto de vista clínico é uma patologia e merece atenção por parte do sistema penitenciário, da sociedade e dos profissionais que lidam com ela. _____________ 45 PEQUIN, Bernadete disponível em <http://www.intra.redepsi.com.br/teste/portal/modules /smartsection/item.php?itemid=1068>. Acesso em 30 set. 2010. 46 FREUD, 1905, apud., PEQUIN, 2010. 47 STORR, 1976, apud., PEQUIN, 2010. 27 Mesmo porque, para a psicóloga, certos pacientes só procuram ajuda psiquiátrica quando seus desejos os colocam em conflito com a lei. Ressalva ainda que não existe cura para a pedofilia, entretanto, é possível controlar os impulsos com o uso de medicamentos e ajudar o indivíduo a entender o que ele sente com psicoterapia, estabelecendo um amadurecimento emocional em que ele possa constituir novas relações, mais saudável e aceitas socialmente. 1.4. O CRIME DE PEDOFILIA NO DIREITO COMPARADO Sobre a preocupação acerca das questões de abuso sexual noutros países, Trindade e Breier48, explanam que a primeira manifestação internacional sobre os direitos da criança apareceu em Londres, em 1919. Depois em 1920, em Genebra (Declaração de Genebra adotada pela Sociedade das Nações, em 1924, que foi a base da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança em 1989). Daí, várias Declarações, Resoluções e Manifestos surgiram, como, além da Declaração dos Direitos da Criança em 1924 (Declaração de Genebra), surgiram também, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, as Resoluções 1.044 (1986) e 1.065(1987) do Conselho da Europa sobre tráfico e exploração infantil; a Convenção dos Direitos da Criança (1989) e a Convenção do Conselho da Europa sobre Proteção das Crianças contra a Exploração e Abusos Sexuais. Os autores também discorrem que a pedofilia era, em alguns países, aceita ou até tolerada. Porém, no decorrer da história, depois de sucessivas aprovações de tratados internacionais ora vistos, as legislações foram se modificando, se adequando cada vez mais aos tratados que em seu auge preocuparam-se com a obrigação dos Estados em fazer obedecer as medidas que protegessem a infância e à adolescência do abuso, da ameaça ou ainda da lesão a sua integridade sexual. Eles esclarecem que em muitos países, inclusive no Brasil a pornografia infantil é claramente considerada crime. _____________ 48 TRINDADE; BREIER, Ibid., 2010, p. 103. 28 O Advogado Roberto Ramalho49 explana em seu artigo, que a pornografia infantil é considerada crime na grande maioria dos países do mundo, principalmente nos países europeus, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Japão e Nova Zelândia, esclarece ainda que em alguns países já possuem leis proibindo o uso da Internet para recrutar menores com a intenção de realizar o ato sexual, virtual ou não. O referido advogado expõe também que no direito internacional moderno o abuso sexual, é considerado como mais uma prática do ilícito pedófilo. Ele ainda informa discorre que a Interpol no mundo todo, o FBI e a Polícia Federal no Brasil, vem combatendo com severidade os crimes de pedofilia, fazendo, inclusive, uma averiguação rígida nos sites de relacionamento, entre eles o Orkut, para encontrar e prender pessoas que veiculam pela internet fotos de crianças e que possam estar envolvidos nesses crimes. Ricardo Breier50 avalia que as redes de pedofilia ultrapassam os limites territoriais de qualquer legislação penal. E que o meio mais utilizado por estas redes é a Internet. Aclara também que imagens divulgadas na rede apresentam crianças em atos de plena atividade sexual. Importante ressaltar que o ato sexual entre adultos e adolescentes é regulado pelas leis de cada país no que se refere à idade de consentimento. Em alguns países a permissão para o relacionamento é a partir de uma idade mínima,13 anos na Espanha, 14 no Brasil, Portugal, Itália, Alemanha e Áustria, 15 na França e Dinamarca, 16 em Noruega. _____________ 49 RAMALHO, Roberto A Pedofilia no mundo e sua caracterização na legislação brasileira – 1ª Parte. <http://www.webartigos.com/articles/25863/1/A-Pedofilia-no-Mundo-e-sua-Caracterizacao-na- Legislacao-Brasileira--1-Parte/pagina1.html>. Acesso em 7 Nov. 2010 50 BREIER, Ricardo, O atuar pedófilo: crime individual ou uma organização criminosa? Disponível em <http://www.mp.rs.gov.br/infancia/doutrina/id401.htm>. Acesso em 20 ago. 2010. 29 1.5. O CRIME DE PEDOFILIA NO BRASIL Mello e Fraga51 explanam de maneira sucinta, o Protocolo Facultativo à Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança,52 que traz o fundamento jurídico para o combate aos delitos ligados à pedofilia, contudo, esta foi melhor aperfeiçoada com a ratificação pelos países signatários, em 25 de maio de 2000, o protocolo se refere à venda de crianças, à prostituição infantil e à pornografia infantil. O Brasil ratificou este protocolo através do Decreto Nº 5.007, de 8 de março de 2004. Ainda assim não existe no ordenamento jurídico brasileiro a tipificação do crime de pedofilia, as consequências do ato pedófilo é que estão associadas no Código Penal e no Estatuto da Criança e do Adolescente a crimes. Trindade e Breier53, esclarecem que a Lei 12.015 de 07 de agosto de 2009, veio modificar a nomenclatura dos crimes sexuais existentes no Código Penal Brasileiro. Que passou de Crimes Contra os Costumes para Crimes Contra a Dignidade Sexual, expressão, segundo eles, está em maior conformidade com a Constituição Federal. Ainda acrescentam que ao reconhecer a dignidade humana do descrita no seu artigo 1ª, a nova Lei assegura a liberdade de escolha dos parceiros e da própria relação sexual. Assim in verbis: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] III - a dignidade da pessoa humana; [...] _____________ 51 MELLO, Cleyson de Moraes. Direitos humanos: Coletânea de legislação. Rio de Janeiro: F. B. M. de Barros, 2003. p. 512-513. 52 Em 25 de maio de 2000, a Assembléia Geral das Nações Unidas adotou o Protocolo Facultativo para a Convenção sobre os Direitos da Criança, que trata da venda de crianças, prostituição e pornografia infantis. Até o momento, 105 Estados assinaram-no e 50 ratificaram-no. As primeiras dez ratificações tornaram este Protocolo válido desde 18 de janeiro de 2002. 53 TRINDADE; BREIER, 2010, p. 108-112. 30 Os autores ainda citam Nucci54 quando este declara, “a nova Lei, ao nominar a dignidade sexual como proteção penal, está, igualmente, referindo-se à decência, à respeitabilidade, à honra”. Aclaram que além desta lei, há outros previstos nos artigos 240 ao 241-E do ECA - Estatuto da Criança e Adolescente que abordam de maneira bastante inteligente os crimes sexuais contra crianças, assim vejamos: Art.240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. § 1º Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a participação de criança ou adolescente nas cenas referidas no caput deste artigo, ou ainda quem com esses contracena. § 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete o crime I - no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de exercê-la; II - prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade; III - prevalecendo-se de relações de parentesco consangüíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem, a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com seu consentimento. Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa § 1º Incorre na mesma pena quem: I - agencia, autoriza, facilita ou, de qualquer modo, intermedeia a participação de criança ou adolescente em produção referida neste artigo; II - assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou imagens produzidas na forma do caput deste artigo; III - assegura, por qualquer meio, o acesso, na rede mundial de computadores ou internet, das fotografias, cenas ou imagens produzidas na forma do caput deste artigo. § 2º A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos: I - se o agente comete o crime prevalecendo-se do exercício de cargo ou função; II - se o agente comete o crime com o fim de obter para si ou para outrem vantagem patrimonial Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. § 1º Nas mesmas penas incorre quem: I - assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo; II - assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo. § 2º As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1º deste artigo são puníveis quando o responsável legal pela prestação do serviço, oficialmente notificado, _____________ 54 Apud, 2009,p.14 31 deixa de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo. Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. § 1º A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de pequena quantidade o material a que se refere o caput deste artigo. § 2º Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a finalidade de comunicar às autoridades competentes a ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e 241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por: I - agente público no exercício de suas funções; II - membro de entidade, legalmente constituída, que inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento, o processamento e o encaminhamento de notícia dos crimes referidos neste parágrafo; III - representante legal e funcionários responsáveis de provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede de computadores, até o recebimento do material relativo à notícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou ao Poder Judiciário. § 3º As pessoas referidas no § 2º deste artigo deverão manter sob sigilo o material ilícito referido. Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material produzido na forma do caput deste artigo. Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: I - facilita ou induz o acesso à criança de material contendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de com ela praticar ato libidinoso; II - pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográfica ou sexualmente explícita. Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” compreende qualquer situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais. Nesse contexto, Trindade e Breier55, extraem que nos artigos relacionados na lei 12.015 exige-se que o indivíduo tenha 18 anos e perfeita sanidade mental, entretanto esclarecem que aos casos relacionados à pedofilia, há que se orientar pelas definições do DSM-IV (Diagnóstico de Transtornos Mentais). Daí o tratamento jurídico penal para os casos associados à pedofilia que serão determinados pelos traços psíquicos, os quais confirmarão se o pedófilo é ou não um agente inimputável (com total ausência de _____________ 55 TRINDADE e BREIER, Ibidem, 2010, p. 110 32 capacidade de entender que os seus atos são criminosos) ou semi-imputável (com capacidade parcial de entender que seus atos são criminosos). A prova de sanidade mental é feita por laudo técnico psiquiátrico, prevista no art. 149 do Código de Processo Penal. Vejamos, Art. 149 - Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal. § 1º - O exame poderá ser ordenado ainda na fase do inquérito, mediante representação da autoridade policial ao juiz competente. § 2º - O juiz nomeará curador ao acusado, quando determinar o exame, ficando suspenso o processo, se já iniciada a ação penal, salvo quanto às diligências que possam ser prejudicadas pelo adiamento. Dias56 explica que o laudo forense realizado por perito oficial do Estado, é que revelará se um agente pedófilo receberá as medidas de segurança por tempo indeterminado, no caso, tratamento psiquiátrico (artigo 98 do CP), ou mesmo um redução de pena, se este tiver uma redução de sua capacidade no momento do crime, conforme art. 26 do CP. Dentro dessa linha, no estudo realizado pelos pesquisadores Reifschneider e Reis57 sobre pornografia infantil na internet para o governo brasileiro eles discorrem: (...) é nos países desenvolvidos que os atos ilícitos encontram suporte econômico para se espalhar internacionalmente, especialmente pela pratica de turismo sexual e a instituição de associações em rede/quadrilha com o intuito de explorar a fragilidade das leis nacionais. A internet, a falta de fronteiras físicas e de um espaço jurídico comum – o delito em um país necessariamente não o é em outros – permite a expansão da distribuição da pornografia infantil, seja como fim em si mesma,seja para a divulgação de outros crimes como, por exemplo, o turismo sexual. _____________ 56 CORDEIRO, J. C. Dias. Psiquiatria forense: a pessoa como sujeito ético em medicina e em direito. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008. 432 p. 57 REIS, Alexandre Valle dos; REIFSCHNEIDER, Elisa Dias Becker. Pesquisa sobre pornografia infantil na internet país: Brasil. 2004. Disponível em: <http://www.iin.oea.org/proy_trafico_ninos_internet/iintpi/pornog.brasil.pdf>. Acesso em: 13 out. 2010. 33 1.6. A OMISSÃO LEGISLATIVA Trindade e Breier58 ponderam que ao se consultar o Código Penal e a Legislação Especial brasileira, não se encontram uma norma penal que trace com perfeição técnica a pedofilia. O que se irá encontrar são casos de pedofilia incorporados em outros crimes de natureza sexual. Antigamente no Brasil, o abuso sexual era classificado dentro dos crimes contra os costumes. Em sede de interesse legislativo, Elina Rodrigues Pozzebom59, informa que em 2003 foi criada no Congresso Nacional a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pedofilia, presidida pelo Senador Magno Malta, informa também que esta CPI foi criada justamente para dar maior clareza aos crimes de denotação sexual contra crianças. A partir dela foram feitas várias alterações na legislação, inclusive as já mencionadas no ECA e Lei 12.015 que modificou substancialmente o Titulo IV da parte especial do Código Penal brasileiro O psicólogo Roberto Diniz Souza60, aborda que o Brasil é o país do mundo que mais hospeda sites de Pedofilia na Internet, além de ser um dos maiores no comércio milionário de material pedofílico. E relaciona alguns critérios que para ele, devem ser empregados urgentemente: Investir mais em pesquisas; Atualizar a nossa norma jurídica para a lida com a Pedofilia (a Comissão parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado tem sido pródiga nessa luta); Mais iniciativas públicas relacionadas ao tema, especialmente em relação às vítimas; Fazer denúncias e ficar atento a qualquer situação suspeita. _____________ 58 TRINDADE; BREIER, 2010, p. 108 59 POZZEBOM, Elina Rodrigues. CPI da pedofilia abre debate sobre o tema e inicia esforço legislativo para combate ao crime. Disponível em:http://www.safernet.org.br/site/noticias/cpi-pedofilia-abre- debate-sobre-tema-inicia-esforco-legislativo-para-combate-ao-crime.acesso em 3 de ago.2010 60 SOUZA, Roberto Diniz. SOBRE A PEDOFILIA: Caracterízação, histórico e contexto atualhttp://www.webartigos.com/articles/19815/1/Sobre-a-Pedofilia-Caracterizacao-Historico-e- Contexto-Atual/pagina1.html.acesso em 25 de ago.2010 34 1.7. A LEGISLAÇÃO APLICADA NO DIREITO BRASILEIRO Por não possuir o tipo penal tipificado na legislação brasileira, a pedofilia, vem sendo punida com os dispositivos legais enquadrados na Lei 12.015 e em alguns artigos do ECA. Juridicamente se enquadra no crime de estupro de vulnerável, art. 217- A, com pena de oito a quinze anos de reclusão. Assim os próximos tópicos serão abordados dentro das respectivas Leis. Castiglione61 ao analisar a Lei 11.829/2008 que alterou o Estatuto da Criança e do Adolescente, destaca que esta lei deu-se para aprimorar o combate à produção, venda e distribuição de pornografia infantil, e também com vistas a criminalizar a aquisição e a posse de material pedófilo. Ele argumenta que embora existindo brechas que deveriam ter sido dirimidas pelo legislador, a lei ainda assim merece elogios, vez que, nos artigos 241-A, 241-B, 241-C, 241-D e 241-E, agregou como crime algumas condutas em relação à pedofilia na internet, que estavam até agora à margem da lei, já que não eram considerados ilícitos penais. O Senador Marcelo Crivela62, apresentou no Senado em maio deste ano, 2010, um projeto de lei que altera os dispositivos da legislação penal sobre estupro e atentado violento ao pudor, a intenção é diferenciar como antes era, um tipo penal do outro. Pois de acordo com as severas mudanças trazidas pela Lei 12.015/2009, os artigos 213 e 214 do Código Penal foram reunidos em uma só norma incriminadora, o que para o autor do projeto, favorece o criminoso, porque antes tinha-se concurso material entre estupro e atentado violento ao pudor, resultando, portanto, na soma das penas de cada crime. _____________ 61 CASTIGLIONE, Yuri Giuseppe. Pedofilia, exploração sexual infanto-juvenil e as alterações do ECA à luz da realidade brasileira. Disponível em: <http://www.promenino.org.br/Ferramentas/DireitosdasCriancaseAdolescentes/tabid/77/ConteudoId/9 1bf3dc3-5355-4a6a-bace-33468bd2add2/Default.aspx>. Acesso em: 13 out. 2010. 62 Prevê em tipos penais diversos os crimes de estupro e de atentado violento ao pudor; tipifica separadamente o estupro e o atentado violento ao pudor de menores de quatorze anos de idade e/ou vítimas de enfermidade ou deficiência mental.http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=96812.acesso em 29 de set.2010 35 O Senador ainda destaca um julgado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) do Habeas Corpus 125.207-ES, que diante das novas regras penais da Lei 12.015 de 2009, acabou por diminuir a pena do criminoso que por três vezes abusou sexualmente da filha de 10 anos de idade. O criminoso cometeu por três vezes o atentado violento ao pudor e ao tentar consumar o estupro não consumou por ter sido impedido por terceiro. Na condenação da justiça na 1ª instância no Estado do Espírito Santo, a pena foi fixada em 21 anos de reclusão. Entretanto, no STJ ela foi reduzida para 10 anos e 9 meses, por causa da continuidade delitiva do ato imposta pela referida lei, declara o Senador. Nesse sentido, o referido Senador destaca em sua argumentação para a aprovação do Projeto, que a Procuradoria Geral da Republica propôs perante o Supremo Tribunal Federal (STF) uma ADIn 430163- contra a Lei 12.015. O Senador declara que, a intenção do projeto é trazer de volta separação dos tipos penais, estupro e atentado violento ao pudor, para que se promova a eficácia punitiva da norma, de acordo com os fatos, preenchendo a lacuna que, segundo o autor do projeto, nos moldes vigentes, só favorece os criminosos. Rogério Greco64 explica, de forma sucinta, as principais diferenças entre a antiga e a nova redação trazida pela Lei 12.015/09: Através desse novo diploma legal, foram fundidas as figuras do estupro e do atentado violento ao pudor em um único tipo penal, que recebeu o nome de estupro (art. 213). Além disso, foi criado o delito de estupro de vulneráveis (art. 217-A), encerrando-se a discussão que havia em nossos Tribunais, principalmente os Superiores, no que dizia respeito à natureza da presunção de violência, quando o delito era praticado contra vítima menor de 14 (catorze) anos. Além disso, outros artigos tiveram alteradas suas redações, abrangendo hipóteses não previstas anteriormente pelo Código Penal; um outro capítulo (VII) foi inserido, prevendo causas de aumento de pena. Nos ensinamentos aduzidos pelo autor supra mencionado, o tipo não exige que a conduta seja cometida mediante o emprego de violência ou grave ameaça, basta que o agente tenha conjunção carnal ou que pratique com a criança ou adolescente qualquer outro ato libidinoso. Ele esclarece que a lei desconsidera o consentimento da vítima, por não admitir que alguém com menos de catorze anos tenha discernimento para _____________ 63 PROCURADORIA GERAL DA REPUBLICA. ADIn 4301- contra a Lei 12.015. Disponível em: <:http://www.senado.gov.br/sf/senado//>. Acesso em 23/09/2010. 64 GRECO, Rogério. Código penal: comentado. 4.ed. Niterói, RJ: Impetus, 2010. 1020 p.64 36 consentirou não a conjunção carnal, portanto, o agente que pratica tal conduta tipificada deve responder pelo crime. 1.7.1. Crime Comum ou Hediondo A pedofilia, pela Lei 8.072/90, é considerada crime hediondo, o que determina rigor absoluto para o acusado desse tipo, que, sem direito a fiança ou liberdade provisória, responde ao processo preso em regime fechado e tem de cumprir a pena integralmente. Vejamos o que dispõe o art.1º da referida Lei: Art. 1 o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei n o 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: (...) VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1 o , 2 o , 3 o e 4 o ); Nesse contexto, segundo Vanrell65, na prática e pelas razões expendidas a pedofilia, sem ser crime direto, considera-se crime, portanto, plenamente passível de detenção. Pondera ainda, que a lei brasileira considera os resultados dos comportamentos pedofílicos como crimes hediondos. 1.8. AS PENAS APLICÁVEIS AO CASO Nos ensinamentos de Foucault66 a pena é a retribuição à sociedade pelo mal causado. De acordo com a nova Lei 12.015/2009, fica evidente a intenção do legislador de asseverar as penas dos atos de abuso sexual contra crianças e adolescente, ainda que o Estado muitas vezes não considere o aspecto psicológico do agressor da prática do crime, vejamos: _____________ 65 VANRELL, 2008, p. 145. 66 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 31. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006, 96. 37 Estupro de Vulnerável Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. § 3º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. § 4º Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. Corrupção de Menores Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. Favorecimento da Prostituição ou Outra Forma de Exploração Sexual de Vulnerável Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. § 1º Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. § 2º Incorre nas mesmas penas: I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo; II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo. § 3º Na hipótese do inciso II do § 2º, constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.” Roberto Carminatti67 leciona que a preocupação é com o fato de que a confusão entre as instituições, entendendo assim as jurídicas e as médicas, e também por inúmeros acadêmicos, de confundir, ou até de não levar em consideração a grande diferença entre os perfis psicológicos do pedófilo e do agressor sexual, possa vir a ensejar a imputabilidade destes e a injusta imposição de pena daqueles que sofrem efetivamente de pedofilia e então, ao reconhecimento da sua inimputabilidade.Nesse sentido, o que não pode acontecer, sob nenhuma hipótese, segundo o autor, é que um criminoso comum se esconda sob o perfil da doença chamada pedofilia. Nesse entendimento, Duque68 explica que de acordo com o laudo psiquiátrico, se verificado que o criminoso era incapaz de entender o caráter ilícito do fato no momento que ocorreu (inimputável), a pena não será imposta, daí a imposição de medida de _____________ 67 COELHO, Gustavo Roberto Carminatti. A prisão perpétua e os pedófilos. Disponível em <http://www.lfg.com.br>. Acesso: 16 out. 2010. 68 TABORDA; CHALUB; ABDALLA-FILHO, 2004, p.304 38 segurança detentiva, internação em hospital de custódia. A pena poderá também ser diminuída de 1/3 a 2/3 se houver perturbação da saúde mental. 1.9. A CONDENAÇÃO E A EXECUÇÃO DA PENA Coelho69 explana que no Direito Penal, no que diz respeito à culpabilidade do autor do crime, de modo geral, impõe duas possibilidades quando da condenação e execução da pena: o agente é imputável ou inimputável, e conforme o caso terá direito ao regime jurídico adequado, ou seja, pena para os imputáveis e medidas de segurança para os inimputáveis. Damásio de Jesus70 nesse contexto leciona que: (...)Só é inimputável o sujeito que, em consequência da anomalia mental, não possui capacidade de compreender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com essa compreensão. A doença mental, p. ex., por si só não é causa de inimputabilidade. É preciso que, em decorrência dela, o sujeito não possua capacidade de entendimento ou de autodeterminação. O autor ainda explica que, “a expressão doença mental significa: psicoses, esquizofrenia, loucura, histeria, paranoia etc”; e com este entendimento ensina que o desenvolvimento mental retardado é o caso dos oligofrênicos (idiotas, imbecis e débeis mentais). Desta maneira, de acordo com Coelho71, é patente a discrepância das penas impostas pelo Código Penal, assim como o sistema de execução da Lei 7.210/1984 em se tratando de pedofilia. Para o autor a ressocialização não é o caminho, por isso, a progressão de regime e a liberdade condicional favoráveis aos pedófilos tem se mostrado como verdadeiras sentenças de morte para algumas crianças e adolescentes. _____________ 69 Ibidem COELHO,2010 70 JESUS, Damásio E. de; GOMES, Luiz Flávio (Coord.). Assédio sexual. São Paulo: Saraiva, 2002. P.183 71 COELHO,Carminatti 2010. 39 1.10. A SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA – ASPECTOS RELEVANTES O autor acima pondera que casos de pedofilia que se tem tomado conhecimento pela mídia, envolvem funcionários públicos, profissionais liberais bem sucedidos, em suma, pessoas de notória higidez mental. Desta maneira, o autor esclarece que ressalvados os casos claros em que o agente criminoso apresenta debilidade mental, os pedófilos se encaixam no perfil das pessoas imputáveis, sujeitos, portanto, a pena e todas as garantias dela originárias. Para o autor, Fixado este ponto, cabe perquirir se o nosso sistema de penas, voltada para a ressocialização do criminoso é capaz de ressocializar um pedófilo. Para tanto, faz uma comparação entre os ilícitos. Exemplificando, os crimes de furto, roubo, ameaça, lesão corporal, homicídio, estelionato, peculato, dentre outros mais comuns, verdadeiramente refletem um desvio de caráter que pode ser corrigido pelo sistema de punição visando a ressocialização. E exemplifica: (...) Muitas vezes estes crimes notadamente os Contra o patrimônio - estão jungidos a uma péssima condição social, o que inclui pobreza e os males dela decorrentes: falta de saúde, alcoolismo, ociosidade, fome, violência, desesperança etc. Pessoas nestas condições não obterão melhora alguma em contato com o mundo carcerário, isso é indiscutível, daí a necessidade de despenalização, pois o problema é social. E que diferente
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