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Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 61 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. OBSTETRÍ CI A PREMATURIDADE (Professor Eduardo Borges) Conceituamos o recém-nascido prematuro ou pré-termo como aquele que nasce com menos de 37 semanas (ou 259 dias) de gestao, segundo a OMS (1961), sendo a principal causa de morbidade e mortalidade neonatal, respondendo por 75 a 95% de todos os bitos neonatais no associados a malformaes congnitas. Dos sobreviventes, at 15% apresentam sequelas significativas, como alteraes do desenvolvimento neuropsicomotor, doenas respiratrias crnicas, predisposio para doenas infecciosas e distrbios oftalmolgicos. A prematuridade , portanto, um dos grandes problemas de sade pblica, contribuindo com elevados nmeros para a morbi-mortalidade infantil e para a invalidez, principalmente em pa ses em desenvolvimento. Da a importncia de abord-la em um cap tulo individual. OBS1: De acordo com esta classificao, considera-se um recm-nascido pós-termo aquele cujo nascimento ocorreu aps 42 semanas (ou 294 dias) de gestao. Alm desta terminologia, com base na data estimada do parto (DEP) que, como sabemos, seria ideal se ocorresse em torno de 40 semanas de gestao, podemos classificar o neonato como pós-data, quando seu parto acontece depois da DEP. Entretanto, importante salientar que nem todas as gestaes ps-termo so ps-datas, como por exemplo: gestantes que se encontram com 41 semanas e 2 dias de gestao podem ser consideradas ps-data, pois excederam a data provvel do parto; entretanto, ainda considerada a termo. EPIDEMIOLOGIA O estudo da prematuridade de extrema importncia, principalmente devido a trs fatores principais: Mortalidade, sendo a prematuridade a principal causa de mortalidade neonatal. Elevado índice de morbidade, isto : a prematuridade responsvel por um alto ndice de complicaes, sendo as principais, em curto prazo: s ndrome do desconforto respiratrio, sepse, hemorragia intraventricular, enterocolite necrotizante, etc. Em longo prazo, as complicaes da prematuridade esto associadas principalmente ao desenvolvimento incompleto de rgos e sistemas. Com isso, os neonatos podem desenvolver problemas de concentrao, inteligncia, escrita, fala, motricidade, etc. Alto custo inicial, uma vez que a manuteno de um recm-nascido prematuro indica internao em UTI neonatal, cujo custo muito elevado. Alm disso, pode-se dizer que existe um custo social, partindo do pressuposto que a sociedade deve arcar financeiramente um indiv duo com sequelas em longo prazo. Assim a morbimortalidade est intimamente relacionada idade gestacional, ou seja: quanto menor a idade gestacional, maior ser as possibilidades do neonato vir a desenvolver complicaes ou ir a bito. Ao contrrio disso, quanto mais a gestao se aproxima do “termo”, mais as complicaes e a mortalidade diminuem. Conclui-se que, o ndice de complicaes inversamente proporcional idade gestacional. Nos Estados Unidos, estima-se que cerca de 4.240.000 partos ocorreram em 2006; destes, 440.000 foram prematuros, indicando um ndice de prematuridade bastante elevada. Na Europa a prematuridade est em torno de 5 a 8%. No Brasil a incidncia de prematuridade est em torno de 6,6%. Em Joo Pessoa – Para ba, a incidncia gira em torno de 8,7%, de acordo com o Ministrio da Sade. A elevada incidncia de prematuridade nos EUA est associada no a fatores maternos ou fetais; podemos explic-la tomando como base a classificao do recm-nascido quanto idade gestacional, que veremos logo a seguir na OBS2. CLASSIFICA O O parto prematuro pode ser classificado pelo menos de duas formas: quanto inteno do parto (classificao obsttrica) e quanto idade gestacional (classificao peditrica). CLASSIFICAÇÃO QUANTO À INTENÇÃO DO PARTO O parto prematuro pode ser subclassificado como espontâneo ou eletivo (iatrogênico), de forma que, para cada 3 partos prematuros espontneos, ns temos 1 eletivo. Parto espontâneo: o parto espontâneo corresponde a 75% dos partos prematuros, sendo decorrente de fatores maternos, como o quadro de trabalho de parto pr-termo (TPP) ou associado rotura prematura das membranas ovulares (RPMO). Geralmente, o parto espontneo possui causas multifatoriais, que podem indicar a presena de gemelidade, queda hormonal, sangramentos, polidrmnio. Parto eletivo: o eletivo ou iatrogênico est associado indicao do parto pelo mdico diante de doenas maternas, obsttricas e/ou fetais, como o prprio sofrimento fetal. Neste caso, o parto eletivo torna-se uma Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 62 opo quando a gestao impe algum risco para a vida da me ou do feto. A preveno da prematuridade eletiva mais dif cil e se faz, principalmente, por melhoria nas condies maternas pr-concepcionais e durante o pr-natal. Quanto a esta classificao, necessrio tomar nota do seguinte fato: a medicina, nas ltimas dcadas, pouco mudou em termos de teraputica. Diferentemente do que ocorreu no que diz respeito ao campo mdico-tecnolgico, o que pode ser visto nos exames diagnsticos, como a tomografia, a ressonncia magntica, PET-Scan, os raios-X digitais, etc. Toda esta parafernlia tecnolgica tambm alcanou os utens lios da pratica mdica de diversas reas, tais como: respiradores, cnulas, sondas, aspiradores, UTI, etc., bem como o desenvolvimento de materiais cirrgicos mais modernos. Este avano tecnolgico proporcionou uma reduo drstica da mortalidade de prematuros. Isto pode ser percebido quando analisamos o comportamento do ndice de mortalidade de recm-nascidos prematuros, com cerca de 23 a 24 semanas, no Brasil, que chega a taxas de aproximadamente 90%. Em contrapartida, nos EUA, onde esto concentrados os equipamentos mais modernos e efetivos no tratamento desses RN, o ndice de sobrevivncia est em torno de 50%. OBS2: Com isso, podemos concluir a seguinte situao: nos EUA, o feto que nasce com cerca de 34 semanas de gestao, mesmo sendo pr-termo, tem a mesma taxa de mortalidade de um feto a termo, quando comparado com outros pa ses (excetuando-se na vigncia de algumas complicaes, como a membrana hialina, sangramentos, etc.). Deste modo, devido grande base tecnolgica norte-americana, capaz de fornecer ao RN prematuro todo subs dio necessrio para sua sobrevivncia, comum, nos EUA, que os partos em pacientes hipertensas e diabticas sejam antecipados, evitando maiores complicaes maternas e/ou fetais. Sabendo que nos EUA o ndice de obesidade, hipertenso e s ndrome metablica relativamente alto, percebe-se o porqu do fato de o ndice de prematuridade eletiva nos EUA ser bem mais elevado do que em outros pa ses. OBS3: Apesar disso, atualmente, tem-se o ideal objetivo de que, toda gestao, independente do risco, deve ser mantida at o termo sempre que poss vel. Contudo, para isso, necessrio um bom aparato mdico que suporte a me e o feto. Portanto, a o melhor momento para o feto nascer , indiscutivelmente, o termo. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À IDADE GESTACIONAL A prematuridade ainda pode ser classificada levando-se em considerao as primeiras 34 semanas. Sabe-se que um recm-nascido considerado prematuro quando este possui menos que 37 semanas. Quando se encontra abaixo de 34 semanas prematuro precoce, e entre 34 e 37 semanas prematuro tardio. Desta forma, temos: Prematuridadeextrema: 20 – 27 semanas; Prematuridade moderada: 28 – 31 semanas; Prematuridade leve: 32 a 36/7 semanas; Prematuridade tardia: nascimento entre 34 – 36/7 semanas. Esta classificao mais antiga (2003) de prematuridade classificava da seguinte forma: (1) extrema, quando o RN nasce antes de 27 semanas, (2) moderada, entre 28 e 31 semanas e 6 dias e (3) leve, quando o RN nasce depois da 36 semana. Essa classificao importante para avaliar as consideraes ditas anteriormente: “quanto menor a idade gestacional, maior o nmero de complicaes e mortalidade neonatal”. FATORES DE RISCO Apesar de cerca de 50% dos partos no possu rem um fator associado, a identificação de fatores de risco deve ser a primeira estratgia na reduo da incidncia e/ou das complicaes inerentes ao parto pr-termo. Epidemiológicos: Baixo n vel socioeconmico; Ambientais; Nutrio inadequada; Idade materna: extremos de idade impem maiores riscos (considera-se que a melhor poca para engravidar aquela compreendida entre 19 a 23 anos); Estatura materna: quanto mais baixa for a me, maiores as intercorrncias; Peso materno; Estresse f sico e psicolgico; Fumo; Drogas. Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 63 Fatores históricos e obstétricos: Rotura prematura das membranas ovulares: Parto prematuro anterior (considerado o fator de risco mais importante; ver OBS4); Gemelaridade; Multiparidade: geralmente essas pacientes têm idade elevada, com isso favorecendo a ocorrência de alguma patologia obstétrica. As mais comuns são pré-eclampsia, diabetes. Fertilização in vitro; Incompetência cervical; Sangramentos de primeiro e segundo trimestres; Alterações hormonais; Doença hipertensiva específica da gestação (DHEG); Descolamento prematuro de placenta; Placenta prévia; Amniorrexe Prematura; Restrição do crescimento fetal; Polidrâmnio ou oligoidrâmnio; Malformações fetais. OBS4: Dos fatores de risco obstétricos, vale comentar sobre o parto prematuro anterior, uma vez que consiste no fator de risco mais importante. Caso a paciente já tenha histórico de prematuridade anterior, o risco do segundo ou terceiro filho ser prematuro é mais elevado, de modo que a idade gestacional do último parto é o fator que prediz o risco. Para um melhor entendimento, suponhamos o seguinte exemplo: uma paciente tem seu primeiro filho prematuro; entretanto, em sua segunda gestação, o nascimento foi a termo. Com isso, as chances do seu terceiro filho ser a termo é maior, pois é sempre o último parto que prediz a chance de prematuridade. OBS5: Estudos realizados nos EUA em uma pequena cidade (178.000 habitantes), foram analisadas 1000 mulheres. Destas, cerca de 1% das brancas tiveram parto prematuro e 2% as negras. Nas gestações subsequentes, dessas mulheres, observou-se que a recorrência do parto prematuro aconteceu em cerca de 28% dessas mulheres. Destes partos, cerca de 20% resultaram em RN prematuro, mas com idade gestacional superior que a anterior. Apenas 8% tiveram prematuros com idade gestacional menor que a anterior. Com isso, através desse estudo, foi possível estabelecer as seguintes conclusões: Identificada que a causa das elevações da prematuridade nos EUA, que estava associada à indicação médica não ocorrendo de forma espontânea. A taxa de recorrência está em torno de 30 a 35%, ou seja, a maioria das mulheres que tiveram parto prematuro apresentarão, na próxima gestação, a despeito de qualquer tratamento, um parto a termo. A gestação ocorria em idade gestacional mais avançada que o parto anterior; A paciente negra tem 2 vezes mais chances de ter um parto prematuro. A predisposição genética desempenhava um papel de grande importância no parto prematuro espontâneo. Essa predisposição genética é defendida principalmente pelo maior índice de prematuridade nas mulheres negras do que brancas mesmo estas sendo da mesma classe sócio-econômica. Esta predisposição está relacionada ao polimorfismo genético individual de cada raça: a negra, quando acometida por Gardnerella, apresentava contrações que a branca não experimentava. Ginecológicos: Alterações anatômicas do colo uterino; História de amputação do colo uterino; Malformações uterinas; Miomatose. Clínico-cirúrgicos: Infecções; Doenças maternas; Procedimentos cirúrgicos na gravidez. Genéticos: materno e/ou fetal. De um modo geral, a importância dos fatores genéticos está sustentada principalmente na recorrência de partos pré-termos em uma mesma paciente. Além disso, envolve-se a história familiar de prematuridade (mulheres que nasceram prematuras tem maior chance de dá a luz a RN prematuro) e ainda a relação racial explicada na OBS5. Deste modo, apesar de não haver nenhum gene identificado, acredita- se que a recorrência de partos prematuros esteja relacionada com uma possível predisposição genética. Iatrogênicos Desconhecidos Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 64 FISIOPATOLOGIA DO PARTO PREMATURO O parto prematuro pode estar relacionado a quatro bases fisiopatolgicas: (1) instabilidade do eixo hipotlamo- hipofisrio-adrenal (HHA); (2) inflamao ou infeco local; (3) hemorragia tecidual; (4) hiperdistenso uterina, como ocorre no parto gemelar (40% dos casos cursa com prematuridade, principalmente, na forma de prematuridade eletiva) ou no polidrmnio, por exemplo. ESTRESSE MATERNO E FETAL Uma gestante que, por algum fator externo, encontra-se sob estresse emocional fisiologicamente ativa o eixo HHA com liberao de do CRH (hormnio liberador de corticotrofina), que tem por funo estimular a secreo de ACTH pela hipfise. O ACTH por sua vez, estimula a secreo de estrognio e o cortisol. O cortisol, alm de promover a maturao do sistema pulmonar fetal, atua na placenta e estimula a produo do CRH espec fico da placenta, que tem como funo aumentar a produo de prostaglandinas, levando a dilatao cervical e contrao uterina. Com isso, podemos dizer que a exposio ao estresse propicia o trabalho de parto prematuro. Alm disso, o estresse leva a um desequil brio da relao do estrognio/progesterona (E/Pa). Com o aumento desta relao (↑E/Pa), temos: O estrognio estimula a contrao uterina, atravs da mobilizao e aumento da s ntese da actina e miosina. Aumento do influxo de clcio intracelular quando o estrognio se liga aos seus receptores espec ficos no tero, possibilitando o deslizamento do filamento de actina sobre miosina, desencadeando as contraes uterinas. Aumento das conexinas e GAP junctions, permitindo que o potencial se espalhe para todas as clulas, tornando o tero mais excitado e sens vel a contraes. Aumento da s ntese dos receptores de ocitocina. INFECÇÃO Estima-se que cerca de 40% dos partos prematuros estejam relacionados com a ocorrncia de infeces, seja ela infeco do trato urinrio ou vaginal, infeces periodontais, corioamniorite(causa infecciosa mais comum de parto prematuro), entre outras. O processo infeccioso, em n vel do crio e da dec dua, promove uma macia liberao de interleucinas (IL-6, IL-8 TNF-alfa). Estes fatores sinalizam a migrao de clulas polimorfonucleares que (macrfagos e moncitos), que promovem a secreo de proteases, que atuam degradando a matriz extracelular (substncias que tem como funo principal sustentar as fibras de colgeno, identificadas como proteoglicanos) e prostaglandinas. Este mecanismo favorece, portanto, a ocorrncia de parto prematuro. OBS6: Portanto, nas pacientes estressadas, com presena de processo infeccioso, hemorragias deciduais com liberao de protrombina, hiperdistenso uterina, ocorre uma maior formao de GAP junctions levando a um tero mais irritvel, ocorre uma maior ativao do crio e da dec dua com liberao de proteases. Essas proteases, em ao conjunta com as prostaglandinas, promovem contraes uterinas e esvaecimento cervical, o que culmina com o nascimento prematuro. Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 65 TESTES PREDITIVOS DE PARTO PREMATURO Os testes de rastreamento mais estudados e que demonstraram ser mais efetivos e reprodutíveis são: Monitoração das contrações uterinas; Avaliação do comprimento do colo uterino; Pesquisas de marcadores bioquímicos específicos, sendo a fibronectina fetal (fFN) a mais utilizada. MONITORAÇÃO DAS CONTRAÇÕES UTERINAS A atividade uterina está presente durante toda a gravidez. A presença de quatro ou mais contrações por hora em idade gestacional (IG) menor ou igual a 30 semanas, ou seis ou mais contrações por hora em IG acima de 30 semanas, demonstra maior risco de parto pré-termo. A monitorização das contrações uterinas é mais eficaz em pacientes sintomáticas, podendo ser uma arma importante para excluir o falso trabalho de parto prematuro, evitando medidas e/ou internação desnecessárias. AVALIAÇÃO DO COMPRIMENTO DO COLO UTERINO O encurtamento cervical e a abertura do orifício interno (OI) podem ter início semanas antes do TPP. Essas alterações resultam de modificações bioquímicas do tecido cervical. Essas alterações são detectadas, clinicamente, pelo toque vaginal seriado. Contudo, a ultrassonografia (US) endovaginal fez com que o exame do colo uterino se tornasse mais eficaz, fornecendo maior acurácia preditiva em comparação ao toque vaginal. Recente editorial sugere que a avaliação cervical seja realizada entre a 22ª e a 24ª semanas, na mesma ocasião em que se realiza a US morfológica fetal, uma vez que o colo curto, nesse momento, deveria ser visto como um fator de risco a ser pesquisado, e não como um teste de predição. MARCADORES BIOQUÍMICOS Dentre os vários marcadores bioquímicos, a fibronectina fetal (fFN), uma glicoproteína de alto peso molecular produzida pelo trofoblasto, cuja função é assegurar a aderência do blastocisto à decídua, é o mais utilizado. Normalmente, a fFN está presente no conteúdo cervicovaginal durante as primeiras 20 a 22 semanas de gestação. Após a 22ª semana, ocorre a fusão do âmnio com o córion e a fFN desaparece da vagina, reaparecendo após a 36ª semana (a presença da fFN entre a 24ª e a 36ª semanas aumenta o risco para o parto pré-termo, geralmente denotando a presença de infecção ou lesão). OBS7: A fFN e a medida do comprimento do colo uterino pela US endovaginal apresentam valores preditivos equivalentes. Entretanto, quando os dois métodos são, simultaneamente, associados, o poder de predição é maior CONDUTA TERAPUTICA No que diz respeito à assistência médica aos grupos de risco para parto prematuro, devemos tomar conhecimento da classificação de Hobel que estabelece quatro estágios evolutivos, sendo que nos estágios I, II e III, as medidas preventivas tornam-se mais largamente utilizadas. Estagio I: pacientes com presença de fatores de risco; Estágio II: pacientes que apresentam contrações uterinas sem dilatação cervical (útero irritável); Estágio III: pacientes que apresentam contrações uterinas e dilatação cervical (ou seja, constitui a fase ativa do parto prematuro); Estágio IV: pacientes que se encontram em trabalho de parto prematuro, entretanto, o mesmo se encontra avançado, de modo que as medidas neste caso se resumem a assistência ao nascimento, no intuito de minimizar a morbidade, e medidas profiláticas. ESTÁGIO I No estágio I, situam-se as gestantes com fatores de risco para o parto prematuro. Nesse estágio, o importante é a boa assistência pré-natal, que deve ser a mais completa possível, com a participação de profissionais da área da saúde relacionados aos problemas mais comuns. A rotina do médico obstetra nesses casos está baseada nas seguintes etapas: Orientação nutricional e psicológica. Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 66 Orientaes quanto aos hbitos de higiene, evitando, assim, as vulvovaginites e corioamnionites Interromper uso de drogas il citas e fumo. Diagnstico e tratamento das intercorrncias cl nicas como infeco do trato urinrio (ITU), leucorria, etc. O exame ultrassonogrfico deve ser realizado o mais precocemente poss vel, a fim de se estabelecer com preciso a idade gestacional e diagnosticar situaes de risco, como a presena de malformaes uterinas, miomas e gestao gemelar. Alm disso, a avaliao ultrassonogrfica endovaginal em todas as gestantes, entre 22 e 24 semanas, por ocasio da ultrassonografia morfolgica, imprescind vel para a avaliao o comprimento do colo uterino, seria uma conduta pertinente. Quando o colo longo, a paciente de baixo risco; em contrapartida, quando o colo curto (menor que 20 mm), representa um alto risco e necessita de cuidados espec ficos. Circlagem uterina Indicaes de progesterona natural Circlagem Uterina. A circlagem uterina consiste em um procedimento utilizado para o tratamento das pacientes com tero incompetente, ou seja, quando o colo no tem a capacidade de manter o feto. Tal procedimento consiste na sutura e reforo do tero incopetente. Entretanto no se deve preconizar, rotineiramente, circlagem nas anomalias uterinas congnitas (tero didelfo, bicorno e septado). Nessa situao, sugere-se avaliação cervical rotineira entre 12 e 23 semanas de gestao. Caso haja encurtamento do colo, indica-se o mesmo procedimento Progesterona Natural. A progesterona natural est indicada basicamente em trs situaes: (1) histrico de parto prematuro anterior, (2) pacientes com mal-formaes uterinas, (3) pacientes que na USG apresentam um colo com comprimento menor que 20 mm. A progesterona natural pode ser utilizada entre 16 e 36 semanas, em doses de 100 a 400mg/dia, por via vaginal, ou de 100 a 200mg, trs vezes ao dia, por via oral. Os dois esquemas teraputicos reduzem a incidncia de prematuridade na populao de alto risco em torno de 50%. Nas duas formas de administrao, deve ser empregada a progesterona micronizada. A indicao de progesterona no feita por reduo dos n veis plasmticos da gestante, mas sim, devido aos seguintes efeitos: Diminui os receptores de estrognio uterinos, com isso impedindo o efeito contrtil deste hormnio sobre o tero. Inibe os receptores de ocitocina impedindo a contrao Aumenta a s ntese dos beta-receptores, com isso a administrao de drogas beta-adrenrgicas promove um miorelaxamento uterino Diminui o clciotranscelular impedindo sua reteno no ret culo sarcoplasmtico, no havendo contrao promovida pela actina e miosina. A progesterona atualmente considerada uma droga segura tanto para me como para o feto, no possuindo efeitos hemodinmicos, no predispondo a hipertenso materna, e ainda no tem efeitos sobre a glicemia (diabetes). Tratamento das vaginoses. Apesar de no haver fortes evidncias cient ficas de que o rastreamento de vaginose reduz a incidncia de parto prematuro na populao em geral, no grupo de risco pode haver algum benef cio em rastrear e tratar gestantes assintomticas que apresentaram partos prematuros em gestaes anteriores. Na vaginose, ocorre substituio dos lactobacilos por anaeróbios Gram-negativos, que so: Gardnerella vaginalis; Peptoestreptococci; Mycoplasma hominis; Ureaplasma urealyticum; Bacteroides sp; etc. O contedo vaginal se torna mais alcalino (pH ≥ 5,0) e surgem corrimento vaginal branco acinzentado e odor de amina. O diagnstico pode ser presumido pelo exame especular, por meio da medida do pH com fita apropriada, aplicada entre 2 e 3cm do introito vaginal, na parede lateral da vagina, e pela presena de odor de amina de peixe, que se desprende quando uma gota do contedo vaginal misturada com uma gota de hidrxido de potssio a 10%. A anlise microscpica do contedo vaginal, pelo Gram, o mtodo definitivo de diagnstico com o aparecimento das células-pista (clue-cells). O tratamento dever ser semelhante ao preconizado em gestantes sintomticas: metronidazol via oral (250mg, 3 vezes ao dia, por 7 dias, ou 500mg, 2 vezes ao dia, por 7 dias) ou clindamicina via oral (300mg, 2 vezes ao dia, por 7 dias) e/ou local durante 7 dias. OBS8: O Centers for Disease Control and Prevention (CDC), nos Estados Unidos, sugere que o rastreamento em gestantes com antecedentes de parto pr-termo, caso seja realizado, deve ser feito na primeira consulta, e o tratamento comea na mesma ocasio. Deve ser realizado controle pós-tratamento aps um ms da terapia. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 67 OBS9: É importante que as gestantes de risco tenham conhecimento dos sintomas e sinais do trabalho de parto, como: Aparecimento de contrações uterinas regulares durante pelo menos uma hora, mesmo que indolores; Sensação de peso no baixo-ventre; Alteração no fluxo vaginal. ESTÁGIO II O estágio II é caracterizado pelos eventos bioquímicos envolvidos com TPP. A contratilidade uterina é anormal, mas as alterações cervicais podem ser pequenas ou mesmo estarem ausentes. O aparecimento de contrações uterinas sem repercussão cervical é denominada de útero irritável, situação em que a gestante deverá ser mantida em repouso, podendo receber progesterona natural e/ou ser sedada (Diazepan, via oral, 5mg/dia, 12/12 horas ou 10mg à noite). Nessas pacientes é pertinente a avaliação da existência de infecção do trato urinário, avaliar o perfil psicológico especialmente naquelas pacientes com partos prematuros anteriores, avaliar a vitalidade do feto, devido ao risco de sofrimento, orientar sobre a interrupção do ato sexual devido ao orgasmo (promove contração uterina). Estudos demonstraram a eficácia da utilização da progesterona natural na dosagem de 100 a 200mg por via vaginal, acreditando que esta teria um efeito quiescente sobre o útero, e além disso, diminuindo a ansiedade e acalmado a gestante. As intercorrências clínicas, quando presentes, devem ser tratadas especificamente, e, pela frequência elevada, as ITU e vaginais devem ser sempre investigadas. Em gestantes sem US prévia, é imprescindível a realização desse exame, com a finalidade de avaliar: IG; estruturas anatômicas; crescimento fetal. Desde que haja viabilidade (IG igual ou superior a 26 semanas), deve-se analisar a vitalidade fetal. Neste estágio, a avaliação ultrassonográfica endovaginal e/ou a fibronectina fetal (OBS9) servem para evitar internações desnecessárias, bem como tocólise e corticoides para maturar o pulmão fetal. ESTÁGIO III Contrações rítmicas e eficazes, com modificação significativa do colo uterino, caracterizam este estágio, ou seja, o clássico trabalho de parto pré-termo (TPP). O estágio III deve ser devidamente diferenciado do estágio II (isto é: diferenciar um quadro de útero irritável de um trabalho de parto prematuro, propriamente dito), o que nem sempre é fácil. Para isso, devemos lançar mão da pesquisa da fibronectina fetal (fFN) que, como vimos anteriormente, é uma glicoproteína presente na interface materno- fetal que não é encontrada na vagina após a 22ª semana. Contudo, antes do início do trabalho de parto, suas concentrações vaginais começam a aumentar. Serve, portanto, como um teste eficaz de rastreamento de trabalho de parto. O feto é responsável pela produção da fFN, que tem como função promover a fixação do córion fetal à decídua materna (endométrio), auxiliando na adesão entre suas células. O fato dela não ser encontrada na vagina após a 22ª semana de gestação é explicado pela adesão do saco gestacional à parede do útero, que ocorre, de modo mais efetivo, por volta da 20ª semana. Caso ela seja encontrada neste período, devemos suspeitar da presença de lesões de continuidade, de processos inflamatórios ou, então, a rotura da bolsa das águas. É importante salientar que a fFN não faz parte do mecanismo normal do trabalho de parto prematuro. Como vimos anteriormente, quando ela apresenta concentrações vaginais entre a 24ª e a 36ª semana, denota a existência de alguma intercorrência na interface materno-fetal, como processos inflamatórios ou infecciosos. Contudo, como vimos a propósito da fisiopatologia do parto prematuro, o processo infeccioso é um importante fator de prematuridade. Por isso, diz-se que a fFN é um marcador de infecção, o que predispõe à prematuridade. Portanto, para diferenciar o estágio II do estágio III devemos avaliar a presença de fFN ao exame especular: se esta estiver presente, a chance do bebê nascer é eminente, sendo necessário iniciar investigações mais precisas para o diagnóstico de trabalho de parto; quando ausente, indica que a paciente não está em trabalho de parto, tendo um valor preditivo negativo elevado. As medidas preventivas adotadas para o estágio III são tocólise (no intuito de evitar as contrações uterinas) e utilização de corticóide (para maturação do pulmão fetal), até a 34º semana. Entretanto, para o início do tratamento proposto, é necessário a identificação do verdadeiro trabalho de parto, que pode ser feito através do exame especular, avaliando a presença ou ausência da fibronectina, ou ainda através dos critérios citados abaixo: Contrações uterinas regulares a cada 5 minutos; Dilatação cervical de pelo menos 1 cm; Esvaecimento cervical (encurtamento do colo uterino) e/ou progressão das alterações cervicais. OBS10: Para o diagnóstico diferencial em casos duvidosos, é importante que a gestante permaneça em repouso durante 2 a 3 horas para observação clínica. A pesquisa de fFN no conteúdo vaginal, ou mesmo a avaliação do comprimento cervical por via endovaginal, podem auxiliar no diagnóstico diferencial. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 68 Tocólise (uterolíticos). A toclise significa inibio da contrao uterina. Entre as drogas tocol ticas mais comuns temos: Antagonistas dos canais de clcio, Sulfato de magnsio, Beta-agonistas, Antagonistas das ocitocinas, Inibidores da s ntese de prostaglandinas. Os principais objetivos para utilizao da toclise so: Postergar o parto por, pelo menos, 48 horas, para que os glicocorticides administrados me possam atingir o seu mximo efeito; Permitir transporte seguro da me, caso seja indicado, para centro tercirio que possua um n vel adequado de assistncia neonatal, se o parto ocorrer; Prolongar a gestao quando houver condiesautolimitadas subjacentes que comprometem o trabalho de parto, como pielonefrite ou cirurgia abdominal, e puderem ser tratadas adequadamente, evitando a recorrncia do TPP. Antes de se instituir a teraputica inibitria, deve-se estar atento s indicaes e contraindicaes da toclise. As principais indicaes para o uso de tocol ticos so: Per odo de latncia longo do trabalho de parto (dilatao cervical < 3cm); Esvaecimento no pronunciado: por nota, esvaecimento significa encurtamento do colo uterino, de modo que a distncia entre o stio uterino interior e o externo diminui; IG entre 22 e 34 semanas e 6 dias; Ausncia de contraindicaes. Por sua vez, a toclise contraindicada nos casos em que h: Morte fetal; Sofrimento fetal; Malformaes fetais incompat veis com a vida; Restrio do crescimento fetal; Rotura da bolsa das guas (ver OBS11); Infeco amnitica; Descolamento prematuro de placenta; Placenta prvia sangrante; S ndromes hipertensivas; Diabetes melito (DM) tipo 1 instvel; Cardiopatias; Hipertiroidismo descompensado; Anemia falciforme. OBS11: Como a rotura prematura da bolsa das guas est relacionada a um alto ndice de infeco periparto, est contra-indicada a toclise, uma vez que necessrio retirar o beb diante de tal processo, assim como sempre necessrio drenar qualquer coleo decorrente de uma infeco. Aps a administrao da medicao, a paciente deve ser hospitalizada e mantida em repouso no leito, e as seguintes providncias e avaliaes devero ser realizadas: Vitalidade fetal: desde que haja viabilidade fetal, realiza-se a cardiotocografia fetal; com essa medida, tambm so monitorizadas as contraes; US: para confirmar a apresentao fetal, analisar o volume de l quido amnitico, estimar o peso fetal e a IG e pesquisar poss veis malformaes fetais; Exame bacterioscópico e culturas do contedo vaginal (aerbios e anaerbios), cultura de contedo vaginal e anal para o estreptococo do grupo B, coleta do contedo cervical para pesquisa de Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoea; caso seja imposs vel realizar esses exames, deve-se atentar para a possibilidade de colonizao pelo estreptococo do grupo B e indicar sua profilaxia; Acesso venoso e exames laboratoriais: hemograma, anlise de urina tipo I e cultura de urina. 1. Beta-Adrenérgicos. A Terbutalina (Bricanyl) a droga de escolha e deve ser utilizada no seguinte esquema teraputico. Preparao: diluir cinco ampolas (1amp = 0,5 mg) em soro glicosado a 5% (500mL); Dose inicial: 2,5μg/min (10 gotas/min). Aumentar 2,5μg/min (10 gotas/min) a cada 20 minutos se a contrao no parar at um mximo de 80 gotas/min (20μg/min); Manuteno: obtida a dose m nima capaz de cessar as contraes (volume mximo efetivo), mantm-se o gotejamento por 24 horas. Aps as 24 horas de administrao do medicamento, diminuem-se 10 gotas gradativamente a cada 20 minutos, at a suspenso total. Caso as contraes retornem, o esquema teraputico descrito acima deve ser repetido. Caso contrrio, a paciente poder receber alta. 2. Antagonistas da ocitocina. Estes frmacos so anlogos inativos da ocitocina e competem com ela por seus receptores, inibindo a contrao uterina. O Atosiban a nica droga dispon vel no mercado desta classe. um pept deo sinttico que age competindo com a ocitocina no seu receptor da clula miometrial e reduz os efeitos fisiolgicos desse hormnio. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 69 É efetivo na diminuição significativa das contrações uterinas, apresentando efeitos colaterais maternos mínimos, como náuseas, cefaléia, vômitos, tonturas, taquicardia e hipotensão arterial. Os resultados perinatais e neonatais, até o momento, foram semelhantes aos descritos para os beta-agonistas. Inicialmente: dose de 0,9mL (6,75mg) injetada diretamente na veia durante um minuto (bolus); Manutenção: infundem-se duas ampolas de 5mL em 90mL de SG 5% (solução de 100mL), IV, durante três horas, na velocidade de 24mL/hora (300mg/min) em bomba de infusão; posteriormente, infundem-se os 28mL restantes da solução anterior em 3 horas e meia, na velocidade de 8mL/hora, totalizando 6 horas e meia; antes de continuar com a administração do fármaco, deve-se monitorar as contrações uterinas; Persistência das contrações: mantém-se a solução IV de 90mL de SG 5% com duas ampolas de 5mL de atosiban na velocidade de 8mL/hora. O esquema proposto acima pode ser repetido por até duas vezes, entretanto caso ainda haja persistência das contrações, deve-se avaliar o colo, identificando mudanças do mesmo, presença de ITU. Entretanto cerca de 80% das contrações cessam na fase de manutenção. 3. Bloqueadores dos Canais de Cálcio. Os bloqueadores de canais de cálcio inibem a entrada do cálcio extracelular através da membrana citoplasmática, impedem a liberação do cálcio intracelular do retículo sarcoplasmático e aumentam a saída do cálcio da célula miometrial. Habitualmente, é utilizada a Nifedipina na dose inicial de 30mg por via oral, seguida de 20mg, também por via oral, a cada 8 horas. Os efeitos colaterais maternos mais comuns são enrubescimento facial, náuseas e cefaléia. Outro esquema bastante utilizado é o seguinte: Dose de ataque: 10mg via oral/20 minutos/4 doses 40 mg via oral (4 cápsulas) Manutenção: 20mg via oral/4 doses/24 horas 80mg via oral (4 cápsulas) 4. Sulfato de Magnésio. O sulfato de magnésio compete com o cálcio, impedindo a sua entrada pela membrana da célula miometrial. A dose utilizada é de 4g diluídos em soro glicosado a 10% por via intravenosa (IV) em 20 minutos, como dose de ataque, seguidos de 2 a 3g/hora até cessarem as contrações uterinas. Em resumo, temos: Dose de ataque: 4 doses de 10 mg via oral 40 mg Manutenção: 1º Dia: 4 doses de 20 mg via oral 6/6 horas 80 mg 2º Dia: 3 doses de 20 mg via oral 8/8 horas 60 mg 3º Dia (alta): 3 doses 10 mg via oral 8/8 horas 30 mg Corticóide Terapia. O melhor esquema utilizado se dá com a Betametasona 12mg ao dia, por via intramuscular, com intervalo de 24 horas, em um total de duas aplicações. O efeito máximo tem início após 24 horas da segunda dose e persiste por 7 a 14 dias no máximo, promovendo uma boa maturação pulmonar. Uma alternativa terapêutica é a utilização de Dexametasona 6mg 12/12 horas até uma dose total de 24mg, ou seja, durante dois dias. Podemos ainda fazer a dexametasona no mesmo esquema da Betametasona. Após a interrupção das contrações uterinas, e administração dos corticóides a paciente pode ser liberada e receber alta. Alguns estudos demonstram que a utilização de progesterona natural pode contribuir para a redução das contrações, podendo ser utilizada 200mg por via intra-vaginal. ESTÁGIO IV Exceto pela profilaxia do estreptococo do grupo B, nesse estágio adota-se mais uma conduta assistencial ao TPP (trabalho de parto prematuro). Profilaxia para Estreptococos do Grupo B. O estreptococo do grupo B (Streptococcus agalactiae) coloniza a vagina e o reto de 10 a 40% de todas as mulheres grávidas. Essa colonização pode ser transitória, crônica ou intermitente, essas pacientes tem uma predisposição a ter essa bactéria na flora, mesmo sem estar infectada, por isso o tratamento dessas pacientes não gera uma erradicação total. Nas gestantes colonizadas o risco de desenvolver infecção precoce está em torno de 25%. A transmissão vertical (TV) ocorre, na maioria das vezes, no canal de parto, constituindo-se no principal agente responsável pela septicemia neonatal precoce (infecção neonatal), principalmente no prematuro. A infecção por essas bactérias está envolvida como a principal causa infecciosa de morbidade e mortalidade neonatal. Pode provocar uma infecção precoce, quando ocorre transmissão vertical, ou ainda tardia que se manifestade 7 a 89 dias após o parto, através de pneumonias e meningites. Recomenda-se que seja realizada a pesquisa do estreptococo do grupo B na vagina e no reto durante o terceiro trimestre, entre 35 e 37 semanas. A identificação da bactéria é feita através de cultura específica. Nos casos de Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 70 impossibilidade de realização da cultura devem-se identificar alguns fatores de risco (história de RN infectado por estreptococos do grupo B, bacteriúria positiva para estreptococos, febre maior que 38º no momento do parto, parto prematuro, bolsa rota por mais de 18 horas), casos estejam presentes, independente se a paciente é ou não colonizada, é pertinente a indicação de antibiótico no momento do parto. Nas pacientes colonizadas devem-se administrar antibióticos no intraparto para evitar a passagem de bactérias do canal vaginal para o feto. Ou seja, o tratamento durante a gestação não tem nenhum efeito benéfico, pois, já a paciente pode ser colonizada de forma crônica, ou ainda, intermitente, significando que a colonização irá voltar dentro de pouco tempo. Por isso para a mãe o antibiótico é feito no intra-parto. Assistência ao Trabalho de Parto. Nessas pacientes, estágio IV, foi visto que a ocorrência do parto prematuro é inevitável, com isso algumas medidas devem ser adotadas e outras evitadas para garantir um parto bem sucedido, garantindo a vitalidade fetal. Entre as principais medidas temos: Evitar fórceps profilático Amniotomia Tardia Episiotomia Ampla Clampeamento do Cordão Umbilical evitando ordenha da placenta, pois pode gerar hemólise maciça, e provocar hiperbilirrubinemia neonatal. Nas apresentações cefálicas fletidas com peso superior a 1,5 kg, pode ser realizado através de parto normal, nas apresentações defletidas com peso menor que 1,5 kg, a melhor via de parto é abdominal. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 71 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. OBSTETRÍ CI A AMNIORREXE PREMATURA (Professor Eduardo Borges) A ruptura prematura das membranas ovulares (RPMO) tambm conhecida pelo termo amniorrexe prematura. Em outras palavras, podemos definir amniorrexe prematura como o rompimento das membranas corinicas e amniticas antes do in cio do trabalho de parto normal. Como se sabe, as membranas ovulares so compostas de dois folhetos, um interno, em contato com o l quido amnitico, denominado âmnio, e outro externo, denominado cório. As membranas ovulares, assim constitu das permanecem ntegras at o in cio do trabalho de parto. A sua rotura antes deste evento constitui a RPMO, o que requer algumas providncias por parte do obstetra. Tal situao coloca a cavidade amnitica em contato com os microrganismos que podem ser encontrados na vagina, propiciando desta forma a contaminao do feto ainda dentro da cavidade uterina. A amniorrexe prematura no tem ligao nenhuma com a idade gestacional, sendo classificada como “prematura” apenas pela sua relao ao in cio do trabalho de parto. Pode ser, com isso, classificada como amniorrexe prematura a pr-termo (quando acontece antes da 37 semana) ou a termo (quando acontece aps a 37 semana). EPIDEMIOLOGIA A incidncia de rotura prematura de membranas, acontece em aproximadamente 10% das gestaes de acordo com os seguintes trabalhos: Crepin (11%); Gunn (10,7%); Riviere (9,06%). Em 90 a 97% destes casos, ela acontece aps a 30 semana de gestao, sendo responsvel por aproximadamente 1/3 de todos os partos prematuros ETIOLOGIA As mais diversas teorias tm sido propostas para explicar o rompimento das membranas ovulares, mas de qualquer forma, a causa pode ser subordinada a fatores mecnicos, enzimticos, bacterianos e histolgicos. Dentre as principais causas, destacamos: Hiperdistenso uterina: polidramnio, gemelaridade, etc. Incompetncia cervical; Deficincia de colgeno; Iatrognica (durante a circlagem uterina, por exemplo); Tabagismo; Dficit nutricional; Histria prvia ou familiar (teoria da predisposio gentica); Infeco intrauterina. COMPLICAES DA AMNIORREXE PREMATURA Como consequncia maior e mais temida, tem-se o risco da prematuridade sempre que a rotura das bolsas ocorra antes de 37 semanas. S ndrome da angstia respiratria (doena da membrana hialina) e hemorragias ventriculares. Risco de infeco fetal e/ou materna, e todas suas consequncias. Hipoplasia pulmonar, principalmente quando a ruptura muito precoce, de modo que impea o desenvolvimento natural dos pulmes. O prolapso de cordo poder ocorrer nas situaes em que a rotura das membranas ocorra quando a apresentao fetal ainda alta. Neste caso, tambm sero mais frequentes as apresentaes anmalas. Sofrimento fetal por compresso do cordo umbilical. Instalao de distcias dinmicas, que comumente acabam em resoluo por via alta. Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 72 OBS1: Existe uma patologia gentica autossmica recessiva conhecida como Sequncia de Potter, em que a criana nasce com aspecto envelhecido, com pequena estatura, implantao baixa das orelhas, afastamento dos eixos oculares, agenesia renal e visceromegalias, o que tambm causa hipoplasia pulmonar por compresso. Neste caso, a hipoplasia pulmonar tambm pode ser explicada pela agenesia renal, que resulta em pouco l quido amnitico e pouco espao para desenvolvimento pulmonar. De um modo geral, podemos afirmar que a complicao fetal mais temida a prematuridade (como vimos, 1/3 dos partos prematuros so causados por amniorrexe prematura). Contudo, a complicao materna mais temida a infeco (corioamnionite), o que pode acometer o miomtrio (miometrite), evoluindo para uma sepse ou para a necessidade de uma histerectomia total abdominal. CONDUTA Diante de uma paciente com suspeita de ruptura prematura de membranas, alguns questionamentos devem ser impostos: “Realmente existe uma ruptura precoce? Qual a idade gestacional? Existe algum processo infeccioso? Como est o beb?”. Portanto, para o manejo de uma paciente com amniorrexe, devemos realizar quatro procedimentos bsicos: Confirmar o diagnstico de amniorrexe prematura; Avaliar a idade gestacional; Descartar infeco; Avaliar a vitalidade fetal. DIAGNÓSTICO A principal evidncia de que tenha ocorrido a rotura das membranas ovulares a evidente de perda de l quido amnitico por via vaginal. Porm em certas situaes esta perda no to evidente, de modo que deve-se lanar mo de recursos subsidirios para se chegar a confirmao do diagnstico, tais como: Exame especular para avaliar a presena de l quido amnitico, sendo este exame sensibilizado com a manobra de Valsava. Avaliao do pH vaginal: sendo o l quido amnitico alcalino, e o meio vaginal cido, a alterao deste ltimo, seria um indicativo de rotura ovular. A cristalizao do muco cervical, que no ocorre normalmente durante a gestao, pode apresentar esta caracter stica desde que haja ocorrido a rotura das membranas ovulares. Este teste pode ser feito utilizando uma esptula e colhendo material vaginal, o qual dever ser aquecido em bico de Bunsen e avaliado em microscopia ptica. O teste positivo quando o materialpassa a apresentar um aspecto arboriforme, como uma samambaia. A presena de clulas de escamao fetais no contedo vaginal (células orangirófilas - coradas em alaranjado pelo azul do Nilo a 0,1%) seria o indicativo do diagnstico. Avaliao ultrassonogrfica. Outros testes bioqu micos: avaliao da alfa-fetoprote na, fibronectina fetal, etc. Os testes bioqu micos, contudo, so mais caros. Na prtica mdica, devemos iniciar com exame f sico especular, solicitando que a paciente tussa ou faa qualquer outra manobra que aumente a presso intraabdominal. Se houver a sa da de l quido, tem-se a confirmao diagnstica. Caso contrrio, devemos lanar mo da pHmetria vaginal ou na ultrassonografia. SINAIS DE INFECÇÃO MATERNA Confirmado o diagnstico, necessrio afastar a suspeita de infeco materna. Para isso, devemos considerar os seguintes pontos: Temperatura corporal superior a 37,8C Taquicardia materna ou fetal Secreo purulenta ou ftida escorrendo pela vagina Toque do colo doloroso Ausncia dos movimentos respiratrios fetais Leucocitose > 15000 com desvio para a esquerda (predominncia de clulas jovens no sangue perifrico) ou com aumento de maior que 20% com relao ao leucograma anterior. CONDUTA TERAPUTICA Diante de uma situao de amniorexe, a paciente deve ser internada, e observada em regime hospitalar. A indicao de antibioticoterapia profiltica e curativa vai depender de cada situao, onde devero ser observados principalmente tempo desde o momento da rotura, bem como as caracter sticas do liquido amnitico, principalmente o odor. Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 73 Dependendo da idade gestacional, os conceitos bsicos de tratamento tm rumos diferentes. Desta forma temos: Se a ruptura prematura ocorre com menos do que 34 semanas, no h infeco ou trabalho de parto, com boa vitalidade fetal, a conduta pode ser expectante. Caso haja atividade uterina, podemos administrar corticoterapia preventiva. Se a ruptura prematura ocorre com menos de 34 semanas e a paciente apresenta atividade uterina vigorosa (trabalho de parto), infeco (coriomanionite) ou vitalidade fetal comprometida, com administrao devemos proceder com a resoluo da gestao. Entre 34 e 37 semanas de gestao a conduta pode ser expectante, ou resolutiva. Acredita-se que a partir desta poca a corticoterapia no tem mais razo de ser realizada. Aps 37 semanas de gestao, est indicada a interrupo da gravidez, ou seja atravs de induo ou atravs de uma cesrea segmentar transversa. CONDUTA EXPECTANTE Na maioria dos servios, a conduta expectante termina na 34 semana de gestao (da a importncia de calcular a idade gestacional). Na ocasio da conduta expectante, devemos proceder do seguinte: Regime de internao hospitalar; Realizar exame especular: coleta de secreo para cultura de estreptococo do grupo B; Hemograma a cada 2 ou 3 dias (de preferncia, 3 vezes por semana para avaliar uma eventual mudana de leucograma); Avaliar a vitalidade fetal a cada 2 ou 3 dias, atravs do perfil biofísico fetal, por meio da cardiotocografia (que avalia as contraes e a frequncia card aca fetal) e da ultrassonografia (avalia os movimentos do feto, a quantidade de l quido amnitico e tnus fetal). Portanto, devemos avaliar os seguintes parmetros: movimentos respiratrios, frequncia card aca, movimento corporal do feto, tnus e quantidade de l quido amnitico. Corticoterapia: utilizada em alguns locais com o intuito de promover o aumento da s ntese de surfactante pulmonar fetal. Caso seja necessrio, podemos optar pela Betametasona 12mg ao dia, por via intramuscular, com intervalo de 24 horas, com dose mxima de 24mg. A corticoterapia s dever ser feita at a 32 ou 34 semana e se no houver sinais de infeco. O maior objetivo da corticoterapia a preveno da hemorragia ventricular fetal e da s ndrome da angustia respiratria. Deve-se fazer apenas um ciclo de corticide por no mximo 7 dias. O ideal que o parto ocorra 24 horas aps a administrao do corticide (caso contrrio, o efeito do corticide minimizado). Antibioticoprofilaxia: Ampicilina por 3 a 7 dias ou Eritromicina endovenosa por 2 a 7 dias ou Amoxacilina, etc (ver OBS2). H, contudo, controvrsias na literatura sobre a real necessidade de antibioticoprofilaxia. O objetivo da antibioticoprofilaxia reduzir a morbidade infecciosa materno-fetal e aumentar o per odo de latncia (per odo entre a ruptura da bolsa e o trabalho de parto). O uso de antibitico feito, portanto, para melhorar os efeitos adversos da prematuridade sobre o feto. Toclise em casos bem indicados, embora a maioria dos trabalhos contra-indique esta prtica, uma vez que a mulher com amniorrexe prematura apresenta um alto ndice de infeco – condio em que a retirada do feto deve ser eminente (e a toclise prejudicaria o parto). Alm disso, vrios trabalhos mostraram que a toclise no melhora o prognstico materno. Ela seria indicada apenas no intuito de obter benef cios da corticoinduo. Antigamente, se indicava a toclise quando havia necessidade de transporte da paciente para outro centro. Contudo, atualmente, muito pouco se indica a toclise na vigncia de uma amniorrexe prematura sob pena de postergar uma infeco importante, de modo que seria mais interessante transportar a criana fora do tero materno, mas em incubadoras modernas. OBS2: Nunca devemos usar Amoxacilina com cido clavulnico, uma vez que este predispe a uma complicao muito temida nos casos de prematuridade, que a enterocolite necrotizante. Devemos dar preferncia pela Eritromicina endovenosa e oral, muito embora este medicamento endovenoso seja pouco dispon vel. RESOLUÇÃO DA GRAVIDEZ A resoluo da gravidez dever ser uma opo plaus vel no caso de uma amniorrexe prematura com mais de 37 semanas de gestao ou com menos, contanto que haja coriomanionite. De fato, sempre que houver infeco na me ou no feto, imperativa a finalizao da gravidez, independente da idade gestacional. Neste caso, devemos realizar antibitico-induo com Ampicilina (2g, IV, de 6/6h), Gentamicina (1,5mg/kg de 8/8h ou 240mg em dose nica) e Metronidazol (500mg IV de 8/8h, indicada aps o clampeamento do cordo). Este esquema tr plice importante pois a flora vaginal multibacteriana, da a necessidade de utilizar a Ampicilina (para cobrir Gram-positivos), a Gentamicina (para cobrir Gram-negativos) e o Metronidazol (para cobrir germes anaerbios). O esquema deve ser mantido por 48 horas aps o ltimo pico febril ou por 48 horas aps o parto. 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