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Bogdan Suchodolski - Teoria Marxista da Educação II-Estampa (1976)

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TEORIA MARXISTA 
DA EDUCACAO , 
Distribuldor no Brasil: 
Livraria Martins Fontes 
Pra«;a da lndependAncla, 12 
Santos- S. Paul·o 
BOGDAN SUCHODOLSKI 
TEORIA MARXISTA 
DE EDUCACAO 
~ 
Volume D 
Editorial Estampa 
Titulo original 
U Podstaw Materialstycroej Teorii Wychowania 
Traduc;:ao de J·ose Magalhaes 
Capa da Soaras Rocha 
Copyright 
Panstwowe Wydawnictwo Naukow, Vars6via 
Editorial Estampa, Lda., 1976, Lisboa 
Para a lfngua portuguese 
INDICE 
CAPITULO IV - 0 signific~»do da revolw;ao soC'i'aUsta, 
para a edttcar;ao . 00 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •• 
1. 0 caracter de classe do sistema de ensino na 
sociedade burguesa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
2. A educa!;iio e o ensino dos filhos dos operarios 
no capitaUsrno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
3. A 1iga9iio entre ·o ensino e o trabalho, germe 
do ensino socialista 00 • 00 • 00 • 00 • 00 • 00 • 00 • 00 • 00 • 
4. A ·educa!;iio para e pela revolu9iio . . . . . . . . . . .. 
5. A organiza~tiio das massas populares e a impor-
til.ncia das suas experiencias . . . . . . . . . . . . . . . . .. 
6. A actuagiio espontanea e a actua!;ii.O consciente 
7. A Iuta pela concepgiio materialista revolucio-
naria do ensino 00 • 00 • 00 • 00 • 00 • 00 • 00 • 00 • 00 • 00 • 
8. Problemas da educa9iio moral. . . . . . . . . . . . . . .. 
CAPITULO V- Sabre os fundamentos da teoria ma.r-
xista d;a; cultura 00 • 00 • 00 • 00 • 00 • 00 • 00 • 00 • 00 • 
1. A concep!;iio marxista da actuagiio humana 
2. A critica de Marx a concep!;iio de cultura de 
Hegel oo . oo. oo . oo • •oo oo • ••• •oo oo• oo · oo• oo. 
3. Contra OS metodos de especula!;6es abstractas . . . 
4. A heranga do hegelianiiSmo na pedagogia bur-
guesa oo· 00. 00. 00. • oo oo• oo• oo • oo • oo • oo• oo• •oo 
5. 0 desenvolvimento posterior da teoria mate-
II'ialista da cultura 00. 00. 00. 00. 00. 00. 00. 00. 00. 
6. Critica da concepgiio materialista da cultura . .. 
7. 0 papel e a responsabilidade do autor da cul-
. tura espiritual 00. 00 . 00 . 00. 00 . 00. • 00 
7 
9 
10 
16 
\ 
18 
26 
36 
40 
53 
65 
7.5 
77 
85 
89 
87 
111 
114 
121 
8. A inicia!;ao na cultura como prepara!;aO para 
o futuro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 
CAPiTULO VI- Or~tka1 dai concepqiio· metafisico-idea-
dealista do homem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129 ' 
1. Critica das concep!;6e.s espiritualistas e natura-
listas ... ... ... ... ... ... .. . ... .. . ... ... ... ... 133 
2. Criti:ca dos fundamentos da mistifica!;ao bur-
.guesa ... ... .. . ... ... ... ... ... ... ... ... ... 139 
3. 0 utilitarismo burgues como teoria err6nea da 
motivagao do comportamento humano . . . . . . . . . 143 
4. A hist6ria da origem e 0 verdadeiro conteudo 
dos ideais burgueses de hom em e cidadao .. . 148 
5. Critica da educagao burguesa do «homem)) e do 
«cidadam) · 164 
Apendice 173 
8 
CAPiTULO IV 
0 SIGNIFICADO DA REVOLUQ.AO SOCIALISTA 
PARA A EDUCAQ.AO 
A analise da situa~ao do homem sob o capitalismo 
mostrou a crescente aliena~ao que impossibilita run 
desenvolvimento das massas trabalhadoras, destr6i 
a sua rela~ao com o trabalho e a sociedade e deforma 
a sua consciencia. 
Para que a educa~ao desempenhe a importante 
tarefa do desenvolvimento do homem em todos os 
sentidos, deverao, antes de tudo o mais, quebrar-se 
as cadeias que no capitalismo prendem o homem. 
0 destino da educa~ao, em ultima instancia, depende 
da transforma~ao social, do derrube do sistema ca-
pitalista. Nesta base, dar-se-a na sociedade socia~ 
lista uma aproxima~ao entre as condi~oes e neces-
sidades da vida social e as tarefas e possibilidades 
da actividade educativa. 
Que papel desempenha a educa~ao nas condi~oes 
de decadencia e destrui~ao do capitalismo, isto e, 
na epoca da revolu~ao proletaria? 
A resposta a esta questao exige uma analise 
exacta tanto da politica educativa burguesa e da 
situa~ao da escola na sociedade capitalista, como do 
significado do desenvolvimento das for~as produtivas 
e da luta revolucionaria da classe operaria pela edu-
ca~ao e pelo ensino. 
9 
TEORIA MAR~ISTA DA EDUCAg.AO 
1. 0 caracter de classe do sistema de ensino na so-
ciedade burguesa 
As teses marxistas fundamentais que dizem res-
peito a educa~ao na sociedade capitalista baseiam-se 
na tese do seu caracter de classe que esta encoberto 
pela fraseologia ideol6gica. A educa~ao e urn instru-
mento nas maos da classe dominante que determina 
o seu caracter de acordo com os seus interesses de 
classe, assim como 0 ambito que engloba 0 ensino 
para a sua pr6pr~a classe e para as classes opri-
midas. Mas como a burguesia apresenta o capitalismo 
como sendo a realiza~ao completa da ordem de vida 
«natural e racional», o sistema de ensino e o sistema 
educativo, que na realidade sao urn instrumento dos 
seus interesses, embelezam-se com bonitas palavras 
acerca da liberdade e das possibilidades de desen-
volvimento. Marx desmascara constantemente esta 
questao e indica tambem o que significa realmente 
o ensino na sociedade capitalista para as diferentes 
classes. 
No Manifesto Oomunista este problema e sistema-
ticamente tratado. Marx assinala tambem, no aspecto 
cultural, a falsidade e a hipocrisia dos ataques da 
burguesia aos comunistas. «As acusa~oes - lemos 
no Manifesto- dirigidas contra o modo comunista 
_de apropria~ao e de produ~ao dos produtos materiais, 
· foram-no igualmente contra a apropria~ao e pro-
du~ao das obras do espirito. Assim como, para o 
burgues, o desaparecimento da propriedade privada 
equivale ao desaparecimento de toda a produ~ao, 
tambem o desaparecimento da cultura declasse signi- . 
fica, para ele, a elimina~ao do ensino em geral. 
0 ensino, cuja perda 0 burgues lamenta, nao e para 
a imensa maioria mais do que urn adestramento que 
o transforma em maquina .. . Mas quebramos, dizeis, 
v6s, os la~os mais intimas, ao substituir o ensino · 
familiar pelo ensino social. Mas nao esta tambem 
o vosso ensino determinado pela sociedade? Deter-
10 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQAO 
minado pelas rela!;oes sociais, nas quais ensinais os 
VOSSOs filhos, pela interven!;aO, directa OU nao, da 
sociedade, pela escola, etc.? Os comunistas nao in-
ventam a ac!;iio da sociedade na educagao; mudam-lhe 
somente 0 caracter e tiram a educagao a influencia 
da classe dominante.» (1) 
0 caracter de classe da educagao burguesa ma-
nifesta-se num duplo aspecto. Em primeiro Iugar, 
pelo facto de que a educagao, que supostamente de-
veria servir todos os homens, s6 e concedida aos fi-
lhos da burguesia. A educagao nao e urn elemento 
de igualdade social; e, pelo contrario, urn elemento 
da hierarquia social burguesa moderna. Ja no estudo 
da filosofia de Hegel, Marx sublinhou o papel da 
educagao na sociedade burguesa. Indicou que a so-
ciedade burguesa moderna se desembaragou, ao con-
trario do feudalismo, da estrutura de castas e pre-
tendeu construir uma sociedade de homens iguais. No 
entanto, converteu-se na realidade numa ordem social 
com antagonismos de classe ainda mais irreconci-
liaveis. A igualdade politica formal de todos os 
cidadaos converte-se em alga ilus6rio par causa das 
reais desigualdades sociais. Segundo Marx esta de-
sigualdade e completamente arbitraria e pode ser 
remetida a dais momentos: a propriedade privada e 
o ensino (2 ). 
Isto mostra como Marx estava consciente do signi-
ficado social do ensino no capitalismo, cuja tarefa e 
escolher os representantes da classe dominante para 
os «altos postos». Marx desmascarou este papel da 
educagao, especialmente no campo da cultura geral 
que a burguesia organiza. Face as c6modas e ut6picas 
esperangas de que a melhoria do ensino geralcons-
tituiria uma prova do ponto de vista humanista 
da burguesia e urn elemento da melhoria evolutiva 
(') Marx-Engels, Ausgewi.ihlte Schiften (Obras Escothi-
das), Berlim, 1953, vol. I, pp. 38 e segulntes. 
(') Ibi dem. 
11 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQ.AO 
da situagao das camadas oprimidas, Marx demonstra 
que todas as concessoes da classe dominante sao 0 
resultado de necessidades econ6micas provocadas pela 
produgao mecanizada em grande escala e exprimem 
os novos interesses da burguesia. 
0 ensino nacional, especialmente o ensino ope-
rario, e urn elemento necessaria da produgao. No 
entanto, no capitalismo tern a tarefa exclusiva de 
formar forgas de trabalho baratas e nunca ultrapas-
sara OS limites que OS interesses da produgao capi-
talista exigem. Uma analise detalhada do carac-
ter do ensino operario demonstra isto muito cla-
ramente. 
Em segundo Iugar, o caracter de classe do ensino 
burgues manifesta-se ao transformar o ensino num 
instrumento supostamente eficaz da «renovagao so-
cial». Em todas as ocasioes em que a burguesia se 
ve forgada a reconhecer que as relagoes capitalistas 
sao inadequadas, tenta demonstrar com «argumentos 
educatiVOS» que sao inadequadas, porque OS homens 
nao sao bons e que estas rela~oes melhorarao quando 
os homens se tornarem melhores. A educagao deve 
converter -se numa garantia da futura melhoria dos 
·homens, melhoria essa que nao pode ser assegurada 
em absoluto, porque o mal reside nas rela~oes sociais 
predominantes e nao nos homens. 
Ja Thomas More mostrou a ineficacia da edu-
cagao sob condigoes que previamente conduzem 
OS homens a miseria e OS estimulam ao crime. Marx, 
especialmente nas divergencias com os socialistas 
ut6picos, sublinha com toda a evidencia a ineficacia 
de tal educagao. 0 conjunto da obra cientifica de 
Marx esta orientado no sentido de indicar o caracter 
objective do desenvolvimento hist6r ico. Por isso, os 
seus esforgos revolucionarios deviam orientar-se no 
sentido do derrube da ordem social capitalista exis-
tente e nao no sentido de uma «melhoria» sentimen-
tal dos homens. Na sociedade de classes antag6nicas, 
as relagoes miituas entre OS homens nao sao «rela-
12 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQAO 
goes de individuos com individuos, mas si~. do ope-
rario com o capitalista, do arrendatario com o lati-
fundiario, etc.» (3 ). Devem mudar nao apenas OS he-
mens, mas principalmente as relagoes e as instituigoes 
da vida social. 
Os escritores burgueses, ao recomendarem a edu-
cagao como remedio para os pecados sociais da sua 
propria ordem social, convertem a educagao numa 
manobra de desvio que deve sufocar o impulse revo-
lucionario das massas. A educagao adquire entao 
uma fungao que ·nao deve exercer. Num dos seus 
primeiros artigos Marx escreve: «<nclusivamente a 
parte da burguesia inglesa, que esta convencida do 
perigo do pauperismo, concebe,este perigo assim como 
os meios de o remediar de urn modo nao s6 parti-
cular, mas, sem duvida alguma, de urn modo infantil 
e simples. Assim, por exemplo, o Dr. Kay ('''), no seu 
folheto Recent measures for the promotion of edu-
cation in England reduz tudo a educagao desatendida. 
Que causa se descobre! 0 operario nao ve certa-
mente a lei do seu trabalho na falta de educagao, 
mas nas leis que o situam necessariamente no pau-
perismo. Por isso se revolta.» (-') 
Assim, pois, a burguesia esforga-se por transferir 
todos os problemas para o campo da educagao, pro/-
blemas esses que s6 podem ser solucionados na vida 1 
social. N a medida em que a classe . dominante da a 
educagao uma forga extraordinaria para suposta-
mente superar os fen6menos negatives da sociedade 
burguesa, encontra idealistas prontos para o sacri-
ficio, mas ingenues que nao compreendem que os 
seus «sermoes de moral educativa» significam uma 
traigao aos interesses das classes oprimidas. 
(') K. Marx, Da;s E~Emd cler Philo-sophie (A Miseria aa. 
Filosofi•a.), Berlim, 1952, p. 121. 
(*) Observagoes do autor. Veja Apendi·oe, -cap. IV, 1). 
('' ) l'.>!arx-Engels, Werke (Obras), Berlim, 1956, voi. I, 
p. ·396. 
13 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQ.AO 
Com esta analise Marx e Engels descobrem a con-
tradiQao fundamental da politica educativa burguesa. 
Sao os interesses de classe da burguesia que obrigam 
a uma limitaQao da educaQao das classes oprimidas 
e sao os interesses da burguesia que exigem uma certa 
elevaQao do nivel educativo das forQas produtivas. 
Ja em A SituaQiio da Olasse Trabalhadora em ln-
glaterra Engels observa que a burguesia e forQada 
a ocupar-se dos operarios apenas na medida em que 
e ditada pela sua ambiQao de maiores lucros. Mas 
tambem deve evitar que a formaQao dos operarios se 
converta numa arma nas maos da classe oprimida. 
S6 nestas condiQoes a burguesia pactua com a 
Igreja, porque esta convencida que uma educaQao 
religiosa oferece a melhor protecQao contra as pe-
rigos da educaQao revolucionaria das massas popu-
lares. Este pacta e especialmente util quando o do-
minio da burguesia comeQa a tornar-se vacilante. 
Isto pode ser provado com numerosos exemplos de 
diversos paises capitalistas. Marx ilustra esta questao 
especialmente com o exemplo da FranQa. «Atraves 
da lei do ensino - escreve Marx no Achtzehnten Bru-
maire des Louis Bonaparte (0 18 de Brumcirio 
de Luis Bonaparte)- a burguesia intentava asse-
gurar o antigo estado de espirito das massas que 
permitia manter o sistema tributario. As pessoas 
admiram-se de ver as orleanistas, os burgueses libe-
rais, esses antigos ap6stolos do voltairianismo e da 
filosofia eclectica, confiarem a direcQao do espirito 
frances aos seus inimigos hereditarios, as jesuitas. 
Mas orleanistas e legitimistas divergiam no res-
peitante ao pretendente ao trona, e depois compreen-
deram que o seu dominio comum exigia unir os 
meios de opressao de duas epocas, que OS meios de 
repressao de Julho se fortaleciam e completavam 
com os meios de repressao da RestauraQao.» (6 ) 
(') Marx-Engels, A.wsgmviihltt Schriften, Berlim, 1953, 
vol. I, p. 263. 
14 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQAO 
Outro ponto da educaQao burguesa a que Marx 
dedicou especial atenQaO e 0 seu caracter antinacio-
nal e imperialista. Exemplos disso sao a politica 
educativa prussiana nos terit6rios polacos e a poli-
tica educativa colonialista inglesa na india. Nos 
territ6rios da Posnania, as autoridades prussianas 
utilizaram as escolas para assegurar o seu dominio 
e para assegurarem os interesses dos militares e 
da aristocracia feudal. Na politica colonial inglesa, 
0 caracter de classe da educaQao burguesa marii-
festou-se, no entanto, de urn modo mais evidente. 
«A grande hipocrisia da civilizaQao burguesa e a 
crueldade a ela ligada apresentam-se-nos de uma 
maneira clara - escreve Marx - se desviarmos o 
nosso olhar da sua patria, onde adopta formas res-
peitaveis, e o dirigirmos para as suas col6nias, onde 
· se manifesta em toda a sua nudez.» (0 ) Na india os 
imperialistas ingleses destruiram a civilizaQao in-
diana ao «destruirem os interesses publicos indige-
nas, ao desarreigarem a industria indigena e ao 
rebaixarem tudo quanto na ordem social indigena 
era grande ou se destacava» (7 ). 
Depois da Inglaterra ter destruido tudo, isso nao 
a contentou, e empreendeu o seu ataque contra o 
desenvolvimento social e cultural do pais. Destruiu . 
a cultura tradicional sem, no entanto, criar urn 
sistema de ensino e educaQao moderno, apesar dos 
funcionarios britanicos conservadores considerarem 
que a populaQao indiana «possui uma grande energia 
industrial, e perfeitamente capaz de acumulaQao de 
capital e caracteriza-se pela inteligencia nas mate-
maticas, habilidade nos calculos e talento para as 
ciencias exactas». 
A politica educativa inglesa propos-se outras ta-
refas. Tentou isolar uma quantidade de crianQas in-
dianas das massas e deste modoeducar uma nova 
( 6 ) Ibidem, p. 331. 
(') Ibidem, p. 327. 
15 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAg.AO 
camada de administradores ingleses de urn grande 
pais. «Dos poucos indigenas indianos educados sob 
a vigilancia inglesa - escreve Marx - cresce uma 
nova classe que possui as qualidades exigiveis para 
governar e que adoptou o saber europeu. » Este carac-
ter antinacional da educaQao esta intimamente ligado 
a aspiraQao de deixar a populaQao indiana na igno-
rancia e na impotencia frente as novas condigoes 
de vida impostas pelos ingleses. 
2. A educa~ao e o ensino dos filhos dos opera:rios 
no capitalismo · 
0 caracter declasse do ensino burgues manifesta-
-se de uma maneira mais clara quando nos ocupamos 
do ensino que e concedido aos filhos dos operarios 
e camponeses do que quando nos ocupamos do ensino 
que ela reserva para os seus pr6prios filhos e para 
os da nobreza. A educaQao dos filhos da classe do-
minante baseia-se na mentira e na fraude, e a edu-
caQao dos filhos da classe oprimida, no indispensa vel 
No entanto, quem decide o que e indispensavel sao 
os capitalistas e nao as necessidades das crianQas 
ou as necessidades gerais da sociedade. 
Marx em 0 Capital da exemplos convincentes da 
miseria e da exploragao das familias operarias, que 
se veem forQadas a alugarem-se aos capitalistas como 
forQa de trabalho « barata». Os capitalistas conside.:. 
ram que «a jornada de trabalho compreende as 24 
hMas do dia, descontando unicamente as poucas 
horas de descanso sem as quais a forga de trabalho 
se negaria em absoluto a funcionar. Em primeiro 
lugar, achamos muito facil compreender que o ope-
rario, desde que nasce ate que morre, niio seja mais 
que a farr,;a de trabalho; portanto, todo o seu tempo 
disponivel e, por obra da natureza e do direito, tempo 
de trabalho e pertence, como e l6gico, ao capital para 
se'u incremento. Tempo para a formaQiio de uma 
16 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQ.AO 
cultura humana, para aperfei~oamento espiritual, 
para o cumprimento das fun~6es sociais do homem, · 
para o trato social, para o livre jogo das for~as fi-
sicas e espirituais da vida humana, inclusivamente 
para santificar o domingo - mesmo ate na terra 
dos beatos, adoradores do preceito dominical- tudo 
isso nao passa de uma pura ficQaO» (8 )! Estas con-
di~6es de vida dos operarios sao especialmente crueis 
' para as crian~as que desde tenra idade tern de tra-
balhar em trabalho.s pesados. Este trabalho torna , 
impossivel nao s6 a aquisiQao de uma cultura humana 
mas tambem destr6i o aspecto fisico. 
Que tipo de ensino podem receber crianQas que 
tern de trabalhar durante todo o dia e muitas vezes 
a noite tambem, trabalho esse que e superior as suas 
forQas? As normas do trabalho infantii sao extraor-
dinariamente altas e tornam impossivel qualquer en-
sino. Alem disso, estas normas nem sequer sao ge-
ralmente respeitadas. As crianQas convertem-se em 
forQa de trabalho e sao exploradas sem limites. 
Marx sublinha especialmente o caracter criminoso 
desta degeneraQao espiritual de que sao vitimas as 
crianQas que trabalham. «A degenerar;ao intelectual 
- escreve Marx- produzida artificialmente pelo 
facto de converter seres incipientes em simples rna- ' 
quinas de fabrico da mais-valia - degeneraQao que 
nao deve ser confundida com esse estado elementar 
de incultura que deixa os espiritos em estado de 
· ignorancia sem, no entanto, corromper os seus dotes 
de desenvolvimento nem a sua fertilidade natural -
obrigou finalmente o parlamento ingles a decretar 
o ensino elementar como condiQao legal para o con-
sumo "produtivo" de crianQas menores de 14 anos 
em todas as industrias submetidas a lei fabril.» ( 9 ) 
(") K. Marx, Das K I(J)pitaZ (0 Capital), Berlim, 1953, 
vol. I, p . 275. 
(") Ibidem, p. 419. 
17 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQ.AO 
Marx demonstra, com muitos exemplos concretos, 
que esta lei foi rapidamente transgredida. Todos esses 
exemplos caracterizam a situa~ao das crian~as e 
testemunharam tanto o interesse pedag6gico de Marx 
como a sua penetra~ao e conhecimentos neste campo. 
A analise critica das reais condi~oes de vida, como 
base indiscutivel para o desenvolvimento de formas 
de vida moral e intelectualmente mais elevadas, pos-
sibilitou a Marx uma visao do problema do ensino 
das crian~as real e concreta, livre de qualquer fra-
seologia pedag6gica ilus6ria. Marx dirige a sua aten-
~ao para as condi~Qes de trabalho das crian~as na 
fabrica e na escola, para a posi~ao dos pais e dos 
mestres no que respeita aos capitalistas. Aqui se 
evidencia todo o caracter hip6crita e a superficia-
lidade do sistema de ensino e de educa~ao burgues. 
3. A liga~ao entre o ensino e o trabalho, germe do 
ensino socialista 
A analise do caracter classista do ensino na so-
ciedade burguesa e o desmascarar das insuportaveis 
condi~oes de trabalho e estudo que suportam as crian-
~as de maneira nenhuma impediriam que Marx visse 
os valores gerais que consistem na liga~ao entre o 
tra:balho fisico e o ensino, e que no capitalismo nao 
s6 nao se podem desenvolver mas que sao precisa-
mente destruidos. Marx reconheceu muito claramente 
que, apesar das condi~oes de vida e de estudo terri-
velmente dificeis que suportam as crian~as que tra-
balham e apesar das melhores condi~oes existentes 
para os filhos da burguesia, o primeiro grupo de 
. crian~as supera o segundo. 
«Do sistema fabril, que podemos seguir em detalhe 
lendo Robert Owen - escreve Marx- surge o germe 
da educa~ao do futuro, na qual se combinara, para 
todas as crian~as a partir de certa idade, o trabalho 
produtivo com o ensino e a ginastica, nao s6 como 
18 
TEORIA MARXISTA DA EDUCA<;.A.O 
metoda para intensificar a produgao social, mas tam-
bern como o ii.nico metoda que permite produzir ho-
mens plenamente desenvolvidos.» (1°) As crian<;as que 
tra:balham tern a oportunidade de ligar a actividade 
fisica ao trabalho intelectual, a teoria a pratica, e 
deste modo tern a possibilidade de realizar urn de-
senvolvimento em todos os sentidos. Mas estas pos-
sibilidades sao destruidas pela produgao capitalista 
ainda que se manifestem ate no facto de «as criangas 
das fabricas, apesar de nao recel::>erem mais do que 
0 ensino medio, aprenderem tanto e as vezes mais 
que os alunos das escolas comuns» (11 ). 
Do mesmo modo que o trabalho mecanizado - na 
opiniao de Marx - nao destr6i por ser mecanizado, 
mas porque esta organizado pelos capitalistas, tam-
bern 0 trabalho das crian<;as s6 e criminoso, porque 
os capitalistas o convertem em objecto de exploragao. 
Mas do mesmo modo que a produgao mecanizada se 
converte em elemento de libertagao e desenvolvimento 
do liomem no socialismo, tambem a liga<;ao entre o 
ensino e o trabalho produtivo adquire no socialismo 
urn alto valor educativo. 
Marx assinala as possibilidades de ensino que 
surgem como desenvolvimento das forgas produtivas 
e que no capitalismo ficam atrofiadas. Sublinha es-
pecialmente o significado deste desenvolvimento para 
o ensino e a educagao completa dos homens. A divisao 
social do trabalho que existe ha seculos conduziu 
a uma primeira limitagao e anquilosamento dos ho-
mens, ·a sua submissao ao poder das ocupagoes tor-
nadas independentes. 
0 capitalismo - como vimos anteriormente-
agudizou de forma inaudita as consequencias da divi-
sao do trabalho atraves da organiza<;ao da manufac-
tura e mais ainda atraves da organizagao de fabricas. 
('"> Ibidem, p. 509. 
(") Ibid!em, p. 508. 
19 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAgAO 
A organizaQao da manufactura consistiu no facto do 
trabalho manual anteriormente realizado por urn arte-
sao qualificado ter sido substituido por diversos tra-
. balhos divididos e parciais realizados por diversos 
operarios. Deste modo o operario transformou-se gra-
dualmente em «Operario parcial». Teve de realizardurante toda a sua vida a mesma actividade simples 
e o seu corpo converteu-se em «Urn 6rgao automatico 
e parci.al desta actividade». A manufactura cria ho-
mens com uma especializaQao de estreitos limites, 
que deve constituir· a sua forma de trabalho durante 
toda a sua vida, e recruta tambem operarios sem 
qualificaQao alguma para os trabalhos mais sim-
ples. «Ao mesmo tempo que fomenta ate ao vir-
tuosismo as especializaQoes parciais e particulares a 
custa da capacidade conjunta de trabalho - escreve 
Marx - converte a especializaQao em ausencia de 
toda a formaQao.» {1 2 ) 
As maquinas, em certa medida, revoltaram-se 
contra estas relaQoes, mas fortaleceram-nas simul-
taneamente. Na grande industria consuma-se urn de-
finitivo «div6rcio entre potencias espirituais do pro-
cesso de produQao e do trabalho manual, com a trans-
formaQao daquelas em molas do capital sobre o tra~ 
balho» (13 ). Saber e inteligencia materializam-se em 
maquinas e especialistas e os operarios convertem-se 
exclusivamente em forQa de trabalho. « Vimos como 
a grande industria vern abolir tecnicamente a divisao 
manufactureira do trabalho, divisao essa que supoe 
ligar toda a vida de urn homem a uma determinada 
operaQao, ao passo que a forma capitalista da grande 
industria reproduz em proporQ6es ainda mais mons-
truosas essa divisao do trabalho; ria verdadeira fa-
brica, ao converter o operario num acess6rio com 
consciencia propria de uma maquina parcial, e nos 
(") Ibidem, p. 367. 
(") Ib~dem, p. 444. 
20 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQ.AO 
outros sitios, atraves do emprego esporadico de ma-
quinas e de trabalho -mecanico e atraves do uso do 
trabalho da mulher e da crian~a e do trabalho nao 
especializado como base de divisao do trabalho.» (14 ) 
«0 caracter da grande industria leva, portanto, 
a mudan~as preparadas e constantes de trabalho, a 
substituiQoes de fun~oes, a uma completa mobilidade 
do operario», porque a grande industria vive da cons-
tante renova~ao do processo de produQiio, da melho-
ria da tecnica e dos metodos de trabalho e de inova-
~ao de novas ramos produtivos. Este elemento revo-
lucionario da produ~ao esta em aguda contradiQao 
com a organiza~a6 do trabalho capitalista, que se 
baseia «na especializa~ao parcial» e no «trabalho nao-
-especializado» do operario. Assim, manifestam-se 
rapidamente os primeiros sintomas de urn modo de 
vida configurado de modo diferente do modo capita-
lista. 
A grande industria exige - sem consideraQoes 
pelos interesses dos capitalistas - o principia da 
«maior perfei~ao possivel do operario», a sua boa e 
completa capacita~ao para o trabalho. 0 desenvolvi-
mento das forQas produtivas exige homens capazes 
de se adaptarem a «necessidades variaveis de traba-
lho»; e necessaria substituir «0 individuo parcial,' 
simples instrumento de uma funQiio social parcial, 
pelo individuo desenvolvido no seu todo, para quem 
as diversas funQoes sociais nao sao mais que outras 
tantas manifestaQoes de actividade que se alternam 
e se substituem» (15 ). 
0 desenvolvimento do sistema de ensino profis-
sional que se aperfeiQoa «naturalmente», constitui, 
como disse Marx, urn dos fe1i6menos e urn dos ele-
mentos deste processo. A este respeito Marx, cita as 
palavras de urn operario acerca das suas experiencias 
obtidas na California: «Jamais acreditaria que seria 
(") Ibiaen'IJ, p. 509. 
('5 ) Ibi cZem, -p. 513. 
21 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQA.O 
capaz de desempenhar todos os trabalhos que fiz na 
California. Estava convencido que s6 sabia ser im-
pressor ... Logo que me vi metido naquele mundo de 
aventureiros que mudam de oficio mais facilmente 
que de camisa, que diabo! fiz como todos os outros. 
Como o trabalho nas minas nao rendia bastante, 
abandonei-o e fui para a cidade onde fui sucessiva-
mente tip6grafo, construtor de telhados, estanhador, 
etc. GraQas a esta experiencia; que me demonstrou 
que podia trabalhar em todos os oficios, comecei a 
sentir-me menos molusco e mais homem.» (16 ) Estas 
experiencias constituem para Marx urn exemplo de 
como os trabalhadores, sob as relaQoes de produQao 
capitalistas, desbravam o caminho de urn modo natu-
ral para adquirirem novas possibilidades de ganhar 
a vida, como conseguem organizar uma vida que nao 
esta limitada par nenhuma especializaQao parcial. 
Mas tanto a ampla formaQao tecnica como a varia-
bilidade do trabalho constituem apenas sintomas la-
tentes. «Tambem nao oferece duvidas que a forma 
capitalista de produQao e as condiQ6es econ6micas 
do trabalho que lhe correspondem estao em diametral 
oposiQao com esses fermentos revolucionarios e com 
a sua meta: a aboliQao da antiga divisao do traba-
lho.» e7 ) Mas e precisamente esta oposiQao diametral 
que determina o futuro desenvolvimento hist6rico. 
As experiencias tecnicas adquiridas acabaram com o 
principia baseado no periodo da manufactura: sapa-
teiro, aos teus sapatos! Desbravaram o caminho para 
superar a divisao do trabalho na sua forma actual 
que conduziu ao depauperamento dos homens par 
causa da sua especializaQao unilateral e parcial e 
abrem caminho para a aboliQao das contradiQ6es 
entre o trabalho fisico e o trabalho intelectual. 0 der-
rube do sistema capitalista, que, contra as tendencias 
( ••) Ibidem. 
{'1 ) Ibidem, p. 513, nota de pe de pagina 308. 
22 
TEORIA MARXIST.A DA EDUCAQ.A.O 
evolutivas das forQas produtivas, mantem a insusten-
tav5!1 situaQao actual, permitira organizar o trabalho 
de urn novo modo em toda a sua extensao. 
Estas possibilidades educativas e sociais foram 
ja confirmadas por alguns escritores anteriores ·a 
Marx. Marx cita Beller s; «John Bellers - escreve 
Marx - nos fins do seculo XVII ja ve, com absoluta 
transparencia a necessidade de abolir o sistema edu-
cativo e a divisao de trabalho actuais, que produzem 
a hipertrofia e a atrofia em ambos os p6los da socie-
dade, ainda que em sentido oposto. » (18 ) Uns sofrem 
por excesso de formaQao intelectual e abstracta en-
quanta que os outros desfalecem sob o peso de urn 
trabalho mecanico e embrutecedoramente fisico ( *). 
Portanto, a ligagao entre o ensino e o trabalho 
e para Marx, tambem valiosa porque supera a divisao 
entre o trabalho fisico e o intelectual, que e origi-
nada pela divisao do trabalho e acaba com o desen-
volvimento prejudicial e unilateral do individuo hu-
mano. Marx nao s6 indicou frequentemente que o tra-
balho fisico sem elementos espirituais destr6i a natu-
reza humana como tambem que a actividade intelec-
tual, a margem do trabalho fisico, conduz facilmente 
aos erros de urn idealismo artificial e de uma abstrac-
Qiio falsa. «A independencia entre os pensamentos e 
as ideias» e, como Marx disse, «uma consequencia 
da independencia entre as relaQoes pessoais e as 
relaQoes entre os individuos» (1°). A divisao do tra-
balho que torna o «pensar» atributo exclusivo de 
urn grupo de homens, destr6i tanto o pensamento 
como os pr6prios homens. 
Par isso Marx valoriza muito a ligaQao entre o 
trabalho fisico e o intelectual. Tinha uma grande 
admiraQao par John Bellers («Urn verdadeiro fen6-
meno na hist6ria da economia politica») e sublinhou 
(" ) Ibidem. 
(*) •Observagoes do autor. Veja Apendice, cap. IV, 2). 
(" ) Marx-Engels, Wei7'1ce, Berlim, 1958, vol. 3, p . 432. 
23 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQ.AO 
as suas correctas anaJises e observa~oes sobre a edu- -
ca~ao. Bellers disse de modo convincente: -«0 apren-
der ociosamente e pouco melhor que 0 aprender ocio-
sidade ... 0 trabalho e tao necessaria para a saude 
. do corpo como comer e necessaria para a conserva-
~ao do corpo ... 0 trabalho eo azeite da lamparina da 
vida que o espirito se encarrega de acender.» A exac-
tidao com que Marx conhecia as correntes pedag6-
gicas da sua epoca manifesta-se na observa~ao que 
fez as palavras de Bellers: «Urn trabalho infantil 
nescio naotira a sua ignorancia da inteligencia infan-
til.» Marx observa que estas palavras de Bellers se 
podem referir profeticamente as concep~oes de Base-
dow e aos «seus imitadores modernos» (2°). Este co-
mentario mostra claramente a diferen~a radical entre 
·a concep~ao marxista sobre a liga~ao .da educa~ao ao 
trabalho e as concep~oes semelhantes de caracter 
burgues. Basedow e principalmente o seu discipulo 
Salzmann organizaram, preocupados com o povo sob 
a 6ptica burguesa, urn ensino pratico destinado a 
preparar para a vida principalmente os 6rfaos. Estas 
teorias nao continham nem teses gerais acerca da 
forma~ao te6rica e pratica dos homens, nem tenden-
cias revolucionarias de uma transforma~ao social. 
Marx e Engels combateram sistematicamente esta 
liga~ao insuficiente entre a educa~ao e o trabalho. 
Na sua obra Anti-Duhring Engels expoe: «Certa-
mente o Sr. Dtihring ouviu algo sobre o facto de que 
na sociedade socialista o trabalho e a educa~ao devem 
ligar-se e que por isto deve ser assegurado urn ensino 
tecnico complete, assim como uma base pratica para 
a educa~ao cientifica; este ponto e tam bern muito 
util para a sociabilidade. Mas, tal como vimos ante-
riormente, a antiga divisao do trabalho conserva-se 
nas suas partes essenciais na produ~ao futura orga-
nizada segundo o modo Dtihring, este ensino fica se-
(") K. Marx, Das Kapital, Berlim, 1953, vol. I, p. 514. 
24 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQ.AO 
parado de qualquer aplicaQao pratica posterior e de 
qualquer importancia ou significado para a propria 
prodUQaO. 0 seu unico objectivo e substituir a ginas-
tica, de que o nosso revoluciom'trio nao quer sa-
ber.» {21 ) 
Com estas palavras clarifica-se a diferenQa radi-
cal que existe entre as ideias burguesas de uma 
ligaQao do trabalho ao ensino, ideias que . servem 
fins filantropic6s ou ideologias reformistas, e a con-
cepQao marxista de tal ligaQao, que so pode desen-
volver-se por completo atraves do moderno desenvol-
vimento das forQas produtivas na sociedade socia-
lista. 
Marx e Engels formularam os principios da liga-
Qao entre o trabalho eo ensino na sua luta implacavel 
contra a exploraQao capitalista do trabalho infantil. 
Assim, assentaram as bases para a politica educa- . 
tiva da classe operaria e para o seu futuro programa. 
Neste sentido o Manifesto do Partido Comunista pro-
poe a «aboliQao do trabalho fabril das crianQas na 
sua forma actual», mas ao mesmo tempo acentua ,a 
necessidade de «ligar o ensino a produQao material». 
Em Critica do Programa de Gotha) Marx precisa este 
ponto de vista ao opor-se a aboliQao absoluta do 
trabalho infantil e exige nesta questao que se deter-
mine com toda a precisao os limites de idade. Marx 
escreve: «A proibiQaO geral do trabalho infantil e 
incompativel com a propria existencia da grande 
industria e, portanto, nao e senao urn desejo ingenuo 
e vao. A aplicaQao desta medida, caso fosse possivel, 
tornar-se-ia reacciom'tria, porque, sendo assegurada 
uma exigente regulamentaQao do tempo de trabalho 
segundo as diferentes idades e tomando as devidas 
precauQ6es para proteger o trabalho das crianQas, 
combinar o trabalho produtivo desde a mais tenra 
(") F. Engels, Hen·n Eugen Duhrvngs Urnwiilzung der 
W ·iJssensclwft (TmmsformaQiio da Oiencba pelo Ssnhor Eugen 
Diihring ) , Berlim, 1952, p. 401. 
25 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQ.AO 
idade ao ensino e urn dos mais eficazes meios de 
transformaQao da sociedade actual.» (2 2 ) 
Marx nao determinou mais precisamente OS prin-
cipios de tal ligaQao. Em InstTuktion an die Delegier-
ten des Provisorischen Zentralrats uber eizelne 
Fragen (1866), Marx exigia apenas que as escolas 
tecnicas ocupassem os seus tempos livres, pelo menos 
parte deles, com a venda de objectos produzidos e que 
este trabalho economicamente produtivo estivesse 
ligado a urn programa adequado de ocupaQoes fisicas 
e intelectuais. «A relaQao entre o trabalho produtivo 
pago, ensino intelectual, exercicios fisicos e o ensino 
politecnico elevara a classe operaria a urn nivel muito 
superior ao nivel das classes medias.» (23 ) 
S6 a revoluQao socialista podera focar de urn 
modo pratico o problema da educaQao do homem para 
o trabalho e atraves do trabalho de tal forma que o 
trabalho nao limite o homem, mas que, pelo contrario, 
o desenvolva em todos os seus aspectos. S6 a revo-
luQao socialista quebrara as cadeias que impedem o 
desenvolvimento das forQas produtivas. Com ela, pela 
primeira vez na Hist6ria, e possivel apresentar a 
questao da educaQao do homem para o trabalho e 
pelo trabalho numa esfera humana nova na qual os 
homens se convertem em produtores independentes 
e responsaveis, que os liberia da esfera do cultivo de 
escravos e da formaQao de «forQas produtivas». 
4. A educa~o para e pela revolu~ao 
A concepQao da ligaQao entre o ensino e o tra-
balho produtivo e, no entanto, apenas urn dos ele-
mentos fundamentais do programa educativo e de 
ensino que os fundadores do socialismo cientifico 
("") Marx-Engels, Ausgewiihltt Bchritten, Berlim, 1952, 
vol. II, p. 28. · 
("") Marx -Engels, Vber Erziehung ~ma Bildung ( Sobre 
Ensirtw e E ducagiio) , Berlim, 1960, p. 162 
26 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQ./1.0 
defenderam. 0 segundo elemento fundamental e 0 
principia da ligaQao entre a educaQao, o ensino e a 
actividade revolucionaria da classe operaria. A con-
cepQao geral da luta contra o capitalismo que Marx 
e Engels desenvolveram implica, antes de mais, afas-
tar todo 0 programa ut6pico que nao expressa ne-
nhuma medida para a realizaQao das ideias referidas. 
0 principia fundamental de Marx e Engels era ligar 
o mais estreitamente possivel o socialismo cienti-
fico e a luta revolucionaria da classe operaria e orga-
nizar esta luta como o unico caminho que conduz 
ao socialismo. A separaQao de esperanQas ut6picas, 
aspiraQoes ou intenQoes de organizar as «futuras» 
comunidades no seio da actual sociedade e a politica 
concreta da luta revolucionaria que conduz a aboliQao 
das relaQoes existentes sao algo tao primordial que, 
naturalmente, tinha de afectar tambem as questoes 
do ensino. E evidente que a educaQao dos homens na 
base do socialismo ut6pico tinha de ser algo total-
mente diferente da educaQao nos principios da luta 
de classe do proletariado. 
Isto requereu um amplo e intensivo trabalho 
ideol6gico organizador a Marx e Engels. Embora no 
periodo do crescimento constante do movimento ope-
rario e do desenvolvimento da conscH~ncia ideol6gico-
-politica dos operarios a eliminaQao das tradiQoes 
ut6picas tenha criado enormes dificuldades, a deter-
minaQao do processo correcto nas situaQoes politicas 
concret:;~.s era uma tarefa tao dificil como extraor-
dinariamente necessaria. Neste aspecto, Marx e 
Engels tiveram de se desembaraQar de muitos obsta-
culos e de se distanciar claramente de muitas con-
cepQoes inimigas. Dado que se consagraram a politica 
revolucionaria da classe operaria, tiveram de repelir 
em muitas ocasioes os ataques da burguesia liberal 
e de combater o programa da pequena burguesia. 
Alem disso, tratava-se de combater todas as tenta-
tivas de tergiversar os antagonismos fundamentais 
de classe e as tentativas de defender uma politica 
27 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQ.AO 
de reconciliaQiio e compromisso, assim como de des-
mascarar as tendencias anarquistas e conspirativas 
que se manifestavam em defesa de uma acQiio revo-
lucionaria espontanea sem que as condiQoes objec-
tivas estivessem dadas. 
Em oposiQiio a tudo isto, a linha politica de Marx 
e Engels unia o principia da luta revolucionaria a 
analise ser ena e precisa da realidade social, a uma 
estratt'!gia e uma tactica ponderadas. Isto surgiu na-
turalmente em intima relaQiio com as suas concepQoes 
filos6ficas e cientificas acerca do desenvolvimento 
hist6rico, em especial o do capitalismo. 0 sublinhardo caracter objective destas leis de desenvolvimento 
e simultaneamente o destaque dado ao papel cons-
ciente da classe operaria deram a base para a luta 
sem compromissos contra todas as correntes oportu-
nistas e anarquistas. No decur so desta luta devia 
desenvolver-se urn programa completamente novo de 
educaQiio do operario. E naturalmente tambem na 
pratica. A luta de Marx e Engels por uma linha 
consequentemente revolucionaria da luta dos opera-
rios encontrou a sua expressao nas concepQoes sabr e 
a educaQiio dos homens que devem participar na 
configuraQiio do futuro socialista. 
Por isso, o objecto da nossa exposiQiio posterior 
deve ser precisamente a analise de todas as con-
cepQoes fundamentais sabre a educaQiio da classe 
operaria para o cumprimento das suas tarefas hist6-
ricas, que se opoe aos programas educativos dos 
socialistas ut6picos e tambem aos programas do 
socialismo pequeno-burgues de todo o genera, espe-
cialmente oportunismo e anarquismo. 
«0 mais importante no ensino de Marx- escreve 
Lenine- e a explicaQiio do papel hist6rico universal 
do proletariado como criador da sociedade socia-
lista.» ( 2 4 ) Este papel da classe operaria, segundo 
("' ) V. I . Lenine, Au,sgewiihlt·e W erke, Berlim, 1954, 
vol. . I, p. 69. 
2.8 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQ.AO 
Marx, . e o~ factor principal que permite abolir a mi-
seria, a explora~ao e as humilha~6es que a classe 
possuidora faz. 
Marx, no seu trabalho Critica da Filosofia do 
Direito de Hegel, formula de urn modo geral as ta-
refas especiais do proletariado. 
«E, pois, necessaria - escreve Marx - que uma 
determinada classe resuma em si a repulsa geral, de 
tal modo que a liberta~ao desta esfera aparega como 
a autolibertagao universal.» (2°) Contra a classe 
opressora levanta-se a classe dos libertadores. 
Esta classe e concretamente o proletariado~ 0 
proletariado encontra-se numa situa~ao de opressao 
tal, que as suas reivindicag6es tomam o caracter de 
reivindicag6es sociais universais, nao se limitando a 
exprimir" apenas as necessidades de urn determinado 
grupo de homens. 
Esta classe nao defende para si mesma nenhum 
direito privativo; no caso de reivindica-lo, trata-se de 
urn interesse que se repercute para o bern de todos. 
As suas reivindicagoes nao s6 o sao do ponto de vista 
hist6rico, mas partem tambem do interesse humano 
geral. A libertagao do proletariado e a liberta~ao de 
toda a sociedade, e «a recuperagao total do homem 
que se baseia numa perda total» (2°) . 
0 proletariado nao s6 deve empreender a luta 
contra as classes dominantes porque tern de defender 
os seus interesses vitais imediatos, mas tambem 
porque aspira a uma nova ordem social e por iss6 
deve combater toda a classe que constitua a sua 
negagao. Nesta luta, a consciencia do proletariado 
e o conhecimento do seu papel hist6rico desenvol-
vem-se. Esta consciencia deve exigir que a filosofia 
se converta na arma espiritual do proletariado. 
Esta concepgao do papel do proletariado, que 
Marx expos nos seus escritos de juventude, constitui 
(" ) Marx-Engels, La Sa,gmdJa Familia, Ed. Grijalbo, Me-
xico, 1962, p. 12. ' 
(") Ibvaem, p. 14. 
29 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQAO 
tambem o objecto dos seus posteriores pensamentos 
e investigaQoes. De acordo com os principios mate-
rialistas da sua filosofia, Marx tentou rebater as 
diversas concepQoes sobre o papel da classe operaria 
com que, entao, teve de se enfrentar. Teve princi-
palmente de enfrentar a idealizaQao ut6pica infun-
dada do proletariado, que via neste todas as virtudes 
e valores num estado de perfeiQao, assim como o 
desprezo fatalista pela !uta do proletariado cons-
ciente e disposto ao sacrificio. Em oposiQao a estes 
dois pontos de partida, Marx defendeu a concepQao 
de que a decisiva tarefa hist6rica universal da classe 
operaria e determinada pelo desenvolvimento hist6-
rico objectivo e que da sua disposiQao consciente e 
activa depende o cumprimento desta tarefa. Deferideu 
tambem a conviQiio de que a classe operaria se desen-
volvera no decurso da sua I uta e dos seus esforQos; 
que o resultado do movimento operario revolucio-
nario socialista nao sera a consequencia mecanica da 
situaQao dos operarios nem das suas condiQoes de 
vida. 
Ja em A Sagrada Familia Marx e Engels criticam 
decididamente as representaQoes ingenuas e idealistas 
do proletariado. «E quando os escritores socialistas 
- escreve Marx- atribuem ao proletariado este 
papel hist6rico-universal nao e, como a Critica critica 
pretexta acreditar, porque considerem os proletarios 
como deuses. Antes pelo contrario, atribuem-lho por 
chegar a sua maxima perfeiQaO pratica, no proleta-
riado desenvolvido, a abstracQao de toda a humani-
dade e ate a aparencia dela; porque nas condiQoes de 
vida do proletariado se condensam todas as condiQoes 
de vida da sociedade actual, agudizadas no modo 
mais desumano; por o hom em se ter perdido a si 
proprio no proletariado, adquirindo em troca nao s6 
a consciencia te6rica desta perda mas tambem sob a 
acQao imediata de uma penuria absolutamente impe-
riosa- a expressao pratica da necessidade -a que 
ja se nao pode fugir nem tentar mitigar, o acicata-
30 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQ.AO 
menta inevitavel da sublevaQao contra tanta desuma-
nidade; por todas estas razoes, o proletario pode e 
deve libertar-se a si proprio.» (2 7 ) 
0 papel do proletariado e determinado atraves 
do processo do desenvolvimento social e nao por 
quaisquer qualidades fisicas inatas dos homens que 
lhe sejam proprias. A idealizaQao consciente das 
qualidades da classe operaria como «argumento» 
para a possibilidade da sua libertaQao nao corres-
ponde em absoluto aos factos e, alem disso, teste-
munha concepQoes ingenuas e utopicas acerca do 
desenvolvimento social e dos seus factores realmente 
eficazes. Alem disso, tal idealizaQao da Iugar a todos 
os possiveis ataques da reacQao que se levantam con-
tra os operarios. Estes ataques tern por objectivo 
despojar ainda mais os operarios das suas condiQoes 
humanas de vida. 
Toda a discussao toma entao urn rumo falso e 
converte-se numa discussao acientifica, tendenciosa 
e inutil. 0 essencial nao e a maneira como esta cons-
tituida a maioria dos operarios, como tambem nao e 
«aquila que este . ou aquele proletario ou mesmo o 
proprio proletariado possa ter de vez em quando como 
meta. E o que o proletariado e e o que esta historica-
mente obrigado a fazer no que respeita a esse seu 
ser. A sua meta e a sua acQao historica estao clara e 
irrevogavelmente predeterminadas pela sua propria 
condiQao de vida e por toda a organizaQao da socie-
dade burguesa actuaL» (28 ) Com esta exposiQao do 
problema, Marx sublinha todo o conhecimento peda-
gogico que podia caracterizar-se como o «crescimento 
dos homens nas suas tarefas». 
Isto significa que nas tarefas educativas nao deve 
ser apenas considerado o que os homens particulares 
sao numa dada epoca, mas tambem e principalmente 
( 21 ) Ibi~mn, p . 101. 
('") Ibidem, p. 102. 
31 
TEORIA MARXISTA DA EDUCA<;.AO 
aquila a que sao chamados numa, situaQao hist6rica 
concreta e que tarefas lhes sao apresentadas a partir 
do desenvolvimento social objectivo. Isto e urn cri-
teria transcendente. Determina que nao se pode atri-
buir significado extraordinario ao determinismo 
psicol6gico segundo o qual o homem, no decurso da 
sua vida, continua a ser o que era no principia. Isto 
significa que se deve confiar no desenvolvimento que 
se efectua na base de condiQ6es objectivas atraves 
da soluQao de tarefas objectivamente possiveis. 
0 ensino marxista nao e apenas urn ensino da 
revoluQao proletaria historicamente inevitavel, mas 
ao mesmo tempo urn ensino da educaQao do prole-
tariado para o cumprimento destas tarefas hist6-
ricas. Esta educaQao deve ser concr etizada na «pra-
tica revolucionaria».0 marxismo e uma demonstraQaO de que 0 desen-
volvimento hist6rico se processa por etapas que se 
caracterizam pelas transformaQ6es revolucionarias. 
«Pais Marx- disse Engels no seu discurso junto 
ao tfunulo de Marx - foi sobretudo urn r evolucio-
nario. A sua verdadeira palavra de ordem foi cola-
borar de uma maneira ou outra no derrube da 
sociedade capitalista e das instituiQ6es estatais 
criadas por esta sociedade, colaborar na libertaQao 
do proletariado moderno, a quem foi o primeiro a 
dar consciencia da sua propria situaQao e necessi-
dades, a consciencia das condiQ6es da sua emanci-
paQao. A luta foi o seu elemento.» (29 ) 
Marx rebateu sempre toda a politica conciliadora 
que se esforQa exclusivamente por obter «pequenos 
exitos» e que deste modo anulam a forQa revolucio-
naria do proletariado. «Os pequeno-burgueses demo-
cratas muito Ionge de querer transformar toda a 
sociedade em proveito do proletariado r evolucionario, 
(" ) Marx-Engels, A usgewahlte SchT·iJrten, B erltim , 1953, 
vol. II, p . 157. 
32 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQ.AO 
pretendem modificar a ordem social de modo a tornar 
a sociedade existente tao suportavel e c6modo que 
possivel... No entanto, estas reivindicag6es nao po-
de:in satisfazer em absoluto o partido do proletariado. 
Enquanto os pequeno-burgueses democratas preten-
dem acabar a revolugao o mais rapidamente possivel 
e ap6s ter realizado, como ponto maximo, as reivin-
dicag6es atras citadas, e de nosso interesse e dever 
fazer com que a revolugao seja permanente, ate que 
as classes possidentes em maior ou menor grau sejam 
desapossadas do seu dominio.» (8°) 
A tenacidade e a constancia na luta revolucio-
naria, a sublevagao sem compromissos contra a socie-
dade burguesa sao para Marx OS momentos decisivos 
. politica e educativamente. Na luta revolucionaria, o 
proletariado toma consciencia das suas tarefas e da 
·sua forga. A luta revolucionaria constitui a melhor 
escola do novo homem socialista. Os pensamentos 
contidos em A I de alogia A lema tornam mais preciso 
este ponto de partida que Marx seguiu fielmente 
toda a vida. 
Marx atenta na absoluta novidade hist6rica da 
revolugao socialista que nao s6 destr6i uma classe 
dominante determinada, mas que ainda por cima 
anula por completo a sociedade de classes, e a este 
respeito Marx sublinha a grande importancia da 
consciencia comunista. Escreve: «Tanto para a 
constituigao desta consciencia comunista como para 
a realizagao desta mesma questao sao necessaria::; 
amplas mudangas no homem, que s6 num movimento 
pratico, numa revolugao, se podem produzir; assim, 
pois, a revolugao nao s6 e necessaria porque a classe 
que provoca o derrube s6 numa revolugao pode alcan-
gar os objectivos de se desfazer de toda a velha por-
caria e alcangar a nova fungao da sociedade.» (81 ) 
(:ro) Ibidem, val. I, pp. 90 e seguintes. 
( 31 ) Marx-Engels, Werke, Bedim, 1958, val. III, p, 70. 
33 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQ.AO 
A importancia do facto de Marx considerar a 
revolugao como a escola do novo homem e-nos mos-
trada em toda a sua extensao ao · sublinhar que a 
revolugao, segundo a concepgao dos clasicos do mar-
xismo, nao pode ser urn acto unico desligado . dos 
outros. Uma revolugao, que elimina definitivamente 
a sociedade de classes, deve ser a coroagao de uma 
larga luta revolucionaria. Neste sentido Marx es-
creye: «0 comunismo nao e para nos nem uma 
situagao que se deva criar, nem urn ideal ao qual a 
realidade se deve adaptar. Chamaremos comunismo 
ao movimento real que termina com a situagao actual. 
As condigoes deste movimento provem das premissas 
actualmente existentes.» (32 ) A actividade concreta, 
real, que se realiza sob condigoes determinadas opos-
tas as representagoes ideais do futuro, constitui a 
tese fundamental da tactica politico-ideol6gica mar-
xista, que possui urn grande significado educativo. 
Esta tese determina que OS homens nao devem 
estar na expectativa frente as tarefas hist6ricas 
objectivas, mas que devem actuar eficazmente. 
A revolugao nao e para Marx algo do futuro, mas 
a ultima etapa da acgao revolucionaria da actuali-
dade. Constitui, como se diz em Teses sabre Feuer-
baoh~ a «pratica revolucionaria». A organizagao desta 
pratica e a principal tarefa da vanguarda do prole-
tariado. S6 na pratica revolucionaria se educam os 
homens de amanha. 
A concepgao marxista estabelece, pais, uma ~s­
treita ligagao da actuagao no presente com a actuagao 
tendo em vista o futuro. Esta e a tese principal da 
tactica politica que o Manifesto do Partido Comunista 
resume nas seguintes palavras: «Os comunistas 
lutam para alcangar os fins imediatos presentes e os 
interesses da classe operaria, mas representam tam-
bern no momenta actual o movimento do futuro. » 
(" ) Ibidem, p. 35. 
34 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQ.AO 
Este principia determina o caracter da «educagao 
do proletariado para as tarefas revolucionarias» 
como uma educagao que esta ligada a pratica da 
actividade revolucionaria. Deste modo, a concepgao 
da educagao dos fundadores do socialismo cientifico 
adquiriu caracteristicas particularment'e importantes. 
Como se sabe, havia urn certo conflito na teoria edu-
, cativa no que respeita ao que devia ser feito ao 
aluno, tendo em conta as actuais possibilidades e ne-
cessidades, e o que deveria ser feito considerando as 
necessidades e tarefas futuras. A educagao que se 
ocupava do presente preocupava-se muito pouco com 
o futuro, enquanto que a educagao que se ocupava do 
futuro nao tinha possibilidade alguma de actuar no 
presente. Este conflito foi especialmente patente ao 
agudizar-se a luta da classe operaria na sociedade 
burguesa contra a ordem capitalista. Na pedagogia 
- burguesa a educagao tern urn caracter apologetico em 
relagao a ordem existente e nao prepara a juventude 
para urn novo futuro. Segundo as concepgoes dos 
· ut6picos, a educagao para o futuro impede qualquer 
ligagao com as condigoes actuais. Pelo contrario, a 
concepgao marxista diz como se deve organizar o 
conjunto do ensino que prepara ja na actualidade 
capitalista o futuro socialista. 
Esta concepgao apareceu ligada a nova concepgao 
materialista da psique humana, das fontes da sua 
forga e da consistencia das representagoes e concep-
goes. Tal como indicamos, Marx opos-se a substan~ 
tivar e a absolutizar o conteudo da consciencia. De-
fendeu a concepgao contraria de que o motor essencial 
da vida pessoal do homem e a sua actividade na exis-
tencia real, que se reflecte mais ou menos correcta-
mente nas suas representagoes, concepgoes, senti-
mentos, etc. «0 ser produz a consciencia» tanto no 
campo social como, em certa medida, no campo 
individual. 0 isolamento de determinadas ideias da 
consciencia humana e a introdugao de novas fazem-se, 
segundo Marx, nao atraves de uma critica intelectual 
35 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQ.AO 
a margem da vida, mas dentro do enquadramento de 
uma vida realmente mutavel. A elimina~iio da cons-
cH~ncia de representa~oes err6neas «realiza-se me-
diante circunstancias que mudam e niio atraves de 
dedu~oes te6ricas» (88). Na vida intelectual, em 
Ultima instancia, afirma-se a mesma verdade que 
rege a hist6ria, isto e, que «a for~a motriz da hist6ria, 
da religiiio, da filosofia e de outras teorias seme-
lhantes niio e a critica mas a revolu~iio» (84,). 
Mas a importancia da revolu~iio reside apenas 
no facto de criar . condi~oes novas para os homens, 
sob as quais se pode formar uma nova consciencia 
social, mas tambem no facto de chamar os homens 
a colaborar conscientemente na cria~iio de novas 
rela~oes sociais. «0 meio ambiente - escreve Marx-
forma os homens do mesmo modo que os homens 
formam o meio ambiente.» ( 85 ) 
A actividade revolucionaria e precisamente esta 
«Convergencia do ambiente ou das circunstancias 
mutaveis eda actividade humana» que condiciona 
principalmente a «transforma~iio» dos homens. 
5. A organiz~ao das massas populares e a impor-
tancia das suas experH~ncias 
0 mais importante, alem do caracter do prole-
tariado, e a maneira como se criam as suas tarefas 
hist6ricas e a pratica revolucionaria na qual o prole-
tariado pode amadurecer para estas tarefas. Sendo 
assim, 0 problema central da educa~iio e, evidente-
mente, responder a questao de como deve organizar-se 
este processo de amadurecimento. Se isto deve acon-
tecer na actividade real, concreta, revolucionaria, 
esta actividade deve ser naturalmente uma actividade 
( 33 ) Ibid·em, p. 40. 
(") Ibidem, p. 38. 
( 35 ) Ibidem. 
36 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQAO 
de massas. Marx tinha uma sensibilidade altamente 
desenvolvida no sentido de valorizar todo o homem e 
por isso foi um inimigo decidido de todo o genero de 
teoria de elite, que despreza as massas. Marx ligou 
esta sensibilidade moral a teoria do desenvolvimento 
hist6rico, segundo a qual nao sao os individuos des-
tacados que exercem uma influencia decisiva no 
decurso dos acontecimentos, mas o desenvolvimento 
das for~as produtivas, isto e, todos OS factores rela-
cionados com as condi~6es de trabalho e de vida das 
massas. 
Ao criticar Hegel, Marx refere-se tambem a outros 
que, como Hegel, defendem teorias idealistas da 
elite sabre a hist6ria, que proporcionam argumentos 
sabre a falsa caracteriza~ao dos «representantes do 
Espirito objective». Na sua critica aos doutrinadores 
franceses que fazem exercicios de magia com o 
conceito da razao, indica que este conceito se uti-
liza da participa~ao no Governo para separar as 
massas (3°). Faz o mesmo na sua critica a Stirne, 
que tirava toda a importancia as massas e que via 
nelas a «nega~ao do Espirito». 
Em oposi~ao a estas concepg6es, Marx sublinha 
a importancia dos movimentos populares na hist6ria, 
A grandeza e o significado dos acontecimentos hist6-
ricos alcangaram-se -segundo Marx- com a par-
ticipagao activa das massas. No entanto, as massas 
tern estado afastadas, na hist6ria ate aos nossos dias, 
da participagao nos bens e na cultura que, . gradual-
mente, se foram transformando em dominies reser-
vados dos privilegiados. Esta situagao deve mudar e 
a critica que os comunistas fazem neste campo - na 
opiniao de Marx - corresponde a realidade, na forma 
de movimentos emancipalistas das massas. «E pre-
ciso conhecer - escreve Marx - a ansia de instrugao 
dos operarios ingleses e franceses, a sua energia 
( ' 6 ) Ibiu~em, vol. II, pp. 89 e seguintes. 
37 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQ.AO 
moral, o seu impulso ilimitado de desenvolvimento, 
para ser passive! ter-se uma ideia da nobreza humana 
deste movimento.» (37 ) 
A actividade que afecta as massas e uma neces-
sidade hist6rica de todas as epocas em que 0 prole-
tariado se apresenta como a classe mais revolucio-
naria, que participa com 0 trabalho das suas maos 
no processo de produ~ao. Constitui simultaneamente 
o cumprimento das exigencias marais e humanas. 
Com esta actividade para o trabalho, cujo primeiro 
impulso foi observado par Marx em Fran~a e na 
lnglaterra, aument~ tambem a nova consciencia do 
proletariado. 
Se esta actividade afecta as massas, a sua activi-
dade deve ligar-se 0 mais estreitamente passive! as 
tarefas hist6ricas do proletariado, porque s6 neste 
caso esta actividade tera uma eficacia educativa. 
Marx concebeu esta Iiga~ao de urn modo perfeita-
mente concreto. Foi sempre inimigo das concep~oes 
do politico que s6 tenta agir com as massas e utilizar 
a sua imensa for~a. Lutou sempre por urn movimento 
organizado, activo e vivo das massas trabalhadoras. 
0 comunismo nao pode, desde logo, ser construido 
par fil6sofos, legisladores ou politicos. S6 se pode e 
deve alcan~a-lo desde o inicio com as maos dos tra-
balhadores. 
«Cada passo verdadeiro do movimento - escreve 
Marx a Bracke - e mais importante do que uma 
duzia de programas.» (38 ) Marx manifesta uma po-
si~ao semelhante em rela~ao a Comuna de Paris. «0 
seu verdadeiro segredo - escreve Marx - foi ser 
essencialmente urn Governo da classe operaria», urn 
Governo formado exclusivamente par operarios, 
apesar de todos os «especuladores politicos» e «fede-
ra~oes politicas». Houve dificuldades e erros neste 
(") lbi·dem, p. 89. 
(") Marx-Engels, AW81gewiihUt~ Schriften, Berlim, 1953, 
vol. II, p . 9. · 
38 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQ.AO 
\ 
1grande exemplo da construQiio de uma sociedade so-
cialista. Mas sao precisamente estas dificuldades que 
possuem urn grande significado educativo. «A classe 
operaria - escreve Marx - nao exigia nenhum mi-
lagre da Comuna. Nao e necessaria introduzir ne-
nhuma utopia fixa e elaborada por decisao popular. 
A classe operaria sabe que para preparar a sua pro-
pria libertaQao e com ela toda a forma de vida mais 
elevada ... tera de travar grandes lutas, tera de passar 
por toda uma serie de processos hist6ricos, atraves 
·dos quais os homens e o ambiente social se transfor-
mam por completo. Nao ha nenhum ideal a realizar; 
s6 ha que par em liberdade os elementos da nova 
sociedade que se desenvolveram ja no seio da socie-
dade burguesa em decadencia.» (3 9 ) 
0 materialismo hist6rico preve o aparecimento 
de novas forQas no seio do passado capitalista no 
ocaso e nas lutas contra o velho, o superado. Da o 
fundamento essencial para esta tactica politica que 
sublinha a necessidade da luta revolucionaria das 
massas e outorga urn valor especial ao processo da 
formaQao dos homens nesta luta. 0 materialismo 
hist6rico exige desconfianQa face aos diversos 
«ideais» e «Sistemas» que se afastam da realidade. 
No entanto, tambem pede confianQa para a nova vida, 
que esta em germe no seio das velhas relaQoes, e 
uma actuaQao para urn novo futuro. · 
Este realismo da actividade socialista das massas 
afasta todas as concepQoes que representam o deseli-
volvimento social como urn resultado da actuaQiio de 
politicos ou de assombrosas concessoes da classe do-
minante. Opoe-se a todas as concepQoes segundo as 
quais a nova sociedade nao deve surgir como resul-
tado de uma luta irreconciliavel dos antagonismos de 
classe. 
( 30 ) Ibidem, Berlim, 1953, vaL I, ·P· 495. 
39 
TEORIA MARXISTA .DA EDUCAQ.AO 
Segundo Marx, a luta revolucionaria da classe 
operaria e 0 elemento mais importante da constru~ao' 
do futuro socialista. 0 processo de educa~ao dos cons~ 
trutores do socialismo e a sua participa~ao nas trans-
forma~oes hist6ricas, que se produzem como resul-
tado da sua luta, sao urn todo coeso e unico. Esta 
-concep~ao da educa~ao opoe-se decididamente a todas 
as formas de educa~ao pessoal «desmedida», que nao 
valoriza as tendencias de desenvolvimento da socie-
dade e carece de todo o criteria cientifico. A con-
cep~ao marxista estabelece de modo especial estes 
criterios que s6 podem dar-se atraves da actividade 
social pratica. Esta concep~ao opoe-se a todas as 
representa~oes ihis6rias de uma educa~ao individua-
lista, que pretende educar OS homens a margem da 
actua~ao social e do processo hist6rico da !uta por 
urn futuro socialista. 
6. A actu~ao esponmnea e a actu~ consciente 
De tudo o que foi exposto depreende-se claramente 
que o problema da educa~ao e forma~ao da conscien-
cia socialista esta ligado o mais estreitamente pas-
sive! ao crescimento da !uta revolucionaria. Ao afir-
mar que o ser social determina a consciencia social, 
Marx e Engels sublinharam sempre a importancia do 
progresso social para o desenvolvimento da cons-
ciencia. A maneira clara como Marx viu esta depen-
dencia e demonstrada pelo desmascaramento que fez 
da politica colonial inglesa na india, que destruiu a 
cultura nativa: « ... nao devemos esquecer que estas 
comunidades camponesas idilicas, apesar do seu 
aspecto inofensivo, constituiram semprea base con-
creta do despotismo oriental, que limitavam a razao 
humana a urn circulo extremamente estreito, con-
vertendo-a num instrumento d6cil da supersti~ao e 
40 
TEORIA MARXIST A · DA EDUCAQ.AO , 
o escravo das normas aceites, despojando-a de toda 
a grandeza e de toda a forQa hist6rica.» (10 ) 
A passagem do feudalismo ao capitalismo foi 
extremamente tn1gica para as massas populares, mas 
deu ao proletariado a possibilidade hist6rica da sua 
libertaQiio. 0 aproveitamento destas possibilidades 
devia servir, entre outras coisas, para a formaQiio da 
consciencia dos operarios. 
0 facto do socialismo ter sido fundado ap6s uma 
analise exacta da realidade social torna possivel a 
descoberta das leis fundamentais da sociedade capi-
talista. Isto teve naturalmente uma grande impor-
tancia para a educaQiio. N a formaQiio da conscH~ncia 
politica do proletariado corresponde uma grande 
importancia a acumulaQiio de saber. Apesar da tra-
diQiio de apelar para os sentimentos, apesar dos 
diversos tipos de ensino moralizador, apesar das 
muitas formas semimisticas e quase rituais do actuar, 
apesar de tudo o que na pratica tornava doente o 
socialismo ut6pico e tambem o socialismo pequeno-
-burgues frances e o socialismo alemao, Marx e 
Engels quiseram sobretudo facilitar a actuaQiio do 
proletariado com urn saber exacto e uma vontade 
consciente. 
«E o comunismo ja nao significa mais urn invento 
da fantasia, urn ideal social perfeito, mas compreen-
sao da natureza, condiQoes e objectivos gerais que 
provem da luta dirigida pelo proletariado. De maneira . 
nenhuma defendemos a opiniao de insinuar os novos 
resultados cientificos em grossas brochuras apenas 
ao mundo culto. Antes pelo contrario. Assentamos · 
ambos profundamente no movimento politico, depen-
demos de certo modo do mundo culto, concretamente 
na Alemanha Ocidental, e de urn rico contacto com 
o proletariado organizado. Tinhamos o dever de fun-
(") Ibidem, p. 324. 
41 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQ.AO 
damentar as nossas opini6es cientificamente» ( 41 ). 
No prefacio ao Manifesto do Partido Oomunista) no 
seu discurso sobre as perspectivas de desenvolvi-
mento da AssociaQiio Internacional de Trabalhado-
res de 1890, Engels observa : «Para a vit6ria defi-
nitiva das proposiQ6es enunciadas no Manifesto) . 
Marx contava unicamente com o desenvolvimento 
intelectual da classe operaria, que devia resultar da 
acQiio e da discussao comuns. » (4 2 ). 
Este ponto de partida determinou que os valo-
res espirituais do · proletariado e que os factores do 
seu desenvolvimento se valorizassem com especial 
prudencia. Tanto Marx como Engels indicaram fre-
quentemente a delicadeza e a honradez dos opera-
rios em oposiQiio a superficialidade e ao convencio-
nalismo intelectual das chamadas camadas cultas. 
Ja a Briefe aus London (Carta de Londres) da epoca 
juvenil de Engels continha, ao lado de uma critica 
aguda as retr6gradas universidades inglesas, a afir-
maQaO de que s6 as chamadas camadas inferiores 
se interessam pela arte e pela ciencia. S6 elas leem 
Byron e Schelley, s6 para elas existem ediQ6es bara-
tas de Leben Jesu (Vida de Jesus) de Strauss, assim 
como traduQ6es de Rousseau, Voltaire e Hoi-
bach ( 43 ) • Engels repetiu esta afirmaQiio mais tarde 
nos seus estudos sobre A Situagiio da Olasse Traba-
lhadora na lnglaterra) onde sublinha com mais desta-
que «Como conseguiu o proletariado ingles adquirir 
uma cultura independente. Ouvi muitos operarios 
falarem sobre geologia, astronomia, etc., com mais 
conhecimentos que muitos burgueses cultos da Ale-
manha» (44). 
(") Ibidem, Berlim, 1953, vol. II, rp. 320. 
(") Ibidem, Berlim, 1953, vol. I , p. 20. 
(") Marx-Engels, Werke, Berlim, 1958, vol. I, p . 469. 
( 44 ) F. Engels, D iJe Lage der arbeiJtenden K'lasse in En-
gland, (A Situagao da Classe Trabalhadora na Inglaterra), 
Berlim, 1952, p. 292. 
42 
TEORIA MARXISTA DA IDDUCAQ.AO 
Tambem a penetraQao dos operarios, com quem 
discutia muitas vezes, foi especialmente valorizada 
por Marx. Na valorizaQao da obra principal de 
Weitling Gar.antien der Harmonie und Freiheit (Ga-
rantias da Harmonia e Liberdade), Marx escreve no 
anode 1884 : «Se compararmos a mediocridade insi-
pida e terra a terra da literatura politica alema com' 
o inicio literario, enorme e brilhante, dos operarios 
alemaes; se compararmos as enormes possibilida-
des do proletariado no seu amanhecer, com a poli-
tica ja gasta da burguesia alema, nao podemos fazer 
outra coisa senao profetizar urn tamanho gigantesco 
a Gata-Borralheira.» (45 } 
Com interesse semelhante fala Marx do operario 
Dietzgen e observa que ele exprime «pensamentos 
valiosissimos» (40 ). Esta grande valorizaQiio da po-
tencia espiritual da classe operaria expressa-se nas 
tarefas que Marx e Engels prop6em aos operarios 
no trabalho ideol6gico-politico. Numa energica dis-
cussao no comite correspondente de Bruxelas, em 30 
de MarQo de 1846, Marx op6e-se as tendencias que 
nao valorizam suficientemente a ciencia e a cultura. 
Segundo a informaQao que Annenkow nos da, Marx 
teria dito: «Especialmente na Alemanha existe urn 
jogo vazio e desavergonhado nos discursos em que 
por um lado e preciso urn profeta entusiasmado e 
por outro lado s6 se admitem asnos que o ouQam 
boquiabertos. Evidentemente, nestes discursos que 
se dirigem aos operarios nao existe a menor ideia 
cientifica nem nenhuma teoria positiva.» (47 } 
Urn juizo semelhante e expresso por Engels alguns 
anos mais tarde quando afirma que «os operarios 
C"' ) Marx-Engels, Werlve, Berlim, 1958, vol. I, p. 405. 
( 4 ' ) K. Marx, Brief wn Kugelmann (Oar.ta a Kugetmann), 
Berlim, 1952, p. 7 4. 
(") E. P. Kandel, Marx i Enge~-organizatorzy Zwiaz-
ku Ko'YI'liU/IVi!st6w, Vars6via, 1954, p. 126. 
43 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQAO 
alemaes ... pertencem ao povo da Europa mais te6rico 
e conservaram este sentido te6rico que os chamados 
cultos da Alemanha perderam». Com este «Sentido 
te6rico que se desenvolve entre os operarios ale-
miles» Engels fundamenta a grande for~a de atrac-
~ao do socialismo, afirmando ao mesmo tempo que 
«a indiferen~a face a todas as teorias» e uma das 
razoes principais do avan~o lento do movimento 
operario ingles, apesar da organiza~ao perfeita dos 
gremios. 
Engels caracteriza tambem como profundidade 
te6rica insuficiente .a «confusao que o proudhonismo 
na sua forma original ocasionou nos franceses e 
belgas, e nos espanh6is e italianos na sua forma 
caricaturada por Balmnine». Partindo disto, Engels 
considera que alem disso sao necessarios «esfor~os 
duplos no campo da luta e da agita~ao. 0 dever 
do dirigente e esclarecer cada vez mais todas as 
questoes te6ricas, e libertar-se cada vez mais da 
influencia recebida, das velhas concep~oes perten-
centes as frases, e ter sempre presente que o socia-
lismo, desde que se converteu numa ciencia, deve 
ser estudado como ciencia. Trata-se de difundir com 
paixao intelectual a inteligencia cada vez mais clara 
deste modo adquirida entre as massas trabalha-
doras» (48 ). 
Marx e Engels defenderam decididamente esta 
concep~ao de actua~ao politico-educativa. Isto mani-
festa-se nas lutas que Marx e Engels dirigiram como 
organizadores da Liga dos Comuriistas e mais tarde 
da Associa~ao Internacional de Trabalhadores. Nas 
numerosas · discussoes que tiveram lugar nos anos 
40 na Associa~ao Cultural Operaria Alema, Marx 
exigia constantemente que a propaganda tivesse urn 
caracter cientifico e nao agitador, moralizante ou 
(") F. Engels, Der Deutsche Bauernkrieg, (Guerra dos 
Oamponeses rva A~emamha), Berlim, 1951, .pp. 28 e seguintes: 
44 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQAO 
sentimental (19 ). Marx e Engels condenaram, nas 
polemicas contra Bakunine e seus partidarios, a sua 
aversao a ciencia e a cultura e sublinharam a grande 
importancia da divulgaQaodo saber socialista para 
a elevaQao do nivel da actividade revolucionaria. 
Afirmam com indignaQao que nestes circulos se 
proibe a juventude de se ocupar do pensar e da 
ciencia s6 porque se teme que isso possa prejudicar 
a fidelidade a ortodoxia {50 ). 
A maneira como Marx e Engels destacaram a 
educaQao intelectual do proletariado para o cumpri-
mento das suas tarefas hist6ricas nao significa de 
maneira nenhuma que fossem «professores de gabi-
nete», como Weitling os acusou, nem que conside-
rassem o ensino intelectual como representaQao espe-
cifica da verdade, que os cientistas tenham alcan-
Qado para as massas. Muito pelo contrario, Marx e 
Engels destacaram a dependencia do conhecimento 
correcto da realidade em relaQao a actividade pro-
gressista de urn novo tipo. Na critica aos socialistas . 
ut6picos, indicam que o seu erro principal consistia 
na convicQao de que o socialismo e a expressao da 
verdade absoluta, da razao e da justiQa, que s6 tern 
de ser descoberto para que conquiste o mundo pela 
sua propria forQa. Este erro tambem era comparti-
lhado pelos comunistas pequeno-burgueses france-
ses, ingleses e alemaes. Para os socialistas ut6picos, 
dado que a verdade absoluta e independente do 
tempo, <;to espaQo e do desenvolvimento humano ·e 
hist6rico, o quando e o onde da descoberta da ver-
dade absoluta e uma mera casualidade. Assim, isto 
e uma visao completamente subjectiva que deve ser 
uma suposta «revelaQaO» da verdade e exige dos 
partidarios uma obediencia passiva as visoes muito 
diversas, que se tentaram conciliar com urn metoda 
( 40 ) Ma rx-Engels, Obras, vol. XXVIII, pp. 60 e s egs. 
(em russo). 
(" ) I bidem, Segunda Parte, vol. XIII, p . 505 (em ~usso) . 
45 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQ.AO 
que Engels caracteriza como «polimento das ares-
tas». A este «metodo» da produQao de uma cons-
ciencia socialista, Engels opoe o seguinte principia: 
«Para converter o socialismo numa ciencia, era ne-
cessaria, em primeiro Iugar, assenta-lo numa base 
real.» (51 ) 
Este ponto de partida real significa estabelecer 
uma intima relaQao entre a · vida e a actividade do 
proletariado, enquanto classe hist6rica que e 0 til-
mula da burguesia. «Na mesma medida em que a 
burguesia desenvolve a sua industria, o seu comercio 
e os seus meios de intercambio - escreve Engels -
produz por sua vez o proletariado. E num certo 
ponto - que nao se produz necessariamente em 
todos os sitios ao mesmo tempo ou no mesmo nivel 
de desenvolvimento - a burguesia comeQa a obser-
var que o seu duplo proletario se emancipa 
dela.» (52 ) A partir deste momenta, a burguesia com-
bate o proletariado sem consideraQoes e, de modo 
cada vez mais decisivo, combate tambem a ·verdade 
cientifica que ameaQa o seu dominio. 
No conhecido prefacio a 0 Capital) Marx mostra 
como a burguesia se converte progressivamente no 
inimigo da «livre investigaQao cientifica». Inclusiva-
mente em todos os campos da ciencia em que a 
burguesia poderia alcanQar resultados muito valio-
sos, na fase de desenvolvimento agonizante do capi-
talismo, inicia-se uma evoluQao reaccionaria. Assim 
e, por exemplo, no campo da economia politica: «A 
burguesia, - escreve Marx - tiriha conquistado o 
poder politico na FranQa e na Inglaterra. A partir 
deste momenta a luta de classes comeQa a tamar, 
te6rica e praticamente, formas cada vez mais pro-
nunciadas e mais acusadoras. Havia soado a sineta 
(") Marx-Engels, Ausgewiihlte Schriften, Berlim, 1953, 
vol. II. rp. 118. 
( 0 ' ) F . Engels, De1· Deutsche Bauernkrieg, Berlim, 1951, 
!P· 14. . 
46 
TEORIA MARXISTA DA EI:>UCAQAO 
do funeral da ciencia econ6mica burguesa. Ja nao 
se tratava de saber se este ou aquele teorema era 
verdadeiro ou nao, mas se era born ou prejudicial, 
c6modo ou inc6modo, se infringia ou nao as ordens 
da policia. Os investigadores desinteressados foram 
substituidos por espadachins a soldo e os estudos 
cientificos imparciais deram Iugar a consciencia 
turva e as perversas inten~oes da apologetica» ( 53). 
Algo de semelhante sucedeu na historiografia. 0 seu 
merito foi a descoberta da !uta de classes na hist6-
ria, mas 0 ambito da validade desta descoberta foi 
limitado em correspondencia com os interesses de 
classe da burguesia. Reproduzimos urn exemplo de 
como Marx julga o proeminente historiador frances 
A. Thierry, que durante certo tempo esteve sob a 
influencia de Saint-Simon: «E assombroso como este 
senhor, o pai da "luta de classes" na historiografia 
francesa, no prefacio se agasta com os "novos" que 
querem ver tambem urn antagonismo inclusivamente 
na hist6ria do tiers-etat ate 1789. Esfor~a-se muito 
por demonstrar que o tiers-etat engloba as camadas 
que nao sejam a nobreza ou o clero e que a burgue-
sia desempenha o seu papel como representante de 
todos estes outros elementos. » (54 ) Nesta base es-
conde-se a verdade atraves de mentiras que servem ' 
objectivos concretos e dissimulam-se os interesses 
-dos possuidores com uma roupagem cientifica. Sair 
destas redes nao e facil para OS cientistas. As autori-
dades e o Governo exercem uma resistencia e um.a 
oposi~ao que exigem valor pessoal. 0 cientista 
arrisca nesta questao a sua paz e bem-estar e inclu-
sivamente a sua propria vida. Do mesmo modo que 
em muitas outras situa~oes, 0 problema da analise 
exacta da realidade nao e urn problema exclusivo 
da qualifica~ao psicol6gica e moral dos cientistas. 
( 03 ) K Marx, Das K <Q;pi1Jal, Berlim, 1953, vol. I, p. 13. 
(" ) Marx-Engels, Ausgewiih~te Briefe, Berlim, 1953, 
p. 105. 
47 
TEORIA MARXISTA DA EDUCAQ.AO 
E tambem e principalmente urn problema dos crite-
rios objectivos. Existem criterios extrapsicol6gicos 
com a ajuda dos quais se pode determinar o caminho 
para uma investigac;;ao e uma compreensao correc-
tas, inclusivamente sabre as condic;;6es da sociedade 
de classes, criterios esses que por sua vez evitam 
erros. 
Estes criterios podem definir-se geralmente 
como uma ligac;;ao entre o espirito investigador e a 
pratica revolucionaria. 0 modo como Marx concebe 
esta ligac;;ao e indicado pela sua actividade te6rica 
e pratica. Marx examina este problema de urn modo 
muito clara na sua critica a Proudhon. Toda a expo-
sic;;ao mostra que Proudhon, enquanto representante 
dos interesses pequeno-burgueses, nao podia com-
preender a acc;;ao revolucionaria da classe operaria 
e que, por nao ter participado nesta acc;;ao, nao foi 
capaz de formular a sua teoria socioecon6mica sem 
preconceitos. «Proudhon - escreve Marx - ao lado 
dos utopistas, perseguiu uma chamada "cH~ncia" 
atraves da qual deveria extrair-se "a priori" uma 
formula para a "soluc;;ao da questao social", em vez 
de deduzir a cii.~ncia a partir do conhecimento cri-
tico do movimento hist6rico, de urn movimento que 
produz em si mesmo as condir,;oes materiais da 
emancipar,;ao.» (55 ) 
Em relac;;ao a critica a Proudhon e aos econo-
mistas burgueses, Marx indica no exemplo dos uto-
pistas o caminho que conduz a ligaQao criadora entre 
o pensamento e a pratica revolucionaria. «Do mesmo 
modo que os economistas sao os representantes 
cientificos da classe burguesa, os socialistas e os 
comunistas sao os te6ricos da classe proletaria. Estes 
te6ricos nao serao mais que utopistas que, para 
resolverem as necessidades da classe oprimida, for-
("') K. Marx, Das Elend der Phi losophie, Berlirn, 1952, 
p. 43. 
48 
· TEORIA MARXISTA PA EDUCAQAO 
mulam sistemas e seguem uma ciencia regeneradora, 
enquanto o proletariado nao esta suficientemente 
desenvolvido para constituir-se em classe e, par con-
seguinte, a luta do proletariado contra a burguesia 
nao adopta ainda nenhum caracter politico; enquanto 
as for~as produtivas nao se tenham ainda desen-
volvido suficientemente no seio da mesma burguesia, 
para que se manifestem as condi~oes materiais que 
sao necessarias

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