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Resenha Vida Maria

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ – UESC
DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES - DLA
CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS
RESENHA CRÍTICO-DESCRITIVA
POR:
MARCUS A. A. C.
ILHÉUS-BA.
2018
Vida Maria, uma realidade brasileira em 3D
O filme apresenta a história de Maria José, uma criança pobre e sem perspectivas socioeconômicas, cuja vida assemelha-se a de outras mulheres da sua família, como sua mãe, por ser marcada pela falta de oportunidades e penúria. Revela a impossibilidade da personagem, romper com o determinismo impregnado no meio em que vive. Observamos na cena inicial, Maria José, aos cinco anos de idade, demonstra satisfação no ato de escrever, porém a ação é colocada em segundo plano, devido a obrigação na realização dos afazeres domésticos.
Percebemos a mudança no temperamento de Maria, que quando jovem, demonstrava-se exultante e ao envelhecer parece cada vez mais irritadiça. Maria José, em sua condição precária e falta de consciência crítica, reproduz socialmente o papel determinado a mulher, ao gerar um número substancial de filhos, todos criados em condições insuficientes de vida. Expõe a sequência perene do ciclo de pobreza da protagonista, ao viver vida semelhante às gerações passadas. Nesse contexto, a então personagem principal, já uma idosa, reproduz o discurso, ao qual foi exposta em sua infância à sua filha, que por ser diligente nos encargos domésticos, cessa suas atividades escolares em prol do trabalho. Por fim, a imagem de um caderno, no qual várias outras Marias assinaram seus nomes, é folheado pelo vento.
Produzido, dirigido e escrito por Marcio Ramos, com Joelma Ramos também como produtora, feito em computação gráfica em 3D, possui cerca de 9 minutos de duração e foi lançado em 2006. As personagens presentes, bem como os cenários, são característicos e fieis às pessoas e paisagens que podem ser vistas no Sertão do Ceará, no Nordeste brasileiro, o que deixa a história ainda mais realista e desconfortante. Ramos, comentou, em uma das entrevistas cedidas à divulgação, que a ideia do filme partiu de uma situação, vivida por ele, na qual, observava uma mãe com filho de colo, em um ano e, no outro, o mesmo estava ajudando-a nas tarefas de casa (MARQUES, 2017). Segundo o diretor, a ideia de realizar um filme, em que sua vida serve de base, veio em 2000, mas foi adiada, por prioridades antecedentes que assumiu. A resposta da crítica quanto a obra cinematográfica foi favorável e fez com que o mesmo, fosse ganhador de mais de 40 prêmios, no Brasil, em 2007, além de ter sido exibido em festivais de cinema, fora do país. 
O curta-metragem aborda uma série de questões, ligadas à sociedade brasileira, tais como: trabalho infantil, reprodução social, sistema patriarcado, falta de condições econômicas e sociais e a ignorância. 
Maria, por ser uma garota pobre, padece entre muitos aspectos, de uma das necessidades básicas para o seu futuro: a educação. De acordo com pesquisa realizada em 2017, pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD ), o Brasil possuía 2.486.245 crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos fora da escola. Essa conjuntura, reflete a ignorância de determinada parte da sociedade, mais especificamente, a mais pobre, uma vez que por falta de educação, não se familiarizam com a capacidade transformadora, a qual os estudos podem proporcionar, a quem pode obtê-los. Além disso, a influência de parentes próximos, que também não tiveram oportunidades educativas, faz com que tal situação, torne-se um ciclo vicioso. Essa ideia, reflete também o pensamento de Bárbara Freitag (1980), em seu livro intitulado Escola, Estado e Sociedade, no qual afirma que “é no processo educacional que essas coisas, ao mesmo tempo que são impostas de fora ao indivíduo, são por ele internalizadas e com isso reproduzidas e perpetuadas na sociedade” (grifo da autora) (p. 16).
Em outra pesquisa realizada pela PNAD (2015), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que 2,7 milhões de crianças e adolescentes, entre 5 e 17 anos, trabalham no país, muito embora, em 19 de dezembro de 2000, ter sido promulgada a lei 10.097, na qual, além da alteração de vários dispositivos da Consolidação das Leis Trabalhistas, foi regulamentado o Contrato Especial de Aprendizagem, que institui a proibição de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade. No entanto, apenas em 2008, o trabalho doméstico entre menores, praticado por Maria José, no curta, passou a ser proibido por lei.
A falta de infraestrutura do espaço ambientado apresentado na obra, é uma realidade do sertão nordestino, devastado pela seca e com condições precárias de vida. Muito embora, exista relato de ocorrência de seca no Brasil, desde o século XVI, a indiferença governamental, quanto a essa situação, torna-se seu principal fator de existência. 
Outra questão emblemática e exposta, é a do patriarcado. Sob essa perspectiva, é nítido que a participação da mulher, naquele meio, é reservada apenas a manutenção do lar e a procriação. Tais características, impostas pela autoridade masculina, não sofrem modificações com o desenrolar do filme e envelhecimento de Maria. É notório perceber, em cidades interioranas, que a vinculação da figura feminina, a questões de patrimônio ou até mesmo administrativas, acontecem apenas ocasionalmente, ficando a cargo da mulher cumprir apenas o papel que lhe foi estabelecido por seus antepassados. As conquistas femininas, ocorrem de maneira ainda mais tardia em ambientes, onde a pobreza e a falta de educação não estão presentes, do que em centros urbanos, onde homens e mulheres já desenvolveram certo grau de equiparidade nas oportunidades de emprego e salário, muito embora, persistam obstáculos sociais que inviabilizam a igualdade plena, tais como a religião e o conservadorismo.
Cada questão exposta no filme, é feita de maneira certeira e realista. Márcio Ramos por ter vivenciado, o que sua obra expõe, não se limitou ao uso da estética pela estética, comum em filmes que usam a tecnologia em 3D.
O filme finda com uma cena, que passa a ideia de determinismo social, posto que várias outras Maria, tiveram a mesma trajetória desafortunada da garota de 5 anos, isto é, sem estudos e com muito trabalho a fazer, exibida no início da película. Uma possibilidade de mudança da situação hostil exibida, bem como uma mensagem de esperança, seria uma solução melhor para um país, onde a tragédia vê-se muito próximo, seja nas ruas, seja nos telejornais. Tecnicamente, no entanto, o filme é vistoso, inteligente e merece ser contemplado.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto nº 6.481, de 12 junho de 2008. Regulamenta os artigos 3º, alínea “d”, e 4º da Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que trata da proibição das piores formas de trabalho infantil e ação imediata para sua eliminação, aprovada pelo Decreto Legislativo nº 178, de 14 de dezembro de 1999, e promulgada pelo Decreto nº 3.597, de 12 de setembro de 2000, e dá outras providências. Diário Oficial [da] União. Brasília, DF, 12 jun. 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/decreto/d6481.htm>. Acesso em: 27 jun. 2018.
BRASIL. Lei No 10.097, de 19 de Dezembro de 2000. Altera dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943. Brasília, 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L10097.htm>. Acesso em: 28 jun. 2018.
CEPED.UFSC.BR, Centro de Estudos e Pesquisa em Engenharia Civil. Disponível em: http://www.ceped.ufsc.br/seca-e-estiagem-no-brasil-conheca-os-dados-ate-2012/. Acesso em: 01 jun. 2018.
CHEGADETRABALHOINFANTIL.ORG.BR, Chega de Trabalho Infantil. Disponível em: http://www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/noticias/materias/conheca-os-bastidores-de-vida-maria-animacao-que-virou-referencia-ao-tratar-do-trabalho-infantil/. Acesso em 01 jun. 2018.
CHEGADETRABALHOINFANTIL.ORG.BR, Chega de Trabalho Infantil. Disponível em: http://www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/trabalho-infantil/estatisticas/.Acesso em 01 jun. 2018.
DOMESTICALEGAL.COM.BR, Doméstica Legal. Disponível em: http://www.domesticalegal.com.br/tst-faz-campanha-contra-trabalho-domestico-infantil. Acesso em 26 jun. 2018.
FOLHA.UOL.COM.BR, Folha Online. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u70650.shtml. Acesso em: 28 de jun. 2018.
FREITAG, Bárbara. Escola, Estado e Sociedade. 6. ed. São Paulo: Moraes, 1980.
MARQUES, Raquel. Conheça os bastidores de “Vida Maria”, animação que virou referência ao tratar do trabalho infantil. Chega de trabalho infantil, 2017. Disponível em: <https://www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/noticias/materias/conheca-os-bastidores-de-vida-maria-animacao-que-virou-referencia-ao-tratar-do-trabalho-infantil/>. Acesso em: 01 jun. 2018.
OPROFESSORWEB.WORDPRESS.COM, Professor Web e Professora Online. Disponível em: https://oprofessorweb.wordpress.com/tag/marcio-ramos/. Acesso em: 01 jun. 2018.
PORTACURTAS.ORG.BR, Portal Curtas. Disponível em: http://portacurtas.org.br/filme/?name=vida_maria. Acesso em 28 jun. 2018.
VIDA MARIA. Direção de Joelma Ramos e Márcio Ramos. Produção de Márcio Ramos. Roteiro: Márcio Ramos. Ceará, 2006. (9 min.), son., color. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=yFpoG_htum4>. Acesso em: 01 jun. 2018.

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