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Breve Panorama sobre a Formação Histórica das Línguas Românicas Profa. Bárbara Bezerra de Santana Pereira LATIM Originariamente... • Língua falada no Latium, região da Itália Central; • Língua de camponeses e pastores; • Concreta, sem refinamento de qualquer espécie; • Pertencente à família indo-europeia. Indo-europeu Grupo Kentum Latim Osco Samnita Sabélico Volsco Umbro Falisco “Quando os romanos começaram a se projetar, a Itália era um mosaico de raças” (BASSETTO, 2005, p. 88) Variedades do Latim • Sermo urbanus Sermo rusticus • Sermo plebeius Sermo castrensis Sermo peregrinus • Sermo litterarius (BASSETTO, 2005, P. 91) LATIM VULGAR Características e fontes • Cumpre também ressaltar que esse latim de que as línguas românicas são continuações históricas tem um aspecto bastante diverso daquela língua polida e requintada, que se deveria aprender nos ginásios e colégios, aquela língua de Cícero, Virgílio, Horácio, Catulo, etc. O latim ponto de partida dos idiomas românicos é o latim vulgar, ou, por melhor nome, o latim coloquial, isto é, a língua viva entre o povo romano e povos romanizados, língua instrumento de comunicação diária, com finalidades práticas e imediatas. • (MELLO, 1951, p. 99-100) • Da exposição que acabamos de fazer acerca da diferenciação local e temporal do latim vulgar, verifica-se que ele não é uma língua, mas antes uma concepção que compreende os falares mais diversos. Um camponês romano do século III a.C. falava de maneira muito diferente da de um camponês gaulês do século III d.C. e, não obstante, ambos falavam latim vulgar. • (AUERBACH, 1972, p.48). • Também a fala cotidiana das pessoas cultas não alcançou o nível gramatical e retórico da língua literária. Assim encontra-se abaixo da língua escrita uma variedade de fala mais ou menos vulgares. • (LAUSBERG, 1974, 48-49). Latim Vulgar: características (Em comparação com o Latim Clássico) Mais simples em todos o níveis: Fonética: perda da quantidade vocálica; redução de 10 para 7, 6 ou 5 vogais. • L. C.: i i e e a a o o u u • L. V.: i e ε a o o u Na morfologia Diminuição do número de declinações: Queda do neutro; Simplificação de alguns demonstrativos; Simplificação dos Indefinidos. Morfologia Numerais • Conhece-se apenas os cardinais, dos outros tipos encontram-se poucos vestígios. • Ocorre a uniformização: LATIM CLÁSSICO LATIM VULGAR 18 = duodeviginti 18 = decem et octo 19 = undevigint 19 = decem et novem Sintaxe • O L. V. não faz distinção entre non e ne nas negações; • Uso da preposição de generalizou-se e substituiu ab e ex; • Ordem das palavras na oração e na construção do período. Características • Mais analítico • Mais concreto • Mais expressivo • Mais passível a elementos estrangeiros Fontes do Latim Vulgar • As Línguas Românicas • Fontes escritas • (BASSETO, 2005) Paredes de Pompeia Inscrições parietais • “Corpus Inscriptionum Latinarum” (1862); • Inscrições de Pompeia e Herculano: Ex:“Quisquis ama, valia, peria qui nosci amare!” “Viva todo aquele que ama, morra aquele que não sabe amar!” LATIM VULGAR LATIM CLÁSSICO ama amat valia valeat peria pereat • Mural de Pompeia em "sequência": na primeira imagem dois clientes de uma taberna brigam por causa de jogo; na segunda imagem continuam a discutir, enquanto o dono da taberna grita: "Se vocês estão querendo briga, vão brigar lá fora!" • “Te rogo que infernales partes tenes, conmedo tibi Iulia Faustilla, Marii filia, ut eam cele rius abducas infernalis partibus in numeru tu abias” • “Rogo a ti, que dominas as regiões infernais, encomedo-te Júlia Faustila, filha de Mário, para que a leves para baixo o mais rapidamente possível para as regiões do inferno e a conserve no número dos teus.” LATIM VULGAR LATIM CLÁSSICO abia habias Iulia (acu) Iuliam Fautilla(acu) Faustillam Tabellae defixionum Tábuas execratórias Inscrições tumulares • “In oh tumolo regiescet in pace bone memorie Leo vixet annus XXXXXII transiet nono Ids Ohtuberes.” • “Neste túmulo, Leo descansa em paz da boa memória; viveu 52 anos; faleceu no nono dia de outubro.” LATIM VULGAR LATIM CLÁSSICO oh hoc Ohtuberes Octobres Annus Annos XXXXXII LII Papiros antigos “Corpus Papyrorum Latinarum” – Cavenaile Gramáticos e mestres da retórica • Varrão, Quintiliano, Cícero. • “Appendix Probi” (calida non calda) • Tratados técnicos • Relatos de peregrinação • Notas tironanas • Textos latino tardios a) Satyricon b) Testamentum Porcelli c) Tabelae Albertini • Textos cristãos a) Vetus Latina b) A Vulgata • Glossários a) De Reichenau b) De Kassel c) Do Vaticano d) Pseuo-Izidoriano e) Glossas Emilianenses f) Hermeneumate Domínio dos romanos Latinização Domínio dos romanos • 500 a.C.= expulsam os etruscos, implantam a República; • 275 a. C. = encerra-se a 1ª fase da expansão de Roma, domínio abrange a Itália desde a Sicília até a planície do Pó; • 272 a. C.= todo o território da Itália; Domínio dos romanos • 269-241 a.C.= 1ª Guerra Púnica - estabelecimento da Sicília e Sardenha; 238 a. C.= Córsega; • (218-201) a. C.= 2ª Guerra Púnica (218-201) Roma domina as primeiras colônias não-italianas. Na Ibéria (Bética - Andaluzia) e Terraconense (Castela, Múrcia e Valência); • 149-146 a. C.= 3ª Guerra Púnica -destruição de Cartago e conquista do norte da África. Domínio dos romanos • 197 a. C. = Incorpora a Hispânia; • 167 a. C = Grécia; • 129 a. C = Ásia Menor; • 120 a. C. = Gália Narbonensis; • 81 a. C.= Gália Cisalpina; • 51 a. C. Gália Transalpina; • 30 a. C = Egito • 15 a. C. = Récia e Nórico; Domínio dos romanos depois de Cristo • 10 d. C. = Panônia; • 17 d. C. = Capadócia; • 43 d. C. = Britânia; • 107 d. C. = Dácia; • 114 a 117 d.C. = Arábia do Norte, Armênia, Assíria e a Mesopotâmia. EXTENSÃO MÁXIMA DO IMPÉRIO ROMANO COM 301 PROVÍNCIAS • A estratégica posição da cidade, no coração do Lácio e de toda a península, facilitou a consolidação da cidade como potência emergente; com hábeis alianças e também guerras. • A latinização não teve a mesma profundidade em todas as províncias. • Dentro deste vasto território, o latim era a língua dos dominadores. Em contato com tantos idiomas diversos o latim influenciou-os e foi por eles influenciados. LATINIZAÇÃO • Latinização ou romanização é a assimilação cultural e linguística dos povos incorporados ao universo da civilização latina. O fato de tantos povos de língua, raça e cultura diferentes terem adotado a língua e, pelo menos em parte, a civilização dos vencedores é um fenômeno único na história da humanidade. (BASSETO, 2005, p.103) • Se Roma não impunha sua língua nem cerceava o livre uso dos idiomas nativos, a latinização só poderia concretizar-se indiretamente. O principais fatores foram: • O exército romano; • Colônias militares; • Colônias civis;• Administração romana; • Obras públicas; • Comércio. A fragmentação da românia • O vasto Império Romano sempre esteve ameaçado por causas tanto internas quanto externas e só com muita luta e grande esforço sua existência foi prolongada por alguns séculos, após os primeiros indícios de decadência no séc. III d. C. Causas da decadência Causas internas Despovoamento do império Empobrecimento e impostos Decadência militar Causas externas: As invasões Os vândalos Os godos Os francos Os lombardos Os alamanos Os eslavos Os árabes A formação das línguas românicas • ... a latinização não foi uniforme em todas as partes do Império Romano... as línguas românicas vão surgir e se desenvolver nas províncias em que a latinização tinha lançado raízes mais profundas e resistentes a mudanças políticas e sociais, bem como a intermináveis guerras e invasões. Etapas do processo de evolução do latim vulgar para as línguas e dialetos românicos • Fase de bilinguismo • Substrato • Superstrato • Adstrato Fase de bilinguismo • Subjugado um povo de língua diferente e ocupado seu território, segue-se um fase de bilinguismo, em que dominadores e dominados continuam a usar seu próprio idioma por período de tempo muito variável, sobretudo se não houver disposição do dominador de impor ao dominado sua própria língua, como aconteceu com os romanos. • Não é comum a manutenção do biliguismo. • A língua de maior prestígio cultural e político tende a se impor naturalmente sobre a outra, que passa a perder seus falantes, que acabam por adotar o idioma de maior prestígio, até que o uso de sua língua materna se torne restrito, geralmente, às regiões periféricas e rurais ou venha a desaparecer. SUBSTRATO • Sub + stratum : camada de baixo. • Quando a língua do povo vencido deixa de ser usada para se utilizar a do vencedor, de maior prestígio, deixando, contudo marcas nessa última. • As marcas de substrato, com mais frequência, estão no LÉXICO e FONÉTICA. • A grande diversidade de povos da Itália antiga (oscos, umbros, sabinos, lígures, vênetos, japígios, celtas...) explica a grande quantidade de substratos. • Na Gália, o celta. • Na Ibéria, o celta e o ibérico. SUPERSTRATO • Termo criado para designar os vestígios e as influências de um povo dominador no idioma do dominado, idioma esse que passa a ser usado por ambos, já que a língua do dominador político deixa de ser falada, como aconteceu com o franco na Gália, com o godo na Ibéria, com o lombardo na Itália. • Fatores determinantes para a sobrevivência da língua remanescente: o maior prestígio cultural e o desenvolvimento linguístico. SUPERSTRATO • No campo românico, importância maior atribui- se ao superstrato germânico. • A partir do século II, godos, francos, lombardo, alamanos, borguilhões e suevos exerceram influência linguística na România. • Além dos topônimos e antropônimos mais gerais, contam-se cerca de 200 empréstimos léxicos provenientes dos godos, 520 dos francos no galo- romance e 280 dos lombardos no ítalo-romance. ADSTRATO • “Toda língua vigora ao lado de outra, num território dado, e que nela interfere como manancial permanente de empréstimo” (MATTOSO CÂMARA) • Basta, portanto, que dois povos de idiomas diferentes sejam vizinhos e mantenham relacionamento de qualquer tipo para a caracterização da situação de adstrato. ADSTRATO • A causa dessa situação pode ser invasão ou conquista, como foi o adstrato árabe na Península Ibérica a partir de 711; o árabe conviveu então com os romances ibéricos que receberam maior ou menor influência... Quando, porém, os árabes foram expulsos em 1492, a população românica continuou a falar seu dialeto, apenas enriquecido por numerosos empréstimos. ADSTRATO • Apesar dos quase 8 séculos de convivência num só território, não houve absorção de um povo pelo outro nem o desaparecimento de uma língua. • No adstrato nenhuma das línguas intervenientes desaparece; apenas convivem e se influenciam. Localização geográfica das línguas neolatinas As Línguas Românicas Romeno Daco-romeno Macedo- romeno Megleno- romeno Ístrio-romeno Dalmático Ragusano Veglioto Italiano Setentrionais – grupos: galo- itálico e vêneto; Centrais e Meridionais Toscanos Sardo Meridional – campidanês Central – logudorês Setentrional – sassarés e gaulês Rético Ocidental Central Oriental Francês Norte - franciano Sudoeste – franco provençal Provençal Languedociano Limosino Alverniano Gascão Espanhol Norte – asturiano, aragonês, leonês Centro – castelhano Sul - andaluz Catalão Ocidental – barcelonês, balear, rossilhonês, algurês Oriental – leridano, valenciano Português Continentais Insulares Ultramarinhos LATIM: Pater noster, qui es in caelis, santificatur nomen tuum. • ROMENO: Tatăl nostru care eşti în ceruri, sfintească-se numele tău. • ITALIANO: Padre nostro Che sei Nei cieli, sai santificato Il tuo nome. • RÉTICO: Pàri nèstri che tu sês in cîl, sèvi santific`d lu to nom. • SARDO: Babbu nostru qui ses in sos chelos, sanctificadu siat su nomen tou. • FRANCÊS: Notre Père qui es aux ciex, que ton nom soit sanctifié. • PROVENÇAL: Nostre Paire que sias dins lo céu, siegue voste soum santifica. • CATALÃO: Pare nostre de cel, sigui santificat el vostre nom. • ESPANHOL: Padre nuestro que estás em los cielo, santificado sea tu nombre. • PORTUGUÊS: Pai nosso que estais nos céus, santificado seja teu nome Referências • BASSETTO, Bruno Fregni. Elementos de Filologia Românica. 2ª ed. São Paulo: Edusp, 2005. • CARDOSO, Zélia de Almeida. Iniciação ao Latim. São Paulo: Ática, 2002. • CASTRO, Ivo et al. Curso de história da língua portuguesa. Lisboa: Universidade Aberta, 1991. • ELIA, Sílvio. Preparação à lingüística românica. 2 ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1979. • ILARI, Rodolfo. Lingüística Românica. São Paulo: Ática, 1992. • STÖRIG, Hans J. As aventuras das línguas: uma viagem através da História dos idiomas do mundo. São Pulo: Melhoramentos, 1990
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