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1 Literatura Brasileira Teleaula 1 Profa. Me. Gisele Thiel Della Cruz Organização da Teleaula � Antonio Candido – sistema literário brasileiro � A literatura brasileira – especificidades e diálogos � A literatura informativa � O Barroco � O Arcadismo Contextualização A Literatura como Sistema – Antonio Candido � Antonio Candido em Formação da literatura brasileira: momentos decisivos (1957) � Elege o Arcadismo e o Romantismo como “os momentos decisivos” da formação da literatura brasileira � A partir do século XVIII surgem as condições necessárias para a constituição de nossa literatura “A existência de um conjunto de produtores literários, mais ou menos conscientes do seu papel; um conjunto de receptores, formando os diferentes tipos de público, sem os quais a obra não vive; (...) 2 (...) um mecanismo transmissor (de modo geral, uma linguagem, traduzida em estilos), que liga uns a outros. O conjunto dos três elementos dá lugar a um tipo de comunicação inter-humana, a literatura, que aparece, sob este ângulo, como sistema simbólico”. � Para Candido – sistema – obras ligadas por denominadores comuns � Permitem reconhecer notas dominantes de uma época � O sistema literário – constituído de autor, obra literária e público, toma forma no Arcadismo e no Romantismo � Consolidação da literatura com Machado de Assis Primeiras Manifestações Literárias � O sistema colonial brasileiro � Organização das capitanias hereditárias e do governo-geral � Estrutura administrativa e controle da metrópole � Dificuldade de produção manufatureira � Falta de circulação de periódicos, inexistência de bibliotecas e ensino desestruturado 3 � Não há um sistema literário como o proposto por Candido � Mas há literatura � José Castello – dificuldades: falta de comunicabilidade; circunstâncias de ordem material (editoração e bibliotecas); ausência de público leitor Conceitualização A Literatura Informativa � Nelson Werneck Sodré – literatura colonial – conhecimento da terra � Sentimento nativista – diferencial do que se produzia aqui e o que se produzia na Europa � Na concepção de Candido – visão religiosa e a visão transfiguradora – estatura de lenda e Contornos de maravilha � Exemplos: a carta de Caminha e a intenção religiosa – propagar a fé � Anchieta – trabalhos de propagação da fé e facilitadores da conversão indígena: Gramática (1592) da língua tupi e Na festa de São Lourenço (1583) – Autos 4 � Pero de Magalhães Gândavo (1540-1580) – História da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil (1576) – descrição da banana � Essa estética forjou o arcabouço estilístico do Barroco – início com Bento Teixeira: Prosopopeia (1601) O Barroco – 1601-1768 � Literatura brasileira século XVII 1. Arte da Contrarreforma, expressando a crise do Renascimento 2. Conflito entre corpo e alma – prazeres renascentistas e o fervor religioso 3. Temática do desengano (o desconcerto do mundo) 4. Linguagem ornamental, complexa, entendida como jogo verbal, cheia de antíteses, inversões, metáforas, alegorias, paradoxos, ausência de clareza � Gregório de Matos – adesão do poeta às tendências cultistas e conceptistas Caravaggio – Vocação de São Mateus Rembrandt – Lição de anatomia do Dr. Tulp 5 O Arcadismo (1768-1836) � Na segunda metade do século XVIII, articulam-se os principais fatores para o surgimento de um sistema literário brasileiro. É o momento em que surgem os homens de Letras do Brasil � Colônias conseguem se organizar de modo a formar um grupo mais coeso e em comunicação entre si � Escola Mineira, congregando – não de modo oficial – os principais e melhores poetas do Setecentos brasileiro: Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto, Silva Alvarenga e Basílio da Gama � À parte desse grupo, encontra-se Santa Rita Durão � Também conhecido como Neoclassicismo, iniciou em 1768, com a publicação de Obras, de Cláudio Manuel da Costa. Ano da fundação da Arcadia Ultramarina � Durou até 1836 – publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães � Este período foi, essencialmente, uma reação à religiosidade barroca � Influência francesa, com seus movimentos iluministas que iriam estourar a Revolução Francesa � Brasil minerador – sociedade de Minas Gerais � Diversidade populacional e características urbanas – mobilidade social � Auge da produção aurífera – 1690-1770 6 � Crise da produção – pós 1770 � Marquês de Pombal – reformas � Movimento da Inconfidência – 1789 � Poetas árcades 1. Bucolismo 2. Valorização da natureza 3. Tranquilidade no relacionamento amoroso 4. Universalidade 5. Presença de entidades mitológicas 6. Predomínio do lógico – ausência da subjetividade Arcádia – Friedrich August von Kaulbach Aplicação Prática Gregório de Matos � Poeta barroco brasileiro, nasceu em Salvador/BA, em 20/12/1623 e morreu em Recife/PE em 1696 � Amado e odiado, é conhecido por muitos como "Boca do Inferno", em função de suas poesias satíricas, muitas vezes trabalhando o chulo em violentos ataques pessoais 7 � Começa a satirizar os costumes do povo de todas as classes sociais baianas (que chamará "canalha infernal") � Desenvolve uma poesia corrosiva, erótica, apesar de também ter andado por caminhos mais líricos e, mesmo, sagrados � O conceptismo se define pela elaboração, no plano da expressão poética, de um conceito-chave � O poema, nesse sentido, desenvolve um raciocínio a partir da elaboração silogística de uma ideia central � Já o cultismo é uma tendência que se refere ao trabalho com a forma literária. Elaboração formal do poema no plano da expressão � Na poesia barroca – metáforas, metonímias, símiles, antíteses, paradoxos etc., bem como a contorção sintática (hipérbatos) e a elaboração sofisticada de imagens, que, por vezes, assumem contornos alegorizantes A Jesus Cristo Nosso Senhor Pequei, Senhor; mas não por que hei pecado, Da vossa alta clemência me despido: Porque, quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto pecado, A abrandar-vos sobeja um só gemido: Que a mesma culpa, que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado. Se uma ovelha perdida e já cobrada Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na Sacra História: Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada; Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino Perder na vossa ovelha a vossa glória. (Matos, 2010, p. 313) 8 Soneto A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar cabana, e vinha, Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro. Em cada porta um frequentado olheiro, Que a vida do vizinho, e da vizinha Pesquisa. Escuta, espreita, e esquadrinha, Para levar à Praça, e ao Terreiro. Muitos mulatos desavergonhados, Trazidos pelos pés os homens nobres, Posta nas palmas toda picardia. Estupendas usuras nos mercados, Todos, os que não furtam, muito pobres, E eis aqui a cidade da Bahia. Tomás Antônio Gonzaga � Nasceu e morreu em Moçambique � Autor da obra Marília de Dirceu � Composta de Liras amorosas � Obra satírica (política) � Poeta envolvido com a trama da Inconfidência Marília de Dirceu � Parte I (1792): 33 liras escritas na época em que o poeta vivia em Vila Rica, cultivando seu amor por Maria Dorotéia Joaquina de Seixas � Parte II (1799): 38 liras escritas na época da prisão e condenação ao exílio � Parte III (1812): textos de formas variadas (liras, sonetos, ode, canção) compostosem diversas épocas (mesmo antes de conhecer Maria Dorotéia) Parte I – Lira I Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado; De tosco trato, d’expressões grosseiro, Dos frios gelos, e dos sóis queimado. Tenho próprio casal, e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela! 9 Parte I – Lira II Pintam, Marília, os Poetas A um menino vendado, Com uma aljava de setas, Arco empunhado na mão; Ligeiras asas nos ombros, O tenro corpo despido, E de Amor, ou de Cupido São os nomes, que lhe dão. Porém eu, Marília, nego, Que assim seja Amor; pois ele Nem é moço, nem é cego, Nem setas, nem asas tem. Ora pois, eu vou formar-lhe Um retrato mais perfeito, Que ele já feriu meu peito; Por isso o conheço bem. Tu não verás, Marília, cem cativos Tirarem o cascalho, e a rica, terra, Ou dos cercos dos rios caudalosos, Ou da minada serra. Não verás separar ao hábil negro Do pesado esmeril a grossa areia, E já brilharem os granetes de ouro No fundo da bateia. Não verás derrubar os virgens matos; Queimar as capoeiras ainda novas; Servir de adubo à terra a fértil cinza; Lançar os grãos nas covas. Cartas Chilenas � Critilo escreve cartas para Doroteu sobre os desmandos de Fanfarrão Minésio, governador de Santiago do Chile, isto é, Tomás escreve cartas para Cláudio sobre os desmandos de Luis Cunha de Meneses, governador de Vila Rica Cartas chilenas Amigo leitor, arribou a certo porto do Brasil, onde eu vivia, um galeão, que vinha das Américas espanholas. Nele se transportava um mancebo, cavalheiro instruído nas humanas letras. Não me foi dificultoso travar, com ele, uma estreita amizade e chegou a confiar-me os manuscritos, que trazia. Entre eles encontrei as Cartas Chilenas, que são um artificioso compêndio das desordens, que fez no seu governo Fanfarrão Minésio, general de Chile. (...) Um D. Quixote pode desterrar do mundo as loucuras dos cavaleiros andantes; um Fanfarrão Minésio pode também corrigir a desordem de um governador despótico. 10 Eu mudei algumas coisas menos interessantes, para as acomodar melhor ao nosso gosto. (...) Lê, diverte-te e não queiras fazer juízos temerários sobre a pessoa de Fanfarrão. Há muitos fanfarrões no mundo, e talvez que tu sejas também um deles, etc. Síntese Pontos-chave: � Concepção de sistema – Antonio Candido � Produção literária colonial – influências do contexto colonial � Viajantes e catequese – Literatura informativa � Barroco no Brasil – Bahia e Gregório de Matos � Arcadismo no Brasil – especificidade � Sociedade mineradora e poetas
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