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Produto nacional bruto José Tadeu de Almeida Introdução No estudo da Macroeconomia, das políticas econômicas e seus efeitos sobre a economia de um país e sua sociedade, é muito importante que você conheça e acompanhe a evolução de relevantes conceitos e identidades macroeconômicas. Uma destas identidades você conhecerá agora: é o chamado Produto Nacional Bruto (PNB). Você entenderá melhor a sua composição e quais as variáveis mais importantes que determinam a sua existência em um sistema econômico. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • aprender sobre os agregados – renda líquida, saldo de conta corrente e PNB; • entender quando a renda líquida é negativa e quando é positiva. 1 Os agregados que formam a renda líquida e se ela foi enviada ou recebida do exterior O estudo dos agregados macroeconômicos, notoriamente o produto, a renda e a despesa, são fundamentais para a compreensão da estrutura econômica de uma sociedade. O produto representa a soma dos valores dos bens produzidos por uma sociedade ao longo de certa janela temporal, por exemplo, um ano fiscal. Um desdobramento do conceito de produto é o chamado Produto Interno Bruto (PIB), que corresponde exatamente à produção de bens e serviços de um país ao longo de um determinado período. Pela ótica da demanda, você observa que o PIB é formado por quatro variáveis fundamen- tais, todas com igual importância. Em primeiro lugar, tem-se o consumo, formado pela aquisição dos bens e serviços necessários à economia. A segunda identidade é o investimento, enquanto função direta (e inversamente proporcional) à taxa de juros de longo prazo na economia, e que mede os valores aplicados na compra de bens destinados à produção (bens de capital) bem como na ampliação de espaços destinados à produção e outras atividades correlatas. Os gastos do Governo, para uma economia que possua governo, também fazem parte do cálculo do PIB. Por fim, os saldos comerciais desta economia, caso ela seja aberta e tenha relações com o exterior, também são necessários para o cálculo do Produto Interno Bruto (PAULANI; BRAGA, 2013). SAIBA MAIS! O PIB é tratado como bruto, pois não inclui as depreciações dos bens de capital ao longo do período de análise. Quando a depreciação – decorrente do uso desses bens de capital para o consumo – é incorporada ao cálculo, tem-se um novo indica- dor, o Produto Interno Líquido (PIL). No entanto, você precisa ter em conta que uma economia não é formada apenas da produ- ção de bens tangíveis, ou seja, bens concretos, que podemos possuir, armazenar, tocar, manter e guardar. Há, por exemplo, os serviços das empresas, dos profissionais liberais, autônomos, e sua produção também deve ser computada no cálculo do Produto Interno Bruto. Figura 1 – Taxas de crescimento do PIB dos Estados Unidos (1996-2015) Fonte: freer/Shutterstock.com Por fim, devemos também destacar as relações que essa economia tem com o resto do mundo através do recebimento e envio de capitais entre a economia nacional e o setor externo. Começaremos, portanto, a discussão a respeito da chamada renda líquida enviada ao exterior, também conhecida pela sua sigla RLEE. Na Macroeconomia, um dos agregados mais importantes é a renda, entendida como a soma, em valores monetários, da remuneração dos chamados fatores de produção, ou seja, dos recursos utilizados por essa economia na produção dos bens e serviços indispensáveis ao andamento da sociedade. Nesse agregado, podemos incluir o pagamento de funcionários de empresas priva- das, empregadas domésticas, bem como a compra de insumos (recursos destinados à produção, como matérias-primas e bens intermediários, já manufaturados, como o aço, por exemplo) (PAU- LANI; BRAGA, 2013). FIQUE ATENTO! A remuneração dos funcionários públicos é parte da despesa pública e, portanto, um gasto governamental. Para facilitar sua compreensão, suponha que a economia em discussão seja a brasileira. Neste caso, as empresas com capital nacional venderão seus bens e obterão lucros que serão apropriados pelos seus proprietários ou acionistas, que poderão, por exemplo, usá-los para novos investimentos. Mas há ainda outras duas categorias de empresas: as empresas estrangeiras instaladas em território nacional, bem como as empresas nacionais que possuem plantas industriais, filiais, lojas, escritórios ou qualquer outro tipo de atividade produtiva no exterior. Nestes casos, essas empre- sas também realizam alguma forma de atividade produtiva e, ao gerarem uma produção, também geram renda. Esta renda é obtida, por exemplo, com o lucro dessas empresas e o pagamento dos fatores de produção, como salários e aluguéis de edifícios, bem como por doações unilaterais. Mas, quando elas não estão em território nacional, saiba que a tendência é a de que esses capitais não permaneçam nesses países, mas que sejam reenviados ao país de origem da empresa. Figura 2 – Agentes econômicos de diferentes origens Fonte: sergign/Shutterstock.com Desse modo, as transações entre rendas entre países configuram uma movimentação desta renda. Dá-se, assim, o conceito de Renda Líquida Enviada ao Exterior (RLEE).A RLEE pode ser entendida como o resultado entre as rendas enviadas e as rendas recebidas, deste modo: RLEE = Rendas Enviadas ao Exterior – Rendas recebidas do Exterior As rendas enviadas ao exterior correspondem aos lucros e às receitas das empresas estran- geiras instaladas em território nacional e que são enviadas às suas matrizes, em seus países de origem. Por outro lado, as rendas recebidas do exterior correspondem às rendas enviadas pelas filiais das empresas nacionais instaladas no exterior e remetidas de volta à nação. No agregado, forma-se o componente das Rendas Líquidas Enviadas ao Exterior (PAULANI; BRAGA, 2013). EXEMPLO Se uma economia tem agentes nacionais instalados no exterior, que enviam ao seu país de origem uma renda de um bilhão de dólares, e agentes estrangeiros ins- talados em seu território enviam de volta três bilhões, o total da RLEE = 3-1 = dois bilhões de dólares. A RLEE pode ser entendida também como uma medida de internacionalização de uma eco- nomia. Em países onde há um grande número de empresas estrangeiras operando em volumes superiores aos das empresas nacionais sediadas no exterior e cuja renda enviada é maior que a recebida, você observa que há uma baixa internacionalização dos recursos nacionais no exterior. Esses países, na verdade, exportam renda, pois há mais recursos sendo enviados ao exterior do que recebidos dele. Figura 3 – Agentes enviam recursos de volta a seus países de origem Fonte: gosphotodesign/Shutterstock.com Por outro lado, veja que economias cujas empresas estão espalhadas pelo mundo tendem a possuir um maior grau de internacionalização de seus ativos. Deste modo, as rendas recebidas são maiores que as enviadas e o saldo de RLEE tenderá a ser negativo: são países que importam renda do exterior. FIQUE ATENTO! Se os agentes investirem seus recursos, por exemplo em bens de capital, fora de seu país de origem, este recurso não entrará na conta das rendas enviadas. O sinal da RLEE é muito importante: trata-se, para a economia nacional, de avaliar qual é a quantidade de renda que está deixando o país. Por isso, as rendas recebidas que, em teoria, deve- riam ter sinal positivo (pois está entrando dinheiro na economia), na verdade, possuem sinal nega- tivo. Se a RLEE for negativa, há mais rendas sendo recebidas. O sinal positivo demonstra que elas estão sendo enviadas ao exterior em maior quantidade. A inversão do sinal nos mostraria não as rendas líquidas enviadas, mas as rendas líquidas recebidas do exterior (RLRE). Na contabilidade social brasileira, costumamos, porém, utilizar o conceito de RLEE com sinal negativo. A RLEE entra no cálculo das transações correntes, ou seja,as transações que uma economia mantém com o resto do mundo em conjunto com os saldos da balança comercial (exportações – importações), da balança de serviços (que agrega os fluxos de renda, como a RLEE e outros) e as transferências unilaterais. Em conjunto, esse saldo conforma o chamado saldo em conta corrente de um governo (PAULANI; BRAGA, 2013). 2 Diferença entre PIB e PNB Agora, vamos expandir o raciocínio para você entender melhor o impacto da RLEE sobre o Produto Interno Bruto (PIB). O PIB, enquanto soma de todos os bens e serviços produzidos em uma economia, embute também os recursos e a renda produzida pelos agentes estrangeiros sediados em território nacio- nal. Se a economia é fechada, sem transações com o exterior, esses ativos não estarão presentes. FIQUE ATENTO! No mundo real, praticamente não há economias fechadas, salvo raríssimas exce- ções, como a Coreia do Norte, por exemplo, que também não é totalmente fechada, pois possui relações com a China. As economias tendem a possuir amplas relações com as economias de outros países. Nes- tas circunstâncias, parte da renda total produzida em um país também embute as rendas que serão redirecionadas ao exterior. Figura 4 – Circulação internacional de renda Fonte: Natalya Timofeeva/Shutterstock.com Dessa forma, para deduzir o efeito das RLEEs, tem-se o conceito de Produto Nacional Bruto (PNB), que corresponde a todos os bens e serviços produzidos em uma economia, deduzida a RLEE, conforme a seguinte equação: PNB = PIB – RLEE Cabe lembrar: o sinal negativo da variável RLEE nos mostra que, se houver mais renda sendo enviada ao exterior do que recebida, há recursos deixando a economia nacional. Como você pode perceber, o Produto Nacional Bruto exclui as rendas líquidas enviadas ao exterior. Trata-se de um demonstrativo da produção nacional baseada nos valores monetários advindos do uso de fatores de produção essencialmente nacionais (PAULANI; BRAGA, 2013). EXEMPLO Se o Produto Nacional Bruto de uma economia é de US$ 99.999.999,999,00 e seu PIB foi medido em US$ 100 bilhões, pela equação anterior temos que: 99.999.999.999,00 = 100.000.000.000,00– RLEE Logo, RLEE = US$ 1,00. Como consequência desta equação, observe que o Produto Interno Bruto corresponde à soma do Produto Nacional Bruto com as Rendas Líquidas Enviadas ao Exterior. Neste caso, o sinal da RLEE se inverte, pois consideramos que há um volume de recursos que está fazendo parte da economia, mas que não é produzido por fatores de produção nacionais. SAIBA MAIS! Você poderá encontrar maiores definições sobre os conceitos de PIB, PNB e RLEE no texto do ex-ministro da Fazenda, Luiz Carlos Bresser-Pereira, e do professor Yoshiaki Nakano: “Contabilidade Social”, originalmente publicado em 1972. Disponível em: <http://www.bresserpereira.org.br/papers/1972/72.ContabilidadeSocial.pdf>. Fechamento Nesta aula, você teve oportunidade de: • verificar que, em economias abertas, certos bens podem ser produzidos por agentes estrangeiros em território nacional e por agentes nacionais no exterior; • compreender que esses recursos são geralmente reenviados a seus países de origem, na forma de rendas e que a soma destas rendas corresponde às Rendas Líquidas Enviadas ao Exterior; • entender que o Produto Nacional Bruto corresponde ao Produto Interno Bruto, deduzi- das as Rendas Líquidas Enviadas ao Exterior. Referências BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos; NAKANO, Yoshiaki. Contabilidade Social. Apostila da FGV/SP:EC- -MACRO-L-9. ago. 1972. Disponível em: <http://www.bresserpereira.org.br/papers/1972/72.Conta- bilidadeSocial.pdf>. Acesso em: 01 jan. 2017. PAULANI, Leda Maria; BRAGA, Márcio Bobik. A nova contabilidade social – uma introdução à Macroeconomia. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
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