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DIÁLOGOS BRASILEIROS NO ESTUDO DE GÊNEROS TEXTUAIS/ DISCURSIVOS Eliane G. Lousada Anise D’O. Ferreira Luzia Bueno Roxane Rojo Solange Aranha Lília Abreu-Tardelli (Organizadoras) DIÁLOGOS BRASILEIROS NO ESTUDO DE GÊNEROS TEXTUAIS/DISCURSIVOS Eliane G. Lousada Anise D’O. Ferreira Luzia Bueno Roxane Rojo Solange Aranha Lília Abreu-Tardelli (Organizadoras) 1ª edição Araraquara Letraria 2016 DIÁLOGOS BRASILEIROS NO ESTUDO DE GÊNEROS TEXTUAIS/DISCURSIVOS PROJETO EDITORIAL Letraria CAPA Letraria REVISÃO E PREPARAÇÃO Alexandre Wesley Trindade ORGANIZAÇÃO Eliane G. Lousada, Anise D’O. Ferreira, Luzia Bueno, Roxane Rojo, Solange Aranha e Lília Abreu-Tardelli LOUSADA, E. G. et al. (Org.). Diálogos brasileiros no estudo de gêneros textuais/discursivos. Araraquara: Letraria, 2016. ISBN: 978-85-69395-10-2 1. Gênero textual/discursivo. 2. Atividade docente. 3. Ensino e aprendizagem COMISSÃO CIENTÍFICA Adair Bonini (UFSC) Adair Vieira Gonçalves (UFGD) Adriana Nogueira Accioly Nóbrega (PUC) Ana Elvira Luciano Gebara (UNICSUL / FGV) Ana Maria de Mattos Guimarães (UNISINOS) Ana Sílvia Moço Aparício (USCS) Anair Valênia Martins Dias (UFG) Anderson Carnin (UNISINOS) Anise D’Orange Ferreira (UNESP) Antonia Dilamar Araujo (UECE) Benedito Gomes Bezerra (UFPE) Bernard Schneuwly (Université de Genève) Carolyn Miller (North Carolina State University) Célia Macêdo (UFPA) Charles Bazerman (University of California) Daniela Zimmermann Machado (UNESPAR) Désirée Motta Roth (UFSM) Didiê Ana Ceni Denardi (UTFPR) Eliana Maria Severino Donaio Ruiz (UEL) Eliana Merlin Deganutti de Barros (UENP) Eliane Aparecida Galvão Ribeiro Ferreira (UNESP) Eliane Lousada (USP) Elvira Lopes Nascimento (UEL) Eulália Vera Lúcia Fraga Leurquin (UFC) Evandro de Melo Catelão (UTFPR) Fabiana Komesu (UNESP) Fatiha Dechicha Parahyba (UFPE) Federico Navarro (UBA / CONICET) Francis Arthuso Paiva (UFMG) Graciela Rabuske Hendges (UFSM) Gunther Kress (University of London) Joaquim Dolz (Université de Genève) Leila Barbara (PUC) Lília Santos Abreu Tardelli (UNESP) Luzia Bueno (Universidade São Francisco) Magda Bahia Schlee (UERJ) Márcio Rogério de Oliveira Cano (UFLA) Maria Alzira Leite (UninCor) Maria Cecília Lopes (FMU) Maria Luiza Monteiro Sales Coroa (UnB) Marília Ferreira (USP) Maura Alves Freitas Rocha (UFU) Miriam Bauab Puzzo (UNITAU) Natalia Ávila Reyes (PUC / UCSB / CIAE-UC) Nívea Rohling (UTFPR) Norma Seltzer Goldstein (USP) Orlando Vian Jr. (UFRN) Rafaela Fetzner Drey (IFRS) Regina Celi Mendes Pereira (UFPB) Reinildes Dias (UFMG) Renata Condi de Souza (PUC) Renata de Souza Gomes (CEFET-RJ) Renata Palumbo (FMU) Ricardo Magalhães Bulhões (UFMS) Rodrigo Acosta Pereira (UFSC) Rosalice Pinto (Universidade Nova de Lisboa/ CEDIS) Rosângela H. Rodrigues (UFSC) Rosinda Guerra Ramos (UNIFESP) Roxane Rojo (UNICAMP) Sandro Luís da Silva (UNIFESP) Siderlene Muniz-Oliveira (UTFPR) Sílvio Ribeiro da Silva (UFG) Simone Batista da Silva (UFRRJ) Solange Aranha (UNESP) Sonia Sueli Berti Santos (Unicsul) Tânia Guedes Magalhães (UFJF) Vera Lúcia Lopes Cristóvão (UEL) Vicente de Lima-Neto (UFERSA) Vivian Cristina Rio Stella (PUC/Unianchieta) Viviane Heberle (UFSC) Zilda Gaspar Oliveira de Aquino (USP) SUMÁRIO APRESENTAÇÃO GÊNEROS ACADÊMICOS Leitura e produção de gêneros acadêmicos Fernanda Massi Gêneros textuais e ensino: diálogos entre teorias de gênero em teses e dissertações da UFPE Renato Lira Pimentel e Amanda Cavalcante de Oliveira Ledo A comunicação oral em eventos científicos Juliana Bacan Zani A construção de um modelo didático do gênero trabalho de conclusão de curso na universidade Milena Moretto Letramento acadêmico à distância e o desenvolvimento de capacidades de linguagem em programas de leitura e escrita de uma universidade particular Luzia Bueno, Milena Moretto e Claudia de Jesus Abreu Feitoza Leitura e produção de textos acadêmicos: trabalho com o gênero mapa conceitual nos cursos de engenharia da PUCPR Josélia Ribeiro e Luzia Schalkoski Dias O processo de ensino-aprendizagem do gênero resumo na universidade: apresentação de um procedimento Erica Reviglio Iliovitz Analisando o gênero memorial de estágio: um estudo sistêmico-funcional Carla Cristina de Souza GÊNEROS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES Gêneros discursivos na universidade: relatos de uma experiência Siderlene Muniz-Oliveira Aprendizagem de um gênero de discurso e de atividade de autoconfrontação em ações de formação docente continuada na educação superior Dalvane Althaus 14 21 22 34 48 61 73 84 98 110 121 122 135 Possibilidades de participação social em uma sequência didática construída na perspectiva do interacionismo sociodiscursivo Rayane Isadora Lenharo e Patrícia da Silveira O lugar do tutor na composição das relações de trabalho docente em EAD Ricardo Viana Velloso Exame de Proficiência em Língua Portuguesa (EPLP) nas graduações da PUCPR: objetivos e natureza da prova Cristina Yukie Miyaki e Angela Mari Gusso A implantação do Programa Habilidades do Núcleo Básico de Língua Portuguesa na Pontifícia Universidade Católica do Paraná Sandra Batista da Costa A abordagem textual/discursiva e os conceitos da retórica em práticas docentes com gêneros orais na universidade Evandro de Melo Catelão Figuras de ação para interpretar o trabalho do formador de professores em formação continuada Maria Ilza Zirondi Da inabilidade à habilidade genérica: um processo gradual de elaboração e domínio de gêneros do discurso Anselmo Lima GÊNEROS E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Para uma abordagem de gêneros no ensino profissional: questões subjacentes à concepção de linguagem e de gênero Denise dos Santos Gonçalves Nos caminhos da escrita: relações entre teoria e prática Áurea Maria Brandão O ensino de sintaxe a partir de gêneros textuais: contribuições para a prática docente Ana Carolina Speranca-Criscuolo Metáforas multimodais em livros didáticos: análises a partir da Gramática do Design Visual Clarice Lage Gualberto e Ana Flávia Torquetti Domingues Cruz O trabalho com o gênero campanha ambiental nas aulas de língua portuguesa: possibilidades para uma leitura multimodal Helena Maria Ferreira 147 175 186 199 216 234 255 267 268 280 297 308 321 Entre a inovação e o tradicionalismo no ensino da língua portuguesa Marilúcia dos Santos Domingos Striquer Produção textual no ensino fundamental: um estudo em uma turma multisseriada à luz da teoria dos gêneros textuais Laurentina Santos Souza e Sebastião Silva Soares A configuração do gênero discursivo trote e sua articulação com o ensino de língua portuguesa: uma abordagem sistêmico-funcional Alex Caldas Simões GÊNEROS E ENSINO DE LÍNGUAS Ensino de línguas no Brasil com base em gêneros textuais: um estudo de livros didáticos Maria Ester Moritz e Adriana de Carvalho Kuerten Dellagnelo Multiletramento Digital: as contribuições das ferramentas virtuais para o ensino e aprendizado de língua Inglesa Claudia Vivien Carvalho Oliveira Soares e Gislene Lima Almeida Trabalho epilinguístico na educação linguística e letramento crítico na língua inglesa Maura Regina da Silva Dourado O gênero fait divers no ensino de FLE: o desenvolvimento de capacidades de linguagem e a influência de sequência didática em produções textuais dos alunos Renata Añez de Oliveira GÊNEROS E LITERATURA A narrativa pós-moderna no ensino de literatura: uma possibilidade de leitura da obra Bilac vê estrelas, de Ruy Castro Eliane Aparecida Galvão Ribeiro Ferreira e Ricardo Magalhães Bulhões Sob o signo da discoteque, de Plínio Marcos: o gênero dramático no proscênio literário brasileiro Wagner Corsino EnedinoRelações intertextuais entre “Malévola” e as versões de “A bela adormecida no bosque” Adriana Lins Precioso Sagas fantásticas e a hibridação de gêneros textuais Pedro Afonso Barth e Fabiane Verardi Burlamaque 332 343 358 372 373 385 398 411 424 425 436 449 463 Diálogo entre damas: interdiscursividade entre o romance canônico e o conto Elisângela Britto Palagen Contos de fadas tradicionais e modernos: uma contribuição para o ensino de gêneros discursivos Odete Firmino Alhadas Salgado Gênero Conto e transitividade: um estudo das escolhas léxico-gramaticais da narrativa “Um ladrão” de Graciliano Ramos Anderson de Santana Lins e Maria do Rosário da Silva Albuquerque Barbosa GÊNEROS E DIALOGISMO Teias discursivas: uma proposta de metodologia de leitura dialógica Shirlei Neves dos Santos e Simone de Jesus Padilha Dialogicidade e conceitos axiológicos na pintura “Moça com brinco de pérola”, de Johannes Vermer Célia Tamara Coêlho e Renilson José Menegassi A desnaturalização do conceito de gênero do discurso, da teoria bakhtiniana às instâncias e práticas didático-pedagógicas Aline Saddi Chaves Os Gêneros Textuais e os Processos de Referenciação: o caso das Anáforas Associativas Daniela Zimmermann Machado A relevância dos gêneros discursivos para o processo ensino/aprendizagem na construção da autoria Marta Luzzi Como o sujeito se inscreve ao escrever na universidade numa perspectiva dialógica Sandro Braga A praça pública na esfera escolar: o diário de leitura como resposta à imposição dos discursos oficiais Rhena Raize Peixoto de Lima Linguística da enunciação: o “discurso de outrem” no discurso da rezadeira itabaianense D. Severina Danielle Gomes do Nascimento Operações linguísticas de reescrita na construção de argumentativos Regiani Leal Dalla Martha Couto e Dioneia Foschiani Helbel 476 486 498 509 510 524 539 549 560 572 595 608 621 Uma proposta de sequência didática com o gênero textual crônica: uma experiência do PIBID letras-português Fernanda Diniz Ferreira e Maria das Graças Carvalho Ribeiro The Brazilian Blend Charles Bazerman GÊNEROS E PRÁTICAS FORMATIVAS O trabalho do professor a partir da análise de relatórios de estágio Kleiane Bezerra De Sá O relatório de regência como espaço de reconfiguração do agir do estagiário de italiano Victor Flavio Sampaio Calabria A reformulação do enunciado em situação de autoconfrontação: possíveis contribuições da compreensão desse fenômeno para o uso do método em educação Solange Ariati Elementos sobre o destinatário de emergência em situação de autoconfrontação: um olhar ampliado Alana Destri e Anselmo Lima O gênero da atividade docente em foco: ação de professores diante de dificuldades encontradas em sala de aula Daiana Aparecida Furlan Ecker e Anselmo Lima Desafios na elaboração de material didático de língua portuguesa baseado em gêneros textuais em contexto de formação pré-vestibular: na contracorrente da “dissertação” Lília Santos Abreu-Tardelli e Marta Aparecida Broietti Henrique O gênero artigo de opinião: uma proposta para a Educação de Jovens e Adultos Carmem Eliana Garcia Gestos profissionais de ensinar a construção do objeto de ensino “dissertação” pelo professor de língua portuguesa Edna Pagliari Brun GÉNEROS DE FORMACIÓN Y ESCRITURA EXPERTA Potencialidades y desafíos epistémicos y argumentativos de la elaboración de ponencias en aulas universitarias de Humanidades Constanza Padilla e Esther Angélica Lopez 634 645 651 652 663 674 685 696 707 721 734 750 751 Organização retórica da seção de considerações finais no gênero monografia Beatrice Nascimento Monteiro e Francisca Verônica Araújo Oliveira Teaching Written, Oral and Mixed Academic Genres in an ESP Course at the Universidad Nacional de Entre Ríos Diana Mónica Waigandt, María Alejandra Soto e Silvia Soledad Monzón El acceso al sistema comunicativo universitario en dos asignaturas del ciclo básico de la formación en Ingeniería y Ciencias Sociales Miriam María Rosa Casco El sujeto universitario y los géneros académicos: la lectura y la escritura en la formación del estudiante Karina Savio GÊNEROS E MEDIAÇÃO Os gêneros textuais mediando as práticas no PIBID Português/Espanhol UEPG Ione da Silva Jovino e Ligia Paula Couto Novas tecnologias como suporte didático no trabalho com gêneros textuais Luciana Villani das Neves A didática como foco na formação inicial do professor de língua Cleide Inês Wittke Gêneros textuais, correção por pares e reescrita em ambiente virtual: práticas colaborativas entre alunos brasileiros e canadenses Eliane Gouvêa Lousada, Arthur Marra e Catherine Caws Ensino e aprendizagem de grego antigo: novos gêneros de escrita nas letras clássicas digitais? Anise D’Orange Ferreira e Alexandre Wesley Trindade O trabalho prescrito para o professor da educação profissional em Mato Grosso: uma questão de gênero Eliana Moraes de Almeida Alencar Gênero textual/discursivo, análise linguística e ensino de língua portuguesa Anair Valênia Martins Dias e Eliana Maria Severino Donaio Ruiz Cultura em rede, tempos de internet: o trabalho com leitura e escrita, a partir dos gêneros textuais Andressa Teixeira Pedrosa Zanon e Eliana Crispim França Luquetti 777 790 805 824 825 837 849 860 882 901 914 928 765 A pontuação como recurso de expressividade ou como aspecto gramatical: que abordagem prevalece no livro didático nas orientações para a escrita? Danielle Bezerra de Paula GÊNEROS E MÍDIA A multimodalidade e o gênero textual-discursivo anúncio publicitário impresso Regina Célia Pagliuchi da Silveira Gêneros textuais-discursivos na notícia e a construção enunciativa no e pelo discurso Deborah Gomes de Paula Petição on-line: discutindo a participação política na internet Monique Alves Vitorino Cordel – “aconteceu, virou poesia”: A evolução e a adaptação do gênero popular midiático às novas tecnologias Patrícia Peres Ferreira Nicolini, Clesiane Bindaco Benevenuti e Analice Oliveira Martins Um olhar sobre a carta do leitor na mídia impressa Valfrido da Silva Nunes A construção de modos de identificação de atores sociais no gênero reportagem Sostenes Lima e Amanda Oliveira Rechetnicou O blog jornalístico no cenário escolar: uma proposta de produção discursiva de resistência Amanda Oliveira Rechetnicou e Sostenes Lima Compra-se uma ideia, vende-se um produto: a partir de representações da homossexualidade, o discurso, a linguagem e a persuasão no gênero propaganda Eliana Crispim França Luquetti e Joane Marieli Pereira Caetano Estratégias linguístico-discursivas do gênero notícia Luciana Soares da Silva O anúncio publicitário e seus desdobramentos Camilla Reisler Cavalcanti As representações sensíveis do ser fílmico, permeadas pela estética da violência e o letramento visual na sala de aula Andréa Antonieta Cotrim Silva 939 952 953 968 983 995 1011 1026 1043 1055 1066 1075 1087 Por que compartilhamos? – um estudo do gênero digital meme Lilian Mara Dal Cin dos Santos Websites de leitura nos estudos clássicos da era digital Michel Ferreira dos Reis “Lugar de mulher é...”: a identidade feminina no gênero anúncio publicitário em data comemorativa do dia internacional da mulher sob a perspectiva sistêmico funcional Pauline Freire Pimenta Surdo ou deficiente auditivo: uma análise sob a ótica da linguística de corpus Ana Katarinna Pessoa do Nascimento GÊNEROS CORPORATIVOS E JURÍDICOS O gênero acórdão: estudo de caso a partir de uma abordagem interdisciplinar Alexandra Feldekircher Müller, Maria Helena Albé e Aline Nardes dos SantosNarrativa processual: argumentação jurídica e justiça judiciária ao evento: Simpósio Internacional de Estudos de Gêneros Textuais José Antonio Callegari Gêneros, argumentação e performatividade da linguagem no tribunal do júri Maysa de Pádua Teixeira Paulinelli Implicancias e impacto prueba codice Universidad de Chile: alfaepilbetización académica en vistas al género jurídico María Francisca Elgueta Rosas e Sanndy Infante Reyes O gênero denúncia: um estudo da sua estrutura composicional Anne Carolline Dias Rocha Prado, Márcia Helena de Melo Pereira e Larissa Carvalho de Macêdo Pereira SOBRE OS AUTORES E AS ORGANIZADORAS 1101 1114 1134 1147 1160 1161 1179 1190 1202 1214 1226 14 PREFÁCIO INÍCIO DE UM DIÁLOGO NECESSÁRIO Diálogos no Estudo de Gêneros Textuais/Discursivos - Uma escola brasileira? é o título da 8a edição do Simpósio Internacional de Estudos de Gêneros Textuais (SI- GET) que ocorreu em São Paulo entre 8 e 10 de setembro de 2015. O evento reuniu cerca de 1000 participantes, aproximadamente 700 pesquisadores que apresentaram trabalho e 750 trabalhos que se organizaram em torno da existência de uma escola brasileira no estudo de Gêneros Textuais/Discursivos. Desse evento, nasce este livro, intitulado Diálogos brasileiros no estudo de gêneros textuais/discursivos que reúne, por sua vez, os trabalhos mais significativos apresen- tados no evento. Dos 750 trabalhos apresentados, a comissão científica avaliou os textos enviados, tendo escolhido os 89 capítulos que compõem este livro, organiza- do também em torno da mesma temática, porém com seções próprias aos conteúdos tratados pelos textos selecionados. A questão da existência e da especificidade de uma “escola brasileira” com caracte- rísticas próprias nos estudos de gêneros foi a questão principal proposta para o de- bate. No texto de apresentação do evento, as organizadoras do encontro propuseram dois temas centrais: abrir o diálogo necessário entre as diversas tradições de pesqui- sa sobre gêneros e encontrar a eventual especificidade da pesquisa, neste campo, no Brasil. Abrir o diálogo entre os pesquisadores de diversas escolas “Sei que eles falam Deste meu proceder Eu vejo quem trabalha Andar no miserê Eu sou vadio Porque tive inclinação Eu me lembro, era criança Tirava samba-canção Comigo não Eu quero ver quem tem razão.” Wilson BATISTA, Lenço no pescoço, 1933 15 Em grego, diálogo significa discurso cruzado entre vários interlocutores, intercâm- bio de palavras. Contrariamente a algumas definições recorrentes, um diálogo não se limita a uma conversa entre dois. A raiz grega dia significa “através” e evoca a mediação. O lexema logo se refere ao discurso e à palavra, como também ao estudo e à ciência. O diálogo é, pois, um encontro entre vários que “se ouvem e se falam” para trocar pensamentos e informações. Fundamento da enunciação, a estrutura dia- logal cruza “vocês” que se sucedem e se alternam, conservando autonomia, mas em um jogo de réplicas entre os enunciadores. O diálogo é uma forma de ação recíproca entre membros de um grupo, um processo dinâmico de troca com a linguagem para comunicar, para resolver problemas e para elaborar conhecimentos. Dialogar é uma condição para avançar em qualquer domínio social e também no domínio científico. Que diálogo se espera em um simpósio como o nosso ? O diálogo no mundo científico é fundamental para constituir uma comunidade discur- siva e para estabelecer redes entre pesquisadores que contribuem com seus diferentes posicionamentos, fazendo desenvolver os saberes. Como pesquisadores formamos parte de uma comunidade de interpretação de unidades de representação teóricas e conceituais que nos permite a intercompreensão e o debate. As redes de pesquisa- dores existem, elas são dinâmicas e se desenvolvem diversamente. Elas têm pontos de convergência e elaborações conceituais próprias. Trabalhamos sobre os mesmos objetos, mas com perspectivas distintas. Consequentemente, nós precisamos de uma confrontação conceitual, metodológica e dos resultados das pesquisas, sem evitar as tensões epistemológicas e ideológicas. Para as nossas pesquisas, os gêneros textuais/discursivos, o diálogo faz parte do objeto dos nossos trabalhos. Não se pode esquecer que uma parte importante dos gêneros que estudamos são dialogais. Falar de gêneros é abordar os usos da língua em situações de interação. Os primeiros usos autênticos da língua, como gostava de insistir Marcuschi (2005), são gêneros orais que mobilizam o diálogo. E a própria estrutura do diálogo tem uma grande influência tanto nas intervenções que podem ser polifônicas quanto em gêneros monologais. De maneira geral, a reflexão sobre os gêneros sempre lida direta ou indiretamente com o diálogo. Diálogo e dialogismo argumentativo supõem conhecer e reconhecer o pensamento do outro. O desafio do VIII SIGET foi exatamente a criação de um espaço aberto às diferen- tes escolas para que os pesquisadores mostrassem as suas novas realizações, cru- zassem perspectivas, conceitos e metodologias. O simpósio conseguiu abrir para o debate entre as diferentes correntes com grande influência dos trabalhos fundadores de Voloshínov, Medvedev e Bakhtin, a linguística sistêmico-funcional da escola de Sidney, os estudos retóricos de gênero da nova retórica americana, inglês para fins específicos da escola britânica, a análise crítica do discurso e do gênero e o interacio- nismo sociodiscursivo na perspectiva da escola de Genebra. As diferentes correntes estão presentes nas 89 contribuições reunidas neste volume. Nos debates orais que seguiram as apresentações, o diálogo foi particularmente intenso. Trata-se de um SIGET em que todos os participantes puderam confrontar os posicionamentos de maneira cordial e construtiva e isso foi o primeiro êxito desse simpósio. 16 Brasil, a efervescência dos estudos sobre os gêneros “Canta, dança, massa, raça, emoção Fala Brasil solte o fogo do teu coração. ” Gonzaguinha, Fala Brasil O segundo tema do SIGET foi a especificidade da escola brasileira sobre gêneros textuais/discursivos. É difícil para um autor estrangeiro como eu, que aprendeu a língua portuguesa para poder dialogar com os pesquisadores brasileiros, mas que escreve este prefácio maltratando uma língua que ainda não domina, posicionar-se sobre as particularidades da escola brasileira. É certo que para o acadêmico que olha à distância a explosão de trabalhos de qualidade sobre gêneros textuais/discursivos no Brasil que as condições sociais e institucionais da efervescência são provavel- mente específicas ao país. No entanto, aceito entrar nos diálogos brasileiros porque a alteridade, o olhar externo e a compreensão do pensamento dos diferentes autores que constituem o meu campo de pesquisa é também fundamental para o meu próprio progresso. Em primeiro lugar, a efervescência manifesta-se na diversidade e a riqueza de pro- postas reunidas. Os estudos sobre gêneros nas diversas esferas sociais de utilização da língua portuguesa no Brasil, referência fundamental e indispensável para estabe- lecer ferramentas e dispositivos de ensino, estendem-se hoje a outros gêneros como os gêneros acadêmicos, profissionais e associados às práticas formativas. O impacto dos parâmetros curriculares brasileiros para o ensino das línguas basea- dos na noção de gênero se manifesta no número importante de novas propostas sobre ensino e formação docente. O VIII SIGET mostra também a extensão dos trabalhos a outras esferas profissionais como os gêneros jornalísticos, coorporativos e jurídicos. A orientação das pesquisas é fundamentalmente pragmática apesar da preocupação por uma clarificação conceitual. Os pesquisadores analisam o poder dos usos da es- crita jurídica e jornalística em um país onde o letramento ainda não atingeos níveis desejados e mostram o interesse das pesquisas realizadas ao serviço de diferentes profissões implicadas. Em segundo lugar, a efervescência manifesta-se pela diversidade de gêneros abor- dados, gêneros sociais diversos, gêneros orais e escritos, gêneros profissionais, li- terários, argumentativos, narrativos, jornalísticos, jurídicos, epistolares, didáticos, acadêmicos, etc. O leque é amplo e as análises sobre os usos e as descrições lin- guísticas são importantes e de qualidade. As 89 pesquisas reunidas constituem uma referência na caracterização dos gêneros, na modelização dos usos e na dinâmica das transformações desses gêneros. 17 Além disso, os estudos brasileiros têm uma influência de três autores autótonos ori- ginais que considero três pilares dos trabalhos sobre os gêneros e que aportam três orientações maiores: - a reflexão sobre a oralidade e os gêneros orais de Luiz Antônio Marcuschi, a quem nós rendemos homenagem; - a linguagem no trabalho e os gêneros na atividade profissional de Anna Ra- chel Machado ; - a multimodalidade dos gêneros e a sua contribuição ao multiletramento de Roxane Roxo. Três pilares que se entrecruzam com a sedimentação de muitas influências de tra- dições diversas e interdisciplinares, principalmente referências disciplinares da lin- guística do discurso e do texto, no entanto, também da sociolinguística, da psicolin- guística, da ergonomia, da didática das línguas e das ciências da educação em geral. Na apresentação do simpósio, cita-se o livro de Anis Bawarshi e Mary Jo Reiff, pu- blicado em 2010 e traduzido por Benedito Gomes Bezerra (UFPE) em 2013 que diz: A pesquisa de gêneros no Brasil tem sido especialmente instrutiva pela maneira como faz a síntese das tradições linguística, retórica e social/so- ciológica que descrevemos nos três capítulos anteriores, ao mesmo tempo também lança mão das tradições de gênero francesa e suíça. Ao fazer isso, os estudos brasileiros de gêneros oferecem um modo de ver essas tradições como mutuamente comparáveis e capazes de proporcionar ferramentas teóricas pelas quais se possa se compreender o funcionamento linguístico, retórico e sociológico dos gêneros (BAWARSHI; REIFF, 2010, p.74-75). Sem entrar propriamente no mérito da questão central do congresso sobre as parti- cularidades das pesquisas de gênero no Brasil, é certo que muitas das contribuições entrecruzam referências diversas. O dialogismo interno existe nas contribuições e é a prova do diálogo que existe entre diferentes pesquisadores e escolas. Também é verdade que algumas delas apresentam sínteses originais de paradigmas teóricos inicialmente afastados. No entanto, a maioria das contribuições tem uma orientação dominante em uma das diferentes perspectivas epistemológicas. Os trabalhos empí- ricos e de análise de corpus começam por apresentar o marco teórico e a mistura de referências complementares não é, ao meu entender, muito diversa da mistura que percebo nas pesquisas europeias ou americanas. Entretanto, qualquer que seja a sua ambição, os trabalhos que pretendem dar maior inteligibilidade aos usos dos gêneros dependem do ângulo de ataque e exigem um mínimo de interdisciplinaridade e de múltiplas referências para abordar a complexidade das atividades de linguagem e dos processos de comunicação estudados. 18 Em resumo, as particularidades dos estudos brasileiros sobre gêneros textuais/dis- cursivos têm as dez especificidades seguintes que merecem ser destacadas: 1. Influência dos textos fundadores das pesquisas sobre gêneros discursivos de Voloshínov, Medvedev e Bakhtin;2. Conceptualização baseada nos grandes paradigmas interacionais sobre os es- tudos de gêneros com referências maiores das escolas mencionadas anteriormente (Sytemic Funcional Linguistic; English for Specific Pourposes; Rhetorical Gen- re Studis; Critical Discourse Analise; Critical Discourse Analise; Critical Genre Analyse e Interactionnismo Sócio-discusivo); 3. Orientação pragmática associada à preocupação social pelo letramento (e multiletramento) no Brasil assim como a contribuição dos estudos de gêneros para o ensino e a democratização da educação (impacto das novas políticas públicas de educação linguística);4. Resposta às exigências dos novos parâmetros curriculares do país e dos mo- vimentos criados em favor da igualdade de oportunidades dos alunos como a Olím- piada de Língua Portuguesa;5. Criação de redes interuniversitárias importantes de pesquisadores;6. domínio de pesquisas empíricas centradas na análise de corpus textuais do mesmo gênero, dos usos sociais dos gêneros ou de atividades de ensino e de forma- ção;7. Presença de inovações importantes no domínio dos gêneros orais, sobre a mo- delização didática e as sequências didáticas para o ensino da escrita e da leitura, sobre os gêneros multimodais e o seu papel no multiletramento e, finalmente, no domínio da linguagem no e sobre o trabalho e os gêneros profissionais destinados à formação docente; 8. Extensão das pesquisas sobre o ensino da língua portuguesa ao ensino do in- glês e do espanhol como língua estrangeira;9. Existência de uma comunidade discursiva acadêmica que se manifesta nas publicações específicas e na realização de congressos como o SIGET;10. Debate interno sobre os resultados e a inteligibilidade dos saberes e as con- dições de validade científica das pesquisas, muito presentes nas apresentações orais dos trabalhos nas bancas de teses e nos congressos. E esta é uma das lições dos estudos brasileiros sobre os gêneros textuais/discursivos : a criação de uma comunidade acadêmica que funciona como uma rede interuni- versitária no conjunto do país e com relações privilegiadas com os outros centros de pesquisa internacionais sobre os gêneros. 19 Diálogo aberto, obstáculos e novos desafios Apesar de você amanhã há de ser outro dia Chico Buarque de Holanda (1971) O balanço do SIGET é positivo e a prova disso é a coerência na diversidade do con- junto das contribuições reunidas neste volume. Com base na leitura das contribui- ções e assistência nos debates do VIII SIGET, considero importante falar também dos obstáculos, das controvérsias ideológicas e dos desafios para os próximos anos. O filósofo Gaston Bachelard (1937/1967) falava dos obstáculos epistemológicos e o seu papel no desenvolvimento das pesquisas científicas. Identificar os obstáculos na conceptualização dos gêneros e na realização das pesquisas pode ajudar a ultrapas- sá-los e a lançar novos projetos mais ambiciosos. Quais são os obstáculos principais constatados nas pesquisas apresentadas no sim- pósio? A relação complexa entre texto singular (funcionamento discursivo, interpre- tação e análise crítica), gênero textual (formas estáveis das formas comunicativas completas e adaptadas às situações sócio-discursivas apresentando regularidades que se transformam constantemente) e tipos de discurso (mecanismos enunciativos e de textualização identificáveis nos textos), por exemplo, merece ser retomada pe- las pesquisas. O trabalhos apresentados no SIGET analisam com rigor os domínios sociais de uso dos gêneros, mas ao meu entender a materialidade linguística, os fenômenos de oralidade, de estilo e de textualização em língua portuguesa poderiam ainda ser desenvolvidos. A descrição dos recursos da língua portuguesa e os estilos como elementos constitutivos dos gêneros em muitas pesquisas ainda é limitada. A articulação dos usos da língua portuguesa e dos mecanismos de textualização nos diferentes gêneros ainda é um desafio das nossas pesquisas. Desafio que se percebe também na elaboração dos modelos didáticos dos gêneros e das sequências didáticas. A preocupação atual pelo multiletramento e a multimodalidade dos textos evidencia outras questões e dificuldades no tratamento articulado dos diferentes sistemas se- mióticos, tanto nos gêneros orais escritosem geral, como nos novos gêneros criados pelas novas tecnologias. A avaliação crítica entre pesquisadores sobre os trabalhos realizados e os obstáculos epistemológicos que aparecem na elaboração dos saberes sobre os gêneros é a chave que precisamos para que, coletivamente, desenvolvamos o nosso pensamento cientí- fico, o valor lógico e as condições de validação dos dados analisados. Nesse sentido, os desafios são ainda muito importantes. O estudo de gêneros textuais/discursivos precisa coletivamente de um debate sobre as condições de validação científica dos 20 nossos trabalhos. Precisamos também de uma articulação maior entre as diferentes pesquisas e projetos coletivos interuniversitários que superem os trabalhos empíri- cos, as explorações, as pesquisas-ações sobre o ensino e os estudos de casos. A existência de uma comunidade acadêmica que compartilha objetos de pesquisa dos trabalhos realizados permite a negociação de novos projetos e programas de pesquisa muito mais ambiciosos. Os nossos limites de hoje podem ser as condições de progresso no futuro. É evidente que existem controvérsias ideológicas legítimas e obstáculos no diálogo entre as diferentes escolas e tradições de pesquisa. O VIII SIGET foi um espaço de encontro cordial. O público do evento participou de alguns debates interessantes en- tre escolas de pensamento diferentes que foram tratadas com uma grande cordialida- de bem brasileira. No entanto, o diálogo não fez mas que começar. São controvérsias que merecem ser retomadas. Em meu caso, fui particularmente sensível às considerações sobre a influência das escolas de pensamentos estrangeiras nos estudos brasileiros. Alguns participantes falaram de subordinação e de colonialismo científico. Minha visão de pesquisa aca- dêmica é mais universal, ainda que compreendo os condicionamentos e as necessi- dades do contexto brasileiro. Os estudos brasileiros reunidos neste volume merecem ser conhecidos fora do Brasil. São trabalhos que permitem o avanço das minhas pró- prias pesquisas e das diferentes correntes mencionadas. Certamente eles precisam ser mais conhecidos no exterior. Coletivamente podemos contribuir com o desenvol- vimento de uma teoria geral sobre os gêneros textuais/discursivos. O diálogo aberto é necessário e não deve ser somente entre os brasileiros. Brasil ! Mostra tua cara Quero ver quem paga Pra gente ficar assim Cazuza (1988) Joaquim Dolz Universidade de Genebra (Suíça) GÊNEROS ACADÊMICOS 22 Leitura e produção de gêneros acadêmicos Lecture et production de texte au moyen de genres discursives Fernanda Massi Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP/Araraquara Grupo de Pesquisas Semióticas (GPS/UNESP) fernandamassi@yahoo.com.br Resumo Tomando como base de discussão os trabalhos de Bakhtin e Marcuschi, este projeto busca relacionar o estudo dos gêneros textuais, iniciado nas pesquisas científicas realizadas pela pesquisadora, às técnicas de leitura e produção de textos utilizadas em sala de aula, em nível superior de ensino, a partir de sua experiência didática. A proposta deste projeto emergiu da necessidade prática de se trabalhar com gêneros textuais nas aulas de Comunicação e Expressão, Leitura e Produção de Textos e Metodologia do Texto Científico, ministradas na UNESP/Araraquara e na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) para diversos cursos. É possível notar a dificuldade apresentada pelos alunos de graduação em transitar por gêneros que pertencem ao mesmo domínio discursivo (artigo científico, TCC/monografia, dissertação, tese, relatório científico). Ao mesmo tempo, encontra-se a frequente confusão entre tipos textuais e gêneros discursivos, como se as tipologias fossem determinantes para a constituição dos gêneros. O projeto aqui apresentado preocupa- se com a conceituação dos gêneros discursivos, pois entende que trabalhar com textos pertencentes a diferentes esferas de ação — acadêmica, jornalística, literária — oferece aos alunos mais repertório para a compreensão dos tênues limites de cada gênero. A melhora nas condições de leitura proporciona, consequentemente, aprimoramento nas técnicas de escrita. Mesmo sabendo que os limites entre os gêneros do discurso são abstratos, é possível identificar suas diferenças partindo do enunciatário pressuposto na enunciação, ou seja, do leitor previsto para cada situação comunicativa que é, também, um coenunciador e que mantém suas expectativas em relação aos gêneros discursivos em virtude da cena enunciativa pressuposta para cada tipo de enunciado e das esferas de ação nas quais esse enunciado circula. Com essa proposta, as aulas de leitura e produção de textos devem proporcionar aos alunos a possibilidade de transitar entre os gêneros discursivos com maleabilidade e eficiência. 23 Résumé A partir des travails de Bakhtin et Marcuschi, ce texte vise à relier l’étude des genres textuels, initié dans les recherches scientifique menée par le chercheur, aux techniques de lecture et production de textes utilisés dans les classes de l’enseignement supérieur, à partir de leur expérience. Ce projet est né de la nécessité pratique de travailler les genres en classes de Communication et expression, Lecture et production de textes et Méthodologie de texte scientifique, tenue à l’UNESP / Araraquara et à l’UFSCar (Université Fédérale de São Carlos) pour divers cours. On peut voir la difficulté des étudiants en transiter pour les genres qui appartiennent au même domaine discursive (papier scientifique, TCC / monographie, dissertation, thèse, rapport scientifique). Il y a aussi une confusion fréquente entre types et genres textuels, comme si les types ont contribué à la création de genres, quand ils sont seulement une partie de la caractérisation de sa composition. Ce projet est préoccupé par la notion de genres, car on estime que le travail avec des textes appartenant à différentes sphères d’action — académique, journalistique, littéraire — offre aux étudiants plus de répertoire pour comprendre les limites ténues des genres. L’amélioration des conditions de lecture fournit donc l’amélioration des techniques d’écriture. Même si les frontières entre les genres de discours sont abstraites, on peut identifier leurs différences à partir de la présence d’un énonciataire presuposé dans l’énonciation: le lecteur prevu pour chaque situation de communication qui est aussi un coenunciador et qui maintient ses attentes pour les genres discursifs parce que la scène énonciative supposé pour chaque type d’énoncé et des sphères d’action dans lesquelles cette énoncé circule. Avec cette proposition, les classes de lecture et la production de textes devraient fournir aux étudiants la possibilité de se déplacer entre les genres avec flexibilité et efficacité. 1. Trajetória de pesquisa Nossa trajetória de pesquisa acadêmica teve início durante a graduação em Letras na UNESP/Araraquara, quando estudamos os romances policiais mais vendidos no Brasil na década de 1970 em pesquisa de iniciação científica financiada pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). A partir do levantamento, realizado por Cortina (2006), das listas dos livros mais vendidos no Brasil publicadas no Jornal do Brasil, selecionamos os vinte e seis romances policiais mais vendidos nesse período, que denominamos de “tradicionais”. A autora principal entre as obras do corpus era Agatha Christie, também conhecida mundialmente como “dama do crime”, e o modelo de narrativa policial era aquele que havia se consagrado no século XIX a partir de três contos policiais de Edgar Allan Poe (1999): “Os crimes da rua Morgue” (1841), “O mistério de Marie Roget” (1842) e “A carta roubada” (1845). Sob a perspectiva da semiótica discursiva, de origem greimasiana, analisamos os percursos narrativos realizados pelossujeitos do fazer detetive e criminoso a fim de verificar se as sanções recebidas pelo criminoso eram do tipo cognitivo (reconhecimento da culpa) ou pragmático (punição pela política ou pela justiça). 24 Em pesquisa posterior (de mestrado), que também contou com o apoio da FAPESP, demos continuidade ao estudo dos romances policiais selecionando aqueles que tinham sido mais vendidos no Brasil de 2000 a 2007, os quais chamamos de “romances policiais contemporâneos”. Nosso objetivo era verificar quais tinham sido as manutenções, transgressões e inovações do gênero policial (Massi, 2011) a partir da comparação desse corpus com os “romances policiais tradicionais” anteriormente estudados e com o modelo de Poe. Após a análise semiótica dos vinte e dois livros selecionados, dividimos os “romances policiais contemporâneos” em três categorias temáticas de acordo com o distanciamento que mantinham em relação ao que era esperado para o gênero policial: 1) misticismo e religiosidade, 2) temáticas sociais e 3) thrillers. Nesse momento, consideramos a proposta de Todorov (1978) de que os gêneros correspondem às expectativas dos leitores e aos modelos de previsibilidade dos autores. O primeiro grupo, misticismo e religiosidade, era o que mais transgredia as regras do gênero policial e, por isso, tornou-se alvo de outro trabalho. Para a pesquisa de doutorado, ampliamos o corpus dos romances policiais que apresentavam misticismo e religiosidade em seus enredos para o período de 1980 a 2009 e conseguimos, novamente, financiamento da FAPESP para a idealização desse projeto. Nesse período, encontramos sete obras, de cinco autores diferentes, as quais denominamos de “romances policiais místico-religiosos”. Ainda sob o embasamento teórico da semiótica discursiva, verificamos que os elementos presentes no nível discursivo do percurso gerativo de sentido (temas e figuras) provocavam alterações tanto no nível fundamental quanto no nível narrativo. Com isso, optamos por caracterizar essas obras como subgênero do romance policial. Desse percurso acadêmico, a configuração dos gêneros foi o que mais nos inquietou: como classificar os textos em gêneros? Como identificar os gêneros? Quais são os limites dos gêneros? Como se dá a transgressão de um gênero? Como e por que um gênero se transforma? Foi em busca dessas e de outras respostas que esta pesquisa surgiu, tendo em vista, agora, os gêneros textuais que circulam na esfera acadêmica. 2. Gêneros discursivos/textuais O trabalho desenvolvido por Mikhail Bakhtin foi utilizado como uma das bases teóricas desta pesquisa, tendo em vista sua relevância para a discussão sobre gêneros do discurso. Os estudos bakhtinianos se centram no discurso e na filosofia da linguagem e são retomados por muitos autores quando querem discutir os gêneros discursivos. O capítulo “Os gêneros do discurso”, da obra Estética da criação verbal, em que teve início a definição dos gêneros, foi encontrado em arquivos dos anos 1952-1953 e fazia parte de um estudo mais abrangente, abandonado por Bakhtin, cujo título era: “O problema dos gêneros do discurso” (Faraco, 2009, p. 124). No Brasil, esse texto só foi traduzido no ano de 1992. 25 A principal questão apresentada por Bakhtin foi a determinação dos gêneros do discurso a partir de três elementos: conteúdo temático, estilo e construção composicional. Esses elementos se encontram no todo do enunciado e são marcados pela especificidade das esferas de comunicação. Dessa forma, os gêneros do discurso constituem-se como “tipos relativamente estáveis de enunciados” (Bakhtin, 1992, p. 279). Bakhtin considera a dificuldade de delimitar os traços de cada gênero por conta das heterogeneidades do discurso, de forma que a abstração dos conceitos mostra-se bastante eficiente. Indiscutível para Bakhtin é a separação entre os gêneros do discurso primários e os gêneros do discurso secundários. Os primários são considerados mais simples e se tornam componentes dos gêneros secundários, tais como o romance, o teatro, o discurso científico, o discurso ideológico etc., que “aparecem em circunstâncias de uma comunicação cultural mais complexa e relativamente mais evoluída, principalmente escrita: artística, científica, sociopolítica” (Bakhtin, 1992, p. 281). No que diz respeito à estilística, Bakhtin considera que todo estilo se liga a tipos de enunciados, a gêneros do discurso. Uma vez que o enunciado é um ato individual, nele se encontra um estilo individual, que forma um conjunto de sentido com outros enunciados quando compõem um gênero, configurando, portanto, o estilo de um gênero discursivo. O trabalho de Marcuschi (2010) também foi extremamente importante para este trabalho, visto que esse autor discute os conceitos de Bakhtin de forma mais didática, concreta e acessível àqueles que não são estudiosos da filosofia da linguagem. Marcuschi trabalha com o conceito de “gêneros textuais”, em vez de “gêneros discursivos”, assim como muitos outros pesquisadores do gênero. Também por isso, a conceituação desse autor facilita o trabalho em sala de aula, visto que leva em conta a materialização dos discursos em textos. O surgimento de novos gêneros textuais, para Marcuschi, advém do uso intensificado de determinados suportes e suas interferências no cotidiano dos usuários. Os grandes suportes tecnológicos surgidos nos últimos séculos deram origem a novos gêneros textuais, como o e-mail, os chats, as postagens nas redes sociais (Twitter, Facebook) etc. Entretanto, não se pode desprezar a contaminação de um gênero em outro ao longo do tempo, que pode ser visualizada nas características das cartas e dos bilhetes que se manifestam nos e-mails, por exemplo. Tal hibridismo dos gêneros textuais também descarta a visão dicotômica de alguns manuais de ensino de língua portuguesa que separam a oralidade da escrita, visto que um gênero oral pode ser também escrito, como as orações. Embora não despreze a forma, Marcuschi destaca que não se pode definir os gêneros textuais apenas por seus aspectos formais, pois é necessário considerar-se, também, suas funções e seus suportes. A respeito do artigo científico — um dos gêneros trabalhados nesta pesquisa — o autor afirma que o mesmo texto pode aparecer em outro suporte, que não uma revista científica, e ser considerado um “artigo de divulgação científica”. Esse processo de transposição de um texto para outro suporte, 26 dando origem a outro gênero, foi percebido pelos alunos que fizeram parte desta pesquisa e será discutido na seção 3.2.1. Outra grande contribuição dos estudos sobre gêneros textuais é a distinção entre eles e os tipos textuais, que também não são determinantes para a constituição dos gêneros, embora sirvam para caracterizá-los. Mesmo havendo divergências, grande parte dos autores destacam cinco tipos textuais: narração, argumentação, exposição, descrição e injunção. Assim como a tipologia textual, a noção de domínio discursivo foi utilizada nesta pesquisa para trabalharmos com gêneros acadêmicos, ou seja, gêneros que circulam na esfera de produção científica, acadêmica. Essa esfera, assim como a religiosa, jurídica, jornalística, engloba práticas discursivas bastante específicas, dentro das quais podemos identificar um conjunto de gêneros textuais: artigo científico, resumo/ fichamento, resenha acadêmica, trabalho de conclusão de curso, dissertação, tese, seminário, comunicação, parecer, entre outros. 3. Experimentação em sala de aula Partindo das inquietações provenientes de nosso percurso acadêmico e das conceituações teóricas de gêneros discursivos e gêneros textuais, já apresentadas neste texto, trataremos agora da aplicação prática desta pesquisa, que é apresentada neste texto com um caráter acentuado de relato de experiência. O espaço em que este trabalho surgiu e se desenvolveu foram aulas ministradasno ensino superior nas seguintes disciplinas: Leitura e produção de textos I e II, Metodologia do texto científico e Comunicação e expressão. Tais disciplinas foram trabalhadas em duas universidades públicas, a UNESP/Araraquara e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), nos cursos de Administração Pública, Biologia, Educação Física, Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia, Engenharia da Computação, Estatística, Filosofia e Letras. A maioria dos alunos que foram alvo deste trabalho estava no primeiro ano da graduação, boa parte estava no segundo, mas havia, ainda, turmas mistas, com alunos de todos os anos, incluindo aqueles que já haviam sido reprovados nessas disciplinas e que estavam no último ano da graduação. A escolha por trabalhar com o conceito de gêneros nessas aulas deveu-se, sobretudo, à resistência de muitos alunos a “aprender a escrever” no ensino superior — tarefa da qual eles imaginavam que estariam livres quando saíssem da escola. Esse problema acomete os cursos da área de exatas e biológicas — escolhidos, entre outros motivos, pela ausência de práticas de leitura e escrita ao longo da graduação — e alguns cursos de humanas. Os alunos de humanas, em geral, já se sentem preparados para ler e produzir textos em nível superior — embora a realidade não seja essa —, ao passo que os alunos de exatas e biológicas não vêm sentido nessas disciplinas devido ao fato de não terem “obrigação” de escrever muito ao longo do curso. Ao longo desta pesquisa, constatamos que quanto maior a resistência às práticas de leitura e 27 escrita, maiores são as dificuldades dos alunos, embora elas não sejam reconhecidas por eles. Para romper esse pré-conceito, que interfere diretamente no processo de ensino- aprendizagem, e incentivar a leitura e a produção de textos, optamos por trabalhar com gêneros da esfera acadêmica que, teoricamente, fazem parte do repertório sociocultural desses alunos ao longo da graduação, mesmo para aqueles que não pretendem seguir carreira acadêmica. Ao longo do curso, trabalhamos com resumos/fichamentos, artigos científicos, resenhas acadêmicas, dissertações, teses, monografias e seminários, mas privilegiamos os três primeiros para apresentar neste trabalho. 3.1 Aspectos constitutivos dos gêneros acadêmicos Para dar início ao estudos dos gêneros acadêmicos, fizemos uma breve discussão teórica sobre os conceitos de gênero discursivo e gênero textual em sala de aula. Nesse momento, constatamos a enorme dificuldade dos alunos em reconhecer a existência de alguns gêneros e compreender suas especificadas. A fim de trabalhar com os três gêneros acadêmicos escolhidos, o artigo científico, a resenha e o resumo/fichamento, elegemos alguns aspectos constitutivos dos gêneros para que fossem observados pelos alunos tanto nas atividades de leitura quanto nas atividades de produção textual. São eles: Estrutura – que inclui aspectos formais como extensão, disposição, linguagem, normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas); Origem – como e por que surge; Objetivo – para que serve; Autor – quem escreve; Leitor – a quem se dirige, quem é seu público-alvo; Condições de produção – como, quando e onde é produzido; Suporte – por onde esse gênero circula. Além disso, não pudemos desprezar o estudo tanto da leitura quanto da escrita dos tipos textuais. Nas atividades propostas, os alunos deveriam identificar quais tipos apareciam em determinados gêneros, mas também imaginar (e explicar) por que alguns tipos não poderiam se manifestar em alguns gêneros. 3.2 Atividades propostas Focalizando o estudo dos três gêneros acadêmicos selecionados, as atividades propostas vislumbravam um percurso cíclico entre eles, a fim de mostrar as marcas 28 que um gênero deixava em outro e como eles se dispunham na esfera acadêmica. Isso incluía a identificação, por exemplo, do resumo na resenha acadêmica e no artigo científico, reconhecendo as diferenças entre textos pertencentes ao mesmo gênero e procurando responder alguns questionamentos: o que difere o resumo do artigo científico do resumo que aparece na superfície textual da resenha? O que difere a resenha do resumo? É possível inserir a resenha e o resumo de textos no artigo científico? Para dar início ao trabalho, os alunos deveriam escolher um artigo científico de sua área, a partir do qual iriam elaborar, posteriormente, o resumo/fichamento e a resenha acadêmica. Os alunos foram orientados a procurar os textos dentro de revistas científicas on-line e, por isso, apresentamos previamente os critérios utilizados pela CAPES (Coordenadoria de Pessoal de Nível Superior) para o estabelecimento do Qualis periódicos e explicamos sua importância para as produções acadêmicas. O insucesso do trabalho de busca realizado por alguns alunos antecipou uma das atividades programadas: a identificação dos aspectos formais dos artigos científicos. Visto que as turmas possuíam, em média, quarenta alunos, começamos a enumerar as características estruturais dos artigos que estavam adequados a fim de auxiliar os alunos que haviam trazido reportagens, matérias jornalísticas, artigos de opinião ou outros gêneros do discurso jornalístico. Nesse momento, também foi interessante discutir o que poderia haver em comum entre, por exemplo, uma matéria de jornal e um artigo científico. Muitos alunos identificaram o processo de produção dos textos após a realização de uma pesquisa como uma semelhança. Após a escolha do artigo científico, os discentes deveriam ler o material (em formato impresso ou digital) e, se julgassem adequado, poderiam destacar os trechos mais relevantes. Porém, antes de iniciar a leitura do texto completo, os alunos foram orientados a ler o resumo dos artigos e identificar, ali, os elementos de pesquisa como tema, problema, objetivos, justificativas, embasamento teórico, hipóteses, resultados, conclusões etc. Com isso, seria mais fácil compreender a leitura do artigo como um todo e, principalmente, perceber que se tratava de um recorte de uma pesquisa científica mais ampla, em desenvolvimento ou já concluída. A terceira atividade proposta (após seleção e leitura do artigo) foi a elaboração de um resumo ou fichamento do artigo lido. Para isso, discutimos as características do gênero resumo acadêmico em suas diversas possibilidades (que serão explanadas na próxima seção), a partir do trabalho de Machado et al. (2004b). Em seguida, foram lidas resenhas acadêmicas e resenhas críticas para que se pudesse compreender a constituição desse gênero dentro e fora da esfera científica (Machado et al., 2004a; Goldstein, 2009). Curiosamente, alguns alunos afirmaram que esse era seu primeiro contato com tal gênero, que também foi confundido com o comentário e o artigo de opinião. Tendo feito uma leitura aprofundada do artigo científico escolhido e apresentado seu tema para os colegas e o professor, os alunos elaboraram uma resenha acadêmica 29 em que deveriam decidir se indicariam ou não aquela leitura aos demais, sempre justificando suas escolhas. Nas seções seguintes, apresentaremos os resultados provenientes dessas atividades que colaboraram para uma descrição topológica dos gêneros acadêmicos estudados. Acreditamos que o estudo comparativo desses três gêneros contribuiu para a distinção e identificação de suas particularidades e generalidades. 3.2.1 Artigo científico, resumo/fichamento e resenha acadêmica Após a realização das atividades descritas na seção anterior, procuramos depreender os sete elementos apresentados como aspectos constitutivos dos gêneros (estrutura, origem, objetivo, autor, leitor, condições de produção e suporte) em cada um dos três gêneros acadêmicos estudados. Começaremos essa seção pela apresentação das características que os alunos atribuíram ao artigo científico, visto que esse gênero deu origemà produção textual tanto do resumo quanto da resenha acadêmica. Primeiramente, foi necessário esclarecer que a leitura de um artigo científico, especificamente, não é um requisito necessário à constituição de resumos e resenhas acadêmicos, mas que o processo de leitura aprofundada do objeto a ser resumido ou resenhado é fundamental para a elaboração desses gêneros. Como já dissemos, quando descrevemos o processo de busca dos artigos científicos realizado pelos alunos, o suporte no qual o artigo científico se insere é a revista científica. Esse suporte, assim como todos os outros, interfere significativamente na constituição do gênero, visto que determina sua estrutura e suas condições de produção. As condições de produção identificadas pelos alunos nos artigos científicos incluíam o espaço limitado pela revista (em palavras, caracteres ou páginas); o tempo para produção, que compreende o momento em que a revista divulga a chamada para publicação e o prazo que ela estabelece para receber os trabalhos, e o tempo determinado para publicação, que compreende o período entre o envio do artigo pelo autor, a avaliação pelos pares, a decisão do editor, a editoração do texto e, enfim, a publicação. Esse último aspecto foi bastante questionado pelos alunos, pois em alguns artigos havia as datas de envio, aceite e publicação e alguns intervalos chegavam a doze meses. Em relação à estrutura do artigo, foram destacados: os títulos longos; os títulos em língua estrangeira; a identificação dos autores, dos orientadores, da universidade, da agência de fomento, do grupo de pesquisa; a presença dos resumos em língua portuguesa e em língua estrangeira; a divisão do texto em seções, que podem ou não corresponder aos elementos de pesquisa (objetivos, justificativa, resultados etc.); a presença ou ausência da maneira adequada de citação do artigo; a presença ou ausência do link para download, que aparece no rodapé da página, e, por fim, as datas de recebimento, aceite e publicação, que já foram comentadas. 30 A origem dos artigos científicos foi determinada, pelos alunos, como uma pesquisa científica (em nível de graduação, pós-graduação ou pesquisa). Em alguns artigos, os próprios autores indicavam a origem do texto apresentado e outros foram identificados quando os alunos tiveram acesso a um dos trabalhos acadêmicos elaborados por aquele autor (a tese, por exemplo) e puderam perceber que o artigo lido era um dos capítulos daquele trabalho, em forma idêntica ou com pequenas alterações. Havia ainda casos em que os artigos pareciam ou afirmavam terem sido produzidos por uma demanda externa, seja do grupo de pesquisa do qual os autores faziam parte, do orientador da pesquisa ou da própria temática da revista, que estimulou o autor a produzir aquele artigo. Nesse sentido, os alunos tiveram facilidade em identificar a objetivo do artigo científico, que está diretamente vinculado à sua origem. Trata-se da divulgação científica de uma pesquisa acadêmica. A divulgação é também o objetivo de outros gêneros da esfera acadêmica, que inclui a publicação das dissertações e teses, por exemplo. Também foi levantada, como objetivo do artigo científico, a exigência das agências de fomento ou das instituições de que seus membros tenham uma quantidade significativa de publicações por ano ou triênio. Alguns alunos questionaram, inclusive, a valorização da quantidade em detrimento da qualidade, que dá origem a artigos científicos mal escritos ou pouco significativos para a área de pesquisa. O autor do artigo científico foi identificado, entre os exemplares estudados, em três vertentes: um único pesquisador, o que é mais comum na área de humanas e menos comum nas demais; mais de um pesquisador, que geralmente inclui o orientado e orientador, e um grupo de pesquisa, que aparece em muitas publicações de pesquisas realizadas em laboratório, nas quais todos os membros do laboratório são responsáveis pela autoria do trabalho. Na outra ponta do artigo científico, encontra-se seu leitor que compreende, evidentemente, um público acadêmico, que tenha interesse por aquela área de pesquisa. Entretanto, consideramos importante mostrar aos alunos por quais leitores um artigo científico passa antes de chegar à publicação. Hierarquicamente, o coautor do trabalho, ou o orientador da pesquisa, será o primeiro leitor, que vai solicitar alterações, fazer comentários, críticas e sugestões. Em seguida, quando o artigo é enviado para publicação, os pareceristas da revista farão a leitura do trabalho e podem aprovar, negar ou aprovar com restrições a publicação, que devem ser seguidas pelo autor para que o processo de publicação tenha continuidade. Após decisão dos pareceristas, o trabalho ainda será lido pelo editor da revista, que deve acatar ou não os pareceres recebidos. Até esse momento, o autor ainda pode fazer alterações em seu trabalho desde que elas sejam exigidas por esses leitores. Enfim, quando o trabalho é publicado, não é mais possível alterá-lo ou tirá-lo de circulação, pois ele passa a ser propriedade da revista e pertence ao domínio de seus leitores. Em relação ao gênero resumo, foi necessário, inicialmente, refletir sobre as diferenças que ele apresenta com o fichamento. Em virtude de atividades desenvolvidas na escola, os graduandos parecem ter mais familiaridade com o resumo, que consideram 31 a “síntese das ideias fundamentais” de um determinado objeto, do que com o fichamento, que parece ser uma demanda exclusiva do ambiente universitário. Outro problema desses dois gêneros é sua diversidade em função da demanda dos professores, ou seja, os alunos alegam que cada professor faz determinadas solicitações e que parece não haver um roteiro para elaboração do resumo. Por conta de suas semelhanças e por acreditarmos em um possível emparelhamento desses gêneros, trabalhamos com a nomenclatura resumo/fichamento nesta pesquisa. Atendendo à demanda dos alunos, consideramos muito importante o levantamento dos aspectos constitutivos desses gêneros a fim de orientar sua elaboração. A estrutura do resumo/fichamento pode variar em parágrafo único, como o resumo que aparece nos artigos científicos; tópicos, que dispensam a necessidade de orações completas; seções, que correspondem às divisões estabelecidas no texto que está sendo resumido. A origem do resumo/fichamento relaciona-se diretamente a seu autor, isto é, pode ser o próprio texto, nos casos em que o autor faz seu resumo (como nos trabalhos acadêmicos em geral); outro texto, no qual o leitor prepara um fichamento de um texto alheio, ou, ainda, uma demanda externa, nos casos em que o professor solicita aos alunos a elaboração do resumo/fichamento de um livro. A partir de sua origem, pode-se também determinar o objetivo do resumo/fichamento: apresentar as ideias principais de seu texto ou mostrar para o leitor que determinado texto foi lido (como nos casos de demanda externa). Entre as condições de produção, os alunos conseguiram apresentar apenas uma, que é também a principal característica do gênero: o espaço limitado. Por fim, o suporte em que os resumos/fichamentos aparecem compreendem o trabalho acadêmico, a revista científica, o livro e, inclusive, a resenha, que pode apresentar um pequeno resumo de seu objeto. Diferentemente do resumo, a resenha se caracteriza estruturalmente como um texto autônomo, que contém resumos e comentários e no qual aparecem diferentes vozes (do autor do texto objeto, do autor da resenha, de outros autores, do senso comum). O trabalho de intercalação das vozes que aparecem na resenha representou uma enorme dificuldade dos alunos e é um dos maiores problemas de leitura e compreensão da resenha, já que é preciso saber quais trechos são resumos e quais são comentários feitos pelo autor da resenha. A identificação desses trechos foi uma das atividades queauxiliou os alunos a compreender melhor o jogo de vozes característico desse e de outros gêneros acadêmicos. A resenha acadêmica é sempre produzida a partir de outro texto, seja ele um artigo científico, um livro, uma tese etc. e, assim como o resumo, pode ser elaborada por uma demanda externa, por exemplo, do professor. O objetivo principal da resenha é informar e opinar sobre um determinado objeto. Por isso, seu autor é, preferencialmente, um especialista ou um pesquisador da área. 32 Seu leitor também pode ser um pesquisador em busca de opiniões e indicações de leitura. Na atividade realizada em classe, os leitores eram os colegas, que também haviam produzido uma resenha e deveriam avaliar não apenas a produção do trabalho, mas também o efeito que ela produzia no leitor: instigou ou desestimulou a leitura? Assim como o resumo, a resenha tem um espaço limitado de produção e pode aparecer em revistas científicas ou trabalhos acadêmicos. 4. Considerações finais Essa pesquisa nos trouxe resultados bastante satisfatórios que puderam sair do campo teórico e adentrar a prática de sala de aula em nível superior com os principais gêneros acadêmicos utilizados ao longo da graduação. Acreditamos que a compreensão dos gêneros como práticas sociais, como “tipos relativamente estáveis de enunciados”, que circulam em determinadas esferas discursivas e que são reconhecidos e reconhecíveis por seus membros possibilitou uma melhora significativa no processo de ensino e aprendizagem dos gêneros acadêmicos. O reconhecimento dos elementos constitutivos do artigo científico, do resumo/ fichamento e da resenha acadêmica auxilia não apenas sua leitura e compreensão, mas também sua produção, já que o autor pode vislumbrar todo o contexto de produção do trabalho e suas implicações. Esse exercício só pode ocorrer se o aluno entrar em contato com os gêneros acadêmicos que precisa produzir. A leitura de textos considerados exemplares para o gênero é extremamente importante para a identificação de suas características, porém, não se pode menosprezar a leitura de trabalhos produzidos pelos próprios alunos, que servirão de experimento e aprendizado para produções futuras. Referências bibliográficas Bakhtin, M. (2011). Estética da criação verbal (6a ed.). (P. Bezerra, Trad.). São Paulo: WMF Martins. Cortina, A. (2006). Leitor contemporâneo: os livros mais vendidos no Brasil de 1966 a 2004. (Tese de Livre-docência). Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara. Faraco, C. A. (2009). Linguagem e diálogo: as ideias linguística do círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola. Goldstein, N. S. (2009). O texto sem mistério: leitura e escrita na universidade. São Paulo: Ática. Machado, A. R. (2010). Revisitando o conceito de resumos. In A. P. Dionisio, A. R. Machado & M. A. Bezerra (Orgs.), Gêneros textuais e ensino (pp. 149-162). São Paulo: Parábola. Machado, A. R., Lousada, E. G., & Abreu-Tardelli, L. S. (2004a). Resenha. São Paulo: Parábola. Machado, A. R., Lousada, E. G., & Abreu-Tardelli, L. S. (2004b). Resumo. São Paulo: Parábola. 33 Massi, F. (2010). A configuração dos romances policiais mais vendidos no Brasil de 2000 a 2009: canônica ou inovadora? (Dissertação de Mestrado). Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara. Massi, F. (2011). O romance policial do século XXI: manutenção, transgressão e inovação do gênero. São Paulo: Cultura Acadêmica. Massi, F. (2013). Os romances policiais místico-religiosos mais vendidos no Brasil de 1980 a 2009: Questões de narratividade e de actorialização (Tese de Doutorado). Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara. Marcuschi, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In A. P. Dionisio, A. R. Machado & M. A. Bezerra (Orgs.), Gêneros textuais e ensino (pp. 19-38). São Paulo: Parábola. Poe, E. A. P. (1999). Poemas e ensaios (3a ed.) (O. Mendes e M. Amado, Trads.). São Paulo: Globo. Todorov, T. 1978. Os gêneros do discurso. Portugal: Éditions Du Seuil. 34 Gêneros textuais e ensino: diálogos entre teorias de gênero em teses e dissertações da UFPE Genre and teaching: dialogue among genre theories in theses and dissertations of UFPE Amanda Cavalcante de Oliveira Lêdo & Renato Lira Pimentel Doutoranda em Letras-Linguística (CNPq/UFPE) Doutorando em Letras-Linguística (CNPq/UFPE) mandinhacavalcante@yahoo.com.br lira.pimentel88@yahoo.com.br Resumo No cenário brasileiro, os estudos de gêneros textuais se tornaram centrais nas últimas décadas, especialmente nas pesquisas voltadas para o ensino de línguas. O conceito de gênero pode ser compreendido à luz de diferentes perspectivas, que, na pesquisa brasileira de gêneros, aparecem isoladas, associadas entre si ou associadas com outras teorias (Bezerra, 2015), formando um quadro bastante heterogêneo. Apesar disso, alguns estudiosos fazem referência à “síntese brasileira” para descrever o conjunto de pesquisas desenvolvidas no contexto nacional (Bawarshi & Reiff, 2013). A presente proposta visa contribuir para oferecer um panorama dos estudos a respeito dos gêneros textuais, associados ao ensino, tendo em vista um contexto específico, a partir do levantamento das pesquisas realizadas no Programa de Pós- Graduação em Linguística da UFPE. Objetivamos investigar se há uma síntese brasileira nos estudos de gêneros textuais, conforme argumentam Bawarshi e Reiff (2013) e, se sim, de que natureza é essa síntese, tendo em vista as distinções do termo propostas por Bezerra (2015). O nosso corpus é composto por 15 teses e dissertações publicadas entre os anos de 2000-2015 que abordam a relação entre gêneros textuais e ensino. A análise é realizada a partir da leitura dos resumos e introduções desses trabalhos e, quando necessário, dos capítulos e/ou tópicos estritamente teóricos relacionados aos gêneros textuais. Os resultados mostram, entre outros aspectos, que Mikhail Bakhtin e Luiz Antônio Marcuschi são mencionados recorrentemente nos trabalhos, aparecendo como “consenso teórico”, e autores como Carolyn Miller e Charles Bazerman, representantes dos Estudos Retóricos de Gêneros, aparecem como centrais em grande parte dos trabalhos analisados, sozinhos ou associados com a teoria da multimodalidade, na linha de Gunther Kress e Theo van Leeuwen. Palavras-chave: Gêneros textuais; Síntese brasileira; Teorias de gênero. 35 Abstract In the Brazilian scenario, studies of genres became central in recent decades, especially in research for language teaching. The concept of genre can be understood from different perspectives, in Brazilian research of genre, appearing isolated, associated with each other or associated with other theories (Bezerra, 2015), forming a rather mixed picture. Nevertheless, some scholars refer to the “Brazilian synthesis” to describe the research developed at the national level set (Bawarshi & Reiff, 2013). This proposal aims to help provide an overview of studies on the genres associated with the teaching, with a view to a specific context, from a survey of research conducted at the Graduate Program in Linguistics from UFPE. We aimed to investigate whether there is a Brazilian synthesis studies of genres, as argued Bawarshi and Reiff (2013) and, if so, in what nature is this synthesis, in view of the distinctions of the term proposed by Bezerra (2015). Our corpus is composed of 15 theses and dissertations published between the years 2000-2015 that address the relationship between genres and education. The analysis is carried out from reading the abstracts and introductions of these works and, where necessary, of chapters and / or strictly theoretical topics related to the genres. The results suggest, among other things, that Mikhail Bakhtin and Luiz Antônio Marcuschi are mentioned repeatedly in the works,appearing as “theoretical consensus”, and the authors Carolyn Miller and Charles Bazerman, representatives of Rhetorical Genre Studies, appear as much in core of studies analyzed, alone or associated with the theory of multimodality, in line with Gunther Kress and Theo van Leeuwen. Keywords: Textual genres; Brazilian synthesis; Genres theories. 1. Introdução Nas últimas três décadas, os estudos sobre gêneros textuais vêm se desenvolvendo e se tornaram um tema central no âmbito da Linguística, especialmente nas pesquisas voltadas para o ensino de línguas. Um dos aspectos que possibilitou a disseminação e a apropriação desse conceito por parte do discurso pedagógico no contexto brasileiro foi sua inserção em documentos oficiais, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (Bezerra, 2014). A noção de gênero pode ser compreendida à luz de diferentes perspectivas teóricas. No cenário brasileiro, as diferentes abordagens sobre gêneros textuais podem aparecer isoladas, associadas entre si ou associadas com outras teorias (Bezerra, 2015), formando um quadro bastante heterogêneo. Apesar disso, alguns estudiosos fazem referência à “síntese brasileira” para descrever o conjunto de pesquisas desenvolvidas no contexto nacional (Bawarshi & Reiff, 2013). Embora a reflexão sobre a síntese brasileira seja recente, e, por isso, escassa, ela não se apresenta como consensual, sendo vista como simplificadora por alguns estudiosos, dada a diversidade que compõe a realidade de estudos nos diferentes centros de pesquisa 36 brasileiros (Bezerra, 2015). Mesmo com as investigações já realizadas, faz-se necessário aprofundar as pesquisas sobre o que vem sendo feito e como vêm sendo feitos os estudos sobre gêneros no cenário nacional, bem como em que consiste essa síntese brasileira. A presente proposta visa contribuir para a compreensão de algumas dessas questões, constituindo objetivos principais do nosso trabalho: (a) oferecer um panorama dos estudos a respeito dos gêneros textuais, associados ao ensino (básico e superior), tendo em vista um contexto específico, mais local, a partir do mapeamento das pesquisas realizadas no Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de Pernambuco nos últimos quinze anos; e, considerando essas pesquisas, (b) refletir a respeito do que se constituiria como síntese brasileira de gêneros. Para alcançar nossos objetivos, o presente trabalho está organizado da seguinte maneira: primeiramente, apresentamos um breve panorama das principais perspectivas teóricas sob as quais se desenvolvem os estudos sobre gêneros; em seguida, explicamos a hipótese da síntese brasileira dos estudos de gênero e as recentes discussões a seu respeito; por fim, procedemos à descrição e análise do nosso corpus, concluindo com as considerações finais. 2. Estudos de gêneros: perspectivas e desenvolvimento Os estudos sobre gênero textual no Brasil ganharam novo impulso a partir de sua inclusão nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) no fim da década de 1990, que, desde então, preconizam, entre outros aspectos, que o ensino de língua materna deve ser realizado a partir de variados gêneros. Embora o próprio documento difunda uma visão específica de gênero, associada à perspectiva do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD), essa não é a única possibilidade de compreender esse conceito, de forma que “[...] se hoje parece um bom senso teórico compartilhado pelos profissionais envolvidos com a pedagogia de língua materna no Brasil que ‘o texto [na forma de diferentes gêneros] deve estar em sala de aula’, esse consenso, muitas vezes, não nos permite perceber a pluralidade de abordagens que tal presença possibilita” (Silva & Bezerra, 2014, p. 44). Considerando os aspectos mencionados, dada a complexidade desse conceito, não é de causar espanto que não haja uma definição única do que seria gênero textual. Nesse sentido, é possível reconhecer distintas concepções de gênero, associadas a diferentes tradições ou escolas contemporâneas de estudos de gênero. Na literatura especializada, encontramos principalmente quatro abordagens: (i) a Linguística Sistêmico Funcional (LSF), também conhecida como Escola de Sidney; (ii) o Inglês para Fins Específicos (em inglês, ESP), também chamado de Escola Britânica; (iii) os Estudos Retóricos de Gênero (ERG), também conhecidos como Escola Americana ou Nova Retórica; e (iv) o Interacionismo Sociodiscursivo (ISD), também conhecido como Escola de Genebra. 37 As diferentes tradições de gêneros apresentam concepções distintas a respeito do próprio conceito de gênero, de uma maior ou menor preocupação com a aplicação do gênero para o ensino, entre outras questões que definem e modelam o delineamento teórico-metodológico e epistemológico de cada abordagem. A respeito dos conceitos de gênero, Simões (2012), baseado em Dell’Isola (2007), apresenta um panorama das definições de gênero postuladas por autores representativos das variadas tradições: Tabela 1: Panorama de conceitos de gêneros Fonte: Adaptada de Simões (2012, p. 3) 38 A tabela 1 permite visualizar esquematicamente as diferentes definições de gênero propostas por autores associados às distintas abordagens1. Em grande parte das definições, há em comum o reconhecimento do gênero como uma forma de agir e realizar ações através da linguagem. É possível perceber que cada definição se alinha com uma proposta de compreensão do conceito, com maior ou menor ênfase em aspectos discursivos, comunicativos, sociais ou contextuais. Contudo, vale ressaltar que se, por um lado, uma taxonomia dos conceitos de gênero e dos autores associados a cada abordagem apresenta aspectos positivos, como, por exemplo, uma maior sistematização dessas informações, por outro lado, a classificação desses modelos pode se revelar problemática, principalmente pelo caráter insuficiente, fechado e redutor inerente à natureza do ato de classificar. Nesse sentido, a heterogeneidade, as peculiaridades e os conflitos internos de cada abordagem são negligenciados. Esse aspecto pode ser percebido através da quantidade de tipologias e classificações existentes, além das flutuações entre a associação de uma determinada abordagem e/ou autor a mais de uma tradição, conforme pontuam Bezerra e Silva (2014) e Bezerra (2015). Este último exemplifica esse aspecto mencionando que, por exemplo, alguns autores utilizam a denominação sociorretórica com sentidos diferentes: para fazer referência à combinação das abordagens ESP e ERG, ou como sinônimo de ESP ou, ainda, como sinônimo de ERG (Bezerra, 2015, p. 1). Acreditamos que essas flutuações nas tipologias das tradições de estudo de gênero podem sugerir como essas abordagens estão sendo utilizadas a partir de diferentes combinações ou sínteses. O tópico seguinte é dedicado a tratar sobre a questão da síntese brasileira de gêneros. 3. Os estudos de gênero no contexto brasileiro e a síntese brasileira No contexto brasileiro, conforme explica Bezerra (2015), os estudos sobre gênero têm sido referidos no âmbito internacional principalmente como “síntese brasileira” com ênfase na aplicação pedagógica do ISD. Segundo Bawarshi e Reiff (2013, p. 256), a síntese brasileira ou o modelo educacional brasileiro consistiria em “uma abordagem pedagógica fundamentada na teoria do Interacionismo Sociodiscursivo e na tradição suíça de gêneros”. A discussão a respeito da pesquisa sobre gêneros realizada no Brasil relacionada à perspectiva de síntese ainda é escassa. Contudo, já há sinais de que essa temática está entrando na agenda dos pesquisadores brasileiros, tendo em vista os já mencionados estudos de Silva e Bezerra (2014) e Bezerra (2015) e o tema da VIII edição do Simpósio Internacional de Estudos de Gêneros Textuais (SIGET), principal evento 1 Não associamos os autores Bakhtin e Marcuschi a nenhuma
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