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Doenças Psicossomáticas e a Relação Mente/Corpo

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18 
Unidade 3 - Concepção Psicossomática 
 
O conceito 
 Popularmente diz-se que doença psicossomática ou doença psicológica é aquela que 
não apresenta sintoma orgânico real, ou seja, quando você acha que tem uma doença que 
não existe. Esta definição, embora comum, é errada. Doenças psicossomáticas são 
manifestações orgânicas que podem ser causadas ou cujos sintomas podem ser 
agravados por aspectos psíquicos (mental/emocional). 
Existem, é claro, os casos de SIMULAÇÃO (quando a pessoa finge ter algo) ou de 
HIPOCONDRIA (fixação na idéia de doenças e preocupação excessiva com a saúde). O 
correto, no entanto, é utilizar o termo psicossomático apenas para designar doenças que 
apresentam sintomas reais no corpo físico, mas cuja origem está no psiquismo. 
Então, se desconsiderarmos estes dois casos, podemos dizer que existem basicamente 
duas categorias: 
As doenças por conversão psíquica, quando existe sintoma, porém, nenhum tipo de 
alteração orgânica é percebida em exames. Por exemplo: uma pessoa não consegue andar, 
mas não tem nenhum tipo de lesão neurológica ou muscular que justifique a paralisia. 
E a somatização propriamente dita, quando a energia psíquica foi descarregada no 
corpo levando à formação de uma ou mais lesões diagnosticáveis, visíveis em exames de 
raios-X, tomografia ou outros tipos de exames. Por exemplo: os professores que possuem 
alergia a giz. 
Existem indícios de que a somatização funciona como uma válvula de escape para 
emoções e sentimentos com os quais o sujeito não consegue lidar. 
 Poderíamos generalizar e dizer que todas as doenças têm ao menos algum fundamento 
psíquico. Porém, em alguns casos a participação dos estados emocionais no 
desencadeamento ou na evolução da doença é mais evidente e determinante. 
Entre as mais conhecidas temos: doenças alérgicas, como a asma brônquica e as 
dermatites; doenças gastrointestinais, como as úlceras gástricas e a diverticulite; e as 
doenças auto-imunes, como o lúpus. 
As doenças alérgicas, por exemplo, revelam como o sujeito lida com os agentes 
agressores do ambiente. São formas de defesa exacerbadas, como se cada agente fosse uma 
grande ameaça contra a qual ele precisa se defender. Ou evita-se o contato com esses 
agentes (o que muitas vezes é impossível) e se utiliza os corticóides (anti-alérgicos) ou 
então, busca-se uma desensibilização, modificando as condições internas, o emocional. 
 
A relação mente/corpo 
Todas as doenças são causadas por um conjunto de fatores. A mente é um deles. Sua 
participação varia, ou seja, em algumas doenças a condição psíquica interfere mais e em 
outras, menos. 
 Não conhecemos o complexo mecanismo de interação entre mente e corpo, até porque 
o próprio conceito de MENTE é bastante controverso. No entanto, sabe-se hoje que certas 
condições orgânicas correspondem a determinados estados emocionais, pois estes 
interferem na produção de uma série de substâncias, como os hormônios e os 
neurotransmissores, que atuam na regulação fisiológica. 
 
 
 19 
Estados depressivos e as doenças 
 Sabemos que o sistema imunológico é capaz de reconhecer e de combater as células 
alteradas. Nos casos de depressão há uma diminuição acentuada da imunidade, que 
predispõe a infecções diversas e, em alguns casos, à proliferação de células alteradas. 
Assim, não podemos dizer que a depressão seja a causa, mas sim, que pode ser um dos 
fatores que favorecem o crescimento e a disseminação de células adoecidas. 
 Podemos citar, por exemplo, o câncer que é um termo genérico para diversos tipos de 
tumores malignos, ou seja, formados por células alteradas, que tendem a se disseminar 
formando novos tumores. É necessária a associação de uma série de fatores para que o 
câncer se desenvolva. Dependendo do tipo de câncer, por exemplo, devem-se considerar 
fatores genéticos e ambientais, que incluem os produtos químicos e radiações. O estado 
alterado do depressivo pode favorecer a proliferação das células cancerosas. 
 Crises de determinadas doenças imediatamente após brigas, sustos e outros fatos 
desencadeantes, com sintomas orgânicos não justificados por exames clínicos ou 
laboratoriais, revelam quadro típico de conversão psíquica. 
 Doenças que surgem apenas em períodos de crise emocional, stress ou mudanças na 
vida ou doenças crônicas que pioram sob essas condições revelam somatização. 
 
Fatores Predisponentes 
A relação entre as respostas fisiológicas e os transtornos psicofisiológicos tem sido o 
ponto de partida de muitas teorias explicativas. Entre as diversas emoções com respostas 
fisiológicas importantes destaquemos a ansiedade e a raiva. 
Supõe-se, em geral, que para se desenvolver e manter um transtorno psicofisiológico 
é necessário dois fatores: 
 predisposição individual: a pessoa tende a experimentar maior reação fisiológica 
diante da emoção. Significa que essa pessoa tem uma certa excitabilidade exagerada 
do sistema nervoso autônomo, bem como endócrino e imunológico. 
 reação fisiológica intensa e crônica: como por exemplo, manter níveis altos de 
ansiedade ou raiva. 
Portanto, um fator é predominantemente fisiológico e o outro de personalidade. 
Há anos se estudam as características do perfil de resposta de pessoas com diferentes 
transtornos psicofisiológicos, tais como a hipertensão arterial, a asma, a úlcera digestiva, as 
dores de cabeça, vários tipos de dermatites, etc. Os resultados indicam que as pessoas que 
apresentam tais transtornos costumam ter níveis mais altos de ansiedade do que outras 
pessoas da mesma idade e sexo. 
A mesma emoção negativa pode, ainda, se apresentar com características internas ou 
externas, variando de acordo com a capacidade de controle e dissimulação da pessoa. 
Assim, segundo Cano (Cano-Vindel & Fernández Rodríguez, 1999), as pessoas com 
hipertensão essencial têm níveis maiores de raiva interna que os grupos controle, sem 
hipertensão. Os pacientes com asma, por exemplo, apresentam níveis maiores de raiva 
externa do que as pessoas sem asma. A raiva, neste caso, ajudaria a manter níveis altos de 
ativação fisiológica. 
A maioria das pessoas com estilo repressivo de enfrentamento de suas emoções 
negativas não costuma ter consciência de sua alta ativação fisiológica e, inclusive, podem 
referir-se a si mesmos como pessoas relaxadas, calmas e tranqüilas. Na realidade não são 
bem assim. 
 20 
 
 Embora essas pessoas apresentem baixas pontuações nos testes para ansiedade, 
apresentam uma alta ativação fisiológica. Esta alta ativação fisiológica continuada será um 
fator de vulnerabilidade para o desenvolvimento de transtornos psicofisiológicos estes 
apresentaram maior reatividade cardiovascular com uma resposta de aumento da pressão 
arterial diastólica. 
Deve ser destacado que as emoções são reações naturais, universais, que têm uma 
finalidade adaptativa, mas não obstante quando demasiadamente intensas e/ou freqüentes, 
essas mesmas reações podem provocar alterações patológicas na saúde. 
Se essas emoções não podem ser relacionadas diretamente ao desenvolvimento de 
doenças, no mínimo elas provocam uma alteração no nível e qualidade de vida que 
favorecem o desenvolvimento patológico. A ansiedade, a tristeza e a raiva, quando em 
níveis demasiadamente intensos, ou freqüentes, quando se mantêm por um tempo longo, 
tendem a determinar mudanças na conduta, a ponto de determinar atitudes não sadias, como 
por exemplo, o consumo de fumo, álcool, sedentarismo, apatia, falta de exercícios, 
transtornos alimentares (hipo ou hiperfagia), etc. 
 
Histórico e correntes 
Embora as doenças psicossomáticas já pudessem ser observadas há bastante tempocom complexa história tais como na medicina combinada aos cerimoniais religiosos da pré-
história, na Bíblia com o Velho Testamento, com Hipócrates (600 aC) e com Jesus, esses 
"milagres" poderiam ser prontamente explicados pela medicina psicossomática. 
 Durante séculos, por falta de comprovação científica, a medicina psicossomática 
ficou em latência, embora o termo "psico-somático" tenha sido citado em 1818. O termo 
"psicossomático" e "somatopsíquico" surgiu realmente apenas em 1918 quando Heinroth 
procurava distinguir os tipos de influência e as diferentes direções das relações entre mente 
e corpo. 
 Com Freud, nova luz veio despertar o interesse mente-corpo. Após sua morte em 1939 
surge a revista Psychosomatic Medicine, editada por Flanders Dumbar, em que 50 anos 
depois, os editoriais mostraram o progresso bioquímico e psiconeuroimunológico da 
correlação mente-corpo, distanciando-se da contribuição psicanalítica que revolucionara os 
conceitos etiopatogênicos . 
 Ao lado de Georg Groddeck, Felix Deutsch, Franz Alexander, Weisse English, 
George Engel, Hans Selye, Luiz Chiozza, Rob Carballo, temos os fundadores da 
psicossomática brasileira: Durval Marcondes, Danilo Perestrello, Helládio Francisco 
Capisano, José Fernandes Pontes e Luis Miller de Paiva, sendo que os nove primeiros 
presidentes da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática, eram psicanalistas e 
médicos associados a atividades docentes e médico-hospitalares. Portanto, em 1965, foi 
fundada na sede da Associação Paulista de Medicina , a Associação Brasileira de Medicina 
Psicossomática, onde se reuniram Capisano , Miller, Pontes, Perestrello, Abram Eksterman 
e mais 142 médicos principalmente do Rio de Janeiro, Porto Alegre e São Paulo. 
Existem 3 vertentes teóricas comuns a toda concepção psicossomática: a psicogênica, 
a Psicologia Médica e a Antropologia Médica. 
 
 
 
 
 21 
Unidade 4 – Psicologia e equipe médica 
A introdução das Ciências Humanas no campo da saúde coloca em questão o 
discurso biológico puro através da crítica da soberania do saber médico e a exclusão de 
outros saberes sobre a doença e a saúde. 
À medida que o padrão de saúde foi mudando, a contribuição exclusiva do modelo 
biomédico passou a ser questionado, sendo necessário o surgimento de um modelo que 
considere os aspectos psicológicos e sociais do paciente. 
Um único profissional não é o bastante para analisar um paciente em seus vários 
aspectos e chegar a um diagnóstico preciso e fechado. Desta forma, na ciência do século 
XXI, a troca de conhecimentos entre as diversas disciplinas torna-se imprescindível para o 
entendimento do sujeito em sua totalidade. 
 
4.1- Psicologia Médica 
Nas palavras de Abram Eksterman, “a Psicologia Médica é um capítulo novo na 
história da Medicina. Pretende estudar a psicologia do estudante, do médico, do paciente, 
da relação entre estes, da família e do próprio contexto institucional destas relações”. 
O principal objetivo da Psicologia Médica é a otimização dos procedimentos 
clínicos e a prevenção da iatrogenia ou iatropatogenia (ocorrência de doença decorrente da 
própria ação médica). 
Conforme foi desenvolvido por Abram Eksterman, o método utilizado é a “História 
da Pessoa”, que é constituída pela: 
 - biografia do doente (como ele conta): os dados biográficos tornam o doente uma pessoa 
para o médico e não apenas uma patologia. A vantagem se baseia na individualização do 
caso clínico, com a conseqüente adaptação das medidas terapêuticas específicas para aquele 
doente; 
- estabelecimento das circunstâncias do adoecer: o conhecimento das circunstâncias de vida 
nas quais sobreveio a enfermidade possibilita evitar revivescências das mesmas 
circunstâncias morbígenas no relacionamento clínico; 
- compreensão da relação médico-paciente: possibilita a organização de uma estratégia 
assistencial, isto é, uma terapêutica individualizada. A relação médico-paciente pode ser 
fonte de graves iatrogenias, algumas das quais induzidas pelo paciente, sem que o médico 
disso se aperceba. A compreensão da relação médico-paciente também permite uma aliança 
criteriosa e harmoniosa com o paciente.. 
 O objetivo final é a Medicina da Pessoa, ou seja, o atendimento ao ser humano, 
enfermo em função de sua biografia e do mundo ao qual ele se adaptou. 
 
 
4.2- Psicologia Hospitalar 
A psicologia hospitalar tem construído sua história, passo a passo, considerando que há 
menos de duas décadas, a atuação do psicólogo em instituições hospitalares não estava 
regulamentada como uma ampla e necessária práxis psicológica. Os profissionais 
aventuraram-se por este caminho, mas muitos já o trilhavam, delineando os rumos desta 
área como a conhecemos hoje. 
Nos hospitais gerais, faz-se, então, necessário a escuta terapêutica com usuários, e, 
conseqüentemente, a escuta de seus familiares. Porém a psicologia hospitalar não pertence 
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unicamente à área clinica, pois ela também abrange áreas como a organizacional, social e 
educacional, utilizando-se de recursos técnicos, metodológicos e teóricos de diversos saberes 
psicológicos. 
A Psicologia Hospitalar busca comprometer-se com questões ligadas à qualidade de 
vida dos usuários bem como dos profissionais da saúde, portanto, não se restringindo ao 
atendimento clínico, mesmo este sendo uma prática universal dos psicólogos hospitalares. O 
pressuposto que permeia as atividades do psicólogo no hospital geral mostra outra visão de 
indivíduo, não fragmentada, mas como um todo, como um ser biopsicossocioespiritual com o 
direito inalienável à dignidade e respeito. 
A psicologia hospitalar ganhou reconhecimento da comunidade cientifica. Ganhou 
notoriedade junto a outras profissões. Ajudou e ajuda na humanização da prática dos 
profissionais de saúde dentro do contexto hospitalar. É determinante da própria mudança da 
postura médica diante de um quadro imenso de patologias onde os aspectos emocionais 
passaram a ser considerados no quadro geral do paciente. 
A psicologia hospitalar também é o renovar da esperança de que a dor seja entendida de 
uma forma mais humana. E de que os profissionais de saúde possam aprender a escutar a 
angústia, o sofrimento, a ansiedade,o medo, etc., presentes em cada manifestação física de dor e 
sofrimento emocional. Do coração que vibra em ânsia antes e após cada cirurgia. Da família 
que sofre junto do paciente sua dor, medo e angústia. E até mesmo da clarificação dos 
sentimentos do profissional de saúde que se envolve com a dor do paciente e que igualmente 
sofre a dor por esse envolvimento. 
 
 
4.3- Psicologia da saúde 
No Brasil há um grande número de psicólogos com diferentes orientações teóricas, 
que desenvolvem vários tipos de trabalhos na área de saúde. 
A atuação do psicólogo da saúde pode ocorrer em diferentes contextos: 
ambulatórios, enfermarias, serviços de pronto-socorro e emergência, unidades de terapia 
intensiva, CAPs, centro de saúde-escola, centros comunitários, PSFs, postos de saúde e 
faculdades de medicina. 
Dentre as atividades desenvolvidas por este profissional, destacam-se: a avaliação 
de pacientes candidatos a diferentes procedimentos cirúrgicos; atendimento 
psicoeducacional; grupos para modificação de comportamento de risco; avaliação 
neuropsicológica para diagnóstico e proposta de intervenção; atuação multidisciplinar com 
outros profissionais de saúde; auxilio na reabilitação de pacientes com deficiências físicas; 
intervenções para o controle de sintomas (como, por exemplo, pacientes submetidos à 
quimioterapia); atendimento em psicologia pediátrica e saúde do trabalhador. 
 
 
4.4- Humanização da assistência em saúde“Muitos pensam que humanizar nossa prática médica é sermos simpáticos com o 
doente, recebê-lo com civilidade, estimularmos a confiança, tudo na base de tornarmos a 
consulta agradável, assim como quem decora o consultório, pinta o hospital com cores 
atraentes, disfarça o agressivo dos instrumentos cirúrgicos, acrescenta áreas de recreio, 
música, televisão, brincadeiras para diminuir o estresse da intervenção médica, tipo Patch 
Adams, e assim por diante. Conhecemos bem estas práticas, que são acessórios, mas não 
afetivamente humanizam. O que humaniza nossa prática é a relação humana que 
construímos com nossos doentes. Assim como no texto bíblico o que humanizou o barro foi 
 23 
a relação com Deus, ou seja, seu Criador, na medicina o que humaniza nossa prática é 
nossa relação com o doente, é o tipo de vínculo que construímos com ele. Não se trata de 
sermos simpáticos e educados, mas efetivos participantes de um momento crítico da vida de 
alguém. E esta capacidade deve ser aprendida. Raros são os médicos que a praticam de 
forma espontânea; muitos aprenderam nas lições clínicas do quotidiano; a maioria disfarça 
a enorme ignorância e incompetência com justificativas institucionais, ou mesmo nem 
percebe que não pratica medicina humana e que se tornou mero instrumento de protocolos e 
manuais baratos e inconseqüentes de terapêuticas sintomáticas. E, para nosso lamento, 
muitos também se tornaram francamente iatropatogênicos. Uma sólida base antropológica 
deveria fazer parte da formação médica. O médico deveria, antes de qualquer coisa, 
entender de gente, para poder tratá-la.(...) 
 
Há muita confusão entre estabilidade neuro-humoral e felicidade; entre ataxia e 
bem-estar; entre sucesso econômico e realização humana. A realização humana não se 
realiza através da conjugação do verbo ter, mas do verbo ser. E o ser se revela e se cria na 
relação com os outros; e a relação com os outros se faz através de nossa vida mental.Vida 
mental, portanto, é uma transcendência de nossa precária unidade humana. Ela não se faz 
na pessoa, mas entre pessoas. E nesse entre é que o ser humano se revela, e é na relação 
médico/paciente, compreendida em sua complexidade diagnóstica e terapêutica, que a 
medicina humana se realiza.(...) 
 
Um longo caminho temos que percorrer para que essa medicina seja praticada. 
Formação médica, novos currículos, novas nosografias, redimensionamentos terapêuticos. 
Por enquanto, tateamos com abordagens psicossomáticas, com equipes multidisciplinares 
que incluem psicólogos com titubeantes estudos e práticas, como os da psicologia médica. 
Estes passos preliminares são inevitáveis, como o foram o gesto carinhoso e a palavra 
amável do clínico geral do passado. Em um trabalho publicado há tempos atrás, afirmava 
que a maior descoberta realizada pela medicina do século XX foi a do próprio homem. Já 
no século XXI, verifico que essa descoberta ainda não se concluiu.” 
Abram Eksterman 
Professor Titular da Faculdade de Medicina da Fundação Técnico 
Educacional Souza Marques; Diretor do Centro de Medicina 
Psicossomática e Psicologia Médica do Hospital Geral da 
Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro.

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