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1|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br Direito Empresarial p/ AFRFB Prof. Tiago Zanolla w w w .c o n c u rs e ir o 2 4 h o ra s. c o m .b r Aula 01 Aula 01 2|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br AULA INAUGURAL 1. Observações iniciais ................................................................................................................................... 3 1.1. Sobre o curso ............................................................................................................................................... 3 1.2. Cronograma de aulas ........................................................................................................................... 5 2. Direito comercial: origem e evolução histórica .................................................................................. 6 3. Origem do crédito ...................................................................................................................................... 9 4. Legislação aplicável .................................................................................................................................. 10 5. Conceitos e características dos títulos de crédito ............................................................................. 11 6. Requisitos gerais ........................................................................................................................................ 12 7. Princípios dos títulos de crédito ............................................................................................................ 15 7.1. Princípio da cartularidade (ou da incorporação) ......................................................................... 15 7.2. Princípio da literalidade ...................................................................................................................... 19 7.3. Princípio da autonomia ...................................................................................................................... 21 7.3.1. Subprincípio da abstração ................................................................................................................. 23 7.3.2. Subprincípio da inoponibilidade das exceções pessoais ........................................................... 24 8. Classificação dos títulos de crédito ...................................................................................................... 31 8.1. Quanto à sua natureza/modelo ....................................................................................................... 32 8.2. Quanto à estrutura .............................................................................................................................. 32 8.3. Quanto à forma de circulação (ou transferência) ....................................................................... 33 8.4. Quanto à criação (hipóteses de emissão) ..................................................................................... 35 9. Endosso ....................................................................................................................................................... 38 9.1. Formas de endosso ............................................................................................................................. 42 9.2. Endosso x cessão civil de crédito ..................................................................................................... 45 10. Aval ............................................................................................................................................................... 46 10.1. Formas de aval ...................................................................................................................................... 47 10.2. Aval x fiança ........................................................................................................................................... 51 11. Protesto ....................................................................................................................................................... 52 12. Observações finais .................................................................................................................................... 65 13. Resumo ........................................................................................................................................................ 66 14. Questões apresentadas em aula .......................................................................................................... 74 Este curso é protegido por direitos autorais (copyright), nos termos da Lei n.º 9.610/1998, que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Valorize o trabalho do professor e adquira o curso de forma honesta, realizando sua matrícula individualmente no site www.concurseiro24horas.com.br. O Concurseiro24horas dispõe de descontos exclusivos para compras em grupo. Adquira de forma legal. Envie um email para coordenacao@concurseiro24horas.com.br e saiba como. 3|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br 1. Observações Iniciais Olá Concurseiro! Estamos iniciando nosso curso de Direito Empresarial para AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL – AFRFB abrangendo teoria e questões comentadas, É uma enorme satisfação poder estar aqui. Nosso compromisso com vocês é a preparação de alto nível através de um curso completo elaborado para ser sua única fonte de estudos de Direito Empresarial. Trata-se de um curso pré-edital, estruturado com base no Edital ESAF de 2010/2012. Não há exigência de prévio conhecimento da disciplina. Nós partiremos do zero. Nossa disciplina não foi cobrada no último concurso que ocorreu em 2014, porém, historicamente, ela costuma ser exigida. Qual a previsão do concurso? Ainda não se tem uma data certa, mas desde 2014 a Receita vem protocolando pedidos de concurso, tanto para Analista quanto para Auditor-Fiscal. Para esse último, o pedido foi de 2 mil vagas. Caso mantenha-se a tradição, o concurso deve ocorrer em 2016. Nos últimos 10 anos foram nomeados, aproximadamente, 2400 novos Auditores. E sabe qual a principal semelhança entre eles? A preparação prévia! 1.1. Sobre o Curso Uma das vantagens dos cursos em .pdf é ser PRÁTICO, com ABORDAGEM OBJETIVA, CLARA e ESPECÍFICA AOS TÓPICOS DO EDITAL Analisando as provas de 2012 e 2010, Em 2006 e 2010 Direito Empresarial representou: Ano Questões Peso % Prova Específica % Pontuação Possível 2012 7 1 5,83% 1,94% 2010 6 1 5,45% 1,71% Parece pouco, mas quando falamos em Receita Federal, todo ponto deve ser disputado. Um único ponto pode ser não apenas a diferença entre ser aprovado ou não, pode ser aquela diferença na classificação que fará você ser lotado em um local perto de casa, ou então em uma região mais distante. 4|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br Apesar de muitos acharem a disciplinacomplicada, a grande é verdade é que o Direito Empresarial é uma matéria mais técnica que outras do ramo do direito. Porém, com a metodologia apropriada, o estudo de Direito Empresarial torna-se muito agradável. Nosso curso será ESQUEMATIZADO da seguinte maneira: Teoria Doutrina Legislação Jurisprudência Questões comentadas Macetes Esquemas Exemplos Acredito que essa composição seja importante para o aprofundamento, tendo como propósito uma preparação completa e integral, visando um excelente desempenho em prova. Abrangeremos de modo aprofundado os aspectos mais relevantes de cada tópico do conteúdo exigido, evitando-se, porém, discussões doutrinárias desnecessárias. As questões servirão também de revisão, pois iremos dispor, aula após aula, questões de assuntos de aulas anteriores. Sobre as questões, nós iremos “abri-las” para serem analisadas item por item, no estilo Certo/Errada. Esse é a melhor metodologia para fixação do conteúdo. Ao longo do curso faremos, aproximadamente, 400 questões comentadas Por tudo que foi exposto, este curso será completo. É direcionado a você que está iniciando os estudos, bem como àqueles que desejam aprofundar os conhecimentos na disciplina. E mais, ele foi elaborado visando sua única fonte de estudos sobre Direito Empresarial. Não será necessário livros ou materiais extras. Por fim, uma breve apresentação: Meu nome é Tiago Elias Zanolla, 31 anos, graduado em Engenharia de Produção e atualmente sou servidor do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, onde exerço o cargo de Técnico Judiciário Cumpridor de Mandados. Cargo que me trouxe enorme satisfação pessoal e profissional. Além das funções de Oficial de Justiça, também exerço a função de Assistente da Direção do Fórum, algo como um síndico local. Uma tarefa árdua que temos que fazer o possível dentro do impossível (rsrs). 5|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br Estou envolvido com concursos públicos desde 2009. Dessa forma, tenho experiência como servidor público, como professor e como concurseiro. Essa é uma grande vantagem para vocês, pois sempre poderei lhes passar a melhor visão, incrementando as aulas e as respostas a dúvidas com possíveis dicas sobre as provas, as bancas, o modo de agir em dias de provas e como se preparar para elas etc. 1.2. Cronograma de Aulas1 AULA DATA CONTEÚDO 01 01/05/2015 Apresentação; Direito comercial: origem. Evolução histórica. Títulos de Crédito - Parte I (Noções Gerais, Conceitos e características) 02 15/05/2015 Títulos de Crédito - Parte II (Cheque, Duplicata, Letra de Câmbio e Nota Promissória) 03 25/05/2015 Evolução do Direito Comercial no Brasil. Autonomia. Fontes. Características Teoria Geral: Empresa/Empresário/Estabelecimento 04 05/06/2015 Prepostos. Escrituração. 05 15/06/2015 Sociedades - Parte I (Conceito de sociedades. Sociedades não personificadas e personificadas. Sociedade simples) 06 25/06/2015 Sociedades - Parte II (Sociedade limitada) 07 05/07/2015 Sociedades - Parte III (Sociedades por ações. Operações societárias. Dissolução e liquidação de sociedades) 08 10/07/2015 Recuperação judicial e extrajudicial. 09 15/07/2015 Falência. Classificação creditória 10 20/07/2015 Microempresa e empresa de pequeno porte (Lei Complementar nº 123/2006). 1 O cronograma de aulas poderá sofrer alterações, desde que previamente informado aos alunos matriculados. 6|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br 2. Direito Comercial: Origem e Evolução histórica O surgimento do direito comercial está relacionado à ascensão da classe burguesa, originando-se da necessidade dos comerciantes da Idade Média de regular a atividade profissional por eles desenvolvida. Concentrados em corporações de ofício, os comerciantes criaram o direito comercial com base nos USOS E COSTUMES COMERCIAIS DIFUNDIDOS PELOS POVOS que se dedicaram à atividade comercial, dentre os quais destacam-se os gregos e os fenícios. Como foi elaborado pelos próprios destinatários, o direito comercial apareceu com um caráter eminentemente subjetivista, caracterizando-se, no início, como um direito corporativista e fechado, restrito aos comerciantes matriculados nas corporações de mercadores. Nasce então como um direito especial, autônomo em relação ao direito civil, o que lhe permitiu alcançar autonomia jurídica, possuindo uma extensão própria, além de princípios e métodos característicos, que contribuíram para a sua consolidação como disciplina jurídica autônoma. O prestígio e a importância das corporações começaram a se enfraquecer com o mercantilismo, que fortaleceu o Estado e afastou das corporações de mercadores a elaboração das normas comerciais. As primeiras codificações das normas comerciais surgiram na França, com as Ordenações Francesas. A PRIMEIRA ORDENAÇÃO, DE 1673, tratava do comércio terrestre e ficou conhecida como Código Savary. Em 1681 surgiu a Ordenação da Marinha, que disciplinava o comércio marítimo. As Ordenações Francesas tiveram vigência por um longo tempo e o Código Savary foi a base para a elaboração do Código de Comércio Napoleônico de 1807, responsável pela objetivação do direito comercial, afastando-o do aspecto subjetivo da figura do comerciante matriculado na corporação. Com o Código Comercial francês de 1807 o direito comercial passou a ser baseado na prática de atos de comércio enumerados na lei segundo critérios históricos, deixando de ser aplicado somente aos comerciantes matriculados nas corporações. Assim, para se qualificar como comerciante e submeter-se ao direito comercial, deixou de ser necessário à pessoa que se dedica a exploração de uma atividade econômica pertencer a uma corporação, bastando a prática habitual de atos de comércio. Essa objetivação do direito comercial atendia aos princípios difundidos pela Revolução Francesa em 1789. 7|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br Ao enumerar os atos de comércio, o legislador baseou-se em fatores históricos, sendo esse o grande problema da teoria francesa, que se mostrou bastante limitada diante da rápida evolução das atividades econômicas, tornando-se uma teoria ultrapassada por não identificar com precisão a matéria comercial, já que não foi possível a identificação de um elemento de ligação entre os atos de comércio previstos na lei. Atividades econômicas que tradicionalmente não eram desenvolvidas pelos comerciantes, como a atividade imobiliária, a prestação de serviços em geral e a atividade agrícola, foram afastadas do regime comercial. A ausência de um critério científico na separação das atividades econômicas em civis e comerciais e a exclusão de importantes atividades do regime comercial em razão do seu gênero, constituíram os principais fatores para o desprestígio da teoria francesa, contribuindo para a sua superação. Em consonância com o desenvolvimento das atividades econômicas e de acordo com a tendência de crescimento do direito comercial, surgiu na Itália uma teoria que substituiu a teoria francesa, superou os seus defeitos e ampliou o campo de abrangência do direito comercial. Essa teoria, denominada de teoria jurídica da empresa, caracteriza-se por não dividiras atividades econômicas em dois grandes regimes, como fazia a teoria francesa, e foi inserida no Código Civil italiano de 1942, que ficou conhecido por ter realizado a unificação legislativa do direito privado na Itália. A teoria da empresa elaborada pelos italianos afasta o direito comercial da prática de atos de comércio para incluir no seu núcleo a empresa, ou seja, a atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços. Com a teoria da empresa, deixa de ser importante o gênero da atividade econômica desenvolvida, não importando se esta corresponde a uma atividade agrícola, imobiliária ou de prestação de serviços, mas que seja desenvolvida de forma organizada, em que o empresário reúne capital, trabalho, matéria-prima e tecnologia para a produção e circulação de riquezas. De acordo com a teoria da empresa, o direito comercial tem o seu campo de abrangência ampliado, alcançando atividades econômicas até então consideradas civis em razão do seu gênero. A teoria da empresa, ao contrário da teoria francesa, não divide as atividades econômicas em dois grandes regimes (civil e comercial), prevê um regime amplo para as atividades econômicas, excluindo desse regime apenas as atividades de menor importância, que são, a princípio, as atividades intelectuais, de natureza literária, artística ou científica. 8|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br Considerando o núcleo que delimita a matéria comercial ao longo de sua evolução histórica, pode-se dividir o desenvolvimento do direito comercial em quatro períodos. C o rp o ra çõ e s d e O fí ci o a) Corporações de Ofício: na época, havia artesãos e mercadores, que fabricavam e vendiam mercadorias em grandes feiras comerciais. Logicamente que, em decorrência dessas atividades começaram a surgir conflitos em torno de pagamentos, entrega, trocas, etc. Como ainda não havia direito que trata-se dos conflitos, surgiu a necessidade de criarem-se tais normas. Os artesãos e mercadores, cientes da realidade que lhes afligia, resolveram então criar as associações de classe, denominada “Corporações de Ofício”. b) Costumes Mercantis: as Corporações de Ofício, então, criaram os costumes mercadológicos, que eram as normas que regiam as relações comerciais. c) Tribunais do Comércio: com a criação das normas, surgiu também a necessidade de criação dos Tribunais do Comércio. Esses tribunais eram compostos por julgadores/juízes, que eram os membros das Corporações de Ofício, eleitos dentro de cada associação. As regras só incidiam sobre os participantes das associações. E st a d o s N a ci o n a is Tem início na 2ª metade do Séc. XVI e se arrasta o Séc. XVIII. Nessa fase, países como a Itália, Inglaterra, França e Holanda, eram países em que a atividade mercantil passou a ser muito intensa. Começaram a surgiu intercâmbio de atividades comerciais. Por esse motivo, surgiu a necessidade da uniformização das regras comerciais, até então bairristas, visando dar o mesmo tratamento entre os países que negociavam entre si. IMPORTANTE: surgiram então os Estados Nacionais, que consolidavam a busca pelo fortalecimento do estado. Diante desse contexto, a jurisdição mercantil deixou de ser da atividade privada (Corporações de Ofício) e passa a ser de responsabilidade do Estado, que inclusive passa a criar as regras do direito comercial. No entanto, de nada adianta criarem-se regras se o aplicador dessas regras continua sendo alguém eleito pelos membros das corporações, preservando-se o corporativismo. Por essa razão, o próprio Estado passa a escolher os julgadores que passarão a integras os Tribunais julgadores das pendengas comerciais. Um problema ainda persistia: ainda que se tivesse buscado uma uniformização, ainda que o Estado criasse as regras e elegesse os juízes, as regras ainda estavam pautadas nos costumes e se aplicavam somente aos MEMBROS DA ASSOCIAÇÃO (que era cadastrado e considerado como comerciante). Daí adveio a 3ª fase. C o d if ic a çã o N a p o le ô n ic a Tem início no Séc. XIX e se arrasta até a 1ª metade do Séc. XX. Nesse período ocorre a Revolução Francesa e, com ela, surgem os ideais liberais da Igualdade, Liberdade e Fraternidade. Diante desse contexto, a busca da igualdade levou a incidência das regras comerciais a todos os comerciantes, restando abolido o corporativismo. Surge o Código Comercial Francês, que adotou a Teoria dos Atos de Comércio. Essa teoria reza que “comerciante” é aquele que pratica atos de comércio – análise objetiva T e o ri a d a E m p re sa Essa fase compreende a promulgação do Código Civil Italiano de 1.942, e se arrasta até os dias atuais. Tem por grande característica alterar o conceito de comerciante da terceira fase (quem pratica atos de comércio – análise subjetivo, derivada da observação do ato praticado), e passa a encartar o empresário sob uma análise subjetiva – empresário é todo aquele que exerce a empresa. 9|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br 3. Origem do Crédito Na antiguidade o comércio ocorria tradicionalmente pelo escambo, isto é, trocava-se mercadoria por mercadoria. Assim, por exemplo um produtor de arroz que desejasse sal. Ele precisava encontrar um produtor de sal que precisasse de arroz, e assim por diante. Como forma de dinamizar o comércio, alguns bens começaram a ser usados como “moeda” – inicialmente o sal, posteriormente sucedido por metais preciosos, e este, mais adiante, substituído pela moeda-fiduciária de forma imposta pelo estado. Com a evolução do comércio, as transações foram tornando-se mais complexas e a moeda já não conseguia atender as necessidades do mercado. Foi então que surgiram os títulos de crédito. Segundo Tullio Ascarelli, “o desenvolvimento dos títulos de crédito permitiu que o mundo moderno mobilizasse suas próprias riquezas, vencendo o tempo e o espaço”. Títulos de crédito são, em síntese, instrumentos de circulação de riqueza. Criou-se então a possibilidade de uma das partes negociantes cumprir sua obrigação instantaneamente, mas a outra só vir a adimplir a sua em um tempo futuro. Em outras palavras, dispor de um direito a uma prestação futura. Essa expectativa de que a obrigação do outro será cumprida no futuro, chama-se confiança. CRÉDITO TEMPO CONFIANÇA Mesmo com expansão do comércio, com novas operações mercantis, esse crescimento ainda era limitado. Imagine que um comerciante dá crédito a seu cliente, permitindo que o pague em 90 dias, porém nesse tempo, o comerciante precisa adquirir mais mercadorias para atender novos clientes. Neste período, o comerciante tinha apenas que esperar o cliente a qual foi concedido crédito, que o pagasse. Assim a circulação de riqueza ficava restrita. Não havia a circulabilidade ideal. O crédito precisava ser trocado. Foi então que surgiram os títulos de crédito. E com o aumento do uso dos títulos de crédito, surgia a necessidade de regulá-lo. O DIREITO CAMBIAL é o ramo do direito empresarial que regula o regime jurídico aplicável aos títulos de crédito é recheado de regras e características especiais, criados especialmente para salvaguardar de forma segura sua principal função, a circulação de riqueza. 10|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITALDIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br Divide-se o Direito cambiário em quatro períodos (+ a atualidade). A saber: Época Fatos Marcantes Período Italiano (até 1650) Destacam-se as cidades marinhas, nas quais realizam-se feiras medievais. Surge o câmbio trajetício que instrumentalizava por meio de dois documentos: a cautio, apontada como origem da nota promissória, por envolver uma promessa de pagamento (o banqueiro reconhecia a dívida e prometia pagá-la no prazo, lugar e moeda convencionados), e a littera cambii, apontada como origem da letra de câmbio, por se referir a uma ordem de pagamento (o banqueiro ordenava ao seu correspondente que pagasse a quantia nela fixada). Período Francês (1650 - 1848) Surgimento da cláusula de ordem, que, consequentemente, embasou a criação do "endosso", que permitia ao portador transferir o título sem precisar de autorização do sacador Período Alemão (1848 - 1930) Acontece a "Ordenação Geral do Direito Cambiário" que codifica (junta) as diferentes normas especiais sobre letras de câmbio, assim, consolidando-a como instrumento de crédito viabilizador da circulação de direitos Período Uniforme (1930 - ?) Realização da Convenção de Genebra e aprovação da Lei Uniforme das Cambiais, aplicável às letras de câmbio e notas promissórias. Em 1931 foi aprovado a Lei Uniforme do Cheque Atualmente Era do Comércio Eletrônico. Títulos de crédito passam por um importante período de transição. Letras de câmbio já não são vistas no mercado, e mesmo títulos como o cheque e a nota promissória vão caindo em desuso e dando lugar às transações com os cartões de débito e crédito, os quais já admitem a assinatura eletrônica. 4. Legislação Aplicável O Decreto 2044/1908 foi a primeira legislação brasileira que tratou dos títulos de crédito. Ela regulamentava apenas a nota promissória e a letra de câmbio, porém servia de base para qualquer título. Como os títulos sempre foram muito utilizados no comércio internacional, envolviam personagens de diferentes países. Com isso, em meados do século XX começou uma preocupação entre os países em uniformizar suas legislações sobre títulos de crédito. O Brasil teve participação nas convenções e foi signatário da Convenção de Genebra que foi recepcionada pelo ordenamento brasileiro através do DECRETO 57663/66 que revogou quase por completo o Decreto anterior. Ficou conhecido como Lei Uniforme de Genebra. Em 1968 foi publicado a Lei 5.474/68 legislando sobre a Duplicata e em 1985 foi publicada a lei do cheque, Lei 7.357/85. 11|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br Em 2002 foi promulgado o novo Código Civil e este dispõe sobre os títulos de crédito, entre os artigos 887 a 926. Apesar exprimir regramentos, trata-se de uma Teoria Geral. Assim, o Código Civil não revogou as legislações anteriores, sendo que cada título específico permanece com seu regramento especial. Agora, segure-se na cadeira! O artigo 903 do Código Civil anuncia: Art. 903 Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código. E como funciona? Aplico ou não? Olha só o que acontece: Como temos lei especial tratando dos títulos de crédito, aplica-se a lei especial! Só aplicamos o Código Civil aos títulos quando lei especial não dispor. Então, O CÓDIGO CIVIL É DE APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA! As principais leis especiais sobre Títulos de Crédito são: LETRA DE CÂMBIO E NOTA PROMISSÓRIA – Decreto 57.663/66 (Lei Uniforme de Genebra) DUPLICATA – Lei 5.474/68 CHEQUE – Lei 7.357/85 5. Conceitos e Características dos Títulos de Crédito O conceito de título de crédito tradicionalmente cobrado em provas é o de Cesare Vivante. O jurista italiano assim o definiu: “Título de Crédito é o documento necessário ao exercício de direito, literal e autônomo, nele mencionado”. São documentos representativos de obrigações pecuniárias O código civil, adotando o conceito de Vivante, conceitua o título de crédito como: Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. ATENÇÃO: Vivante fala “nele mencionado” e o Códido Civil “nele contido”. Embora seja a mesma coisa e soe absurdo, a diferenciação conceitual entre “mencionado e contido” já foi cobrado em prova! 12|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br MEMORIZE: Título É um documento É literal (pode ser exigido o que nele está firmado) É autônomo (não se vincula ao fato que lhe gerou) Essas características nos remetem aos três princípios informadores do regime jurídico cambial que são objeto de estudo no tópico 7. Destaca-se na Doutrina mais algumas características. Títulos de crédito são considerados: DOCUMENTO FORMAL: Precisam observar os requisitos essenciais previstos na legislação cambiária. BENS MÓVEIS: A entrega do título é que vai marcar a transferência de titularidade do bem. A posse de boa-fé vale como propriedade. TÍTULOS DE APRESENTAÇÃO: É necessária sua apresentação para o exercício nele contido. TÍTULOS EXECUTIVOS EXTRAJUDICIAIS: Configuram uma obrigação liquida e certa o que faz que se de natureza processual abstrata. OBRIGAÇÕES QUESÍVEIS (QUERABLE): Cabe ao credor dirigir-se ao devedor para receber a importância devida, e que a emissão do título e a sua entrega ao credor têm, em regra, natureza pro solvendo (quer dizer que primeiro recebe-se o valor do título, após, dá-se a quitação). TÍTULO DE RESGATE: Sua emissão pressupõe futuro pagamento em dinheiro que extinguirá a relação cambiária. Assim, aquele que paga tem o direito de resgatá-lo (pegar de volta). TÍTULO DE CIRCULAÇÃO: Sua principal função é fazer o crédito circular. 6. Requisitos Gerais Por ser uma forma de contrair obrigações e conceder direitos, títulos de crédito são sempre um NEGÓCIO JURÍDICO. Assim, aplica-se aos títulos de crédito os requisitos de validade dos negócios jurídicos previstos no Código Civil: 13|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br Agente Capaz: o agente deve ser capaz e legitimado para a prática do negócio jurídico. Objeto lícito, possível, determinado ou determinável: Em direito civil considera-se lícito não apenas o que é legal, mas também o que é moral, dentro de uma moral de um homem médio. Lícito é o que não contraria a LEI, a MORAL ou os BONS COSTUMES. A possibilidade deve ser verificada sob os aspecto FÍSICO e JURÍDICO. Determinado ou determinável – sob pena de se prejudicar não apenas a validade, mas também a executoriedade da avença. Todo objeto deve conter elementos mínimos de individualização que permitam caracterizá-lo. Forma prescrita ou não defesa em lei: No CC/02, há a previsão de liberdade de forma (art. 107). Quando a lei prescrever determinada forma como requisito de validade, o negócio será solene ou formal. Considerando que cada título pode ter requisitos próprios, abordaremos, neste momento, apenas os requisitos específicos. ASSINATURA DO DEVEDOR: Não é necessário qualificá-lo, basta apenas sua manifestação de vontade que é demonstradaatravés da assinatura. É também nesse sentido o código civil: Art. 219. As declarações constantes de documentos assinados presumem-se verdadeiras em relação aos signatários. DATA DE EMISSÃO: O título de crédito deve conter a data da emissão. O STJ segue a tendência de o considerar elemento essencial. É à vista o título de crédito que não contenha indicação de vencimento. Quando há data de vencimento, a obrigação fica suspensa e somente obrigará o devedor após a data estipulada. Se não está vencido não pode, por exemplo, ser objeto de execução judicial. O credor não é obrigado a receber o pagamento antes do vencimento, porém no vencimento, não pode o credor recusar pagamento, ainda que parcial. LOCAL DE EMISSÃO E DE PAGAMENTO: Considera-se lugar de emissão e de pagamento, quando não indicado no título, o domicílio do emitente. Trata-se de um requisito não essencial. 14|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br Temos ai então, , os requisitos essenciais e os não essenciais. Majoritariamente entende- se que no momento da emissão do título, pode até não conter todos os requisitos essenciais, porém no momento da execução do título, estes não podem faltar. Esse preenchimento posterior deve ser feito de boa-fé, sendo que quem assume o ônus de provar, caso haja má-fé, será o emitente, pois este que optou passar um título com preenchimento incompleto. Esse assunto é inclusive sumulado pelo STF: SÚMULA 387: A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto. Se houver preenchimento de má-fé e o título circular e parar nas mãos de terceiros de boa-fé que desconhecem o que foi acordado, o devedor vai ter que arcar com o pagamento do título e depois buscar os direitos frente a quem preencheu incorretamente. A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de crédito, não implica a invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem. O negócio jurídico será válido, apenas será desnaturado como título de crédito PARA MEMORIZAR: REQUISITOS ESSENCIAIS Partes Capazes Data de Emissão Forma Prescrita Objeto Lícito Assinatura do Emitente Especificação das obrigações REQUISITOS NÃO ESSENCIAIS Local de Emissão Data de Emissão Local de Pagamento 15|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br 7. Princípios dos Títulos de Crédito Os princípios constantes no conceito de Vivante são a Cartularidade, Literalidade e Autonomia, cada um com características próprias. Há doutrinadores que afirmem que o princípio da autonomia ainda poderá se subdividir em abstração e a inoponibilidade das exceções pessoais à terceiros de boa-fé. CUIDADO! “negociabilidade” e “executividade” já foram cobrado como princípios cambiais. NÃO SÃO. São atributos dos títulos de crédito. PARA NÃO CONFUNDIR OS PRINCÍPIOS COM AS CARACTERÍSTICAS, MEMORIZE: Títulos de Crédito Natureza essencialmente comercial São títulos de apresentação Documentos Formais Constituem títulos executivos extrajduciais Natureza de bens Móveis Princípios Informadores Principais Características Representam obrigações Quesíveis É título de resgate É título de Circulação Cartularidade Literalidade Autonomia Abstração Inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé TÍTULO DE CRÉDITO: Documento abstrato e cartular que representa o crédito, permitindo maior circulação deste. 7.1. Princípio da Cartularidade (ou da incorporação) Cartularidade vem do latim cártula, que significa pequeno papel. Por este princípio, entende-se que a obrigação deve estar representada por uma cártula, documento tangível e concreto, ou seja, um papel em que especifica a obrigação, cujo porte e 16|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br exibição é elemento essencial, sem o qual não poderá o devedor ser cobrado (proíbe- se cópias). O princípio da cartularidade também pode ser conhecido como Princípio da incorporação, que nos permite afirmar que o direito de crédito mencionado na cártula não existe sem ela, ou seja, NÃO EXISTE O DIREITO DE CRÉDITO SE NÃO HOUVER O DOCUMENTO. Para que você consiga responder tranquilamente as questões de prova, vou lhe passar os seguintes conceitos: O crédito deve estar materializado (documentado) em um título. Para a transferência do crédito é necessário a transferência do documento. Não há que se falar em exigibilidade do crédito sem a apresentação do documento original. O exercício dos direitos representados por um título de crédito pressupõe sua posse. Quem não se encontra com o título em sua posse, não se presume credor. O princípio da cartularidade é garantia de que o sujeito que postula a satisfação do crédito é mesmo o seu titular (É uma garantia de que o credor não negociou o seu crédito.). Cópias autênticas não conferem a mesma garantia. Um exemplo de sua aplicação é a exigência da exibição do original do título na petição inicial de execução. Quer ver? Vamos a uma questão: Antes de começar, gostaria de ressaltar que por questões didáticas, as questões serão, em sua maioria, analisadas assertiva por assertiva. Isso não quer dizer que teremos só questões da banca Cespe, muito pelo contrário, teremos questões de várias bancas. Outro ponto importante é que durante o curso, por questões de organização, manteremos uma numeração única de questões, ou seja, as questões da próxima aula, iniciarão com o número imediatamente subsequente ao da última questão desta aula. Se você tiver dúvidas em relação a alguma questão, basta informar o número dela. QUESTÃO 01 (CESPE – 2013 – TR-RO – Analista Processual) A afirmação de que só quem exibe o título pode pretender a satisfação da obrigação nele representada corresponde ao princípio da a) autonomia. b) pessoalidade. c) literalidade. d) representação. e) cartularidade. 17|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br COMENTÁRIOS: Nós ainda não estudamos todos os conceitos, mas o que a questão pergunta? Ela quer saber a qual princípio nos remete a afirmação de que o exercício dos direitos representados por um título de crédito pressupõe sua posse. O princípio da cartularidade é garantia de que o sujeito que postula a satisfação do crédito é mesmo o seu titular. GABARITO DA QUESTÃO: Letra E. Antes de continuar, uma informação importante: a regra é a execução mediante apresentação do título original. No entanto, o STJ já admitiu o ingresso de ação executória mediante fotocópia autenticada quando a cártula original integrava prova em processo criminal por fraude, estelionato. QUESTÃO 02 (CESPE - AGU) Para transferência de um cheque, é suficiente o endosso. COMENTÁRIOS: Nós ainda não estudamos cheque ou mesmo o endosso, porém, que o cheque é um título de crédito nós sabemos. Também sabemos que quem não se encontra com o título em sua posse, não se presume credor. E então, certo ou errado? ERRADO, pois para a transferência do crédito é necessário a transferência do documento. Assim, deve-se endossá-loe então fazer a tradição do cheque (entregá-lo). Após o endosso deve-se ter a transferência da cártula (art. 910, §2º, CC - Art. 910. O endosso deve ser lançado pelo endossante no verso ou anverso do próprio título; (...) § 2o A transferência por endosso completa-se com a tradição do título). GABARITO DA QUESTÃO: ERRADO Continuando... Com a modernidade e o crescente número de transações eletrônicas, o princípio da cartularidade pode ser mitigada. Vem ocorrendo a desmaterialização dos títulos de crédito, em virtude do crescente desenvolvimento tecnológico e da consequente criação de títulos de crédito magnéticos, ou seja, que não se materializam numa cártula. Esse inclusive é uma das disposições do Código Civil sobre os títulos: Art. 889, § 3º O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente (...). E o que a desmaterialização dos títulos implica na prática? 18|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br Permite a criação de títulos não cartularizados, ou seja, feitos em formas que não sejam documentados em papel. É o que ocorre, por exemplo, nas duplicatas virtuais. Exemplos de títulos de créditos eletrônicos são os títulos de agronegócios que estão estabelecidos na Lei 11.076/04. Há também a famosa duplicata virtual (ou eletrônica). São títulos eletrônicos que não tem corporificarão no papel. CUIDADO! O Boleto Bancário não é título de crédito, pois, lhe falta o requisito “assinatura do emitente” constante do art. 889 do Código Civil. Ele é, portanto, um aviso de cobrança. Esse é o entendimento conforme o Código Civil: Art. 889. Deve o título de crédito conter a data da emissão, a indicação precisa dos direitos que confere, e a assinatura do emitente. Documentos não cartularizados dispensam o credor de apresentar o mesmo em juízo para executá-lo. Pode fazê-lo, apenas, com a apresentação do instrumento de protesto por indicações e do comprovante de entrega das mercadorias. Nesse sentido, temos a inteligência do CPC: Art. 365, § 2o Tratando-se de cópia digital de título executivo extrajudicial ou outro documento relevante à instrução do processo, o juiz poderá determinar o seu depósito em cartório ou secretaria. (Incluído pela Lei nº 11.419, de 2006). Esse processo de desmaterialização é natural da evolução do comércio. O Brasil, inclusive, já conta com regulamentação específica sobre isso. Trata-se da MP 2.200/2 de 2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil): Art. 1o Fica instituída a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil, para garantir a autenticidade, a integridade e a validade jurídica de documentos em forma eletrônica, das aplicações de suporte e das aplicações habilitadas que utilizem certificados digitais, bem como a realização de transações eletrônicas seguras. No mesmo sentido, temos os seguintes enunciados da Jornada de Direito Civil do CJF: Enunciados 460: Art. 889. As duplicatas eletrônicas podem ser protestadas por indicação e constituirão título executivo extrajudicial mediante a exibição pelo credor do instrumento de protesto, acompanhado do comprovante de entrega das mercadorias ou de prestação dos serviços”; Enunciado 461: Art. 889, § 3.° Os títulos de crédito podem ser emitidos, aceitos, endossados ou avalizados eletronicamente, mediante assinatura com certificação digital, respeitadas as exceções previstas em lei”. 19|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br No mesmo sentido, o STJ proferiu decisão pela validade da chamada duplicata virtual: 4. Quanto à possibilidade de protesto por indicação da duplicata virtual, deve-se considerar que o que o art. 13, § 1.°, da Lei 5.474/1968 admite, essencialmente, é o protesto da duplicata com dispensa de sua apresentação física, mediante simples indicação de seus elementos ao cartório de protesto. Daí, é possível chegar-se à conclusão de que é admissível não somente o protesto por indicação na hipótese de retenção do título pelo devedor, quando encaminhado para aceite, como expressamente previsto no referido artigo, mas também na de duplicata virtual amparada em documento suficiente. É possível executar duplicata virtual? Vejamos o caso abaixo: A Petrobras emitiu uma duplicata virtual, a empresa sacada não efetuou o pagamento. A Petrobras então entrou com uma Ação Executiva, juntando o “Boleto Bancário”, o “Extrato de Protesto” feito por Indicação e “comprovante de entrega da mercadoria” (conhecimento de transporte). O devedor embargou, alegando ausência de emissão da duplicata, restando violado o Princípio da Cartularidade. Em 1º grau os embargos foram procedentes. O caso foi parar no STJ, através do REsp 1.024.691/PR. Nesse julgado o Tribunal entendeu, frente a presença dos documentos supra elencados, pela desnecessidade de exibição judicial do título de crédito original. Em suma é possível a execução de Duplicata Virtual. IMPORTANTE: Em razão disso, alguns doutrinadores passaram a chamar o Princípio da Cartularidade (ligado ao meio material somente) de “Princípio da Incorporação”, que está diretamente relacionada ao meio material ou eletrônico. 7.2. Princípio da Literalidade O título de crédito vale pelo que nele está expresso. Vale pela sua literalidade. Qualquer direito ou dever deve estar escrito na cártula. Ramos assevera que a literalidade, em síntese, é o princípio que assegura às partes da relação cambial a exata correspondência entre o teor do título e o direito que ele representa. Caso o título esteja rasgado, dilacerado, danificado, porém identificável, o portador tem direito a obter do emitente a substituição do anterior, mediante a restituição do primeiro e o pagamento das despesas. 20|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br Por um lado, o credor pode exigir tudo o que está expresso na cártula, não devendo se contentar com menos. Por outro, o devedor também tem o direito de só pagar o que está expresso no título, não admitindo que lhe seja exigido nada mais. Daí porque Tullio Ascarelli mencionava que o princípio da literalidade age em duas direções, uma positiva e outra negativa. CREDOR Tem direito ao que está representado no título DEVEDOR É obrigado apenas ao que consta no título Uma quitação parcial deve ser feita no próprio título, pois, do contrário, poderá ser contestada. Com o aval e endosso ocorre o mesmo. Devem ser feitos no próprio título, sob pena de não produzirem os efeitos de seus institutos. Se o aval é feito, eventualmente, num instrumento separado do título, não será válido como aval porque não respeita o princípio da literalidade. Poderá valer, no máximo, como uma fiança, que é um instituto do direito civil assemelhado ao aval, porém com efeitos jurídicos diversos. Entendi professor, mas e se por acaso, por qualquer motivo, razão ou circunstâncias eu tiver um título de crédito repleto de assinaturas, não tem mais lugar para assinar e eu preciso assinar. Chegamos então a um limite de endossos, é isso? NEGATIVO! Para atender o princípio da literalidade você deve fazer o prolongamento do título. Então, você pega um pedaço de papel, grampeia, cola, mas terá que prolongar o título, sequiser dar o endosso atendendo ao princípio da literalidade. Mais um exemplo: Você compra um carro. Dá 20 mil de entrada e depois assina 5 notas promissórias de 5 mil reais. Ao ir pagar a primeira promissória, o vendedor lhe dá um documentos escrito assim: “declaro, para os devidos fins, que fulano de tal, quitou a nota promissória n.º 01/05 no valor de 5 mil reais.” Esse termo de quitação não tem validade para o direito cambiário. A quitação tem que ser dada no título de crédito. Se você quitou a nota promissória, ela é sua!! Imagina se essa promissória é roubada e repassada... Você terá que pagar e ai ajuizar ação e até provar que focinho de porco não é tomada, irá perder tempo, dinheiro etc. Para responder questões, grave o seguinte sobre a literalidade: A finalidade da literalidade é assegurar a certeza quanto à natureza, conteúdo e modalidade de prestação prometida ou ordenada. 21|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br O direito contido em um título de crédito deve ser expresso literalmente. Não pode o credor exigir a mais e nem o devedor pagar a menos. Só tem eficácia para o direito cambiário aquilo que está literalmente escrito no título de crédito. AVAL e ENDOSSO devem ser dado no próprio título, e não em instrumento separado, v.g. Contrato, etc. É a fiança que é prestada mediante contrato. Só tem validade a quitação dada no próprio título. O que não está expressamente consignado no título de crédito, não produz consequências na disciplina das relações jurídico-cambiais. A literalidade impede que meros ajustes verbais possam influir no exercício do direito ali mencionado. 7.3. Princípio da Autonomia Este é o princípio mais importante dos títulos de crédito. É autônomo, pois cada relação jurídica no título é independente de outra, ou seja, é constitutivo de direito novo, autônomo e originário, completamente desvinculado da relação que lhe deu origem. Como o emitente afirma que existe uma obrigação jurídica a ser cumprida, constitui um ato jurídico unilateral. Vivante ensina que “o direito representado num título de crédito é autônomo, porque a SUA POSSE LEGÍTIMA CARACTERIZA A EXISTÊNCIA DE UM DIREITO PRÓPRIO, não limitado nem destrutível por relações anteriores. Conforme leciona Coelho, em observância ao princípio da autonomia, “quando um único título documenta mais de uma obrigação, a eventual invalidade de qualquer delas não prejudica as demais” ou seja, quando um vício contamina uma, não contamina as outras. Desta forma, o endosso ou o aval dado por pessoa incapaz não atinge as demais obrigações assumidas no título de crédito. Professor, e como é isso na prática? Vamos a um exemplo: Vamos dizer que Tício recebeu um cheque com assinatura falsa (pode ter assinado pelo filho, por exemplo). Ai, Tício endossa o cheque para Mévio. Mévio então vai ao banco para sacar o dinheiro, porém o cheque é devolvido por falsificação de assinatura. E então? Mévio se lasca? Perdeu o dinheiro? 22|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br Nada disso! O que Tício fez ao entregar o cheque ao Mévio? Endossou! Exato, Mévio é responsável pelo pagamento. Mas a cártula não era falsificada? Não é nulo o negócio? Negativo! Não é porque essa relação está viciada entre quem deu o cheque e o recebeu, que esse vício vai contagiar a outra relação entre o Tício e Mévio. LEMBRE-SE: “As relações jurídico cambiais são autônomas e independentes entre si.” Tal princípio é previsto expressamente no código civil: Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. Vamos a mais um exemplo. Ramos ilustra o princípio da autonomia com o seguinte: Digamos que “A” compra um carro de “B”, sendo esta compra instrumentalizada por meio da emissão de uma nota promissória no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais). “B”, por sua vez, tem uma dívida perante “C” no valor aproximado de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Nesse caso, “B” poderá quitar a dívida que tem perante “C” utilizando-se da nota promissória dada por “A”, endossando-a (o endosso, como veremos a frente, é o ato cambial próprio para transferir um título de crédito) para “C”, que se torna o titular dessa nota, podendo cobrar o seu respectivo valor de “A” na data do vencimento. Nessa hipótese, “A” poderá recusar-se ao pagamento do título alegando, por exemplo, eventual nulidade da venda que “B” lhe fez, venda essa que, como dito acima, originou a emissão da nota promissória? A resposta é negativa, e a justificativa está exatamente na aplicação do princípio da autonomia dos títulos de crédito. Ora, se as relações representadas naquele título são autônomas e independentes, os eventuais vícios que maculam a relação de “A” com “B” não atingem a relação de “B” com “C” nem a relação deste com “A”. As obrigações contidas em um título de crédito são autônomas entre si e a invalidade de uma não afeta a outra. O princípio da Autonomia se desdobra no princípio da Abstração e no Princípio da Inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé. 23|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br 7.3.1. Subprincípio da Abstração Segundo o instituto da abstração, quando o título circula ele se desvincula da relação que lhe originou. Assim, no exemplo acima, quando B endossou o titulo para C, o título desvinculou-se da operação original, assim, QUEM TEM A POSSE DESSE TÍTULO. MESMO ESTRANHO A RELAÇÃO QUE LHE DERA ORIGEM, É O LEGITIMO DETENTOR DO DIREITO ALI EXPRESSO. Por isso que quando um estabelecimento comercial recebe um cheque de terceiro não fica perguntando a origem do cheque. ATENÇÃO: A circulação do título é fundamental para que se opere a abstração (nesse sentido, se separa do que lhe é inerente). A B C Circulabilidade Abstração Há situações que esse princípio pode sofrer mitigações. Como bem leciona Estefância Rossignoli1: 24|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br “A situação que implicou tal discussão tem origem nas práticas bancárias. Começou-se a tornar comum, na prática bancária, a exigência da assinatura de nota promissória como garantia acessória aos contratos de abertura de crédito. Seria a seguinte situação; a pessoa faz um contrato de cheque especial, mas não se sabe qual o valor desse crédito ela irá utilizar. Assim as instituições bancárias fazem com que o cliente assine uma nota promissória sem preencher o valor, que somente será preenchido se houver vencimento da dívida do cheque especial, sem que haja o correto pagamento. Este procedimento pode trazer prejuízos ao cliente caso o banco execute o título. É que como foi tratado acima, em obediência aos princípios da autonomia e abstração, o valor firmado na nota promissória pode ser exigido independente de discussão acerca do contrato que, teoricamente deu causa à sua emissão. E é daí mesmo que surgem os riscos ao emitente do título que servirá de garantia a um contrato de empréstimo bancário, pois a instituição financeira terá a posse de umtítulo executivo extrajudicial cuja discussão estará limitada apenas às exigências formais do documento, além de uma possível cobrança de crédito já extinto ou quitado. Contrato de Abertura de Crédito Bancário: não tem liquidez. Portanto, não serve de título executivo extrajudicial. Alguns bancos vinculam o contrato a uma Nota Promissória em branco, tentando dar liquidez futura ao débito, o que não surtiu efeito, conforme Súmulas abaixo. STJ - SUM 233 - O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da conta corrente, não é título executivo. STJ – SUM 258 - A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou. Nessas situações específicas, é reconhecido pela doutrina e a jurisprudência a falta de abstração dessa nota promissória, permanecendo vinculada ao contrato de abertura de crédito. Assim, entende-se que a abstração não é um princípio absoluto. 7.3.2. Subprincípio da inoponibilidade das exceções pessoais Por Inoponibilidade das Exceções entende-se que não é permitido àquele que se obriga em um título a recusar o pagamento ao portador alegando suas relações pessoais com o sacador ou outros obrigados anteriores do título. 25|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br Em função do próprio princípio da autonomia, o portador do título de crédito que foi abstraído, é o legitimo detentor dos direitos ali expressos, assim, este não pode ser atingido por defesas relativas ao negócio do qual não participou. Segundo o Código Civil: Art. 896. O título de crédito não pode ser reivindicado do portador que o adquiriu de boa-fé e na conformidade das normas que disciplinam a sua circulação. EXEMPLO: Imaginemos ainda o exemplo acima: A comprou o carro de B. A emitiu um cheque para B como pagamento. B, por sua vez, devia a C, e então, entregou esse cheque a C. C não conseguiu depositar esse cheque e então dirige-se a A para receber o pagamento. Suponhamos que o carro que foi comprado estava com sérios problemas mecânicos e então, A está reivindicando de B que conserte ou não pagará (sustou o cheque). Ocorre que, o detentor de direitos agora é C e este, não participou do negócio que originou o título, ou seja, está livre dos vícios que relações pretéritas tenham adquirido (C agiu de boa-fé, não tem ligação com a causa que originou o cheque). Assim, A não pode escusar-se de pagar C, pois este, é terceiro de boa-fé. ATENÇÃO: A boa-fé do portador do título é presumida. Caso o devedor quiser opor exceções pessoais contra o portador, deverá provar a má-fé, demonstrando, por exemplo, que houve conluio entre o atual portador do título e seu antigo titular. Caso não provada as exceções pessoais, são inoponíveis ao terceiro de boa-fé, que exercerá seu direito de crédito sem ser atingido por nenhum vício ligado a relações anteriores. PARA MEMORIZAR: Autonomia Cada relação estabelecida no título é independente da outra Cartularidade Todo título deve ser representado por um documento formal e independente Literalidade Toda e qualquer obrigação só é válida se estiver escrita na cártula Abstração Título se desvincula da causa de origem quando posto em circulação Inoponibilidade das exceções pessoais O devedor de dívida representada por título de crédito só pode opor ao terceiro de boa-fé as exceções que tiver contra este e as fundadas nos aspectos formais do título 26|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br Que tal algumas questões para relaxar? QUESTÃO 03 (OAB SP/2006/FCC) O credor de um título de crédito não pode recusar o pagamento parcial no seu vencimento. COMENTÁRIOS: No vencimento, não pode o credor recusar pagamento, ainda que parcial. Lembrando que no caso de pagamento parcial, em que se não opera a tradição do título, a quitação parcial deverá ser firmada no próprio título. GABARITO DA QUESTÃO: CORRETO QUESTÃO 04 (OAB SP/2006/FCC) Pode ser omitida a data de vencimento do título de crédito. COMENTÁRIOS: É considerado à vista o título de crédito que não contenha indicação de vencimento. Cabe ao emissor a obrigação do preenchimento completo do título indicando vencimento futuro. GABARITO DA QUESTÃO: CORRETO QUESTÃO 05 (Defensor Público PA/2009/FCC) Em relação ao título de crédito, é correto afirmar que se trata de documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, só produzindo efeito quando preenchidos os requisitos legais. COMENTÁRIOS: O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei (CC, art. 887). Exceção feita ao protesto de duplicatas, que pode ser feito sem a posse do título. CUIDADO com a desmaterialização dos títulos. Esta nova tendência permite a criação de títulos não cartularizados, ou seja, feitos em formas que não sejam documentados em papel. É o que ocorre, por exemplo, nas duplicatas virtuais. Documentos não cartularizados dispensam o credor de apresentar o mesmo em juízo para executá-lo. Pode fazê-lo, apenas, com a apresentação do instrumento de protesto por indicações e do comprovante de entrega das mercadorias. GABARITO DA QUESTÃO: CORRETO QUESTÃO 06 (Defensor Público PA/2009/FCC) Em relação ao título de crédito, é correto afirmar que a omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito sua validade como título de crédito, implica a invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem. COMENTÁRIOS: O negócio jurídico será válido, apenas será desnaturado como título de crédito. Assim prescreve o art. 888 do Código Civil: A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de crédito, não implica a invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem. 27|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br GABARITO DA QUESTÃO: ERRADO QUESTÃO 07 (Defensor Público - SP/2006/FCC) Sobre títulos de crédito, é correto afirmar que pode ser reivindicado do portador que o adquiriu de boa-fé. COMENTÁRIOS: Dispõe o art. 896 do CC que o título de crédito não pode ser reivindicado do portador que o adquiriu de boa-fé e na conformidade das normas que disciplinam a sua circulação. É a aplicação do princípio da inoponibilidade das exceções pessoais. O devedor de dívida representada por título de crédito só pode opor ao terceiro de boa-fé as exceções que tiver contra este e as fundadas nos aspectos formais do título. GABARITO DA QUESTÃO: ERRADO QUESTÃO 08 (Defensor Público - SP/2006/FCC) É correto afirmar que o possuidor de título dilacerado, identificável, tem direito de obter do emitente a substituição, devolvendo o título e pagando as despesas. COMENTÁRIOS: Letra de lei. Este é o teor do art. 908 do CC: o possuidor de título dilacerado, porém identificável, tem direito a obter do emitente a substituição do anterior, mediante a restituição do primeiro e o pagamento das despesas. GABARITO DA QUESTÃO: CORRETO QUESTÃO 09 (Juiz Substituto TJ PI/FCC/2001) É correto afirmar que se o título contiver a expressão “não à ordem” poderá mesmo assim ser endossado. COMENTÁRIOS: O título de crédito que contiver a expressão “não à ordem” não poderá ser endossado. Todavia,poderá ser transmitido com a forma e com os efeitos de uma cessão civil de crédito, não seguindo ritos cambiais nesta hipótese. GABARITO DA QEUSTÃO: ERRADO QUESTÃO 10 (Juiz Substituto TJDFT/ FCC) É correto afirmar que nas obrigações em geral o credor não é obrigado a receber pagamento parcial, mas no caso do cheque, o portador não pode recusar pagamento parcial. COMENTÁRIOS: Nas obrigações em geral não é o credor obrigado a receber pagamento parcial, como se vê neste excerto do Código Civil: Art. 314 - Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou. Já para o cheque, a legislação checaria prevê que o portador não pode recusar o seu pagamento parcial (LC, art. 38, parágrafo único). 28|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br GABARITO DA QUESTÃO: CORRETO QUESTÃO 11 (CESPE - JF TRF1/TRF 1/2009) Os títulos de crédito são atos jurídicos unilaterais que contêm direito autônomo, o qual se revela mais fortemente no momento em que o título circula. COMENTÁRIOS: A partir da emissão de um título de crédito fica criada uma obrigação jurídica, a qual será representada por uma cártula, e assim constitui um ato jurídico unilateral, onde o emitente afirma que existe uma obrigação jurídica a ser cumprida. Esse princípio é mais perceptível por ocasião da circulação do título. GABARITO DA QUESTÃO: CERTO QUESTÃO 12 (CESPE - JF TRF1/TRF 1/2009) Tendo em vista a simplicidade que caracteriza os títulos de crédito e as regras gerais introduzidas pelo Código Civil a esse respeito, a cartularidade deixou de ser pressuposto para a eficácia legal desses títulos. COMENTÁRIOS: O Código Civil trouxe conceitos gerais sobre os títulos. NÃO revogou diplomas anteriores, por isso, a cartularidade ainda continua como princípio do direito cambiário (há as exceções dos títulos eletrônicos – vide questão 03) GABARITO DA QUESTÃO: ERRADO QUESTÃO 13 (CESPE - JF TRF1/TRF 1/2009) Entende-se por independência ou autonomia do título de crédito − termos sinônimos − que ele não guarda relação com o contrato que lhe deu origem. COMENTÁRIOS: Não são termos sinônimos. Autonomia: "os vícios que comprometem a validade de uma relação jurídica, documentada em título de crédito, não se estendem às demais relações abrangidas no mesmo documento". Independência: "alguns títulos de crédito valem por si só, independe de qualquer outro documento". GABARITO DA QUESTÃO: ERRADO QUESTÃO 14 (CESPE - JF TRF1/TRF 1/2009) A abstração − princípio absoluto dos títulos de crédito − é característica que serve à autonomia desses títulos e que é fundamental para a sua circulação. COMENTÁRIOS: A abstração não é princípio absoluto já que comporta exceções. Um exemplo é o entendimento sumulado do STJ: SÚMULA 258: A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia (entenda-se por abstração) em razão da iliquidez do título que a originou. GABARITO DA QUESTÃO: ERRADO 29|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br QUESTÃO 15 (CESPE - JF TRF1/TRF 1/2009) Os princípios aplicáveis aos títulos de crédito são absolutos, assim entendidos na doutrina e na jurisprudência como forma de dar credibilidade ao título que circula. COMENTÁRIOS: Os princípios aplicáveis aos títulos de crédito NÃO SÃO ABSOLUTOS já que comportam exceções. GABARITO DA QUESTÃO: ERRADO QUESTÃO 16 (FGV/Auditor Fiscal/ICMS RJ/2008) O sr. RJB firmou contrato de abertura de crédito com determinado banco comercial no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Por exigência do banco, foi emitida uma nota promissória em branco, vinculada à avença, sendo que, nesse título de crédito, apôs sua assinatura o sr. Antônio, na condição de avalista. Dez meses depois, o banco ingressa com uma execução com base naquela nota promissória no valor de R$ 28.472,00, decorrente da abertura da linha de crédito, ocorrida em favor do avalizado, que não possuía capacidade econômica para pagar aquele débito. A respeito da possibilidade de o avalista arguir a iliquidez da dívida, assinale a afirmativa correta. a) O credor pode completar o título cambial em qualquer circunstância após as assinaturas do emitente e do avalista, o que lhe confere autonomia e literalidade, sendo exigível, mesmo quando não acompanhada do contrato de abertura de crédito. b) A nota promissória possui autonomia e literalidade, sendo exigível em qualquer circunstância, podendo ser completada pelo credor antes de iniciar a cobrança, o que confere liquidez ao título. c) A nota promissória goza de autonomia e literalidade, sendo exigível apenas quando completada pelo credor de boa-fé antes de iniciar a cobrança. d) Caracteriza-se a nota promissória pela autonomia e literalidade; fundada a ação na nota promissória mencionada no enunciado, não se admite a discussão da causa debendi. e) A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia, em razão do título que a originou, sendo neste caso admissível a discussão da causa debendi. COMENTÁRIOS: Um dos princípios vigentes no âmbito dos títulos de crédito é o da autonomia. Isto é, tão logo emitidos, os títulos deixam de ter vinculação à causa que originou a sua emissão, porém nos contratos de abertura de crédito é mitigado: Começou a se tornar comum, na prática bancária, a exigência da assinatura de nota promissória como garantia acessória aos contratos de abertura de crédito. As instituições bancárias fazem com que o cliente assine uma nota promissória sem preencher o valor, que somente será preenchido se houver vencimento da dívida do cheque especial, sem que haja o correto pagamento. Este procedimento pode trazer prejuízos ao cliente caso o banco execute o título. Por isso no caso da nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia, em razão do título que a originou, sendo neste caso admissível a discussão do motivo que gerou a dívida (causa debendi). Inclusive esse entendimento é sumulado pelo STJ: 30|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br SÚMULA 258 STJ: A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou. GABARITO DA QUESTÃO: LETRA E QUESTÃO 17 (CESPE - 2009 - SECONT-ES - Auditor do Estado) A cartularidade, a literalidade, a autonomia e a possibilidade de abatimento de juros remuneratórios mediante resgate do título à vista, são princípios gerais que incidem em todas as espécies de títulos de crédito. COMENTÁRIOS: Os três princípios informadores do direito cambial são: o princípio da cartularidade, o princípio da literalidade e o princípio da autonomia. Abatimento de juros remuneratórios não é princípio do direito cambial. GABARITO DA QUESTÃO: ERRADO QUESTÃO 18 (VUNESP – 2013 – SPTrans – Advogado Pleno) São princípios basilares dos títulos de crédito: a) dependência, a cartularidade e a literalidade. b) a autonomia, a cartularidade e a literalidade. c) a autonomia, a fungibilidade e a intransmissibilidade. d) a dependência, a fungibilidade e a abstração. e) a abstração, a cartularidade e a intransmissibilidade. COMENTÁRIOS: Questão tranquila:Princípios Informadores Cartularidade Literalidade Autonomia Abstração Inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé GABARITO DA QUESTÃO: Letra B QUESTÃO 19 (FUNCAB – 2013 – ANS – Técnico de Suporte) “O título de crédito é sempre emitido em razão de um negócio jurídico subjacente. No entanto, subsiste e sobrevive sem que seja necessário mencionar-se no próprio título a razão que ensejou a sua emissão (criação)” Essa afirmação diz respeito ao elemento (princípio) da: a) literalidade. b) autonomia. 31|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br c) independência. d) abstração. e) cartularidade (ou incorporação). COMENTÁRIOS: Calma! Eu sei que você está louco para marcar a autonomia, porém lembre-se do princípio da "Abstração", em que o título pode circular sem vinculação ao negócio que lhe deu origem. GABARITO DA QUESTÃO: Letra D QUESTÃO 20 (FUNDAÇÃO SOUSÂNDRADE – 2007 – BNB – Analista Bancário) Leão compra uma TV na loja da Márcia e, não tendo dinheiro para pagar à vista, emite um título de crédito tendo como beneficiária Márcia. Esta, satisfeita com a venda, mas necessitando do dinheiro o quanto antes, desconta o título num Banco. Todavia, a TV apresenta defeitos e Leão, insatisfeito, procura por Márcia para desfazer o negócio e desobrigar-se do pagamento do título emitido. Por sua vez, o Banco, atual credor do título, alega a inexistência de vínculo com a operação de compra e venda e aciona Leão para honrar o título, informando que se ele desejar desfazer a operação de compra da TV deverá demandar diretamente contra Márcia." A situação narrada ilustra uma característica comum aos títulos de crédito. Assinale a opção que a contempla. a) Executividade b) Cartularidade c) Coobrigação d) Autonomia e) Causalidade COMENTÁRIOS: Para Tudo! Cadê o princípio da abstração???? Lembre-se que o princípio da abstração deriva do da autonomia. Neste caso, não devemos brigar com a banca! GABARITO DA QUESTÃO: Letra D 8. Classificação dos Títulos de Crédito Quando falamos em classificação de títulos, temos mais de 10, porém trazê-los todos aqui não irá lhe ajudar em nada, por isso, traremos as quatro classificações principais que serão mais que necessário para você internalizar nossa disciplina. Estude com atenção, pois esse assunto despenca em provas. 32|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br 8.1. Quanto à sua natureza/modelo Os títulos poderão ser classificados em livres e vinculados: MODELO LIVRE: são aqueles que a lei não estabeleceu um padrão específico, deixando que os títulos sejam confeccionados livremente, porém, obedecendo alguns conceitos básicos. São exemplos a nota promissória e a letra de câmbio. Cuidado! Qualquer pedaço de papel pode dar origem a uma nota promissória. Não é necessário usar aquele modelo que vende em papelaria. Pode ser feito no computador ou em um guardanapo e gerar os mesmos efeitos. MODELO VINCULADO: É aquele que deve observar uma padronização definida em lei, pois esta o padronizou, definiu medidas, campos etc. São exemplos o cheque e a duplicata mercantil. Confeccionar um cheque no computador, mesmo com todos os requisitos vinculados, ele não será título de crédito, nem produzirá os efeitos jurídicos do cheque. PARA FIXAR: MODELO Livre Vinculado Forma definido em lei Forma livre Letra de Câmbio e Nota Promissória Cheque e Duplicata 8.2. Quanto à Estrutura ORDEM DE PAGAMENTO: Segundo Ramos, os títulos que se estruturam como ordem de pagamento – letra de câmbio, cheque e duplicata – tem três intervenientes a partir da sua emissão: em primeiro lugar, tem-se a figura do sacador, que emite o título, ou seja, ordena o pagamento; em segundo lugar, tem-se a situação do sacado, contra quem o título é emitido, ou seja, trata-se da pessoa que recebe a ordem de pagamento; 33|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br por fim, tem-se a figura do tomador (ou beneficiário), em favor de quem o título é emitido, isto é, pessoa a quem o sacado deve pagar, em obediência à ordem que lhe foi endereçada pelo sacador. Explicando: Tem aquele que dá a ordem. Aquele que recebe a ordem (destinatário da ordem) e vai ter também o favorecido, também chamado de tomador beneficiário. Imagine o cheque. Cheque é uma ordem de pagamento à vista. Assim você dá a ordem (sacador) para que o banco (sacado) pague a quantia estabelecida ao portador do cheque (tomador) Na ordem de pagamento, há o instituto do aceite, que consiste no reconhecimento expresso da dívida, por escrito, feito pelo sacado no próprio título. Na letra de câmbio, por exemplo, o sacador subscreve o título, dando ordem ao sacado para que pague determinado valor ao tomador. O sacado pode nem saber da existência do título, razão pela qual o credor deve apresentar o documento ao devedor, para que este verifique a existência da dívida e aceite honrar a obrigação no prazo previsto. PROMESSA DE PAGAMENTO: Já na promessa de pagamento, você não dá ordem para alguém pagar, você paga direto. Aqui, temos uma promessa que é feita pelo promitente e temos um beneficiário, que é o tomador. A nota promissória é uma promessa de pagamento, em que o emitente declara expressamente que pagará no futuro determinada quantia ao tomador. 8.3. Quanto à forma de Circulação (ou transferência) Nós iremos trabalhar com a classificação moderna. O tradicional é cobrado geralmente em TJ’s Estaduais. Já a classificação moderna é mais cobrada. TÍTULO AO PORTADOR: O nome do beneficiário não consta no documento. O detentor do título tem direito à prestação nele indicada mediante a sua simples apresentação ao devedor, ainda que o título tenha entrado em circulação contra a vontade do emitente. A transferência de título ao portador se faz por simples tradição (cheque até R$ 100,00). O proprietário que perder ou extraviar título, ou for injustamente desapossado dele, poderá obter novo título em juízo, bem como impedir sejam pagos a outrem capital e rendimentos. 34|81 AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL 2015 – PRÉ EDITAL DIREITO EMPRESARIAL – Aula INAUGURAL Prof. Tiago Zanolla tiagozanolla@concurseiro24horas.com.br Caso o devedor tenha efetuado o pagamento do título ANTES de ter ciência da perda deste pelo portador, EXONERA O DEVEDOR DE UM NOVO PAGAMENTO/EMISSÃO AO PORTADOR, salvo se se provar que ele tinha conhecimento do fato. SAIBA MAIS: O art. 907 do Código Civil declara nulos os títulos ao portador emitidos sem autorização da lei especial. Nesse sentido, segundo a Lei Uniforme de Genebra, não é permitida a emissão de letra de câmbio e nota promissória ao portador. A Lei 8.088, em seu art. 19, praticamente eliminou a forma ao portador dos títulos de crédito e estabeleceu a forma nominativa, ao assim dispor: "todos os títulos, valores mobiliários e cambiais serão emitidos sempre sob a forma nominativa, sendo transmissíveis somente por endosso em preto". Por sua vez a Lei 9.096, de 29.06.1995, Plano Real, em seu art. 69, estabeleceu a vedação de emissão, pagamento, compensação de cheque de valor superior a R$ 100,00, sem identificação do beneficiário.
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