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Política segundo Hannah Arendt A partir de uma apropriação teorética da História e igual autonomia, Hannah Arendt defende a democracia, a liberdade (política) e a importância da esfera pública no tempo presente 21 de junho de 2017 Caroline Svitras 0 Comentário Por Mauro Sérgio Santos* | Adaptação web Caroline Svitras A compreensão corrente que se tem da política, não raro, é a de que esse é o âmbito da competição, da falsidade, da mentira, da corrupção e do domínio. E este é um preconceito que se assenta na confusão entre o que seria o fim da política (o seu sentido) e a política em si, isto é, suas experiências concretas. No entanto, o preconceito contra a política não é um dado apenas do mundo contemporâneo; ao contrário, ele remonta às origens do pensamento político do Ocidente. O julgamento de Sócrates (469~399 a.C.) representa, para Hannah Arendt, a condenação do filósofo pela pólis; da Filosofia pela política. A tradição filosófica sempre concebeu a atividade política como meio, nunca como um fim em si mesma. Esse é, em geral, o eixo que sustenta os preconceitos em relação à política no pensamento (político) do Ocidente. E isso afere a pertinência da interpelação arendtiana acerca do sentido da política. Para Hannah Arendt, a resposta para a referida questão, como já mencionamos, é sobremodo simples: a liberdade é o sentido da política. Todavia, o questionamento é encetado por uma desconfiança. Essa radical, agressiva e desesperadora questão brota, segundo a autora, de duas experiências muito concretas. Primeiramente, o fato de que os modelos de governo totalitários fizeram com que a política tomasse todas as dimensões da vida dos homens, em detrimento da liberdade. Assim, a liberdade e a política, outrora idênticas, afiguram-se, doravante, aparentemente inconciliáveis. A segunda experiência diz respeito às possibilidades modernas de aniquilação detidas pelos Estados, isto é, possibilidades exclusivamente políticas. Na esteira do pensamento de Arendt, Giorgio Agamben em Estado de Exceção alega que a segunda experiência está, de fato, ligada à primeira, na medida em que a transformação da excepcionalidade em regra aproxima a prática política das democracias hodiernas aos modelos (políticos) utilizados pelos regimes totalitários. O que, para Arendt, corroboraria a separação entre liberdade e política; e, por conseguinte, esvaziaria de sentido a esfera política. Nestes casos a incompatibilidade diz respeito, especificamente, à relação entre a política e a preservação da vida, a continuidade da existência da humanidade. Nos governos totalitários, onde há política não existe espaço para a liberdade. E é a própria política, representada ou personificada pelo Estado, que detém as possibilidades de aniquilação da existência. Para Hannah Arendt as experiências políticas básicas do século XX são as revoluções e as guerras: marcam a identificação entre política e violência, ação política e ação violenta. Entrementes, o espaço público se torna o lugar da força, esfera onde predomina a ação violenta: o agir político carece de sentido. A isto, soma-se o fato de que, na modernidade, o homem fora reduzido a animal laborans, conforme demostrado em A condição humana. Destarte, o que ocorreu, no tempo presente é que o sentido da política caiu no esquecimento. Desde a Antiguidade nunca mais se considerou que a liberdade fosse, de fato, a razão de ser da política. Na Modernidade, com a ascensão da esfera social, a política se torna a maneira de garantir a satisfação das necessidades (manutenção da vida). O sentido da política passa a ser a preservação da vida. Paradoxalmente, a política se apresenta como a potencial possibilidade de aniquilação da existência. Sobre isso, diz Hannah: “Se é verdade que a política não é nada além do que é infelizmente necessário para a preservação da vida da humanidade, então, com efeito, ela começou a ser liquidada, ou seja, transformou-se em falta de sentido”. Gostou deste artigo? Para ler na íntegra garanta já a sua revista Filosofia Ciência & Vida clicando aqui! Filosofia Ciência & Vida Ed. 119 *Mauro Sérgio Santos é professor de filosofia, especialista em educação – ufsj, mestre em filosofia ética e política – ufu, membro da academia de letras e artes de araguari – mg e da união brasileira de escritores – ube. autor do livro Camaleão: Metapoesia. blog: http://banquetedeletras.blogspot.com. e-mail: mauro.filos@hotmail.com Adaptado do texto “Filosofia da esperança”
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