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Apostila Fonética e Morfologia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ 
UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL 
CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA E À DISTÂNCIA – CEAD 
COORDENAÇÃO DO CURSO DE LETRAS/PORTUGUÊS 
DISCIPLINA: EVOLUÇÃO FONÉTICA E MORFOLÓGICA DA LÍNGUA 
PORTUGUESA 
PROFESSOR: RAIMUNDO NONATO SILVA 
 
 
 
 
 
MATERIAL DIDÁTICO 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARÇO DE 2014 
Capítulo I 
História da Língua Portuguesa 
Objetivos específicos 
 Conhecer a origem da Língua Portuguesa 
 Identificar as modalidades de uso da língua Latina 
 Apontar os fatos históricos que contribuíram para tornar o Latim uma das línguas da 
civilização do mundo antigo. 
Origem: 
 A língua portuguesa é a continuação ininterrupta, no tempo e no espaço, do latim 
levado à Península Ibérica pela expansão do Império Romano, no início do século III a.C. 
 O latim foi inicialmente o idioma falado em uma pequena região da Itália Central, no 
pantanoso do rio Tibre, entre camponeses, mercadores e soldados. Essa região chamava-se 
Lácio e sua cidade principal era Roma. 
 O latim deriva de um tronco comum que deu origem à grande parte das línguas da 
Europa e da Ásia, chamado de indo-europeu. Supõe-se que essa língua foi falada por um povo 
que se dispersou por razões até hoje desconhecidas, alguns milênios antes de Cristo, 
espalhando-se pela Europa e Ásia. 
 As conquistas e o grande desenvolvimento atingido pelo Império Romano faz do 
latim, uma das principais línguas da civilização do mundo antigo. 
 Nos primeiros tempos de sua existência, o latim qualificou-se como língua de 
camponeses. Mas, à medida que ela se urbanizava, opulentou-se e adquiriu o rigor de uma 
língua que podia exprimir o direito, a política e a organização da vida pública dos cidadãos 
romanos. 
 Então passaram a existir modalidades de uso do latim. E, para efeito didático, 
falaremos de quatro delas: 
 Latim Clássico, Literário ou Sermo Urbanus – Sempre escrito, era o latim imutável e 
rigoroso que chegou até a esta geração por meio dos textos escritos dos grandes 
autores. Uma das particularidades do latim clássico é que durante séculos, ele ofereceu 
uma imagem perfeitamente unida. A língua dos primeiros escritos, do século 3 a.C., 
difere muito pouco daquela do período clássico, 1º século a.C. é a língua das escolas 
ou academias. 
 Latim Vulgar ou Sermo Vulgaris – Era a modalidade usada na forma falada pelo povo 
geral, pelas classes semiletradas ou iletradas que queriam transmitir suas ideias sem 
preocupação artística ou obediência aos preceitos gramaticais. Esta modalidade, ao 
contrário do latim clássico, transformava-se rapidamente e foi ela que deu origem às 
línguas românicas, dentre elas, a língua portuguesa. 
 Baixo Latim – Era a continuação do latim cristão usado pelos padres da Igreja, nos 
tempos primordiais do cristianismo, adaptado às novas condições históricas referentes 
ao léxico e à sintaxe. Era usado principalmente na forma escrita. 
 Latim Bárbaro – Era utilizado para documentar contratos e registrar propriedades. Era 
chamado de bárbaro por representar uma influência da presença dos chamados 
bárbaros no Império Romano. 
 Após a queda do Império Romano, termina a história da língua latina e um século mais 
tarde tem fim também a história da literatura. Contudo, o latim continua por quase mil anos 
como sendo, em toda a idade medieval, a língua da civilização do Ocidente. 
 
Como o Latim chegou à Península Ibérica 
 Os romanos desembarcaram na Península Ibérica no ano 218 a.C. Vencem os 
cartagineses no ano de 209 e conquistam a região. Os povos da Península, com exceção dos 
bascos, adotam o latim como língua. 
 A Península é inicialmente dividida em duas províncias, a Hispania Citerior (a região 
nordeste) e a Hispania Ulterior (a região sudoeste). No ano de 27 a.C., Augusto divide a 
Hispania Ulterior em duas províncias: a Lusitânia, ao norte do Guadiana, e a Bética, ao sul. 
Posteriormente, entre 7 a.C. e 2 a.C., a parte da Lusitânia situada ao norte do Douro, chamada 
Gallaecia, é anexada à província tarraconense (a antiga Hispania Citerior). Cada província 
subdivide-se num determinado número de circunscrições judiciárias chamadas conventus. O 
atual território da Galícia espanhola e de Portugal corresponde, aproximadamente, a quatro 
desses conventus – os de Lucus Augustus (Lugo), de Bracara (Braga), de Scalabis (Santarém) 
e de Pax Augusta (Beja). A área linguística do que virá a ser o galego e o português delineia-
se, pois, desde a época romana, no mapa administrativo do Ocidente peninsular. 
 Nesse território, assim definido, a romanização fez-se de maneira mais rápida e 
completa no Sul do que no Norte. Os gallaeci, em particular, que habitavam a zona mais 
setentrional, se comparados aos outros povos, conservaram por mais tempo elementos da sua 
própria cultura. 
A invasão muçulmana e a Reconquista 
 Em 771 os muçulmanos invadem e em pouco tempo conquistam a Península Ibérica, 
com inclusão da Lusitânia e da Gallaecia. Estes muçulmanos eram árabes e berberes do 
Maghreb. Tinham o Islão como religião e o árabe como língua de cultura, mesmo aqueles que 
falavam o berbere. Os povos ibéricos chamaram-nos “mouros”. 
 A invasão muçulmana e a Reconquista são acontecimentos determinantes na formação 
das três línguas peninsulares – o galego-português a oeste, o castenhano no centro e o catalão 
a leste. Estas línguas, todas três nascidas no Norte, foram levadas para o Sul pela Reconquista. 
Nas regiões setentrionais, onde se formaram os reinos cristãos, a influência lingüística e 
cultural dos muçulmanos tinha sido, evidentemente, mais fraca que nas demais regiões. No 
Oeste em particular, a marca árabe-islâmica é muito superficial ao norte do Douro, ou seja, na 
região que corresponde hoje à Galícia e ao extremo norte de Portugal. À medida que se 
avança para o sul, ela vai se tornando mais saliente, sendo profunda e duradoura do Mondego 
ao Algarve. Foi na primeira destas regiões, ao norte do Douro – tendo talvez como limite 
extremo o curso do Vouga, entre o Douro e o Mondego – que se formou a língua galego-
portuguesa, cujos primeiros textos escritos aparecem no século XIII. 
 Na região meridional, o domínio muçulmano deixara subsistir uma importante 
população cristã de língua românica: os cristãos chamados moçárabes, palavra derivada de um 
particípio árabe que significa “submetido aos árabes”. Conhece-se pouco desses falares 
hispano-românicos, mas o suficiente para compreender que formavam, em toda a parte 
meridional da Península, uma cadeia contínua de dialetos bastante diferentes daqueles que, 
falados no Norte, serão mais tarde o galego-português, o castelhano e o catalão. 
 A Reconquista provocou importantes movimentos de populações. Os territórios 
retomados aos “mouros” estavam frequentemente despovoados. Os soberanos cristãos 
“repovoaram” esses territórios e entre os novos habitantes havia em geral uma forte proporção 
de povos vindos do Norte. Foi assim que o galego-português recobriu, pouco a pouco, toda a 
parte central e meridional do território português. Adotada pelos moçárabes do país, por todos 
os elementos alógenos participantes do repovoamento, assim como pelos muçulmanos que aí 
haviam ficado, esta língua galego-portuguesa do Norte vai sofrer uma evolução gradativa e 
transformar-se no português. Em começos do século XIII, quando surgem os primeiros textos 
escritos, a reconquista militar e a política está em vias de terminar, mas as suas conseqüências 
lingüísticas não tiveram tempo de manifestar-se: a língua literária que emerge então é o 
galego-português do Norte. 
 Os primeiros textos escritos em português surgem no século XIII. Nessa época, o 
português não se distingue do galego-portuguêsfalado na província da Galícia. 
 
Fonte: TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa (p. 8) 
 
 
 
Língua Portuguesa 
Olavo Bilac 
 
Última flor do Lácio, inculta e bela 
És, a um tempo, esplendor e sepultura: 
Outro nativo, que na garganta impura 
A bruta mina entre os cascalhos vela... 
 
Amo-te assim, desconhecida e obscura, 
Tuba de alto clangor, lira singela, 
Que tens o trom e o silvo da procela, 
E o arroio da saudade e da ternura! 
 
Amo o teu viço agreste e o teu aroma 
De virgens selvas e de oceano largo! 
Amo-te, ó rude e doloroso idioma, 
 
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!” 
E em que Camões chorou, no exílio amargo, 
O gênio sem ventura e o amor sem brilho! 
(Poesias) 
“As armas e padrões portugueses postos em África e em Ásia e em 
tantas mil ilhas fora da repartiçam das três partes da Terra, 
materiaes sam, e pode-as o tempo gastar: peró nã gastará 
doutrina, costumes, linguagem, que os portugueses nestas terras 
leixarem. 
(João de Barros, Diálogo em Louvor da Nossa Linguagem) 
 
Capítulo II 
Evolução Fonética 
Objetivos específicos 
 Identificar as alterações fonéticas na passagem do Latim para o Galego-Português; 
 Compreender as alterações sofridas pelas vogais e pelos encontros vocálicos na 
Língua Portuguesa. 
 Analisar as mudanças sofridas pelas consoantes e encontros consonantais em nossa 
língua. 
 
Fonética: é a parte da gramática que estuda os sons da língua enquanto utilização pelos 
indivíduos no ato da fala. As particularidades na realização do som, as características 
individuais que cada falante pode a ele imprimir ao pronunciá-lo são objeto de estudo da 
fonética. 
Exemplo: os fonemas /t/ e /d/ antes de i, no ato da fala, dependendo do indivíduo, podem 
realizar-se de maneiras diferentes /t/ ou /t∫/ tia; /d/ ou /d∫/ dia. 
Produção dos sons da fala 
 Os sons articulados, que constituem o ato da fala, são produzidos por um conjunto de 
órgãos a que se dá o nome de aparelho fonador. Fazem parte do aparelho fonador: 
Pulmões: produzem a corrente de ar 
Brônquios e traquéia: permitem a passagem do ar até a laringe 
Laringe: situa-se na parte superior da traquéia e é o mais importante órgão da fonação. Nela se 
localizam a glote e as cordas vocais. 
Glote: pequena abertura entre as cordas vocais. À chegada da corrente de ar, a glote pode 
abrir-se ou fechar-se. Abrindo-se, o ar passa livremente sem fazer vibrar as cordas vocais; 
fechando-se, o ar força a passagem fazendo vibrar as cordas vocais. 
Cordas vocais: duas pregas musculares nas paredes superiores da laringe. 
Faringe: cavidade entre a boca e a parte superior do esôfago. Nela, a corrente de ar encontra 
duas saídas: a boca e as fossas nasais. 
Úvula: saliência do véu palatino ou palato mole. Tem a função de obstruir, ou não, a 
passagem de ar para as fossas nasais. Levantando-se contra a parede posterior da faringe, 
obstrui a passagem do ar para as fossas nasais e o ar sai todo pela boca; baixando-se, deixa 
ambas as passagens livres, permitindo que parte do ar escape pelas fossas nasais. 
Boca: chegando à boca, a corrente de ar pode encontrar obstáculos. Esses obstáculos podem 
ser formados pela aproximação ou contato da língua com o palato mole (véu palatino), com o 
palato duro (céu da boca), com os alvéolos, com os dentes, ou formados pelos lábios. Essas 
diferentes possibilidades de obstáculo à corrente de ar é que são responsáveis pelas 
características específicas de cada som da fala. 
 
Aparelho Fonador 
 
 
Fonte: BECHARA, Evanildo. Gramática da Língua Portuguesa (p.557) 
Fonemas 
 Chamam-se fonemas os sons elementares e distintivos da significação de palavras que 
o homem produz quando, pela voz, exprime seus pensamentos e emoções. 
 A voz humana se compõe de tons (sons musicais) e ruídos, que o nosso ouvido 
distingue com perfeição. Essa divisão corresponde, em linhas gerais, às vogais (= tons) e às 
consoantes (=ruídos). 
Classificação das vogais 
Quanto ao papel das cavidades bucal e nasal 
Orais: o ar sai somente pela boca; a úvula levanta-se obstruindo a passagem do ar para as 
fossas nasais: a - é - ê - i - ó - ô - u 
Exemplos: prato, credo, vê, vida, pote, boca, rubro. 
Nasais: parte do ar sai pelas fossas nasais; baixando-se a úvula deixa ambas as passagens 
livres – boca e fossas nasais: ã – ~e – ~i – õ – ~u 
Exemplos: pranto, crendo, vinda, ponte, tumba, rã, põe. 
Quanto à intensidade 
Classificam-se em: 
Tônicas: são as vogais das sílabas tônicas. Exemplos: roda, perto, barco, aqui. 
Átonas: são as vogais das sílabas átonas. Exemplos: roda, perto, barco, aqui. 
Subtônicas: são as vogais das sílabas subtônicas. Exemplos: cafezinho, somente, facilmente. 
Quanto ao timbre 
Classificam-se em 
Abertas: na sua produção, há uma abertura maior nas cavidades da faringe e da boca: á – é – 
ó. 
Exemplos: calo, sofá, pé, perto, bola, cipó. 
Fechadas: na sua produção, há um estreitamento nas cavidades da faringe e da boca: ê – ô – i 
– u e todas as nasais. 
Exemplos: gelo, crê, calor, avô, vida, luva, lã, lento. 
Reduzidas: são as vogais em posição átona. 
Exemplo: lata, amora, leite, bolo. 
Quanto à zona de articulação 
Anteriores: a língua eleva-se gradativamente em direção ao palato duro (céu da boca): é – ê – 
i - ~e - ~i 
Exemplos: pé, lê, li, lendo, lindo 
Médias: a língua permanece quase em repouso: a, ã 
Exemplos: má, rã 
Posteriores: a língua eleva-se gradativamente em direção ao palato mole (véu palatino): ó – ô 
– u – õ - ~u 
Exemplos: só, calor, nu, põe, mundo. 
 
Classificação das consoantes 
Quanto ao modo de articulação 
 Dependendo do obstáculo que a corrente de ar encontra na produção do som, as 
consoantes podem ser: 
Oclusivas: o obstáculo é total, seguido de uma abertura rápida. 
PE – TE – QUE – BE – DE – GUE 
Exemplos: pato, tato, cato, bato, data, gato 
Constritivas: o obstáculo é parcial. As constritivas podem ser: 
Fricativas: provocam um ruído comparável a uma fricção: 
FE – SE – XE – VE – ZE – JE 
Exemplos: fato, cebola, xícara, vaso, casa, jeito 
Laterais: o obstáculo é formado pela língua no centro da boca, saindo o ar pelas laterais: 
LE – LHE 
Exemplos: leite, palha 
Vibrantes: há um movimento vibratório rápido da língua ou do véu palatino: 
re (vibrante branda), Re (vibrante forte) 
Exemplos: caro (vibrante branda), pêra (vibrante branda), carro (vibrante forte), roda 
(vibrante forte) 
Quanto ao ponto de articulação 
 Dependendo do lugar da boca em que se dá o obstáculo à saída do ar, as consoantes 
podem ser: 
Bilabiais: contato dos lábios: PE – BE – ME 
Exemplos: capa, bola, mato 
Labiodentais: contato do lábio inferior e dentes incisivos: FE – VE 
Exemplos: faca, vaso 
Linguodentais: contato ou aproximação da língua com os dentes superiores: TE – DE – NE 
Exemplos: tela, dado, nada. 
Alveolares: contato ou aproximação da língua com os alvéolos: SE – ZE – LE – RE 
Exemplos: sala, casa, lado, arara 
Palatais: contato ou aproximação do dorso da língua com o palato duro ou céu da boca: XE – 
JE – LHE – NHE 
Exemplos: cheiro, gente, palha, manha 
Velares: aproximação da parte posterior da língua com o palato mole (véu palatino): QUE – 
GUE – Re 
Exemplos: faca, figo, rato 
Quanto ao papel das cordas vocais: Sonoridade 
 Dependendo de a corrente de ar fazer ou não vibrar as cordas vocais, as consoantes 
podem ser: 
Surdas: a corrente de ar encontra a glote aberta e passa sem fazer vibrar as cordas vocais: PE 
– TE – QUE – SE – FE – XE. 
Exemplos: pato, tela, caso, cedo, fada, piche 
Sonoras: a corrente de ar encontra a glote fechada e, ao forçar a passagem, faz vibraras 
cordas vocais: BE – DE – GUE – VE – ZE – JE – LE – LHE – re – Re – ME – NE – NHE 
Exemplos: bola, data, gato, vela, casa, gema, lata, malha, amora, reto, mala, neto, unha. 
Quanto ao papel das cavidades bucal e nasal 
 Dependendo do local por onde passa o ar, somente pela boca ou ressoando na 
cavidade nasal, as consoantes podem ser: 
Nasais: o ar ressoa na cavidade nasal: ME – NE – NHE 
Exemplos: medo, nariz, unha 
Orais: o ar sai somente pela boca. São orais as demais consoantes. 
Exemplos: bola, lata, gato, carro, casa, etc. 
 
Fonte: CARDOSO, Wilton. Estilística e Gramática Histórica. (p71) 
 
 
Alfabeto Fonológico 
 Com o objetivo de facilitar o estudo dos sons da língua, a representação dos fonemas 
foi feita até aqui com a utilização do alfabeto da língua portuguesa. O conhecimento dessas 
unidades mínimas de som e de suas características específicas possibilita, com maior 
facilidade, o acesso a um outro alfabeto: o fonológico. 
 O alfabeto fonológico é uma forma universal de representar graficamente os fonemas. 
Colocados entre barras, os fonemas são assim representados: 
 
Fonte: PASCHOALIN, Ispadoto. Gramática – Teoria e Exercícios. (p. 339) 
 
Fonte: PASCHOALIN, Ispadoto. Gramática – Teoria e Exercícios. (p. 339) 
 
 
Fonte: PASCHOALIN, Ispadoto. Gramática – Teoria e Exercícios. (p. 340) 
 
PASCHOALIN, Ispadoto. Gramática – Teoria e Exercícios. (p. 340) 
A evolução fonética do latim ao galego-português 
 Até o fim do período imperial, o latim falado no Oeste da Península Ibérica conhece as 
evoluções gerais do mundo romano: 
A) O acento tônico: generaliza-se um acento de intensidade, cuja posição é determinada 
de maneira automática. Quando nenhuma ação contrária entra em jogo, a acentuação 
permanece a mesma em galego-português e em português contemporâneo. No latim 
imperial, a sílaba que leva o acento é definida pelas seguintes regras: 
a) Palavras de duas sílabas: o acento recai na penúltima sílaba se esta for longa. Ex.: 
ami̐cum > por, amigo, capi̐llum > port. cabelo; e recai na antepenúltima se a 
penúltima for breve. Ex.: árbŏrem > port. árvore, hómi̐nem > port. homem, 
quinděcim > port. quinze. 
B) As vogais: perda das oposições de quantidade – o latim clássico possuía cinco timbres 
vocálicos, havendo uma vogal breve e uma longa para cada timbre, ou seja, um total 
de dez fonemas. As breves eram sempre mais abertas que as longas correspondentes. 
 O latim imperial perdeu as oposições de quantidade, mas conservou as oposições de 
timbre resultantes dos variados graus de abertura. 
 A evolução do vocalismo tônico do latim clássico para o latim imperial pode resumir-
se no seguinte quadro: 
 
Fonte: TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. (p. 9) 
 Acrescente-se que os ditongos æ e œ do latim clássico passaram, em latim imperial, a 
vogais simples de timbres distintos. 
 
 
Fonte: TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. (p.10) 
 Assim, as dez vogais e dois dos ditongos do latim clássico foram substituídos por sete 
vogais no latim imperial: 
 
Fonte: TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. (p.10) 
 
 Já é este o sistema das vogais orais em galego-português medieval. E acrescente-se: se 
considerarmos não mais o sistema, mas sim as palavras tomadas individualmente, verificamos 
que em posição tônica o timbre das vogais de muitas palavras do galego-português e também 
do português contemporâneo permaneceu o mesmo do latim imperial. É o caso em todos os 
exemplos atrás mencionados. 
 Circunstâncias diversas contribuíram, não raro, para romper esse paralelismo entre as 
vogais do latim imperial e as do português. 
 As vogais átonas eram bem mais frágeis. Na região que nos interessa, as penúltimas 
dos proparoxítonos desaparecem com freqüência na pronúncia corrente, de acordo com a 
tendência comum a todo o romance ocidental: dizia-se por exemplo oc’lu- por ocŭlum e 
cal’du- por cali̐dum (daí, em português, olho e calado). 
C) As consoantes: a palatização – entre as inovações fonéticas do latim imperial, algumas 
terão consquências importantíssimas. É o caso da palatização. 
 Nos grupos escritos, ci, ce e gi, ge, as consoantes c e g pronunciavam-se em latim 
clássico como as iniciais das palavras portuguesas quilha, queda e guizo, guerra, ou seja, eram 
oclusivas velares. Mas em latim imperial o ponto de articulação destas consoantes aproximou-
se do ponto de articulação das vogais i e e que se lhes seguiam, isto é, da zona palatal, 
levando à pronúncia: [kyi], [kye] e [gyi], [gye]. Esta palatização iniciou-se já na época 
imperial em quase toda a România e iria ocasionar modificações importantes: [kyi], [kye] 
passaram a [tši], [tše] e, finalmente, a [tsi], [TSE]; ex.: ciuitātem > port. cidade, centum > 
port. cento, reduzido a cem. Para os grupos gi, ge o resultado da palatalização será 
inicialmente um yod puro e simples [y], que desaparece em posição intervocálica; ex.: regina 
> port. rainha, frigidum > port. frio. Mas, em posição inicial, este yod passa a [dž]; ex.: gente 
(donde o g representa na Idade Média [dž]). O yod inicial saído de gi, ge confundiu-se, pois, 
com o que provinha diretamente do latim clássico e que, naturalmente, também deu [dž]; ex.: 
iulium > port. julho. Em galego-português medieval, os grupos gi, ge e ju eram pronunciados 
em todas estas palavras [dži], [dže] e [džu]. 
 Em várias outras palavras um i ou um e não tônicos, seguidos de uma vogal, eram 
pronunciados yod em latim imperial; ex.: pretium, platea, hodie, video, facio, spongia, filium, 
seniorem, teneo. Resultaram daí os grupos fonéticos [ty], [dy], [ly] e [NY] que se palatizaram 
em [tsy] e [dy], [lh] e [nh]. Para os grupos [ky], [gy], ex.: facio, spongia, a palatização chega 
inicialmente a [tšy] e [džy], mas os resultados definitivos serão complexos, pois dependerão 
da posição na palavra e do caráter mais ou menos popular dessa palavra. Ter-se-á, por 
exemplo, pretium > port. preço, pretiare > port. prezar, platea > port. praça, hodie > port. hoje, 
medium > port. meio, video > port. vejo, facio > port. faço, spongia > port. esponja. Em 
galego-português medieval as letras c, z e j representavam, respectivamente, em todas estas 
palavras, as africadas [ts], [dz] e [dž]. Na origem destas transformações fonéticas há sempre, 
em latim imperial, uma palatização. 
 Quando o yod proveniente de i e e em hiato vinha depois de -ss-, esta consoante 
passou a [š], transcrito pela letra x; ex.: rǔssěum > roxo. 
 Finalmente, quando l ou n eram seguidos de um yod, originário de i e e em hiato, estas 
consoantes passaram a [lh] e [nh] palatais ou “molhados”; ex.: filium > port. filho, seniorem 
> port. senhor, teneo > port. tenho. 
Como podemos verificar, estes fenômenos de palatalização, iniciados já na época imperial, 
tiveram conseqüências importantes no sistema fonológico da língua. Como resultado, o 
galego-português medieval apresentaria seis fonemas novos: 
/ts/; ex.: cidade, cem, preço, praça, faço (hoje /s/) 
/dz/; ex.: prezar (hoje /z/); 
/dž/; ex.: gente, hoje, vejo, esponja (hoje /ž/); 
/š/; ex.: roxo (sem modificação no português moderno); 
/lh/; ex.: filho (sem modificação no português moderno); 
/nh/; ex.: senhor, tenho (sem modificação no português moderno) 
 
D) Numerosas características do latim imperial mereceriam ainda ser citadas, como a 
queda do n antes de s, ex.: mensa > port. mesa. É provável que a sonorização das 
surdas intervocálicas tivesse começado desde essa época no latim ibérico; ex.: caput > 
port. cabo, amātum > port. amado, amīcum > port. amigo. 
 E entre os anos 409 e 711 provavelmente se desencadeia a evolução do grupo 
consonantal cl; ex.: oc’lu (de ocŭlum).Nesta posição, c, pronunciado [k], passa a yod ([y]): 
oc’lu > *oylo. Esta evolução é comum a todos os falares hispânicos. Mas as conseqüências 
não serão as mesmas segundo as regiões: em galego-português [-yl-] passa a [lh] palatal, ou 
“molhado” ao passo que em castelhano passa à africada [dž], escrita j (o leonês constitui uma 
zona de transição): 
 
Fonte: TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. (p.13) 
 O grupo -ct-, por sua vez, passa a [-yt-]; ex.: nocte > *noyte. A língua portuguesa 
mantém ainda a pronúncia noite, enquanto o espanhol, continuando a evolução, apresenta hoje 
a africada [tš], escrita ch: noche. 
B) Outra fronteira lingüística de importância considerável começa a delinear-se durante o 
mesmo período. No Centro da Península, as duas vogais abertas [ȩ] e [ŏ], oriundas das antigas 
vogais breves [ě] e [ǒ] do latim clássico, ditongaram-se, quando tônicas, em diversas 
posições: [ȩ] passa a ser [ȩȩ] e finalmente ie; ex.: petra > cast. piedra; [ǫ] passa a [ǫǫ], depois 
a uo e finalmente a ue; ex.: nove > cast. nueve. O galego-português ignorará esta ditongação e 
dirá, respectivamente, pedra com [ȩ] e nove com [ǫ]. As condições em que se operou a 
ditongação em castelhano são complexas. Mas uma forte tendência geral domina o conjunto 
dos fatos: o galego-português isola-se de todos os outros falares da Península, e em particular 
do castelhano, por lhe ser totalmente desconhecida a ditongação de [ȩ] e [ǫ]. Ter-se-á assim: 
 
Fonte: TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. (p.15) 
 Como vemos, pode acontecer que o castelhano não tenha ditongado [ȩ] e [ǫ] tônicos: é 
o caso de lecho e noche. Mas o galego-português distingue-se radicalmente dele por não 
ditongar jamais. Esta a razão por que, desde a época que aqui nos interessa, (séculos V, VI e 
VII), um fosso começa a cavar-se entre o que virá a ser o galego-português e o que será o 
castelhano. 
Do século VIII ao XII: emergência do galego-português 
 É durante o período que se segue à invasão muçulmana (711), que vão aparecer outras 
inovações específicas de que resultará o isolamento dos falares do Nordeste da Península, não 
apenas dos seus vizinhos do Leste, leonês e castelhano, mas também dos dialetos moçárabes 
que se desenvolvem no Sul. Surgirá, assim, nos séculos IX a XII, o galego-português, cujos 
primeiros textos escritos aparecerão somente no século XIII. O limite oriental da sua área 
primitiva é facilmente delineável – identifica-se, em linhas gerais, com o limite que separa, 
ainda hoje, o galego e o português do leonês. 
 Não nos falta, para esse período decisivo, certo número de documentos. A partir do 
século IX, com efeito, surgem textos redigidos num latim extremamente incorreto (conhecido 
tradicionalmente como “latim bárbaro”), que, uma vez por outra, deixam entrever as formas 
da língua falada. Percebe-se assim abelha em abelia (<apicula) em vez de apis, ou coelho em 
conelium (< coniculum), ou estrada em estrata, ou ovelha em ovelia (< ovicula), etc. 
 Três inovações do galego-português devem ser assinaladas: 
A) Grupos iniciais pl-, cl-, e fl- > ch ([tš]) – Estes grupos iniciais sofreram, num primeiro 
momento, uma palatalização do l, fenômeno que se produziu numa vasta zona que 
compreendia o galego-português, o leonês e o castelhano, e ainda um pequeno 
território situado entre a Catalunha e Aragão. Em galego-português a evolução foi 
mais profunda: a consoante inicial seguida de l palatal deu origem à africada [tš], que 
foi transcrita em galego-português por ch, exemplos, ([tšaga]), chave ([tšave)] e chama 
([tšama)]. Esta evolução – e é o ponto mais importante – não se produziu na zona 
moçárabe. O galego-português e o leonês ocidental isolam-se, por isso, não apenas dos 
vizinhos do Leste, mas também dos vizinhos do Sul. Esta evolução diz respeito às 
palavras que constituem o fundo mais popular da língua. Tivemos assim: 
 
Fonte: TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. (p.17) 
 Convém acrescentar que noutra categoria de palavras, pertencentes a uma série menos 
popular, os grupos iniciais pl-, cl- e fl- deram em galego-português pr-, cr- e fr-; ex.: placere > 
prazer, clavu > cravo, flaccu > fraco, evolução idêntica à de bl- > br-; ex.: blandu > brando. 
Acrescente-se por fim que o português moderno possui um grande número de palavras 
eruditas em que os grupos iniciais pl-, cl- e fl- assim como bl-, foram conservados sem 
modificação; ex.: pleno, clima, flauta, bloco. 
B) Queda de-l- intervocálico – Este fenômeno, provável resultado de uma pronúncia velar 
do l intervocálico, ia ter conseqüências importantes. Ocorreu possivelmente em fins do 
século X, pois num documento em latim bárbaro de 995 lê-se Fiiz (< Felice) e Fafia 
(<Fáfila). Ele incidiu sobre um grande número de palavras e contribuiu para criar em 
galego-português vários grupos de vogais em hiato. Ex.: salire > sair, palatiu > paaço 
(hoje paço), calente > caente (hoje quente), dolore > door (hoje dor), colore > coor 
(hoje cor), colubra > coobra (hoje cobra), voluntade > voontade (hoje vontade), filu > 
fio, candela > candea (hoje candeia), populu > poboo (hoje povo), periculu > perigoo 
(hoje perigo), diabolu > diaboo (hoje diabo), nebula > névoa, etc. É a queda do -l- 
intervocálico que explica a forma que possuem no plural as palavras terminadas em -l- 
no singular: sol, plural soes, hoje, sóis. 
 A queda do -l- intervocálico produziu-se apenas em galego-português. Não aparece 
nem a leste da área primitiva desta língua – o leonês e o castelhano ignoram-na – , nem ao sul, 
nos falares moçárabes. Este último ponto é abundantemente documentado pela toponímia: 
tem-se, por exemplo, Mértola no Alentejo (< Mǐrtǔla, por Myrtilis, antigo nome dessa 
localidade), ou Molino (em lugar de Moinho), ou ainda Baselga (< Basǐlǐca). Nas palavras de 
origem árabe o -l- intervocálico não raro permaneceu; ex.: azêmola, javali. 
C) Queda de -n- intervocálico – Este último fenômeno produziu-se depois do precedente, 
no século XI, e provavelmente ainda estava em curso no século XII, nas vésperas do 
aparecimento dos primeiros textos escritos. É mais complexo que o anterior: por 
exemplo, na palavra corona, houve primeiro nasalização da vogal que precede o n, 
donde corõna; em seguida, o n caiu e tivemos corõa, forma do galego-português (hoje 
coroa). Assim, todos os n intervocálicos desaparecem depois de terem nasalizado a 
vogal precedente; ex.: vinu > viõ, manu > mão, panatariu > pãadeiro, mǐnǔtu > 
m~eudo, genesta > g~eesta, semǐnare > sem~ear, arena > ar~ea, luna > l~ua, vicinu > 
vez~io, lana > lãa, homǐnes > hom~ees, bonu > bõo, etc. em todas estas palavras a 
vogal nasal e a que veio a segui-la diretamente depois da queda do n pertenciam a 
duas sílabas diferentes: pronunciava-se corõ-a, v~i-o, mã-o, pã-adeiro, m~e-údo, g~e-
esta, sem~e-ar, ar~e-á, l~u-a, vez~i-o, lã-a, hom~e-es, bõ-o. 
O galego-português 
 Estudos recentes mostram que os primeiros textos escritos em galego-português 
apareceram no começo do século XIII. 
 Nesse tempo, o reino autônomo de Portugal já existia. Portugal constitui-se no século 
XII, separando-se dos reinos de Castela e Leão, na batalha de São Mamede em 1128. 
 Separando-se de Leão, Portugal desvinculou-se também da Galícia para se tornar um 
reino independente. Porém, o galego-português continua sendo a língua utilizada até meados 
do século XIV. 
 Por volta de 1350, no momento em que se extingue a escola literária galego-
portuguesa, o português torna-se a língua oficial do reino de Portugal, cuja capital é Lisboa. O 
eixo Coimbra-Lisboa passa a formar desde então o centro de domínio da língua portuguesa. É, 
pois, a partir dessa região que o português moderno vai constituir-se,longe da Galícia e das 
províncias setentrionais em que deitava raízes. É daí que partirão as inovações destinadas a 
permanecer e se situará a norma. 
 A gramática nasce em Portugal da cultura humanista. Fernão de Oliveira é o autor da 
primeira obra denominada Grammatica da Lingoagem Portuguesa, em 1536. Em seguida, 
João de Barro (1539 – 1540) apresenta a Grammatica da Lingua Portuguesa. 
O português europeu do século XIV ao momento atual: evolução fonética. 
1. Eliminação dos encontros vocálicos 
 O galego-português possuía um grande número de palavras com duas vogais contíguas 
que formavam em hiato. Esses encontros vocálicos resultaram da queda de diversas 
consoantes, em particular do –d, do –l e do-n intervocálicos. Exemplos: v~i-o, bõ-o, irmã-a, 
le-er, se-er, tra-edor, ma-o, ma-a, co-or, co-orar, diabo-o. Desde a época dos Cancioneiros 
começam, porém, as evoluções, que terão como conseqüência a eliminação de todos esses 
hiatos. O estudo das grafias, das rimas e da métrica, nos textos dos poetas de fins do século 
XV, mostra-nos que esta eliminação já estava então concluída, por exemplo, as palavras 
citadas anteriormente haviam passado a vinho, bom, irmã, ler, ser, trèdor, mau, má, cor, corar, 
diabo. As principais soluções postas em prática para chegar a supressão dos hiatos são: 
A) Desenvolvimento de uma consoante entre duas vogais. 
 É o caso das sequêncais -~i–o e –~i-a, que se tornam –inho e –inha; ex.: võ-o (<vinu) 
> vinho, gal~i-a (<gallina) > galinha. A consoante nasal [nh], surgida de [~i] em hiato, separa 
doravante as duas vogais, suprimindo a sequência instável. 
B) Contração das duas vogais numa vogal única 
 Quando uma das duas vogais é nasal, o resultado é uma vogal nasal; ex.: lã-a > lã, bõ-
o > bõ (escrito bom), t~e-es > tens, caente > queente > quente, pa-ombo > pombo, f~i-es > 
fins, tri-inta > trinta. As vogais nasais resultantes das contrações desse tipo são: [~i], [~e], [ã], 
[õ], [~u], que já existiam na língua. O sistema fonológico não é, pois, afetado. Não se dá o 
mesmo, porém, quando a contração se produz entre duas vogais orais. Embora o resultado 
seja sempre uma vogal oral, da contração podem originar-se fonemas novos, que provoquem 
uma modificação no sistema fonológico da língua. Para melhor compreendê-lo, convém levar 
em conta a posição das referidas vogais em relação ao acento tônico. 
a) Posição tônica: têm-se como resultados da contração as 7 vogais orais [i], [ȩ], [ᶒ], [a], 
[ǫ], [u]. Ex.: Resultado [i]: vi-es (plural de vil) > vis, v~i-ir > vi-ir > vir. Resultado [ȩ]: 
le-er > ler; se-er > ser; me-esmo > mesmo. Resultado [ᶒ]: pe-e > pé, ma-estre > 
meestre > mestre, sa-eta > seeta > seta. Resultado [a]: ma-a > má, pa-aço > paço. 
Resultado [ǫ]: co-obra > cobra, ma-or > moor > mor; mo-a > mó. Resultado [ǫ]: co-or 
> cor. Resultado [u]: nu-o > nuu > nu. Mas essas combinações não esgotam todos os 
casos possíveis. Temos, com efeito, ga-anha > ganha (verbo) e ga-anho > ganho 
(substantivo), nos quais o a, resultante da contração, conservou até hoje no português 
europeu um timbre aberto ([a]), apesar da presença da consoante nasal seguinte, que, 
nas palavras que contêm um a singelo etimológico, sempre fechou esta vogal em [ä]; 
ex.: cama, cano, banho. Desta maneira a uma oposição fonológica entre [a] e [ä] diante 
de consoante nasal. E, efetivamente, a língua vai utilizar esta oposição nos perfeitos da 
primeira conjugação, cuja desinência –ámos (com [a] aberto) da primeira pessoa do 
plural se opõe à desinência -amos (com [ä] fechado) do presente do indicativo. Assim, 
o sistema das vogais orais tônicas passa a compreender oito fonemas: 
 
Fonte: TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. (p.50) 
Ressalvando-se que a oposição entre /a/ e /ä/ é de fraco rendimento. 
b) Posição postônica: aqui nenhuma mudança se opera no sistema. Os grupos átonos –oo 
e –aa situados em fim de palavras contraem-se em –o e –a; ex.: diábo-o > diabo, 
orágo-o > orago, Brága-a > Braga. O –o e o –a resultantes de –oo e –aa confundem-se, 
pois, com –o e –a etimológicos, ex.: amigo, porta. 
c) Posição pretônica: aqui as contrações das vogais em hiato vão produzir três fonemas 
vocálicos novos que, no português contemporâneo, sempre se distinguem das vogais 
simples na mesma posição. Esses três fonemas vocálicos são hoje [ȩ], [a] e [ǫ] abertos. 
Tem-se, por exemplo, [ȩ] aberto pretônico em esca-ecer > esqueecer > esquecer, pré-
egar > pregar (“predicar”); tem-se [a] aberto em ca-aveira > càveira, paádeiro > 
pàdeiro, a-a casa > à casa; finalmente, tem-se [ǫ] aberto em co-orar > còrar. No século 
XV, quando as contrações das vogais em hiato se completaram, essas vogais deviam 
ser longas e abertas, em oposição às pretônicas simples [ȩ] [ä] e [ǫ], que eram breves e 
fechadas; ex.: pregar (“fixar com pregos”), cadeira, morar. Os três fonemas novos 
serão reforçados pelos alongamentos compensatórios resultantes da queda de algumas 
consoantes na pronúncia das palavras eruditas; ex.: director com [ᶒ] aberto e c 
“mudo”, acção com [a] aberto e c “mudo”, adopção com [ǫ] aberto e p”mudo”. E é 
assim que, por volta de 1500, o sistema das vogais orais em posição pretônica se torna 
exatamente o mesmo que em posição tônica: 
 
Fonte: TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. (p.51) 
 Ex.: /i/ em livrar; /ȩ/ em pregar; /ᶒ/ em pregar; /ä/ em cadeira; /a/ em padeira; /ǫ/ em 
còrar; /o./ em morar; /u/ em burlar. 
C) Contração de duas vogais orais num ditongo oral 
 A pronúncia monossilábica de certos grupos de vogais em hiato produz ditongos. 
Assim a-e dará ae, que se confundirá com ai; ex.: sina-es (plural de sinal) > sinaes > sinais. 
Da mesma maneira a-o dará ao, que se confundirá com au; ex.: ma-o > mao > mau. Mas em 
três tipos de sequências vocálicas o produto da contração será um ditongo inteiramente novo, 
que não exista na língua. Essas três sequências são ǫ-e (com [ǫ] como primeira vogal), ȩ-e 
(com [ȩ]), que darão, respectivamente, oe (escrito hoje ói), ee (escrito hoje éi) e eo (escrito 
hoje éu). Temos, pois, so-es (plural de sol) > soes, hoje sóis; crue-es (plural de cruel) > 
cruees, hoje cruéis; ce-o > ceo, hoje céu. E, assim, o quadro dos ditongos orais, enriquecido 
de três unidades – éi ([ᶒy]), ói ([ǫy]) e éu ([ᶒw]) –, passou a ser 
 
 
Fonte: TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. (p.52) 
 
D) Contração de uma vogal nasal e de uma vogal oral em ditongo nasal 
 As sequências atingidas por essa contração são três: ã-o, ã-e e õ-e. Elas vão produzir 
os ditongos nasais ao, ãe e õe, pronunciados respectivamente [~w], [ã~y] e [õ~y] – ex.: mã-o 
> mão, cã-es (plural de can > cães, leõ-es (plural de leon) > leões. Esta a origem dos ditongos 
nasais, tão característicos da língua portuguesa. 
E) Encontros vocálicos provindos da queda de -d- nas desinências da segunda pessoa do 
plural dos verbos. Tivemos assim: estades > esta-es > estaes e, finalmente, estais; 
vendedes > vende-es > vendees e, finalmente, vendeis; sentides > senti-es > sentis; 
sodes > so-es > sois. 
 As evoluções que acabamos de descrever produziram-se nos séculos XIV e XV. 
Estavam concluídas por volta de 1500. Permanecerão ainda na língua algumas sequências de 
vogais em hiato que serão eliminadas posteriormente: ~ua (escrito em geral h~ua), feminino 
de um, passará a uma, forma que se generaliza nas grafias do século XVIII; os hiatos e-o, e-a 
serão suprimidos pelo aparecimento de um iode, donde –eio, -eia; ex.: che-o > cheio, cre-o > 
creio, cande-a > candeia (formas que aparecem esporadicamente desde o século XVI, mas que 
só vão predominar definitivamente na língua escrita no século XIX). 
 Uma conclusão geral se pode tirar do que foi dito. Os hiatos produzidos pela queda denumerosas consoantes desencadearam um processo de revisão que provocou o 
enriquecimento do sistema fonológico das vogais no decorrer dos séculos XIV e XV. Este 
sistema é doravante constituído por oito vogais orais: /i/, /ȩ/, /ᶒ/, /ä/, /a/, /ǫ/, /o./ e/u/, tanto em 
posição pretônica quanto em posição final: /E/. /A/ e /O/. As combinações de ditongos orais, 
aumentadas de três, passam a ser onze: ei, éi, ai, ói, oi, ui, iu, eu, éu, ai, ou. Enfim, as nasais 
compreendem agora três ditongos. 
 Esse, em síntese, o sistema vocálico do português por volta do ano de 1500. 
Unificação dos substantivos singulares anteriormente em –ã-o, -an e –on 
 Como vimos no início deste capítulo, o galego-português possuía três categorias de 
substantivos como mostram os exemplos seguintes: 
 
Fonte: TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. (p.55) 
 
 Após a redução dos hiatos nas condições que acabamos de descrever, o sistema passa 
a 
 
Fonte: TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. (p.55) 
 Processou-se, a seguir, uma unificação das formas do singular, enquanto os plurais 
permaneciam como antes. E, assim, por volta de 1500, chegamos ao seguinte sistema, que é o 
mesmo da língua moderna: 
 
Fonte: TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. (p.55) 
 Todas as palavras da língua portuguesa possuíam primitivamente –an (-am), e –on (-
om) convergiam desta maneira para uma só terminação em –ão. É o caso das formas verbais 
tônicas; ex.: dan > dão, cantarán > cantarão (futuro), son > são; e as formas verbais átonas; 
ex.: cantáran (mais-que-perfeito) > cantárão, escrito hoje cantaram; cantáron (perfeito), forma 
que veio a identificar-se com a do mais-que-perfeito na pronúncia e na grafia. Da mesma 
maneira o advérbio entón e a negação non (primeiramente apenas sob a forma tônica) passam 
a então e não. 
Permanência da distinção entre /b/ e /v/ no português comum 
 Em galego-português, /b/ e /v/ eram fonemas distintos, e continuam sendo no 
português comum de hoje: bala e vala não se confundem, da mesma forma que cabo e cavo. O 
fonema /b/ é realizado como uma bilabial e /v/ como uma labiodental. 
Vocalismo 
 Do ponto de vista histórico, o estudo do vocalismo compreende o das alterações 
sofridas pelas vogais e pelos encontros vocálicos no processo de evolução de uma língua. A 
história das vogais e dos encontros vocálicos portugueses explica-se fundamentalmente pelo 
vocalismo do latim vulgar. Por isso, dele partiremos e, sempre que possível, documentando os 
fatos. 
1. Vogais 
Vogais tônicas 
 No Appendix Probi, aparecem as seguintes correções: columna non colomna; turma 
non torma. 
 As formas vulgares aí registradas explicam-se pela perda da noção de quantidade. 
Como se sabe, as vogais latinas distinguiam-se por duas oposições: a QUANTIDADE (breves 
e longas) e o TIMBRE (abertas e fechadas). Com exceção do A, que era sempre aberto, as 
vogais longas eram fechadas e as breves abertas, cabendo acentuar que as diferenças de 
quantidade, ao contrário do que se costuma dizer, isto é, que o timbre substituiu a quantidade. 
Desaparecida a noção de quantidade – isto sim –, passaram as vogais a distinguir-se apenas 
pelo timbre. A explicação do fato, segundo o romanista Canelo, é a seguinte: “Em 
determinada época, as vogais breves, que valiam um tempo, alongaram-se, e as longas, que 
valiam dois tempos, abreviaram-se; dessa maneira, igualaram-se num grau intermediário, 
valendo todas um e meio tempos.” 
 Como conseqüência, estabeleceu-se o seguinte quadro de correspondência de vogais 
entre o latim clássico e o latim vulgar: 
 
Fonte: CARDOSO, Wilton. Estilística e gramática histórica. (p. 66) 
 Em português, as vogais tônicas permanecem, respeitados os valores do latim vulgar: 
 
Fonte: CARDOSO, Wilton. Estilística e gramática histórica. (p. 67) 
Vogais átonas 
 No Appendix Probi, aparecem as seguintes correções: masculus non masclus; calida 
non calda; viridis non virdis. 
 Tais exemplos mostram que, na língua vulgar dos romanos, havia tendência para a 
síncope ou queda de vogais átonas. Ao que parece, o desaparecimento de tais vogais não se 
processou de imediato, sendo lícito supor uma fase intermediária em que o fonema se 
debilitou, conforme atestam outros exemplos, um dos quais aparece no próprio Appendix 
Probi: cithara non citera. 
 Seja como for, o certo é que a mesma tendência é atestada pelo vocabulário português. 
Com efeito, embora a regra não seja geral, pode-se afirmar que as vogais átonas tenderam ao 
desaparecimento, quer se encontrassem em posição pretônica, quer estivessem em situação 
postônica. 
 
Fonte: CARDOSO, Wilton. Estilística e gramática histórica. (p. 67) 
2. Encontros Vocálicos 
Ditongos 
 Na Fonética Histórica, é conveniente distinguir os Ditongos Latinos, isto é, os 
ditongos que já existiam em latim – dos Ditongos Românicos – a saber, ditongos que se 
criaram posteriormente à fase do latim em virtude da evolução por que foi passando a língua. 
I. Ditongos Latinos. Eram apenas três (ae, oe, au), um dos quais (oe) bastante raro. O 
Appendix Probi aponta duas correções que, discutíveis quanto à formas 
censuradas, em todo caso denunciam a debilidade da pronúncia popular, ponto de 
partida para a redução a vogal: aquaeductus non aquiductus; terrae motus non 
terrimotium. No que toca ao ditongo ae, o melhor testemunho é o de Varrão, 
quando, em De língua latina, nos informa que, na fala rústica, se dizia edus em 
lugar de aedus ou mesium em vez de maesium. Já com relação a oe, há exemplos 
na Peregrinatio ad Loca Sancta: amenus por amoenus, cepi por coepi. Finalmente, 
au, que se mantinha na língua vulgar de Roma e de outras regiões do Império, 
admitia uma pronúncia arcaica ou regional o, documentada pelo Appendix Probi: 
auris non oricia. 
 São os seguintes os resultados dos ditongos latinos em português: 
 
Fonte: CARDOSO, Wilton. Estilística e gramática histórica. (p. 68) 
Hiatos 
 Também no caso dos hiatos temos que distinguir os Hiatos Latinos dos Hiatos 
Românicos 
I. Hiatos Latinos: a questão dos hiatos latinos (ea, ua) é talvez complexa. É, porém, 
certo que a língua vulgar desde cedo procurou eliminá-los, pois tinham pronúncia 
difícil, exigindo aberturas consecutivas da boca. Entre outras, comprovam o fato as 
seguintes correções do Appendix Probi: palearium non paliarium; vinea non vinia; 
lancea non lancia; februarius non febrarius; 
Na evolução do hiato ea, ocorrem as seguintes fases: 
 
Fonte: CARDOSO, Wilton. Estilística e gramática histórica. (p. 69) 
 É o que se observa nos exemplos documentados pelo Appendix Probi: 
 
Fonte: CARDOSO, Wilton. Estilística e gramática histórica. (p. 69) 
 Pelo que respeita ao hiato ua, basta assinalar que a primeira vogal se transforma em 
semivogal e, em seguida, desaparece: februariu > febrwáriu > febrariu > fevereiro. 
II. Hiatos Românicos 
1º) pela crase das vogais: colore > coor > côr; crudu > cruu > cru; dolore > door > dor; sedere 
> seer > ser; etc. Neste caso, quando se trata de vogais diferentes, elas antes nivelam-se: 
palomba > paomba > poomba > pomba; sagitta > saeta > seeta > seta; 
2º) pela intercalação de uma semivogal entre as vogais: foedu > fêo > feio; credo > crêo > 
creio; cena > cêa > ceia. 
Consonantismo 
 Estudaremos no Consonantismo as alterações por que passaram os fonemas 
consonânticos e os encontros consonantais no processo de evolução da língua. Como no caso 
do Vocalismo, a história das consoantes e dos encontros consonantais portugueses tem sua 
explicação no Consonantismo do latim vulgar, e, por isso, dele partiremos, procurando 
sempre documentar os fatos. 
1. Consoantes 
Consoantes Simples 
 Em primeiro lugar,é preciso ressaltar as três posições que podem assumir no 
vocabulário: Iniciais, Mediais e Finais. 
a) Iniciais. Mantêm-se, em rigor: pace > paz; bucca > bôca; tauru > touro; dare > dar; 
caballu > cavalo; gutta > gôta; feroce > feroz; vita > vida; jejunu > jejum; lacu > lago; 
rivu > rio; malu > mau; nocte > noite. 
 Os poucos casos excepcionais – como cattu > gato, veruculu > ferrolho e memorare > 
lembrar – comportam explicações particulares, pois são devidos a Acidentes Fonéticos. 
Nenhum sentido geral tem, pois, a ocorrência, no Appendix Probi, de um fato como plasta 
non blasta, aliás insignificante em face do que documenta em favor da manutenção do fonema 
inicial aqui considerado. 
b) Mediais. Conforme a sua situação no vocábulo, diz-se que uma consoante simples 
medial é protegida ou intervocálica: no primeiro caso, deve estar apoiada em outra 
consoante; no segundo, como é óbvio, deve colocar-se entre vogais. 
1º) Mediais Protegidas. Mantêm-se: arbore > árvore; costa > costa; etc. 
2º) Mediais Intervocálicas. Devemos distinguir dois casos: 
i. As Surdas sonorizam-se, isto é, transformam-se nas homorgânicas sonoras 
(ponto de articulação idêntico): sapore > sabor; rota > roda; acutu > agudo; 
profectu > proveito; acetu > azedo (mas também rosa > rosa, com fonema 
surdo /s/ em latim e sonoro /z/ em português); 
ii. As Sonoras desaparecem, isto é, sofrem a ação da síncope: pede > pé; legere > 
ler; pala > pá; granu > grão; etc. 
 Uma observação cabe quanto à oclusiva bilabial sonora /b/, que se transforma, 
excepcionalmente, na constritiva fricativa labiodental sonora /v/: faba > fava; debere > dever; 
amabam > amava. Tal tratamento, que costuma atingir o fonema inicial do vocábulo, acha-se 
documentado no Appendix Probi – baculus non vaclus, e os historiadores da língua costumam 
dar-lhe o nome de Degeneração. 
3º) Finais. Em latim, a maioria das consoantes podia figurar como final de palavra, coisa que 
não se observa no português. Daí, podemos concluir, como regra geral, que as consoantes 
finais latinas desaparecem em nossa língua. 
 Saliente-se, contudo, que: 
1º) apesar de o –m do acusativo ter desaparecido no próprio latim vulgar, a tal ponto que não 
se transcreve nas formas que dão origem às palavras portuguesas, a ressonância nasal 
permanece em alguns monossílabos: cum > com; quem > quem; in > em e poucos outros. 
2º) o –s permanece no plural dos nomes, nas desinências verbais e nos advérbios: aves > aves; 
amas > amas; magis > mais; 
3º) o –l, o –r, e o –z, não eram finais em latim nos casos em que o são no português: fidele > 
fiel (apócope do –e); semper > sempre (metátese do –r); pace > paze > paz (sonorização do -
c- intervocálico e apócope do –e); amare > amar (apócope do –e). 
Consoantes duplas 
 Na evolução para o português, simplificam-se: suppa > sopa; abbate > abade; gutta > 
gôta; bucca > boca; effectu > efeito; capillu > cabelo; canna > cana. 
Encontros Consonantais 
 Os Encontros Consonantais podem ter como conseqüência a formação de grupos de 
consoantes latinos ou românicos. Costumamos dar-lhes os nomes de Próprios, quando são 
formados de uma oclusiva ou constritiva mais uma lateral ou vibrante (pr, br, fr, pl, bl, cl, fl, 
etc.) e Impróprios, em todos os outros casos. 
1. Iniciais. Têm tratamento diverso, conforme sejam encontros Próprios ou Impróprios. 
2. Próprios. Mantêm-se, quando um dos elementos é a vibrante: pratu > prado; braças > 
bragas; crudele > cruel (um tanto raramente, cr- > gr-: crate > grade); frigidu > frio; 
etc. Se, porém, o segundo elemento é a lateral, transformam-se de modo distinto: 
a) Por serem uns vocábulos mais antigos do que outros ou por se terem introduzido em 
regiões diferentes da Península Ibérica, pl- > ch- ou pr-: plorare > chorar e plica > 
prega; cl- > ch- ou cr-: clamare > chamar e clavu > cravo > ; fl- > ch- ou fr-: flamma > 
chama e flaccu > fraco; 
b) Por motivos pouco esclarecidos, bl- > br- ou l-: blandu > brando e blastimare > 
lastimar; gl- > gr- ou l-: glute > grude; glattire > latir. 
2º) Impróprios. Os demais encontros iniciais reduzem-se aos do chamado s- impuro, e tomam 
todos um e- prostético no vocábulo português correspondente: scutu > escuto; smaragda > 
esmeralda; spica > espiga; stare > estar. 
2.Mediais. Quer sejam latinos, quer românicos, sua evolução é um tanto complexa, se 
bem que, em parte, paralela à das consoantes simples. 
1º) Próprios. Em posição intervocálica: 
a) Quando constituídos de surda e vibrante, sonorizam o primeiro elemento: aprile > 
abril; petra > pedra; macru > magro; africu > ávrego (arc.); no caso da sonora -b-, 
temos, pelo motivo já exposto: -br-, -vr-: libru > livro; 
b) Quando constituídos de surda ou sonora e lateral, transformam-se, com exceção de 
-fl-, em -lh-: scop(u)lu, através de scoclu > escolho; vet(u)lu, através de veclu (no 
Appendix Probi: vetulus non veclus) > velho; oc(u)lu > olho; trib(u)lu > trilho; 
coag(u)lu > coalho; mas também, considerados um a um, admitem evolução 
divergente em vocábulos novos: -pl- > -br- ou -pr-: duplare > dobrar e implicare > 
empregar; -cl- > -ch- ou -gr-: masc(u)lu > macho e eclesia > igreja; -bl- > -br- ou -
vr-: nob(i)le > nobre e parab(o)la > palavra; -gl- > -gr-: reg(u)la > regra; -fl- > -ch-
: inflare > inchar. 
 Em posição protegida, conservam-se: membru > membro; proscriptu > proscrito; 
esfricare > esfregar; etc. 
2º) Impróprios. Quando intervocálicos, têm, em geral, o primeiro elemento vocalizado: doctu 
> douto; lacte > leite; alt(e)ru > outro; multu > muito; conceptu > conceito; baptizare > 
bautizar (arc.); absentia > ausência; regnu > reino (mas também pugnu > punho). Todavia, 
não se vocalizam -ns- e -x- (= -cs-): mensa > mesa: dixi > disse. Quando protegidos, divergem 
em cada caso: monstrare > mostrar; punctu > ponto; ung(u)la > unha; etc. 
 Dentre os encontros consonantais românicos, constituem caso à parte os grupos 
formados por consoante e semivogal, dos quais já dissemos alguma coisa, ao tratar dos hiatos. 
Acrescentem-se lá os seguintes casos ainda não considerados: basiu > basyu > beijo; pretiu > 
pretyu > preço; hodie > hodye > hoje. 
Acidentes Fonéticos 
 Chamam-se Acidentes Fonéticos certos fenômenos que se observam no curso de 
evolução dos fonemas e que, embora não tenham a regularidade das correspondências 
fonéticas, perturbam a constância de sua ação. 
 Aqui estudaremos os mais frequentes. 
Assimilação 
 É o acidente fonético que consiste na influência de um fonema sobre outro, tornando-o 
igual (Assimilação Total) ou semelhante (Assimilação Parcial) a si próprio. Pode ser 
Progressiva ou Regressiva, Vocálica ou Consonântica. Observem-se alguns casos: 
a) Persicu > pêssego: o fonema /s/ assimilou o /r/ anterior, produzindo /ss/ = Assimilação 
Total, Regressiva, Consonântica; 
b) Lacte > laite > leite: o fonema /i/, de menor grau de abertura, influiu no /a/, anterior, 
de maior grau, fechando-o num grau intermediário /ê/ = Assimilação Parcial, 
Regressiva, Vocálica: 
c) Fame > fome: o fonema consonântico /m/, que é bilabial, influiu no /a/, que não o é, 
transformando-o, apesar de tônico, em /o/, também bilabial = Assimilação Parcial, 
Regressiva, de consoante sobre vogal. 
 A Assimilação Progressiva é mais rara: ocorre, para dar um exemplo, em amaram-lo > 
amaram-no. 
Dissimilação 
 É o reverso da Assimilação: consiste na diversificação de um fonema por já existir no 
vocábulo fonema igual ou semelhante, a ponto de, por vezes, suprimi-lo: calamellu > 
caramelo; aratru > arado. Como a Assimilação, pode ser Progressiva, Regressiva, Vocálica ou 
Consonântica. 
Oclusão 
 Consiste na passagem de uma das vogais extremas na escala de abertura – o /i/ e i /u/ -a semivogais - /y/ e /w/ -, ocasionando tal fechamento a formação de ditongos com a vogal 
anterior ou posterior. Já observamos o fenômeno ai tratar da evolução dos hiatos latinos. Aqui 
aludiremos a um aspecto um pouco diferente. A palavra latina sanu, com a queda da 
consoante intervocálica, deu em português antigo são (pronunciado em duas sílabas: sã-o). 
por oclusão, o vocábulo tornou-se monossilábico (sãw). Trata-se do mesmo fenômeno que 
levou a pronúncia popular a reduzir o número de sílabas de sa-u-da-de, va-i-da-de, ca-os, etc. 
Metafonia 
 É o acidente que conduz à alteração da vogal tônica de um vocábulo por influência das 
vogais /i/ ou /u/ da última ou, mais raramente, da penúltima sílaba: feci > fiz; decima > 
dízima; totu > tudo. 
Metátese 
 Chama-se assim a transposição de fonemas no vocábulo: semper > sempre; fenestra > 
festra > fresta. 
Crase 
 É a fusão de duas vogais em uma única: pede > pee > pé; dolore > door > dor; crudu > 
cruu > cru. 
Nasalização 
 É a passagem de um fonema oral a nasal, provocada, via de regra, por outro fonema 
nasal existente no vocábulo: mihi > mi > mim; multu > muito (pronúncia muito); mas, sem 
causa aparente, exsuctu > enxuto. 
Desnasalização 
 É o oposto ao fenômeno anterior, e ocorre, com freqüência, na vogal nasalizada pela 
síncope no -n-: luna > l~ua > lua; bona > bõa > boa. 
Haplologia 
 É a síncope de toda uma sílaba medial, provocada pela existência, no vocábulo, de 
outra idêntica ou quase idêntica: rotatore > redor; vendita > venda. 
Analogia 
 Como se há de ver, a analogia, que é a tendência niveladora dos fenômenos 
lingüísticos, não se exerce apenas sobre as correspondências fonéticas. Mas, exercendo-se 
também sobre elas, incluem-se seus efeitos entre os acidentes fonéticos: stella > estrela 
(analogia com astro); veruclu > ferrolho (analogia com ferro); (arc.) foresta > floresta 
(analogia com flor). 
 
 
Capítulo III 
Evolução da Morfologia 
Objetivos específicos 
 Reconhecer a evolução sofrida pelos nomes, como substantivo, adjetivo e numeral. 
 Analisar as alterações sofridas pelos pronomes, artigos, pronomes e as classes de 
palavras invariáveis 
 Compreender a evolução dos verbos e a formação dos tempos verbais 
 
 A evolução da morfologia do Latim ao galego-português se processa com a 
simplificação da declinação nominal que acaba por desaparecer: sobrevivem apenas duas 
formas oriundas do acusativo latino, uma para o singular e outra para o plural. As relações 
que o latim exprimia pelas desinências casuais são agora expressas por preposições ou pela 
colocação da palavra frase. Os gêneros, com a supressão do neutro, reduzem-se a dois: 
masculino e feminino. A morfologia verbal é consideravelmente simplificada. O sistema dos 
tempos e dos modos altera-se e multiplicam-se as formas perifrásticas. O futuro simples (ex.: 
amabo), é substituído por uma perífrase e construída com habere – amare habeo –, donde se 
origina o futuro galego-português amarei. Um artigo definido forma-se com base no 
demonstrativo ille. As quatro formas saídas do acusativo, diferenciadas em número e gênero – 
illum, illam, illos, illas –, dão inicialmente lo, la, los, las, em virtude da aférese sofrida pelo 
seu emprego proclítico. Como estes artigos vinham frequentemente precedidos de palavras 
terminadas por vogal – ex.: vejo lo cavalo, vende la casa –, o l desapareceu à semelhança de 
todos os l da língua que se achavam em posição intervocálica, com o que se chegou às formas 
o, a, os, as. E, por fim, para compensar o empobrecimento da morfologia nominal, a ordem 
das palavras torna-se mais rígida. 
 Desde os antigos gramáticos se nota a preocupação de distribuir as palavras em oito 
classes, chamadas partes do discurso, que são: o nome (substantivo, adjetivo e numeral), o 
artigo, o pronome, o verbo, o advérbio, a preposição, a conjunção e a interjeição. 
 Destas classes de palavras, as quatro primeiras são variáveis, isto é, flexionam-se para 
indicar várias relações. As quatro últimas são invariáveis, ou não se modificam. Não há uma 
limitação de fronteira entre essas classes, palavras consideradas inflexíveis outrora, hoje são 
flexíveis, ou vice-versa. 
 A seguir, será feito um estudo resumido da evolução dessas classes de palavras. 
1. O nome 
 As coisas que nos cercam podem ser encaradas objetivamente em seu ser ou 
substância, e a palavra com que as designamos é o substantivo; ou subjetivamente, em sua 
forma exterior ou qualidade, e temos o adjetivo; ou ainda em sua multiplicidade, e surgem os 
numerais. 
a) Substantivos: próprios ou comuns 
 Próprios 
Nomes de Batismo 
Literatura 
Nomes de origem latina, grego, hebraico e germânico 
 Nomes latinos: Virgílio, Augusto, Juvenal, Paulo, Cícero, Mário, Lúcio, Marcos, 
Cláudio, Benedito. 
 Nomes Gregos: Jorge, André, Cristóvão, Felipe, Estêvão, Alexandre. 
 Nomes Hebraicos: José, João, Manuel, Miguel, Jacó, Daniel, Judite, Ester, Sara, 
Maria, Raquel. 
 Nomes Germânicos: Luís, Guilherme, Alberto, Bernardo, Carlos, Henrique, Rodrigo, 
Roberto, Arnaldo, Fernando. 
Nomes próprios com seus respectivos hipocaríticos: 
Alberto: Beto, Betinho, Bebeto 
Isabel: Bel, Belinha 
Antônio: Tônio, Totônio, Tonico, Toninho 
Francisco: Chico, Chiquito, Chichico, Chiquinho 
 Substantivos Comuns 
 A maioria desses substantivos são de origem latina, porém a língua criou outros com 
seus próprios recursos, pelos processos normais de formação de palavras. 
 Não é possível estudarmos historicamente essa classe de palavras se retornarmos ao 
latim, no qual encontramos tais nomes agrupados em classes ou declinações. 
 No latim clássico, dividiam-se as palavras segundo a terminação, em cinco grandes 
classes, chamadas declinações. 1ª declinação: rosa-ae; 2ª declinação: lupus, i; 3ª declinação: 
ovis, is; 4ª declinação: cantus, us; 5ª declinação: Dies, ei. 
 No latim vulgar essas cinco declinações reduziram-se a três. A 5ª declinação passou a 
integrar a 1ª (a maioria dos nomes) e a 3ª declinação. A quarta declinação juntou-se à 2ª por 
haver semelhanças nas suas desinências. 
 Os nomes neutros no plural e os nomes da quinta passaram à primeira declinação, 
como folia, ae (pl. de folium); fala, ae (pl. falum); vela, ae (velum). 
 Alguns substantivos femininos de quarta, como nǔrus e sǎcras e da terceira, como 
pǔppis, pulez e něptis, tornaram por analogia a desinência = a conformando-se com esta 
declinação: nǒra, sǒgra, pǔppa, publǐca, něpta. 
 O nominativo e o acusativo foram os únicos casos que restaram da declinação clássica 
latina na língua vulgar. Porém, em certas regiões, prevaleceu o nominativo, em outras, o 
acusativo. O nominativo se manteve no romeno, no italiano, no provençal e francês antigos. O 
acusativo se conservou nas línguas românicas, nas quais não se verificara a queda do –s final, 
como no português e no espanhol. 
 A disposição das palavras na frase, em latim vulgar seguindo a ordem natural da 
elaboração do pensamento, ou seja, sujeito + verbo + objeto ou predicativo, em contraposição 
ao uso da língua clássica, acabou por fixar a função das palavras na frase e contribuindo para 
a não manutenção dos dois casos. 
 É do acusativo, que sobreviveu na Península Ibérica, que procedem as palavras de 
nossa língua. Comprovam o emprego do acusativo como sujeito, em lugar do nominativo: 
Primeira declinação 
Acusativo Singular mensa > mesa, vita > vida, rosa > rasa 
 Plural mensas > mesas, vitas > vidas, rosas > rosas 
Segunda declinação 
Acusativo Singular lupu > lobo, hortu > horto, libru > livro 
 Plural lupos > lobos, hortos > hortas, libros > livros 
Terceira declinaçãoAcusativo Singular valle > vale, ponte > ponte, labore > lavor 
 Plural valles > vales, pontes > pontes, labores > lavores 
 Apesar de ser o acusativo considerado o caso lexiogênico das palavras portuguesas, há 
vestígios também de contribuição dos outros casos. O nominativo: nomes próprios como 
Apolo, Eherós, Marcos, Lucas; comuns: júnior, drago, deus, câncer; pronomes pessoais retos: 
eu, tu, eles, nós, vós; demonstrativos: este, esse, aquele. O vocativo dá ave-Maria. O genitivo 
contribui com os patronímicos: Fernandes, Martins, Lopes, Mendes, além de substantivos 
comuns, substantivos compostos (terremoto, agricultura). O dativo aparece em substantivos 
compostos (crucifixo: cruci + fizu, Deodato: deo + datu); e nas formas pronominais: mim 
(mihi), ti (tibi), si (sibi), lhe (illi). O ablativo fornece nomes próprios de lugares e advérbios. 
b) Adjetivo 
 Os adjetivos qualificativos portugueses, que não foram formados na própria língua, 
originaram-se geralmente do latim. 
 Havia, em latim adjetivos de 1ª e de 2ª classes. Os da 1ª classe tomavam as desinências 
casuais da 2ª declinação dos substantivos, no masculino e no neutro, e de 1ª declinação,, no 
feminino. Tinham assim três formas: o masculino, o feminino e o neutro: justus, justa, justum. 
Com o desaparecimento do neutro, conservaram duas, representadas em nossa língua, uma 
para o masculino e outro para o feminino. Os adjetivos da 2ª classe seguiram a 3ª declinação 
dos substantivos. Podiam ser triformes: masculino, feminino e neutro; biformes: masculino e 
feminino, e outra para o neutro; uniformes, uma única forma para os três gêneros. 
Desaparecido o neutro, uma parte desses adjetivos passaram ao português com uma única 
forma e a outra, receberam por analogia aos da 1ª classe, flexão feminina. 
Gênero dos nomes 
 Latim: masculino, feminino e neutro. 
 Português: masculino e feminino 
 Os nomes terminados em –ÃO podem fazer o feminino de três modos: -ã, -oa e –ona. 
Em –ã (< ona), os que seguem o tipo irmão – irmã, cortesão – cortesã; em –oa, os que, 
resultantes do masculino arcaico – on, tomaram-na no feminino: bona > bõa > boa. Os 
aumentativos, no entanto, conservaram no feminino e –n medial, talvez por influência 
castelhana: macetão – macetona, valentão – valentona, sabichão – sabichona. 
Números dos nomes 
 Entre nós, os nomes terminados em -al, -el, -il,- ol, -ul, mudam no plural o –l em –is. 
Esta é a lição que nos ministram os gramáticos. Entretanto, a verdade é outra. 
 As formas plurais portuguesas originaram-se do acusativo plural latino. Foram as 
terminações latinas –ales, -eles, -iles, -ǐles, -oles, -ules, que vieram a dar, entre nós, 
respectivamente –ais, -éis, -is, -eis, -óis, -uis, pela queda do l intervocálico e passagem do -e- 
átona a -i-. Exemplos: 
 -ales > -aes > -ais: animales por animália > animaes > animais. 
 -eles > -ees > -éis: fideles > fiees > fiéis 
 -ǐles > -ies > -iis > -is: cubiles por cubilia > covies > coviis > covis 
 soles > soes > sóis 
 -oles > -oes > -óis: fossiles > fossies > fósseis 
 -ules > -ues > -uis: padules por paludes > paues > pauis. 
 
 As terminações latinas –anu, -ane, -one, -udine deram, em português, respectivamente 
–ao, -ã, -om, por causa da nasalidade comunicada pelo –n , a vogal anterior. 
 Anos > ãos: paganos > pagãos 
 Anes > ães: panes > pães 
 Ones >ões: sermanes > sermões 
 Udines > ones > ões: multidines > multidones > multidões 
 Palavras terminadas em: 
 Enes > -~ees > ens: juvenes > jov~ees > jovens 
 ~ines > ~ies > ~iis: fines > f~ies > f~iis > fins 
 ~ines > ~ees > ens: virg~ees > virgens 
 Onos > õos > ons: tonos > tõos > tons 
 ~unos > ~uos > ~uus > uns: jejunos > jej~uos > jej~uus > jejuns 
Grau dos nomes 
Substantivo: Aumentativo e Diminutivo 
 Sufixos que entre nós indicam de aumento: -ão, do latim –one: ajuntam-se a temas 
nominais e verbais designando o agente: brigão, chorão; –aço, -az, do latim –aceu: 
calhamaço, linguarraz; –azio, do latim –aceu, influenciado pelo espanhol –azo: 
capázio; -alha, do latim –alia: empregado também em sentido pejorativo: muralha, 
canalha, gentalha; -alho, do latim ac(u)lu, para José Oitica este sufixo é uma variante 
do anterior: cabeçalho, espantalho; -arro, -orro, de origem Ibérica, emprega-se em 
sentido pejorativo. Ex.: bocarra, santorro, cabeçorra; -asco, formado por analogia com 
–esco, do latim –iscu (gr. –iskos): penhasco, verdasco. 
 Diminutivo. Havia, em latim, vários sufixos para indicar a ideia diminutiva. Destes, 
uns se tornaram populares em português; outros conservaram a sua origem culta. A 
ideia de carinho que alguns encerram, remontam ao próprio latim. Os sufixos 
diminutivos mais usuais entre nós são: -inho, -im do latim –inu. Este sufixo servia 
para formar adjetivos latinos: caninus, asininus. Posteriormente adquiriu sentido 
diminutivo. É costume intercalar a consoante de ligação -z- entre o tema e o sufixo, 
quando a palavra a que ele se junta termina em vogal acentuada ou nasal e ditongo: 
cafezinho, vintenzinho, paizinho. Com a forma – im, que parece ser de origem 
francesa, ocorre espadim, folhetim, flautim; -ico, do latim īccu: Antonico, Marica, 
burrico; -ito, do latim īttu: nomes próprios masculinos e femininos: Livitta, Julitta. 
 
c) Numeral 
 Cardinais 
Um < ~uu < UNU 
Uma <~ua < UNA 
Dois ou Dous < doos < duos 
Duas < d~uas. O -~u- não deu -ô- por se achar em hiato com o -a- (conf. l~ua > lua) 
Três < tres 
Quatro < quatro < quettor < quattuor 
Cinco < cinque por quinque 
Seis < sex 
Sete < septe por septen 
Oito < octo 
Nove < nove por novem 
Dez < dece por decen 
Onze < ondze < ǔdece por ǔndecim 
Doze < dodze < dodece por duodecim 
Treze < tredze < tredece por tredecin 
Quatorze < quatordze < quattordece por quattuordecim 
 A melhor pronúncia é catorze (conf. quaternu > caderno) 
Quinze < quindze < quindece por quindecin 
Dezesseis < dece et sex por sedecim 
Dezessete < dece et sept por septudecim 
Dezoito < dece et octo por decem et octo 
Dezenove < dece et nove por decem et novem 
Vinte < vimte (arc.) < viinti (lat. vulgar) 
 Ordinais. Os ordinais latinos, à exceção dos três primeiros quase não se modificaram 
em nossa língua, porque foram introduzidos por via literária ou culta. 
- Primeiro < primairo < primariu. No latim clássico, a forma deste numeral era primus. 
- Segundo < secundu. No português arcaico, houve o substantivo segundo, que significava 
tempo, conservado até hoje para indicar a fração mínima da hora. 
- Terceiro > terçairo > tertiasiu. No latim clássico, o numeral correspondente era tertius que só 
se emprega entre nós nas frações ou para formar substantivos compostos: terça parte, dois 
terços, terça-feira. 
 Multiplicativos: os multiplicativos duplo, triplo, quádruplu, décuplo, cêntuplo, 
pertencem à língua culta. Duplo tem forma popular dobro. 
Artigos 
 O latim clássico não possuía artigo. Esta classe de palavras só aparecerá nos últimos 
tempos do latim vulgar e em escritores latinos tardios. 
 Originou-se o nosso artigo definido do demostrativo illu, illa. A evolução do artigo 
definido ocorreu da seguinte forma: 
ǐllu > elo > lo > o; ǐlla > ela > la > a 
ǐllos > elos > los > os; ǐllas > elas > las > as 
 o -ǐ- deu regularmente -e-; a consoante dupla -ll- simplificou-se. A queda do e inicial 
resultou de ser o artigo, palavra proclítica: elos campos, ela casa, donde los campos, la casa. 
Em certos casos, tornava-se o -l- intervocálico: de lo chão, a la pedra, para los rios. Nesta 
posição, ele caía. Surgiram então o, a, os, as. 
 A evolução do artigo indefinido foi a seguinte: 
Unu > ŭu >um; una > ŭa > uma 
Unos > ŭas > ŭus; unas > ~uas > umas 
Pronomes 
 Pronomes pessoais: os pronomes pessoais eram mais empregados no latim vulgar que 
no clássico. Os da 1ª e 2ª pessoa originam-se dos de idênticas pessoas no latim. O da 
3ª proveio do demonstrativo ille. 
1ª pessoa: 
Eo (nom.) por ego > eu; mi (dat.) por mihi > mim; me (acus.) > me; mecum (abl.) > mego 
(arc.) migo. 
Nós (nom.) > nós. O ó resultou da influência de nosso. Nos (acus.) > nos. Noscrem (abl.) > 
nosco. 
2ª Pessoa 
Tu (nom.) > tu; ti (dat.) por tibi > ti 
Te (acus.) > te; tecum (abl.) > tego > tigo. 
Vós (acus.) > vos 
Vocum (abl.) > vosco 
 O pronome da 2ª pessoa você era antigamente o tratamento de respeito Vossa Mercê. 
A evolução deve ter sido a seguinte: Vossa Mercê > vossemecê > vosmecê > você. 
3ª Pessoa 
ǐlle (nom.) > ele; ǐlla (nom.) > ela. 
ǐlli (dat.) > eli > li (arc.) > lhi, lhe. 
ǐllu (acus.) > elo > lo (arc.) > o 
ǐlla (acus.) > ela > la (acr.) > a 
 A queda do -e- explica-se pelo caráter proclítico desta palavra, em função do artigo, já 
que a origem é a mesma; a do -l- se verificou em razão de se ter tornado intervocálico: loura-
lo > loura-o. O pronome arcaico lo ainda se conserva nas formas verbais terminadas em -r-, -
s, -z: amarlo > amalho > amá-lo; dizendo > dizello > dizê-lo; fez-lo > fello > fê-lo. Nas 
formas verbais terminadas em –m, o l sofre a influência desta nasal, transformando-se por 
assimilação em n: 
Ouviramlo > ouviram-no; amaranlo > amaram-no. 
Se (acus.) > se. 
Sibi (dat.) > si por analogia com mi. 
Secum (abl.) > sego (arc.) > sigo. Eles, elas formam-se dentro da língua por analogia. Lhes 
(dat.) foi formado por analogia dentro do idioma. 
Demonstrativos 
 Simples: ǐste > este; ǐsta > esta; ǐstu > esto (arc.) > isto; ǐsse por ǐpse > esse; ǐssa por 
ǐpsa > essa; ǐssupo ǐpsu > esso (arc.) > isso. 
 Composto: accu + ǐlle > aquele; accu + ǐlla > aquela; accu + ǐllu > aquelo (arc.) > 
aquilo. 
 O plural dos demonstrativos não proveio do latim, mas se formou no próprio 
português com acréscimo de –s ao singular. O neutro (aquilo), porém, não se pluralizou. 
 Estouto, essoutro, aqueloutro, formaram-se dentro da língua por aglutinação. O 
demonstrativo o teve origem idêntica à do artigo. 
Possessivos 
 Os possessivos portugueses procedem dos possessivos latinos no acusativo do 
singular. O plural desses pronomes se formaram, dentro da língua, com acréscimo de –s. 
1ª Pessoa: meu > meu. Em Portugal, o povo do Norte emprega a forma mou por analogia com 
tou e sou. Mea > mia > mǐa (arc.) > minha. No hiato ea, e tônico se transforma em i para mais 
se distanciar de a (conf. dicéam por dicebam > diziam). Nostru > nosso; nostra > nossa. 
2ª Pessoa: teu por tuu > teu; tǔa > tua; vostru por vestru > vosso; vostra por vestra > vossa. 
3ª Pessoa: seu por suu > seu. A forma popular seu proveio da analogia com meu. Sǔa > sua. O 
ǔ apesar de breve não se modificou. A forma sa, deve acender ao latim vulgar. 
Pronomes relativos e interrogativos 
 O pronome relativo tinha, em latim, três formas: uma para o masculino –que, outra 
para o feminino –qual, uma terceira para o neutro, quod. 
 Pelo fim do Império, o pronome relativo ficou reduzido à seguinte forma: qui, que 
(m), cui quid ou quod. Sobreviveram em nossa língua os acusativos que (m) átono e quid > 
que, quem (tônico) > quem, cuju (m) > cujo. 
 No português moderno, quem só pode se referir a pessoa, no português antigo podia 
referir-se também à coisas. 
O interrogativo 
 Quem interrogativo é a forma do acusativo latino correspondente; que interrogativo se 
prende ao neutro quid, que se manteve no latim vulgar. Qual e quanto, relativos e 
interrogativos, procedem do latim quale e quantu. O primeiro indicava qualidade, e o segundo 
significava tamanho e quantidade, tendo substituído o clássico quot. 
Indefinidos 
 Foram poucos os indefinidos que passaram ao português proveniente do latim clássico. 
Os que chegaram até nós procedem do latim vulgar. 
Pronomes Substantivos: aliquod > algo; aliquem > alguém; ne(c) + quem > neguem > 
ninguém; rata > nada; outro + em (resultante de quem) > outrem; totu > todo > tudo; 
Pronomes Adjetivos: alicuna > algǔa > alguma; ne por nec + unu > ne~uu e nēûu (arcs.) > 
nenhum; certu > certo; certa > certa; multu > muito; multa = muita; paucus > pouco; pauca : 
pouco; tautu > tanto; quantu > quanto. 
Advérbios 
 Os advérbios portugueses derivam-se do latim. A língua vulgar latina costumava 
frequentemente formar locuções com valor adverbial, como: ab + ante > avante; ad + trans > 
atrás; ad + sic > assi (arc.) > assim. 
 O latim clássico tinha várias terminações para formar os advérbios de modo. Eram elas 
–im, -ter, -tus, -e, -o, -um: sentim, firmiter, radicitus, romanice, certo, multum. Tais advérbios 
de modo não passaram ao latim vulgar. Dos terminados em –e, entretanto, podem ser citados 
tarde > tarde, bene > bem, male > mal. 
 Desenvolveu-se muito, em nossa língua, o uso de locuções adverbiais de modo 
constituídas de preposição e substantivo, adjetivo ou advérbio: de propósito, de repente, de 
novo, de pronto, com efeito, sem dúvida, em vão, por acaso, por certo. 
 A origem das locuções adverbiais tais como às classes, às vezes, às direitas, às escuras, 
às tontas, etc., ainda não foi suficientemente explicada. Há quem queira descobrir um modelo 
para elas na locução latina a faris. 
Evolução de alguns advérbios 
 De lugar: abaixo < a + baixo < ad + bassiu por bassu; acá (arc.) < accu + hac (hoje cá); 
acima < a + cima < ad + cima; acolá < accu + illac; alá o < a + la < ad + illac (hoje lá); 
ali < ad + illic; aqui < accu + hic ou ibi; atrás < a + trás < a + trans; dentro < de + 
ǐntro; diante < de + in + ante; onde < unde; perto < preto (arc.) < perctu por perrectu. 
 De tempo: agora < hac + hora; amanhã < a + manhã < ad + maniana por mane; antes < 
ante o –s paragógico explica-se por influência do seu antônimo depois; depois < de + 
post. 
Preposição 
 A maior parte das preposições latinas passaram para o português. 
 No latim vulgar, era freqüente combinar-se uma preposição com outra, resultando 
disso a formação de uma preposição composta. O número das preposições aumentou entre 
nós, porque tiveram este emprego quer adjetivos: segundo, conforme; quer particípios 
passados: salvo, exceto, junto; quer particípios presentes: tirante, passante, mediante, durante. 
 As preposições portuguesas são: 
a < ad; ante < ante; após < a + pós < ad + post; até < atees e atēes (arcs.) < ad + tenes por 
tenus. 
com < cum; contra < conta; de <de; desde < des + de < de + ex + de; escontra (arc.) < in, 
entre < intre por inter (arcs. antre e outre); para < pera (arc.) < per + ad; per < per; perante < 
per + ante; por < por; sem < sine; so (arc.) < sub. Sob é reconstituição erudita; sobre < supre 
por super; trás < trans. 
Conjunções 
 Ao contrário das preposições, poucas foram as conjunções que o português herdou do 
latim. Para suprir tal deficiência, recorreu a língua às outras classes de palavras, sobretudo aos 
advérbios, e às preposições, dando-lhes funções conjuncionais: todavia, também, para que, 
depois que, etc. 
 Conjunções coordenativas 
 e < et; ora < aora < ad + hora; nem < ne (arc.) < nec; mas, mais (arc.) < magis. 
Explica-se a redução de mais em mas por ser a conjunção proclítica; porend (arc.) < por por 
pro + ǐnde (hoje porém). 
 Conjunções subordinativas 
 que < quid; se < si; como < quonmo < quomaodo; quando < quando. 
Interjeições 
 Das interjeições que usamos, algumas tinham idêntica forma no latim. Destarte 
indicamos, como os latinos, a dor por ai! ui!; a admiração por oh! ah!; a animação

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