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POLÍTICAS PÚBLICAS AULA 3 Prof.ª Andréa Luiza Curralinho Braga 2 CONVERSA INICIAL O assunto desta aula tratará sobre a diversificação do campo de conhecimento sobre a ciência das políticas públicas, trazendo como ênfase o histórico de pesquisa e as possibilidades de atuação no contexto brasileiro. No início, debateremos sobre as três características originárias das políticas públicas: normatividade, multidisciplinaridade e resolução de problemas públicos. Na segunda discussão, trabalharemos as diferentes abordagens sobre políticas públicas, buscando ressaltar variadas correntes e como se expressa a viabilidade de aplicação na prática das distintas concepções. Na terceira parte, evidenciaremos tipos de estudos distintos no âmbito da ciência da política pública. No quarto fragmento, discutiremos sobre o histórico de estudos e modelos de análises de políticas públicas no Brasil, evidenciando algumas perspectivas e referenciais. Para finalizar a aula, abordaremos o papel do analista de políticas públicas no contexto brasileiro e suas possibilidades de atuação. TEMA 1 – CARACTERÍSTICAS ORIGINÁRIAS DE POLÍTICAS PÚBLICAS COMO CIÊNCIA No campo da ciência, o estudo das políticas públicas é dedicado à matéria de problemas públicos, instrumentos, atores sociais, redes e instituições. Tudo isso forma um campo de estudos que recebe influências de uma série de áreas do saber, como economia, sociologia, engenharia, ciência política, psicologia social, administração pública, direito, entre outras disciplinas. A ciência da política pública tem sua base instrumental na obra de Lerner e Lasswell (1951), The Policy Sciences. Os autores buscaram construir um conhecimento aplicado, voltado ao enfrentamento de problemas públicos concretos, provendo mecanismos argumentativos e técnicos. Assim, Lerner e Lasswell utilizam o termo policy orientation, ou “orientação para política pública”, definido, em linhas específicas, como procedimentos de sistematização, interpretação e operacionalização de pesquisas neste campo. Na análise de Lesswell (1951), Howlett, Ramesh, Perl (2013), a ciência da política pública apresenta três características originárias: 3 1. normatividade; 2. multidisciplinaridade; 3. foco na resolução de problemas públicos. Conforme aborda Secchi (2016), depois de referenciar as três características originárias, o autor inicia sua análise sobre a normatividade, que passou a ter relação estreita com a pesquisa positiva, neutra, contrária à explicitação de valores. Deste modo, a ênfase de análise pela perspectiva da normatividade se baseia pela ideia de que a ciência da política pública não pode se cobrir sob a aparência de “objetividade ou neutralidade científica”, “devendo reconhecer a necessidade de andarem juntos os objetivos e os meios, os valores e as técnicas no estudo das ações governamentais” (Secchi, 2016, p. 35). Sobre a característica da multisciplinariedade, esta figuração cedeu espaço a vocabulário próprio, esquemas, análises e referenciais-teóricos distintos de campo interdisciplinar de política pública. Destarte, a multidisciplinaridade diz respeito ao fato de a ciência da política pública incorporar trabalhos e descobertas de diferentes campos do conhecimento, como a sociologia, economia, direito, administração, política, entre outros. Por último, Secchi (2016) fala sobre o ânimo para a resolução de problemas, explicitando que este tópico “incorpora os outros dois elementos e adquire maior importância no processo da public policy-making (formulação de políticas públicas). Portanto, esse é o elemento que implica a intenção e a ação correspondente que torna possível solução dos problemas” (Secchi, 2016, p. 36). Na atualidade, os trabalhos empíricos e teóricos sobre as atividades governamentais vêm surgindo cada vez mais no cenário mundial; no contexto brasileiro, tem-se a compreensão ampliada sobre as políticas públicas. Ressalta- se que as propostas iniciais de Lasswell, Lerner e de seus seguidores permanecem atuais e continuam a proporcionar as bases para a condução dos estudos e das análises de grande relevância. TEMA 2 – DIFERENTES ABORDAGENS E DISTINÇÕES ANALÍTICAS SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS Nesta discussão, trabalharemos diferentes abordagens de análise sobre políticas públicas, caracterizando seus fins e meios, buscando ressaltar variadas 4 metodologias e explicando como se procede a finalidade de prática desta ciência. Para Secchi (2016): A expansão e institucionalização da ciência da política pública diversificou-se em fins (objetivos de estudos) e meios (metodologias). Do ponto de vista da finalidade os estudos podem ser descritivos e prescritivos, sendo possível combinar as distintas finalidades na produção de conhecimento. Nos estudos descritivos a ênfase de análise se expressa por construir teorias, mediante a descrição e explicação dos tipos de políticas públicas, comportamento de atores sociais, redes e instituições nos diversos momentos que compõem a política pública. (Secchi, 2016, p. 40) Indicativo à metodologia, os estudos descritivos podem ser indutivos, em que o pesquisador realiza sua investigação com base de dados empíricos quantitativos e qualitativos – estudos de casos, séries e históricos. Tal abordagem propicia a elaboração de sínteses conceituais, constrói hipóteses e teorias. Ainda, existe a opção das metodologias dedutivas, quando o pesquisador parte de axiomas, hipóteses e teorias abstratas para testá-las na prática. Alusivo a tais estudos prescritivos, ressalta-se a intencionalidade de desenvolvimento e o apontamento de como deveriam ser, indicando recomendação, orientação, intervenção. Os estudos prescritivos baseiam-se nos valores de equidade, eficiência, eficácia, resiliência, entre outros. Além disso, realizam estudos empíricos. Para Secchi (2016), os estudos prescritivos podem fazer uso dos métodos prospectivo e retrospectivo. No método prospectivo, o foco se dá em predições e conjecturas de o que pode acontecer ao se executar determinada política, como no caso a ser exemplificado da prospecção de como a Reforma Previdenciária pode atingir a vida dos brasileiros se forem aprovadas suas mudanças. Os estudos retrospectivos observam fenômenos já ocorridos no tempo e refletem sobre como é o funcionamento das políticas públicas já implementadas. Adverte-se que nos estudos de políticas públicas há espaço para estudos simultâneos que podem ser combinados e agregam mais fins na produção do conhecimento. 5 TEMA 3 – TIPOS DE ESTUDOS EXISTENTES NA CIÊNCIA DA POLÍTICA PÚBLICA Na divisão metodológica, identifica-se tipos de estudos existentes na ciência da política pública. Vejamos a figura abaixo sobre as distintas tipologias. Figura 1 – Ciência das Políticas Públicas e seus tipos de estudo Fonte: Secchi, 2016. Referente à especificidade de cada tipo de estudo, Secchi (2016) inicia com a compreensão sobre análise de políticas públicas, sendo entendida, na literatura internacional, como atividade racionalista, argumentativa, para o suporte de tomada de decisão. Tem objetivo prático prescritivo e indica métodos prospectivos para elaboração, projeção e recomendação de políticas públicas concretas. Referente à pesquisa em políticas públicas (policy research), tem como proposta a construção teórica e utiliza métodos indutivos. Possui natureza descritiva e busca entender como as políticas públicas se ampliam. Esses conteúdostêm como enfoque a explicação dos conteúdos das políticas públicas, do comportamento dos atores que influenciam na política, estilos de políticas públicas, instituições formais e informais e fases do processo. (Secchi, 2016, p. 42) A avaliação de políticas públicas, por sua vez, tem a proposta de instrumentalização prática (prescritiva) e de uso de métodos retrospectivos ou de processo. É atividade instrumental para a geração de informações importantes para a manutenção, ajustes e extinção das políticas, geralmente aplica critérios, indicadores e índices para avaliar as qualidades e deficiências das políticas públicas. (Secchi, 2016, p. 43) Análise de Políticas Públicas Pesquisa de Políticas Públicas Avaliação de Políticas Públicas Teoria da Escolha Pública Ciência da Política Pública 6 Por último, a teoria da escolha pública (public choice theory) tem como objetivo a construção teórica de métodos dedutivos. É indicada como uma linha de aplicação da teoria de escolha pública no campo das políticas públicas e análise institucional. Tem como paradigma um modelo derivado de teoria econômica que atente à influência das regras de decisão, incentivo e comportamento de atores sociais, custos de informação e transação e efeitos provocados (Secchi, 2016, p. 46). Ressalta-se que, na ciência das políticas públicas, há possibilidade de combinações de diferentes atividades e formas de sistematizações, destacando, neste tópico, a relevância de diferenciação de cada uma das concepções. TEMA 4 – MODELOS DE ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NO CONTEXTO BRASILEIRO Este tópico tem como objetivo incitar uma discussão teórico-metodológica acerca de concepções e análises de políticas públicas no Brasil. Discutem-se algumas das contribuições das abordagens, principalmente as trazidas nas últimas três décadas no contexto brasileiro, que ganharam espaço e importância dentro da ciência política e de outras áreas do saber. Na análise de Frey (2000), no Brasil, há estudos que analisam as estruturas e instituições ou a caracterização dos processos de negociação das políticas setoriais específicas. Deve-se atentar para o fato de que programas ou políticas setoriais foram examinados com respeito a seus efeitos e que esses estudos foram antes de mais nada de natureza descritiva com graus de complexidade analítica e metodológica bastante distintos. (Frey, 2000, p. 2015) No mapeamento dos modelos, conforme nos indica Dye (2014), há diversos modelos para entendimento da vida política, sendo: Modelo Institucional: tem como foco a análise de estruturas, suas atribuições e suas funções, sem indagar sistematicamente os impactos para tais políticas. Teoria dos grupos: A teoria dos grupos principia com a conjectura de que o intercâmbio entre os grupos é o fato importante da política. A política pública é, em qualquer momento do tempo, a balança que determina grupos e facções que buscam estabelecer a política em seu favor. 7 Teoria das elites: Este modelo pode ser visto conforme o prisma de preferências e valores das elites dominantes. Traz como ênfase que as políticas públicas moldam os interesses das elites. Racionalismo: reforça a ideia de que a política racional é a que produz “ganho social máximo”, isto é, as políticas devem produzir maiores benefícios em relação aos seus custos. Não está ligado aos termos estritamente monetários, mas a “cálculos” de valores sociais, políticos e econômicos. Entra, nesta análise, a teoria dos Teoria dos jogos: estudo de decisões racionais que depende da escolha de quem as faça. Teoria da opção pública: estuda os comportamentos na arena pública e presume que os indivíduos perseguem seus interesses e partem da premissa de que os atores políticos buscam tornar máximos seus benefícios pessoais na esfera política e no mercado. Teoria sistêmica: trata as políticas públicas como produto do sistema político. A palavra “sistema” sugere diversas instituições e atividades da sociedade civil organizada, para transformar demandas em deliberações oficiais. Menciona-se que este tópico tem o caráter introdutório de especificação dos modelos. Cada referencial apresenta distintas metodologias e parâmetros para entendimento das políticas públicas. Desta forma, destaca-se a importância de compreender as características centrais para aplicação de cada modelo. TEMA 5 – O PAPEL DO ANALISTA DE POLÍTICAS PÚBLICAS NO CONTEXTO BRASILEIRO E SUAS POSSIBILIDADES DE ATUAÇÃO O analista de políticas públicas é um ator técnico-político que realiza a análise relacionada a problemas públicos, criação de alternativas, coleta de dados, tratamento de dados, organização e mediação de reuniões com atores políticos e grupos de interesse. Segundo Vatsman, Ribeiro e Andrade (2013), o analista em políticas públicas é mais definido como uma atividade do que como uma profissão. No Brasil, existem cargos e funções que preveem a atuação do analista em políticas públicas. Entre esses profissionais, estão: cientistas políticos, engenheiros, assistentes sociais, profissionais de relações internacionais, advogados, entre muitos outros. 8 O analista de políticas públicas atua em organizações como Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), entre outros. Ainda, podem atuar em diversas carreiras dos governos federal, estadual e municipal. Como expressam Mayer, Daaler e Bots (2013), os analistas de políticas públicas devem ter as seguintes habilidades: Pesquisar e analisar: coletar informações com pessoas e em documentos e dar tratamento analítico aos processos; Estruturar e recomendar: usar a capacidade criativa para novas opções adequadas ao contexto de análise e formalizar recomendações para os formadores de opinião; Democratizar: criar espaços de debates para diversos grupos sociais e cidadãos, trazendo conhecimento e distintas experiências; Mediar: agir como facilitador de debates em processos participativos garantindo a voz a todos. (Mayer, Daaler, Bots, 2013 apud Secchi, 2016, p. 17). As habilidades e competências de um analista em políticas públicas apresentam muitas opções de ação profissional, além de reunirem evidências e argumentos para indicar linhas de intervenção e resolução de problemas públicos concretos. NA PRÁTICA Modelos de políticas públicas: da teoria à prática Muitas pessoas têm suas próprias visões a respeito de como se formula, decide e implementa uma política pública. Essas visões são representações simplistas do mundo real. Os teóricos políticos buscam analisar, de forma mais elaborada, suas visões sobre o sistema político e são expressos na forma de modelos de análise. Assim, construa um quadro-síntese, especificando os principais modelos de análise e, ao lado, indique um caso concreto que poderia ser aplicado na prática. 9 FINALIZANDO Nesta aula, falamos sobre as três características originárias das políticas públicas: normatividade, multidisciplinaridade e resolução de problemas públicos. Relacionados às diferentes abordagens de análise sobre políticas públicas, os estudos podem ser descritivos ou prescritivos, tendo métodos distintos para cada forma de investigação. Ainda, discutimos sobre os tipos de estudos na ciência da política pública, sendo: (i) análise de políticas públicas; (ii) pesquisa de políticas públicas; (iii) avaliação de políticas públicas; (iv) teoria da escolha pública. Na sequência,apresentamos a seleção de modelos que buscam entender as políticas públicas pelos vieses de análise institucional, teoria dos grupos, teoria das elites, racionalismo, teoria da opção pública e teoria sistêmica. Para finalizar a aula, enfatizamos o papel do analista de políticas públicas e suas mais diversas possibilidades de atuação e instituições de inserção. 10 REFERÊNCIAS DYE, T. Mapeamento de modelos de análise de políticas públicas. In: HEIDEMANN, F. G. SALM, J. F. (Org.). Políticas públicas e desenvolvimento: bases epistemológicas e modelos de análises. 3 ed. Brasília: Universidade de Brasília, 2014. FREY, K. Políticas públicas: um debate conceitual e reflexões referentes à pratica da análise de políticas públicas no Brasil. Revista Planejamento e Políticas Públicas (jun.), IPEA, 2000, p. 212-259. HOWLETT, M.; RAMESH; M. PEARL, A. Política pública: seus ciclos e subsistemas, uma abordagem integral. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. LASSWELL, H. D. The Policy Orientation. In: LERNER, D.; LASSWELL, H. The policy sciences: recent developments in scope and method. Stanford University Press, 1951. MAYER, I. S.; DAALEN, C.; BOTS, P. W.G. Perspectives on policy analysis: a framework for understanding and design. In: THISSEN, W.; WALKER, W. Public Policy analysis: new development. Nova York: Springer, 2013. SECCHI, L. Análise de políticas públicas: diagnósticos de problemas, recomendação de soluções. São Paulo: CENGAGE Learning, 2016. VAINTSMAN, J.; RIBEIRO, J. M.; ANDRADE. Profissionalisation of policy analysis in Brasil. In: VAINTSMAN, J.; RIBEIRO; LOBATO, L. Policy analisys in Brazil. Bristol: Policy Press, 2013.
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