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Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 1 A CADEIA PRODUTIVA DE LEITE DE BÚFALAS NO EDR DE MARÍLIA (SP): UMA ANÁLISE DO SEGMENTO DE PRODUÇÃO LEITEIRA giusantini@tupa.unesp.br APRESENTACAO ORAL-Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais JEANETE ALVES VILELA1; GIULIANA APARECIDA SANTINI2. 1.UNESP/TUPÃ, TUPÃ - SP - BRASIL; 2.UNESP/TUPÃ/CEPEAGRO, TUPÃ - SP - BRASIL. A cadeia produtiva de leite de búfalas no EDR de Marília (SP): uma análise do segmento de produção leiteira The netchain of buffalo milk in the EDR of Marília (SP): a segment analysis of milk production Grupo de Pesquisa: Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais Resumo O objetivo deste artigo é analisar o segmento de produção de leite de búfalas no Escritório de Desenvolvimento Rural1 (EDR) de Marília - SP, pesquisando o perfil dos produtores em aspectos de produção, tecnologia e gestão. A metodologia utilizada abordou o método quantitativo para levantamentos e análise de dados secundários, e o método de natureza qualitativa, na busca de informações em artigos acadêmicos, dissertações e teses sobre as atividades relacionadas. Análises realizadas com base em dados coletados por meio de entrevistas com produtores de leite de búfala permitiram aferir algumas características desse segmento, tais como: propriedades, em média, com área acima de 100 ha, rebanhos com média de 140 cabeças de búfalos e maioria com produção leiteira acima de 200 litros/dia, na safra. São unidades produtivas familiares, que contam com mão de obra familiar, e também contratada. A maioria tem na produção de leite de búfala sua principal atividade econômica. Palavras-chave: búfalos, produção de leite, tecnologia, gestão e EDR de Marília. 1 Os Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDR`s) estão distribuídos em 40 regiões do estado de São Paulo e englobam as Casas de Agricultura municipais que estão presentes em todos os municípios do Estado. Disponibilizam aos agricultores e pecuaristas: engenheiros agrônomos, engenheiros agrícolas, zootecnistas e médicos veterinários que prestam informações e orientam o produtor rural na condução de seus negócios agrícolas. Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 2 Abstract The purpose of this article is to analyze the segment of buffalo milk production at the Escritório de Desenvolvimento Rural de Marilia - SP (Marilia's Rural Development Office) [1] (EDR), by researching the producers profile regarding their production, technology and management aspects. The employed methodology covered both quantitative method in order to survey and secondary data analysis, and qualitative method by getting information from academic articles, dissertations and thesis on the related activities. Analysis based on colected data from interviews with buffalo milk producers, made it possible to check some peculiarities of this segment, such as - farms with an average area of 100 ha, herds with an average of 140 buffalos, most of them presenting milk productions over 200 liters per day, during high catching season. They are familiar productive counting on both domestic and contracted workmanship. Most farmers count on the buffalo milk production as their main economical activities. Key words: buffalo, milk production, technology, management, EDR of Marilia 1. INTRODUÇÃO Os búfalos são animais de origem asiática, da família dos bovídae, subfamília bovinae, espécie Bubalus bubalis. Trata-se de um animal extremamente rústico e de alta capacidade de adaptação, podendo sobreviver em diversos ambientes, com grandes variações de clima, relevo e vegetação. É revestido por um couro resistente e espesso (e ao mesmo tempo muito macio), que pode ser utilizado na produção dos mais diversos artigos (bolsas, sapatos, cintos e até bancos de automóveis de luxo). Esses animais também são explorados para a produção de carne, tração animal, produção de esterco e de leite. São encontrados, praticamente, em todos os continentes, particularmente na Ásia (Índia, Paquistão, Tailândia, China, Vietnã), África (Egito), Europa (Itália) e América do Sul (Brasil, Argentina, Venezuela, Peru e Colômbia) (FAO, 2006). Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO, 2006), a Índia é a detentora do maior rebanho mundial, com cerca de 90 milhões de animais, seguido pela China, com aproximadamente 20 milhões, e o Paquistão, com 18 milhões. Em 1995, a produção mundial de leite de búfala era de 54.000 toneladas, passando para 77.000 toneladas em 2005, correspondendo a um aumento de 42% (EMBRAPA, 2007). A bubalinocultura é uma atividade recente no Brasil, mas este já é o maior detentor do rebanho da América do Sul, seguido pela Venezuela, Argentina e Colômbia (VALLE, 1999 apud ANDRIGHETTO et al, 2005). Os búfalos chegaram ao país no final do século XIX, oriundos da Europa, Caribe e Ásia, e foram instalados inicialmente na região norte, na ilha de Marajó (estado do Pará), e depois se expandiram por toda a região, que hoje abriga cerca de 60% do rebanho nacional. Posteriormente, foram introduzidos em outras regiões do país. Inicialmente esses animais foram trazidos apenas por curiosidade, sem nenhum interesse econômico e comercial (BERNARDES,1997). Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 3 No Brasil, quatro raças são oficialmente reconhecidas pela Associação Brasileira de Criadores de Búfalos (ABCD): Carabao, Jafarabadi, Murrah e Mediterrâneo. As três primeiras são de origem asiática e, a última, de origem italiana. O desenvolvimento da exploração econômica desses animais no Brasil se iniciou na década de 1980, onde alguns criadores passaram a avaliar e a quantificar as características zootécnicas do búfalo, uma vez que é um animal com tripla aptidão: produz carne, leite e trabalho (principalmente nas regiões alagadiças), onde são utilizados como animais de tração e montaria (PEREIRA, 2007). Inicialmente, os animais foram destinados à produção de carne, mas a partir da década de 1990 foi reconhecida também sua habilidade para a produção de leite, que apresenta características físico-químicas particulares, em comparação ao leite de vaca, que apresenta o teor de proteínas, gordura e lactose superiores. Por essas características sua industrialização tem gerado produtos diferenciados, como a mozzarela, provolone e ricota, entre outros, que têm recebido remuneração superior à dos produtos oriundos do leite bovino (JORGE et al, 2002 apud ANDRIGHETTO et al, 2005). Os produtores brasileiros notaram este potencial de mercado e passaram a investir na bubalinocultura, pois de acordo com dados da FAO, de 1961 a 1980 houve uma evolução do rebanho no Brasil, em 686%, e de 1980 a 2005, de 143%; enquanto a evolução da produção de frangos nos mesmos períodos foi, respectivamente, 234% e 149%; a de bovinos, 112% e 61%; a de suínos, 34% e – 3%; e de ovinos 31% e - 23% (FAO, 2006). Os búfalos se disseminaram por todo o país, sendo criados em todos os estados e regiões. Segundo dados do IBGE (2007), o efetivo do rebanho bubalino é de 1,1 milhões de cabeças, encontrando-se distribuídos pelas cinco regiões do país. A região norte é a que contém o maior contingente de cabeças de búfalos, concentrando 62% do total, as regiões nordeste e sul têm 11% cada, no sudeste encontra-se 10% e o centro-oeste 6%. Na região sudeste,segundo dados do IBGE (2007), existe aproximadamente 110 mil cabeças. Esta região apresenta algumas consideráveis “bacias produtoras de leite” de búfala, havendo também um importante mercado de queijo de búfala, principalmente mozzarela, mais competitivo do Brasil (SENO; CARDOSO; TONHATI, 2007). O estado de São Paulo, conforme dados da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), tem um rebanho de 40.462 cabeças em 780 UPAS, distribuídas entre os 40 Escritórios de Desenvolvimento Rural (LUPA 2007/2008). A criação de búfalo é encontrada em todas elas, destacando-se Registro, com cerca de 12.700 cabeças; Marília, com 4.200; Itapetininga, com 4.000 e Sorocaba com 3.000. Em face à escassez de informações disponíveis sobre a organização da cadeia produtiva de leite de búfalas, este artigo é justificado, portanto, por explorar questões acerca dessa cadeia produtiva no estado, especificamente da produção leiteira no EDR de Marília. 2. OBJETIVO O objetivo deste artigo é analisar o segmento de produção leiteira de búfalas no EDR de Marília, em relação ao perfil dos produtores em aspectos de produção, tecnologia e gestão. Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 4 Para responder a esse objetivo, o artigo estará organizado em seis seções, além das seções de introdução e de apresentação dos objetivos. Na terceira seção são apresentados os métodos utilizados na pesquisa. Na quarta seção são discutidas questões teóricas acerca de cadeia produtivas, com uma breve caracterização da atividade de bubalinocultura (em números) no EDR de Marília. A quinta seção destina-se à apresentação dos resultados e discussão dos mesmos, em termos do perfil produtivo, tecnológico e de gestão do produtor. A conclusão do estudo é apresentada na sexta seção. 3. METODOLOGIA A pesquisa abordou inicialmente o método quantitativo, pois foi realizada uma pesquisa para levantamentos de dados secundários em documentos, sites e material de institutos de pesquisa, organizações produtivas públicas e privadas. Este levantamento teve o objetivo de coletar dados sobre a quantidade de cabeças de búfalos existentes no EDR de Marília, unidades produtivas e produção de leite. De acordo com Teixeira e Pacheco (2005), o método quantitativo caracteriza-se pelo emprego de quantificação, tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no tratamento desses por meio de técnicas estatísticas. Para o levantamento desses dados, foram utilizadas informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO); Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), associações e produtores do leite de búfalas do EDR de Marília. Posteriormente, a pesquisa envolveu o método de natureza qualitativo, por envolver busca de informações das atividades relacionadas, em artigos acadêmicos, dissertações e teses, bem como a realização de levantamento bibliográfico (revisão teórica) das teorias que deram suporte à pesquisa, como a abordagem de Cadeias Produtivas. A pesquisa qualitativa tem se mostrado uma alternativa para a investigação científica, porque é útil para firmar conceitos e objetivos a serem alcançados e dar sugestões sobre variáveis a serem estudadas com maior profundidade. Os métodos qualitativos apresentam uma mistura de procedimentos de cunho racional e intuitivo, capazes de contribuir para melhor compreensão dos fenômenos (GIOVINAZZO, 2001). Para Richardson (1999) apud Paula e Martinelli (2004), o método qualitativo não pretende numerar ou medir unidades ou categorias homogêneas e difere do quantitativo na medida em que não emprega um instrumental estatístico como base do processo de análise de um problema. O método qualitativo se caracteriza por um maior foco na compreensão dos fatos e interpretação dos aspectos profundos do comportamento humano, do que em sua mensuração, ao contrário dos métodos quantitativos, que se preocupam com a medida dos fenômenos e que utilizam geralmente amostras amplas e informações numéricas (MARCONI e LAKATOS, 2004). Também foi realizada uma pesquisa prática, por meio de estudos de campo para investigar sobre a produção do leite de búfala no EDR de Marília, ou seja, foram realizadas Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 5 entrevistas2 com questionários semi-estruturados junto aos produtores, além da observação de fatos, para confirmar os dados coletados previamente, e compreender aspectos produtivos, tecnológicos e de gestão da atividade de produção leiteira. Para as análises descritivas das informações, o método qualitativo foi o suporte. Para Neves (1996) apud Giovinazzo (2001), os métodos qualitativos e quantitativos não são excludentes, embora difiram quanto à forma e à ênfase. Este trabalho pode ser classificado como um estudo exploratório, pois de acordo com Cervo e Bervian (2003), este estudo é usado quando há pouco conhecimento sobre o problema a ser estudado, e no tema de gestão (organização dos produtores), especificamente no estado de São Paulo, existem poucos trabalhos evidentes para a cadeia da bubalinocultura. 3.1. A AMOSTRA DA PESQUISA Amostragem é o processo pelo qual se obtém informação sobre um todo (população), examinando-se apenas uma parte do mesmo (amostra). Para coletar dados junto aos produtores de leite de búfala a amostragem foi não probabilística3, pois as unidades amostrais foram selecionadas de acordo com o acesso aos produtores, restrição de tempo e orçamento que visava otimizar os resultados da pesquisa. Portanto, a amostra não foi sorteada, mas restrita aos elementos que estavam prontamente acessíveis. Dos trinta produtores existentes no EDR de Marília foram entrevistados 11 produtores da atividade. Foram entrevistados 2 produtores de Marília, num universo de 6; 1 em Oriente, pois era o único produtor; 7 em Pompéia, onde existiam 21 e 1 em Quintana, que também era o único. A figura 1 apresenta a representatividade dos entrevistados de cada município na totalidade da amostra da pesquisa. 2 A entrevista é uma interação entre dois indivíduos (sujeito observador e informante), em que o primeiro tenta, por meio de estímulos verbais, obter respostas verbais sistematizadas; já o questionário também é uma interação entre observador e informante, com a diferença de que o observador é único e impessoal, e o contato entre observador e informante é feito por um conjunto de folhas de papel (Abramo, 1979, apud Hanashiro, 2003). 3 Amostra não probabilística não tem base estatística e é aquela restrita aos elementos (pessoas) da população a que se tem acesso. Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 6 18% 9% 64% 9% Marília Oriente Pompéia Quintana Figura 1: Representatividade dos questionários por município na totalidade da amostra. Fonte: Elaborado pelas autoras com base em dados da CATI Esses percentuais não denotam uma amostra probabilística, mas somente o resultado de uma amostra não probabilística, realizada de acordo com o acesso e também com um critério de julgamento do pesquisador. O julgamento/ critério utilizado pelo pesquisador para a escolha de quem entrevistar em cada município foi a venda da matéria-prima para diferentes organizações que a adquirem na região. A pesquisadora já tinha conhecimento prévio de quantos e quais agentes (empresas processadoras e supermercado) compravam a matéria-prima leite de búfala dos produtoresdo EDR de Marília. Assim, a escolha dos entrevistados baseou-se em produtores que tivessem (na sua somatória) variabilidade no aspecto comercial, ou seja, que representassem relação comercial com todas as empresas processadoras e supermercado que vêm buscar matéria-prima na região. 4. CONTRIBUIÇÃO TEÓRICA ACERCA DE CADEIAS PRODUTIVAS Para a realização da pesquisa sobre a cadeia produtiva de leite de búfalas, com ênfase na produção pecuária, foi necessário recorrer a teorias que auxiliassem no entendimento das questões tratadas, assim sendo, algumas definições acerca de Cadeia Produtiva. O conceito de cadeia produtiva é oriundo de duas vertentes metodológicas: a de Davis e Goldberg, os quais criaram o conceito de Agribusiness (década de 50, nos Estados Unidos), e a que se desenvolveu na escola industrial francesa, a noção de Analyse de Filière (década de 60). Para Davis e Goldberg (1957) apud Batalha e Silva (2008), Agribusiness se caracteriza pela soma das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas unidades agrícolas, do armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens a partir deles. Posteriormente, em 1968, Goldberg utilizou a noção de Commodity System Approach (CSA) para estudar o comportamento dos sistemas de produção da laranja, trigo e soja nos Estados, e para tal, Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 7 utilizou um corte vertical na economia, tendo como ponto de partida e principal delimitador do espaço analítico, uma matéria-prima agrícola específica. A Análise de Filière também considera como objeto de análise uma seqüência de operações que envolvem desde a industrialização dos insumos até a distribuição dos alimentos, designando uma cadeia de produção agroindustrial. Esta pode ser segmentada de jusante a montante em macrossegmentos que podem variar segundo o tipo de produto e o objeto de análise. Esses segmentos são: a) as empresas que comercializam o produto final e estão em contato com o consumidor; b) as que transformam a matéria-prima em produtos destinados ao mercado c) e as que fornecem as matérias-primas para outras empresas (BATALHA E SILVA, 2008). As metodologias de análises de cadeia produtiva, embora originárias em épocas e países diferentes (oriundas nos Estados Unidos e na França), guardam muitas semelhanças: a) ambas compartilham a noção de que a agricultura deve ser vista dentro de um sistema mais amplo, composto também e, principalmente, pelos produtores de insumos, pelas agroindústrias e pela distribuição/ comercialização; b) utilizam a noção de sucessão de etapas produtivas, desde a produção de insumos até o produto acabado, como forma de orientar a construção de suas análises. Ambos os conceitos destacam o aspecto dinâmico do sistema e tentam assumir um caráter prospectivo. Uma das principais diferenças entre as duas metodologias reside na importância dada ao consumidor final como agente dinamizador da cadeia. Uma análise em termos de cadeias de produção, dentro dos moldes propostos pela escola francesa, parte sempre do mercado final (produto acabado) em direção à matéria-prima de base que lhe originou, enquanto as implicações em termos de CSA têm em sua grande maioria, elegido uma matéria- prima de base como ponto de partida.4 Para Zylbersztajn, Farina e Santos (1993), a cadeia produtiva é constituída por uma seqüência de operações interdependentes que têm por objetivo produzir, modificar e distribuir um produto. Em se tratando de cadeias produtivas agroindustriais, engloba as atividades de apoio à produção agropecuária (fornecimento de insumos, assistência técnica, pesquisa etc.); a produção agropecuária dentro da fazenda; o seu armazenamento; beneficiamento, a transformação industrial e a distribuição (atacado e varejo) de um produto, “in natura” ou transformado, até o consumidor final. Os atores da cadeia produtiva são os produtores, industriais, distribuidores e consumidores, que são os tomadores de decisão e podem influenciar e interferir em sua coordenação. Esta influi na eficiência da cadeia, que é determinada por uma produção a custo mínimo, com certo nível tecnológico e que atenda às necessidades do consumidor. Também para Jank et al (1999), cadeia produtiva é definida como a rede constituída por diversos atores que geram relações de força coletiva, que influenciam diretamente as estratégias mercadológicas e comerciais, assim como a tomada de decisão de cada um dos atores. A Figura 2 permite observar o encadeamento de atividades de uma cadeia produtiva. Ambiente Institucional 4 Este trabalho contempla a noção de cadeia de produção agroindustrial a partir da metodologia de CSA, uma vez que da produção de búfalas é possível a obtenção do leite que é transformado em produtos comercializáveis, como os queijos. Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 8 Fluxo de informações e capital Ambiente Organizacional Figura 2: Modelo de Cadeia Produtiva Fonte: EMBRAPA (2007) A figura 2 pode ser analisada como um fluxo de um produto, no qual a margem superior é representada pelo Ambiente Institucional e se refere aos instrumentos que regulam as transações comerciais e trabalhistas (leis, normas, resoluções e padrões de comercialização), e a margem inferior é o Ambiente Organizacional, que é representado por órgãos do governo, instituições de créditos, universidades, centros de pesquisas, agências credenciadoras, entre outros.5 Esses ambientes regulam as relações entre os agentes da cadeia no mercado nacional e internacional e promovem as condições de atuação na cadeia. É constituído de instituições e organizações locais, regionais, nacionais e internacionais que influenciam na criação e modificação do conjunto de tais regras. Como o foco deste trabalho refere-se somente ao segmento de produção pecuária da cadeia de leite de búfala, vale destacar algumas características do produto oriundo dessa atividade. O leite de búfala não apresenta nenhuma restrição, tanto para o consumo humano in natura como em utilização na indústria, onde seus subprodutos apresentam qualidades superiores aos subprodutos provenientes do leite de outras espécies. Para a produção do leite de búfala, até o momento, não há legislação específica quanto aos critérios de seleção do leite, mas é preciso seguir as exigências legais advindas do governo e de seus órgãos fiscalizadores quanto às condições de higiene sanitárias necessárias. Essas exigências estão contidas na Instrução Normativa nº 51, de 2002, do Ministério da Agricultura, que institui regulamentos técnicos, fixando condições e requisitos mínimos de higiene sanitária para a obtenção e coleta da matéria-prima, produção e comercialização, permeando assim, níveis e padrões aceitáveis de qualidade do leite. No que tange à obtenção da matéria-prima, a referida instrução tem por objetivo a qualidade nas propriedades rurais, fixando requisitos para as características do leite cru (físicas, químicas, microbiológicas, resíduos químicos e de contagem de células somáticas). 5 No âmbito organizacional, vale destacar a importância da Associação Brasileira de Criadores de Búfalos (ABCB), fundada em 1986, e que tem por finalidade agregar criadores, profissionais e técnicos ligados abubalinocultura para troca de informações quanto à produção, mercado, comercialização, bem como interagir junto a entidades de pesquisas e órgãos de extensão rural na busca de informações e tecnologia. Proprieda- de Agrícola Agro- Indústria Comércio (atacado) Comércio (varejo) Consumi- dor Final Fornece- dores de Insumos Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 9 O leite de búfala apresenta características muito próprias que permitem que o produto seja facilmente identificado sob ponto de vista físico-químico e organoléptico. Seu sabor é ligeiramente adocicado e é mais branco quando comparado ao leite bovino, devido à ausência quase total do caroteno (pro-vit. A), em sua gordura. Possui acentuadas diferenças em relação ao leite de vaca e estas se manifestam desde o colostro. É na qualidade que o leite bubalino tem maior vantagem, pois é mais concentrado do que o leite bovino, apresentando menos água e mais matéria seca. Possui teores de proteínas, gorduras e minerais que superam consideravelmente os do leite de vaca. Entretanto, é no aproveitamento industrial que está sua importância, pois apresenta rendimento maior, chegando a suplantar o rendimento do leite bovino em mais de 40% (Nader Filho, 1984 apud Benevides, 1998). 4.1. A BUBALINOCULTURA NO EDR DE MARÍLIA O estado de São Paulo, conforme dados da CATI (LUPA 2007/2008), possui um rebanho de 40.462 cabeças em 780 UPAS, distribuídas entre os 40 EDR´s do estado. Dos Escritórios Regionais existentes no estado, o foco da pesquisa foi o EDR de Marília, assinalado na Figura 3. Figura 3: EDR`s do Estado de São Paulo Fonte: CATI (LUPA 2007/2008). O EDR de Marília é a região que apresenta o segundo maior contingente de búfalos no estado, totalizando 4.213 cabeças, sendo a de Registro, a que apresenta maior quantidade, mais de 12.000 cabeças (LUPA 2007/2008). No EDR de Marília são Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 10 encontrados búfalos em cinco dos treze municípios que o compõem, sendo os mais representativos os municípios de Pompéia e Marília, conforme apresentado na tabela 1. Tabela 1: Municípios do EDR de Marília na produção de búfalos Fonte: CATI (LUPA 2007/2008) A partir dos anos de 1980 e 1990, a região do EDR de Marília começou a apresentar expansão na criação de búfalos, seja pelo aumento no efetivo dos rebanhos, seja pelo aumento no número de propriedades envolvidas nessa atividade. Um grande estímulo aos criatórios da espécie bubalina ocorreu, principalmente, após a absorção da produção leiteira por estabelecimentos industriais locais e também de outras localidades que passaram a remunerar o produto de forma diferenciada do leite bovino. 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ACERCA DO SEGMENTO DE PRODUÇÃO PECUÁRIA 5.1. PERFIL DO PRODUTOR E DA PROPRIEDADE De acordo com as entrevistas realizadas pôde- se observar que a produção de leite de búfala é realizada, na sua totalidade, por unidades familiares, sendo a administração da empresa rural realizada somente pelo proprietário, ou pelo proprietário e membros da família. Observou-se também que o nível de escolaridade dos Município UPA Nº de Cabeças Álvaro de Carvalho - - Alvinlândia - - Fernão - - Gália 01 16 Garça - - Lupércio - - Marília 06 1.384 Ocauçu - - Oriente 01 55 Oscar Bressane - - Pompéia 21 2.678 Quintana 01 80 Vera Cruz - - Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 11 produtores oscila do ensino fundamental ao ensino superior, sendo este último o predominante, 63% dos entrevistados. Todos os entrevistados são proprietários da área onde produzem e estas apresentam proporções bastante diferentes (variando de 10-49 hectares, para mais de 500 hectares), apresentando em média 140 cabeças de búfalos/ propriedade (CATI, 2008). A Figura 4 apresenta a distribuição das propriedades entrevistadas em termos de porte. 18% 18% 9% 46% 9% 10 a 49 50 a 99 100 a 199 200 a 499 mais de 500 Figura 4: Área das propriedades em hectares Fonte: Elaborado pelas autoras com base nas entrevistas Pode-se observar que há um número maior de propriedades, 46% do total, que se concentra na faixa de 200 a 499 hectares, consideradas de tamanho médio. Porém, o tamanho da propriedade não influencia na forma de ocupação da terra. Existem propriedades de menor porte que possuem apenas 50% da área destinada à criação dos búfalos e outras de maior porte (com mais de 500 hectares), onde a área é totalmente (100%) voltada à criação desses animais. Foi observado que em 72% das unidades rurais entrevistadas a produção de leite é a principal atividade. Pôde-se verificar que a produção de leite é relativamente mais importante, em termos econômicos, para o estrato de maior produção e área, e menos importante para a de menor. Na maioria das propriedades dos entrevistados, entretanto, o tamanho da área influencia na quantidade de leite produzida diariamente, pois a criação é realizada a pasto, tendo a ração apenas como complemento. Na tabela 2, pode-se observar esta relação do tamanho da área com a quantidade produzida. Tabela 2: Relação da área (ha) com a produção de leite (l) Hectares (ha) Litros/dia 10 a 49 20 50 a 99 130 a 160 100 a 199 620 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 12 200 a 499 200 a 550 mais de 500 900 Fonte: Elaborado pelas autoras com base nas entrevistas Existe uma exceção, para uma propriedade que se encontra na faixa de 100 a 199 hectares e que produz em média 620 litros/ dia, o que denota um aproveitamento ótimo em relação à lotação de animais por hectare e também, produtividade por animal acima da média. Ademais, observa-se aumento de produção à medida que há aumento de área, notando-se, por exemplo, um aumento de 4.400% na produção de leite entre o estrato de área menor (10 a 49 ha) para a de maior (mais de 500 há). Em todas as propriedades, o manejo com os animais é realizado pelo proprietário, com auxílio da família, e todos possuem funcionários, variando em número de 1 a 4. Propriedades com produção de 20 a 199 litros/dia possuem somente 1 funcionário; de 200 a 399 litros/dia, 2 funcionários e mais de 400 litros/dia, 4 funcionários. Além da produção de leite, existem outras atividades que podem gerar renda, como a engorda dos machos para abate e também a venda de descartes, que são búfalas que não têm produção de acordo com os padrões exigidos pelo proprietário. Essas atividades são praticadas por 100% dos entrevistados. 5.2. PRODUÇÃO E TECNOLOGIA Foi possível observar que para a produção do leite de búfala são utilizados animais das raças Murrah, Jafarabad e Mediterrâneo, sendo a primeira, a predominante, pois está presente, em maior quantidade, em todas as propriedades, e as outras são encontradas em apenas algumas propriedades. A raça Murrah é originária do Noroeste da Índia, difundindo-se no Norte do país e no Paquistão. O nome Murrah significa caracol em hindu,em uma clara referência ao formato espiralado dos chifres da raça. É considerada a maior produtora de leite dentre as raças bubalinas. Sua conformação e tipo indicam aptidão mista, com prevalência do tipo leiteiro e de temperamento dócil. As fêmeas têm peso médio de 550 kg, enquanto os machos pesam, em média, 750 kg, sendo considerada uma raça de porte médio. É a preferida dos produtores pelo seu menor porte, também porque consome menos alimentos e a produção leiteira é considerada boa. A raça Jafarabadi é originária da Floresta de Gir, península Kathiavar, Estado de Gujarat, Oeste da Índia, e tem aptidões para produção de leite e carne, de temperamento dócil. Caracteriza-se pela forma peculiar da cabeça, com os chifres longos, caídos e voltados para cima. A pelagem é preta e bem definida. No Brasil há duas variedades bem distintas: a Gir búfalo, de porte mais delicado e de ossatura leve, e a Palitana, que possui ossatura mais pesada e grande carapaça na região frontal da cabeça. A raça Mediterrânea é originária da Índia. No Brasil, é conhecida também como búfalo “preto” ou “italiano”, por ser a raça criada na Itália para produção de leite e utilização deste para a produção de mozzarela. Embora tenha sido selecionada para a produção de leite, tem aptidão mista (leite e carne), devido ao seu porte que é grande e pesado. Possui temperamento dócil. Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 13 Por meio das entrevistas observou-se então, que o tipo de rebanho utilizado é voltado para a produção de leite, sendo este o objetivo principal visado pelos produtores. A reposição dos animais é realizada pelo próprio rebanho, onde são retidas as fêmeas com melhores características genéticas, e para a reprodução são adquiridos touros de raças puras de origem Somente 9% dos entrevistados utilizam inseminação artificial para a reprodução, os demais a realizam por meio de monta a campo, pois para a utilização da inseminação artificial ainda existem muitas barreiras, tais como: falta de pessoal especializado, dificuldade na aquisição do sêmen 6e também falta de informações por parte do produtor. Pequena parcela dos entrevistados realiza o registro genealógico7 dos animais, apenas 27%. A identificação dos animais é feita por meio de brincos em 81% das unidades produtivas e a tatuagem é utilizada em 9%, e somente 9% não fazem uso de nenhum tipo de identificação. A ordenha é realizada de forma mecânica em 91% das propriedades (apenas uma propriedade que ainda não está utilizando, está em processo de instalação, por motivo de mudança de local). Em 100% das propriedades pesquisadas foram observados resfriadores8 próprios. Uma búfala produz, em condições de exploração a pasto e em ordenha diária, cerca de 1.200 kg de leite por lactação, com duração média de 250-270 dias. A espécie apresenta um ciclo sazonal de parições bastante marcado, sendo que cerca de 90% dos nascimentos ocorrem entre os meses de janeiro a março, havendo um pico de produção nos meses de junho e julho, ou seja, uma curva de lactação praticamente inversa da observada em bovinos (BERNARDES, 1997). Na região, de acordo com informações da pesquisa, os produtores utilizam pastejo alternado e também fazem o rotacionamento das pastagens, sendo também encontrada uma variedade de gramíneas, como: o napiê, brachiaria humidícola, MG5, MG4, tanzânia, brachiaria brisantha, mombaça, estrela da África, entre outras. A média de leite/dia por vaca, entre os produtores pesquisados, varia de 5 a 7 litros/ dia, o que está dentro dos parâmetros dos plantéis do estado de São Paulo, que variam entre 6 a 10 litros/dia (ABCB, 2008). A média de produção/dia, por propriedade, pode ser observada na tabela 3. Tabela 3: Média de litros/dia por propriedade 6 As empresas que fornecem sêmen estão localizadas na cidade de São Paulo e nos estados do Rio Grande do Sul e Pará. 7 Registro genealógico é um registro realizado para cada animal da propriedade rural e que contêm informações sobre ocorrências de cobrições, nascimentos, desmame, mortes e transferência entre outros. 8 Resfriadores de leite são equipamentos que têm a finalidade de retirar o calor contido no leite, baixando a temperatura ao nível no qual a proliferação de bactérias se torna quase zero. Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 14 Fonte: Elaborado pelas autoras com base nas entrevistas Pode-se observar que em 63% das propriedades a produção se encontra na média acima de 200 litros/dia, e são também propriedades que possuem área acima de 200 hectares. Como o pico da produção ocorre, geralmente, nos meses de junho e julho, época em que a pastagem começa a diminuir em função do período de menor densidade pluviométrica, os produtores complementam a alimentação do rebanho com ração proveniente de resíduos de amendoim, bolacha, GL2 (concentrado de proteína), farelo de soja, polpa cítrica ou de milho, cana triturada com sal proteinado ou uréia e cevada, para que seja mantido o seu nível. Como discutido na seção anterior, apesar da produção de leite ser a principal atividade das unidades produtivas pesquisadas, existe outra atividade que pode ser considerada na bubalinocultura para rendimentos financeiros, como a engorda e venda dos machos. Quando engordados, são vendidos para os frigoríficos com idade entre 18 a 24 meses, mas também há produtores que os descartam logo após o desmame. Para orientação na produção, 72% dos produtores recorrem à assistência técnica que são fornecidas por órgãos variados, como: Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Marília (COOPEMAR), Casa da Agricultura dos municípios a que pertence a propriedade, Universidade de Marília (UNIMAR), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e fornecedores de insumos. Os outros 28% não mencionaram nenhuma assistência técnica quando foi perguntado. De todas as organizações mencionadas, apenas o SEBRAE fornece informações sobre gestão da produção, as demais transmitem informações técnicas quanto ao manejo, nutrição, saúde animal, entre outras. 5.3. ASPECTOS DA GESTÃO De acordo com Nantes e Scarpelli (2008), em decorrência da globalização, nos mercados de alimentos e fibras as margens de lucros estão cada vez menores, levando as propriedades rurais a desenvolver um novo posicionamento, praticando uma agropecuária moderna e ligada às agroindústrias ou canais de distribuição, para que possam ser competitivas. Para ser competitiva é preciso que as unidades produtivas busquem novos modelos de gestão e operação, visando ter um produto com os padrões de qualidade definidos pelo consumidor final. Quantidade de litros/dia Quantidade de propriedades 0 - 99 10 % 100 – 199 27 % 200 – 299 18 % 300 – 400 18 % Mais de 500 27 % Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 15 Na pesquisa em questão, observou-se que em 91% das propriedades a produção de leite é o fator principal para geração de receita, ficando a venda de machos para o abate e o descarte, em segundo plano. Apenas 9% dos entrevistados não comercializam o leite com laticínios, realizando a comercialização de sua produção para um supermercado da região. Os demais vendem para os laticínios, que são visualizados na Figura 5. 50% 30% 10% 10% HérculesBúfalo Dourado Búfalo D'Oeste Almeida Prado Figura 5: Laticínios e a porcentagem de fornecedores (entrevistados) por unidade processadora. Fonte: Elaborado pela autora com base nas entrevistas. Dos laticínios apresentados, dois estão inseridos na região que é foco da pesquisa, sendo o Búfalo D’Oeste e o Hércules (60% das vendas por parte dos produtores). Os demais se encontram em outras regiões, como EDR`s de Araraquara e Jaú (40% das vendas) e processam somente leite de búfala. O laticínio Hércules não apresenta no mercado produtos fabricados exclusivamente com leite de búfala, pois este é misturado ao leite de vaca, apesar de ter como fornecedor 50% dos produtores entrevistados. Portanto, pode-se concluir que o mercado para a venda do leite de búfala na própria região é bastante limitado, pelo reduzido número de compradores próximos, ficando os produtores dependentes de compradores de outras regiões. O produtor escolhe a empresa com a qual irá comercializar seu produto de acordo com alguns critérios. O mais mencionado foi o preço, em seguida vem a seriedade na negociação, fidelização ao cliente, proximidade e facilidade de entrega. Apesar de ser a variável mais mencionada (preço), 64% dos entrevistados não estão satisfeitos com o preço que recebem, variando entre R$1,00 a R$1,20/ litro, mesmo sendo este superior ao preço do leite de vaca, que em média no estado de São Paulo é de R$0,67/ litro. O argumento para a não satisfação é que por este preço e pela média produzida por búfala, apenas é possível cobrir os custos de produção, não gerando renda suficiente para a manutenção da família. Esta renda é complementada com a venda de machos e de descartes do rebanho. Porém, apenas 45% dos entrevistados realizam o controle de custos da produção. Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 16 Apesar de serem poucas as organizações sindicais do setor, foi possível observar que 54% dos entrevistados pertencem a alguma associação sindical, mesmo que seja de outro setor, como o Sindicato dos Produtores Rurais de Pompéia, e também, alguns são sócios de cooperativa (COOPEMAR, Cooperativa Sul Brasil). Para eles, o sindicato oferece algumas vantagens, como assistência jurídica, contábil e trabalhista, troca de informações, palestras, e as cooperativas disponibilizam assistência técnica, informações sobre mercado, entre outras. Muitas vezes os produtores de leite vão atrás das informações para se manterem na “vanguarda” de seu setor, conforme as entrevistas feitas. Para o suporte financeiro na produção, apenas 45% dos proprietários utilizam financiamentos bancários, os demais trabalham com ativos próprios para implementação e desenvolvimento das atividades. Os principais problemas enfrentados para a produção de leite de búfala, segundo os entrevistados estão listados na tabela 5. Tabela 5: Problemas para a produção leiteira de búfalas Fonte: Elaborado pelas autoras com base nas entrevistas Na questão da mão-de- obra, o problema refere-se à alta rotatividade e na falta de especialização para a atividade. Em termos de custo com a alimentação, o fato do pico da produção coincidir com os meses de menor densidade pluviométrica, onde as pastagens se tornam mais fracas e há necessidade de uma complementação da alimentação (que é feita com ração), acaba elevando os custos para a produção. De acordo com os entrevistados, o preço poderia ser mais atrativo, dado o diferencial que o produto oferece, comparativamente ao leite de vaca, para que o produtor pudesse ter uma rentabilidade maior, com disponibilidade de receita para os meses em que não há produção de leite. Quanto ao mercado restrito, como já foi mencionado anteriormente, existe apenas um laticínio na região que compra o leite dos produtores e processa exclusivamente leite de Ordem Problemas 1 Mão-de-obra 2 Custo com a alimentação 3 Preço 4 Mercado Restrito 5 Exigências da Lei Ambiental 6 Custo de Produção 7 Falta de Reconhecimento do Produto 8 Competitividade dos machos 9 Pisoteio nas Pastagens 10 Manutenção das Cercas Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 17 búfala, o que repercute inclusive, na falta de reconhecimento do produto, uma vez que pouco valor é atribuído ao diferencial que o produto oferece. Ainda em relação aos gastos na atividade, segundo os entrevistados, o custo de produção torna-se muito alto se acrescentado à alimentação dos animais, produtos concentrados e energéticos (como suplementação para aumentar produção), pois mesmo com o aumento da produtividade, financeiramente não é vantajoso (na relação custo- benefício). A bubalinocultura também exige grandes áreas para acomodação de machos na pastagem, uma vez que há ´disputa` dos animais machos em mesma área, o que demanda maiores áreas e cercamento das mesmas. Como é um animal mais pesado, é preciso haver um processo de rotação nas pastagens, para que essas se recuperem do pisoteio. Além disso, como é um animal que não pode ser contido por cercas comuns (dado sua força), é necessário ter cercas elétricas, o que requer manutenção constante. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estado de São Paulo não é o maior produtor de búfalos do Brasil; o maior é o estado do Pará, porém, é o maior consumidor dos produtos oriundos do leite de búfala, principalmente a mozzarela. Dentro do estado existem alguns EDR`s que têm considerável criação desses animais, sendo o de Registro o que apresenta um maior número desses animais (cerca de 12.000) e o de Marília vem em seguida, com mais de 4.000 cabeças de búfalos. Como exemplo do que acontece no contexto nacional, a cadeia do leite de búfala no EDR de Marília organiza-se, teoricamente, de maneira similar às demais cadeias, sendo composta por fornecedores de insumos, máquinas e equipamentos, produtores primários, agroindústria, distribuidores e consumidores. Por meio da pesquisa de campo, específica ao segmento de produção pecuária, no EDR de Marília, pôde-se observar que 63% da produção concentram-se em propriedades com mais de 100 hectares e 72% dos entrevistados têm na produção do leite de búfala sua principal fonte de renda. A administração dessas unidades produtivas no EDR de Marília tem característica familiar. A tecnologia adotada pelos produtores da pesquisa apresentou um padrão relativamente bom, pois 91% dos produtores trabalham com ordenha mecânica e 100% possuem resfriadores, fator que acarreta melhor produtividade e qualidade do produto final. Esses fatores indicam que em termos produtivos os produtores do EDR de Marília possuem alguns elementos que favorecem a competitividade, pois há tecnologia em termos de ordenha e armazenamento do produto. Observa-se, todavia, por enquanto, um menor desempenho em relação à utilização da inseminação artificial para reprodução dos animais. Um fator de entrave à atividade é o fato de haver poucos laticínios na região que processam exclusivamente leite de búfala, o que força o produtor a vender a matéria-prima para uma empresa que não a utiliza para fabricar um produto diferenciado. Outro fator importante corresponde à baixa articulação e integração entre os produtores do leite de búfala com as instituições de ensino e pesquisa, fator que pode contribuir para maior inclusão competitiva e tecnológica. Com base no que foi pesquisado verifica-se que alguns mecanismos podem colaborar para que haja aumento competitivo da atividade, destacando-se a maior integração entre os produtores, naforma de associações ou cooperativas, para que seja possível reduzir o Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 18 número de atravessadores, aumentando assim, o lucro, além de permitir maiores investimentos em recursos tecnológicos, a preços reduzidos, em função da escala. 7. 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