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O “Poeta da Morte” sob outra perspectiva: a crítica social em Augusto dos Anjos

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Faculdade São Bernardo (FASB)
O “Poeta da Morte” sob outra perspectiva: a crítica social em Augusto dos Anjos
Vitoria Cabral Cavalcante
Orientadora: Profª Drª Sonia Melchiori Galvão
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma visão diferente do poeta Augusto dos Anjos, apresentando seu olhar para a crítica social com foco na questão indígena por meio dos poemas “O lazaro da pátria” e “Os doentes” (IV parte). Essa temática será analisada baseada na linguagem e diálogo com as obras “O Guarani” e “Iracema” de José de Alencar, também levando em consideração o período histórico.
Palavras-chaves: Augusto dos Anjos; poema; visão indígena; índio; linguagem.
INTRODUÇÃO
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu em Engenho Pau D'Arco, na Paraíba, em 20 de abril de 1884. Apesar de ter se formado em Direito, Augusto seguiu carreira no ensino de Língua Portuguesa em seu estado, e, posteriormente, se mudou com sua esposa, Ester Fialho, para o Rio de Janeiro e em 1913 para Minas Gerais. O livro “Eu” foi a única obra produzida pelo paraibano e foi publicada em 1912, trazendo 58 poemas sua autoria sendo em sua maioria sonetos, mas também era composto de alguns outros poemas mais longos, como “Os Doentes” – poema que irei abordar para estudo neste artigo.
Apesar de sua obra ter sido publicada enquanto ainda estava vivo, Augusto não viu todo o prestígio recebido por seus escritos. Foi somente em sua segunda edição, organizada e com elogio de Órris Soares, que teve o nome mudado para “Eu e outras poesias” por conta do acréscimo de 46 poesias e passou a ser mais valorizada.
1. O “Poeta da Morte” e os estudos à seu respeito
Augusto dos Anjos é muito estudado sob a perspectiva temática e por isso ficou conhecido como o “Poeta da Morte”, “do horroroso”, devido a temática morte e/ou putrefação em seus poemas. O autor expressa por meio de uma linguagem mórbida e, muitas vezes, científica ou filosófica um questionamento metafísico e mostra o fim como algo horrível, porém algo comum a todos, sem escape.
Ivan Cavalcanti Proença (1980, p. 14) aponta as seguintes linhas temáticas e característica presentes na obra “Eu”: rudeza materialista X lirismo espiritual; ânsia de comunicação em monólogos de um solitário; inquietação filosófica; temática da morte; musicalidade e sonoridade; hermetismo e cientificismo. O que Cavalcanti elenca são os principais alvos de estudo quando se fala do poeta, isso fica claro quando se busca por artigos ou teses ao seu respeito.
Outro alvo de estudos é a árdua decisão de classificá-lo em determinada escola literária, haja vista que em seus escritos podemos encontrar características provindas do Realismo/Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo e até mesmo Surrealismo, como propõe Luís Augusto Fischer em “Augusto dos Anjos: surrealista?” . O parnasianismo provém do cuidado com a forma, tanto que a maioria dos poemas são sonetos, já o simbolismo da musicalidade dos versos decassílabos, tal sonoridade é quebrada pelo uso de palavras “apoéticas” e do cientificismo provenientes do Realismo/Naturalismo e surrealista pelas “misturas” aparentemente heterogêneas.
Embora haja essa diversidade de características, o poeta é classificado com pré-moderno, pois abrange as correntes literárias, já citadas, em uma só obra e inova ao usar abreviações, expressões comuns ao diálogo, sequência de frases nominais e a figura do índio já colonizado. É sobre esse ultimo aspecto moderno, a denuncia da realidade indígena, que irei abordar adiante neste trabalho.
2. A crítica social
Para Ferreira Gullar (2011) “se se admite que a função vital da criação literária é atualizar no nível da linguagem verbal, a experiência “emocional” da sociedade, e que isso pressupõe o permanente questionamento das relações que as formas literárias mantêm com a realidade, compreende-se por que, na cultura dependente, só em casos excepcionalíssimos (...) a expressão literária atinge sua plenitude. A atividade literária que não nasce daquele questionamento, ou que não o implica, é uma atividade meramente acadêmica, um formalismo social”, em outras palavras, a sociedade é a matéria de criação literária e deve estabelecer uma relação com as condições históricas.
Ainda que a maioria dos estudos literários sobre Augusto dos Anjos não tenha abordado a visão dele da sociedade como algo relevante, essa crítica social é sim presente em obra. Podemos observar em alguns de seus poemas uma visão sobre o indígena colonizado, o mestiço e o negro, mais especificamente será abordado o indígena.
 Logo no primeiro poema – “Monólogo de uma sombra”, temos as seguintes estrofes:
Na existência social, possuo uma arma 
-- O metafisicismo de Abidarma – 
E trago, sem bramânicas tesouras, 
Como um dorso de azêmola passiva, 
A solidariedade subjetiva 
De todas as espécies sofredoras. 
Como um pouco de saliva quotidiana 
Mostro meu nojo à Natureza Humana. 
A podridão me serve de Evangelho... 
Amo o esterco, os resíduos ruins dos quiosques 
E o animal inferior que urra nos bosques 
É com certeza meu irmão mais velho! 
Tal qual quem para o próprio túmulo olha, 
Amarguradamente se me antolha, 
À luz do americano plenilúnio, 
Na alma crepuscular de minha raça 
Como uma vocação para a Desgraça 
E um tropismo ancestral para o Infortúnio.
Podemos observar um eu-lírico que conta a má sorte de sua raça e descendência. Não fica claro qual a raça, porém a aproximação com a natureza, o verso sobre o animal feroz ser irmão mais velho da voz poética, a palavra “Evangelho” com letra maiúscula demonstrando ser um nome próprio, entre outros aspectos da mesma vertente, apontam para o indígena. Essas estrofes denunciam que o ser humano trouxe mais caos do que a própria natureza e tudo isso por conta da catequização.
2.1 O Lázaro da Pátria 
As críticas em nome do povo indígena também podem ser vistas no poema “O lazaro da pátria” em que o autor faz uma alusão, ironicamente ou não, ao personagem bíblico Lazaro, aquele que é excluído da sociedade, e que neste caso é excluído da pátria. O tom irônico no título é o fato de ser um personagem bíblico, o que remete ao evangelho e catequização citada no poema “O Monólogo de uma sombra”.
Tal escrito começa com o verso: “Filho podre de antigos Goitacases”, o que se pode observar aqui não é um índio, mas uma mistura entre índio e branco, uma considerada degeneração da raça. Outro ponto interessante é o fato de ser exatamente os “goitacases” ou também conhecidos como povo goitacá, que é o mesmo povo retratado em “O Guarani” de José de Alencar, embora não sejam retratados da mesma forma. E ainda há outra interpretação para “Goitacases” pois pode ser uma alusão ao Campo de Goitacazes, cidade do político Nilo Peçanha, tendo em vista que nos versos seguintes o autor fala “Em qualquer parte onde a cabeça ponha,/Deixa circunferências de peçonha,/Marcas oriundas de úlceras e antrazes”.
Na estrofe seguinte, Augusto apresenta esse Lazaro sendo perseguido por cinocéfalos, seres antropófagos da mitologia grega, que queriam arrancar dele alguma virtude (antropofogia). Ele também denota a fragilidade do corpo humano que produz dor torturantes (“Sente no tórax a pressão medonha/Do bruto embate férreo das tenazes”)
Por fim, há a presença de “meretrizes no Cassino” que riam dele, mostrando diversão e indiferença a dor alheia.
2.2 Os doentes
Nesse poema há diversas denuncias a respeito da sociedade, mas é na IV parte que se encontra o eu-lírico, mais uma vez, atraindo a atenção do leitor para a causa indígena. Essa parte começa descrevendo a cidade em um dia de chuva, chuva essa que pode ser metáfora para o choro, pois logo após essa pequena descrição o eu-lírico relata estar com uma mágoa gaguejada. 
Tal mágoa “vinha da vibração bruta da corda/ mais recôndita da alma brasileira!”, ou seja, que vinha de algo oculto, encoberto, assim como a história do povo indígena, haja vista que só conhecemos a versão da Europa sobre a colonização. Ele continua então lembrando os índios que foram massacrados e esquecidosna 4ª estrofe.
Na 5ª, ele expõe que a Europa, representada aqui por Colombo, manchou de vergonha a alma do descendente de português nascido no Brasil e escarrou no túmulo do cacique. Esse verso remete ao “Escarra na boca que te beija” do poema Versos Íntimos, pois o português foi bem recebido por alguns índios, tentou “compra-los” com presentes e se voltou contra eles, tomando suas mulheres e suas terras.
Depois do índio ser colonizado, adaptado ao padrões europeus, sua história ainda é esquecida e menosprezada. Nos versos “De repente, acordando na desgraça, Viu toda a podridão de sua raça... Na tumba de Iracema!...” vemos que mesmo depois de tanto sofrimento, sua raça ainda é mais do que esquecida, é enterrada na tumba da icônica personagem de José de Alencar – Iracema, que representa muito bem essa “traição” dos europeus com relação aos índios.
O poeta continua ainda dizendo que todo o progresso e civilização obtida por meio da colonização, não condizia com a realidade e crenças daquele povo oprimido que de nada tinha proveito daquilo, muito pelo contrário, só tinham desgraças. Sem terras, sem mulheres, sem forças suficientes para lutar contra as espingardas, o mais fraco sempre iria sucumbir como espécie inferior – assim como no verso do primeiro poema aqui analisado.
Considerações Finais
Diante de tudo apresentado neste trabalho fica incabível dizer que Augusto dos Anjos foi um poeta que retratou somente temáticas como a morte, o pessimismo, a putrefação devido aos seus ideais niilistas. Podemos ver que ele tinha preocupação em ser uma obra de verdadeiro cunho literário, não apenas mera obra acadêmica como descreve Gullar. Seus poemas são, sem dúvidas, uma literatura magnifica, não só com preocupação estética, mas social também e esta preocupação fortemente atrelada aos dados históricos, como visto nos poemas sobre questão indígena.
Bibliografia 
Rubert, Nara Marley Aléssio. O lugar de Augusto dos Anjos na poesia brasileira. PPG-LET-UFRGS – Porto Alegre – Vol. 03 N. 02 – jul/dez 2007. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/NauLiteraria/article/view/5088
FISCHER, Luis Augusto. Augusto dos Anjos: surrealista. Organon, Porto Alegre, v. 8, n. 22, 1994. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/index.php/organon/article/view/39867/25422
PROENÇA, Ivan Cavalcanti. O poeta do eu: um estudo sobre Augusto dos Anjos. 3.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980.
GULLAR, Ferreira. Augusto dos Anjos ou vida e morte nordestina. In. ANJOS, Augusto dos. Toda poesia. 4.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011, p. 15-81.
Garcia, Maria Olivia. O lamento dos oprimidos em Augusto dos Anjos. Campinas, SP: [s.n.], 2009. Disponível em: http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/270223/1/Garcia_MariaOlivia_D.pdf

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