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Bruno Carneval_Monografia

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO 
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARISCAGEM NO LITORAL NORTE DE PERNAMBUCO: 
DESENVOLVIMENTO DA GESTÃO AMBIENTAL 
 
 
Bruno Marcel Carneval de Oliveira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Recife 
2013 
 
Bruno Marcel Carneval de Oliveira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARISCAGEM NO LITORAL NORTE DE PERNAMBUCO: 
DESENVOLVIMENTO DA GESTÃO AMBIENTAL 
 
 
Monografia apresentada como requisito para obtenção 
do título de Biólogo no curso Licenciatura Plena em 
Ciências Biológicas da Universidade Federal Rural de 
Pernambuco / UFRPE. 
 
Orientadora: Prof.ª Dra. Soraya Giovanetti El-Deir. 
 
 
 
 
 
 
 
Recife 
2013 
ii 
 
Bruno Marcel Carneval de Oliveira 
 
 
 
 
MARISCAGEM NO LITORAL NORTE DE PERNAMBUCO: 
DESENVOLVIMENTO DA GESTÃO AMBIENTAL 
 
 
 
 
Monografia apresentada e aprovada no dia 23 de Abril de 2013, como requisito para a 
obtenção do título de Licenciado Pleno em Ciências Biológicas pela Universidade Federal 
Rural de Pernambuco – UFRPE. 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
__________________________________________ 
Prof.ª Dra. Soraya El-Deir (Orientadora) 
Departamento de Tecnologia Rural / UFRPE 
 
__________________________________________ 
Prof. Dr. Fernando de Figueiredo Porto Neto 
Departamento de Zootecnia / UFRPE 
 
___________________________________________ 
Prof.ª Dra. Maristela Casé 
Instituto de Tecnologia de Pernambuco / ITEP 
 
____________________________________________ 
Prof.ª Dra. Karine Magalhães 
Departamento de Biologia / UFRPE 
iii 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico aos meus pais Amarílio José de Oliveira 
e Maria de Lourdes Carneval de Oliveira pelo 
infindável apoio e contribuição que resultaram 
no sucesso deste “primeiro passo” tão 
importante em minha vida. 
iv 
 
AGRADECIMENTOS 
 
À Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), pela bolsa cedida e custeio de 
viagens, apoio necessário a manutenção dos estudos, perpetuação do conhecimento e presença 
nos eventos de interesse durante o período acadêmico. 
Aos pesquisadores do Grupo de Gestão Ambiental em Pernambuco (Gampe) que colaboraram 
para meu crescimento profissional, no trabalho em conjunto, solidário, em prol de um futuro 
socioambiental melhor, permitindo aprender com cada um, modos diferentes de enxergar os 
diferentes sistemas integrados à vida. 
À Professora Soraya El-Deir, que me introduziu aos ensinamentos e aprendizado da Gestão 
Ambiental me guiando pelos caminhos da ciência, do profissionalismo, da solidariedade e na 
horizontalidade do conhecimento. Grato pelas oportunidades, viagens, dicas, provocações e 
pelo olhar do amanhã e momentos que fizeram de mim um profissional crítico, atuante e 
melhor conhecedor dos fatos. 
À Jacqueline Ellen, Mestre em Ciência Animal pela UFRPE, pela palestra oferecida aos 
marisqueiros na apresentação das análises microbiológicas do pescado, resultados do seu 
mestrado. 
Ao Prof. Dr. Fernando Joaquim Maia da UFRPE, por apresentar aos marisqueiros seus 
direitos e benefícios que lhes são ofertados pelo Instituto de Nacional do Seguro Social – 
INSS e pela Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS). 
Ao Instituto Oceanário de Pernambuco, pela consultoria e informações necessárias para o 
andamento da pesquisa. 
À Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Agricultura de Igarassu pelo espaço cedido 
nas oficinas com as marisqueiras. 
À Secretaria de Meio Ambiente de Igarassu, bem como à correspondente assessoria pelas 
entrevistas cedidas e ajuda prestada nas oficinas com as marisqueiras. 
À Secretaria de Meio Ambiente de Itamaracá – PE, pela entrevista. 
À Secretaria de Indústria, Comércio, Agricultura e Pesca do Município de Itapissuma, pela 
entrevista e coffee break durante as oficinas. 
Às Colônias de Pescadores Z-10 (Itapissuma–PE), Z-11 (Itamaracá–PE), Z-20 (Igarassu–PE) 
e à Associação de Pescadores A-20 (Igarassu – PE) pela ajuda nas oficinas. Assim como a 
todos as marisqueiras das comunidades de: Itapissuma (Cajueiro, Espinheiro e Veloz); 
Itamaracá (Jaguaribe, Pilar, Chié); e Igarassu (Mangue seco, Nova cruz e Coroa do Avião). 
v 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A Natureza é como um Livro que ensina a viver, 
mostra o que tem disponível, e quanto mais 
se explora, mais se sente nostalgia 
de suas primeiras folhas.” 
 
Bruno Carneval 
vi 
 
RESUMO 
 
A mariscagem é uma atividade de pesca tradicional que ocorre através da coleta de moluscos, 
em geral bivalves, para consumo e/ou venda, utilizando-se de instrumentos como: rede, 
colheres, além de outros desenvolvidos pelos próprios profissionais. O estudo apresenta o 
desenvolvimento da Gestão Ambiental em uma Área de Proteção Ambiental conhecida como 
APA de Santa Cruz, que envolve os municípios de Itamaracá, Itapissuma e Igarassu, situados 
no litoral norte do estado de Pernambuco, sendo este último não integrante da APA em 
questão. A pesquisa foi realizada através do: i) levantamento de dados secundários por meio 
de pesquisa em livros, artigos científicos e projetos atualizados relevantes à temática discutida 
e aplicáveis à região pesquisada; ii) dados primários por meio de entrevistas, aplicação de 
questionários com representantes governamentais e representantes dos profissionais da 
mariscagem, bem como por meio ações de extensão. Evidenciou-se a falta de gestão integrada 
por parte dos gestores responsáveis pela pesca na região, no que tange a conexão dos órgãos 
responsáveis, além da ausência de projetos e programas específicos para o setor da 
mariscagem, e de profissionais qualificados para atuar nas secretarias. É bastante notória a 
dificuldade de atuação dos órgãos gestores. Os resultados obtidos em relação à percepção 
ambiental apontaram que alguns entrevistados informaram a não existência de atuação dos 
órgãos ambientais na região, e nenhum órgão oferta treinamento e capacitações nesta 
atividade. No tocante aos resíduos, a maioria dos entrevistados propôs que fossem 
reaproveitados no artesanato, visto que há o descarte em terrenos baldios. Outros observam a 
necessidade da criação de projetos voltados para a atividade da mariscagem, bem como do 
seguro defeso para o marisco. De maneira geral conclui-se que há divergência entre a 
percepção real das necessidades da localidade, bem como disputas políticas abrangendo os 
envolvidos no processo da gestão da mariscagem, sendo estes confrontos refletindo a ausência 
de investimentos e desenvolvimento das atividades direcionadas à mariscagem. Assim, se faz 
necessário uma melhor articulação entre os municípios integrantes da APA, o 
desenvolvimento de ações e políticas ambientais que visem a integração da Gestão Ambiental 
da APA e beneficiem os profissionais da mariscagem, como a doação de equipamentos para o 
beneficiamento do pescado, reparo de barcos e o seguro defeso para o marisco. 
Palavras-chave: Mariscagem; Gestão Ambiental; Área de Proteção Ambiental. 
 
vii 
 
ABSTRACT 
 
The shellfishing is a traditional fishing activity based in the catching of molluscs, generally 
bivalves, for family consumption and/or to sale, using instruments as: net, spoons, and others 
instruments created by the shellfish catchers. This research presents the development of theenvironmental management in an Environmental Protected Area - EPA, known as Santa Cruz EPA, 
involving municipalities Itamaraca, Itapissuma and Igarassu, located on the north coast of the state 
of Pernambuco, being the last one not inserted in the EPA. This study was divided by: i) secondary 
data through research in books, scientific papers and relevant updated projects to the topic discussed 
and applied to the area surveyed, ii) primary data through interviews, questionnaires applied with 
managers of the government and professional representatives shellfishers, and through extension 
actions. Data revealed the lack of responsible management fishery at region, concerning the 
integration of the responsible agencies, the absence of projects, programs for the shellfishing sector, 
and qualified professionals to work in government offices. It is clear the difficulty of management 
agencies performance. About the environmental perception some interviewed reported no one 
action by the local environmental agencies and no one training or teaching for fishing activity. With 
regard to waste most answered to suggest reused it in handcraft, since there it is dispose in 
wasteland. It observes the needing to create projects to the shellfishing, as well as to create financial 
insurance for shellfish closures. There is divergence between the real perceptions from the needing 
of the locality as well the political disputes involving the stakeholders, being these clashes the cause 
the lack of investment and development to the shellfishing activity. Thus, it is necessary to improve 
the coordination between the municipalities in the APA, the development of environmental policies 
and actions aimed at the integration of EPA and benefit the shellfish catchers, such as the donation 
of equipment for the beneficiation of fish, repair boats and financial insurance for shellfish closures. 
Keywords: Shellfishing; Environmental Management; Environmental Protection Area. 
viii 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 Marisqueira “in loco” realizando a coleta manual de mariscos. 16 
Figura 2 Embarcações utilizadas pelas marisqueiras no Canal de Santa Cruz. 20 
Figura 3 Produção de mariscos realizada em um dia por família de marisqueiros do 
município de Igarassu–PE. 
21 
Figura 4 Monte de conchas formado pela disposição inadequada de conchas pelos 
marisqueiros(as) no Município de Igarassu-PE. 
22 
Figura 5 Forma precária no pré-cozimento dos mariscos por grande parte das 
marisqueiras do Litoral Norte de Pernambuco. 
34 
Figura 6 Tipo de debulhamento por alguns profissionais da mariscagem no litoral 
norte de Pernambuco. 
34 
Figura 7 Nível de escolaridade das(os) marisqueiras(os). 35 
Figura 8 Renda média durante a alta estação. 36 
Figura 9 Renda média na baixa estação. 37 
Figura 10 Produto “A” confeccionado pelas marisqueiras na III Oficina. 50 
Figura 11 Produto “B” confeccionado pelas marisqueiras na III Oficina. 50 
 
ix 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
APA Área de Proteção Ambiental 
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis 
K Capacidade de Suporte 
MPA Ministério da Pesca e Aquicultura 
MMA Ministério do Meio Ambiente 
RGP Registro Geral da Atividade Pesqueira 
SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação 
UC Unidade de Conservação 
EVI Economia Verde Inclusiva 
P&D Produção e Desenvolvimento 
EE Economia Ecológica 
ONG Organização Não-Governamental 
UFRPE Universidade Federal Rural de Pernambuco 
EA Educação Ambiental 
PNEA Política Nacional de Educação Ambiental 
PCN Parâmetros Curriculares Nacionais 
PA Percepção Ambiental 
IPA Instituto de Pesquisa Agronômicas 
CaCO3 Carbonato de Cálcio 
SEAP Secretaria de Aquicultura e Pesca 
PAA Programa Aquisição de Alimentos 
PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar 
GA Gestão Ambiental 
Conab Companhia Nacional de Abastecimento 
MDS Ministério do Desenvolvimento Social 
SENAR Serviço Nacional de Aprendizado Rural 
INSS Instituto Nacional do Seguro Social 
UGT União Geral dos Trabalhadores 
CaO Óxido de Cálcio 
 
 
 
x 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 13 
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 15 
2.1 A Pesca como foco da pesquisa 15 
2.2 A Pesca no Litoral Pernambucano 18 
2.3 A APA de Santa Cruz e seu Canal 19 
2.4 A mariscagem na APA de Santa Cruz - PE 20 
2.5 Os Desafios Econômicos na prática da mariscagem 22 
2.5.1 As diferentes visões econômicas e a temática ambiental 23 
2.5.2 A inserção da visão ecológica na Economia 25 
2.6 O Processo de Empoderamento 27 
2.7 Educação Ambiental como suporte para a governança sustentável 28 
3 OBJETIVOS 31 
3.1 Objetivos Gerais 31 
3.2 Objetivos específicos 31 
4 METODOLOGIA 31 
5 RESULTADOS 33 
5.1 Gestão da Mariscagem 33 
5.2 Perfil dos profissionais da mariscagem 35 
5.3 Status quo da Gestão da mariscagem em Itamaracá 38 
5.3.1 Secretaria de Meio Ambiente de Itamaracá 38 
5.3.2 Colônia de Pescadores Z-11 39 
5.4 Status quo da Gestão da mariscagem em Itapissuma 40 
5.4.1 Secretaria de Indústria, Comércio, Agricultura e Pesca de 
Itapissuma–PE 
40 
5.4.2 Instituto de Pesquisas Agronômicas - IPA 41 
5.4.3 Colônia de Pescadores Z-10 42 
 
xi 
 
 
 
 
 
 
5.5 Status quo da Gestão da Mariscagem em Igarassu 44 
5.5.1 Secretaria de Meio Ambiente de Igarassu 44 
5.5.2 Colônia de Pescadores Z-20 45 
5.5.3 Associação de Pescadores A-20 45 
5.6 Formas diferenciadas para o reuso das conchas de marisco 46 
5.7 Oficinas Pedagógicas 48 
5.7.1 Oficina I 48 
5.7.2 Oficina II 48 
5.7.3 Oficina III 50 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 51 
7 RECOMENDAÇÕES 53 
REFERÊNCIAS 53 
APÊNDICE A 58 
APÊNDICE B 60 
APÊNDICE C 61 
 
 
xii 
13 
1. INTRODUÇÃO 
 
A mariscagem é a atividade de coleta de moluscos, no tocante ao marisco, que no 
Litoral Norte de Pernambuco é desenvolvida com grande intensidade, oferecendo suporte 
financeiro e alimentar a diversas comunidades da região. 
A estrutura atual da pesca se apresenta em dinamismo para buscar o equilíbrio, do 
escoamento da produção aos instrumentos econômicos que valorizam o profissional, e como 
consequência resguarda a proteção ambiental local. Contudo, a mariscagem ainda batalha para 
estabelecer seu lugar no campo das atividades profissionais merecedoras de respeito, lugar 
este que algumas universidades e organizações de cunho socioambiental trabalham para 
apresentar esta visão à gestão pública, que, em parte, somente conseguem perceber a 
mariscagem como espaço de garantia na exploração natural na busca da sobrevivência. A 
ausência de instrumentos econômicos voltados para a mariscagem sempre foi e continuará 
sendo um fator capaz de gerar conflitos entre comunidades tradicionais e órgãos de controle e 
fiscalização, além de outras organizações cujo objetivo é a preservação ambiental e o controle 
da exploração antrópica. 
A capacidade da administração governamental de gerenciar sem grandes recursos, nem 
parceiros no setor pesqueiro, ainda é um desafio presente para os gestores públicos dos 
municípios envolvidos na pesca. A administração pública permite que por meio do diálogo 
sejam apresentadas suas ações direcionadas para o setor pesqueiro em geral, assim como à 
mariscagem, além das formas de articulações com municípios e instituições envolvidas e 
interessadas nas mesmas temáticas como universidades e grupos de pesquisa. A melhoria da 
gestão ambiental local não se faz somente pelo empenho dos representantes municipais, e sim 
por todos os envolvidos no processo, sobretudo pelos atores principais, os marisqueiros. 
Quando da necessidadede se manter conservados os estoques naturais que oferecem 
suporte a mariscagem e atuar em Unidades de Conservação torna-se imprescindível o 
desenvolvimento da Gestão Ambiental em Unidades de Conservação, através de seus 
stakeholders
1
 (gestores, representantes de classes na pesca, bem como os profissionais da 
pesca). A realização de oficinas e capacitações nas comunidades tradicionais permite que as 
mesmas obtenham conhecimentos e informações necessárias para a sustentabilidade de suas 
atividades, além de permitir o entendimento das reais necessidades e preparação de estudos 
 
1
 O termo Stakeholders se refere a todos interessados envolvidos no processo de gestão: pessoa, grupo ou 
entidade com interesses nas ações e desempenho de uma organização, cujas decisões podem afetar direta ou 
indiretamente essa mesma organização. 
14 
socioambientais. 
Para o bem-estar social e preservação ambiental o entendimento dos processos de gestão 
nessas áreas ambientais protegidas legalmente se faz necessário, quando se busca 
compreender as diferentes características que favorecem ou impedem o desenvolvimento da 
gestão ambiental. 
Devido a grande disponibilidade de matéria orgânica e o favorecimento geográfico, o 
litoral norte pernambucano tem grande influencia no setor pesqueiro, sendo responsável por 
uma grande parcela do pescado pernambucano. Assim, a realização deste estudo se deu em 
uma Área de Proteção Ambiental localizada no litoral norte pernambucano, conhecida como 
APA de Santa Cruz e caracterizada pela grande contribuição no pescado, beleza ecológica, 
biodiversidade e presença de pescadores tradicionais. 
 
15 
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 
2.1 A Pesca como foco da pesquisa 
 
No Brasil, mais de 600 mil pescadores, sustentam suas famílias e geram renda para o 
país, trabalhando na captura dos peixes e frutos do mar, no beneficiamento e na 
comercialização do pescado. A pesca artesanal também tem grande valor cultural para o 
Brasil, dela se originaram as comunidades tradicionais pesqueiras que representam toda a 
diversidade e riqueza cultural da população brasileira, como os caiçaras (Rio de Janeiro, São 
Paulo e Paraná), os açorianos (Santa Catarina), os jangadeiros e marisqueiros (Região 
Nordeste) e os ribeirinhos (Região Amazônica) (BRASIL, 2012a; 2012b). 
A pesca artesanal é muito importante para a economia nacional, sendo responsável pela 
criação e manutenção de empregos nas comunidades do litoral e também naquelas localizadas 
à beira de rios e lagos, sendo mais representativa nas regiões no norte, nordeste e centro-oeste. 
Ela exige que os pescadores desenvolvam um vasto conhecimento etnológico que os permita 
utilizar os recursos pesqueiros com sustentabilidade e garantia da pesca futuro. Tais 
habilidades e conhecimento empírico são, na maioria dos casos, adquiridos e perpetuados para 
futuras gerações. 
A atividade pesqueira tradicional também é tida como de grande importância ao servir 
como fonte alimentar e de renda, sendo diversas vezes a única fonte proteica de alimentação. 
Dessa forma, a gestão desses recursos, além dos benefícios ambientais, é imprescindível para 
a manutenção da cultura e o desenvolvimento destas regiões. Estima-se que os pescadores 
artesanais forneçam 40 a 60% do pescado marinho, contudo além de possuírem baixas rendas, 
em sua maioria não são considerados nos planos de manejo pesqueiro (DIEGUES et al.,1999 
apud BEGOSSI, 2004; BRASIL, 2012a; 2012b). 
Segundo o Decreto nº 6.040/2007, que instituiu a Política Nacional de Desenvolvimento 
Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), povos e comunidades 
tradicionais são grupos culturalmente diferenciados, que possuem formas próprias de 
organização e que dependem dos recursos naturais e do seu território para reprodução 
cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e 
práticas transmitidas tradicionalmente. Portanto, as comunidades tradicionais são os 
quilombolas, índios, agricultores familiares e pescadores tradicionais. (BRASIL, 2007). No 
entanto, pescadores artesanais são compreendidos como aqueles que trabalham sozinhos, 
podendo utilizar mão de obra familiar e/ou não assalariada, explorando ecossistemas 
16 
aquáticos, tendo pouca autonomia nas suas ferramentas de embarcação e aparelhagem 
(CLAUZET et al., 2005). 
Cerca de cinco mil pescadores utilizam a região para as suas atividades, apesar do órgão 
ambiental responsável informar que apenas 1,6 mil pessoas estão cadastradas para o 
desenvolvimento desta atividade (EL-DEIR, 2000; IBAMA et al., 2008). 
Distribuídos nas 27 Unidades Federativas, segundo dados do Registro Geral da 
Atividade Pesqueira (RGP) do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), até o ano de 2010 
853.231 pescadores profissionais, registrados e ativos, sustentam suas famílias e movimentam 
a economia para o país, trabalhando na captura dos peixes e frutos do mar (Figura 1), no 
beneficiamento e comercialização do pescado. A Região Nordeste concentra o maior número 
de pescadores, com 372.787 registros, representando 43,7% do total nacional. 
 
Figura 1. Marisqueira “in loco” realizando a coleta manual de mariscos. 
 
Fonte: Bruno Carneval 
 
Na pesca artesanal de moluscos e/ou crustáceos, normalmente e exercida por mulheres, 
recebe o nome de mariscagem, onde nos países que possuem vasto litoral, estas atividades 
vêm ganhando importância como fornecedoras de proteína animal, devido aos baixos custos e 
rentabilidade. Além disso, oferece oportunidade para redução da pobreza e gerar renda às 
comunidades costeiras. A China é a líder em produção aquícola, representando 83% do total 
17 
de ostras produzidas no mundo. O Brasil teve em 2010 uma produção total do pescado de 
1.264.765 ton, sendo 13.858 ton da produção nacional de moluscos, representando 2,6%. 
Dessa produção total, o produto para exportação obtido é 38.204.440 ton, e a média per capita 
de consumo anual é de 9,75 Kg, sendo O estado de Santa Catarina destaca-se por ser o maior 
polo produtor nacional de pescado por Unidade da Federação no ano de 2010, com 183.770 
ton (SEAP, 2005; SEBRAE, 2005; SILVA, 2007; BRASIL, 2012b). 
Em alguns locais da costa brasileira é possível identificar regiões com melhor 
produtividade, onde se observa uma maior abundância de recursos pesqueiros, consequência 
da presença de correntes marinhas ricas em nutrientes, associada às zonas de ressurgência, na 
região Sudeste/Sul. Um exemplo de outra zona com boa produtividade encontra-se na região 
norte e ocorre em função da elevada quantidade de matéria orgânica carreada do rio 
Amazonas, influenciando toda a zona oceânica daquela região (BRASIL, 2012a). 
Considerada por muitos como uma provável alternativa para a pesca artesanal, a 
aquicultura pode ser uma importante estratégia para a instauração de padrões sociais e 
ecológicos de maior controle econômico e equilíbrio dos ecossistemas litorâneos, além da sua 
capacidade de gerar empregos diretos e indiretos para as comunidades de pescadores 
tradicionais. Como consequência da falta de opções de subsistência das comunidades 
pesqueiras e integrando os processos de criação da aquicultura, a maricultura consiste no 
cultivo de animais e plantas marinhas de maneira controlada, e a malacocultura cultivo de 
moluscos, tais como ostras (ostreicultura) e mexilhões (mitilicultura) (VIEIRA & VINATEA, 
2005). 
Todas estas atividades atualmente geram novos conflitos no uso dos recursos naturais, 
especialmente no que tange ao mangue, assim como áreas litorâneas e oceânicas. Para 
contabilizar estas atividades, fazendo com que haja um sistema gerencial em cada um dosbiomas e áreas adjacentes, que foque na manutenção da qualidade ambiental, melhoria das 
condições de vida e fortalecimento da cultura das comunidades tradicionais, estudos focados 
na gestão e governança dos espaços e recursos naturais devem ter lugar na pauta de 
pesquisadores e órgão públicos responsáveis pela gestão territorial. No sentido de clarear 
alguns pontos relativos à gestão e governança na pesca artesanal, este estudo foca uma região 
geográfica ímpar, o Canal de Santa Cruz, integrado à Área de Proteção Ambiental (APA) de 
Santa Cruz e o município de Igarassu. 
O litoral do Estado de Pernambuco, localizado no Nordeste brasileiro, possui uma 
estreita extensão territorial de 187 km, entre as latitudes 07°15’45” S e 09°28’18” S, 
distribuídos ao longo de quinze municípios, área de aproximadamente 27.347 hectares e 
18 
banhado pelo Oceano Atlântico, onde predominam os biomas mata atlântica, praias, quatorze 
ecossistemas estuarinos compostos pelas desembocaduras de vinte e setes rios, e manguezais. 
Estes dois últimos exclusivos da faixa tropical possuem considerável presença de matéria 
orgânica, principalmente no litoral norte do estado, além de águas rasas, calmas e úmidas, 
características extremamente importantes para a manutenção de mais da metade da vida 
marinha (BARROS et al, 2000; BRAGA, 2000; LEITÃO et al., 2007; LESSA et al., 2009). 
 
2.2 A Pesca no Litoral Pernambucano 
 
A pesca no litoral pernambucano utiliza-se de barcos motorizados para pesca de 
camarão, peixe e lagosta. Canoas ou baiteras
2
 que operam geralmente dentro dos estuários 
utilizando, principalmente, tainheira
3
 e tarrafa
4
 para a captura de tainha, carapeba, dentre 
outros petrechos. Jangadas que atuam com linha de mão e rede de espera para a captura de 
peixes, bem como com caçoeira
5
 e mergulho, para a captura de lagostas e polvos, e por pesca 
desembarcada, através da coleta manual, ou utilizando algumas ferramentas auxiliadoras 
(PERNAMBUCO, 2010). 
São utilizados em média 27 instrumentos entre os principais: espinhel
6
, linha, rede, 
covo
7
, tainheira, arrasto de praia, compressor, armadilha fixa, caçoeira, coleta manual, 
mangote
8
, mergulho livre, rede de arrasto, rede de cerco, tarrafa, sendo muitos deles proibidos 
pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e MPA, como cita documento do Instituto 
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA et al., 2008). 
De acordo com o MPA a pesca e a aquicultura pernambucana produziram em 2010, um 
total de 20.882,1 ton (Pesca extrativa: marinha 10.918,3 ton; continental 3.731,7 ton e, 
Aquicultura: Marinha 3.966,1 ton Continental: 2.266,0 ton), sendo 69,4% da produção do 
estado oriunda dos quatro principais municípios do litoral norte, Igarassu, Itamaracá, 
Itapissuma e Goiana, estes três últimos, inseridos na APA de Santa Cruz (BRASIL, 2012b). 
 
 
2
 Pequena embarcação sem quilha bastante utilizada por comunidades de pescadores tradicionais. 
3
 Rede própria para a pesca da tainha. Barco usado na pesca das tainhas; tainheiro (Houaiss, 2009). 
4
 Rede circular, de malha fina, com pesos na periferia e cabo fino central, pelo qual é puxada (Houaiss, 2009). 
5
 Rede de malhas largas usada para pesca de arrasto em alto-mar; caçuá (Houaiss, 2009). 
6
 Artefato para pesca de fundo composto de uma linha forte e comprida com várias linhas curtas presas a ela, a 
intervalos regulares, cada uma com um anzol na ponta; espinhel, páter-nóste (Houaiss, 2009). 
7
 Armadilha de pesca, composta por rede e arco (Houaiss, 2009). 
8
 Regionalismo do nordeste do Brasil. Pequena rede de pesca (Houaiss, 2009). 
19 
2.3 A APA de Santa Cruz e seu Canal 
 
A APA de Santa Cruz é formada por três municípios do litoral norte Pernambucano, 
sendo oficializada através do Decreto 32.488 de 2008. Esta declara que APA, é formada pela 
região que compreende os Municípios de Itamaracá e Itapissuma e parte do Município de 
Goiana (PERNAMBUCO, 2008). Mesmo tendo intensa atividade na pesca e na mariscagem, 
o município de Igarassu não integra a APA supracitada, de tal modo, deixa de administrar 
recursos do governo federal exclusivos para os municípios inscritos nessa Unidade de 
Conservação (UC). 
O Canal de Santa Cruz (Latitude 27°49’ S; Longitude 34°50’ W) situado na costa norte 
do estado de Pernambuco e distando 50 km da capital pernambucana, está localizado entre a 
ilha de Itamaracá e o continente e possui uma área aproximada de 36,3 Km
2
, e extensão 
aproximada de 22 km, forma de “U” e larguras que variam entre 0,6 a 1,5 km, separando a 
Ilha de Itamaracá do continente (SILVA, 2004). 
Em toda sua extensão a profundidade varia por vezes inferior a 2 metros, não excedendo 
sua profundidade em 5 metros, excetuando-se as extremidades. Esse endêmico complexo 
estuarino se conecta com o mar pela Barra de Catuama, ao norte, e pela Barra Sul ou Orange, 
ao sul. Além do ecossistema de manguezal, desembocam, neste complexo estuarino, vários 
rios, dentre os principais: Catuama, Carrapicho, Botafogo, Congo e Itapessoca na parte norte, 
ao sul Igarassu e Paripe. Este último possui sua foz na ilha de Itamaracá. Ao todo, a bacia 
hidrográfica abrange cerca de 730 km
2
. Isto faz com que o Canal de Santa Cruz (Figura 2) 
englobe um conjunto de pequenos estuários (CAVALCANTE, MACÊDO & PASSAVANTE, 
1981; PASSAVANTE, 1981; MACÊDO et al., 2000; LEITÃO et al., 2007). 
O Canal é considerado um dos sistemas mais importantes do litoral do Estado de 
Pernambuco, por possuir considerável presença de matéria orgânica, além de águas rasas, 
calmas e úmidas, características extremamente importantes para a manutenção de boa parte da 
vida marinha, representando uma unidade ecológica de grande significado socioeconômico, 
produtividade natural e biodiversidade relatado por Braga (2000), ao identificar em um 
inventário sobre as comunidades do canal, um total de 932 espécies. Este Canal apresenta 
vastas áreas de manguezal, cobrindo cerca de 1220 ha, onde predominam Rhizophoramangle 
L. (Mangue vermelho), Conocarpus erectus (mangue de botão), Laguncularia racemosa 
Gaetn. (Mangue branco), Avicennia schaueriana Staf., e Leechosan sp. (siriúba, mangue 
preto) e estuários (SHULER, et al., 2000). Face a esta importância, precisa ser 
permanentemente estudada, para que sua qualidade ambiental seja monitorada e melhorada. 
20 
 
Figura 2. Embarcações utilizadas pelas marisqueiras no Canal de Santa Cruz.. 
 
Fonte: Bruno Carneval 
 
2.4 A Mariscagem na APA de Santa Cruz – PE 
 
A mariscagem é considerada uma atividade de pesca tradicional, a qual segundo 
Diegues (1983) tem seu trabalho baseado na unidade familiar ou no grupo de vizinhança. Os 
instrumentos de produção (rede, anzóis etc.) são propriedades do produtor; a embarcação, 
predominantemente de pequeno porte, não é, necessariamente, um meio de produção, mas de 
deslocamento, em função de que o pescador não é o proprietário. O proprietário é também, 
geralmente, pescador e participa da pesca com os demais. O processo de coleta é similar ao do 
sururu e taioba. Dentre as espécies encontradas na região as que apresentam maior 
importância comercial é a Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) conhecida popularmente 
como “marisco pedra” (EL-DEIR, 1999). 
Os marisqueiros costumam trabalhar em grupos, usam canoas e/ou baiteras para se 
locomoverem, utilizam de mão de obra familiar e utensílios rudimentares para extrair os 
moluscos dos bancos naturais e exploram ambientes ecológicos dentro do estuário. A 
mariscagem está entre as atividades de subsistência mais comuns nos ecossistemas 
manguezais. A produção está diretamente ligada a maré. As marés vazantesde lua cheia e 
21 
nova são consideradas melhores pelas profissionais da mariscagem, pois as águas atingem 
maior variação, descobrindo assim áreas propícias a coleta de moluscos (EL-DEIR, 1999; 
PEDROZA-JÚNIOR, 2002). 
A coleta de mariscos no litoral pernambucano foi responsável por 17,7% da produção 
pesqueira estadual em 2006 (CEPENE, 2006). A abundância de alimentos encontradas em 
florestas de mangue (Figura 3) atrai aglomerados humanos que vivem no litoral desde tempos 
remotos, fato comprovado pela existência de sambaquis em áreas costeira do Brasil o que 
segundo Simões (1981) indica os recursos alimentares de subsistência dos “primitivos” 
habitantes do litoral: ostras, mexilhões, siris, caranguejos, siris, peixes, além de répteis, 
mamíferos e aves (NISHIDA et al., 2004). 
 
Figura 3. Produção de mariscos realizada em um dia por família de marisqueiros do 
município de Igarassu–PE. 
 
Fonte: Bruno Carneval 
 
Os resíduos gerados pela atividade são formados por sedimentos marinhos (lama), 
microrganismos fixados nas lanternas e nas conchas (material orgânico e inorgânico) e pelas 
próprias conchas. A decomposição da matéria orgânica gera maus odores e permite a 
colonização de microrganismos patogênicos (Figura 4). As conchas não são consideradas 
resíduos tóxicos ou periculosos, pelo contrário, as conchas dos mariscos possuem diversas 
funções benéficas nos ecossistemas marinhos e costeiros, contribuindo para preservar o 
equilíbrio natural desses habitats. No entanto, a atividade da mariscagem libera uma 
22 
quantidade de resíduos maiores quando comparada a produção natural e sua deposição no 
fundo marinho pode alterar os habitats dos organismos bentônicos alterando o equilíbrio 
ecológico. Além de que as cascas de ostras e mariscos jogadas podem promovem o 
assoreamento do mar. Segundo a National Research Council dos Estados Unidos, os 
principais impactos ambientais da malacocultura são: distúrbios das comunidades naturais de 
fitoplâncton, deterioração da qualidade da água devido à acumulação de dejetos e introdução 
de espécies competitivas com as existentes na região (diminuindo a reprodução dessa espécie) 
ou que transmitem doenças (SANT’ANNA, 2007; SILVA, 2007; PETRIELLI, 2008). 
 
Figura 4. Monte de conchas formado pela disposição inadequada de conchas pelos 
marisqueiros(as) no Município de Igarassu-PE. 
 
 
Fonte: Bruno Carneval 
 
2.5 Os Desafios Econômicos na Prática da Pesca Artesanal 
 
A Pesca Artesanal, como as demais atividades econômicas, está sujeita a lógica 
econômica vigente, o que irá determinar os preceitos operacionais, limites e potencialidades 
da própria atividade, seguindo visões estratégicas diferentes. Estes preceitos também 
influenciam fortemente o modelo de governança adotado, quer pelo estado, quer pelas 
associações e/ou colônias de pescadores, que irão interagir diretamente com os pescadores 
23 
artesanais e marisqueiras. Neste sentido, uma análise das linhas econômicas e de sua 
repercussão na atividade focal deste estudo se faz necessário. 
 
2.5.1 As diferentes visões econômicas e a temática ambiental 
 
A palavra economia tem sua origem derivada do Grego, onde o radical eco, do grego 
“oikos”, significa “casa”; e o sufixo nomia, do grego “nomos”, significa “gerenciamento”. Da 
mesma forma, a origem da palavra ecologia, onde o radical eco, já supracitado, significa 
“casa”; e o sufixo logia, do grego “logos”, significa “estudo”. Em harmonia, e assim 
deveriam se portar, esses dois campos de estudo assumiram posturas antagônicas, apesar de 
teoricamente defenderem o estudo e o gerenciamento do mesmo objeto de pesquisa (ODUM 
& BARRET, 2008). 
Na Teoria Clássica defendida por Ricardo, a aplicação conjunta de trabalho, maquinaria 
e capital no processo produtivo gera um produto, o qual se divide entre as três classes da 
sociedade: proprietários de terra, trabalhadores assalariados e os arrendatários capitalistas. A 
ciência econômica determina as leis naturais que orientam essa distribuição, como modo de 
análise das perspectivas atuais da situação econômica, sem perder a preocupação com o 
crescimento em longo prazo. Admite-se que os recursos naturais geram renda, devido a três 
motivos: (a) escassez do recurso; (b) diferenciação da qualidade do recurso ou 
empobrecimento do mesmo, equivalente a renda diferencial; (c) possibilidade de ser 
apropriado, possuindo um valor de troca, tornando-se um bem passível de trocas econômicas 
(REIS & SANTIN, 2007). 
Existem três características das relações capitalistas; (a) a propriedade privada; (b) o 
mercado; e (c) o lucro, não observando o limite dos estoques e seu uso em bases sustentáveis. 
Hardin (1968 apud Foladori, 2001) relacionava o crescimento demográfico com a chamada 
“Tragédia dos Espaços Comuns”, apontando que a sociedade cuida de suas propriedades 
privadas ao passo que contaminam ou devastam os espaços públicos, sendo necessário, 
portanto, a expansão dessas para o controle populacional, perfazendo-se assim o mercado 
atuante e o lucro. Neste sentido, a pesca artesanal opera pela mais valia, onde cada pescador 
busca realizar sua atividade de maneira mais eficiente no que tange a custo x benefício x 
esforço de pesca, sem se debruçar sobre os limites ecológicos e nem da renovação dos 
estoques. Desta maneira, a tendência futura, a curto, médio ou longo prazo, será a exaustão do 
recurso natural e a escassez, atingindo todos. 
24 
Em 1798, uma Teoria defendida por Thomas Malthus ganhou atenção global quando da 
afirmativa que as populações podem crescer em ritmo exponencial, enquanto que os recursos 
necessários à sobrevivência crescem em ritmos aritméticos (PINTO-COELHO, 2000). Essa 
Teoria teve bastante fundamentação para trabalhos, como o de Farr (1843, apud Pinto-Coelho, 
2000), ao descobrir a relação entre a taxa de mortalidade e densidade de uma população. 
Neste sentido, a pesca artesanal é observada como atividade que poderá elevar a sua 
produtividade por meio de tecnologias mais eficientes, entretanto como parte de uma base 
fixa, sempre estará em desacordo com o crescimento populacional, nunca respondendo a 
totalidade da demanda, ao longo do tempo. 
A Escola Keyneisiana considera os recursos naturais como renováveis deixando-os fora 
da análise econômica, bem como as externalidades, o que vem sido incluído na contabilização 
das ciências econômicas por algumas correntes econômicas (FOLADORI, 2001). 
Externalidade é um termo conceituado e utilizado para entendermos como a economia e a 
formação de preços, frequentemente, deixam de incorporar os impactos sociais, ambientais e 
consequentes das atividades produtivas que geram produtos e serviços (SOARES & PORTO, 
2007). Com este olhar, os limites ambientais e ecológicos não são considerados na 
determinação do preço, fazendo valer a regra de apropriação antrópica de acordo com o 
esforço de pesca, somente. Por meio desta, acredita-se que as regras mercadológicas irão 
regular a demanda, e esta manterá os estoques viáveis para exploração, o que não é observado 
na pratica. 
Segundo Donaire (1999) e Cavalcanti (2001) existem algumas correntes nas ciências 
econômicas, dentre as quais as principais são: (a) Corrente Pigouviana; (b) Corrente 
Neoclássica; (c) Corrente Ecodesenvolvimentista; (d) Corrente dos Economistas Ecológicos; 
e, (e) Corrente da Economia Verde Inclusiva (EVI). 
A visão Pigouviana defende um modelo que possibilite a implantação de uma tarifa no 
processo extrativista ou de produção, onde esse instrumento econômico possibilita corrigir 
uma distorção existente do bem-estar coletivo, internalizando as externalidades negativas, 
havendo similaridade com o Princípio do Poluidor Pagador.Na teoria defendida pelos 
Pigouvianos, acredita-se em um nível “ótimo” de poluição, onde o tributo deverá ser 
equivalente a essas externalidades (MAIMON, 1996). A valoração de um recurso natural, no 
caso do uso e de externalidades para o mesmo, tem como finalidade principal determinar os 
custos, os benefícios de sua conservação e os serviços ecossistêmicos (MOURA, 2006). Para 
se conseguir um valor mensurável à cerca desse recurso natural, obtêm-se uma estimativa do 
valor econômico de seus bens, através da medição de todos os processos extraídos direta ou 
25 
indiretamente desse Recurso Natural, bem como o fluxo energético da produtividade 
primária; ou seja, avalia-se o prejuízo econômico da não utilização daquele determinado 
sistema natural, onde este também pode ser chamado nas ciências econômicas como Capital 
Natural, no sistema aberto ou fechado (GRASSO et al., 1995). Neste caso, os recursos 
naturais objeto da pesca artesanal deveriam ser valorados e, se necessário, taxada a sua 
apropriação, visto acreditar-se que tal mecanismo regularia o próprio consumo, evitando a 
exaustão do recurso. 
Para a corrente Neoclássica, o meio ambiente tem sido visto como fator de impasse para 
o crescimento econômico, no tocante o desenvolvimento do capital financeiro. Nesta Escola 
todos os recursos naturais ou “capital natural” são compreendidos como renováveis. Inclui o 
capital natural como fonte de insumos do sistema e defende a hipótese de resiliência dos 
ecossistemas, ou seja, que o capital natural pode se renovar e de assimilar os impactos 
ambientais quando alcançado um nível ótimo de utilização ou exploração (ENRIQUEZ, 
2010). Desta forma, os recursos naturais usados na atividade da mariscagem devem ser 
regulados a partir da resiliência dos ecossistemas, sendo que sua retirada deve seguir regras 
limitando a atividade de catação. Entretanto tal corrente enxerga que o mercado é capaz de 
regular esta demanda, e que a resiliência pode ser estendida a partir do uso de tecnologias. 
 
2.5.2. A inserção da visão ecológica na Economia 
 
Pela corrente Ecodesenvolvimentista, a correção e análise do estilo de desenvolvimento 
econômico com investimentos em Produção e Desenvolvimento (P&D) se dá através da 
incorporação de conceitos termodinâmicos como o de entropia e aplicabilidade de 
instrumentos de Gestão Ambiental (GA), considerando o contexto local, cultural e ecológico, 
bem como o curto e longo prazo. Nesta, vislumbra-se a observância da renovação dos 
estoques e a determinação da faixa de uso ótimo para os recursos naturais renováveis, com 
vistas ao seu uso ao longo do tempo (DONAIRE, 1999). 
A Economia Ecológica (EE) começou a ser difundida a partir de 1980. Nasceu dos 
estudos da Ecologia Humana, agregando discussões ambientais e econômicas, sendo a 
economia vista como um sistema aberto. Um sistema aberto, na Termodinâmica, tem fluxo 
contínuo de entrada e saída de energia e materiais (CHECHIN & VEIGA, 2010). A EE surge 
como um novo campo de estudo da transdisciplinaridade que estuda as relações entre os 
ecossistemas e a reformulação dos sistemas econômicos, sendo este último um subsistema de 
um no qual são impostas restrições em relação à sua expansão (CONSTANZA, 1991; 
26 
ROMEIRO, 2010). Em seu sentido mais amplo, apresenta uma nova caracterização a esse 
sistema econômico que governa os sistemas financeiro, social e político, constituindo de 
preços ecologicamente corretos (DALY, 2011). A EE procura uma abordagem preventiva 
contra futuros impactos e catástrofes ambientais que hão de ocorrer caso não existam 
mudanças no sistema atual na gestão dos recursos naturais, o que permite a utilização dos 
mesmos pelas futuras gerações. Desta forma há um paradigma que precisa ser quebrado, 
envolvendo mudanças de atitudes, comportamento e implantação de uma nova perspectiva 
econômica. 
No pensar da EE, busca-se o equilíbrio entre o crescimento econômico, demográfico e 
seus recursos naturais. Respeita a Capacidade de Suporte (K) ecossistêmica, definida como o 
estoque máximo que pode ser mantido indefinitivamente sem comprometer a capacidade de 
regeneração de um recurso natural (ENRÍQUEZ, 2010). 
O conceito de capital na Economia Ecológica compreende o: (a) capital natural, (b) 
capital produzido pelo homem e (c) capital cultural. O capital natural inclui os recursos 
naturais não-renováveis, os renováveis e os serviços ambientais bióticos e abióticos; o capital 
produzido pelo homem é o capital gerado via atividade econômica; e o capital cultural (ou 
social, adaptativo ou institucional) que se refere a fatores oriundos das atividades sociais dos 
meios e adaptações para que interajam e modifiquem positivamente o ambiente 
(CAVALCANTI, 1999). 
À luz da sustentabilidade, outra teoria bastante revolucionária, porém sem força 
suficiente, nem apoio da sociedade moderna é a da “Economia do Estado Estacionário”. 
Nesta, ao buscar o triple bottom line, adota-se a ideia de que a economia precisa desenvolver-
se até um determinado limite, e quando atingido este estágio planejado sessar-se-iam as 
aquisições materiais, sendo ofertadas somente aquisições não-materiais, como cultura, lazer, 
alegria, o que segundo de acordo com a teoria aumentaria gradativamente a qualidade de vida 
(LAGO & PÁDUA, 1984). Este plano quando aplicado permite a sustentabilidade no setor 
pesqueiro resgatando o equilíbrio e respeito à resiliência dos ecossistemas, no tocante à 
reprodução das espécies. 
Bastante discutida nos dias atuais, a Economia Verde Inclusiva (EVI) é entendida como 
o conjunto de processos produtivos da sociedade e as transações deles decorrentes, que 
contribui cada vez mais para o desenvolvimento sustentável, tanto em seus aspectos sociais 
quanto ambientais. Para isso, propõe como essencial que, além das tecnologias produtivas e 
sociais, sejam criados meios pelos quais fatores essenciais ligados à sustentabilidade 
27 
socioambiental, hoje ignorada nas análises e decisões econômicas, passem a ser considerados 
(JACOBI & SINISGALLI, 2012). 
Para a EVI, na medida em que se observa a necessidade de melhoria da distribuição de 
riqueza, pode-se observar que existem alguns pressupostos intrínsecos a esta abordagem: a 
substituição entre os recursos, a melhoria na eficiência tecnológica e a valoração do capital 
natural. Segundo Unep (2011 apud Almeida, 2012), o alcance da EVI se dá através da 
eliminação dos trade-offs
9
 entre crescimento econômico/investimento e ganhos em qualidade 
ambiental e/ou inclusão social. Essencialmente, esse objetivo deve ser alcançado por meio de 
uma adequada seleção de setores a serem priorizados pelos gastos públicos e investimentos 
privados, de acordo com critérios socioambientais, e de áreas estratégicas para incentivo à 
difusão de tecnologias limpas. 
A EVI é uma proposta que visa eufemizar distorções sociais comuns, visa o controle no 
crescimento econômico aliado à preservação e conservação ambiental e valorização do capital 
natural, além de inclusão e justiça social, contribuindo para a diminuição da desigualdade 
social. Essa teoria é defendida por muitos pesquisadores como a que mais se aproxima do 
Desenvolvimento Sustentável (DS). 
Neste sentido, a apropriação antrópica dos recursos pesqueiros nesta visão não levaria à 
exaustão dos recursos, fato não realizado no case estudado (EL-DEIR & LEITÃO, 2010). 
Desta forma, se faz necessário estudo da gestão e governança destes recursos naturais visando 
a maximização dos recursos e elevação da qualidade ambiental dos ecossistemas. 
Com este olhar, a atividade da mariscagem pode vislumbrar se estabelecer como 
sustentável, visto que a Capacidade Suporte do ecossistema (K), assim como a capacidade derecomposição dos estoques naturais serão considerados, quando da determinação dos limites 
da própria atividade, desprezando as forças mercadológicas como reguladoras do mercado. 
 
2.6 O processo de Empoderamento 
 
O “Empoderamento” é um processo em que uma coletividade adquire poder à medida 
que promove seu “autodesenvolvimento”, através da coesão, capacitação e habilidades 
construídas em representantes da(s) comunidade(s) gestora(s), o que apresentaria na região 
pesquisada uma governança integrada para a pesca e a mariscagem como processo 
sustentável. Este termo começa a ser utilizado durante a década de 1970, nas discussões dos 
 
9
 Uma troca que ocorre como um compromisso. Referência que se faz quando uma situação envolve uma perda 
de um aspecto ou qualidade em troca de ganho de outro aspecto ou qualidade (WordWeb Dictionary, 2012). 
28 
movimentos sociais e nas práticas das organizações não governamentais (NASCIMENTO, 
2000; ROMANO & ANTUNES, 2002). 
Compreende-se empoderamento o processo pelo qual as pessoas, as organizações, as 
comunidades assumem o controle de seus próprios assuntos, de sua própria vida e tomam 
consciência da sua habilidade e competência para produzir, criar e gerir. Desta forma, o 
processo de empoderamento deverá gerar uma estratégia de desenvolvimento que perpassa 
por conseguir que os setores, grupos e pessoas que vivem na pobreza e na extrema pobreza, 
ou que tenham sido excluídos e marginalizados por diversas razões como gênero, etnia ou 
religião, sejam levados em conta como objeto de programas ou de estratégias contra a 
pobreza, mas que, abandonando sua condição de excluídos e marginalizados, se convertam 
em atores do próprio desenvolvimento, participando das decisões fundamentais que o 
impulsionam e dos benefícios que gera (EL-DEIR, 2013). 
O termo empoderamento não tem um caráter universal, tanto poderá estar fazendo 
referência ao processo de mobilizações e práticas com a finalidade de promover, desenvolver 
e a impulsionar grupos e comunidades, como poderá referir-se a ações destinadas a promover 
simplesmente a pura integração dos excluídos, carentes e de mandatários de bens elementares 
à sobrevivência, serviços públicos, atenção pessoal etc., em sistemas precários, que não 
contribuem para organizá-los (GOHN, 2004). 
Segundo El-Deir (2013), as Organizações Não-Governamentais (ONG) que têm no 
empoderamento um elemento central de sua estratégia de combater a pobreza, é fundamental 
enfrentar os problemas e limites que o uso do conceito e da abordagem que esse apresenta. 
Para os movimentos sociais organizados, através do processo de empoderamento é que se 
quebram conscientemente as relações de dominação que existem entre a sociedade pró-
moderna, que convive com a pobreza e a tirania do mercado. Por meio do empoderamento, 
procura-se combater o status quo institucionalizado de dominação a partir de quaisquer 
organizações para constituir relações e ordens mais justas e equitativas. 
Visto como o processo através do qual as pessoas se envolvem ativamente na luta para o 
aumento do controle sobre recursos e instituições, este processo implica tomar partido pelos 
pobres e oprimidos e estar preparado para lidar quase todo o tempo com conflitos 
(CORNWALL, 2000). 
 
2.7 Educação ambiental como suporte para a construção da governança 
sustentável 
 
29 
A Educação Ambiental (EA) é um processo por meio do qual as pessoas aprendem 
como funciona o ambiente natural, como dependemos dele, como o afetamos e promovemos 
sua sustentabilidade (DIAS, 2004). Compreende, portanto, parte de um processo didático-
ecológico que almeja a perfeita compreensão e harmonia entre o sistema ecológico e a espécie 
mais bem adaptada a ele, a espécie humana. A EA tem como característica agrupar as 
dimensões socioeconômicas, políticas, cultural e histórica. Por isso não deve ser classificada 
como universal, devendo ser consideradas as condições históricas de cada região (OLIVEIRA 
et al., 2011). 
A Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), de Lei nº 9795/99 define a 
Educação Ambiental como um processo por meio dos quais o indivíduo e a coletividade 
constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para 
a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de 
vida e sua sustentabilidade. A PNEA ressalta no Art.10 que “a educação ambiental será 
desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os 
níveis e modalidades de ensino formal”, sendo explícita no primeiro parágrafo quando 
informa que não deve ser colocado como disciplina específica na grade curricular, pois assim 
a restringiria uma vez que deve ser trabalhada como tema transversal dos Parâmetros 
Curriculares Nacionais (PCN) (BRASIL, 1999; EL-DEIR & LEITÃO, 2010). 
Layrargues (2004) relata que a Ecopedagogia considera a EA como uma mudança de 
mentalidade em relação à qualidade de vida, associada à busca do estabelecimento de uma 
relação saudável e equilibrada com o contexto, com o outro e com o ambiente. Consideram-se 
recursos naturais quaisquer insumos que os organismos, as populações e os ecossistemas 
necessitem para a manutenção de sua existência, sendo classificados como renováveis e não-
renováveis, e subdivididos em energéticos e não-energéticos. A extração incessante desses 
elementos causa degradação e poluição ao ambiente. Neste sentido, Dias (2004), afirma que o 
DS é um modelo que visa conciliar as necessidades socioeconômicas dos seres humanos com 
a preservação do meio ambiente, havendo também um direcionamento para a sustentabilidade 
de futuras gerações. Para tanto, a compreensão de como é realizada a codificação dos 
elementos naturais, através de estudos de Percepção Ambiental (PA), é mister para a 
estruturação de ações voltadas para a elevação da sustentabilidade das populações. 
Para Faggionato (2002), existem variados métodos que permitem o estudo da PA, assim 
sendo através de questionários, mapas mentais ou reprodução fotográfica. Tais modelos 
buscam entender o conhecimento individual, para com o ambiente e/ou o desenvolvimento da 
transmissão da sensibilidade na compreensão ambiental. As respostas traduzidas da percepção 
30 
deste meio, o qual interage o indivíduo, reage sempre de maneira diferente e particular. É 
importante destacar que a base do sucesso de uma pesquisa envolvendo PA está diretamente 
ligada à qualidade do questionário adotado. Tal questionário deverá estar estruturado no 
alcance dos objetivos a que se pretende, considerando o grau de compreensão do público. 
Sendo assim, é fundamental conhecer como as comunidades laboratórios percebem o 
ambiente em que vivem, bem como suas fontes de satisfação e insatisfação, pois somente 
deste modo, o desenvolvimento da pesquisa se partirá do ponto em questão analisado. A partir 
deste estudo, há de se identificar temas que estão em desacordo com uma compreensão mais 
sustentável dos processos de apropriação antrópica, que poderão ser objeto de atividades de 
Educação Ambiental. 
 
31 
3. OBJETIVOS 
3.1 Objetivo Geral 
 
O presente estudo é um dos produtos do Projeto Sambaquis que objetivou discutir 
aspectos da gestão e governança a partir da visão das organizações gestoras dos recursos 
naturais dos municípios situados na área de estudo, bem como da fala de representantes das 
instituições de governanças municipais e representações setoriais (Colônias/Associações de 
Pescadoras), realizando reflexão sobre o empoderamento dos atores sociais e gestão dos bens 
e serviços ambientais. 
 
3.2 Objetivos específicos 
 
 Estabelecerparcerias para a continuidade das ações pós-atividades desenvolvidas; 
 Constituir articulação com empresas, instituições de ensino e organizações em geral, 
para busca de soluções das problemáticas presentes na região; 
 Publicar os estudos relativos às pesquisas de cunho socioambiental realizadas na região 
por meio de artigo científico publicado em anais de congresso ou revista científica sobre 
percepção dos atores envolvidos no processo de gestão da APA de Santa Cruz; 
 Publicar e distribuir livro com contextualização local, ISBN e tiragem de quatrocentos 
(400) exemplares destinados aos gestores municipais, colônias/associações de 
pescadores e profissionais da mariscagem da APA estudada. 
 
4. METODOLOGIA 
 
A pesquisa foi realizada em parte da APA de Santa Cruz – PE, representada pelos 
municípios de Itamaracá e Itapissuma, adicionada do município de Igarassu, não integrante da 
APA. O município de Itamaracá localizado a cerca de 50 km da capital pernambucana entre 
as latitudes 07º 41’ S e 07º 49’ S, e 34º 49’ W e 34º 54’ W ocupa uma área municipal próxima 
de 65 km
2
, representando 0.07% do Estado (SILVA 2004; CPRM, 2005; IBGE, 2010). O 
município de Igarassu está localizado a 32,3 km da capital pernambucana apresenta 
coordenadas geográficas 07
o
50’00’’ S, e 34o54’30’’ W, ocupa uma área equivalente a 302,9 
km2 e representa 0,33% do Estado de Pernambuco (PERNAMBUCO, 2010). O município de 
Itapissuma situado a 40,5 km da capital pernambucana sob as coordenadas 07
o
46’26’’ S, e 
32 
34
o53’27’’ W, ocupa área equivalente a 73,9 km2 e representa 0,08 % do Estado de 
Pernambuco (PERNAMBUCO, 2010). 
Utilizou-se de pesquisa em dados secundários tais como artigos científicos, livros, 
cartilhas e documentos afins para confecção dos instrumentos de pesquisa com os focos 
centrais: i) políticas públicas gerais onde se pesquisou a gestão administrativa e metodologia 
de articulação dos stakeholders, municípios objetos e colônia de pescadores, para as ações 
direcionadas às atividades da mariscagem local, bem como a contribuição das Esferas Federal 
e Estadual na sua gestão; ii) suporte a organização da produção onde realizou-se uma análise 
da estrutura e organização no comércio dos produtos da mariscagem no município e a 
participação da colônia de pescadores nesse processo final, bem como alternativas 
encontradas pelos profissionais para o escoamento da produção, assim como um olhar crítico 
sobre o processo de governança da própria APA, e iii) impactos socioambientais onde 
pesquisou-se aspectos socioambientais ou potenciais impactos da mariscagem, quando do 
posicionamento dos envolvidos no processo, questões relativas à fiscalização, prevenção e 
mitigação destes impactos, conforme apresentado por Brasil (BRASIL, 2012c). 
Os dados primários foram formatados através de i) entrevistas e aplicação de 
questionários; ii) oficinas ambientais com temática relativa à mariscagem; iii) Publicação de 
um livro relativo à temática discutida. 
Foram aplicados sessenta e sete (67) questionários abertos, semiabertos e fechados aos 
marisqueiros e marisqueiras; (4) entrevistas com representantes legais de secretarias 
municipais, (4) entrevistas com representantes de colônias/associações de pescadores dos três 
municípios da região pesquisada e integrantes da APA de Santa Cruz, além de três (3) 
oficinas para explicitação dos dados gerais aos gestores locais, construção de dados 
participativos norteadores das necessidades da comunidade local, e desenvolvimento da 
gestão local na mariscagem. 
 
33 
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 
5.1 Gestão da mariscagem 
 
Nos três municípios pesquisados, a gestão da mariscagem se apresentou de maneira sem 
planejamento e insustentável, proporcionando que uma grande parcela social dependente e, na 
maioria das vezes, também oriunda de uma cultura pesqueira de subsistência, conduzisse de 
maneira errônea seus recursos naturais. 
Em todos os municípios, demonstra-se que o interesse no crescimento econômico é 
bastante ressaltante, ao passo que o caminhar para um desenvolvimento de uma administração 
sustentável dos recursos naturais, principalmente quando estes se encontram protegidos 
legalmente na APA ocorre sem a devida supervisão dos órgãos responsáveis. Na mesma 
direção, a pouca atenção dos órgãos municipais para com a sociedade obriga parte da 
população desassistida a manter tradições insustentáveis ou excluí-las do acesso aos hábitos 
sustentáveis. 
Nas comunidades tradicionais pesqueiras da região pesquisada grande parte dessas se 
demonstra pouco interessadas na sustentabilidade de suas ações, e as organizações gestoras 
governamentais e não-governamentais, centralizadoras dos recursos financeiros, não se 
apresentam interessadas no desenvolvimento do modelo triple bottom line
10
 regional, 
tornando ainda mais difícil o desenvolvimento na região quando a população não está 
participativa nesse processo. O diagnóstico situacional do setor pesqueiro supracitado 
apresenta as relações entre sociedade e gestão municipal no litoral norte de Pernambuco. 
Mudanças ambientais e/ou econômicas com impacto sobre a atividade da mariscagem 
colocam os pescadores em estado de vulnerabilidade, pois a dependência econômica dos 
pescadores é considerável e imprescindível àqueles que atuam exclusivamente na pesca. 
A desestruturação local no setor da pesca é bastante evidenciada nos órgãos gestores 
municipais devido à inexistência de profissionais ou departamento especializado. Este 
diagnóstico não condiz com a importância da pesca na região, pois em sua maioria a 
população dos municípios pesquisados depende do setor pesqueiro. 
Devido à ausência de programas e cursos voltados para a mariscagem, contribui-se 
negativamente para a qualidade da produção na atividade, pois permite que métodos de 
higienização precários (figuras 5 e 6), na maioria das vezes adotados por marisqueiros (as) 
 
10
 O termo Triple bottom line refere-se a um modelo de gestão baseada no tripé da sustentabilidade: 
Conservação e preservação ambiental, Justiça social e Eficiência econômica. 
34 
nos locais de tratamento e cozimento do marisco, possam gerar riscos à saúde pública. 
 
Figura 5. Forma precária no pré-cozimento dos mariscos por grande parte das 
marisqueiras do Litoral Norte de Pernambuco. 
 
 
Fonte: Bruno Carneval 
 
Figura 6. Tipo de debulhamento
11
 por alguns profissionais da mariscagem dos 
mariscos no Litoral Norte de Pernambuco. 
 
Fonte: Bruno Carneval 
 
11
 Debulhamento: Linguagem informal utilizada pelos marisqueiros para retirada da carne de dentro da concha. 
35 
5.2 Perfil dos profissionais da mariscagem 
 
Verificou-se que a idade média dos profissionais da mariscagem nos três municípios é 
de 41,25 anos. A maioria é representada pelo sexo feminino (74%), porém o município de 
Igarassu apresenta 60% homens. O nível de escolaridade das profissionais da mariscagem não 
é elevado, sendo a maioria (48%) possuindo o fundamental I incompleto e fundamental II 
incompleto (28%), conforme apresentado na figura 7. A idade de contato inicial com as 
atividades da mariscagem ocorre, em sua grande maioria, antes dos dez primeiros anos (40%), 
sendo que 39% tiveram a primeira relação com a mariscagem entre 11 e 20 anos. Grande 
parte das marisqueiras trabalha na atividade a mais de 11 anos (37%) ou mais de vinte anos 
(33%). Mais da metade da comunidade (52%) trabalha entre 4 e 8 horas diárias, sendo que 
24% trabalham mais de 8 horas diárias. 
 
Figura 7. Nível de escolaridade das(os) marisqueiras(os). 
 
 
 
Foi observadoque 51% dos marisqueiros (as) não participam da colônia de pescadores, 
e 52% não têm carteirinha ou cadastro como pescador(a), o que reflete a percepção negativa 
sobre os benefícios ofertados pela colônia às pescadoras. Segundo as marisqueiros(as), 40% 
entendem que não existem benefícios oferecidos pela Colônia de Pescadores aos 
marisqueiros(as). Desses, 15% não souberam informar tais benefícios, e o restante reconhece 
que a Colônia oferta benefícios trabalhistas (30%), e ajuda na alimentação (15%). 
De acordo com os registros, 75% dos profissionais da mariscagem têm a mariscagem 
como principal atividade geradora de renda; sendo 48% trabalham somente com a 
mariscagem. Outras atividades também foram citadas como atividades domésticas (25%), 
6% 
48% 
28% 
9% 10% 
0%
25%
50%
75%
100%
Analfabeto Fundamental I
incompleto
Fundamental II
incompleto
Médio
incompleto
Médio
completo
n
º 
d
e
 p
e
ss
o
as
 (
%
) 
Escolaridade 
Fonte: Projeto Sambaquis 
36 
comércio (10%) outras atividades como agricultura, construção civil, cozinha e confecção 
(30%). 61% dos entrevistados declararam receber ajuda financeira governamental. 
Os profissionais da mariscagem vendem sua produção de maneira independente (15%), 
diretamente aos bares e restaurantes (34%) ou entregam-na para atravessadores (31%), não 
sendo a preferência, pois estes desvalorizam a cultura da mariscagem e realizam a compra a 
baixos preços. Por vezes, os marisqueiros se veem obrigados a venda para este destinatário, 
face dificuldade no escoamento da produção, principalmente durante a baixa estação 
(inverno). 
Durante a alta estação, período em que ocorre maior demanda do pescado, conforme 
apresentada na figura 8, 39% dos (as) marisqueiros(as) coletaram mais de 10 kg x dia
-1
, de 
maneira diferente 76% coletaram entre 1 e 4 kg x dia
-1
 na baixa estação. Durante esse período, 
cerca de 10% dos marisqueiros recebem até R$ 100,00 x semana
-1
; 50% entre R$ 101,00 e R$ 
500,00 x semana
-1
; 32% entre R$ 501,00 e R$ 1000,00 x semana
-1
 e somente 8% recebem 
acima de R$ 1.000,00 x semana
-1
. 
 
Figura 8. Renda média durante a alta estação. 
 
 
 
Na baixa estação, a coleta diária de marisco acima de 10kg x dia
-1
 tem baixa 
representatividade (24%), quando na coleta até 5 kg x dia
-1
, representa cerca de 76% das 
pescadoras de marisco. Durante esse período a renda mensal dos(as) marisqueiros(as) flutua 
em até R$100,00 x semana
-1
 (37%); entre R$101,00 x semana
-1
 e R$500,00 x semana
-1
 
(53%); 5% entre R$501,00 e R$1.000,00 x semana
-1
; e 5% acima de R$1.000,00 x semana
-1
 
(Figura 9). 
Observou-se que 19% dos marisqueiros são padecedores das comunidades que buscam 
o próprio sustento nos períodos do defeso e de baixa produtividade. Devido à ausência do 
11% 
50% 
32% 
8% 
0%
25%
50%
75%
100%
até R$ 100 entre R$ 101 e R$
500
entre R$ 501 e R$
1000
Acima de R$ 1000
n
º 
d
e
 p
e
ss
o
as
 (
%
) 
Renda mensal 
Fonte: Projeto Sambaquis 
37 
seguro defeso durante a baixa estação, esses marisqueiros se dizem obrigados a continuar 
pescando e vendendo, não respeitando o período de desenvolvimento dos mariscos, devido à 
falta de oportunidades de geração de renda naquele momento. 
 
Figura 9. Renda média na baixa estação. 
 
 
 
Segundo esses profissionais da mariscagem, o resultado da produção diagnostica que 
tais irregularidades na oferta de mariscos, nos períodos de desenvolvimento e nos períodos de 
baixa quantidade, são provenientes de diversos fatores, tais como: i) morte ocasionada pelo 
lançamento de produtos químicos utilizados em viveiros de produção de peixes e camarão 
(carcinicultura), o caso da comunidade do Chié, Itamaracá; ii) lançamentos de efluentes e 
químicos no Canal de Santa Cruz; iii) na continuidade da coleta do marisco, durante o período 
de desenvolvimento dos mariscos (defeso); utilização de instrumentos inadequados; alterações 
climáticas, geológicas; bem como outras causas encontradas pela comunidade. 
Grande parcela desses profissionais, também é responsável pela sobrepesca da 
Anomalocardia brasiliana (Gmelin,1791), conhecida como marisco pedra, dentre outras 
espécies como Crassostrea rhizophorae (Guilding, 1828) conhecida como “ostra”; Mytella 
falcata (Orbigny, 1846) conhecida como “sururu”; Iphigenia brasiliana (Lamarck, 1818) 
conhecida como “taioba” e, Lucina pectinata (Gmelin,1791) conhecida como “lambreta”, na 
APA de Santa Cruz (Canal de Santa Cruz). 
Para 34% dos entrevistados não existe atuação dos órgãos ambientais, o que se 
contradiz quando da existência da apreensão dos instrumentos de trabalho de alguns 
marisqueiros (em geral homens) por parte dos órgãos ambientais na região. Quanto aos 
resíduos da mariscagem, 42% descartam indiscriminadamente em terrenos baldios ou jogam 
37% 
53% 
5% 5% 
0%
25%
50%
75%
100%
até R$ 100 entre R$ 101 e R$
500
entre R$ 501 e R$
1000
acima de R$ 1000
n
º 
d
e
 p
e
ss
o
as
 (
%
) 
Renda mensal 
Fonte: Projeto Sambaquis 
38 
no lixo (12%). Estes índices representativos da destinação dos resíduos por parte dos 
profissionais da mariscagem ratificam o baixo conhecimento à cerca do saneamento básico 
(25%). 
Em especial no Município de Igarassu, as conchas descartadas sem controle próximo às 
residências das pescadoras de mariscos já representam um impacto ambiental de grande porte 
quando da existência de macro e microvetores, que veiculam doenças causadas normalmente 
pelo acúmulo de água em conchas e pela presença de matéria orgânica ainda aderida na 
parede interna das conchas, atraindo assim, fungos e bactérias decompositores além do odor 
fétido para o local. Contudo, a comunidade local sinalizou que o consórcio responsável pela 
coleta de lixo não realiza o recolhimento dos resíduos. Do universo coletado, somente 15% 
destinam para aterramento ou artesanato. 
Para 70% das marisqueiras sugerem que os resíduos da atividade sejam encaminhados 
para o artesanato, o que vem sido trabalhado através de cursos esporádicos pelo Instituto de 
Pesquisas Agronômicas (IPA) e Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), e 
podem ser viabilizados por outras organizações, instituições de ensino, empresas públicas e 
privadas. Outra parcela da comunidade sugere que as conchas dos mariscos sirvam como 
aterro (19%) quando da adição de cimento, em ruas não asfaltadas, calçadas, quintais e no 
piso de casas. Contudo, não se apropriam do conhecimento sobre as formas de processo, nem 
tampouco quais organizações realizam tal produção. 
Também se sugeriu a utilização dos resíduos de conchas para produção de cal (4%), 
bem como a venda como complemento da ração aviária (3%) o que já vem sendo feito por 
alguns profissionais, sendo uma alternativa para as empresas que detém o modelo processual, 
mas carecem de matéria prima, o carbonato de cálcio (CaCO3) das conchas. 16% não sabiam 
solucionar os problemas ambientais causados pelos resíduos da mariscagem. 76% informaram 
que nenhum órgão realiza cursos e capacitações na região, com exceção de uma parcela da 
comunidade (3%) que informou da realização por parte da colônia. Quando da alegação da 
falta de oportunidades de emprego para os que almejam outras áreas, 15% das comunidades 
sugerem a criação de projetos voltados para a atividade da mariscagem, bem como do seguro 
defeso para o marisco (21%), mesmo sabendo que 55% não respeitam tal ação corretiva. 
 
5.3 Status quo da Gestão da mariscagem em Itamaracá 
5.3.1 Secretaria de Meio Ambiente de Itamaracá 
 
39 
No municípiode Ilha de Itamaracá, as questões direcionadas a atividade pesqueira são 
direcionadas à Secretaria de Meio Ambiente, não existindo assim, um departamento exclusivo 
para as questões relacionadas à pesca. Os programas municipais voltados para a pesca, e em 
específico para a mariscagem, não ocorrem desde 2009, quando houve a tentativa de 
articulação com uma extinta organização, não havendo, portanto, articulação no momento 
com a esfera Estadual e Federal, salvo um projeto nomeado “Projeto Orla” que a Secretaria de 
Aquicultura e Pesca (SEAP) articula com o município para oferecer melhorias, em toda a orla 
brasileira, para os pescadores e envolve novas residências saneadas, próximas aos cursos 
d’água, tendo basicamente capacitações, beneficiamento da pesca e zoneamento náutico para 
os demais pescadores. 
Outros tipos de capacitações estão sendo ofertadas para os profissionais da mariscagem 
a partir do aperfeiçoamento do Programa “Chapéu de Palha”, que estendeu os cursos e as 
capacitações do Programa para os pescadores tradicionais onde desfrutam por direito também 
os(as) marisqueiros(as). 
 
5.3.2 Colônia de Pescadores Z-11 
 
Na colônia de pescadores do município de Ilha de Itamaracá (Z-11) existem 
aproximadamente 350 marisqueiros cadastrados na colônia, onde exerce a função de 
reivindicar os direitos dos profissionais da mariscagem, tais como aposentadoria, auxílio 
doença e maternidade, além da venda de uma grande parcela da produção da mariscagem. Os 
profissionais da mariscagem não têm nenhuma obrigação perante a colônia, senão manter 
atualizadas as taxas de filiação à colônia, bem como o pagamento anual da taxa do Instituto 
Nacional de Seguro Social (INSS). Segundo o tesoureiro da colônia, o município não se 
articula com a colônia de pescadores nem tão pouco desenvolve projetos e programas 
voltados para a mariscagem no município. 
Alguns recursos Federais são destinados durante o período do defeso da lagosta 
(dezembro a maio), e liberado por tripulante, um salário mínimo para os detêm permissão de 
pesca. No entanto, os recursos para o defeso do caranguejo, somente são liberados para quem 
respeita os períodos alternados de quatro dias do defeso que os impõe no decorrer dos três 
meses iniciais do ano. Além dos recursos destinados à pesca, também são ofertadas à 
comunidade marisqueira, cursos de alfabetização através do MPA. 
40 
Devido à ausência do Seguro Defeso para a mariscagem, o Programa “Chapéu de 
Palha” colabora com um complemento de renda. A gestão na colônia Z–11 está bem 
direcionada para a pesca de camarão, peixe e lagosta. 
 
5.4 Status quo da Gestão da mariscagem em Itapissuma 
5.4.1 Secretaria de Indústria, Comércio, Agricultura e Pesca de Itapissuma–PE 
 
No Município de Itapissuma a existência da Secretaria de Indústria, Comércio, 
Agricultura e Pesca, setor responsável pela pesca, coloca o município em melhor situação em 
relação aos municípios pesquisados pela existência de um órgão especializado, entretanto, não 
existe servidor público especializado para as funções específicas do cargo, sendo o ônus da 
função atribuído a uma Engenheira Agrônoma, sem capacitação para tal, nem conhecimento 
específico sobre a área, o que traz sua atenção para o setor agrícola deixando o setor da pesca, 
responsável por 70% da população, sem suporte da Secretaria Municipal. 
A Secretaria foi visitada com o objetivo de conhecer os possíveis projetos voltados para 
a atividade da mariscagem no Município, não sendo identificados projetos, nem tampouco 
programas municipais voltados exclusivamente para a mariscagem. Não há profissionais 
habilitados na Prefeitura para ministrar cursos e não são fornecidos auxílios para as 
profissionais da mariscagem. 
Entendido como projeto, se teve conhecimento de uma máquina para realizar a 
depuração de ostras. Sendo a sua aprovação datando ainda na gestão passada, e que acordando 
com servidores da Secretaria entrevistada, não existe conhecimento sobre aquisição da mesma 
e/ou andamento do processo de instalação para beneficiamento nas vendas do molusco. 
Na ocasião, fora citado por funcionários da introdução de um projeto sem continuidade, 
conhecido como “Casa do Pescador”, que em parceria com o Governo Federal forneceu uma 
estrutura para a confecção e conserto de embarcações, auxílio no pagamento de contas de 
água e energia, confecção de redes para os pescadores que as utilizam não ficando esclarecido 
se ainda existe tal parceria com o Governo Federal. 
Em Itapissuma, a coleta de mariscos não é atividade predominante em Itapissuma, são 
coletados na Coroa do Avião, e muitas vezes o resíduo não chega ao município. O Município 
reconhece como problema o despejo das conchas no lixo doméstico, e assim como não há 
programas nem projetos, também não ocorrem medidas corretivas ou preventivas para tal 
ação. 
41 
No município de Itapissuma, os profissionais da mariscagem, em sua maioria mulheres, 
vendem sua produção de maneira independente, diretamente aos restaurantes ou entregam-na 
para atravessadores, o que raramente ocorre, estes, sempre a última opção, pois não valorizam 
a cultura da mariscagem e exploram baixos preços, o que por vezes, tornam-se obrigados, face 
a dificuldade para escoar a produção na baixa estação (inverno). 
Algumas profissionais são cadastradas no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), 
onde o IPA é o responsável pela documentação. O IPA, mesmo sem ter relação alguma com a 
atividade pesqueira, realiza com pouca frequência capacitação das profissionais da 
mariscagem, direcionada para o artesanato, financiada pelo Programa Nacional de 
Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) e Banco do Brasil. Com verba Federal, 
adquire 30% da produção da pesca por preço de mercado destinando esses produtos para as 
merendas escolares de acordo com o PAA. 
Em relação à percepção dos impactos ambientais, na Prefeitura de Itapissuma, a 
entrevistada não soube responder se há sobre pesca no canal de Santa Cruz, e nem quais são 
os impactos da mariscagem. Visto a mesma não ter habilitação na área, desconhece estudos 
publicados que devido a inexistência do seguro defeso do marisco na região, a população 
pesca marisco com vários tipos de apetrechos e instrumentos de pesca, inclusive alguns 
proibidos pelo Ibama e em quaisquer tipos de estágios de desenvolvimento, sem fazer 
restrição de tamanho de crescimento. 
 
5.4.2 Instituto de Pesquisa Agronômicas - IPA 
 
O IPA por ser um órgão direcionado tecnicamente às pesquisas agronômicas não 
deveria estar envolvido no processo de gestão pesqueira, porém é este quem, 
esporadicamente, desenvolve cursos para as profissionais da mariscagem para o Município de 
Itapissuma. A entrevistada do órgão foi a técnica do instituto, que forneceu informações mais 
precisas sobre a gestão de alguns projetos gerenciados pelo Estado e Governo Federal. 
O IPA é o órgão articulador do PAA do Governo do Estado. Os recursos advindos do 
PAA Federal são gerenciados pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2010). 
O IPA mesmo sem ter relação alguma com a atividade pesqueira realiza, mesmo com pouca 
frequência, capacitação dos marisqueiros, direcionada para o artesanato, financiada pelo 
Pronaf e Banco do Brasil. 
O PAA criado no Art.19 da Lei nº 10.696, de 02 de julho de 2003, institui o Programa 
de Aquisição de Alimentos com a finalidade de contribuir para a consolidação de uma Política 
42 
própria para a comercialização de produtos oriundos da agricultura familiar, assentados da 
reforma agrária e povos de comunidades tradicionais brasileiros como pescadores artesanais 
que se dediquem à pesca artesanal, com fins comerciais, explorando a atividade como 
autônomos,

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