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507-P02
 A P R I L 1 2 , 2 0 0 7 
 
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Caso LACC # 507-P02 é a versão traduzida para Português do caso # 9-506-062 da HBS. Os casos da HBS são desenvolvidos somente como base 
para discussões em classe. Casos não devem servir como aprovação, fonte primária de dados ou informação, ou como ilustração de um 
gerenciamento eficaz ou ineficaz. 
 
Copyright 2007 President and Fellows of Harvard College. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada em um sistema 
de dados, usada em uma tabela de dados, ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio - eletrônico, mecânico, fotocopiada, gravada, 
ou qualquer outra - sem a permissão da Harvard Business School. 
R O H I T D E S H P A N D É 
R I C A R D O R E I S E N D E P I N H O 
A Aids no Brasil 
 
O preço pago pelo governo brasileiro para a compra do Kaletra, medicamento contra o HIV, representa um 
custo anual de US$ 2.630 por paciente. Esse preço é considerado exorbitante; estudos da Organização Mundial 
de Saúde já mostraram que o preço justo, incluindo uma margem de lucro considerável, deveria ficar em torno 
de US$ 480 a US$ 540 por paciente por ano, devido a sua produção em larga escala. 
—Humberto Costa, ex-ministro da Saúde do Brasil, em 27 de junho de 2005 i 
Temos o prazer de anunciar que chegamos a um acordo [com o governo brasileiro] que ampliou o acesso ao 
Kaletra para os pacientes brasileiros, preservando, ao mesmo tempo, nossos direitos de propriedade intelectual, 
os quais o Laboratório Abbott não se dispunha a negociar... Ao longo desse processo, sempre levamos em conta a 
importância do resultado desta questão, cujas implicações vão além da nossa empresa e do nosso setor, e dizem 
respeito a todos os inovadores. Estamos decididos a proteger os nossos direitos de propriedade intelectual, de 
forma a incentivar a inovação. 
—Melissa Brotz, porta-voz do Laboratório Abbott, 08 e 09 de julho de 2005ii 
Fui informado de que haveria um acordo [entre o Brasil e o Laboratório Abbott relativo ao custo do Kaletra], 
mas nunca encontrei qualquer documento oficial. 
—José Saraiva Felipe, ministro da Saúde do Brasil, em 13 de julho de 2005iii 
 
Em 13 de julho de 2005, poucos dias depois de ter sido apresentado como novo ministro da Saúde 
do Brasil, como parte de uma reforma do ministério promovida pelo presidente Luiz Inácio Lula da 
Silva, Saraiva Felipe anunciou que um acordo realizado alguns dias antes por seu antecessor, 
Humberto Costa, não era válido. 
Essa decisão pegou a indústria farmacêutica internacional de surpresa. O impacto financeiro para 
ambas as partes era muito elevado. Supõe-se que o Lopinavir/r, medicamento produzido pela Abbott 
e usado como base para o Kaletra, representa, sozinho, cerca de US$ 107 milhões, 1 ou seja, quase 27% 
do orçamento brasileiro para a importação de medicamentos contra a AIDS em 2005. 
O Laboratório Abbott, grande empresa farmacêutica americana, tinha concordado em abaixar o 
preço pago pelo governo brasileiro pelo Kaletra, medicamento que gera um faturamento de US$ 1 
bilhão por ano mundialmente. Foi um passo importante para encerrar uma disputa na qual o Brasil 
ameaçou emitir uma licença compulsória, violar patentes e produzir o medicamento em 
 
1 Salvo ressalva, o símbolo US$ representa dólares americanos e o símbolo R$ reais. Do
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507-P02 A Aids no Brasil 
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Farmanguinhos, o laboratório farmacêutico governamental no Rio de Janeiroiv. Um representante do 
laboratório americano assim resumiu a história e o custo comparativo do Kaletra: 
Mesmo antes desta [última] proposta, já tínhamos negociado com o governo brasileiro a 
redução do preço do Kaletra para cerca de US$ 2.600 por paciente por ano – menos da metade 
do preço pago nos países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, por exemplo, onde o preço é o 
mais elevado, o medicamento custa cerca de US$ 7.000 por ano... O preço que o Brasil paga 
pelo Kaletra já é menor do que em qualquer outro lugar, exceto na África e em outros países 
subdesenvolvidos, onde o laboratório pratica um preço subsidiado como parte de um 
programa humanitário.v 
No começo dos anos 1990, o Banco Mundial previa que até 2000 o HIV teria infectado 1,2 milhões 
de brasileiros. Pesquisadores e políticos observaram que devido à sua grande população, 
desigualdade de renda, grande massa de analfabetos funcionais, pobreza e mobilidade, a população 
brasileira seria altamente suscetível ao vírus. Mas em 2005, cinco anos mais tarde, apenas 600 mil 
brasileiros – a metade do número previsto pelo Banco Mundial – era portadora do HIV. O Brasil foi 
considerado uma história de sucesso exemplar entre os países em desenvolvimento no que diz 
respeito ao controle da AIDS. Por meio de campanhas contínuas e explícitas sobre sexo seguro, da 
aquisição e distribuição gratuita de remédios contra a AIDS pelo governo, de uma decidida ação de 
voluntários empenhados na campanha, e da gestão cautelosa dos custos de saúde, o Brasil conseguiu 
manter a disseminação das infecções por HIV em níveis semelhantes aos da Europa Ocidental.vi 
Mesmo assim, citando preocupações humanitárias e o seu status de país "em desenvolvimento", 
economicamente atrasado, o governo brasileiro invocou o direito legal de ignorar as patentes 
farmacêuticas do Laboratório Abbott e emitir uma licença compulsória para a fabricação do 
medicamento em seu laboratório governamental no Rio de Janeiro, caso o laboratório americano não 
abaixasse mais o preço de venda do Kaletravii. O Brasil argumentou que sob certas condições, a 
Organização Mundial do Comércio permite que governos declarem que certos medicamentos são 
uma necessidade nacional, e quebre patentes para produzir versões genéricas mais baratas. Na 
verdade, o Brasil tinha conseguido diminuir os preços das drogas antiretrovirais em 87%, em média, 
no período de 1996 a 2002. Contudo, certos críticos disseram que dificilmente o Brasil poderia ser 
considerado um país em crise, apontando para o rápido crescimento da sua economia e o baixo índice 
de propagação da Aids. 
 
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A Aids no Brasil 507-P02 
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Anexo 1 Custo Médio da Terapia com Antiretrovirais por Paciente/Ano no Brasil (US$) 
6.240
5.486
4.603
3.464
2.210
1.500 1.359 1.336
2.500
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005a
 
Fonte: Ministério da Saúde do Brasil – Programa Nacional de DST/AIDS 
a Dados de 2005 sujeitos a revisão. 
 
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Anexo 2 Gasto Total em Drogas Antiretrovirais e Número Médio de Pacientes em Terapia 
Antiretroviral no Brasil 
 
224
305
336
303
232
179 181
203
395
0
100
200
300
400
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005a
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Total ExpenditureNumber of Patients
 
Fonte: Ministério da Saúde do Brasil – Programa Nacional de DST/AIDS 
a Dados de 2005 sujeitos a revisão 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gasto Total Número de pacientes
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A Aids no Brasil 507-P02 
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Notas Finais 
 
 
i “Brazil seeks to halve cost of AIDS drug made by Abbott with patent move” ("O Brasil busca cortar pela 
metade o preço da droga contra a AIDS fabricada pelo laboratório Abbott com quebra de patente"), AFX Asia, 27 
de junho de 2005, disponível em Factiva, acessado em 30 de agosto de 2005. 
ii “Abbott Lowers Price of Antiretroviral Kaletra in Brazil; Government Drops Threat to Break Patent” 
(“Abbott abaixa o preço do Antiretroviral Kaletra no Brasil; governo desiste da ameaça de quebrar a patente”, 
The Body, 11 de julho de 2005, disponível em 
http://www.thebody.com/kaiser/2005/jul11_05/abbott_brazil.html?m106o>, acessado em 30 de Agosto de 
2005. 
iii Adaptado do artigo de Luciana Constantino, “Sob nova direção”, Folha de São Paulo, 13 de julho de 2005, 
disponível em português. 
iv Todd Benson, “Brazil and US Maker Reach Deal on Aids Drug” (“Brasil e fabricante americano chegam a 
acordo quanto a medicamento para a Aids”), New York Times, 11 de julho de 2005, 
v Adaptado do artigo de Bruce Japsen, “Abbott cuts price Brazil pays for AIDS drug Kaletra” (“Abbott reduz 
o preço que Brasil paga por Kaletra, medicamento contra a AIDS”), Chicago Tribune, 9 de julho de 2005, 
disponível em www.chicagotribune.com, acessado em 30 de agosto de 2005. 
vi “AIDS in Brazil - Roll out, roll out”, The Economist, p. 72, 30 de julho de 2005. 
vii Todd Benson, “Brazil and US Maker Reach Deal on Aids Drug” (“Brasil e farmacêutica americana chegam 
a acordo sobre medicamento contra a Aids”), New York Times, 11 de julho de 2005 
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