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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO AVALIAÇÃO GEOTÉCNICA DE LAVRA SUBTERRÂNEA DO CORPO SERROTINHO DA MINA CUIABÁ ATRAVÉS DE MODELAGEM NUMÉRICA TRIDIMENSIO NAL AUTORA: KARINA JORGE BARBOSA ORIENTADORES: PROF. DR. FERNANDO M. CASTANHEIRO DA CRUZ VIEIRA PROF. DR. RODRIGO PELUCI DE FIGUEIREDO MESTRADO PROFISSIONAL EM ENGENHARIA GEOTÉCNICA DA UFOP OURO PRETO, MARÇO DE 2011 ii B238a Barbosa, Karina Jorge. Avaliação geotécnica de lavra subterrânea do corpo serrotinho da Mina Cuiabá através de modelagem numérica tridimensional [manuscrito] / Karina Jorge Barbosa. – 2011. xvii, 201f.: il., color.; grafs.; tabs.; mapas. Orientador: Prof. Dr. Fernando M. Castanheiro da Cruz Vieira Co-orientador: Prof. Dr. Rodrigo Peluci de Figueiredo. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Minas. NUGEO. Área de concentração: Geotecnia aplicada à mineração. 1. Geotecnia – Métodos de simulação - Teses. 2. Mineração subterrânea - Teses. 3. Estabilidade estrutural - Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. II. Título. CDU: 622.274:624.131.537 Catalogação: sisbin@sisbin.ufop.br iii EPÍGRAFE Ce qui sauve, c’est de faire un pas. Encore un pas. C’est toujours le même pas que l’on recommence Antoine de Saint-Exupéry (1939) iv DEDICATÓRIA Ao avô Benedito Custódio, homem memorável, exemplo de força e coragem. Tinha gosto de contar histórias sobre duas grandes paixões: Nilta, sua inesquecível e sempre amada esposa; e suas andanças desbravadoras e mágicas pelo Brasil imenso como condutor de trens, quando ser ferroviário significava viajar na fronteira dos elementos, explorar sonhos fantásticos e experimentar realidades incríveis. v AGRADECIMENTOS Este trabalho muito deve a apoios diversos recebidos ao longo de sua realização. Alguns deles merecem menção especial. Meus orientadores, Prof. Dr. Fernando Vieira e Prof. Dr. Rodrigo Figueiredo, pessoas de elevado conhecimento na área de geotecnia relacionada à mecânica das rochas, por sua dedicação, incentivo, clareza na exposição de idéias e contribuição técnica. A família em geral, por todo o encorajamento, principalmente minha mãe, que sempre me incentivou a novas conquistas, confiou no potencial dos filhos, mostrando-nos a importância do estudo e do conhecimento para a obtenção do sucesso. A gerência geral da Mina Cuiabá, por favorecer a concretização dos trabalhos de modelagem numérica. A equipe de geotecnia da Mina Cuiabá, pelo auxílio prestado nas atividades de campo, disposição dos dados de mecânica de rochas e pronto atendimento no esclarecimento de dúvidas. A AngloGold Ashanti Brasil Mineração Ltda., empresa empregadora aurífera, pela assistência financeira, logística e técnica no decurso do mestrado, da elaboração desta dissertação e de sua publicação. vi RESUMO Nesta dissertação, vários desenhos de layout de lavra, aplicáveis aos ambientes de mineração subterrânea de ouro na Mina Cuiabá, Brasil, são avaliados por meio de modelagem numérica tridimensional, a partir do emprego do Método de Elementos de Contorno, implementado em MAP3D. Para isso, expõem-se cenários técnicos, conceitos, argumentos, justificativas e metodologias que substanciam a avaliação do risco geotécnico das múltiplas variantes do método sublevel-stoping propostas. Assim, pretende-se testar as condicionantes de desenho dos layouts, segundo princípios e critérios geotécnicos estabelecidos. Determinam-se as condições de instabilidade nos pilares e no hangingwall dos realces. As análises numéricas consideram as características mecânicas do maciço rochoso nas áreas de interesse, incluindo a natureza tridimensional do corpo de minério. As diferenças nas propriedades de resistência do hangingwall e footwall (material relativamente mais brando) com relação ao corpo de minério (material mais duro) são levadas em consideração; bem como o estado das tensões pré-lavra e o aumento dessas tensões face ao aprofundamento da lavra. Os modelos numéricos aplicados são calibrados com base em medições e observações de campo que incluem: dados geotécnicos de classificação do maciço que expressam a sua qualidade e integridade mecânica; resultados de medições da tensão in situ (orientação e magnitude); observações visuais no campo das respostas do maciço face ao avanço da lavra; resultados de laboratório; e a contribuição dos profissionais da área de geotecnia da mina. Produzem-se análises e demonstra-se a aplicabilidade de critérios que inferem o risco de instabilidade por representação probabilística de fatores de risco geotécnico, espacialmente distribuídos nos domínios de análise. Identificam-se os limites de confiabilidade dos modelos simulados. Analisam-se os resultados para todas as variantes estudadas do método sublevel-stoping, considerando-se: os impactos da profundidade de lavra na estabilidade dos pilares rib e sill; as consequências de induzir maior rigidez no sistema de pilares; os impactos de aumentar os vãos de lavra; e ainda os impactos de lavrar em ambientes geotécnicos distintos, relativamente mais complexos. Em última análise, apresenta-se esta dissertação como uma contribuição que apóia a proposição de integrar de forma mais abrangente as metodologias de modelagem numérica nas atividades de planejamento e desenho de mina. vii ABSTRACT Various layout designs applicable to the underground gold mining environments at the Cuiaba Mine, Brazil, are evaluated by means of a tridimensional numerical modeling approach, using a Boundary Element Method implemented within MAP3D. This dissertation presents the arguments, technical scenarios, justifications, concepts and methodologies that support an evaluation of geotechnical risk of multiple sublevel stoping models proposed for such mine. The intention is to test the constraints of the sublevel layout against pre-established geotechnical criteria and guidelines. The instability conditions across pillars and stope hangingwall strata are determined. The numerical analyses took into consideration the rock mass characteristics in the areas of interest, including the tridimensional nature of the orebody. The different strength properties of hangingwall and footwall rock materials, relatively weaker, with respect to the strength of the ore material (more hard), were taken into consideration; as well as the pre-mining stress environment and the variation of field stress with respect to depth. Numerical models are calibrated using data from field measurements and the information collected from field observations, which include: rock mass classification data that express the quality and integrity of the rock mass; in situ stress measurement results (prevalent orientation and magnitude); results from laboratory rock testing; field observations of rock mass responses to mining; and lastly from the knowledge providedby the geotechnical practitioners operating daily at the mine concerned. Data analyses are produced while demonstrating the applicability of methodologies and criteria that infer risk of instability through probabilistic representations of risk factors spatially distributed within the domains of interest. The limits of accuracy of simulated models are referred. The modelling results for all layout options of the sublevel stoping method are analyzed, including: the impact of the depth of mining to the stability of rib and sill pillars; the consequences of augmenting the stiffness of the pillar system; the impacts of increasing the mining spans; as well as the impacts of stoping in geotechnical more complex hangingwall strata. Lastly, this dissertation is presented as a contribution supporting a proposition that there is need to integrate more widely the numerical modeling methodologies into the activities of mine planning and mine design. viii LISTA DE FIGURAS Página Figura 1.1 Processo de desenho e otimização do layout para minimizar o risco geotécnico (Read e Stacey, 2009) .............................................................. 10 Figura 1.2 Sequência de análise dos modelos de mecânica de rochas estudados ........ 11 Figura 2.1 Representação das tensões de equilíbrio num cubo representativo de material rochoso ......................................................................................... 28 Figura 2.2 Exemplo de determinação do módulo de elasticidade, ET50, para uma dada curva tensão-deformação ................................................................... 33 Figura 2.3 a) Conceitual de um ensaio de cisalhamento; b) Curva típica tensão cisalhante-deslocamento ............................................................................. 34 Figura 2.4 Envoltórias de ruptura Mohr-Coulomb (pico e residual) ........................... 35 Figura 2.5 Representação de mecanismos empíricos sobre concentração de tensões e quebras associadas ...................................................................... 40 Figura 2.6 Fatores A, B e C do índice N (Trueman et al., 1999) ................................. 42 Figura 2.7 Novos fatores A, B e C do índice N' (Potvin, 1988) ................................ 43 Figura 2.8 Ábaco de estabilidade, Potvin (1988) e Nickson (1992), para realces sem suporte ................................................................................................. 44 Figura 2.9 Relaxamento estimado para escavações, em função de RH e N' (Diederichs e Kaiser, 1999) ........................................................................ 45 Figura 2.10 Comparação entre o teto confinado e o HW relaxado. Limites transladados para três níveis de tensão/tração (Diederichs, 1999) ............. 46 Figura 2.11 Comparação entre a zona de tração elástica acima do teto (relaxamento devido à geometria complexa) e a mobilização prevista ...... 47 Figura 3.1 Esboço geológico regional do Quadrilátero Ferrífero e correlação com o Cráton São Francisco (Modificado de Lana, 2004) ......................... 52 Figura 3.2 Dobra tubular com representação isométrica dos pacotes de BIF .............. 53 Figura 3.3 Seção do nível N11 mostrando a geologia, litologia e a posição dos principais corpos de minério na dobra (Vial, 1980; Vieira, 1988) ............. 55 Figura 3.4 Vista isométrica dos domínios de lavra dos corpos FGS e SER, entre os níveis N9 e N16, profundidade de 650 e 1200 m, respectivamente ....... 56 Figura 3.5 Método de medição de tensões com sobrefuração (overcoring) ................ 68 Figura 3.6 Seção longitudinal esquemática da mina com o layout dos acessos principais .................................................................................................... 71 Figura 3.7 Realce típico lavrado com o método cut-and-fill na Mina Cuiabá ............. 73 Figura 3.8 Equipamentos utilizados no ciclo operacional da Mina Cuiabá ................. 74 Figura 3.9 Exemplos de deformação relativa, medida por MPBX; a) alta de taxa; b) baixa taxa de deformação; c) pontos de quebra identificados por filmagens no interior do hangingwall................................................... 79 ix Figura 4.1 Descontinuidades causadoras de diluição na lavra a) laminas; b) placas .......................................................................................................... 89 Figura 4.2 Estimativa de sobrequebra em realces abertos sem suporte (Clarke e Pakalnis, 1997) ........................................................................................... 90 Figura 4.3 Estágios de quebra no entorno de uma escavação circular sobre tensão (Read, 2004) .................................................................................... 92 Figura 4.4 a)Representação esquemática da quebra; b)Zona de quebra no raise de ventilação do nível N14; c)Resultado da tensão principal máxima no modelo; d) Resultado da deformação total ............................................ 94 Figura 4.5 Modelo-teste de calibração da lavra do corpo SER, nível N7 .................... 96 Figura 4.6 Resultados do modelo-teste de calibração a) deformação total; b) fator de segurança ....................................................................................... 98 Figura 5.1 Modelo global tridimensional típico em MAP3D (vista frontal) ............. 101 Figura 5.2 Designação e termos referentes aos modelos simulados .......................... 102 Figura 5.3 Representação litológica da rocha encaixante a) tipo 1; b) tipo 2 ............ 104 Figura 5.4 Tensão vertical versus deformação axial para o teste de compressão unidimensional ......................................................................................... 108 Figura 5.5 FS segundo o critério de Mohr-Coulomb ................................................. 115 Figura 5.6 Excesso de tensão no critério de Mohr-Coulomb ..................................... 115 Figura 5.7 Risco e distribuição de probabilidade FS ................................................. 118 Figura 6.1 Impacto da profundidade no modelo-teste colocado na profundidade representativa do nível N18 a) fator de segurança; b) deformação total ........................................................................................................... 123 Figura 6.2 Exemplo de distribuição de probabilidade e frequência do FS, medida ao longo da potência nos rib pillars do modelo A1 ..................... 125 Figura 6.3 Distribuição transversal de FS nos rib pillars do modelo A1 para os níveis N17 e N18 ...................................................................................... 127 Figura 6.4 Relações do risco de instabilidade nos rib pillars para dois modelos sublevel , A1 e G1, em função dos vãos e da profundidade de lavra ....... 129 Figura 6.5 Distribuição transversal de FS nos sill pillars do modelo C1 com vãos de 40 m e potência de 15 m; a) nível N14, z=-921 m; b) nível N17, z=-1118 m ........................................................................................ 131 Figura 6.6 Distribuição transversal de FS nos sill pillars do modelo E1 com vãos 40 m e potência de 15 m; a) nível N14, z=-921 m; b) nível N17, z=-1118 m ................................................................................................. 132 Figura 6.7 Relações do risco de instabilidade nos sill pillars para dois modelos sublevel , C1 e E1, em função da largura dos rib pillars e da profundidade de lavra, considerando vãos de lavra de 40 m .................... 134 Figura 6.8 Distribuição transversal de FS nos sill pillars para os modelos, níveis e profundidades correspondentes; a) G1, N14, 921 m ; b) G1, N17, 1118 m; c)K1, N14, 921 m; d) K1,N17, 1118 m ..................................... 136 x Figura 6.9 Relações do risco de instabilidade nos sill pillars para dois modelos sublevel , G1 e K1, em função da largura dos rib pillars e da profundidade de lavra, considerando vãos de lavra de 70m ..................... 137 Figura 6.10 Relações do risco de instabilidade nos sill pillars para dois modelos sublevel, C1 e G1, em função do vão de lavra, para a mesma profundidade ............................................................................................. 138 Figura 6.11 Distribuição das deformações totais, dt , no hangingwall da lavra entre os níveis N15 e N16; a) modelo A1, 25m de vão; b) modelo G1, 70 m de vão ....................................................................................... 140 Figura 6.12 Probabilidade de ocorrência de deformação no hangingwall dos modelos A1 de 25 m de vão, e G1 de 70 m de vão, mesma profundidade ............................................................................................. 141 Figura 6.13 Probabilidade de ocorrência de deformação no hangingwall dos modelos sublevel,G1 e G2, em função das litologias encaixantes, tipo 1 e tipo 2 ................................................................................................... 143 xi LISTA DE TABELAS Página Tabela 3.1 Classificação segundo o sistema Q de Barton para domínios .................... 63 Tabela 3.2 Ranqueamento das litologias típicas de Cuiabá, segundo o sistema RMR de Bieniawski ................................................................................... 65 Tabela 3.3 Resumo dos ensaios de tensões in situ na Mina Cuiabá ............................. 70 Tabela 5.1 Geometrias dos modelos simulados ......................................................... 103 Tabela 5.2 Modelos com variantes na rocha do hangingwall e footwall ................... 105 Tabela 5.3 Propriedades do maciço rochoso SER ...................................................... 106 Tabela 5.4 Caracterização do estado das tensões in situ, pré-lavra ............................ 112 Tabela 5.5 Parâmetros de condicionamento dos modelos MAP3D simulados .......... 113 Tabela 6.1 Risco de instabilidade em função do vão de lavra, para profundidades no hangingwall ................................................................. 142 Tabela 6.2 Risco de instabilidade em função de ambientes geotécnicos distintos (tipo 1, tipo 2) ........................................................................................... 144 xii LISTA DE SÍMBOLOS Coesão do maciço rochoso ..................................................................................... c Dano causado por detonação com explosivo ......................................................... D Deformação total .................................................................................................... dt Módulo de elasticidade ou módulo de Young ........................................................ E Fator de segurança ................................................................................................. FS Aceleração da gravidade ........................................................................................ g Índice de alteração das juntas ................................................................................. Ja Número de famílias de descontinuidades ............................................................... Jn Índice de rugosidade das juntas.............................................................................. Jr Índice de presença de água no maciço ................................................................... Jw k razão entre as componentes σh e σv da tensão virgem ......................................... k Número de estabilidade .......................................................................................... N Número de estabilidade modificado ...................................................................... N’ Plunge da tensão principal σa (software MAP3D) ................................................. Pa Trend da tensão principal σa (software MAP3D) ................................................... Ta Trend da tensão principal σc (software MAP3D) .................................................. Tc Deslocamento ........................................................................................................ u Densidade da rocha ................................................................................................ ρ Ângulo de atrito ou fricção .................................................................................... Deformação ........................................................................................................... ε Tensão normal ........................................................................................................ σ Tensão principal máxima ....................................................................................... σ1 Tensão principal mínima ........................................................................................ σ3 Componente horizontal da tensão virgem .............................................................. σh Componente vertical da tensão virgem .................................................................. σv Componente da tensão principal orientada mais próxima ao eixo y ...................... σa Componente da tensão principal orientada mais próxima ao eixo x ...................... σb Componente da tensão principal orientada mais próxima ao eixo z ...................... σc Gradiente da distribuição das tensões nos respectivos eixos coordenados ............ σii Tensão cisalhante .................................................................................................. τ Tensão cisalhante de pico....................................................................................... τp Tensão cisalhante residual...................................................................................... τr Coeficiente ou razão de Poisson ............................................................................ υ xiii NOMENCLATURA Azimute ........................................................................................................... Az Corpo de lavra Balancão (Mina Cuiabá) ......................................................... BAL Método de elementos de contorno (Boundary Element Method) ................... BEM Banded Iron Formation (formação ferrífera bandada) .................................... BIF Deslocamento de descontinuidade ................................................................. DD Método de elementos distintos (Discrete Element Method) ........................... DEM Equivalente linear de sobrequebra/desplacamento (Equivalent Linear Overbreak/Slough) .......................................................................................... ELOS Método de diferenças finitas (Finite Difference Method) ............................... FDM Método de elementos finitos (Finite Element Method) .................................. FEM Forças fictícias ............................................................................................... FF Filito grafitoso ................................................................................................. FG Corpo de lavra Fonte Grande Sul (Mina Cuiabá) ........................................... FGS Footwall (lapa de uma escavação) .................................................................. FW Corpo de lavra Galinheiro (Mina Cuiabá) ......................................................GAL Geological Strength Index (sistema de classificação de Hoek) ...................... GSI Hangingwall (capa de uma escavação) ........................................................... HW Metandesitos ................................................................................................... MAN Metabasaltos.................................................................................................... MBA Mining Rock Mass Rating (sistema de classificação de Laubscher) .............. MRMR Onça troy, unidade de medida utilizada do ouro, 1 oz = 31,1035 g ................ oz Índice Q (sistema de classificação de Barton) ................................................ Q Risco geotécnico ............................................................................................. R Raio Hidráulico ............................................................................................... RH Rock Mass Rating (sistema de classificação de Bieniawski) .......................... RMR Corpo de lavra Serrotinho (Mina Cuiabá) ....................................................... SER Índices de tensões atuantes no maciço ............................................................ SRF Resistência à compressão simples ................................................................... UCS Dólar americano .............................................................................................. US$ Clorita-sericita-plagioclásio-carbonato-quartzo xisto ..................................... XS Clorita-carbonato-quartzo-sericita filito com matéria carbonosa .................... X1 Quartzo-carbonato-sericita-xisto ..................................................................... X2 Modelo numérico bidimensional ..................................................................... 2D Modelo numérico tridimensional .................................................................... 3D xiv ABREVIAÇÕES AGABM - AngloGold Ashanti Brasil Mineração, empresa de exploração de ouro, de origem sul-africana e com doze anos de atuação no Brasil. Atualmente designada AngloGold Ashanti Córrego do Sítio Mineração Ltda. CAD – Computer Aided Design, desenho assistido por computador, nome genérico de sistemas computacionais utilizados para facilitar o projeto e desenho técnicos. DNPM - Departamento Nacional de Produção Mineral, órgão do Ministério de Minas e Energia. EMB - Economia Mineral do Brasil, relatório anual publicado pelo DNPM para analisar as relações de oferta e demanda do mercado dos bens minerais no Brasil. GRID – Planos-solução de análise dos modelos numéricos em MAP3D. LOM - Life-Of-Mine, tempo de vida de uma mina. MAP3D - Programa de elementos de contorno, baseado no método indireto de elemento de contorno. Compreende o pacote tridimensional de estabilidade da rocha, usado para construir modelos e realizar análise de tensão, deformação, fator de segurança, etc. ROM – Run-Of-Mine, minério bruto obtido diretamente da mina sem sofrer nenhum tipo de beneficiamento. SCALER - Equipamento mecânico, móvel, com braço hidráulico extensível, capaz de exercer esforços mecânicos na ponta, usado para saneamento de blocos soltos numa escavação de mina subterrânea. FLAC - Fast Lagrangian Analysis of Continua, programa de modelagem numérica que utiliza o método de diferenças finitas na análise geotécnica; possibilita o comportamento não-linear dos materiais (plastificação), bem como do maciço (grandes deslocamentos etc.). MPBX - Multi Point Borehole Extensometer, extensômetro de hastes múltiplas utilizado com 15 m de comprimento na Mina Cuiabá. SMART cable - Stretch Measurement to Assess Reinforcement Tension, combina a capacidade de suporte de um cabo padrão de 7 tranças; 9,6 m de comprimento, no caso da Mina Cuiabá; com um extensômetro miniatura de 6 fios. xv SUMÁRIO EPÍGRAFE ....................................................................................................................... III DEDICATÓRIA .....................................................................................................................IV AGRADECIMENTOS .............................................................................................................. V RESUMO .......................................................................................................................VI ABSTRACT ..................................................................................................................... VII LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................... VIII LISTA DE TABELAS .............................................................................................................XI LISTA DE SÍMBOLOS ......................................................................................................... XII NOMENCLATURA ............................................................................................................. XIII ABREVIAÇÕES ................................................................................................................. XIV 1 CAPÍTULO 1 : INTRODUÇÃO 1 1.1 O VALOR DO MINÉRIO E A SOFISTICAÇÃO DAS METODOLOGIAS EXTRATIVAS ......... 1 1.2 ENQUADRAMENTO DA MODELAGEM NUMÉRICA TRIDIMENSIONAL ......................... 5 1.3 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA E DO ESTUDO DE CASO ANALISADO ....................... 6 1.4 GEOTECNIA E MODELAGEM NUMÉRICA .................................................................... 8 1.5 OBJETIVOS DA DISSERTAÇÃO.................................................................................. 13 1.6 METODOLOGIA ADOTADA ....................................................................................... 15 1.7 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO ........................................................................... 16 2 CAPÍTULO 2: REVISÃO: MODELOS NUMÉRICOS EM MECÂNICA DAS ROCHAS 19 2.1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 19 2.2 MÉTODOS COMPUTACIONAIS .................................................................................. 21 2.2.1 Método de elementos finitos (FEM) .................................................................. 22 2.2.2 Método de diferenças finitas (FDM) .................................................................. 23 2.2.3 Método de elementos distintos (DEM) .............................................................. 24 2.2.4 Método de elementos de contorno (BEM) ......................................................... 25 2.3 FERRAMENTAS PARA ANÁLISE NUMÉRICA ............................................................. 26 2.3.1 Detalhes relevantes da formulação do método de elementos de contorno ......... 28 2.3.2 Características de um modelo elástico ............................................................... 31 2.3.3 Módulo de deformação (de Young) ................................................................... 32 2.3.4 Coeficiente de Poisson ....................................................................................... 33 2.3.5 Critério de ruptura Mohr-Coulomb .................................................................... 34 2.4 MODELAGENS NUMÉRICAS CONFIÁVEIS ................................................................. 36 xvi 2.5 CONSIDERAÇÃO SOBRE CONCENTRAÇÃO DE TENSÕES EM ESCAVAÇÕES ............... 39 2.6 CONDICIONANTES EMPÍRICAS PARA O DESENHO DE ESCAVAÇÕES ESTÁVEIS ........ 40 3 CAPÍTULO 3 : MINA CUIABÁ 48 3.1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................48 3.2 HISTÓRICO DA MINA ............................................................................................... 48 3.3 ASPECTOS GERAIS DA MINA ................................................................................... 50 3.4 CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS ............................................................................ 51 3.4.1 Geologia regional ............................................................................................... 51 3.4.2 Geologia estrutural ............................................................................................. 53 3.4.3 Geologia local .................................................................................................... 54 3.4.4 Petrografia .......................................................................................................... 56 3.4.5 Hidrotermalismo ................................................................................................ 58 3.4.6 Registros de sismicidade regional ...................................................................... 59 3.4.7 Hidrogeologia .................................................................................................... 60 3.5 ASPECTOS E CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA ........................................................ 60 3.5.1 Classificação geomecânica da Mina Cuiabá ...................................................... 61 3.5.1.1 Índice Q de qualidade da rocha ............................................................................. 62 3.5.1.2 Sistema RMR ......................................................................................................... 64 3.5.1.3 Índice de resistência geológica .............................................................................. 65 3.5.2 Características geomecânicas das rochas integrantes do maciço de Cuiabá ...... 66 3.5.3 Generalidades sobre o sistema de contenção aplicado ....................................... 67 3.5.4 Estado das tensões in situ nos níveis N12 e N14 ............................................... 68 3.6 ASPECTOS OPERACIONAIS ....................................................................................... 70 3.6.1 Acesso à lavra subterrânea ................................................................................. 70 3.6.2 Método de lavra ................................................................................................. 72 3.6.3 Aspectos do ciclo operacional ........................................................................... 74 3.6.4 Monitoramento e instrumentação das reações do maciço .................................. 77 4 CAPÍTULO 4 : MODELOS NUMÉRICOS TRIDIMENSIONAIS DO CORPO SERROTINHO 81 4.1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 81 4.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO CORPO DE MINÉRIO SERROTINHO ........................... 82 4.3 PROPOSIÇÃO PARA A LAVRA DO CORPO SERROTINHO ........................................... 84 4.4 DADOS PARA CONCEPÇÃO DE PROJETOS DE ESCAVAÇÕES DE MINA ....................... 85 4.4.1 Definição dos vãos livres de lavra ao longo do strike ........................................ 86 4.4.2 Quantificação da sobrequebra no hangingwall .................................................. 88 4.5 MODELOS DE CALIBRAÇÃO NUMÉRICA DAS REAÇÕES NO CORPO SERROTINHO ..... 90 4.5.1 Modelo-teste de calibração do raise N14 .......................................................... 93 4.5.2 Modelo-teste de calibração do sublevel N7 ....................................................... 94 xvii 5 CAPÍTULO 5 : ATRIBUTOS E CRITÉRIOS PROPOSTOS PARA AS SIMULAÇÕES NUMÉRICAS 99 5.1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 99 5.2 REPRESENTAÇÃO DOS LAYOUTS DE LAVRA SIMULADOS ....................................... 100 5.3 REPRESENTAÇÃO DAS CONDIÇÕES GEOLÓGICAS MODELADAS ............................ 103 5.4 PROPRIEDADES DOS MATERIAIS E CRITÉRIOS APLICADOS .................................... 105 5.5 MATERIAL DE ENCHIMENTO BACKFILL ................................................................. 107 5.6 DEPENDÊNCIAS RELATIVAS AO ESTADO DAS TENSÕES IN SITU ............................. 109 5.7 CONDICIONANTES DE SEQUÊNCIA DE LAVRA ....................................................... 112 5.8 CONDICIONAMENTO DOS MODELOS NUMÉRICOS E DISCRETIZAÇÃO .................... 113 5.9 CRITÉRIOS APLICADOS PARA MENSURAR INSTABILIDADE ................................... 114 5.9.1 Instabilidade segundo o critério do fator de segurança .................................... 114 5.9.2 Instabilidade segundo o critério das deformações totais .................................. 116 5.10 RISCO DE INSTABILIDADE REPRESENTADO EM TERMOS DE PROBABILIDADE ....... 116 5.11 LIMITES DE APLICABILIDADE DOS MODELOS SIMULADOS .................................... 119 6 CAPÍTULO 6: RESULTADOS E AVALIAÇÃO DA ESTABILIDADE DAS VARIANTES SUBLEVEL 121 6.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 121 6.2 IMPACTO DA PROFUNDIDADE NA ESTABILIDADE DO MÉTODO SUBLEVEL ............. 122 6.3 PROCEDIMENTOS PARA O PROCESSAMENTO E REPORTAGEM DOS RESULTADOS .. 124 6.4 ESTABILIDADE DOS RIB PILLARS NAS VARIANTES DE SUBLEVEL-STOPING ............. 127 6.4.1 Impacto do vão de lavra e da profundidade no risco dos rib pillars ................ 128 6.5 ESTABILIDADE DOS SILL PILLARS NAS VARIANTES DE SUBLEVEL-STOPING ............ 130 6.5.1 Impacto da rigidez do sistema e da profundidade no risco dos sill pillars ...... 133 6.5.2 Impacto do vão de lavra no risco de instabilidade de sill pillars ..................... 135 6.6 INSTABILIDADE NO HANGINGWALL NAS VARIANTES SUBLEVEL-STOPING .............. 139 7 CAPÍTULO 7 : CONCLUSÕES GERAIS E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS 145 7.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 145 7.2 CONCLUSÕES ........................................................................................................ 146 7.3 SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS .................................................................... 152 8 BIBLIOGRAFIA 154 9 ANEXO I : SELEÇÃO EMPÍRICA DE STEWART 159 10 ANEXO II : ÍNDICES DE MATHEWS E POTVIN 162 11 ANEXO III : DETALHES DOS MODELOS DE CALIBRAÇÃO 169 12 ANEXO IV : RESULTADOS ADICIONAIS DOS MODELOS SIMULADOS 174 1 1 Capítulo 1 : Introdução C a p í t u l o 1 INTRODUÇÃO 1.1 O VALOR DO MINÉRIO E A SOFISTICAÇÃO DAS METODOLOGIAS EXTRATIVAS Neste capítulo, de princípio e em termos bem gerais, far-se-á a contextualização da evolução econômica da indústria mineira de produção aurífera nas últimas décadas. A esse breve tópico inicial, seguirá, de forma restrita, a exposição sobre a importância do tema central desta dissertação e sua relevância técnica. O assunto aqui desenvolvido é a aplicação de técnicas de modelagem numérica tridimensional para definição das condicionantes geotécnicas necessárias à extração de um corpo mineral aurífero numa mina subterrânea localizada no município de Caeté, Minas Gerais, Brasil. O mais recente relatório do Departamento Nacional de Produção Mineral sobre a economia mineral do Brasil (DNPM, 2009) mostra os impactos significativos da indústria produtora de ouro na geração de riquezas. Em nível mundial, a cotação de mercado do ouro produzido entre os anos de 1990 e 1996 apresentou modesta volatilidade, posicionando-se entre 340 e 400 dólares por onça (US$/oz). A partir de 1997, houve um declínio significativo no preço spot do metal que, em 1999,chegou a registrar o valor de US$ 253/oz. As sucessivas baixas nas cotações do ouro, por um período relativamente longo, exerceram pressões diversas sobre a indústria aurífera, forçando o encerramento de inúmeras pequenas e médias empresas do setor, em todo o mundo. As empresas de grande porte viram-se obrigadas a submeter-se a processos de consolidação, através de fusões, incorporações e aquisições entre concorrentes, no sentido tanto de otimizar e flexibilizar modelos produtivos e econômicos quanto de integrar processos com vista à redução de custos operacionais para assegurar sustentabilidade. A partir de abril de 2002, as cotações do ouro no mercado voltaram a 2 posicionar-se acima dos US$ 300/oz. Uma sequência de altas possibilitou que, no final de 2007, o metal já estivesse cotado a US$ 840/oz, desencadeando-se uma redefinição global dos recursos minerais disponíveis. Com isso, deu-se uma maior concentração de reservas e, um maior valor econômico, o que provocou uma corrida para o aumento das capacidades produtivas instaladas e uma tentativa de elevação dos volumes de produção. Nesse período, os principais grupos internacionais consolidavam mais de 1/3 da oferta aurífera primária mundial. Especificamente, os três grandes grupos multinacionais sul-africanos, AngloGold Ashanti, Gold Fields e Harmony Gold Mining, acumulavam 14,7% da produção global de ouro. Contudo, esse aumento significativo de valor no mercado não correspondeu ao aumento da produção total de ouro, quer dizer, o aumento da oferta do metal no mercado mundial manteve-se praticamente estável no período entre 1995 e 2007, apresentando uma taxa média de crescimento anual ínfimo, da ordem de 0,88% ao ano. No cenário nacional, diferentemente do que ocorreu em outros países, na década de 1980, a produção de ouro atingiu seu auge graças à extração dos garimpos, que responderam por até 90% da produção. Em 1988, o país produziu o recorde de 113 toneladas, colocando-se como o quinto produtor mundial. Desde então, a produção brasileira recuou consideravelmente, em virtude das oscilações da atividade garimpeira e da incapacidade das empresas em suprir a demanda do mercado. Durante a década de 1990, a produção industrial de ouro no Brasil ocorreu de forma lenta. No período entre 1995 e 2007, a produção brasileira de ouro apresentou uma média anual decrescente de 3,6% ao ano. Entre 2004 e 2007, porém, deu-se o surgimento de um novo conjunto de minas em atividade, as quais passaram a liderar a indústria extrativa do metal no país. Em 2007, a produção de operações mineiras formalizadas (excluídos os garimpos) correspondeu a 88,9% da produção nacional, registrando um acréscimo de 8,1% frente à participação no período anterior equivalente, perfazendo 42,4 toneladas. Ressalte-se que, neste ano de 2007, a Mina Cuiabá (foco do estudo aqui apresentado), pertencente à empresa AngloGold Ashanti Brasil Mineração (AGABM), passou a ocupar a posição de maior produtora nacional de ouro, sendo responsável por 20,3% da produção total brasileira, movimentando cerca de 1,2 milhões de toneladas de minério bruto (run-of- mine, ROM), contendo 8,9 toneladas de ouro com teor médio de 7,342 g/t. 3 Tradicionalmente, o Brasil posiciona-se no mercado internacional como um centro produtor e exportador de ouro. Assim, o país sempre apresentou saldos superavitários na balança comercial do minério. Com relação à distribuição do fluxo monetário, as exportações do ouro apresentaram, sistematicamente, participação superior a 99,8% dos valores totais negociados na balança comercial brasileira. Em 2007, o consumo mundial de ouro apresentou um acréscimo de 3,3% em termos de quantidade (3.519 toneladas), movimentando um volume financeiro recorde de US$ 78,6 bilhões, com elevação de 18,7% relativamente ao ano de 2006. Ainda em 2007, a demanda por ouro superou a oferta em 59%. Essa demanda por consumo de ouro envolve diversos setores, que abrangem desde segmentos industriais, de saúde e eletrônicos até setores de joalheria e financeiro, este com finalidades especulativas. No ano corrente de 2011, a cotação do ouro alcançou a marca histórica de US$1.424/oz, que representa um aumento de cerca de 470% para um período relativamente curto de nove anos (2002-2011). A escassez de ouro oriundo de fontes mais superficiais e informais (como as atividades de garimpo), associada à elevação acentuada e relativamente brusca na cotação do metal, impulsiona no momento um ápice de produção nas minas auríferas nacionais. Nesta conjuntura atual de alta valorização dos recursos minerais auríferos, tem-se pressões para produzir mais, avançar com maiores velocidades de lavra, desenvolver maiores escavações, explorar frentes mais produtivas, etc., não obstante, os ambientes geotécnicos podem ser ou não mais complexos, mais profundos e mais problemáticos. Neste contexto, cresce a demanda pela avaliação técnico-econômica dos projetos de mineração, na qual se enquadra a modelagem numérica, como subsídio essencial no planejamento seguro, na otimização dos layouts de lavra e no dimensionamento apropriado da infra-estrutura em geral das minas de grande porte. O valor relativamente alto da cotação do ouro no mercado atual torna possíveis projetos que, no passado, eram vistos como economicamente inviáveis. Com isso, a abertura de novas minas subterrâneas torna-se exequível. Dada a extensão aumentada das reservas em profundidade, promove-se cada vez mais o aprofundamento da lavra em minas 4 existentes, com tendência de uma extração mais acelerada do recurso mineral para que as empresas se beneficiem do período de alta. Normalmente, as lavras subterrâneas são desenhadas em função dos grupos de condicionantes: a geometria do corpo (controlada pela inclinação e espessura); a condição de tensão; e as características de resistência mecânica dos materiais constituintes do minério e rochas encaixantes que controlam as condições de estabilidade dos maciços. Em termos gerais, a incidência de fenômenos de desplacamentos em ambientes de mineração subterrânea depende das reações dos maciços rochosos em função da lavra, da complexidade geológica, do aprofundamento das frentes de trabalho e consequente elevação das tensões. Perante a multiplicidade de fatores que influenciam a estabilidade das escavações subterrâneas, surge a necessidade de aplicar controles técnicos, cuja eficácia pode ser avaliada com a ajuda da modelagem numérica. Entretanto, é sabido que determinados fatores não podem ser alterados, tais como a morfologia dos corpos, as características e propriedades mecânicas das rochas. Contudo, diante da necessidade de se produzir cada vez mais rápido, de forma mais intensa e mais profunda, mudanças no método de lavra podem tornar-se imperativas. Nesses casos, a geomecânica pode integrar uma avaliação multidisciplinar, detalhada, visando a uma possível aplicação de determinado método de lavra que contemple e se ajuste às condições geotécnicas prevalecentes, o que permite a implementação eficiente e segura do novo método extrativo e contribui para a melhora no aumento da produtividade. A sofisticação dos métodos de lavra, envolvendo sequenciamentos variados dos avanços e a multiplicidade de fatores que regem a estabilidade das escavações de mina, requer técnicas de análises numéricas tridimensionais. Com efeito, para analisar e mitigar o risco geotécnico da lavra e, assim, melhorar os ambientes de mineração, há necessidade de técnicas modernas, expeditas e confiáveis. Dessa forma, o emprego da modelagem numérica, como ferramenta de análise e desenho de mina, é oportuno e deve ser utilizado como instrumentode suporte sistemático ao planejamento de mina. A geotecnia promove a implantação do rigor técnico com o propósito de mitigar e controlar os riscos em operações de lavra. 5 1.2 ENQUADRAMENTO DA MODELAGEM NUMÉRICA TRIDIMENSIONAL As atividades de mineração requerem medidas, ações, tecnologias e soluções baseadas em estudos interdisciplinares, entre os quais se inscrevem os estudos geotécnicos. Os layouts de mina não podem ser planejados sem que sejam consideradas as condições geológicas, estruturais e geotécnicas do maciço. A heterogeneidade de um ambiente de mineração, onde os corpos de minério podem apresentar morfologias variadas em decorrência da presença de condições geológicas complexas, tais como intercepções de estruturas, dobras, intrusões e demais descontinuidades, demanda metodologias de análise elaboradas e certa sofisticação das ferramentas utilizadas, o que possibilita interpretar adequadamente a reação das escavações em função da lavra. Entre os métodos e ferramentas de análises geotécnicas usadas, mencionam-se, por exemplo, regras e formulações empíricas, classificações e ranqueamentos empíricos, métodos analíticos e numéricos, ensaios in situ e laboratoriais. Nesse conjunto, incluem-se: a descrição geotécnica de testemunhos de sondagem; a determinação empírica de raio hidráulico; as classificações de ranqueamento da qualidade do maciço (índices Q, de Barton; RMR, de Bieniawski, etc.); os ensaios laboratoriais das características e propriedades mecânicas da rocha (resistência à compressão, tração e cisalhamento); os ensaios in situ do estado das tensões; as interpretações numéricas bi e tridimensionais, entre outros procedimentos. Tipicamente, as morfologias complexas dos corpos de lavra exigem a execução de layouts com múltiplas escavações atravessando ambientes geotécnicos variados. Por isso, faz-se necessário representar os problemas geotécnicos em espaços tridimensionais, dado não ser possível a simetria geométrica e paramétrica. A modelagem numérica torna-se uma ferramenta essencial para o planejamento responsável das lavras subterrâneas, permitindo avaliar as condições de instabilidade da escavação e, portanto, o risco geotécnico associado à lavra. Em todo o mundo, a modelagem numérica ganhou força com o advento do avanço computacional quando os robustos mainframes deram lugar aos computadores pessoais de menor porte, porém com maior capacidade de processamento. No Brasil, a aplicação da modelagem numérica em operação de mineração, sobretudo tridimensional, ainda é 6 relativamente incipiente. Em parte, a baixa disseminação do uso de ferramentas numéricas em mineração deve-se ao fato de que a maior parte da mineração brasileira resulta de lavras a céu-aberto. Nestas, aparentemente, há requisição de menor esforço e complexidade das análises de instabilidade. Um fator que contribui para esse cenário de maior facilidade interpretativa no céu-aberto é o fato de poder o geotécnico de campo inferir visualmente as condições do maciço. A acessibilidade aos volumes expostos do maciço lavrado e a facilidade de gerar modelos conceituais com base em representações bidimensionais, simétricas, induzem a aplicação de métodos analíticos de equilíbrio limite para dimensionar as condicionantes de estabilidade das bancadas e taludes. A heterogeneidade do maciço, a assimetria morfológica dos corpos, a irregularidade espacial do estado de tensões pré-lavra, a variedade dimensional das lavras, entre outras situações, requerem, invariavelmente, na maioria dos casos, que a representação e análise das lavras subterrâneas sejam feitas por meio de modelagem tridimensional. Para determinados ambientes geotécnicos, é imprudente prosseguir com lavras subterrâneas sem aplicar técnicas sofisticadas de modelagem numérica, além de outras técnicas apropriadas, a fim de melhor avaliar e quantificar os riscos geotécnicos. 1.3 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA E DO ESTUDO DE CASO ANALISADO A problemática da mineração subterrânea nas minas de ouro situadas na região do Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais, está associada à instabilidade induzida nos realces de relativa dimensão, em função do aprofundando gradativo da lavra e da complexidade geológica dos corpos de minério. A Mina Grande, anteriormente de propriedade da extinta mineração Morro Velho, localizada no município de Nova Lima, Minas Gerais, exemplifica tais conjecturas. Instalada em 1834, atingiu a profundidade de 2100 m, tendo sido considerada, na década de 1940, a mais profunda do mundo, antes mesmo das lavras tabulares sul-africanas. Ao longo da sua vida centenária e consequente aprofundamento, registraram-se vários episódios de mobilização geomecânica, o que causou desplacamentos e relativa instabilidade no maciço. Hoje, essa mina encontra-se fechada. 7 Comparativamente, a Mina Cuiabá, objeto desta dissertação, conduz sua lavra a profundidades médias de 900 m, com pretensões de prosseguir a extração a maiores profundidades. É provável, então, antever um aumento no estado das tensões no entorno das superfícies expostas dos realces. Consequentemente, faz-se relevante avaliar as condicionantes futuras e, portanto, analisar métodos alternativos para a lavra. Na Mina, o teor da mineralização varia espacialmente em função da profundidade, o que exige ajustes na geometria dos layouts de lavra. A seção útil do realce e o método de lavra nele aplicado podem mudar, portanto, em dependência das condições geológicas e do valor econômico da mineralização apresentada. O método de lavra empregado em Cuiabá tem sido o cut-and-fill. As operações de lavra são completamente mecanizadas com equipamentos de grande porte. Entretanto, em algumas regiões, os corpos apresentam camadas mineralizadas com potência muito acima da dimensão convencional. Nesses casos, embora os realces lavrados sejam preenchimentos com material de enchimento (backfill) mecânico e hidráulico, existe a necessidade de se deixar pilares verticais. Gera-se, dessa forma, um método de lavra híbrido, que compreende particularidades do método room-and-pillar e cut-and-fill, simultaneamente. A complexidade geomorfológica da Mina Cuiabá requer esse tipo de artifício operacional que implica, em alguns corpos, inserir pilares verticais no método de lavra atual. Considerando-se que a morfologia dos corpos mineralizados não é estritamente previsível, o que impede regularidade de simetria no desenho do layout de lavra, torna- se essencial recorrer à modelagem numérica. A realização das análises geotécnicas cabíveis, com a finalidade de antecipar circunstâncias das lavras irregulares, proporciona uma pré-avaliação dos benefícios de se alterar ou otimizar o layout corrente. Na Mina Cuiabá, atualmente, o corpo de minério Serrotinho (SER) apresenta-se com características morfologicamente distintas, as quais justificam uma redefinição e otimização do layout e do método de lavra nele aplicados. As diferenças nas formas e atitudes geológicas do corpo SER, caracterizado por um ângulo de inclinação relativamente mais acentuado, espessura aparente maior que 10 m e mineralização com 8 teores elevados e de distribuição aproximadamente uniforme, sugerem que o método de lavra sublevel-stoping seja mais adequado do que o método atualmente usado (cut-and- fill). A alteração no método de lavra pode contribuir para a melhoria da segurança operacional, tanto do ponto de vista dos controles geotécnicos da lavra quanto da redução da exposição do trabalhador. Até o momento, está por se definir a aplicabilidade do novo método de lavra (sublevel- stoping) para o ambiente geotécnico do SER, gradativamente maisprofundo, onde vem- se aplicando o método de lavra cut-and-fill. As condições geotécnicas são tais que se deve analisar, por meio de ferramentas de modelagem numérica tridimensional, a estabilidade das escavações de lavra propostas, o que até aqui não ocorreu. A conclusão de um estudo que defina as condições de operabilidade e desenho do novo método para o corpo SER é, portanto, uma necessidade para tornar mais segura a lavra de uma reserva de grande valor econômico. 1.4 GEOTECNIA E MODELAGEM NUMÉRICA A engenharia geotécnica demanda a aplicação de princípios da mecânica dos solos, mecânica das rochas, engenharia geológica, bem como de outras áreas e disciplinas afins, consagradas, principalmente, nos domínios das indústrias de construção civil e extração mineral (Brady e Brown, 2006). Nesta dissertação, aplicam-se princípios de mecânica das rochas, ciência teórico-aplicada que estuda o comportamento mecânico das rochas e dos maciços rochosos e que interpreta as resposta dos maciços sujeitos à ação de esforços solicitantes. Essa ciência é hoje imprescindível na avaliação das condições de operabilidade dos ambientes de mineração em geral. Os princípios teóricos e empíricos que a mecânica das rochas integra sua multiplicidade de metodologias de análise, as ferramentas e os critérios que considera de extrema relevância, tudo isso pode ser usado para dimensionar com segurança e confiabilidade um leque considerável de estruturas em maciços rochosos (realces, poços de extração, pilares, sistema de contenção, etc.). 9 A tendência moderna na gestão dos riscos geotécnicos em mineração é a de apropriar as equipes de mecânica de rochas com metodologias e ferramentas de análise capazes de facilitar o dimensionamento dos layouts de mina e suas escavações respectivas. O processo de desenho e a subsequente otimização do modelo de layout, as escavações específicas ou infra-estrutura em geral para os vários ambientes geotécnicos requer determinadas fases. Nomeadamente, tem-se: a fase de coleta e compilação de informação, em que se definem os modelos necessários (geológico, geotécnico, estrutural, hidrogeológico e outros); a fase em que se definem e caracterizam os domínios geotécnicos específicos, identificam-se e adotam-se mecanismos de quebra, critérios de resistência, etc.; a fase em que se conceituam os desenhos das escavações propriamente ditas, levando-se em conta as especificações do ambiente de operabilidade imposto; a fase de realização das análises de estabilidade e integridade perante os critérios de quebra; e, por último, a fase de implementação que considera a identificação de risco e respectivas análises, monitoramento, etc., tendo-se definido, previamente, o desenho final do layout de lavra otimizado. A Figura 1.1 mostra, esquematicamente, esse processo de desenho e otimização do layout, com vista a minimizar o risco geotécnico. No âmbito do processo de desenho de escavações de mina mencionado, precisamente durante a fase de análise de estabilidade da infra-estrutura proposta, a utilização de metodologias e ferramentas de modelagem numérica torna-se indispensável, sobretudo quando os domínios de análise das escavações apresentam complexidade e variabilidade paramétrica espacial considerável. Em mineração, geralmente, os riscos de natureza geomecânica estão associados aos impactos do desequilíbrio das tensões decorrentes do avanço da lavra. Importa, portanto, averiguar quais os impactos que um desenho de lavra em particular apresenta em função das geometrias e sequenciamento da extração. Escavações com geometria irregular, em que as camadas encaixantes e de minério apresentam propriedades mecânicas distintas, com tensões in situ que variam em magnitude e direção, requerem análises de mecânica de rochas que usem métodos numéricos. A caracterização dos ambientes geotécnicos, por meios de métodos de classificação geotécnica, permite que 10 os modelos numéricos integrem essa informação e possibilitem inferências, numa primeira análise, tais como a ordem de grandeza das deformações causadas nas superfícies escavadas e os níveis de variação ou desequilíbrios das tensões induzidas nas escavações adjacentes. Figura 1.1 Processo de desenho e otimização do layout para minimizar o risco geotécnico (Read e Stacey, 2009) 11 A análise criteriosa dos resultados de simulações numéricas possibilita a definição de medidas mitigadoras dos riscos de desarticulação previstos, que podem envolver a redefinição do desenho do layout de lavra, mudanças nas geometrias das escavações, alteração das especificações das estruturas de suporte (pilares), redimensionamento dos sistemas de contenção, etc. Os resultados provenientes de modelos numéricos requerem apreciação do grau de confiabilidade. É necessário retro-analisar os resultados dos modelos com base nas respostas observadas in situ, provenientes de dados de monitoramento e instrumentação existentes. O processo de retroanálise aplicado nesta dissertação, Figura 1.2 permite validar as premissas consideradas nos modelos, como, por exemplo, confirmar que o valor dos parâmetros situa-se dentro de intervalos aceitáveis, correlacionados com as respostas realmente verificáveis no ambiente real. Figura 1.2 Sequência de análise dos modelos de mecânica de rochas estudados É evidente ser útil a aplicação prática dos princípios, metodologias, ferramentas e domínios da mecânica de rochas ao problema central desta dissertação. Análises bem condicionadas, coerentes e representativas requerem múltiplas interações de natureza empírica, teórica, analítica e numérica. Tais aplicações requerem dados precedentes, experiência, registros de casos históricos, caracterização adequada do maciço, instrumentação, monitoramento, testes físicos e experiência interpretativa na modelagem numérica. São também necessárias informações substantivas e essenciais para interpretar com o maior rigor possível as condições dos maciços rochosos. A escolha e definição do método de lavra a ser empregado em determinada estratégia de mineração dependem da caracterização do ambiente geotécnico prevalecente. O gerenciamento das reações adversas do maciço em função da lavra exige aderência aos 12 critérios de estabilidade impostos ao projeto (como, por exemplo, execução de pilares e escavações com as dimensões estipuladas) cuja execução deverá ser controlada de acordo com níveis de tolerância aceitáveis. Diferentes metodologias de lavra exigem critérios diferentes de estabilidade. As modelagens tridimensionais são consideradas as mais indicadas para representar problemas de estabilidade global em ambientes de mina subterrânea (Hoek et al., 1989). A modelagem tridimensional, elástica, permite acomodar o impacto de geometrias e formas tridimensionais complexas e determinar com relativa facilidade computacional a influência destas. Modelos numéricos tridimensionais podem beneficiar-se da flexibilidade do método de elementos de contorno (BEM – Boundary Element Method) para conduzir análises de tensões e deformações, induzidas pelo ambiente de lavra, por serem mais expeditos. Os modelos elásticos são utilizados para resolver equações de equilíbrio, continuidade e elasticidade, sendo que poucos parâmetros de entrada precisam ser especificados. As equações de elasticidade requerem apenas a caracterização do estado de tensão pré-lavra (tensão in situ), módulo de Young e coeficiente de Poisson. Neste trabalho, a análise geotécnica com modelos numéricos considera as características mecânicas do maciço rochoso nas áreas de interesse, a natureza tridimensional dos corposde minério, o aumento da tensão com respeito à profundidade e a diferença entre as propriedades de resistência das rochas do hangingwall e footwall, relativamente à rocha do minério. Os modelos são calibrados com base em observações de campo, dados de classificação do maciço rochoso, bem como o conhecimento dos profissionais geotécnicos consultados que trabalham diariamente na mina. Em geral, os resultados da modelagem podem ser avaliados do ponto de vista de um determinado critério de ruptura. Neste estudo, foi aplicado o critério de ruptura de Mohr-Coulomb. Em face da variabilidade espacial dos resultados dos indicadores de risco geotécnico considerados (por exemplo, fator de segurança e deslocamento total), os valores gerados nos volumes-solução dos diversos modelos rodados beneficiaram de análises de frequência estatística e probabilística. 13 1.5 OBJETIVOS DA DISSERTAÇÃO A dissertação de mestrado aqui apresentada debruça-se sobre a avaliação geotécnica por meio de modelagem numérica tridimensional, na aplicabilidade do método de lavra sublevel-stoping para a extração do corpo Serrotinho (SER) da Mina Cuiabá, caracterizado como um ambiente geológico e geotecnicamente complexo. Essencialmente, pretende-se dimensionar e avaliar, para diferentes profundidades de lavra, a estabilidade dos pilares de sustentação do método sublevel-stoping considerado, nomeadamente os pilares sill e rib, assim como dimensionar os vãos livres longitudinais (strike span) que separam pilares rib. Finalmente, comparam-se as condicionantes de onze layouts diferentes, que somam vinte e quatro modelos computados e analisados, para os quais se determinam as probabilidades de ocorrência de condições instáveis, de acordo com indícios aqui estipulados para ambientes geotécnicos distintos. O ambiente geotécnico da lavra do corpo SER apresenta características particulares. Aí destaca-se uma maior verticalização da mineralização em setores de lavra mais profundos que aqueles já lavrados. Seu estudo exige uma abordagem tridimensional, dada a irregularidade morfológica do corpo mineralizado e das escavações de lavra (realces) projetados; bem como a distribuição não uniforme do estado das tensões in situ. Em geral, o maciço apresenta propriedades mecânicas variadas das rochas constituintes do hangingwall e footwall (xistos), cujas magnitudes de resistência à compressão simples e do módulo de elasticidade se apresentam substancialmente inferiores ao do material do minério (Formação Ferrífera Bandada). Especificamente, pretende-se avaliar a estabilidade de layouts de lavra que compreendam painéis de 60 m de altura vertical, subdivididos em três subníveis de 20m cada. Rib pillars (pilares rib) são distribuídos ao longo dos painéis, espaçados regularmente, cuja distância pretende-se dimensionar. Sill pillars (pilares sill) são projetados para separar cada painel de lavra ou nível; o acesso aos corpos deve ser feito por drifts (desenvolvimento no minério). Para avaliar o impacto do fator profundidade, os resultados da modelagem numérica são reproduzidos para os níveis N15 ao N18, profundidades de 987 e 1184 m, onde as espessuras aparentes (potências) do corpo SER 14 variam de 10 a 15 m, e onde o dip apresenta-se aproximadamente com 65º e plunge com 20º. Incluem-se como objetivos intrínsecos do trabalho de modelagem numérica proposto: aplicar conceitos e metodologias de modelagem numérica tridimensional para avaliar o risco geotécnico em lavra subterrânea; analisar, por meio de modelos numéricos, a aplicação do método de lavra sublevel-stoping, como método alternativo para o corpo SER da Mina Cuiabá; demonstrar a utilidade de modelagens tridimensionais com métodos numéricos de contorno na avaliação de geometrias de lavra complexas, introduzindo elementos de calibração nos modelos gerados e utilizando informação histórica sobre o comportamento do maciço; testar os limites de representatividade dos modelos numéricos considerados e identificar as falhas e limitações; propor melhorias na definição, descrição e avaliação das opções de desenho de pilares, por exemplo, na definição e desenho dos rib pillars que limitam os vãos livres de lavra do sublevel-stoping; Validar a condição de estabilidade dos sill pillars propostos para serem utilizados em profundidade, no contexto de análise do layout de lavra do SER; otimizar o comprimento total dos vãos livres de lavra, ao longo do strike, longitudinalmente entre rib pillars; avaliar as condições de estabilidade do maciço rochoso no domínio de interesse como um todo; recomendar condições de execução do sublevel-stoping para a Mina Cuiabá; mostrar, em última análise, a integração possível e essencial entre modelagem numérica geotécnica e desenho de layouts no planejamento de mina. 15 1.6 METODOLOGIA ADOTADA Formulado o problema e objetivos desta dissertação de mestrado, tornou-se necessário consultar a bibliografia disponível sobre a questão, a fim de expor alguns conceitos relacionados à geologia, mecânica de rochas, método de lavra com sublevel-stoping e dimensionamento de pilares, presentes em várias publicações, inclusive em artigos de modelagem numérica focados no uso de elementos de contorno e, essencialmente, no uso do software MAP3D. As visitas técnicas regulares à Mina Cuiabá permitiram definir os limites e domínios do problema em análise, incluindo as variantes do layout de lavra a serem estudadas pelo método sublevel-stoping, aplicado no corpo SER. Procedeu-se, ainda, a coleta sistemática de dados e identificação de parâmetros geotécnicos, com o propósito de caracterizar representativamente o ambiente geotécnico e operacional a ser modelado. Metodologicamente, de forma sistemática, compilam-se as informações abaixo indicadas para conduzir as respectivas análises referentes à: coleta e compilação bibliográfica aplicável ao estudo proposto, o que inclui o conhecimento, state-of-the-art sobre integração de modelagem numérica e desenho de mina; levantamento dos trabalhos geotécnicos prévios, bem como os de modelagem numérica referentes à Mina Cuiabá e, mais especificamente, do corpo de minério SER em questão; visitas técnicas programadas ao subsolo da Mina Cuiabá, corpo SER, para apreciação das condições in situ a serem representadas nos modelos; descrição e uso dos métodos de classificação do maciço aplicáveis, envolvendo, por exemplo: interpretação geológica do maciço; definição de morfologia e composição do maciço modelado; caracterização e descrição das litologias; levantamento de dados de classificação do maciço rochoso (índice Q de Barton e índice Rock Mass Rating, RMR de Bieniawski); verificação dos resultados de ensaios de tensão in situ por sobrefuração (overcoring) realizados previamente; determinação das propriedades mecânicas das litologias representativas (análises 16 laboratoriais), determinação das condicionantes operacionais da lavra (geometria de lavra, sequenciamento, etc.), isto é, interatividade com áreas de planejamento de mina, manutenção, produção, etc.; seleção dos dados históricos na região particular da lavra e compilação das geometrias do corpo de minério para representação por modelos numéricos tridimensionais, representativos (simplificados), mediante uso do software de elementos de contorno, MAP3D; coleta de dados para efeito de representação e calibração de modelos numéricos, tal como a identificação das condições de tensões induzidas em raises de ventilação; rodagem de modelos preliminares e calibração com base em condições observadas (coincidênciade representação dos estados das tensões); rodagem de modelos finais, calibrados para obtenção de resultados avaliadores das condições de risco; utilização do critério de ruptura de Mohr-Coulomb na avaliação do risco geotécnico; critério de instabilidade com resultado de fator de segurança e deformação total; processamento de resultados com representação probabilística de risco geotécnico inferido dos modelos, encapsulando a variabilidade espacial da instabilidade; apresentação das condicionantes de estabilidade dos vários modelos estudados; compilação de conclusões e identificação de problemáticas e novos desafios. 1.7 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO Esta dissertação constitui-se de um único volume, subdividido em sete capítulos. Ao capítulo de introdução, seguem-se cinco outros que desenvolvem o tema principal abordado, finalizados com um capítulo que traz as conclusões e sugestões de pesquisa complementares. Abaixo, segue uma breve apresentação dos assuntos expostos em cada um desses capítulos. 17 Capítulo 1 – Introdução. Contextualiza a produção do mineral ouro na perspectiva econômica das últimas décadas; faz as considerações iniciais do tema abordado; enfatiza a problemática relacionada à lavra subterrânea; relaciona a geotecnia e o modelamento numérico na avaliação do risco; explora os objetivos dos trabalhos de modelagem numérica a serem desenvolvidos; sistematiza a metodologia seguida no desenvolvimento das atividades e, por fim, apresenta o conteúdo geral dos capítulos que compõem esta dissertação. Capítulo 2 – Revisão: modelos numéricos em mecânica das rochas. Discorre sobre modelos numéricos em mecânica das rochas, a que se segue uma descrição da modelagem computacional, que inclui as principais características do método de elemento de contornos (BEM - Boundary Element Method) e a formulação matemática inerente ao software MAP3D. Neste capítulo, foram sumariados e discutidos alguns trabalhos relevantes que utilizam o mesmo software, com abordagens semelhantes ao problema proposto, bem como os principais resultados alcançados por seus respectivos autores. Capítulo 3 – Mina Cuiabá. Neste capítulo, situa-se o ambiente da Mina Cuiabá. Aí apresenta-se um breve histórico das atividades de mineração no local, faz-se uma abordagem dos aspectos gerais da mina, retratam-se as características geológicas do maciço rochoso, os aspectos geotécnicos e operacionais. As características geotécnicas incluem classificação do maciço rochoso, medição de tensão in situ, propriedades gerais de resistência e deformabilidade das rochas. Os aspectos operacionais dizem respeito ao método de lavra atualmente utilizado, sistema de contenção aplicado, as características do enchimento, os sistemas de monitoramento e instrumentação da Mina. Capítulo 4 – Modelos numéricos tridimensionais do corpo Serrotinho. Aí, abordam- se as características gerais do corpo de minério a ser modelado, bem como as justificativas para a escolha do método de lavra proposto. Este capítulo apresenta também os modelos selecionados para efetuar a calibração e suas características principais. 18 Capítulo 5 – Atributos e critérios propostos para as simulações numéricas. Este capítulo apresenta uma descrição dos modelos numéricos simulados, a representação dos layouts, as condições geológicas assumidas, as propriedades geotécnicas dos dados de entrada estimados, as tensões aplicadas, a sequência de lavra estabelecida e as limitações da análise numérica. Adicionalmente, são apresentados os critérios de análise utilizados para caracterizar e mensurar as condições instáveis dos modelos rodados, indicando-se as técnicas utilizadas para caracterizar risco de instabilidade, no contexto desta dissertação. Capítulo 6 – Resultados e avaliação da estabilidade das variantes sublevel. Neste capítulo, mostram-se os resultados das análises das condições de instabilidade, de acordo com os critérios estabelecidos, como, por exemplo a distribuição dos fatores de segurança no entorno dos pilares e as deformações totais computadas no hangingwall para vários modelos do método sublevel-stoping simulados; discutem-se as tendências gerais, as implicações das condicionantes dos layouts testados, evidenciando-se condições potenciais de instabilidade. Definem-se corolários de aplicação geral, como guias para o desenho de layouts de lavra em geral. Mostra-se, por fim, a aplicação efetiva das técnicas de análise numérica e de pós-processamento. Capítulo 7 – Conclusões gerais e sugestões para pesquisas futuras. Este capítulo sintetiza as conclusões derivadas dos capítulos anteriores. Levanta os pontos relevantes, observados a partir da comparação dos resultados das análises. Condensa detalhes sobre a aplicabilidade e sobre as limitações das ferramentas e metodologias utilizadas nesta dissertação. Aponta lacunas no conhecimento de mecânica de rochas, relacionadas, especificamente, com as análises realizadas e sugere temas possíveis para investigações futuras. 19 2 Capítulo 2: revisão: modelos numéricos em mecânica das rochas C a p í t u l o 2 REVISÃO: MODELOS NUMÉRICOS EM MECÂNICA DAS ROCHAS 2.1 INTRODUÇÃO Neste capítulo, pretende-se sintetizar e discutir trabalhos relevantes que tratam dos modelos usados na análise de problemas de mecânica de rochas, criados para racionalizar e antecipar as condições das prováveis instabilidades num maciço em face de determinadas condicionantes e características operacionais do meio. Seu emprego possibilita previsões das condições que podem vir a ocorrer perante alterações futuras causadas pela influência da lavra. Ao antecipar ocorrências de instabilidade indesejadas, esses modelos permitem levantar riscos respectivos e planejar ações mitigadoras correspondentes. No Brasil, em particular nos setores de mineração aurífera de Minas Gerais, mais especificamente nas minas da AngloGold Ashanti (domínio de interesse deste trabalho), o uso de métodos de análise computacional para dimensionar problemas de mecânica de rochas tornou-se rotina na última década (Lorig et al., 2003-2009 e Barbosa, 2009- 2011). A complexidade morfológica dos corpos de minério e dos ambientes geotécnicos, a irregularidade geométrica das escavações realizadas para promover a extração, bem como a possibilidade de múltiplos cenários operacionais a serem considerados, tudo isso suscita a necessidade de aplicação de métodos computacionais sofisticados para analisar e solucionar apropriadamente as condicionantes e impactos geomecânicos no conjunto das operações de mineração. 20 Métodos físico-analíticos simples As tentativas iniciais de desenvolvimento da capacidade de previsão do comportamento dos maciços envolveram estudos analíticos de modelos físicos das minas. Seu objetivo geral era a identificação de condições que poderiam causar quebras significativas nos protótipos. Uma das grandes dificuldades observadas nesses procedimentos era a manutenção da similaridade e das propriedades dos materiais representativos e das cargas aplicadas. Brady e Brown (2006) afirmam que os métodos físico-analíticos para simular condições dos maciços são inerentemente limitados na sua aplicação potencial como ferramenta de previsão em mecânica de rochas e, consequentemente, em desenho de mina - a exceção são os modelos físicos base-fricção formulados por Bray e Goodman (1981), os quais se referem a métodos simples para tratar estruturas no maciço rochoso por meio do uso de modelos bidimensionais (2D) para examinar seções discretas particulares, porém supostamente representativas do ambiente de mina de maiores
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