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1 Marketing Estratégico MARKETING ESTRATÉGICO GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL 1 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL CENTRO UNIVERSITÁRIO DINÂMICA DAS CATARATAS Núcleo de Educação a Distância Comunicação Empresarial. ARAÚJO, Prof.ª Me. Ana Lucia Moreira Rios Coimbra de Foz do Iguaçu - PR 2013. 52 p. TECNÓLOGOS EM GESTÃO FINANCEIRA, GESTÃO COMERCIAL E GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS - EaD CDU: 65.012.45 NEAD – Núcleo de Educação a Distância Av. Bartolomeu de Gusmão, 1324 - Centro – CEP: 85.852-130 Foz do Iguaçu – Paraná / ead.udc.br / 3574-6900 2 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL APRESENTAÇÃO Prezado(a) Acadêmico(a), Você está participando da disciplina de Comunicação Empresarial na modalidade a distância, ofertada pelo Centro Universitário Dinâmica das Cataratas - UDC. Sabemos que o seu percurso de aprendizagem necessita ser acompanhado e orientado, para que você obtenha sucesso nos estudos e construa um conhecimento relevante à sua formação profissional. Preparamos este material didático com os conteúdos teóricos e as orientações de atividades planejadas pelo professor, possibilitando, assim, guiá-lo no autoestudo ao longo do semestre. Além disso, você conta com o ambiente virtual de aprendizagem como espaço de estudo e de participação ativa no curso. Nele você encontra as orientações para realizar atividades e avaliações online, além de recursos que vão enriquecer a proposta deste material didático, tais como links para sites da Internet, vídeos gravados pelo professor e outros por ele sugeridos, textos, animações, ilustrações, dentre outras mídias. Lembre-se, no entanto, de que você deve se organizar para criar sua própria autonomia de estudo. Isso inclui o planejamento do seu tempo de dedicação ao estudo individual e de participação colaborativa no ambiente virtual. Este material é o seu livro-texto e apoio importante no desenvolvimento de sua aprendizagem no curso. Bom estudo! Direção UDC Online 3 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................................................................... 2 UNIDADE I – FUNDAMENTOS DA COMUNICAÇÃO ..................................................... 5 1.1 O PROCESSO DA COMUNICAÇÃO ........................................................................... 5 1.2 AS COMUNICAÇÕES VERBAIS E NÃO VERBAIS.................................................... 7 1.2.1 O código verbal e suas variantes ................................................................................ 8 1.3 RUÍDOS NA COMUNICAÇÃO ........................................................................................ 9 1.3 VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS .......................................................................................11 1.3.1 Modalidade Falada ......................................................................................................11 1.3.2 Modalidade Escrita ......................................................................................................12 1.4 FUNÇÕES DA LINGUAGEM ........................................................................................14 1.4.1 Função Referencial ou Denotativa ............................................................................14 1.4.2 Função Emotiva ...........................................................................................................15 1.4.3 Função Conotativa ou Apelativa................................................................................16 1.4.3 Função Fática ...............................................................................................................16 1.4.4 Função Metalinguística ...............................................................................................16 1.4.5 Função Poética.............................................................................................................16 UNIDADE II – ESTUDO DO TEXTO ..................................................................................18 2.1 A ANÁLISE TEXTUAL ....................................................................................................18 2.1.1 Os Formadores de Sentido ........................................................................................19 2.1.2 Compreensão e Interpretação ...................................................................................20 2.1.3 Coesão e Corerência...................................................................................................24 UNIDADE III – TIPOLOGIAS TEXTUAIS..........................................................................26 3.1 TIPOLOGIA E GÊNEROS TEXTUAIS.........................................................................26 3.1.1 O Texto Descritivo .......................................................................................................26 3.1.2 O Texto Narrativo .........................................................................................................27 3.1.3 O Texto Dissertativo ....................................................................................................27 UNIDADE IV – RECEPÇÃO DO TEXTO...........................................................................31 4.1 RECEPÇÃO DO TEXTO................................................................................................31 3.1.1 Níveis de Leitura ..........................................................................................................33 4.2 A ANÁLISE TEXTUAL ....................................................................................................35 4.2.1 Argumentação ..............................................................................................................37 4 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL 4.2.2 Introdução, desenvolvimento e conclusão...............................................................39 4.3 AS INFORMAÇÕES IMPLÍCITAS ................................................................................41 4.4 RESUMO ..........................................................................................................................43 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................46 5 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL UNIDADE I – FUNDAMENTOS DA COMUNICAÇÃO OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM Nesta unidade estudaremos a comunicação, compreendendo os conceitos que a envolvem, os elementos comunicativos e os ruídos que envolvem as situações comunicativas. Faremos também uma abordagem sobre os conceitos de língua e linguagem e os elementos que as distinguem. Você será capaz de compreender que a língua sofre variações, e que estas estão ligadas às situações de uso tanto verbais como por escrito. Por fim, identificaremos as funções da linguagem nas diversas situações de comunicação. 1.1 O PROCESSO DA COMUNICAÇÃO A comunicação é um processo social sem a qual a sociedade não existiria. No mundo moderno, transformou-se em força extraordinária na observação das relações sociais e no comportamento individual. Você já transmitiu alguma mensagem e que não foi entendida como você esperava que fosse? Comunicar implica a busca de entendimento sobre a transmissãode sentimentos e ideias estabelecidas por meio de sinais que só pode acontecer por meio de um processo, que consiste em um comunicador (emissor ou transmissor), em uma mensagem e um recebedor (receptor ou codificador). Os sinais são chamados de signos e têm o significado que a experiência das pessoas permite atribuir aos mesmos. Por isso, no processo comunicativo, emissor e receptor precisam conhecer o mesmo código, ou seja, o mesmo conjunto de sinais, caso contrário, a comunicação não ocorrerá. Observe no diálogo a seguir o que ocorre com a comunicação quando os signos não são compreendidos: Dois sujeitos conversavam em um ponto de ônibus. Um deles segurava um buquê de rosas, quando o outro perguntou: - Para Petrolina? Não, é para a Maria. Fonte: Criado pela autora exclusivamente para esse material 6 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL Como pudemos observar na piada, o rapaz que segurava o buquê não entendeu a pergunta por imaginar que o outro passageiro se referia a uma pessoa e não à localidade a qual o outro passageiro pretendia seguir. Percebemos que o emissor não soube esclarecer a pergunta ao referir-se a Petrolina. O outro rapaz, que segurava o buquê, por sua vez, entendeu a pergunta como se tratasse de uma pessoa e não um destino. Portanto, comunicar envolve uma dinâmica que não dispensa os elementos mais importantes na comunicação. É necessário conhecer todos os elementos para que a comunicação realmente se efetive. Relembrando! No processo de comunicação necessitamos de: Um código – signo linguístico que deve ser conhecido por quem emite e quem recebe a mensagem; Um emissor – quem enviará a mensagem; Um receptor – quem receberá a mensagem; Uma mensagem – aquilo que se pretende comunicar. Como pudemos observar na piada, o rapaz que segurava o buquê não entendeu a pergunta por imaginar que o outro passageiro se referia a uma pessoa e não à localidade a qual o outro passageiro pretendia seguir. Percebemos que o emissor não soube esclarecer a pergunta ao referir-se a Petrolina. O outro rapaz, que segurava o buquê, por sua vez, entendeu a pergunta como se tratasse de uma pessoa e não um destino. Portanto, comunicar envolve uma dinâmica que não dispensa os elementos mais importantes na comunicação. Além destes elementos, há também o canal, que é a forma utilizada para enviar a mensagem. O canal pode ser natural – que utiliza os órgãos sensoriais ou; tecnológico, que utiliza da forma espacial (rádio, telefone, telex, Internet...) e a forma temporal (livros, discos, fotografia...), pois transporta a mensagem de uma época para outra. REVISANDO! Muito bem! Chegamos ao final do primeiro tema. Espero que você tenha aprendido tudo direitinho e de maneira clara, afinal, a comunicação verbal é o que distingue o homem dos demais animais. 7 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL 1.2 AS COMUNICAÇÕES VERBAIS E NÃO VERBAIS Como mencionamos anteriormente, é necessário que emissor e receptor conheçam o mesmo código. O código é um conjunto de sinais estruturados que pode ser verbal (utiliza da palavra escrita ou falada) ou não verbal (utiliza gestos ou sinais). Os códigos não verbais, pela sua própria natureza, dificultam a (decodificação) uma vez que são plurissignificantes, ou seja, podem apresentar várias significações. Por exemplo, enquanto a cor branca significa pureza no Ocidente. Assim, é comum vermos uma noiva chinesa vestida no dia do casamento com um vestido vermelho ao invés do branco tradicional. Mas, será que só o ser humano se comunica? Na verdade, todos os seres vivos estabelecem alguma forma de comunicação. Para isto, utilizam-se dos códigos não verbais. Por exemplo, as abelhas ao encontrarem alimento, executam uma espécie de dança em forma de “8” que representa proximidade de alimento. Contudo, somente o homem tem a capacidade de se comunicar por meio de uma língua. Observe o texto não verbal a seguir: Fonte: www.portaldoprofessor.mec.gov.br Embora a tirinha não apresente nenhuma linguagem verbal, é perfeitamente possível compreender a ideia somente por meio das imagens. 8 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL 1.2.1 O código verbal e suas variantes A língua é um código verbal que representa a parte social da linguagem, é de natureza homogênea, um sistema de signos convencionais e arbitrários. Cada grupo social determina esse sistema que pode ser estruturado a partir de letras ou símbolos, os quais serão conhecidos por toda a comunidade falante. No caso da língua portuguesa, o signo convencionado é o alfabeto; com este, formamos as palavras, as frases e, finalmente, os textos. Mas, ao empregar os signos que formam a nossa língua, devemos obedecer às regras de organização que a língua nos oferece. Desta forma, o conhecimento de uma língua nos faz conhecer e identificar não somente os signos, mas também o uso adequado de suas regras combinatórias. Cada pessoa pode, individualmente, utilizar a língua de seu grupo social de maneira personalizada. Você mesmo (a), ao escrever, dá preferência a determinadas palavras ou expressões. Esse modo particular de utilizar a língua social é denominado fala. Além da fala, há outros fatores que faz com que a língua sofra variações. Dentre esses fatores estão: Geográficos – a língua portuguesa assume formas diferentes dependendo da região em que determinados vocábulos são utilizados. Por exemplo, a palavra mandioca pode ser referenciada de diferentes maneiras, dependendo da região. No Nordeste, por exemplo, é conhecida como macaxeira; no Norte, por aipim. Sociais – A maneira como determinados grupos adquirem o conhecimento e o domínio das regras linguísticas faz com que ocorra uma variação social do código linguístico. O português empregado por uma pessoa que frequenta a escola segue normas diferenciadas de quem não frequenta. Enquanto algumas classes sociais gozam de prestígio, outras são vítimas de preconceito. Cria-se, assim, a modalidade da língua culta, a qual é adquirida nos anos de escolaridade; e a língua coloquial, despreocupada e utilizada pela maioria dos falantes, mas que não apresenta formalidade no seu emprego. É na variante social que surge a Gíria, uma modalidade da fala que é constante modificada pelo grupo que a utiliza. Vale lembrar que a gíria é mais restrita a determinados grupos: policiais, estudantes, surfistas, contrabandistas, porque estes empregam códigos que somente os membros do grupo 9 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL conhecem o significado. Profissionais – Essa variante tem seu uso restrito ao intercâmbio técnico, ou seja, certas atividades requerem o domínio de certas expressões que são denominadas técnicas. Um técnico de informática, por exemplo, pode utilizar-se de expressões para demonstrar um problema que ocorre no computador e para isso, emprega um termo técnico. Os falantes comuns dificilmente entenderão a linguagem, uma vez que não têm o domínio deste tipo de vocabulário. Situacionais – Um mesmo indivíduo pode empregar diferentes formas de língua, dependendo da situação de uso. Que atitudes você toma quando vai falar com um superior ou alguém que possui uma posição social mais elevada que a sua? Percebeu? É este tipo de variante que estamos nos referindo. Ao falar com uma pessoa socialmente mais bem posicionada, empregamos um vocabulário, uma estrutura gramatical mais elaborada do que quando falamos com alguémda nossa família ou de nosso meio social. Falar e escrever implica profundas diferenças na elaboração de mensagens, mas isto será visto mais adiante. 1.3 RUÍDOS NA COMUNICAÇÃO Imagine-se num centro de convenções na hora do intervalo. É praticamente impossível estabelecer uma comunicação sem que haja uma interrupção da fala ou o frequente comentário: “O que foi mesmo que disse? ”, “Há muito barulho, não consigo te ouvir direito! ” . Isso certamente já ocorreu com você, não é mesmo? É isto que chamamos de ruído – uma interferência indesejável na transmissão de uma mensagem. Dentre os fatores que contribuem para que o ruído apareça estão: • Emissor e receptor terem percepções diferentes do contexto da comunicação, ou o desconhecimento do receptor; • A falta de organização das ideias por meio do emissor de forma clara, levando o receptor ao não entendimento da mensagem; • Emissor e receptor não terem o domínio completo do vocabulário da língua; 10 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL • Falta de atenção por parte do receptor em relação à mensagem que está sendo transmitida; • Interferências sofridas pelo canal transmissor da mensagem. Vejamos um exemplo de uma situação resultante de um ruído de comunicação: Em uma sala de aula, os alunos encontravam-se em meio a um trabalho em grupo, quando a professora diz: - Luís, este fica suspenso. Devido ao barulho, o aluno que havia saído e retornava à sala ouviu apenas o final “suspenso” e, ao ver o colega próximo à professora deduziu “A professora suspendeu o Luís” e começou a espalhar pela sala o boato. - Carlos, ouviu? A professora suspendeu o Luís. Sem saber do que se tratava, o boato foi se espalhando e a professora ficou sem entender nada. Fonte: Criado pela autora exclusivamente para esse material Neste caso, pudemos perceber que a mensagem não foi bem interpretada pelo marinheiro, que entendeu que o barco tratava da mulher de Hagar e não um barco, literalmente. Problemas como esse são comuns no processo comunicativo. Saiba Mais Percebeu como é interessante estudar Comunicação? Mas, que tal aprofundar um pouco mais os conhecimentos? Consulte o site abaixo, leia o artigo proposto sobre a fruição literária, que tem por título: “ Breves considerações sobre fruição literária na escola” de Maria da Conceição de Jesus Ranke e da Dra. Em Literatura Hilda Gomes Dutra Magalhães. Boa leitura! http://www.uft.edu.br/pgletras/revista/capitulos/3_- _texto_hilda_e_conceicao.pdf Glossário Arbitrário: adj. (lat.arbitrarius) 1. Que depende só da vontade pessoal. 2. Que não 11 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL respeita leis ou regras; ilegal. Convencional: adj. 2g. 1. Relativo a ou que resulta de uma convenção. 2. Tradicional, clássico. 3. Diz-se de armamentos que não são nucleares, biológicos ou químicos. 4. Diz-se da guerra onde apenas armas desse tipo são empregadas. •s.2g. Participante de uma convenção; convencionalista. Homogêneo: adj. 1. Diz-se de um corpo cuja composição e estrutura são as mesmas em todos os pontos. 2. Igual, análogo, idêntico. 3. Que tem grande identidade, comunhão de ideias ou de sentimentos. Quím. Que é formado de uma única fase. Plurissignificante: adj. Palavra que adquire vários significados, dependendo da forma ou da situação em que é empregada. 1.3 VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS No estudo anterior visto como acontece o processo de comunicação, os conceitos de língua e linguagem, o que é linguagem verbal e a não verbal e por que é importante estudarmos uma língua. Percebemos que o estudo da língua não se limita apenas a estudos conceituais e, mais que isso, iniciamos o desenvolvimento da competência linguística, elemento chave para todo o processo comunicativo e necessário a qualquer área profissional. Percebemos também que uma língua não é falada da mesma maneira por todos os falantes; que é variante conforme a classe social, o espaço geográfico, a situação de uso ou até mesmo, de acordo com a profissão. O estudo das variantes linguísticas nos proporciona o conhecimento de como a língua pode variar de acordo com a pessoa que a utiliza. Assim, concentraremos nosso estudo em alguns eixos determinantes de uma variação linguística: a modalidade falada e a modalidade escrita. 1.3.1 Modalidade Falada As pessoas se comunicam de formas diferentes, como já mencionamos, em função de múltiplos fatores: época, região, ambiente, status. O modelo da língua 12 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL padrão é decorrente dos parâmetros utilizados pelo grupo social mais culta. A língua falada, no entanto, exige a observação do interlocutor em relação ao emprego desta modalidade, que é a forma como a língua está vinculada às situações de uso. Ou seja, no ato comunicativo, os interlocutores estão presentes, interagindo e, assim, elaboram mensagens marcadas pelos fatos da língua falada. O vocabulário é alusivo, como o emprego de pronomes ou advérbios que possibilitam indicar os envolvidos na mensagem sem que os nomeie. A língua falada torna-se, desta forma, mais espontânea, mais viva e concreta, porque é despreocupada em relação à gramática. O vocabulário também é mais limitado, embora seja permanentemente renovado. A língua falada pode apresentar-se de maneira culta, utilizada por pessoas com instrução, niveladas pela escolaridade, obedece aos padrões da língua; coloquial, é mais espontânea, usada para satisfazer as necessidades do falante, sem muita preocupação com as formas linguísticas; vulgar ou inculta, própria das pessoas sem instrução, livre de convenções sociais, infringe totalmente as normas gramaticais; regional, está circunscrita a regiões geográficas, caracterizando-se pelo acento linguístico; grupal ou técnica, pertence a grupos fechados e só é compreendida quando o falante faz parte do grupo. É o caso das gírias e da linguagem utilizada por técnicos. 1.3.2 Modalidade Escrita A modalidade escrita requer uma linguagem mais precisa. O uso de pronomes e advérbios obedece a outros critérios, pois estas palavras relacionam partes do texto entre si e, por isso, exigem formas de referência mais precisas. Assim, a língua escrita demanda mais precisão e um esforço maior por parte de quem a emprega. Por ser mais eficiente, não exige a proximidade leitor-redator porque a mensagem é transmitida satisfatoriamente. No entanto, é ilusório pensar que uma ou outra dessas modalidades é mais ou menos importante que a outra; são apenas diferentes e cada uma é apropriada a uma determinada forma de comunicação. A modalidade escrita pode se apresentar com as mesmas variantes da língua falada: língua padrão, coloquial, inculta, regional, grupal, porém, pode ser literária, 13 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL utilizada pelos escritores; ou não literária, utilizada por todos os membros da comunidade. A linguagem literária rompe com o convencionalismo, o escritor pode fazer uso da palavra como bem entender, porque o que importa é o trabalho com a palavra, o efeito que esta produz no texto; a linguagem é repleta de significados que vão sendo construídos lentamente. Na linguagem literária predomina a conotação e a subjetividade. A conotação é a responsável em proporcionar às palavras os múltiplos significados, ou seja, o autor pode escrever uma palavra, mas o sentido atribuído a ela está fora do seu significado real. A subjetividade está relacionada ao sentimento de cada pessoa, portanto, quandoo autor escreve de maneira literária, ele atribui ao texto ou às palavras o sentido que desejar, pois é algo pessoal, livre de convenções. Vejamos, no texto a seguir, o que a autora nos esclarece a respeito dessas modalidades de linguagem: O TEXTO ESCRITO A luta que os alunos enfrentam com relação à produção de textos escritos é muito especial. Em geral, eles não apresentam dificuldades em se expressar através da fala coloquial. Os problemas começam a surgir quando este aluno tem necessidade de se expressar formalmente e se agravam no momento de produzir um texto escrito. Nesta última situação ele deve ter claro que há diferenças marcantes entre falar e escrever. Na linguagem oral o falante tem claro com quem fala e em que contexto. O conhecimento da situação facilita a produção oral. Nela o interlocutor, presente fisicamente, é ativo, tendo possibilidade de intervir, de pedir esclarecimentos, ou até mudar o curso da conversação. O falante pode ainda recorrer a recursos que não são propriamente linguísticos, como gestos ou expressões faciais. Na linguagem escrita a falta destes elementos extratextuais precisa ser suprimida pelo texto, que se deve organizar de forma a garantir a sua inteligibilidade. Escrever não é apenas traduzir a fala em sinais gráficos. O fato de um texto escrito não ser satisfatório não significa que o seu produtor tenha dificuldades quanto ao manejo da linguagem cotidiana e sim que ele não domina os recursos específicos da modalidade escrita. A escrita tem normas próprias, tais como regras de ortografia – que, evidentemente, não é marcada na fala -, de pontuação, de concordância, de uso de tempos verbais. Entretanto, a simples utilização de tais regras e de outros recursos da norma culta não garante o sucesso de um texto escrito. Não basta, também, saber que escrever é diferente de falar. É necessário preocupar-se com a constituição de um discurso, entendido aqui como um ato de linguagem que representa uma interação entre o produtor do texto e o seu receptor; além disso, 14 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL é preciso ter em mente a figura do interlocutor e a finalidade para a qual o texto foi produzido. Para que esse discurso seja bem sucedido deve constituir um todo significativo e não fragmentos isolados justapostos. No interior de um texto devem existir elementos que estabeleçam uma ligação entre as partes, isto é, elos significativos que confiram coesão ao discurso. Considera-se coeso o texto em que as partes referem-se mutuamente, só fazendo sentido quando consideradas em relação umas com as outras. (DURIGAN, Regina H. de Almeida et AL. A dissertação no vestibular. In: INFANTE, Ulisses. Curso de Gramática Aplicada aos Textos. São Paulo: Scipione, p.49-50, 2001. Percebeu? Não é tão difícil assim. Sempre que for escrever procure se lembrar do que é essencial para uma boa compreensão do que pretende transmitir. Faça a escolha lexical mais apropriada a cada situação de escrita e bom trabalho! 1.4 FUNÇÕES DA LINGUAGEM Como vimos anteriormente, a língua é um contrato social pelo qual os seres humanos convencionaram para estabelecer a comunicação com o grupo. Percebemos também que a linguagem estabelece a comunicação quando consegue relacionar os elementos básicos que a compõe: emissor, receptor, mensagem, canal, código. Sendo assim, é importante ressaltar que a linguagem também tem uma função comunicativa. Vamos conhecê-la? Quando estabelecemos o vínculo comunicativo, normalmente o fazemos com uma intenção: referenciar algo, emocionar, persuadir, trocar informações ou simplesmente explicar o próprio termo. Quaisquer destas intenções estão associadas às funções da linguagem. 1.4.1 Função Referencial ou Denotativa Esta função tem por finalidade transmitir uma informação ou expor dados da realidade de modo objetivo. É o que observamos nos textos jornalísticos, técnicos, didáticos ou em correspondências comerciais. Observe a linguagem adotada no fragmento a seguir: 15 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL 'Draw Something 2' será lançado nos Estados Unidos Revelação foi feita por Mark Pincus, CEO da Zynga, para investidores O CEO da Zynga, Mark Pincus, anunciou nesta quarta-feira que o jogo Draw Something 2 será lançado nos Estados Unidos nesta quarta-feira. O Draw Something é um aplicativo social que coloca duas pessoas em uma competição de desenhos. Alternadamente, cada um dos contendores recebe do programa três palavras. Tem, então, que desenhar, na superfície do smartphone ou tablet, uma imagem que represente aquela palavra. Em seguida, o desenho é exibido ao rival: se este matar a charada, ambos ganham pontos - na verdade, moedas virtuais. É uma atualização dos antigos programa de TV. Encerrada a rodada, trocam-se os papéis. (Fonte: www.veja.abril.com.br: Disponível em http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/draw-something-2-sera-lancado-nos- estados-unidos; Extraído em 24/04/2013 Notou como é uma linguagem direta, objetiva? Além disso, a característica fundamental do texto é transmitir uma informação, sem que haja a opinião do autor. 1.4.2 Função Emotiva Diferentemente da função referencial, a função emotiva tem por objetivo transmitir as emoções pessoais de quem a produz. A realidade é transmitida sob o ponto de vista do emissor, portanto, mais pessoal. Neste tipo de linguagem é comum aparecerem os pontos de exclamação, interrogação ou reticências. Essa função é comum em poemas ou narrativas românticas ou dramáticas. Vejamos mais um exemplo: Motivo Eu canto porque o instante existe e a minha vida já está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, - não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. 16 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL E um dia sei que estarei mudo: - mais nada. (MEIRELES, Cecília. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.) 1.4.3 Função Conotativa ou Apelativa Como o próprio nome diz, essa função tem por objetivo “apelar” para o receptor, ou seja, convencê-lo de algo. Para isso, emprega vocativos, sugestões, convites ou apelos. Essa função é muito empregada por anúncios publicitários, discursos políticos ou de autoridade. 1.4.3 Função Fática Esta função é centrada no sujeito receptor, ou seja, no interlocutor. Tem por objetivo prolongar ou interromper a comunicação. Exemplo: “ – Olá! Por gentileza, o Senhor Luís se encontra?” 1.4.4 Função Metalinguística Esta função é predominante dos manuais e dicionários, pois é utilizada para explicar a própria linguagem. Exemplo: O Sol é uma estrela de quinta grandeza. 1.4.5 Função Poética Assim como a emotiva, a esta função utiliza-se da subjetividade. O que a distingue da emotiva, é que na função poética o emissor pode usar da criatividade. 17 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL Exemplo: “ Vi o vento soprar E a noite descer...” (Lêdo Ivo) Saiba Mais! Procure ficar atento (a) às funções da linguagem e outros elementos da comunicação, verificando como o emissor a utiliza para convencer o receptor sobre o que está sendo emitido. Realize outras leituras, consultando esses sites: http://www.brasilescola.com/gramatica/funcoes- linguagem.htm http://www.gramaticaonline.com.brhttp://www.infoescola.com Glossário Alusivo: adj. Que contém alusão. Vago; indireto. Contexto: subst. masc. O que constitui o texto no seu todo. Circunscrito: adj. 1. Limitado, restrito. 2. Que tem limites determinados. Inteligibilidade: subst. fem. Qualidade ou estado do que é inteligível, fácil de compreender. Lexical: adj. Relativo a léxico; conjunto de palavras de uma língua ou de um texto. 18 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL UNIDADE II – ESTUDO DO TEXTO OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM Nesta unidade estudaremos as bases que são indissociáveis de análise textual; compreendendo os conceitos que a envolvem, os elementos formadores de sentido no texto. Faremos também um reconhecimento sobre os gêneros textuais e a tipologia bem como as características que os diferem. Você será capaz de diferenciar a compreensão e a interpretação de um texto, observar as relações lógicas que nos levam a conclusões objetivas. Bom estudo! 2.1 A ANÁLISE TEXTUAL O texto é um elemento passível de duas bases indissociáveis de análise: a estrutural e a discursiva. A análise estrutural prevê a maneira como se organiza um texto a partir de mecanismos estruturais que o compõem, quais os procedimentos que levam à combinação desses mecanismos. Aqui, a língua é vista como um código gramatical. Na análise discursiva, o texto é um elemento da comunicação, portanto, um fator de interação entre os sujeitos. Além disso, o texto depende de fatores externos, uma vez que é construído pela interação entre sujeitos, a análise passa a exigir mais. Para isto, é fundamental um repertório de informações que se obtém pelo chamado “conhecimento de mundo”, ou seja, por meio das experiências do leitor. Para entender melhor, vamos esquematizar: ao fazer uma análise textual, o leitor é levado a realizar uma leitura detalhada sob ampla visão, estudando as ideias e o pensamento do autor de maneira clara e objetiva. É o conhecimento prévio sobre o assunto, o qual propiciará a interpretação futuramente. Quando o leitor obtém uma compreensão geral do texto, diz-se que a análise é temática, pois o foco são as ideias discutidas pelo autor. Já a análise interpretativa requer do leitor uma análise crítica sobre o conteúdo abordado pelo autor. Na análise interpretativa, o leitor deve ser capaz de tomar uma posição própria em relação às ideias enunciadas, superando a estrita mensagem do texto. 19 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL 2.1.1 Os Formadores de Sentido Lembre-se de que o tempo todo nós pronunciamos sobre fatos que presenciamos ou vivemos, produzindo algum efeito sobre os outros. Assim, toda frase deve ser analisada de acordo com o contexto em que ela se insere. Um texto tem sempre algo a dizer a alguém e estabelece a realidade em que está inserido. Por isso, a escolha de palavras que norteia um texto direciona a certos efeitos de sentido. É o que denominamos de percurso de sentido do texto. Observe no texto de João Cabral de Melo Neto como as palavras se entrecruzam criando um efeito de sentido. Tecendo a manhã Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito que um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão. (MELO NETO, João Cabral de. A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996, p.35) Percebeu como o autor vai combinando as palavras de forma a transmitir a imagem de que a manhã vai se formando com os movimentos de todos? Os galos representam as pessoas, em seus movimentos cotidianos, levantar, locomover-se ao trabalho e que, passo a passo, vão se unindo a outras pessoas (outros galos) até chegar ao ápice da manhã (luz balão). Para chegar a seus significados, precisamos, muitas vezes, lançar mão de conhecimentos adquiridos anteriormente e estabelecer relações que o próprio texto vai fornecendo (as pistas). 20 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL Dependendo do nível de elaboração os textos podem resultar em diferentes tipos, como aqueles que permitem uma única interpretação e aqueles que permitem várias interpretações. Isto está relacionado à situação em que se diz algo e à intenção com que se diz. Por isso é que se diz que o texto é um tecido verbal estruturado de forma tal que as ideias formam um todo coeso. Para que um texto seja constituído ou que chegue a uma compreensão, é necessário trabalhar as relações de conexão cognitiva e as relações coesivas, como: o saber partilhado (informação antiga da qual temos conhecimento), informação nova e as provas (fundamentos das afirmações expostas, normalmente outras obras indicadas pelo autor). Assim, um texto é mais ou menos eficaz dependendo da competência de quem o produz ou da interação autor-leitor. Ao escrever, o indivíduo manifesta o desejo de comunicar, de ser entendido; para isso, deixa marcas (pistas) em seus textos para que possam ser seguidas pelo leitor para que esse desejo de comunicação seja compreendido. Glossário Apreensão: s.f.1. Ato ou efeito de apreender; tomada, prisão. 2. Receio, preocupação. 3. Compreensão, conhecimento. Coeso: adj. 1. Único, ligado por coesão. 2. Harmônico. 3. Coerente, lógico. Coesivo: adj. 1. Em que existe coesão ou ligação recíproca. 2. Que une, junta, liga. Cognitivo: adj.: Relativo à cognição; conhecimento. Indissociável: adj.m. e adj.f. Que não pode ser dissociado; aquilo que não se pode separar: parentesco indissociável. Semântica: adj. Relativo ao sentido, à significação das unidades linguísticas. 2.1.2 Compreensão e Interpretação Compreender e interpretar textos envolve duas coisas distintas. A compreensão estabelece apena a apreensão das ideias, ou seja, a aquisição das informações deixadas pelo texto; a interpretação vai além, é a análise que cada leitor, com suas experiências, faz a respeito das informações contidas no texto. A interpretação está relacionada à maneira como se percebem as marcas linguísticas, permitindo várias possibilidades de leitura. 21 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL A interpretação pode ser subjetiva – que interessa apenas o conhecimento prévio que o leitor possui; e a objetiva - que leva em conta as marcas significativas contidas no texto, como o vocabulário, as palavras-chaves, as ideias-chaves, gramática empregada (relações sintáticas) e o raciocínio lógico verbal, que leva a conclusões objetivas. A interpretação subjetiva não significa inferir qualquer ideia, há limites para isso. A preocupação nesse tipo de interpretação deve ser a captação da essência do texto. Por isso é importante identificar as ideias-chaves que constituirão a base para a interpretação objetiva. Observe o texto a seguir: A moça tecelã Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear. Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte. Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longotapete que nunca acabava. Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela. Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza. Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias. Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado. Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta. Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida. 22 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade. E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar. — Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer. Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. — Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata. Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira. Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre. — É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos! Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo. Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear. Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela. A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu. Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte. (COLASANTI, Marina. Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento. RJ : Global Editora , 2000.) A primeira leitura (subjetiva) nos possibilita conhecer os elementos que fornecerão os dados para a interpretação: a linguagem, a relação com a leitura de 23 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL mundo (conhecimento sobre histórias infantis) e a atitude das personagens. Já a segunda leitura (objetiva) nos permite interpretar e perceber a intencionalidade do autor. A atitude da moça tecelã em tecer e destecer lembra a história de Penélope, enquanto esperava a volta de seu esposo Ulisses – epopeia clássica. Há também outras passagens que nos lembram outros clássicos, como Rapunzel que ficara presa em uma torre. Vamos à interpretação! Ao iniciar a narrativa, a autora nos apresenta a personagem, como se estivesse no conto da Bela Adormecida, afinal, a princesa estava em um quarto, com um tear, em uma torre longínqua. Até aqui, fazemos uma leitura subjetiva, conseguimos perceber a relação entre os textos representados pelo ambiente. A seguir, a autora vai nos apresentando outras passagens, como a de Rapunzel, que fica presa em uma torre e, por último, a relação com a história de Penélope (esta requer um conhecimento de mundo mais amplo pelo leitor). Agora, a leitura objetiva: no primeiro momento a personagem se adapta às situações que vão se apresentando, até a chegada do marido e as exigências que este começa a fazer, mas depois reage, ao destecer a vida que havia construído para dizer que a atitude inicial não funcionou, porque as atitudes do marido que a obrigavam a tecer não pertenciam ao desejo inicial, portanto, não cederá à vontade do opressor. Aí está a intenção da autora: demonstrar que somos e podemos modificar o destino sempre que o desejarmos. Porém, para que chegássemos a essa interpretação, foi necessário perceber a relação entre as referências textuais das histórias infantis. Um leitor que não possui esse conhecimento prévio das histórias infantis não consegue relacionar os fatos e, portanto, não perceberá a intencionalidade e o propósito do texto. Que tal tentar interpretar a passagem abaixo? O marido, beberrão, chega a casa às 3 horas da manhã e pensa encontrar a esposa dormindo. A mulher espera-o se acomodar na cama e diz: - Então, bebeu todas? O marido então responde: 24 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL - Não deu tempo. A polícia chegou antes que abríssemos a última caixa. Fonte: Criado pela autora exclusivamente para este material. Esta foi fácil, não é mesmo? Quem não conhece a fama de um beberrão que chega em casa e tenta se esconder da mulher para que ela não o veja bêbado? Mas, será que percebeu a intenção que a esposa tem ao perguntar se o marido tinha bebido todas? Se não foi capaz de perceber, não tem problema. Tudo é uma questão de hábito. Quanto mais leituras fazer e quanto maior o domínio sobre as situações de uso da linguagem, mais fácil será para interpretar. Continue tentando! 2.1.3 Coesão e Coerência Como vimos, o texto se constrói por uma relação de sentidos. Esta relação é denominada textualidade. A coesão é uma relação semântica entre um elemento do texto e algum outroelemento que seja de extrema importância para que se estabeleça a interpretação. É a maneira como as palavras e frases encontram-se conectadas entre si numa sequência linear. A coesão ajuda a estabelecer a coerência na percepção dos sentidos do texto, facilita a compreensão. A coerência tem a ver com as possibilidades de o texto funcionar como uma peça comunicativa, um meio de interação verbal. É responsável por constituir os sentidos do texto. Para que se estabeleça a coerência, é necessário que o texto fale de coisas que façam parte dos conhecimentos do leitor, ou este não conseguirá estabelecer as relações de sentido. Vejamos um exemplo de texto incoerente: O presidente da Associação do Bairro Canoas comunicou hoje aos associados que esta será a última notificação para aqueles que estão em débito com a mesma. A próxima notificação será acompanhada de multa, 25 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL que deverá ser paga até o quinto dia útil do mês em que for notificada. Fonte: Texto criado pela autora exclusivamente para este material Se a proposta do presidente é notificar os associados pela última vez, como pode afirmar que a próxima notificação será acompanhada de multa? Aí está a incoerência. Saiba Mais! Leia outros exemplos de textos incoerentes em: www.biblioamigos2010.blogspot.com www.infoescola.com Quer mais informação? Que tal o livro “A Coerência Textual”? Os autores Ingedore Villaça Koch e Luiz Carlos Travaglia apresentam o tema de forma simples e objetiva. Vale a pena ler! O livro foi editado pela Editora Contexto e é fácil obtê-lo Glossário Coesão: s.f. união íntima das partes de um todo. Coerência: s.f. ligação ou harmonia entre situações, acontecimentos ou ideias. 26 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL UNIDADE III – TIPOLOGIAS TEXTUAIS 3.1 TIPOLOGIA E GÊNEROS TEXTUAIS Aprimorar a capacidade comunicativa é uma forma de ampliarmos nosso relacionamento com o mundo, tornando-se apto a compreender melhor a realidade e poder transformá-la. E como estudamos a língua, falada ou escrita, é um elemento fundamental desse intercâmbio de experiências humanas. Vimos também que o texto – do latim textum, que significa tecido, entrelaçamento – resulta da ação de tecer as partes a fim de formarmos um todo inter- relacionado. Assim, no processo de produção de texto, o autor escolhe o modo de organização textual – a tipologia - que possa contribuir para o desvendamento de sua intenção. Nesta forma de organização textual, o autor opta por uma das formas tradicionais: descrição, narração ou dissertação. O que falamos, a maneira como falamos e a forma que damos ao nosso texto estão diretamente ligados às condições de uso da língua. Isto significa que os gêneros estão diretamente ligados à situação comunicativa. Eles se diferenciam pelos conteúdos específicos que veiculam as características particulares dos textos produzidos nas diferentes situações e pelas configurações da linguagem. Vamos ver se você entendeu. Você pode escrever um texto com características descritivas (Tipo: descritivo) e com a finalidade de explicar o funcionamento de um aparelho eletrônico (Gênero: Manual de Instrução). Notou a diferença entre tipo e gênero textual? O Gênero está sempre relacionado à situação de uso da língua, a funcionalidade. Por isso, diz-se que há uma infinidade de gêneros textuais, mas apenas três tipos de textos: descritivo, narrativo e dissertativo. 3.1.1 O Texto Descritivo Um texto pode ser composto por vários tipos, mas a predominância sempre será de um. Por exemplo, em um relato de notícia, há o elemento descritivo, porque detalha o fato, mas há também a narração, pois o objetivo do emissor é transmitir o 27 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL acontecimento. Então, no relato, a predominância é da narração. Mas, o que é o texto descritivo? O texto descritivo dificilmente aparecerá sozinho, pois ele existe para completar os elementos da narrativa, caracterizando personagens, ambiente, detalhes dos acontecimentos. Usamos a descrição isolada quando queremos mostrar, por exemplo, características isoladas: um imóvel para venda: VENDE-SE Sobrado com 2 suítes; 3 quartos, 2 banheiros sociais, sala ampla, cozinha, lavanderia, dependência de empregada, piscina. Ótima localização. Note que no exemplo os dados são exclusivamente descritivos. 3.1.2 O Texto Narrativo A narração é um tipo de texto marcado pela temporalidade, seu material é o fato e a ação que envolve personagens, progressão temporal direcionado para um conflito que requer uma solução. A organização dos fatos é feita por um narrador que pode ou não participar dos acontecimentos narrados. Dependendo do narrador, o foco narrativo ou ponto de vista pode ser modificado. Naquela manhã de sol o rei acordou tranquilamente, pois não teria obrigações a cumprir, poderia passar a manhã toda na cama, se assim desejasse. Mas, tão logo sentiu os raios de sol atravessar a cortina, levantou-se e preparou para tomar o seu café. Agora, imagine esta mesma situação sob o ponto de vista do serviçal. Coloque- se no lugar do serviçal, que precisa estar de pé antes do rei, independente do dia, preparar o café para ele, as roupas, servi-lo e tudo o mais. Muda, não? É isto que torna a narrativa rica, o olhar de quem a conta. 3.1.3 O Texto Dissertativo 28 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL Enquanto a narração e a descrição utilizam de elementos concretos (tempo, ambiente, personagens), a dissertação emprega o abstrato (conceitos, ideias, concepções). O texto dissertativo caracteriza-se pelo caráter de expor argumentos, persuadir o leitor sobre o assunto que está sendo evidenciado, por isso, exige um cuidado e uma organização melhor. Para expor ideias ou opiniões fundamentadas na observação, no conhecimento de mundo ou no conhecimento específico, o emissor precisa selecionar os argumentos que possam convencer o receptor daquilo que está enunciando. O encadeamento das ideias deve organizar-se de tal forma que leve o receptor a compreender a ideia defendida pelo emissor, a convencer da veracidade de uma determinada posição assumida. O texto dissertativo é temático; explica, classifica, analisa, avalia os seres concretos. A referência ao mundo é feita por meio de conceitos genéricos, sem se importar com as relações de anterioridade e de posterioridade, mas com as relações de causalidade, implicação. Vejamos um exemplo: Estamos emburrecendo Você já teve a impressão de que seu chefe, seu supervisor ou seus colegas de trabalho estão ficando menos inteligentes a cada ano que passa? E que essa onda está afetando inclusive você? Que o mundo está cada vez mais difícil de entender? Se você está se sentindo cada vez menos inteligente, fique tranquilo, estamos todos emburrecendo a passos largos, inclusive eu. O conhecimento humano está aumentando explosivamente. Antigamente, dizia-se que o conhecimento humano dobrava a cada dezoito meses. Hoje, parece que ele dobra a cada nove. Embora coletivamente o mundo esteja ficando mais inteligente, individualmente estamos ficando cada vez mais burros. Antigamente, você precisava entender de mecânica para dirigir um carro. Hoje, os computadores são feitos à prova de idiota, graças a Deus! É justamente por isso que sobrevivemos. Equipamentos incorporam conhecimento, e muitas vezes tomam decisões por nós. Por essa Darwin29 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL não esperava, pela sobrevivência dos menos inteligentes. Se você ler três livros por mês, dos 20 aos 50 anos, serão 1.000 livros lidos numa vida, que nem chegam perto dos 40.000 publicados todo ano só no Brasil. Comparado com os 40 milhões de livros catalogados pelo mundo afora, mais 4 bilhões de home pages na internet, teses de doutorado, artigos e documentos espalhados por aí, provavelmente seu conhecimento não passa de 0,0000000000025% do total existente. Há intelectual que acha que tem o direito de mudar o mundo só porque já leu 5.000 livros. É muita arrogância. A ideia de intelectuais superesclarecidos governando nações hoje não faz o menor sentido, é até perigosa. Como sobreviver num mundo onde cada um de nós só poderá almejar saber 0,0000000000025% do conhecimento humano ou até menos? O segredo é cada um se esforçar para saber 100% de um pequeno nicho, uma parcela mui, mui pequena do conhecimento humano. Não basta mais tirar a nota mínima 5 em 58 matérias e achar que um diploma vai resolver sua vida. Não basta mais saber 90% de uma única matéria acadêmica. Você precisará saber 100% de algo que seja útil para os outros. Você vai ter de ser o maior especialista do mundo num assunto e vender o que sabe fazer bem aos demais mini especialistas do planeta, e vice-versa. Quantos alunos se formam especialistas em coisa alguma? Infelizmente, as universidades hoje em dia produzem commodities. Preferem formar generalistas, porque é bem mais barato do que formar especialistas. Só que generalista que não tenha uma especialidade não arruma o primeiro emprego. Faculdades oferecem basicamente o mesmo curso todo ano, obedecendo a um mesmo currículo, chamado de mínimo. Não é à toa que há tanto desemprego. Antigamente, superespecialistas poderiam morrer de fome por falta de mercado. Hoje, a globalização permite mercados cada vez maiores. Por isso a enorme preocupação dos especialistas em ampliar mercados como a Alca, Brindia e Mercosul. Um técnico de manutenção de rodas de avião morreria de fome no Uruguai. O segredo daqui para a frente é ignorar uma série de leituras, publicações e jornais que você lia anteriormente, com exceção de VEJA, para não parecer um ET. Curiosamente, você vai ter de se tornar um ignorante, 30 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL alguém que deliberadamente ignora milhares de informações para se concentrar na sua especialidade. O segredo não é mais ser um intelectual que sabe um pouquinho de tudo, mas ser um ignorante que sabe tudo sobre um pouquinho. (KANITZ, Stephen. Revista Veja, Editora Abril, edição 1814, ano 36, no. 31 de 06 de agosto de 2003.) Observe como o autor conduz a escrita, a maneira como apresenta os argumentos e como divide os parágrafos de forma a deixar a ideia mais clara, coesa e coerente. Saiba Mais! Procure realizar outras leituras com os diferentes gêneros e tipos textuais. Poderá começar pela leitura de “Ler e compreender: os sentidos do texto” das autoras Koch e Elias. KOCH, Ingedore G. Villaça & ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. 2.ed. São Paulo: Contexto, 2006. Glossário Commodities: s.f.(do inglês commodity), mercadoria; termo utilizado para designar bens e serviços para os quais existe procura sem atender à diferenciação de qualidade do produto no conjunto dos mercados e entre vários fornecedores ou marcas.2. As commodities são habitualmente substâncias extraídas da terra e que mantêm até certo ponto um preço universal. Encadeamento: s. m. 1. Ação de encadear(-se).2. Disposição, ligação de coisas da mesma natureza ou que têm entre si certas relações; ordem, série, sucessão. Veicular: v. t. transmitir, propagar, difundir, transportar, circular. 31 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL UNIDADE IV – RECEPÇÃO DO TEXTO 4.1 RECEPÇÃO DO TEXTO Escrever é colocar no papel as ideias de forma organizada. As ideias são fruto do processo de comunicação. Mas, como escrever? Esta é uma pergunta que frequentemente os estudantes e a maioria das pessoas fazem quando se deparam com a situação da escrita. Na verdade, não existe receita para o processo da escrita, como afirmamos, é um processo e, como tal, depende de outros fatores para que aconteça. Dentre os fatores que favorecem à escrita está a leitura. O pensamento é expresso por palavras, registradas na escrita e que é interpretada pela leitura. Assim deduzimos que quem não pensa não escreve e quem não lê também não escreve, ou escreve mal. A leitura, além dos nos ensinar os mecanismos da língua escrita, é também fonte inesgotável de ideias. Portanto, ler é fundamental para escrever. Vejamos o que CAMARA JUNIOR nos informa a respeito da leitura e escrita! A arte de escrever Há, portanto, uma arte de escrever – que é a redação. Não é uma prerrogativa dos literatos, senão uma atividade social indispensável, para a qual falta, não obstante, muitas vezes, uma preparação preliminar. A arte de falar, necessária à exposição oral, é mais fácil na medida em que se beneficia da prática da fala cotidiana, de cujos elementos parte em princípio. O que há de comum, antes de tudo, entre a exposição oral e a escrita é a necessidade da boa composição, isto é, uma distribuição metódica e compreensível de ideias. Impõe-se igualmente a visualização de um objeto definido. Ninguém é capaz de escrever bem, se não sabe bem o que vai escrever. Justamente por causa disto, as condições para a redação no exercício da vida profissional ou no intercâmbio amplo dentro da sociedade são 32 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL muito diversas das da redação escolar. A convicção do que vamos dizer, a importância que há em dizê-lo, o domínio de um assunto de nossa especialidade tira à redação o caráter negativo de mero exercício formal, como tem na escola. Qualquer um de nós senhor de um assunto é, em princípio, capaz de escrever sobre ele. Não há um jeito especial para a redação, ao contrário do que muita gente pensa. Há apenas uma falta de preparação inicial, que o esforço e a prática vencem. Por outro lado, a arte de escrever, na medida em que consubstancia a nossa capacidade de expressão do pensar e do sentir, tem de firmar raízes na nossa própria personalidade e decorre, em grande parte, de um trabalho nosso para desenvolver a personalidade por este ângulo. (...) A arte de escrever precisa assentar numa atividade preliminar já radicada, que parte do ensino escolar e de um hábito de leitura inteligentemente conduzido; depende muito, portanto, de nós mesmos, de uma disciplina mental adquirida pela autocrítica e pela observação cuidadosa do; que outros com bom resultado escreveram. (CAMARA JR, Joaquim Mattoso. Manual de expressão oral e escrita. 7.ed. Petrópolis: Vozes, 1983, p.58-59) Por este texto pode-se perceber a importância que a leitura tem para o favorecimento da escrita. Assim, se quiser escrever bem, precisará desenvolver o hábito da leitura, e mais, fazer uma análise, tecer comentários e, se possível, discutir com alguém o que lê para ter melhor compreensão do que foi lido. O texto nos apresenta várias possibilidades de leitura, aliás, não são somente os textos escritos, mas um quadro, uma situação, uma vestimenta e tantas outras possibilidades de leituras nos são impostas cotidianamente. Ao ler um texto, somos levados a refletir sobre o contexto de produção, as percepções das relações que o texto pode nos fornecer em relaçãoa outros textos, a força expressiva das figuras de linguagem (como as metáforas, por exemplo), a carga significativa das palavras, a identificação dos vários recursos expressivos nos permite uma interpretação mais rica e abrangente do texto. Nenhum texto se produz no vazio, ao contrário, se alimenta de outros textos, 33 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL de modo claro ou subentendido. É o que chamamos de intertextualidade. Ao tomarmos uma palavra, muitas vezes recorremos a um texto alheio com o objetivo de fundamentar nossas ideias ou até mesmo para discordar da fala alheia. A intertextualidade contribui para nosso conhecimento pessoal ou para dar novo sentido às coisas. Quando um determinado autor recorre a outros textos para compor os seus, o faz a construção de significados específicos. Assim, quanto mais experiente for o leitor, mais possibilidades terá de compreender os caminhos percorridos por um determinado autor em sua produção e maior será a sua possibilidade de utilizar seus próprios caminhos e suas produções. Observe alguns exemplos de intertextos: “Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá” (Gonçalves Dias) “Minha terra tem palmares Onde gorjeia o mar” (Oswald de Andrade) Algumas considerações a respeito do texto que devemos ter ciência: o texto não é um aglomerado de frases; todo texto contém um pronunciamento dentro de um debate de escala mais ampla. Assim, ao lermos um texto precisamos estar atentos aos pronunciamentos feitos por quem escreve e o propósito do texto escrito, a intencionalidade. A percepção das relações intertextuais, das referências de um texto a outro, depende do repertório do leitor. Daí a importância da leitura, quanto mais se lê, mais se amplia a competência para apreender o diálogo entre os textos. 3.1.1 Níveis de Leitura Por mais simples que pareça, ao primeiro contato do leitor com um texto, defronta-se com a dificuldade de encontrar a unidade por trás de tantos sentidos que aparecem na superfície do texto. Com textos bem escritos, após algumas leituras é possível encontrar o fio 34 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL condutor, ou seja, percebe-se a harmonia e a coerência existentes. Em qualquer leitura que realizamos podemos perceber, pelo menos, três níveis: no primeiro, abstraímos algumas informações básicas do texto, isto porque já temos algumas informações antecedentes; no segundo nível de leitura podemos apreender significados mais abstratos a partir de ideias concretas e; no terceiro nível, conseguimos finalmente compreender a ideia central do texto. Em outras palavras, o texto pode se apresentar em três planos distintos de sua estrutura: a superficial, onde se instalam o narrador, personagens, cenários, ações concretas; a intermediária, onde se definem os valores; a profunda, onde ocorrem os significados mais abstratos e simples. A análise de um texto permite detectar a importância dos elemento s superficiais, que parecem dispersos e caóticos, a encontrar a posição reguladora de seus sentidos. Vamos ver como isso funciona na prática a partir da fábula a seguir: O galo que logrou a raposa Um velho galo matreiro, percebendo a aproximação da raposa, empoleirou-se numa árvore. A raposa, desapontada, murmurou consigo: “Deixe estar, eu malandro, que já te curo!...” E em voz alta: -Amigo, venho contar uma grande novidade: acabou-se a guerra entre os animais. Lobo e cordeiro, gavião e pinto, onça e veado, raposa e galinhas, todos os bichos andam agora aos beijos, como namorados. Desça desse poleiro e venha receber o meu abraço de paz e amor. -Muito bem! – exclama o galo. Não imagina como tal notícia me alegra! Que beleza vai ficar o mundo, limpo de guerras, crueldades, traições! Vou já descer para abraçar a amiga raposa, mas... como lá vêm vindo três cachorros, acho bom esperá-los, para que também eles tomem parte da confraternização. Ao ouvir falar em cachorro, Dona Raposa não quis saber de histórias, e tratou de pôr-se ao fresco, dizendo: -Infelizmente, amigo Có-ri-có-có, tenho pressa e não posso esperar pelos amigos cães. Fica para outra vez a festa, sim? Até logo. E raspou-se. Contra esperteza, esperteza e meia. 35 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL (LOBATO, Monteiro. Fábulas. 19.ed. São Paulo: Brasiliense, s.d. p. 47) Assim, podemos depreender da primeira leitura ou nível, que um galo esperto, consciente de que a raposa é inimiga, coloca-se em proteção diante do convencimento da raposa e finge ter acreditado na mesma. No segundo nível, podemos compreender que, embora o discurso seja um, no nível da realidade continua o mesmo. No terceiro nível, percebemos a esperteza do galo que não deixa se levar pela conversa da raposa e mantém-se em segurança até pôr à prova o discurso da mesma, alegando a chegada dos cachorros. Sabendo que cachorros e raposas são inimigos, fica fácil entender que o que a raposa queria, de fato, era atacar o galo. Este elemento garante a unidade do texto todo. Saiba Mais! Leia o artigo de Cavenaghi sobre a intertextualidade a partir das histórias em quadrinhos. Consulte-o no site: www.uel.br/eventos/.../Ana%20Raquel%20Abelha%20Cavenaghi.pdf Glossário Depreender: v.t. 1.Chegar à compreensão ou ao conhecimento de; compreender. 2. Deduzir, inferir. Intertextualidade: s.f. criação de um texto a partir de um outro texto já existente. Literato: s. m. Pessoa que se ocupa da literatura; escritor. Metódica: adj. 1. Que tem ordem, que tem método. 2. (fig.) Comedido, circunspecto. Obstante: adj. Que obsta, que impede. Não obstante, apesar de tudo isso, ao contrário do que se esperava; apesar de, a despeito de. Prerrogativa: s. f. 1. Privilégio especial; regalia, apanágio. 2. Atributo peculiar. 4.2 A ANÁLISE TEXTUAL Vimos no capítulo anterior que existem níveis diferentes de leitura. Percebemos que quanto mais tivermos conhecimento acerca dos elementos que estruturam o 36 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL texto, melhor será a sua compreensão. Todo texto fornece uma linha de raciocínio – a argumentação - em que o leitor principiante possa estabelecer um ponto de vista. Sem a linha de argumentação em torno da ideia central de um texto, o texto fica desarticulado, se é que está me entendendo, sem sentido. Abdala Junior (1995: 8) afirma que a análise literária pressupõe dois movimentos: a desmontagem do texto e a sua articulação em torno de um tema capaz de explicar-lhe o sentido. Isto significa que, para entendermos bem um texto é preciso decompormos em todos os seus elementos constitutivos: quem participa do fato, qual é o fato, em que tempo transcorre(u) a ação, qual a intenção do autor. Abdala Junior (1995:9) afirma ainda: (...) a análise conceber-se-á então como atitude descritiva que assume individualmente cada uma de suas partes, tentando descortinar depois as relações que entre essas distintas partes se estabelecem; noutra perspectiva, poder-se-á ainda observar que a elaboração de uma análise literária deve cingir-se, por parte do crítico, a uma tomada de posição racional, a uma atitude objetivamente científica em que os elementos textuais devem predominar sobre a subjetividade do sujeito receptor. Como pudemos observar no fragmento acima, a interpretação não significa inferir qualquer raciocínio porque somos nós quem a realizamos, é preciso estabelecer a relação entre as partes constitutivas do texto. Por meio da interpretação podemos encontrar uma ideiasintética, capaz de nos levar a entender o sentido da construção do texto, no desenvolvimento do seu tema. Na análise textual, não se pode deixar de destacar a correlação autor – narrador – autor implícito. Para melhor entendermos, vamos a cada uma das partes. O autor é o sujeito que escreve, aquele que recebe da realidade os estímulos que o levam a produzir o texto, portanto, as correspondências entre o autor e seu ambiente cultural são auxiliares na análise textual. Em outras palavras, é importante conhecer o contexto histórico-social em que o texto foi produzido para melhor entendermos o propósito do autor com aquele determinado texto. O narrador é uma entidade fictícia (personagem) que age como uma verdadeira máscara para narrar os acontecimentos. Muitas vezes o narrador é confundido com o autor. A título de exemplo, imagine uma letra de música, (gosto das letras de Chico Buarque) em que o compositor é masculino, mas o narrador, aquele 37 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL que fala na letra é feminino. Conhece alguma? Vale a sugestão anterior. É disso que estamos falando, não é o autor, mas o narrador que declara na letra da canção. Entre a figura do autor e do narrador temos o autor implícito. O autor implícito pode ser observado por meio das ideias concebidas através dos discursos ou das várias vozes que circulam o texto. Vejamos o que nos diz Abdala Junior (1995:20) a respeito disso: Na fala do narrador podem aparecer certas ideias que são no fundo do autor – não o autor perfeitamente consciente do que diz, mas com motivações profundas que escapam à sua própria consciência. Ao se colocar entre as categorias de autor e de narrador, a do autor implícito pode propiciar uma abordagem literária sem os riscos do biografismo (análise presa à biografia do escritor, sem estudo sério do texto) ou, em sentido oposto, sem o risco de uma análise formalista (estudo excessivamente preso ao texto e que considera o fato de que o ambiente cultural do escritor contribui para o entendimento da narrativa). Da mesma forma que ocorre a diferença entre autor e narrador, também ocorre entre leitor e narratário. O primeiro é o indivíduo que efetivamente lê o texto, enquanto que o segundo é um destinatário imediato da comunicação. Ao escrever, o leitor não direciona a um leitor específico, mas a uma categoria de leitores (narratários). Ao realizar uma análise, podemos perceber qual o ponto de vista do autor implícito, narrador, personagens e narratário. Independente da forma, os modos de pensar a realidade do autor, autor implícito e narrador devem ser levados em consideração na análise. Vale lembrar que “ nas marcas textuais do autor implícito, aparecem observações que nos levam ao autor não apenas em termos de sua consciência, mas sobretudo de estruturas que escapam à sua consciência” (ABDALA JUNIOR, 1995:23). Saiba Mais! Leia o livro Introdução à Análise da Narrativa do autor Benjamin Abdala Junior para saber mais sobre os elementos da narrativa e como analisar textos. 4.2.1 Argumentação 38 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL Um dos grandes terrores dos estudantes, quando se fala em escrita, é a argumentação. E o que contribui para esse medo é o fato de, na maioria das vezes, os estudantes estarem despreparados para discutir os temas que lhe são propostos para dissertar. Como vimos anteriormente, a leitura é essencial para que o indivíduo esteja preparado para argumentar, discutir sobre assuntos diversos, mas, se o indivíduo não tem o hábito da leitura, esse é um problema do qual levar-se-á grande tempo para ser resolvido. A argumentação é a capacidade que o indivíduo tem para apresentar uma ideia a respeito de um determinado tema, de forma atemporal, em seus valores, mesmo situadas em algum momento histórico ou fictício. A argumentação faz parte dos textos dissertativos, em que a exposição das ideias deve ser fundamentada por argumentos convincentes ao leitor. Argumentar consiste em persuadir, convencer o leitor a aceitar as conclusões acerca de um tema polêmico ou não. O texto argumentativo caracteriza-se pela presença de um argumentador, que diante de um tema, apresenta uma tese (ideia), apoiada em argumentos sólidos, consistentes. A eficácia de um texto argumentativo está parcialmente ligada à figura do argumentador, que tem a autoridade, o direito de defesa, de expor a opinião sobre um determinado tema. A autoridade está relacionada ao conhecimento que o argumentador tem e apresenta sobre um assunto. O depoimento de autoridade pode ser influenciado por possíveis interesses do argumentador no parecer emitido, por isso, a tese exposta pelo argumentador pode revestir-se de três aspectos, conforme aponta CARNEIRO (2001): “certeza, opinião ou dúvida”, porém, estes aspectos atendem a exigências da situação de comunicação podendo ser apresentados de forma diversa: uma certeza pode ser apresentada como uma dúvida, uma opinião ou uma certeza. Os argumentos apresentados pelo argumentador podem ser originais ou alheios, quando deste, podem ser localizadas em citações, indicações de autoria ou ainda constituírem domínio comum. Como um bom argumento é aquele que convence, cabe ao argumentador selecionar o tipo de argumento adequado ao público a que se destina. Os argumentos podem ser fruto da experiência pessoal do argumentador, testemunhos de autoridade, evidências ou julgamentos (inferências que fazemos a respeito dos fatos). As 39 PÓS-GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL inferências são as deduções que realizamos sobre um fato e, por isso mesmo, não são confiáveis. A extensão de um texto dissertativo depende da situação; por exemplo, se for livre, cabe ao argumentador determinar o tamanho; se for em um concurso, normalmente há um limite para a exposição dos argumentos; independente da situação, o texto argumentativo deve apresentar, ao menos, três partes: 4.2.2 Introdução, desenvolvimento e conclusão Normalmente, a pergunta que se faz é: Como farei a introdução? Muito bem, a introdução é o carro chefe de seu texto, se é que me entende. Se você não apresentar as informações que serão relevantes para o desenvolvimento do seu texto, o leitor poderá perder o interesse pela dissertação. Observe alguns esquemas a seguir. Na introdução os argumentos são apenas mencionados, assim, neste primeiro parágrafo informamos o assunto de que a dissertação vai tratar. Você poderá estabelecer uma relação histórica com o tema, ou causa e consequência, mas lembre- se: os argumentos só serão desenvolvidos posteriormente. No desenvolvimento o argumentador apresenta a tese, ou seja, os argumentos que sustentam o ponto de vista. Se na introdução, o argumentador apresentou uma relação de causa e consequência sobre o problema, é no parágrafo do desenvolvimento que fará as explanações a respeito dessa causa e quais as consequências que levaram ao problema. Tudo de forma muito convincente e apoiada em dados. Aqui não se admite “achismo”. No desenvolvimento, os parágrafos devem estar conectados. A conclusão deve retomar o que foi dito nos parágrafos anteriores. Convém retomar a proposta do parágrafo de introdução e rever os objetivos propostos para a explanação do tema. A seguir, faz-se uma reafirmação do tema e é interessante também fazer um comentário sobre os fatos mencionados ao longo da dissertação. Vejamos agora um esquema de texto dissertativo. Tema: Violência Introdução: Em todo o mundo, verifica-se um aumento generalizado da violência. 40
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