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Nanopartículas para aplicação oncológica Diana Brito Parreira Joana Eugénio Examinadoras de Patentes Outubro de 2011 2 Índice 1. Nanomedicina ....................................................................................................... 3 2. Nanopartículas para diagnóstico oncológico ......................................................... 5 2.1. Diagnóstico in vitro ........................................................................................ 5 2.2. Diagnóstico in vivo ........................................................................................ 6 2.2.1. Nanopartículas de óxido de ferro ........................................................... 6 2.2.2. Nanovermes .......................................................................................... 7 3. Nanopartículas para teranóstico oncológico .......................................................... 9 4. Nanopartículas para terapia oncológica .............................................................. 11 4.1. Polímeros .................................................................................................... 11 4.1.1. Nanopartículas poliméricas .................................................................. 12 4.1.2. Micelas ................................................................................................ 12 4.1.3. Dendrímeros ........................................................................................ 13 4.2. Lipossomas ................................................................................................. 14 4.3. Nanopartículas virais ................................................................................... 15 4.4. Nanotubos de carbono ................................................................................ 15 4.5. siRNA e nanopartículas ............................................................................... 16 4.6. Nanopartículas de ouro ............................................................................... 18 4.6.1. Nanoconchas de ouro-sílica ................................................................ 18 4.6.2. Nanobastões de ouro .......................................................................... 19 4.6.3. Nanopartículas ouro-sulfureto de ouro ................................................. 19 4.6.4. Nanoconchas ocas de ouro ................................................................. 20 4.6.5. Nanocelas de ouro ............................................................................... 20 5. Nanopartículas para a prevenção do cancro ....................................................... 21 6. Diagnóstico tecnológico na área das nanopartículas para aplicação oncológica . 23 7. Enquadramento do Projecto Lote 18 - Diagnóstico Genético .............................. 28 8. Notas conclusivas ............................................................................................... 29 9. Referências bibliográficas ................................................................................... 30 3 1. Nanomedicina A Nanotecnologia, juntamente com alguns conceitos relacionados, tais como os nanomateriais, nanoestruturas e nanopartículas, tornou-se uma prioridade para a investigação científica e desenvolvimento tecnológico. A Nanotecnologia, i.e., a criação e utilização de materiais e dispositivos à nanoescala, tem já inúmeras aplicações nas mais variadas áreas, como em Engenharia de Materiais, Energia, Electrónica e Computação [1]. Contudo, as maiores expectativas para a sua aplicação residem na Biotecnologia e Saúde, nomeadamente nas implicações que pode ter na qualidade de saúde das sociedades futuras. A emergente nanomedicina associa a nanotecnologia à medicina de forma a desenvolver novas terapias e melhorar os tratamentos actualmente utilizados. Na nanomedicina manipulam-se átomos e moléculas para produzir nanoestruturas do mesmo tamanho de biomoléculas para interacção com as células humanas. Este procedimento oferece uma gama de novas soluções para o diagnóstico e para tratamentos inteligentes estimulando os próprios mecanismos de reparação individuais. Esta abordagem irá potenciar o diagnóstico precoce e o tratamento de doenças tais como cancro, diabetes, Alzheimer, Parkinson e doenças cardiovasculares. Actualmente as terapias para o tratamento de cancro são, de um modo geral, as mesmas que se utilizam desde há 40 anos e consistem basicamente em dissecção cirúrgica, radioterapia e/ou quimioterapia. Estas terapias têm uma eficácia limitada, altos níveis de citotoxicidade e vários efeitos secundários indesejados. Adicionalmente, a natureza da doença é tal que, a menos que se destruam todas as células do cancro, as hipóteses de reincidência são elevadas e normalmente estão associadas a tumores mais agressivos e resistentes à terapia. Também de acordo com o tipo de cancro variam as respostas ao tratamento, por exemplo no cancro do ovário ou do pâncreas, que têm taxas de sobrevivência muito baixas e aos quais está associada uma fase avançada da doença no momento do diagnóstico, seria de uma importância extrema desenvolver não só terapias mais eficazes com menos efeitos secundários, mas também métodos que permitam a detecção precoce destes tipos de cancro [2]. 4 As estruturas à nanoescala podem ser manipuladas à escala atómica e integradas em materiais, componentes, sistemas ou arquitecturas maiores. O potencial para a utilização da nanotecnologia em Medicina e especialmente na área do cancro, é muito vasta. Por exemplo, nanopartículas direccionadas para as células tumorais irão permitir aplicar terapias selectivas, com menos efeitos secundários. Adicionalmente, uma capacidade aumentada para visualização de células tumorais irá permitir um diagnóstico precoce, conferir uma monitorização em tempo real da eficácia de um tratamento e controlar o aparecimento de metástases ou de tumor reincidente. Existe ainda a possibilidade de reaproveitamento de agentes quimioterapêuticos, cujo interesse diminuiu por serem extremamente tóxicos mas que, tendo em conta os sistemas de distribuição possíveis através da Nanotecnologia, podem agora tornar-se opções viáveis no tratamento de cancro [2]. 5 2. Nanopartículas para diagnóstico oncológico 2.1. Diagnóstico in vitro De entre os desenvolvimentos da nanotecnologia, surgiu recentemente uma nova vertente que combina a nanotecnologia com a biotecnologia. Esta vertente utiliza vários tipos de nanomateriais e nanossondas para o diagnóstico in vitro. Este tipo de diagnóstico utiliza materiais e/ou dispositivos para detectar e quantificar um analito a partir de uma amostra biológica [3]. Os nanomateriais mais utilizados em diagnóstico de cancro foram desenvolvidos na última década e são os seguintes (Figura 1): Pontos quânticos (quantum dots, fracção de matéria cujos excitões estão confinados às três dimensões espaciais), utilizados como sondas ópticas para monitorizar o ADN e as suas interacções com proteínas; Nanopartículas metálicas utilizadas como nanossondas plasmónicas: nanopartículas magnéticas utilizadas como sondas únicas para a detecção de proteínas, bactérias, células e vírus; Nanotubos, nanofios e nanodispositivos utilizados como sondas ultrasensíveis para detectar biomarcadores; e Nanomateriais multifuncionais, que podem incorporar qualquer nanopartícula acima identificada ou várias em simultâneo. Figura 1: Esquema representativo de nanomateriais e nanodispositivos utilizados como sondas para diagnósticoin vitro: (A) Quantum-dots; (B) Nanopartículas plasmónicas; (C) Nanopartículas magnéticas; (D) Nanotubos de carbono; (E) Nanofios; (F) Nanomateriais multifuncionais 6 2.2. Diagnóstico in vivo 2.2.1. Nanopartículas de óxido de ferro Nos últimos anos surgiram inúmeras aplicações na indústria biotecnológica para as nanopartículas superparamagnéticas de óxido de ferro (SPION´s). As nanopartículas de magnetite ou magnemite tornam-se superparamagnéticas à temperatura ambiente se o diâmetro do cerne da partícula for de 20 nm ou menos. As SPION`s têm inúmeras aplicações, de entre as quais se destacam a reparação de tecidos, marcação celular, diagnóstico e tratamento de cancro. Além disso alguns estudos têm demonstrado que o ferro libertado a partir de SPION`s em degradação é metabolizado pelo corpo, reduzindo assim o potencial de citotoxicidade a longo prazo [4]. A Figura 2 apresenta a detecção de metástases do baço antes (imagem da esquerda) e 60 minutos depois (imagem da direita) da injecção de nanopartículas de óxido de ferro AMI-25. Nota-se que a maioria do tecido saudável escureceu na imagem da direita devido a uma acumulação de SPION`s, evidenciando-se as metástases como pontos brilhantes no seio do tecido saudável do baço (setas azuis). Figura 2: Imagem captada por Weissleder et al. [4] As SPION`s facilitam o diagnóstico de cancro através de um contraste aumentado promovido entre o tumor e matriz envolvente e são bastante utilizadas em Imagiologia para vários tipos de cancro, nomeadamente em Ressonâncias Magnéticas para detecção de cancro da mama [5] ou em combinação com anticorpos para 7 diagnóstico de tumores cerebrais [6]. Aumentam selectivamente a morte celular do tumor através de hipertermia magnética e melhoram a distribuição dos fármacos através da definição magnética do alvo. Uma aplicação que permanece largamente inexplorada é a utilização destas nanopartículas para a inibição do crescimento do tumor. Foy et al [7] propõem que altas dosagens de nanopartículas de óxido de ferro sejam utilizadas em tratamento de cancro por provocarem um ataque oxidativo contra o tumor. Esta proposta é algo controversa face ao que se conhece da actuação do ferro no cancro: o ferro origina espécies reactivas de oxigénio (ROS) através da reacção de Fenton que liberta radicais hidroxilo altamente tóxicos, levando à danificação do ADN e consequentemente à carcinogénese de células saudáveis. Por outro lado o excesso de ferro nas células tumorais pode levar a um ataque oxidativo que leva à regressão do tumor, contribuindo assim para a sua morte. A elevada necessidade de ferro pelas células cancerígenas leva assim a duas abordagens terapêuticas contraditórias para o tratamento de cancro: a privação e overdose de ferro. 2.2.2. Nanovermes Também para aplicação simultânea em diagnóstico e tratamento de cancro existem os nanovermes (Figura 3), fileiras de nanopartículas, por exemplo de óxido de ferro, que podem ser revestidas de proteínas na sua superfície, que por sua vez vai identificar o tumor. Pelo seu formato alongado, os nanovermes permitem uma maior superfície de contacto com o tumor quando comparados com as nanopartículas isoladas e como tal têm uma eficácia superior. Os nanovermes são injectados nos doentes por via intravenosa e entram em circulação identificando o tumor. Quando o doente é submetido a uma Ressonância Magnética, os nanovermes reagem fortemente com as ondas magnéticas produzindo imagens bastante nítidas, capazes de diagnosticar um tumor mesmo em fases precoces do seu desenvolvimento. Acoplados aos nanovermes podem ser transportados fármacos que serão libertados recorrendo a enzimas, calor ou mecanismos de temporização controlada. 8 Figura 3: Nanovermes em circulação nos vasos sanguíneos que envolvem tecido tumoral. 9 3. Nanopartículas para teranóstico oncológico O teranóstico é um teste diagnóstico que permite aos clínicos tomar a decisão terapêutica mais bem adaptada a cada doente, favorecendo uma medicina mais personalizada. Este teste pode ser classificado em dois subgrupos baseados nas suas raízes históricas: a) teranóstico clássico e b) nanoteranóstico. O teranóstico clássico refere-se a uma plataforma de tratamento no qual a terapia é guiada por um teste de diagnóstico específico, o qual irá estratificar o doente por elegibilidade para um tratamento. Neste artigo iremos fazer referência apenas ao nanoteranóstico que será doravante designado apenas como “teranóstico”. As nanopartículas utilizadas em teranóstico são construídas utilizando uma variedade de testes em formato de array. Estas partículas podem ser compostas por metais, não-metais, polímeros sintéticos, dendrímeros, lípidos, ácidos nucleicos, vectores virais, péptidos sintéticos e suas combinações. Estas nanopartículas podem assumir a forma de esferas (pontos quânticos, nanopartículas de óxido de ferro, etc.) ou geometrias não esféricas (nanodiamantes, nanotriângulos, nanocelas ou híbridos destas formas). De entre as nanopartículas utilizadas em Imagiologia salientam-se as que têm um núcleo de óxido de ferro encapsulado e nanopartículas poliméricas que são utilizadas na detecção de cancro através de Ressonância Magnética (MRI) ou detecção óptica (fluorescência, espectroscopia Raman, luminescência) e para a ablação directa de tumores através de meios térmicos e não-térmicos. Outros agentes de teranóstico disponíveis são os pontos quânticos modificados com aptâmeros conjugados com Doxorubicina para localizar cancro (Ho and Leong, 2010). Estes agentes são tipicamente incorporados em lipossomas ou outras matrizes poliméricas biocompatíveis. Quanto a dispositivos utilizados em teranóstico, dá-se o exemplo das nanobolhas plasmónicas (Lukianova-Hleb e tal., 2010) que utilizam nanopartículas em ouro e excitação fototérmica transiente de forma a criar bolhas de vapor para destruição selectiva, mecânica e não-térmica das células tumorais. Um exemplo de uma estratégia utilizada em detecção de cancro é combinar o exame PET/TEM convencional, Tomografia por Emissão de Positrões, com o biomarcador F-18 fluorodesoxiglucose para monitorizar o metabolismo da glucose, que frequentemente está aumentado em tumores (Goldstein e tal., 2005) [9]. Apesar da enorme utilidade que muitas das técnicas aplicadas ao teranóstico têm tido, a verdade é que muito poucas chegam à fase de ensaios clínicos e utilização pelo doente, como é por exemplo o caso das nanopartículas de óxido de ferro ou ouro 10 ou das nanopartículas dendriméricas multifuncionais. Algumas das questões que bloqueiam o progresso das plataformas de teranóstico para a aplicação clínica são a falta de uma especificidade adequada para os locais-alvo do cancro ou os níveis de toxicidade associados a estas tecnologias. A falta de testes in vivo são o principal obstáculo na passagem da fase de investigação e testes in vitro para a fase de desenvolvimento e uso clínico. A heterogeneidade fenotípica tumoral e a resistência adaptativa aos fármacos anti-cancro são desafios complexos e necessitam de uma abordagem ao nível do diagnóstico e tratamento que deve ser diversificada e abrangente. O desenvolvimento das ferramentas do teranóstico deve assim ser assim acelerado com enfoque na biocompatibilidade, capacidade de contraste em Imagiologia, libertação controlada de fármacos, facilidade de preparação, capacidade de absorção pelas células tumorais, distribuição pelo tumor, toxicidade reduzida e eliminação controlada. 11 4. Nanopartículas para terapia oncológicaGrande parte das terapias convencionais para o cancro, apesar de ser eficaz, coloca vários problemas, como a libertação rápida do agente terapêutico e, consequentemente, uma acção terapêutica pouco duradoura (isto é, uma reduzida biodisponibilidade) e falta de especificidade. Devido à falta de especificidade, frequentemente, estas terapias danificam as células saudáveis do organismo, originando efeitos secundários muito nefastos. Mais ainda, atendendo à reduzida biodisponibilidade e especificidade, muitas vezes são utilizadas concentrações mais elevadas dos agentes terapêuticos, de modo a garantir que atingem o local afectado pela doença. Estas concentrações elevadas produzem, igualmente, efeitos secundários indesejáveis. Nos últimos anos, surgiu uma inovação na área da terapia do cancro, denominada terapia dirigida ou direccionada, que envolve o desenvolvimento de fármacos confinados a nanopartículas – nanofármacos. Este direccionamento do agente terapêutico pode ser passivo ou activo. O direccionamento passivo é baseado na reduzida dimensão das nanopartículas, que as leva a entregar o fármaco, preferencialmente, no local do tumor. Os materiais distribuídos sistemicamente acumulam-se nos locais afectados, com base numa aumentada permeabilidade e retenção. Por outro lado, o direccionamento activo envolve a conjugação das nanopartículas com ligandos. Estes ligandos ligam-se especificamente a certos tipos de células tumorais, o que permite que as nanopartículas distribuam o fármaco apenas nessas células tumorais e não nas restantes células do organismo [10]. 4.1. Polímeros Os materiais poliméricos têm ganho uma particular importância devido às características da sua superfície e às suas dimensões. Em geral, estes materiais são biodegradáveis e facilmente excretados (eliminados) pelo organismo [11]. Dependendo do seu método de preparação, o fármaco pode ficar confinado no interior da nanopartícula (encapsulado) ou ligado à matriz polimérica (conjugado) [12]. Os compostos resultantes podem ter a estrutura de cápsulas, como as nanopartículas poliméricas, de núcleo/concha anfifílica, como as micelas, ou de moléculas ramificadas, como os dendrímeros. 12 4.1.1. Nanopartículas poliméricas A albumina, o quitosano e a heparina são polímeros ideais para a distribuição de fármacos e biofármacos, como ácidos nucleicos e proteínas [11,13]. O paclitaxel, um fármaco utilizado no tratamento do cancro, ligado a um polímero de albumina – Abraxane – já se encontra em uso clínico para o tratamento do cancro da mama metastático [11]. O Abraxane encontra-se também em fase de ensaios clínicos, envolvendo o cancro do pulmão [13]. Foi também estudada a incorporação do paclitaxel em nanopartículas de ácido poliláctico-co-glicólico [14]. O mesmo fármaco, quando encapsulado em nanopartículas de polióxido de etileno e poli--aminoéster (PEO-PbAE) e de PEO e poli--caprolactona, revelou actividade anti-tumoral em células de adenocarcinoma do ovário, o tipo de cancro do ovário mais comum [14]. A utilização de cisplatina ligada a nanopartículas de ácido poli-láctico e polietileno glicol (CDDP-PLA-PEG-NP) na terapia do cancro da boca foi também objecto de estudo, tendo este sistema sido considerado eficaz [14]. Muitos agentes quimioterapêuticos largamente utilizados têm sido testados em conjugados com ácido poli-glicólico, tendo mostrado resultados promissores. Exemplos destes agentes quimioterapêuticos conjugados com ácido poli-glicólico são, novamente, o paclitaxel e a camptotecina, que se encontram em ensaios clínicos [13]. De entre os polímeros sintéticos não-biodegradáveis, para além do polietilenoglicol (PEG), destaca-se a N-(2-hidroxipropil)-metacrilamida (HPMA). O PK1, um conjugado de HPMA com doxorrubicina, completou a fase II dos ensaios clínicos referentes a diversos tipos de cancro resistentes às terapias já existentes, como a quimioterapia e a radioterapia [15]. 4.1.2. Micelas As micelas poliméricas são constituídas por blocos anfifílicos de co-polímeros, que formam uma nanocápsula em meio aquoso. Possuem uma zona hidrofóbica no seu interior, que serve de reservatório para fármacos e uma cápsula exterior hidrofílica (Figura 4), que estabiliza o interior hidrofóbico e torna os polímeros solúveis em água – e, como tal, solúvel no sangue, sendo a nanopartícula assim formada uma boa solução para administração intravenosa [11]. 13 O Genexol-PM é constituído por uma micela polimérica que contém paclitaxel. Têm sido conduzidos ensaios clínicos com o Genexol-PM em doentes com cancros refractários em estado avançado. Neste momento, estão a ser desenvolvidas diversas micelas poliméricas multifuncionais contendo agentes terapêuticos, que apresentam potencial para desempenharem um papel terapêutico relevante num futuro próximo [11]. Figura 4: Micela 4.1.3. Dendrímeros Um dendrímero é uma macromolécula polimérica à nano escala, composta por múltiplos monómeros (unidades funcionais) ramificados, que emergem radialmente a partir de um núcleo central (Figura 5). Algumas das propriedades dos dendrímeros são um tamanho monodisperso, superfície funcionalmente modificável, solubilidade em água e cavidades internas, que os tornam úteis para entrega de fármacos [11]. Figura 5: Dendrímero com agentes activos no seu interior 14 A superfície facilmente modificável dos dendrímeros torna-os polivalentes, podendo, simultaneamente, ser conjugados com ligandos (para terapia dirigida) e fármacos [13]. O dendrímero de poliamidoamina é o mais frequentemente utilizado como matriz de entrega de fármacos. Tem sido utilizado como veículo de entrega de cisplatina para o tratamento do cancro, com resultados significativos [11]. 4.2. Lipossomas Os lipossomas são estruturas esféricas, compostas por uma bicamada de lípidos (fosfolípidos) exterior, que rodeia um meio interno aquoso (Figura 6). Estes sistemas têm sido aplicados na entrega de diferentes fármacos para a terapia de vários tipos de cancro. Já foram aprovadas formulações de lipossomas das antraciclinas doxorubicina e daunorubicina para o tratamento do cancro da mama metastático e do sarcoma de Kaposi. Para além destas formulações, muitas outras estão neste momento em fase de ensaios clínicos. Uma nova geração de formulações de lipossomas é constituída pelos imunolipossomas, que entregam os fármacos no organismo, selectivamente, nos locais de acção, através da conjugação com anticorpos e outras moléculas [11,13]. Figura 6: Lipossoma e a sua unidade estrutural – o fosfolípido 15 4.3. Nanopartículas virais Uma grande diversidade de vírus, como o vírus do mosaico do feijoeiro, o parvovírus canino e os bacteriófagos, tem sido desenvolvida para aplicações biomédicas e nanotecnológicas como a distribuição de fármacos a terapia dirigida. Podem ser adicionadas várias moléculas selectivas à superfície da cápside dos vírus, como péptidos ou anticorpos, por via de processos químicos ou genéticos, que conferem à partícula viral uma selectividade e afinidade com o local de interesse terapêutico. Algumas destas moléculas são a transferrina, ácido fólico e anticorpos monoclonais, as quais têm sido utilizadas na terapia do cancro. Alguns vírus, como os parvovírus caninos, têm uma afinidade natural para receptores que são sobreexpressos em muitas células tumorais, como os receptores de transferrina [11,13]. 4.4. Nanotubos de carbono Os nanotubos de carbono são cilindros de carbono, compostos deanéis benzénicos (Figura 7). Estes nanotubos de carbono são materiais de excelência na nanotecnologia. Estes materiais, para além de constituírem biossensores para detecção de ADN e proteínas, são eficientes veículos de entrega de fármacos como vacinas e proteínas [11,13]. Figura 7: Nanotubo de carbono 16 Os nanotubos de carbono são insolúveis em todos os solventes, o que gera alguma preocupação ao nível da toxicidade e do risco para a saúde. Contudo, a sua superfície pode ser modificada quimicamente, para os tornar solúveis em água e, consequentemente, no sangue, com o intuito de serem ligados a moléculas activas como péptidos, proteínas, ácidos nucleicos e outros agentes terapêuticos [11,13]. Num estudo in vitro, fármacos anti-tumorais como o metotrexato foram ligados, covalentemente, a nanotubos de carbono. Neste estudo, observou-se que os fármacos são mais eficientemente internalizados nas células quando estão ligados aos nanotubos de carbono do que quando estão livres [11,13]. A funcionalização da superfície dos nanotubos pode ser múltipla, isto é, podem ser introduzidas várias moléculas ao mesmo tempo tanto na superfície lateral como nas extremidades. Esta estratégia confere aos nanotubos de carbono uma vantagem fundamental no tratamento do cancro [11,13]. 4.5. siRNA e nanopartículas Na maioria dos casos, os cancros são originados pela sobreexpressão de oncogenes (genes que, quando activados, provocam tumores) ou pela expressão incorrecta de proteínas, sendo esta, por sua vez, causada por transposições, inserções ou rearranjos incorrectos dos genes (que expressam essas proteínas) [16]. Por exemplo, a leucemia mielóide crónica é causada por uma transposição recíproca entre cromossomas (9 e 22), que gera uma fusão entre os genes que codificam para as proteínas BCR serina/treonina cinase e ABL tirosina cinase [17]. O gene resultante desta fusão expressa uma proteína de fusão, a proteína BCR-ABL, que está constitutivamente activa. Por sua vez, esta proteína interfere com outras proteínas e enzimas que controlam o ciclo celular, levando a uma rápida divisão das células e, consequentemente, à formação do cancro [16]. Uma abordagem para tratar tipos de cancro que são originados por estes tipos de mecanismos seria silenciar o gene incorrecto e substituí-lo por uma cópia normal. No entanto, tal como para os fármacos, existe uma barreira crítica, a eficiência dos mecanismos de distribuição [16]. Para tal, também para este tipo de terapia, a utilização de nanopartículas poderá ser crucial. O silenciamento de genes pode ser efectuado por meio de ARNs de interferência (ou de silenciamento), small interfering RNAs (siRNAs), que consistem em ácidos nucleicos que, tal como o seu nome indica, interferem com a expressão de genes. Outro tipo de ARN utilizado para este fim é o short hairpin RNA (shRNA), que 17 forma uma estrutura em forma de gancho num gene, silenciando a expressão do mesmo. O silenciamento dos genes ocorre devido à homologia das sequências de ARN com as sequências a silenciar. Atendendo a esta homologia, estes ARNs ligam- se ao ARN endógeno, facilitando a sua degradação ou inibindo a tradução de ARN para a proteína [16]. A nível local, por exemplo, no olho, tracto respiratório e pele, estes ácidos nucleicos podem ser administrados sozinhos, estando a decorrer vários ensaios clínicos de tratamentos de cancro com siRNA em formulações simplesmente salinas. No entanto, a nível sistémico, estes ácidos nucleicos sofrem rápida degradação e eliminação via excreção. Não obstante, alguns siRNAs mostraram-se úteis na redução do crescimento de tumores e de metástases em modelos animais [16]. Estes ARNs aparentam tornar-se mais eficientes quando encapsulados em lipossomas ou em vectores virais [16]. Várias formulações de lipossomas contendo siRNAs estão ser estudadas, encontrando-se já algumas em fase de ensaios clínicos [16]. Um exemplo é um lipossoma contendo o siRNA ALN-VSP, que foi desenvolvido pela empresa Alnylam e concluiu a fase I dos ensaios clínicos para o tratamento de cancro do fígado. Este siRNA têm como alvo o silenciamento de dois genes envolvidos no cancro do fígado: KSP, que codifica para uma cinesina, que se encontra associada à proliferação do cancro e VEGF, que, por sua vez, codifica para o factor de crescimento endotelial vascular, o qual está envolvido no crescimento de novos vasos sanguíneos que alimentam os tumores. O siRNA ALN-VSP mostrou ser bem tolerado e apresentou uma actividade anti-tumoral notória em doentes num grau de malignidade avançado. Prevê-se que esta formulação entre na fase II dos ensaios clínicos em 2012. É de notar que a empresa Alnylam possui um vasto portfolio de patentes na área do ARN de interferência, para a terapia de várias patologias [18]. A nível da terapia dirigida, estes ARNs têm sido conjugados com anticorpos monoclonais, o que lhes permite passarem a barreira hematoencefálica, que separa o sangue do cérebro, atingindo as células neuronais da glia [19]. Estes ácidos nucleicos possuem assim potencial para constituir terapias eficientes para os cancros que afectam o sistema nervoso central. Tal como já foi referido, a angiogénese, isto é, a formação de vasos sanguíneos, desempenha um papel central na alimentação da proliferação dos tumores. O factor de crescimento endotelial vascular (VEGF) e os seus receptores, que desempenham uma função essencial à angiogénese, constituem, assim, um alvo importante na terapia do cancro e são objecto de vários estudos neste campo [16]. 18 Recentemente, foi publicado um estudo no qual um siRNA para silenciar o gene VEGF (siRNA VEGF-2) foi encapsulado em lipossomas catiónicos. De modo a atingir os locais de interesse terapêutico, isto é, as células endoteliais angiogénicas, os lipossomas foram modificados com um péptido que se liga a proteínas – integrinas – que são expressas neste tipo de células. O péptido em questão trata-se do RGD (um péptido com sequência de aminoácidos Arginina-Glicina-Ácido aspártico, ou RGD). Esta formulação apresenta resultados promissores para a terapia do cancro via anti- angiogénese [20]. 4.6. Nanopartículas de ouro As nanopartículas de ouro tornam-se muito úteis como agentes terapêuticos devido às suas propriedades ópticas únicas e facilmente manipuláveis. A aplicação mais frequente das nanopartículas de ouro, a nível da terapia do cancro, é a hipertermia. Para tratar um tumor, as nanopartículas são administradas sistemicamente, atingindo o local do tumor de forma passiva ou activa. Em seguida estas partículas são sujeitas a uma fonte de energia, como laser infravermelho próximo, ondas de rádio ou outro campo magnético [21]. As nanopartículas de ouro absorvem esta energia e convertem-na em calor, o que causa uma ablação das células tumorais, destruindo as membranas celulares [22]. Estão a ser explorados vários tipos de nanopartículas de ouro: nanoconchas de ouro-sílica, nanobastões de ouro, nanopartículas ouro-sulfureto de ouro, nanocelas e conchas ocas de ouro. Os últimos três tipos de nanopartículas mencionados constituem uma “segunda geração de nanopartículas de ouro, possuindo uma dimensão consideravelmente inferior, o que lhes confere uma vantagem em termos de distribuição de fármacos. 4.6.1. Nanoconchas de ouro-sílica As nanoconchas de ouro-sílica são nanoesferas compostas por um núcleo de sílica revestido por uma “concha” de um metal – o ouro. Estas foram as primeiras partículas de ouro a serem afinadas/optimizadas para a radiação infravermelha próxima, quepermite efectuar a hipertermia. Variando o tamanho do núcleo de sílica e a espessura da concha de ouro, a ressonância destas nanopartículas pode ir do espectro do visível até ao do infravermelho próximo. Estas nanoconchas absorvem uma grande quantidade de luz e convertem-na em calor, induzindo a morte das células tumorais. 19 Têm sido testadas nanoconchas de ouro-sílica in vitro como terapia para os cancros da mama, próstata, cérebro e fígado [21]. As nanoconchas de ouro-sílica apresentam, no entanto, maiores dimensões do que as restantes nanopartículas de ouro, o que lhes coloca alguns obstáculos a nível da distribuição de fármacos [21]. 4.6.2. Nanobastões de ouro Os nanobastões são, em regra, mais pequenos do que as nanoconchas de ouro-sílica. Estas nanopartículas podem ser, igualmente, afinadas para a região do infravermelho próximo através da manipulação das suas dimensões. Os nanobastões possuem uma secção de absorção maior e uma capacidade calorífica superior, quando comparados com outros tipos de nanopartículas de ouro de dimensões equivalentes. Estes nanobastões têm sido utilizados in vivo, na terapia de carcinomas das células escamosas e cancros do cólon, em modelos animais [21]. Figura 8: Nanobastões e soluções de nanobastões com diferentes espectros de absorção de luz [23]. A empresa Nanopartz encontra-se a comercializar este tipo de nanopartículas, entre outras, tendo já efectuado alguns pedidos de patente relativos a esta nanotecnologia [24]. A tecnologia foi adquirida através de uma licença da Universidade da Carolina do Sul (EUA) [25]. 4.6.3. Nanopartículas ouro-sulfureto de ouro Estas partículas podem ser constituídas por um núcleo de sulfureto de ouro e revestidas por uma fina camada de ouro e apresentam também uma absorvância no espectro do infravermelho próximo, podendo ser utilizadas para terapia do cancro por ablação [21]. 20 Um estudo recente mostrou que administração de partículas ouro-sulfureto de ouro com diâmetros da ordem dos 30-40 nm e uma espessura da camada de ouro de 3-6 nm consegue efectuar a ablação de células de cancro da próstata, in vivo, em ratos, quando são sujeitas à aplicação simultânea de um laser infravermelho próximo [26]. 4.6.4. Nanoconchas ocas de ouro Tal como o seu nome sugere, estas nanopartículas são constituídas por uma camada de ouro, que rodeia um núcleo oco [21]. As nanoconchas ocas de ouro foram conjugadas com anticorpos que se ligam especificamente ao receptor do factor de crescimento epidérmico (EGFR), para destruir as células tumorais, que sobreexpressam este factor [21]. Este tipo de nanopartículas de outro foi também conjugado com uma hormona estimuladora de melanócitos como terapia para o melanoma, num modelo animal [21]. 4.6.5. Nanocelas de ouro Este tipo de nanopartículas já foi referido no capítulo relativo ao diagnóstico, sendo utilizadas como agentes de contraste. A nível da terapia oncológica, as nanocelas de ouro foram conjugadas com um anticorpo monoclonal que se liga ao receptor do factor de crescimento epidérmico 2 (HER2) para atingir as células do cancro da mama, que expressam este receptor. Simultaneamente, as células-alvo foram irradiadas com um laser infravermelho próximo. Através da variação da intensidade e duração da exposição ao laser, obteve-se uma eficiente destruição das células tumorais [27]. 21 5. Nanopartículas para a prevenção do cancro Seria ideal que, tal como para outras doenças bem conhecidas, existissem vacinas que prevenissem a ocorrência do cancro. No entanto, esta é uma doença que surge e se rege através de uma miríade de mecanismos, o que lhe permite “escapar” à acção do sistema imunitário. Assim, a prevenção do cancro por meio de vacinas enfrenta vários obstáculos. Não obstante, algumas vacinas já estão a ser desenvolvidas ou encontram-se já a ser aplicadas, apresentando resultados promissores [28]. Existem vários tipos de vacinas utilizados na prevenção do cancro, entre eles, vectores “vivos” (virais ou bacterianos), ácidos nucleicos (ARN ou ADN), proteínas, péptidos, células (dendríticas ou tumorais) (Figura 9) [29]. Figura 9: Tipos de vacinas utilizadas na prevenção do cancro [29] A administração de ADN é uma técnica com potencial para induzir respostas imunitárias que atacam e previnem o aparecimento do cancro. Estas vacinas de ADN apresentam bastante eficácia em modelos animais. Uma das vacinas que se encontra a ser aplicada na prevenção do cancro é a vacina contra o papilomavírus humano (HPV), que causa cancros cervicais, vulvares e vaginais. Duas vacinas deste tipo já foram aprovadas pela FDA – Cervarix (GlaxoSmithKline) e Gardasil (Merck) e consistem em partículas virais recombinantes das duas estirpes mais comuns do vírus HPV, as estirpes 16 e 18. Uma vez que 75% dos cancros cervicais são causados por estas estirpes de vírus, estas vacinas poderão eliminar uma larga maioria destes casos. Vacinas para o cancro Células Proteínas Vectores Células tumorais Células tumorais geneticamente modificadas Células dendríticas Proteínas Péptidos Péptidos agonistas Anticorpos monoclonais Proteínas de fusão Vectores virais Vectores bacterianos Vectores de levedura ADN plasmídico 22 Uma abordagem alternativa na prevenção deste tipo de cancro está a ser desenvolvida pela empresa PDS Biotechnology, que consiste em nanopartículas lipídicas (lipossomas) contendo um péptido – E7 – que se liga especificamente a uma proteína essencial do vírus HPV. Estas partículas dotam o organismo da capacidade de reconhecer essa proteína essencial do vírus, estimulando as células dendríticas do organismo a desencadearem uma resposta citotóxica (destruição celular) por parte dos linfócitos T [30]. Para além dos lipossomas e das partículas virais estão a ser utilizadas, como veículos ou vectores de distribuição das vacinas, outras nanopartículas, como nanopartículas poliméricas. De um modo geral, as nanopartículas poderão potenciar os efeitos destas vacinas, dirigindo-as aos locais afectados pelo cancro e proporcionando também uma protecção contra os efeitos secundários indesejáveis das mesmas. 23 6. Diagnóstico tecnológico na área das nanopartículas para aplicação oncológica Segue-se uma análise ao panorama de patenteamento na área técnica das “nanopartículas para aplicação oncológica”, com o apoio da Thomson Innovation, uma ferramenta comercial de pesquisa e análise de base de dados comercial fornecida pela Thomson/Reuters. Esta análise visou identificar quais as principais empresas/instituições que fizeram pedidos de patente na área da nanomedicina oncológica (Figura 10) e também quais os principais países intervenientes nesta área (Figuras 11 e 12). Analisou-se ainda a evolução da publicação de patentes ao longo dos últimos 10 anos (Figura 13). Figura 10: Número de publicações das principais empresas ou instituições que fizeram pedidos de patente na área das nanopartículas para o diagnóstico e terapia do cancro no período de 2001 a 2011 1 Como se pode constatar no gráfico da Figura 10, os principais requerentes identificados na área da nanomedicina oncológica, são, na sua maioria, Universidades – Universidade da Califórnia, Universidade do Texas e MIT. A empresa L’Oréal aparenta possuir também grande destaque em termos de actividade de patenteamento 1 Relativamente aosrequerentes não especificados – “unspecified” – visíveis no gráfico da figura, estes referem-se a pedidos provenientes dos EUA, onde o requerente não é indicado, mas sim o inventor. 24 nesta área. Note-se que esta empresa se encontra a financiar projectos de investigação na área do cancro do ovário através do Ovarian Cancer Research Fund (OCRF) [31]. A nível territorial, verifica-se uma significativa internacionalização dos pedidos de patente na área da nanomedicina oncológica, sendo a maioria dos pedidos efectuados via PCT2. Figura 11: Gráfico do número de publicações, por país, de patentes na área das nanopartículas para o diagnóstico e terapia do cancro no período de 2001 a 2011 Quando se analisa a distribuição tendo por base o país de prioridade, isto é, o país onde o pedido de patente teve origem (Figura 12), constata-se que existe uma preponderância dos EUA em número de publicações. Outros países que aparentam estar a apostar fortemente na nanomedicina oncológica são o Japão, a China e a Alemanha. 2 O Patent Cooperation Treaty (PCT) é um tratado de cooperação internacional em matéria de patentes, concluído em 1970. O Tratado proporciona um processo unificado de pedidos de patentes em cada um dos seus estados contratantes. Um pedido de patente efectuado via PCT é designado pedido internacional ou pedido PCT. 25 Figura 12: Gráfico do número de publicações, por país de prioridade, de patentes na área das nanopartículas para o diagnóstico e terapia do cancro no período de 2001 a 2011 Na evolução do número de publicações ao longo da última década (Figura 13) constata-se uma marcada tendência de aumento, o que está em sintonia com a importância crescente da investigação e desenvolvimento na área da nanomedicina ligada ao cancro, a nível mundial. Figura 13: Gráfico da evolução do número de publicações no período de 2001 a 2010 26 Depreende-se assim que existe uma crescente apetência do mercado pela nanomedicina oncológica, o que tenderá a servir de motor ao investimento neste sector, sendo previsível que o mesmo continue a crescer nos próximos anos. Em Portugal, foram efectuados, pelo menos, cinco pedidos de patente relativos a nanopartículas para a terapia e diagnóstico do cancro, tendo estes sido, na sua maioria, internacionalizados. Um destes pedidos, que possui um pedido PCT correspondente (WO2011119058), foi efectuado pela Universidade de Coimbra, juntamente com o Centro de Neurociênicas e Biologia Celular (CNBC) e refere-se uma nova estratégia para o combate ao cancro da mama, que consiste numa nanopartícula, mais concretamente, um lipossoma, que é capaz de se associar às células de cancro da mama e às células endoteliais dos vasos sanguíneos do tumor. Esta associação é efectuada através da presença de um péptido – péptido F3 – na superfície do lipossoma, que se liga, especificamente, aos tipos de células referidos. Este lipossoma encapsula ácidos nucleicos, cuja entrega permite uma terapia génica do cancro. O segundo pedido de patente (PT 103865) pertence também à Universidade de Coimbra e incide sobre nanopartículas lipídicas, conjugadas com um polímero, para entrega direccionada de vectores virais – efectuando a entrega de genes terapêuticos – e destina-se ao tratamento de neoplasias, entre outras doenças. A Universidade de Coimbra efectuou ainda outro pedido de patente em Portugal, tendo também efectuado o pedido PCT correspondente (WO2011108955). Este pedido abrange um lipossoma que transporta ácidos nucleicos e fármacos para o tratamento do cancro. A Universidade de Lisboa possui já uma patente nacional concedida (PT 104693) para uma nanopartícula lipídicas sólidas contendo agentes anti-neoplásicos, como o paclitaxel, o docetaxel ou a doxorrubicina, para o tratamento de neoplasias pulmonares. Um outro pedido de patente, para o qual existe também um pedido PCT correspondente (WO2011113616), foi efectuado pela Universidade do Algarve e descreve uma micela composta por blocos anfifílicos de co-polímeros, que encapsula um agente terapêutico para o cancro. Estas micelas contêm um agente de contraste, tendo a capacidade de emitirem luz apenas quando ligadas aos locais-alvo da acção terapêutica. A especificidade destas nanopartículas pode ser incrementada por meio de acoplamento de anticorpos, pequenas moléculas ou ADN. Para além das Universidades já referidas acima, outras Universidades portuguesas estão a apostar na tecnologia das nanopartículas com aplicação 27 oncológica. Um exemplo é a Universidade da Beira Interior (UBI), onde foi desenvolvido um trabalho que consiste numa técnica de correcção de disfunção celular, através de terapia génica, para tratamento de vários tipos de cancro. Nesta técnica, introduz-se ADN plasmídico encapsulado no interior de nanopartículas, tendo sido observado um efeito benéfico e um potencial para aplicação em diferentes tipos de cancro. Este trabalho foi recentemente premiado pela empresa farmacêutica Bayer, ao abrigo de um protocolo estabelecido entre esta empresa e a UBI [32]. Investigadores da Universidade Nova de Lisboa estão envolvidos num projecto onde estão a ser desenvolvidas nanopartículas de ouro para o diagnóstico e terapia do cancro [33]. Por sua vez, a Universidade do Porto, em conjunto com o IPATIMUP, possui um projecto onde estão a ser desenvolvidas nanopartículas que encapsulam siRNA para ultrapassar a resistência à quimioterapia em células estaminais de cancro [34]. No Instituto Nacional de Engenharia Biomédica (INEB), encontram-se a ser desenvolvidas nanopartículas, baseadas em dendrímeros, para terapia génica em órgãos do sistema nervoso, embora a sua utilização possa ser extrapolada para outras situações, como a entrega de fármacos para o tratamento do cancro [35,36]. Assim, observa-se que a investigação em Portugal se encontra a acompanhar a tendência da aposta da nanotecnologia para o diagnóstico e terapia do cancro, o que poderá originar um número crescente de pedidos de patente nacionais, nesta área da tecnologia. 28 7. Enquadramento do Projecto Lote 18 - Diagnóstico Genético Dentro do âmbito da Rede de Patentes Europeia (EPN), o IEP (Instituto Europeu de Patentes) decidiu atribuir alguns lotes de documentos (patentes e artigos científicos) pelos diversos Institutos nacionais de patentes. Ao INPI coube a tarefa de reclassificar 3050 documentos de patente na área do diagnóstico genético, mais concretamente e numa primeira fase, em sondas de hibridação, algumas aplicadas à Nanotecnologia, para a detecção de doenças causadas por alterações genéticas, nomeadamente em cancro (C12Q1/68M6B). Esta é uma área técnica em constante evolução e cujos esquemas de classificação ECLA (European Classification System) rapidamente se tornam insuficientes para classificar os inúmeros avanços que vão surgindo nesta área e que são reivindicados nos documentos de patente. Assim, para dar resposta a esta constante evolução, os correspondentes esquemas de códigos ICO (In-Computer- Only) são alterados e actualizados para que uma correcta classificação seja feita neste tipo de matérias. O presente projecto 2008/0914-LOT 18-C12Q1/68M6B refere-se à reclassificação em códigos ICO (M12Q600 – Oligonucleótidos caracterizados pela sua utilização) de documentos de patente já classificados em C12Q1/68M6B, de modo que todas as características técnicas novas presentes nestes documentos sejam correctamente classificadas, contribuindo assim para uma pesquisa melhorada e assertiva dedocumentos nesta área técnica. O lote foi constituído por 3050 documentos de patente publicados e artigos científicos em língua inglesa, francesa ou alemã, esteve dividido em seis conjuntos de documentos que ao longo do ano foram sendo aprovados pelo IEP, tendo sido recentemente aprovado o último lote de documentos referentes a esta área de Diagnóstico Genético. Aguardam-se para o futuro novos Projectos, alguns possivelmente relacionados especificamente com a Nanotecnologia. 29 8. Notas conclusivas Actualmente, o cancro é uma das doenças que afecta mais pessoas a nível mundial, constituindo ainda um desafio constante para a humanidade. A nanotecnologia proporciona uma nova forma de abordar esta doença – a nanomedicina, tanto a nível do diagnóstico, como da terapia e prevenção. Apesar de ser uma área tecnológica bastante recente, a nanomedicina oncológica apresenta-se muito promissora. No que concerne à importância da Propriedade Industrial na área das nanopartículas com aplicação oncológica, tratando-se de um campo tecnológico emergente onde é previsível um aumento crescente do investimento em I&D, existindo um grande número de instituições que desenvolvem trabalhos nesta área, tudo indica que a protecção por direitos de incidência tecnológica, como é o caso de patentes de invenção, venha a assumir uma preponderância crescente. Outro facto que aponta nesta direcção é que, actualmente, este campo tecnológico ainda assenta muito numa fase de investigação e de testes clínicos dos produtos, pelo que à medida que muitos destes desenvolvimentos atingirem a fase de comercialização, será natural que a necessidade de protecção num contexto concorrencial de mercado venha a servir de estímulo a um aumento crescente das publicações de pedidos de patente, tendência, aliás, que já se começa a desenhar. Desta forma, a Propriedade Industrial deverá assumir um relevo crescente na área da nanomedicina oncológica, salvaguardando o carácter diferenciador dos diferentes desenvolvimentos tecnológicos, maximizando as sinergias entre a investigação e o mercado e servindo de estímulo ao investimento nesta área técnica. 30 9. 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