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Metacircunstâncias na Andria de Terêncio Arma graui numero uiolentaque bella parabam edere, materia conveniente modis........ par erat inferior uersus—risisse Cupido dicitur atque unum surripuisse pedem.1 1 – Terêncio, os prólogos, a tradição e a palliata 1.1 – Supressão dos prólogos narrativos: in prologis scribundis operam abutitur, / non qui argumentum narret (And. 5-6). 1.2 – Referência a si mesmo, por meio da designação poeta, à sua função e ao produto: a) Poeta (And. 1) & quisquamst qui placere / ....in is poeta hic nomen profitetur suom. (Eun. 1-3) x poeta uetus poetam non potest / retrahere a studio (Phor. 1-2) b) animum ad scribendum / ...(populo ut placerent) quas [c]fecisset fabulas (And. 1-3) in prologis scribundis / ...non qui argumentum narret (And. 5-6) & qui scripserit / et quoia Graeca (HT. 7-8) c) Menander fecit Andriam et Perinthiam. (Synapothnescontes Diphili comoediast: / eam Commorientes Plautus fecit fabulam. Ad. 7-8) 1.3 – Designação da tradição e dos autores do “cânone”: Naeuium Plautum Ennium/ ...quos hic noster auctores habet (And. 18-19). 1.4 – Mecanismos e elementos, o acervo de cenas padrão e personagens tipo: a) ne semper seruos currens, iratus senex, / edax parasitus, sycophanta autem inpudens, / auarus leno adsidue agendi sint (HT/Heaut. 37-9) b) mage licet currentem seruom scribere, / bonas matronas facere, meretrices malas, / parasitum edacem, gloriosum militem, / puerum supponi, falli per seruom senem, / amare odisse suspicari? (Eun. 36-40) 1.5 – O peso da tradição somado ao ingresso tardio de Terêncio na composição de fabulae palliatae. 2 – As metacircunstâncias em Terêncio 2.1 – Estabelecer uma tradição, figurar dentre os exponentes e dar continuidades a um gênero consagrado implicam referencias num eixo transversal: um “interdiálogo” entre as peças gregas modelo, e entre as latinas de autores precedentes. 2.2 – Circunstâncias metateatrais e personagens que se posicionam como espectadores esperando encontrar metateatralidades onde, de fato, não há: Simão e a cena do parto. 2.3 – Metaficções: a) Nos prólogos de Menandro, raras as exceções, o enredo (argumentum) era narrado, oferecendo de antemão à audiência as origens e o término da intriga, cabendo ao comediógrafo elaborar o desenrolar, o como as situações aconteceriam; deidades narravam-no: as vicissitudes e ou os quiproquós, cuja resolução, amiúde, dependia da intervenção do acaso, a presença do deus ex machina, era, de certo modo, “explicada” pela ação/intervenção divina no destino dos personagens. · Segundo Petrides (2014: 22): o prólogo divino, prática comum na maioria das peças de Menandro, executa um papel especial nesse discurso: uma deidade atua sobre as condutas (de vida dos personagens) e fornece uma oportuna remoção dos obstáculos.2 b) Em Terêncio, omitidos os precedentes e a narração dos acontecimentos da peça no prólogo, excluídas a participação e a interferência das divindades na resolução da peça, e preservada a “fórmula”, “quão mais ‘real’ o problema, tão mais conturbada parece mecânica e, no final das contas imperfeita, a maneira de 1 As armas, em verso severo, guerras violentas estava a cantar, assunto adequado ao método; o verso par era inferior, ridicularizou Cupido, dizem, e surrupiou um pé. 2 “The divine prologue, a common fixture of most Menandrian plays, performs a special role in this discourse. The fact that a deity presides over the proceedings and provides for the felicitous removal of the various obstacles”. Cf. Petrides, Antonis K. (2014). Menander, New Comedy And The Visual. Petrides. United Kingdom: Cambridge University Press. desatar os nós ao final”3, obtemos o que parece resultar em uma metaficção: independente do conhecimento da obra grega de origem (e, por conseguinte, do respectivo prólogo narrativo em apreço), de possíveis versões anteriores da peça para a língua latina, na apreensão da obra em si e numa análise da peça terenciana, temos a impressão de ser oriundos os estranhamentos, o acaso e as coincidências de uma criação ficcional. c) A definição mais adequada para nosso estudo: “Metaficção é o termo aplicado aos escritos ficcionais que autoconscientemente e sistematicamente atentam para sua situação como artefatos, de modo a levantar questões sobre a relação entre ficção e realidade”4 d) O metagênero pode ser compreendido, grosso modo, como uma exploração dos mecanismos e elementos (cenas e personagens) do acervo, desde a adoção desses em sua forma mais tradicional (o uso, por exemplo, da equação: um adulescens amans necessitado perante a intransigência paterna e, logo, a necessidade de um ludíbrio tramado por um seruus callidus), até uma expansão, que ultrapassa os limites do gênero e que resultaria em: 1) “metaficção”, i. e., interpretações por parte dos personagens que, à medida que transparecem a artificialidade das circunstâncias e a “irrealidade” daquilo que parece pertencer à “convenção”, redundam em equívocos, e temos diante de nós, por conseguinte, o improvável ou o não verossímil se revelando uma verdade no universo paralelo em que transcorre a peça. 2) simultaneamente, a apresentação de cenas que partem de uma aparente mimese da realidade:5 ANDRIA (vv. 106- 136) SIMÃO: Então meu filho, que estava sempre na presença dela junto daqueles que a amavam, cuidava do funeral de Crísis, entrementes triste, às vezes estava aos prantos. (...) Eu considerava tudo isso deveres de uma índole humana e de uma disposição enternecida. Por que me delongar tanto? Por causa disso eu mesmo também vou acompanhar o funeral, [115] sem suspeitar de mal algum. (...) O corpo é levado, seguimos. Enquanto isso, dentre as mulheres que ali seguiam, de repente, observo uma jovem de uma compleição... (...) E seu rosto, Sósia, tão reservado, tão atraente como nenhum outro. [120] Porque me parecia que se lamentava mais do que as demais e porque era mais bela do que as demais, distinta e de estirpe, aproximo- me das criadas acompanhantes, pergunto quem é: dizem-me que se trata da irmã de Crísis. Aquilo repercutiu de imediato na alma: “é claro, mas aí está, [125] o motivo daquelas lágrimas, de ter aquela compaixão”. (...) Entrementes prossegue o funeral, seguimos adiante, chegamos ao sepulcro, foi colocada nas chamas, choram-na. Enquanto isso, aquela irmã de quem lhe falei, aproximou-se das labaredas sem precaução, [130] e de uma maneira bem perigosa. Foi então que ali Pânfilo, fora de si, demonstrou seu bem dissimulado e velado amor. Precipita-se, abraça a mulher pela cintura: “minha Glicéria”, diz, “o que está fazendo” Por que se sacrificar assim?”. Então ela, para que se certifique facilmente da relação amorosa, [135] atira-se sobre ele aos prantos com tanto afeto! X ANDRIA (vv. 471- 494) SIMÃO: Eis que vindo desse é, primeiramente, lançado sobre mim o ludíbrio: estão fingindo um parto a fim de afugentarem Cremes (...) Assim tão rápido? É para rir: depois que me ouviu plantado diante da porta, apressa-se. O ritmo de seus atos não está suficientemente adequado, Davo. (...) Ou então seus discípulos são um tanto esquecidos? (...) Não ordenou pessoalmente o que deveria ser feito com a parturiente, mas, depois que saiu, grita do meio da rua para os que estão lá dentro; ó Davo, tamanho é seu desdém? Ou lhe pareço, entretanto, tão propenso a ser enganado com tanta facilidade para que me venha com seus ludíbrios? Esforcem-se, ao menos, para parecer dar medo de verdade, caso eu descubra. 3 Idem, op. cit. “The more ‘real’ the problem, the more uneasy seems the mechanical, ultimately imperfect, way the knot is untied in the end.”. 4Wraught (1985: 2): “Metafiction is a term given to fictional writing which self-consciously and systematically draws attention to its status as an artefact in order to pose questions about the relationship between fiction and reality.”. 5 Petrides (2014: 41-2): As comédias de Menandro ressaltam a impressão de uma imitação realista da vida, parecem (trata-se de uma impressão apenas) suprimir a improbabilidade e o que é ilógico em prol da construção de um universo que parece superficialmente governado pelas leis da história, física, da probabilidade empírica e lógica, logo: uma mimesis fiel da realidade contemporânea. “Menander’s comedy capitalises fully on the impression that it is a realistic imitation of life ...Menander’s comedy appears (but only so) to be suppressing illogicality and improbability in favour of constructing a world that superficially seems to be governed by the laws of historical, physical, empirical and logical probability, and thus to be a faithful mimesis of contemporary reality.”.