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CONCEITO DE CULPABILIDADE No conceito analítico de crime, adotando-se a teoria tripartite, a culpabilidade é o terceiro elemento do crime, sendo o primeiro a tipicidade e o segundo ilicitude. Para Rogério Greco, “Culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se realiza sobre a conduta típica e ilícita praticada pelo agente” (GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – Parte Geral. Vol.1, p. 379). Em outras palavras, culpabilidade é o juízo de reprovação de determinada conduta, assim, não basta que a ação seja típica e ilícita, é necessário que também haja uma reprovabilidade em relação aquele comportamento. A culpabilidade é dividida em três elementos, conforme a teoria normativa pura, quais sejam: a) Imputabilidade; b) Potencial consciência sobre a ilicitude dos fatos; c) Exigibilidade de obediência ao direito (ou de conduta diversa). Analisaremos cada um individualmente: a) IMPUTABILIDADE: Trata-se da capacidade ou aptidão para culpável. Para que haja a configuração da capacidade de culpabilidade é necessário observar dois momentos, o primeiro é cognoscivo ou intelectual e o segundo o volitivo ou de vontade, ou seja, a capacidade de compreensão do delito e a determinação da vontade conforme tal compreensão. Sobre o tema Bittencourt assevera que: “Assim, a ausência de qualquer dos dois aspectos, cognoscivo ou volitivo, é suficiente para afastar a capacidade de culpabilidade, isto é, a imputabilidade penal. (BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, p.390)” O Código Penal no art.26 diz: Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Com a leitura do artigo é possível verificar que corresponde exatamente aos dois momentos mencionados anteriormente. Deste modo, para concluir pela imputabilidade do agente deve-se observar se o mesmo era portador de alguma doença mental ou se possuía o desenvolvimento mental incompleto ou retardo, e se ao tempo do fato, detinha incapacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Por essa razão, restou-se demonstrado que o Código Penal adotou o critério biopsicológico. A respeito do critério biopsicológico, Greco em preciosas lições esclarece que: O critério biológico, portanto, reside na aferição da doença mental ou no desenvolvimento mental incompleto ou retardado. Contudo, mesmo que comprovado, ainda não será suficiente a fim de conduzir à situação de inimputabilidade. Será preciso verificar se o agente, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento (critério psicológico). A escolha do legislador foi pela adoção dos dois critérios, simultaneamente, surgindo, com isso, o critério biopsicológico. (GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – Parte Geral. Vol.1, p.395) Nos casos em que se provar a inimputabilidade do agente, conforme os critério mencionados anteriormente, o juiz deverá absolver, nos termos do art.386, inciso VI do CPP, aplicando uma medida de segurança, trata-se da espécie de absolvição imprópria. O Parágrafo único do art. 26 do CP diz que: Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Nesse caso haverá uma redução de pena de um a dois terços e a diferença em relação ao caput do artigo 26 é que enquanto no caput o agente deve ser inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, no Parágrafo único o agressor não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Em grosso modo, o caso do Parágrafo único é quando o autor possui um pouco de consciência da ilicitude de sua conduta. Por fim, a outra possibilidade de inimputabilidade é a questão da maioridade penal. Tanto o art.228 da Constituição Federal de 1988 quanto o art.27 do CP estabelecem que os menor de 18 anos são inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas pela legislação especial, qual seja a Lei 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente. b) POTENCIAL CONSCIÊNCIA SOBRE A ILICITUDE DO FATO: Birtencourt ensina que: Para que uma ação contrária ao Direito possa ser reprovada ao autor, será necessário que conheça ou possa conhecer as circunstâncias que pertencem ao tipo e à ilicitude. E — como afirma Vidaurri — “a consciência da ilicitude (antijuridicidade) baseia-se no conhecimento das circunstâncias aludidas. Por isso, ao conhecimento da realização do tipo deve-se acrescentar o conhecimento da antijuridicidade”. (BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, p.391) Por esta razão, para que se averigue que determinada conduta seja enquadrada como crime e passível de reprovação, faz-se necessário observar se o agente possuía consciência sobre a ilicitude do fato, ou seja, se ele não agiu sobre a hipótese do erro de proibição. O artigo 21 do CP diz que: Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. Nesse sentido, a pessoa não pode alegar que não sabia que certo comportamento era crime. Entretanto, se o agente agira sobre o erro de proibição pode haver a isenção de pena se inevitável ou a redução de evitável. Existe três modalidades de erro de proibição, que são os: direto, indireto, mandamental. No erro de proibição direito o agente não possuía conhecimento que aquela ação era reprovável por desconhecer que havia uma norma proibitiva, ou porque não conhece completamente o seu conteúdo, ou porque não entende o seu âmbito de incidência. Um exemplo clássico da doutrina é a do ou porque não conhece completamente o seu conteúdo, ou porque não entende o seu âmbito de incidência No erro de proibição indireto o agente sabe que aquele comportamento é típico, entretanto, acredita haver alguma circunstância que autorize cometê-lo (Ex: O marido que ao descobrir que a esposa o traiu vem a lesionar a esposa por acreditar que estava em seu direito); Erro de proibição mandamental: Trata-se da hipótese onde o agente acreditando não possuir determinada obrigação, deixa de prestá-la. Ocorre nos casos de crimes omissivos, próprios ou impróprios. (Ex: O banhista que ao ver uma pessoa afogando e por não possuir qualquer vínculo com a mesma, deixa de prestar socorro). c) EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA: Para a exigibilidade de conduta diversa, Rogério Greco conceitua que é “a possibilidade que tinha o agente de, no momento da ação ou da omissão, agir de acordo com o direito, considerando-se sua particular condição de pessoa humana” (GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – Parte Geral. Vol.1, p.411). Em outras palavras, é a situação onde o agente possuía a oportunidade de não violar o direito, ou não cometer determinado delito. Essas são nossas breves considerações sobre o conceito de culpabilidade, sendo crucial sua apreciação para que determinado comportamento seja reconhecido como criminoso. REFERÊNCIAS: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal : parte geral, 1. – 17. ed. rev., ampl. e atual. De acordo com a Lei n. 12.550, de 2011. – São Paulo : Saraiva, 2012. GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – Parte Geral. Vol.1 – 16.ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014. *Autoria: Guilherme Cruz do Nascimento, bacharel em Direito pela UniFG.
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