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LivroTexto HLP

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Prévia do material em texto

História da Língua 
Portuguesa
1ª edição
2019
História da Língua 
Portuguesa
Presidente do Grupo Splice
Reitor
Diretor Administrativo Financeiro
Diretora da Educação a Distância
Gestor do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas 
Gestora do Instituto da Área da Saúde
Gestora do Instituto de Ciências Exatas
Autoria
Parecerista Validador
Antônio Roberto Beldi
João Paulo Barros Beldi
Claudio Geraldo Amorim de Souza 
Jucimara Roesler
Henry Julio Kupty
Marcela Unes Pereira Renno
Regiane Burger
Mariza Gabriela de Lacerda
Gleides Ander Nonato
*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência.
Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte 
desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos 
direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
44
Sumário
Unidade 1
História da Língua Portuguesa .....................................6
Unidade 2
Aspectos da história interna da língua portuguesa - 
o componente fonético ...............................................22
Unidade 3
Aspectos da história interna da língua portuguesa - 
o componente morfológico ........................................40
Unidade 4
Aspectos socioculturais da língua portuguesa - 
o português brasileiro .................................................59
5
Palavras do professor
Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) à disciplina História da Língua Por-
tuguesa. Vamos refletir sobre a importância dessa disciplina na sua vida 
acadêmica e profissional?
Primeiramente, o campo de estudo da área de Letras é rico em sua diver-
sidade. Dessa forma, o seu percurso formativo contemplará os estudos da 
língua e da linguagem sob perspectivas diversas, as quais permitirão que 
a sua formação seja consistente e completa.
Em segundo lugar, como futuro profissional e/ou pesquisador desse ramo 
do conhecimento, você precisará dos seus conhecimentos para lidar com 
as demandas que encontrará no decorrer da sua jornada. Para tanto, ini-
cialmente, partiremos da dimensão histórica da língua portuguesa, no 
intuito de promover conhecimentos e reflexões relacionados à sua histo-
ricidade e aos seus processos formativos e evolutivos. 
A importância desses aspectos reside no fato de que a língua, por ser um 
objeto de estudo vivo, passa por muitas mudanças ao longo do tempo. 
Muitas vezes, você precisará investigar o passado do nosso idioma, como 
em uma espécie de aventura arqueológica, para poder compreendê-lo e 
ensiná-lo. Como mediador do processo de aprendizagem, você também 
precisará desses conhecimentos para guiar os seus alunos na construção 
de diferentes saberes.
Esta disciplina está dividida em quatro unidades de aprendizagem. Na pri-
meira, você conhecerá aspectos da história externa da língua portuguesa 
relacionados à sua origem e evolução; na segunda e na terceira você 
estudará aspectos relacionados à história interna da língua portuguesa, 
respectivamente a sua fonologia e a sua morfologia e, na quarta, você 
concluirá a unidade refletindo sobre a dimensão sociocultural da nossa 
variante brasileira do português. 
Esperamos que os conhecimentos desta unidade sejam significativos 
para você. Seja bem-vindo(a) e bons estudos!
6
1Unidade 1
História da Língua Portuguesa
Para iniciar seus estudos
Você está dando início ao estudo da Unidade 1: História da Língua Portu-
guesa, que foi criada com o intuito de que você possa desenvolver conhe-
cimentos, reflexões e questionamentos sobre a origem, formação e difu-
são da nossa língua. Que tal visitar o período de expansão do imponente 
Império Romano e da língua latina? Vamos percorrer a era das grandes 
navegações portuguesas? A história do nosso idioma está repleta de 
importantes acontecimentos históricos e todos eles são importantes na 
sua formação. Vamos começar?
Objetivos de Aprendizagem
• Refletir sobre a origem da língua portuguesa.
• Relacionar fases evolutivas da língua portuguesa.
• Reconhecer o processo de expansão da língua portuguesa no 
mundo.
7
História da Língua Portuguesa | Unidade 1 - História da Língua Portuguesa 
1.1 A Linguística Histórica e a mutabilidade das línguas
Para iniciarmos os nossos estudos da disciplina História da Língua Portuguesa, vamos contextualizar, brevemente, 
a sua área de conhecimento, a Linguística Histórica. 
Para Faraco (2012), o foco central dessa disciplina é o fato de que as línguas humanas sofrem mudanças ao longo 
do tempo. Nesse sentido, podemos ressaltar dois aspectos importantes relacionados à evolução linguística:
1º - As línguas não constituem realidades estáticas e imutáveis.
2º - A configuração estrutural das línguas se altera continuamente com o passar do tempo.
O aspecto mutável da língua é um ponto central para o seu estudo e pode ser útil no 
desenvolvimento do fórum desafio.
Ainda de acordo com Faraco (2012), é preciso considerar que, apesar de as línguas estarem em constante movi-
mento, elas nunca perdem o seu caráter sistêmico e continuam a oferecer aos seus falantes recursos fundamen-
tais para o fluxo de significados. Você já parou para pensar que usamos verbos para expressar ações, substantivos 
para nomear as coisas visíveis e invisíveis e adjetivos para atribuir qualidades a essas coisas? Essas classes grama-
ticais fazem parte do sistema linguístico da língua portuguesa. Portanto, é o caráter sistêmico do nosso idioma 
que nos permite organizar e expressar os nossos dizeres. Também é ele que permite a produção de diferentes 
significações nos processos comunicativos da nossa sociedade.
Figura 1.1: A comunicação.
Legenda: A imagem apresenta o desenho de diversas pessoas e os balões de comunicação, no qual a uti-
lização da linguagem não verbal representa o processo comunicativo na ilustração. Porém, a ausên-
cia de símbolos verbais não nos permite identificar nenhum tópico conversacional específico.
Fonte: Plataforma Deduca (2017). 
8
História da Língua Portuguesa | Unidade 1 - História da Língua Portuguesa 
Por outro lado, também é preciso ressaltar que as mudanças atingem partes da língua e não todo o seu sistema. 
Assim, a história dos idiomas apresenta um complexo jogo de mutação e permanência, o qual também influencia 
as imagens que os falantes têm das línguas que utilizam. 
Quando se estuda a evolução das línguas, é possível adotar duas perspectivas: a sincrônica 
(que estuda a língua em um período específico do tempo) e a diacrônica (que estuda a língua 
através de diversos períodos no decorrer do tempo). Ambos os conceitos estão presentes na 
obra de Ferdinand de Saussure, a qual está inserida no período estruturalista dos estudos 
linguísticos. Assista ao vídeo a seguir para aprofundar o seu conhecimento: <https://www.
youtube.com/watch?v=PpnhT4JhwiE&t=76s>
Diante dos aspectos apresentados nesta seção, podemos concluir que a evolução das línguas é o eixo propulsor 
dos estudos da Linguística Histórica. Sendo assim, esse processo também será relevante para o estudo e compre-
ensão da história da língua portuguesa, uma vez que a compreensão dos seus elementos constitutivos pode ser 
feita tanto em sua origem histórica como em seu uso nos dias atuais.
1.2 A história interna e a história externa das línguas
A metodologia de estudo da Linguística Histórica costuma separar a historicidade das línguas em dois pontos: 
a sua história interna e a sua história externa. É importante considerarmos que ambas as histórias terão a sua 
relevância na formação da língua portuguesa e, apesar de constituírem diferentes eixos de estudo, relacionam-
-se entre si.
As histórias internas e externas serão pontos importantes no fórum desafio.
Ao caracterizar essas duas dimensões, Faraco (2012) afirma que a primeira é composta pelo conjunto de mudan-
ças na organização estrutural da língua ao longo do tempo, ou seja, relaciona-se com a formação da língua como 
um sistema.Já a segunda consiste na historicidade da língua no contexto da história social, política, econômica e 
cultural da sociedade na qual a língua está inserida, isto é, diz respeito a aspectos extralinguísticos que, mesmo 
não fazendo parte do seu sistema linguístico e suas normas, podem estar associados a eles.
Para ilustrar essa distinção, Faraco (2012) apresenta, como exemplo, as consoantes surdas latinas /p, t, k, f/, as 
quais, ao serem empregadas em posições intervocálicas de um determinado contexto estrutural, transforma-
ram-se, respectivamente, nas consoantes sonoras /b, d, g, v/ na nossa língua. Essa mudança estrutural está rela-
cionada à história interna da língua portuguesa. De outro modo, ao mencionar o estudo entre a ocupação da 
https://www.youtube.com/watch?v=PpnhT4JhwiE&t=76s
https://www.youtube.com/watch?v=PpnhT4JhwiE&t=76s
9
História da Língua Portuguesa | Unidade 1 - História da Língua Portuguesa 
Península Ibérica e a formação das línguas românicas faladas nessa região, o autor se refere à história externa da 
língua portuguesa. 
Apesar de serem separadas para fins metodológicos, é possível concluirmos que as histórias interna e externa da 
língua portuguesa contribuem, da mesma forma, para o seu estudo, pois permitem que a sua historicidade seja 
investigada sob perspectivas complementares. Portanto, ambas serão levadas em conta no decorrer da nossa 
disciplina, com intuito de ampliar os conhecimentos desenvolvidos em relação ao estudo da Língua Portuguesa. 
Da mesma forma, as duas também são importantes na sua formação, pois, para ensinarmos e/ou pesquisarmos 
um sistema mutável, precisamos conhecer e entender os pormenores que o constituem.
O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que entrou em vigor em 1º de janeiro de 2016, 
padroniza o idioma nos países que o adotam como língua nacional. O acordo foi feito visando 
à unificação da língua no âmbito internacional. Sendo assim, podemos considerar que ele 
diz respeito à história externa da língua portuguesa, à história interna da língua portuguesa 
ou a ambas? 
1.3 A expansão do Império Romano e do latim
A língua portuguesa é classificada como uma língua neolatina ou indo-europeia, pois deriva do latim introduzido 
na Península Ibérica, região situada no sudoeste do continente europeu, durante a expansão e dominação do 
Império Romano.
Assim sendo, o contexto histórico em que se criou e desenvolveu a língua portuguesa está intrinsecamente 
ligado aos acontecimentos da história geral da Península, a qual, antes dos romanos, já era habitada por vários 
povos, cada qual com a sua cultura (COUTINHO, 1976).
Ao tratar da expansão do latim e da romanização peninsular, Ilari (2008) afirma que, após a submissão dos povos, 
os romanos adotavam uma política bastante aberta para a época, pois, apesar de explorarem economicamente 
a região conquistada, eles respeitavam as tradições religiosas dos vencidos e permitiam que eles utilizassem a 
língua materna no contato entre si. Para os romanos, o uso do latim, pelos vencidos, era motivo de honra. Por 
causa disso, a língua latina acabou entrando em contato com línguas de famílias linguísticas bastante diferentes. 
Coutinho (1976), por sua vez, afirma que os povos peninsulares viam nos conquistadores um povo mais forte, 
civilizado, e sua resistência ficou em segundo plano diante da bravura dos soldados romanos. O latim, que foi 
levado por legionários, colonos, comerciantes e funcionários públicos romanos, acabou impondo-se pelas pró-
prias circunstâncias, pois apresentava o prestígio de uma língua oficial, veiculava uma cultura considerada supe-
rior e era o idioma escolar. 
Além disso, outros fatores também convergiram para a romanização das populações nativas, como o recruta-
mento dos jovens provincianos que, após prestarem serviço ao exército, retornavam ao seio da família; o exce-
lente sistema rodoviário romano, que facilitava o intercâmbio com a metrópole; o direito de cidadania concedido 
pelos imperadores às urbes hispânicas e o cristianismo, pregado em um latim acessível pelos padres, unindo 
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História da Língua Portuguesa | Unidade 1 - História da Língua Portuguesa 
aristocratas, plebeus, romanos e estrangeiros no mesmo ideal e contribuindo para o desaparecimento das dife-
renças sociais.
O termo “família linguística” surgiu no contexto dos estudos biológicos do século XIX. Porém, 
atualmente, entende-se que a história das línguas não é de caráter genético, mas, sim, um 
processo complexo de diferenciação resultante da história, social e cultural, das sociedades. 
A família designada como indo-europeia diz respeito a uma variedade de línguas faladas na 
Ásia e na Europa, do norte da Índia até a Península Ibérica (FARACO, 2012). 
Glossário
De acordo com Faraco (2012), foi o latim do povo considerado inculto, o sermo vulgaris, plebeius ou rusticus, conhe-
cido como latim vulgar, que se expandiu pelo território ibérico e tornou-se instrumento diário de comunicação 
entre indivíduos que se encontravam em um vasto território. Consequentemente, pelo fato de ser utilizado por 
diferentes povos e culturas, o latim vulgar acabou passando por mudanças. Paralelamente, o latim, urbanus, eru-
ditus ou perpolitus, considerado o latim clássico, restringiu-se à produção literária por ser a variante de prestígio 
do idioma. Atualmente, o latim clássico é representado pelos escritos de autores consagrados como Cícero, Vir-
gílio e Horácio, os quais são considerados autores fundadores da literatura ocidental.
Figura 1.2: A Península Ibérica.
Legenda: A figura ilustra o território peninsular em 1906.
Fonte: Coutinho (1976, p. 53).
11
História da Língua Portuguesa | Unidade 1 - História da Língua Portuguesa 
Para conhecer com mais detalhes os povos que habitavam a Península Ibérica e os diversos 
conflitos que ocorreram nesse território, leia o Capítulo 1 da obra “Gramática Histórica”, de 
Ismael de Lima Coutinho, 7. ed. Rio de Janeiro: Livro Técnico, 1976, 357 p. 
1.4 Aspectos sociolinguísticos da língua latina
As variações que são naturalmente apresentadas pelas línguas podem ser de dois tipos: vertical e horizontal. A pri-
meira está relacionada à estratificação da sociedade em classes e a segunda diz respeito às diferenças geográficas 
(ILARI, 2008). Por exemplo, podemos observar essas variações nos diversos sotaques das regiões que constituem o 
vasto território brasileiro e também nos diferentes modos de fala apresentados por classes que, por serem divididas 
socialmente, não recebem uma educação homogênea. Por isso, tais aspectos também serão importantes na sua 
formação como educador(a), posto que a educação também está inserida em um contexto sociocultural.
Em relação às variações relacionadas ao idioma latino peninsular, ao passo que a sociedade romana se organi-
zava, o idioma também se modificava, o que era natural em uma sociedade estratificada em patrícios, plebeus e 
escravos. Também precisamos levar em conta as diferentes situações de uso da língua, já que um homem público 
do final do período republicano não usaria a mesma linguagem para discursar no fórum, escrever cartas aos ami-
gos e familiares e comandar os seus serviçais (ILARI, 2008). 
Figura 1.3: A variedade do latim e das línguas romanas.
+
+
++
Culto
Escrito
Lat. Cláss.
Falado
Sermo
Urbanus
Pronto-
romance
VII
d.C.
V d.C. XVI
VI a.C. III a.C.
VIII-XV
d.C.
Latim Popular
(só falado)
Latim Arcáico
(só falado)
Línguas
Românticas
Legenda: A figura ilustra uma cronologia das principais variedades do latim 
escrito e falado e suas relações com as línguas romanas.
Fonte: Ilari (2008, p. 64).
12
História da Língua Portuguesa | Unidade 1 - História da Língua Portuguesa 
De outro modo, o latim também sofreria a influência de outros povos que invadiram a Península e contribuíram 
para o fim do Império Romano. Ilari (2008) ressalta que, mesmo após a sua derrocada, a civilização romana conti-
nuou a ser vista, ao longo dos séculos, como exemplo de ordem universal, passívelde imitações e restaurações. O 
cristianismo, por exemplo, acabou herdando esse ideal de universalidade e a igreja aproveitou, em grande parte, 
as divisões administrativas do Império. Os próprios estados bárbaros se autodenominaram romanos e nasceram 
com o propósito de restaurar o Império. 
Autores como Dante e Maquiavel também estavam inseridos nesse contexto e restaurar o Império tornou-se o 
propósito dos pensadores da época, para que o mundo reencontrasse uma ordem política estável. Ainda, pelo 
fato de o Império estar vivo como um ideal de ordem política na Idade Média, as suas unidades linguística e cul-
tural também permaneceram. Com a finalidade de denominá-las, empregou-se o termo Romania, que deriva de 
romanus, termo ao qual recorreram os povos latinizados para se distinguirem da cultura dos bárbaros. Nesse con-
texto histórico, a partir de romanus, formou-se o advérbio romanice, que significa “a maneira romana”; “segundo 
o costume romano�. Outra expressão que podemos citar aqui é romanice loqui, que se estabeleceu para indicar as 
falas vulgares de origem latina como oposição à barbarice loqui, que indicava as línguas não românicas dos bár-
baros. Também vale citar a expressão latine loqui, que era aplicada ao latim da escola. Assim, destacamos que o 
advérbio romanice deu origem ao substantivo romance que, originalmente, aplicava-se a qualquer composição 
escrita em uma das línguas vulgares. Atualmente, o termo “România” designa a área ocupada por línguas latinas.
Coutinho (1976), por sua vez, também aponta algumas influências conflitantes sofridas pelo latim após a Penín-
sula começar a ser invadida por outros povos:
• A Península, no século V, foi invadida pelos bárbaros, os quais compreendiam várias nações: a dos vân-
dalos, a dos suevos e a dos visigodos (ou godos), cada qual com o seu dialeto. Dentre essas nações, os 
visigodos, de natureza rude, erigiram o mais forte e duradouro reino bárbaro e admitiram a civilização 
romana. O latim, que já estava alterado, também começou a perder os seus primores com a diminuição 
das escolas e da nobreza. 
• Os árabes surgiram no solo peninsular no século VIII e o território tornou-se o primeiro ponto europeu atin-
gido pelos invasores muçulmanos. Após a invasão, muitos hispano-godos são seduzidos pela civilização 
árabe, adotando os seus costumes e a sua língua. Pelo fato de a civilização árabe ser superior à da Península, 
durante o seu domínio, a agricultura, o comércio e a indústria desenvolveram-se. Elementos exóticos como 
plantas, tapeçarias e objetos de adorno invadiram a alta sociedade. Em decorrência, o árabe tornou-se a 
língua oficial, enquanto o povo subjugado continuou a falar o latim vulgar modificado, o romance. 
• Durante a dominação muçulmana, os cristãos começaram a organizar cruzadas a fim de libertarem o 
território peninsular. Para incentivá-los, os papas começaram a agraciar os combatentes pela conquista 
ou defesa dos “santos lugares” com indulgências. As cruzadas começaram a ser eficientes e constituí-
rem os reinos de Leão, Castela e Aragão. Os fidalgos também começaram a combater na Península, e os 
serviços de D. Henrique, conde de Borgonha, foram reconhecidos por D. Afonso VI, rei de Leão e Castela. 
Este concedeu a aquele sua filha, D. Tareja, em casamento, e lhe outorgou o Condado Portucalense. A 
nacionalidade portuguesa surgiria, então, com o seu filho. D. Afonso Henriques, que se fez proclamar rei 
de Portugal em 1.143. Instaurou-se, assim, a nacionalidade portuguesa.
Diante disso, é possível percebermos que a variante predominante no período de romanização da Península 
Ibérica, o latim vulgar, também sofreu influências de outros povos, dando origem, por exemplo, ao romance. 
Dessa forma, é inegável que a dimensão sócio-histórica da língua latina constitui um fator importante para o seu 
estudo e compreensão, posto que as suas alterações sempre estavam inseridas em situações de dominação e 
expansão territoriais de diferentes sociedades.
13
História da Língua Portuguesa | Unidade 1 - História da Língua Portuguesa 
1.5 A formação da língua portuguesa
Após a leitura das seções anteriores, vimos que a romanização da Península Ibérica fez com que a língua latina 
se tornasse o idioma de vários povos nesse território. Também vimos que o latim possuía como variantes o latim 
clássico e o vulgar, este que se tornou a variante utilizada por esses povos e sofreu mudanças ao longo do tempo, 
seguidas de mais alterações após as invasões dos bárbaros e árabes na Península. Por fim, após as cruzadas cris-
tãs e a instauração dos portugueses no território peninsular, o latim evoluiu ainda mais, gerando novas línguas, 
dentre elas a nossa língua portuguesa.
De acordo com Coutinho (1976), a faixa ocidental da península apresentava um falar diferente das outras regi-
ões por causa do tratamento que o latim recebeu nessa localidade, ao menos na parte setentrional e central, 
provavelmente por ter sido um território ocupado por celtas e suevos, além de ter constituído um feudo que 
se tornaria independente. A partir do romance falado nessa localidade, surgiu, ao Norte, o dialeto galeziano ou 
galaico-português. Ao Sul, provavelmente originou-se outro, repleto de palavras árabes, contudo não existem 
documentos que comprovem. 
Para Coutinho (1976), no contexto das conquistas, o galeziano ou galaico-português foi se estendendo sobre 
a parte meridional da península, absorvendo o romance que existia na região até penetrar em Algarve, onde 
reinava Afonso III (1250). A diferenciação entre o português e o galego resultaria da independência política de 
Portugal até que os idiomas se tornaram completamente autônomos. Há, ainda, os seguintes pontos:
• Alguns documentos do latim bárbaro do século IX já apresentavam formas vulgares vernáculas, o que 
permite considerar que o galego-português já existia nesse tempo. Porém, apenas no século XII aparece-
ram textos nele redigidos.
• O século XVI apresentou-se como o século de ouro da literatura portuguesa e nele apareceram os maio-
res escritos que Portugal possui. Surgiu também a gramática para disciplinar a língua. Desse período, já é 
possível citar autores como Jorge de Vasconcelos, Gil Vicente e o imortal Camões.
• Ao adentrar no período da Renascença, Portugal abriu caminhos gloriosos não só na sua literatura, mas 
também em suas navegações.
A partir do exposto, podemos concluir que a língua portuguesa, em seu estado embrionário, surgiu a partir de um 
dialeto, o galego-português, que, por sua vez, também era uma variação do latim. Após tornar-se autônomo, o 
português, já dotado de sua literatura e gramática, ficaria cada vez mais consistente.
14
História da Língua Portuguesa | Unidade 1 - História da Língua Portuguesa 
Figura 1.4: Luís de Camões.
Legenda: A imagem ilustra o escritor português Luís de Camões reprodu-
zido em uma nota de 500 escudos angolana de 1973.
Fonte: Plataforma Deduca (2017).
1.6 Períodos históricos da língua portuguesa 
Quando nos voltamos para a historicidade da língua portuguesa, encontramos fases distintas, as quais são divididas 
por Leite de Vasconcelos (apud COUTINHO, 1976) em três grandes épocas: pré-histórica, proto-histórica e histórica:
• A pré-histórica tem começo na origem da língua, estendendo-se até o século IX. Nesse período, sur-
giram os primeiros documentos latino-portugueses. Pelo fato de o material linguístico dessa época ser 
modesto, só é possível formular hipóteses sobre como o romance da época era falado.
• A proto-histórica compreende o período do século IX ao XII. Os textos desse período são todos redigidos 
em latim bárbaro. Porém, era possível encontrar neles palavras portuguesas, o que se torna indício da 
existência do galaico-português nesse período.
• A histórica teve início no século XII, época em que os textos e/ou documentos já apareciam integral-
mente redigidos em português, uma vez que, anteriormente, o idioma era somente falado. Além disso, 
a época histórica divide-se em duas partes:a arcaica (do século XII ao XVI) e a moderna (do século XVI 
em diante). Praticamente no limiar da época moderna está a publicação dos Lusíadas (1572) por Luís de 
Camões, obra que constitui a verdadeira epopeia nacional portuguesa. Nessa obra, foram retratados o 
espírito de aventura, a resistência no sofrimento, as qualidades guerreiras, o heroísmo e todas as gran-
diosas virtudes da nação portuguesa. Dessa forma, o herói do poema não seria Vasco da Gama e nem a 
descoberta do caminho marítimo para a Índia, mas, sim, a própria história de Portugal, com toda a sua 
riqueza de episódios e lances dramáticos. O seu herói era o próprio povo português.
Após conhecermos as épocas da história da língua portuguesa e termos noção da importância desse idioma para 
a identidade nacional do país, partiremos para o estudo do seu domínio para além da nação portuguesa.
15
História da Língua Portuguesa | Unidade 1 - História da Língua Portuguesa 
1.7 A expansão da língua portuguesa
Foi na Era das Grandes Navegações que a língua portuguesa se expandiu pelo mundo. O idioma se espalhou 
pelas Ilhas do Atlântico, atingiu as costas da Ásia e da África e chegou, por meio das naus veleiras de Cabral, à 
Terra de Santa Cruz, nome dado ao nosso país pelos portugueses. 
De acordo com Coutinho, no século XVI, as expedições marítimas concederam a Portugal um papel significativo 
na história dos descobrimentos e das conquistas territoriais. Por isso, a língua portuguesa, que já servia como 
um instrumento de uma culta e rica literatura, difundiu-se, com rapidez, pelas novas terras recém descobertas. 
Nenhum povo foi jamais tão longe através dos mares, como o lusitano, cujas naus percorriam os 
oceanos em todos os sentidos e cuja bandeira tremulava em todas cinco partes do mundo, por-
que em todas elas Portugal possuía colônias. (COUTINHO, 1976, p. 58).
Em relação às transformações sofridas pela língua portuguesa, no contexto das colonizações, o estudioso afirma 
que, ao ser transportado para terras tão distantes, o português não pôde continuar uniforme e se fragmentou 
em dialetos. Aspectos como a topografia, os costumes, as crenças, as instituições sociais e os hábitos linguísticos 
contribuíram para que isso ocorresse.
Para ilustrar essa diversidade, Coutinho (1976) apresenta a classificação dialetal feita por Leite de Vasconcelos em 
três grandes grupos, os quais são resumidos no quadro a seguir:
Quadro 1.1: Grupos dialetais da língua portuguesa.
Continentais 
(continente europeu)
Insulanos 
(ilhas europeias)
Ultramarinos 
(ultramar)
1) interamnense (Entre-
Douro-e-Minho);
2) trasmontano (Trás-os-
Montes);
3) beirão (Beira-Alta e 
Beira-Baixa);
4) meridional (Sul de 
Portugal).
1) açoriano (Açores);
2) madeirense 
(Madeira).
1) dialeto brasileiro;
2) indo-português: dialeto crioulo de Diu; dialeto crioulo 
de Damão; dialeto norteiro (Bombaim, Baçaim, Caul etc.), 
português de Goa; dialeto crioulo de Mangalor; dialeto 
crioulo de Cananor; dialeto crioulo de Maé; dialeto crioulo 
de Cochim; português da costa de Coromandel;
3) dialeto crioulo de Ceilão;
4) dialeto crioulo macaísta ou de Macau;
5) malaio-português: dialeto crioulo de Java; dialeto 
crioulo de Malaca e Singapura;
6) português de Timor;
7) dialeto crioulo caboverdeano ou de Cabo Verde;
8) dialeto crioulo guineense ou da Guiné;
9) dialetos crioulos do golfo da Guiné (ilha de S. Tomé, 
Príncipe e Ano Bom);
10) português das Costas d�África (Angola, 
Moçambique, Zanzibar, Mombaça, Melinde, Quíloa).
Fonte: Coutinho (1976, p. 59-61).
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História da Língua Portuguesa | Unidade 1 - História da Língua Portuguesa 
A diversidade geográfica do processo de expansão da nossa língua está intimamente relacionada à sua varia-
bilidade. Cunha e Cintra (2008) afirmam que as características assumidas por uma língua, de acordo com as 
diferentes regiões em que ela se encontra, são chamadas de dialetos. O Quadro 1.1 apresenta bem essa relação, 
pois sintetiza dezenas de dialetos relacionados aos usos da língua portuguesa. Essa noção não diz respeito ape-
nas ao contexto da língua utilizada longe do seu país de origem, mas também a regiões distintas de um mesmo 
território. Você pode observar, por exemplo, que na região peninsular onde os portugueses se instalaram já havia 
o seu próprio dialeto, o romance.
Além disso, com a divisão feita pelo autor, torna-se notável a expansão da língua portuguesa pelo mundo e a 
variedade de dialetos que surgiram a partir da sua influência, resultado da dominação exercida pela nação portu-
guesa. Também podemos reconhecer que o grupo ultramarino, quando comparado com os demais, ilustra como 
as navegações tiveram um papel central na difusão da língua portuguesa por todos os continentes. 
Nem todas as nações alcançadas pela língua portuguesa a utilizam como língua oficial dos 
seus países. Para ter uma visão atualizada sobre o uso oficial da língua portuguesa no mundo, 
visite o site da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), uma organização inter-
nacional composta por países lusófonos: <https://www.cplp.org/>. 
1.7.1 A criação de uma língua nacional
Quando um Estado se organiza politicamente como uma nação, a língua, ao constituir-se como o idioma nacio-
nal, contribui para a identidade e solidificação de uma cultura.
De acordo com Ilari (2008), é possível atribuir a condição de língua nacional, no mundo românico atual, a seis 
idiomas: o português, o espanhol, o catalão, o francês, o italiano e o romeno. 
Ao esclarecer o conceito, este autor afirma que as línguas nacionais não podem ser resumidas a dialetos que 
constituíram uma literatura, posto que os dialetos não se elevam automaticamente à condição de língua nacio-
nal apenas pelo fato de terem produzido uma literatura de prestígio. A “literatura dialetal”, de natureza proven-
çal, é um exemplo disso, pois a mais antiga escola de poesia lírica, no domínio românico, foi o trovadorismo, que 
produziu, entre os séculos XI e XIII, obras que são traduzidas e editadas até hoje, além de terem exercido grande 
influência literária na época. 
Desse modo, para o autor, se a literatura não é critério suficiente para definir uma língua nacional, as condições 
políticas ou jurídicas também não são, uma vez que não basta o fato de um idioma ser falado em um Estado ou 
região para ser definido como uma língua oficial. São as funções que o idioma desempenha na comunidade de 
falantes que impulsionam o estabelecimento de um idioma nacional. Por exemplo, é a riqueza de publicações em 
todas as áreas de conhecimento que confere ao catalão o status de língua nacional.
https://www.cplp.org/
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História da Língua Portuguesa | Unidade 1 - História da Língua Portuguesa 
1.7.2 A dimensão cultural das línguas nacionais
As línguas nacionais têm a ver com as aplicabilidades que desempenham em uma sociedade que possui suas 
próprias necessidades, as quais variam de acordo com a época. Nesse sentido, a importância dada ao discurso 
técnico, estético, religioso, legal, dentre outros, varia conforme a conveniência da época. Para Ilari (2008, p. 215-
216), é correto afirmar que:
[...] o provençal foi uma língua nacional entre os séculos XI e XIII, época em que forneceu um padrão 
respeitado em toda a Europa para a produção de composições lírico-poéticas, e serviu para a pro-
dução dos tipos de texto então mais importantes: vidas de santos, crônicas de viagens e poemas 
que cantavam a concepção cortesã do amor. Evidentemente, nas sociedades modernas, as neces-
sidades que uma língua nacional satisfaz são bem mais complexas: não se manifestam apenas no 
domínio da arte, mas referem-se também aos mais variados campos do conhecimento (científicos, 
filosóficos, religiosos etc.) e da atividade prática (técnica, burocracia, imprensa, direito etc.).
Por consequência, na formação das línguas nacionais, o contato com essas diversas esferas da produção humana 
se reflete, primeiramente, na fixação de convenções ortográficas e também repercute fortemente na estruturadas línguas em questão, proporcionada pelo enriquecimento e estabilização da sintaxe e do léxico. 
Considerando o pressuposto de que a produção literária não é o único fator necessário para 
o reconhecimento de uma língua nacional, é possível afirmar que ela seria irrelevante nesse 
processo? 
1.7.3 O surgimento das línguas nacionais românicas: o português
Para Ilari (2008), as seis línguas nacionais reconhecidas na România partiram de dialetos com alcance original-
mente regional. Vejamos, especificamente, as circunstâncias que levaram à transformação de um dialeto na 
nossa língua portuguesa.
Ao estudar sobre os aspectos sociolinguísticos da língua latina, a criação do Condado Portucalense permitiu 
que os portugueses se fixassem no território peninsular. A partir disso, durante todo o século XIII, propagou-se 
em Portugal a poesia lírica, escrita em uma linguagem próxima ao galego e representada pelo gênero das can-
tigas, que possuíam inspiração provençal. Consequentemente, o sucesso dessa poesia e do galaico-português 
enquanto língua literária foram internacionais, como exemplifica Ilari (2008, p. 207):
Afonso X de Castela, monarca e protetor das letras, escreveu em português grande parte de sua 
produção lírica, conformando-se aparentemente a uma opinião corrente segundo a qual, das 
línguas ibéricas, o português era particularmente apropriado para a expressão dos sentimentos 
ao passo que o castelhano deveria ser preferido para a épica e a história.
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História da Língua Portuguesa | Unidade 1 - História da Língua Portuguesa 
Paralelamente, o galaico-português afirmou-se como língua da poesia trovadoresca e propiciou a criação de 
uma norma galaico-portuguesa para ser usada em documentos notariais no século XII. Contudo, a norma não 
vingou nos primeiros séculos, forçando os portugueses a deslocarem a capital e a corte para o Sul, as quais tive-
ram como sede, sucessivamente, Porto, Coimbra e Sintra-Lisboa, regiões que se tornariam centros políticos com 
influência sobre os hábitos linguísticos. 
Nessa conjuntura, o português culto, que em sua origem apresentava acentuadíssimas semelhanças com o galego, 
foi modelando-se de acordo com a fala culta da região que se encontrava entre as cidades de Coimbra, sede da 
antiga capital e de uma célebre e antiga universidade, e de Lisboa, a capital atual. Esse deslocamento geográfico 
somou-se aos efeitos de três séculos de evolução que incluíram a experiência acumulada na elaboração de uma 
prosa hagiográfica, doutrinária e histórica, com influências do Humanismo e da Renascença. Foi esse novo padrão 
literário que se consolidou no período quinhentista, época em que se situava o nosso conhecido Camões. A riqueza 
literária portuguesa quinhentista e seiscentista também foi um fator determinante para libertar o português da 
influência castelhana no período em que Portugal esteve sujeito politicamente à Espanha (1580-1640).
Após estudarmos os aspectos que envolvem a criação de uma língua nacional, portuguesa torna-se relevante 
retomar às noções de variação vertical e horizontal que conhecemos ao estudar os aspectos sociolinguísticos da 
língua latina. A língua, em seus processos de evolução ao longo do tempo, é atravessada pela divisão da socie-
dade e pelos lugares para os quais é transportada. Assim, torna-se claro o caráter dinâmico das línguas, o qual, 
desde tempos remotos, sempre manteve viva a sua essência: a mutabilidade.
Hagiográfico é o que diz respeito à hagiografia, ciência que estuda a biografia dos santos 
venerados pelos fiéis.
Essa prática surgiu na igreja primitiva, porém, atualmente, também pode ser encontrada em 
outras práticas religiosas, como o budismo e islamismo. 
Glossário
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Considerações finais
Nesta unidade, você teve acesso a diversos conhecimentos e reflexões 
sobre a história da língua portuguesa, tais como:
• A mutabilidade das línguas como o ponto central de estudo da 
Linguística Histórica.
• As histórias interna (mudanças sistêmicas e estruturais nas lín-
guas) e externa (relacionada à organização social, cultural e eco-
nômica que envolve as línguas) das línguas. 
• O papel central da expansão do Império Romano na propagação 
da língua latina.
• Os aspectos sociais que influenciaram o surgimento de variantes 
da língua latina.
• O processo formativo da língua portuguesa no contexto das domi-
nações no território peninsular e as fases históricas do idioma.
• A expansão da língua portuguesa no contexto de conquistas ter-
ritoriais das grandes navegações portuguesas.
• Os aspectos relacionados ao status de língua nacional conferido 
aos idiomas e o estabelecimento do português como uma língua 
nacional românica.
Referências bibliográficas
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COUTINHO, I. de L. Gramática histórica. 7. ed. Rio de Janeiro: Livro Téc-
nico, 1976.
CUNHA, C; CINTRA, L. F. L. Nova gramática do português contemporâ-
neo. 5. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. 
ILARI, R. Linguística românica. São Paulo: Ática, 2008.
FARACO, C. A. Linguística Histórica: uma introdução ao estudo da histó-
ria das línguas. São Paulo: Parábola, 2012.
22
2Unidade 2
Aspectos da história interna 
da língua portuguesa - o 
componente fonético
Para iniciar seus estudos
Você iniciará os estudos da Unidade 2: Aspectos da história interna da 
língua portuguesa - o componente fonético, a qual desenvolverá conhe-
cimentos relacionados às transformações fonéticas apresentadas pelo 
nosso idioma ao longo do tempo. Você sabe o que é um metaplasmo? 
Conhece o significado de uma epêntese? Já ouviu falar do hiperbibasmo? 
Você está prestes a conhecer essas palavras e muitas outras, além de 
desenvolver conhecimentos acerca dos sons da nossa fala: os fonemas. 
Vamos iniciar os nossos estudos?
Objetivos de Aprendizagem
• Reconhecer as leis fonéticas. 
• Identificar transformações fonéticas na língua portuguesa.
• Relacionar a língua falada e a língua escrita.
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História da Língua Portuguesa | Unidade 2- Aspectos da história interna da 
língua portuguesa - o componente fonético
1.1 O campo de estudo da fonética
Ao estudar a história da língua portuguesa, temos a oportunidade de conhecer diferentes aspectos que envol-
vem a temática. Nesta unidade, você estudará aspectos relacionados à história interna do nosso idioma, voltada 
para o seu sistema linguístico, a partir do seu componente fonético.
De acordo com Coutinho (1976), a fonética é um campo de estudo que trata dos sons ou fonemas. Essa ciência 
pode ser dividida em três vertentes:
• Descritiva: trata da formação e descrição dos fonemas (também é conhecida como estática e sincrônica).
• Histórica: estuda a evolução dos fonemas no tempo e no espaço (também é designada como dinâmica 
e diacrônica).
• Experimental: utiliza instrumentos especiais para estudar os sons da linguagem (também é nomeada 
como instrumental).
Ainda, ressaltamos o fato de que os fonemas sofreram modificações e quedas ao passarem do latim para o por-
tuguês, e o estudo da fonética histórica, especificamente, consiste em dizer em que casos essas mudanças e 
quedas ocorrem, conforme Coutinho (1976) nos apresenta. Sendo assim, sob a perspectiva da fonética histórica, 
vamos estudar essas alterações ao longo desta unidade.
1.2 Os sons da fala e o aparelho fonador
Os sons da fala são produzidos por nós, falantes de uma língua. Para Cunha e Cintra (2001), a maior parte deles 
resulta da ação de certos órgãos sobre a corrente de ar vinda dos pulmões, sendo três as condições necessárias 
para a sua produção:
• a corrente de ar;
• um obstáculo encontrado por essa corrente de ar;
• uma caixa de ressonância.
Os órgãos da fala são os responsáveis pela criação dessas condições e são denominados, em seu conjunto, de 
aparelho fonador, que é constituído pelas seguintes partes:
a. Os pulmões, os brônquios e a traqueia: órgãos respiratórios responsáveis pelo fornecimento da cor-
rente de ar, matéria-prima da fonação.
b. A laringe: local em que se encontram as cordas vocais, que produzem a energiasonora do processo de fala.
c. As cavidades supralaríngeas (faringe, boca e fossas nasais): funcionam como uma espécie de caixa de 
ressonância, sendo que a cavidade bucal pode variar profundamente, em forma e volume, por causa dos 
movimentos de órgãos ativos, principalmente a língua que, por ser tão importante na fonação, tornou-se 
sinônimo de idioma.
Na nossa vida cotidiana, podemos observar a importância do aparelho fonador para que possamos emitir os sons 
da fala. Você já reparou que, quando ficamos sem fôlego, temos dificuldade em emitir sons? Já observou que 
algumas pessoas têm dificuldade em articular determinados sons? Tudo isso demonstra que a fala, apesar de ser 
natural para nós, também requer o bom funcionamento de uma “aparelhagem”.
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História da Língua Portuguesa | Unidade 2- Aspectos da história interna da 
língua portuguesa - o componente fonético
1.2.1 O funcionamento do aparelho fonador
O processo fonador acontece com o ar sendo expelido dos pulmões, por meio dos brônquios, penetrando na tra-
queia e atingindo a laringe, na qual, ao atravessar a glote, encontra seu primeiro obstáculo durante a sua passagem. 
A glote, por sua vez, é uma abertura que se encontra entre duas cordas vocais. Durante a sua passagem, o fluxo 
de ar pode encontrá-la fechada ou aberta, por causa do afastamento ou aproximação das bordas das pregas 
vocais. Quando elas estão cerradas, o ar força a sua passagem entre elas, que ficam esticadas, produzindo o som 
musical que caracteriza as articulações classificadas como sonoras. Já quando elas estão relaxadas, o ar conse-
gue passar com mais facilidade, dando origem às articulações designadas como surdas. Como exemplo prático, 
pronuncie a consoante /d/ [sonora] e, em seguida, a consoante /t/ [surda], mantendo uma das mãos sobre o 
gogó da sua garganta. Você observou que, na pronúncia da primeira, houve vibração e, na segunda, não? Essa é 
a distinção entre o som surdo e o som sonoro.
No que diz respeito à saída do ar, esse processo passa, primeiramente, pela laringe, para depois adentrar na 
cavidade faríngea. Nesse local, o ar encontra dois caminhos de saída: o canal bucal e o canal nasal. Entre essas 
duas cavidades, fica o véu palatino, órgão responsável pela mobilidade necessária para que o ar chegue até a 
cavidade nasal. Se abaixado, ele libera ambos os canais, gerando a divisão da corrente expiratória e fazendo com 
que parte dela saia pelas fossas nasais, o que dá origem às articulações designadas como nasais. Se levantado, o 
véu palatino junta-se à parede posterior da faringe, deixando livre apenas o canal bucal, o que resulta nas articu-
lações denominadas orais.
Como mais um exemplo prático, pronuncie, agora, as vogais /a/ [oral] e /ã/ [nasal]. Você observou que, na pro-
núncia da primeira, o som saiu pela sua boca e, na segunda pronúncia, ele saiu pelo seu nariz? É essa diferença 
que caracteriza os sons orais e nasais. Porém, como sinalizam Cunha e Cintra (2001), é na cavidade bucal que se 
produzem os movimentos fonadores mais variados, por causa da maior ou menor separação dos maxilares, das 
bochechas e, especialmente, da mobilidade da língua e dos lábios. 
Figura 2.1: O aparelho fonador.
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História da Língua Portuguesa | Unidade 2- Aspectos da história interna da 
língua portuguesa - o componente fonético
Legenda: A imagem ilustra o aparelho fonador diante da produção dos sons 
da fala, desde a respiração até as ressonâncias nasais.
Fonte: Cunha e Cintra (2001, p. 25).
O conhecimento em torno do funcionamento do aparelho fonador é muito importante, pois complementa nosso 
estudo sobre a fonética. Agora que já conhecemos o funcionamento do aparelho fonador e os tipos de sons e 
articulações, vamos dar continuidade ao nosso estudo, dessa vez com ênfase no som e no fonema.
1.2.2 O som e o fonema
No funcionamento da língua portuguesa, nem todos os sons que são pronunciados têm o mesmo valor. Assim 
sendo, alguns servem para diferenciar palavras que se identificam. Por exemplo, na palavra erro, é a diversidade 
de timbre (fechado ou aberto) da vogal tônica que nos permite diferenciar o substantivo da conjugação verbal do 
verbo errar (CUNHA; CINTRA, 2001). Observe, de modo semelhante, na série:
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História da Língua Portuguesa | Unidade 2- Aspectos da história interna da 
língua portuguesa - o componente fonético
 dia via mia
 tia fia pia
No exemplo, temos seis palavras do nosso idioma que se distinguem apenas pelas consoantes iniciais. Por isso, 
toda distinção significativa que for estabelecida entre duas palavras de um idioma, pela oposição e contraste 
entre dois sons, revela que cada um deles representa uma unidade mental sonora diferente. É essa unidade, da 
qual o som é representação física, que recebe o nome de fonema. 
Dessa maneira, os sons vocálicos dos exemplos que apresentamos correspondem a fonemas diversos. Assim, 
o estudo minucioso dos sons da fala e das variadas realizações dos fonemas será feito pela fonética. É sobre a 
fonética que vamos estudar no tópico a seguir.
1.3 As leis fonéticas
Ao conceituar o fonema, Coutinho (1976) nos apresenta a definição de Saussure, na qual tal termo é caracte-
rizado como a soma das impressões e dos movimentos articulatórios da escuta e da fala, que se condicionam 
mutuamente. Desse modo, o fonema constitui-se como uma unidade complexa, por estar relacionado tanto ao 
processo de articulação quanto ao de escuta. Esse aspecto é relevante quando pensamos nos processos comu-
nicativos entre os falantes, pois tanto a percepção quanto a articulação dos sons variam de pessoa para pessoa, 
daí a complexidade do componente fonético.
Câmara Júnior (1988), por sua vez, adverte que o fonema é um conceito da língua oral e não deve ser confundido 
com a letra, que é um conceito da linguagem escrita. Por exemplo, o mesmo fonema pode ser representado com 
letras diferentes, como nas palavras aço e asso e nos sufixos -esa (ex: portuguesa) e -eza (ex: tristeza). Você pode 
observar que, quando escutamos essas palavras, ouvimos os mesmos sons, ou seja, os mesmos fonemas. A dis-
tinção das letras, nesses casos, diz respeito à ortografia e significação. O exemplo do autor é um fator importante 
quando trabalhamos a produção escrita na escola, pois, muitas vezes, os erros de grafia apresentados pelos alu-
nos podem estar relacionados às imagens sonoras que eles possuem de determinados sons.
 Quando a pronúncia de um som ou fonema é representada de forma escrita, a sua transcri-
ção é feita por meio do Alfabeto Fonético Internacional, um sistema de notação fonética que 
padroniza os sons da língua oral. 
No que diz respeito às leis fonéticas, Câmara Junior (1988) afirma que elas são princípios contínuos que presidem 
a evolução das palavras. Nesse sentido, quando observamos as modificações dos vocábulos, é possível verificar 
que os fonemas se alteram do mesmo modo, e reside nessas circunstâncias o caráter de constância e inflexibili-
dade das leis fonéticas. 
O autor esclarece que as modificações que ocorrem nas palavras se originam dos meios precários que levam os 
falantes ao conhecimento de um idioma: a imperfeição das imagens auditivas que são formadas e a incapaci-
dade de reproduzir os sons ouvidos com fidelidade. Assim,
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História da Língua Portuguesa | Unidade 2- Aspectos da história interna da 
língua portuguesa - o componente fonético
Não se pode representar a transmissão da linguagem por um todo contínuo, uma reta por exemplo, 
em que o indivíduo que fala e o que ouve ocupem extremidades. Antes, o que se observa é uma 
completa descontinuidade nessa transmissão, devendo, por isso, cada geração que surge, fazer as 
mesmas tentativas que as anteriores, para a posse da linguagem. (COUTINHO, 1976, p. 135).
Diante disso, é possível notarmos que o caráter mutável da língua, aspecto que discutimos na seção anterior, não 
somente se aplica ao componente fonético da língua portuguesa como também é essencial para o estudo das 
suas modificações.
Ainda paraCoutinho (1976), as transformações fonéticas apresentam um tríplice caráter, sendo: 
• Inconscientes: as modificações observadas nas palavras de uma língua são alheias às vontades dos falan-
tes, uma vez que falamos seguindo as tendências da época em que vivemos. Essas tendências variam, o 
que ilustra a diversidade com a qual a língua é tratada no curso de sua história.
• Graduais: a evolução das palavras dá-se segundo a lei natural; natura non facit saltus (a natureza não dá 
saltos) e não é difícil que surjam equívocos em relação à evolução dos vocábulos quando investigamos 
formas latinas que deram origem às palavras portuguesas atuais. Assim, é preciso que, primordialmente, 
todos os elos da cadeia evolutiva sejam restabelecidos, incluindo as formas intermediárias, para que seja 
possível observar como a evolução aconteceu de forma gradativa.
• Constantes: a generalização das leis tornou-se possível por causa da regularidade das transformações, pois 
sempre que um fonema se encontra em determinada circunstância, ele deve modificar-se da mesma forma.
Figura 2.2: Conversa ao pé do ouvido.
Legenda: A diversidade de cores e formas nos balões de fala, inseridos em segundo plano, ilustra a variedade e incons-
tância das transformações fonéticas. O balão de cor branca, representado de forma centralizada, representa a confluên-
cia entre os fatores fonéticos e a o sistema linguístico, cujas nuances serão matizadas de acordo com essas mudanças. 
Fonte: Plataforma Deduca (2017).
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História da Língua Portuguesa | Unidade 2- Aspectos da história interna da 
língua portuguesa - o componente fonético
Assim sendo, no que diz respeito às transformações fonéticas, são três as leis que se referem à evolução das 
palavras portuguesas:
• Lei do menor esforço (ou da economia fisiológica): pode ser considerada um preceito universal, uma vez 
que o seu domínio se estende a todas as esferas da atividade humana, e consiste na simplificação dos 
processos que os seres humanos realizam. A sua aplicação como lei fonética resume-se na ação de tornar 
a articulação das palavras mais fácil para os órgãos fonadores.
• Lei da permanência da consoante inicial: na perspectiva da fonética histórica, as mudanças sofridas 
pelas consoantes dependem da posição que elas ocupam nos vocábulos. Por exemplo, à medida que as 
consoantes em posição média ou em posição final estão sujeitas às frequentes sonorizações ou quedas, 
as consoantes em posição inicial tendem a permanecer nas palavras da língua portuguesa, excetuando-
-se poucos casos. Para que essa permanência acontecesse, o acento de intensidade do antigo latim deve 
ter contribuído, já que ele conferia proeminência à sílaba inicial da palavra. 
• Lei da persistência da sílaba tônica: as palavras do português apresentam a mesma tonicidade do 
latim. O acento tônico, em meio aos processos de queda dos fonemas, ainda assim conseguiu guardar a 
unidade da palavra, que poderia ter sido prejudicada em seu processo evolutivo. Assim, a pausa demo-
rada recebida pela sílaba tornou-se não somente um processo, mas, também, uma regularidade na lín-
gua portuguesa.
As leis fonéticas serão um aspecto importante no desenvolvimento do fórum desafio.
A partir dessas circunstâncias, veremos, a seguir, algumas modificações fonéticas relacionadas à nossa língua 
portuguesa.
1.4 Os metaplasmos
De acordo com Coutinho (1976), os fonemas constituem o material sonoro da língua e, assim como tudo o que 
a constitui, estão sujeitos a transformações. As modificações fonéticas que as palavras da língua portuguesa 
sofrem em seus processos evolutivos recebem o nome de metaplasmos.
É possível identificar essas mudanças quando comparamos o português com o latim e vozes de épocas distintas, 
pois “(...) cada geração altera inconscientemente, segundo as suas tendências, as palavras da língua, alterações 
essas que se tornam perfeitamente sensíveis, só depois de decorrido muito tempo”. (COUTINHO, 1976, p. 143).
Para o autor, as modificações sofridas pelos fonemas serão de quatro naturezas, uma vez que elas são modifica-
das pela troca, pelo acréscimo, pela supressão de um fonema e pela transposição de um fonema/acento tônico. 
Sendo assim, Coutinho (1976) apresenta que os metaplasmos se dividem em quatro tipos:
1. Metaplasmos por permuta: consistem na substituição ou troca de um fonema por outro. São subdividi-
dos nos seguintes processos:
• Sonorização: permuta de um fonema surdo por um sonoro que tenha o mesmo modo de articulação. Os 
fonemas p, t, c, f, quando mediais intervocálicos, sonorizam, na língua portuguesa, em b, d, g, v. Exemplos: 
lupu – lobo, cito – cedo, acutu – agudo, profectu – proveito.
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História da Língua Portuguesa | Unidade 2- Aspectos da história interna da 
língua portuguesa - o componente fonético
• Vocalização: é a conversão de uma consoante em um fonema vocálico. Vocaliza-se em i ou u a primeira 
consoante dos grupos ct, lt, pt, lc, lp, bs, gn. Exemplos: factu – feito, alteru – outro, cap(i)tale – caudal, falce – 
fouce, palpare – poupar, absentia – ausência, regnu – reino.
• Consonantização: é a transformação de um som vocálico em consonantal. Ocorrem casos de consonan-
tização com as semivogais i e u, que se transformam em j e v. Exemplos: iam – já, ieiunu – jejum, hierarchia 
– jerarquia, Hieronymu – Jerônimo, uagare – vagar, uiuere – viver.
• Assimilação: é a aproximação ou perfeita identidade de dois fonemas, por causa da influência que um 
exerce sobre o outro. Pode ser vocálica e consonantal, total e parcial, progressiva e regressiva:
 » É vocálica quando o fonema que se assimila é uma vogal. Exemplos: novac(u)la – navalha, paomba 
(arc.), paomba – palumba – poomba – pomba, caente – calente – queente – quente.
 » É consonantal quando o fonema assimilado é uma consoante. Exemplos: persona – pessõa – pessoa, 
verlo – vello – vê-lo, ipse – isse – esse.
 » É total quando é possível identificar o fonema assimilado com o assimilador. Exemplos: per+lo – pello 
(pelo), avessu – avesso, persicu – pessicu (pêssego).
 » É parcial quando os fonemas são similares e não existe completa identidade. Exemplos: lim(i)te – linde, 
com(i)te – conde, faito – factu – feito, auru – ouro.
 » É progressiva quando um fonema assimilador está em primeiro lugar. Exemplos: amaramlo – ama-
ram-no, mol(i)nariu – mollairo – moleiro, salnitre – sallitre – salitre, esmol(y)na – eleemosyna – esmola 
– esmola.
 » É regressiva quando o fonema assimilador está depois. Exemplos: pedir (petire pro petere) – pidir, cap-
seu – casseu – queixo, ersa – essa, reversu – revesso.
 » A assimilação também pode acontecer por influência de uma consoante sobre a vogal. Exemplos: 
fame – fome, cognatu – cunhado, resecare – rasgar, regina – rainha, vipera – víbora.
• Dissimilação: é a diversificação ou queda de um fonema pelo motivo de já existir um fonema igual ou 
semelhante na palavra. Exemplos: calamellu – caramelo, formosu – fermoso, aratru – arado. A dissimila-
ção pode ser:
 » Vocálica: quando o fonema que se dissimila é uma vogal. Exemplos: poçonha – potionea – peçonha, 
tosoira – tonsoria – tesoira, temoroso – temeroso.
 » Consonantal: quando o fonema que se dissimila é uma consoante. Exemplos: an(i)ma – alma, raru – 
ralo, animalia – alimalia, taratru – trado.
 » Progressiva: quando o fonema que se dissimila está depois do dissimilador. Exemplos: cribu – crivo, 
prora – proa, rutru – rodo, rostru – rosto.
 » Regressiva: quando o fonema que se dissimila está antes do dissimilador. Exemplos: mel(i)mellu – 
marmelo, quinque – cinque – cinco, paravra – parábola – palavra. 
• Nasalação (ou nasalização): é a conversão de um fonema oral em nasal. Exemplos: muccu – monco, 
monger – mungir, mac(u)la – mancha, mae – matre – mãe. Em todos os exemplos acima, a nasalação se 
explica pela nasal anterior.
• Desnasalação (ou desnasalização): é a conversão do fonema nasal em oral. Exemplos: lũa – luna – lua, 
corõa – corona – coroa, bõa – bona – boa, pessõa – persona – pessoa, sõar – sonare– soar.
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História da Língua Portuguesa | Unidade 2- Aspectos da história interna da 
língua portuguesa - o componente fonético
• Apofonia (ou deflexão): é a modificação que sofre a vogal da sílaba inicial de uma palavra por causa 
do acréscimo de um prefixo. Exemplos: ad-cantu – accentu – acento, sub+jactu – subjectu – sujeito, 
per+factu – perfectu – perfectu – perfeito.
• Metafonia: é a modificação do timbre de uma vogal, resultante da influência que a vogal ou semivogal 
seguinte exerce sobre ela. Exemplos: feci – fiz, debita – dívida, dormio – durmo, compleo – cumpro. A 
modificação do timbre também pode acontecer no singular, no masculino e na 1ª pessoa do mesmo 
modo, conservando o timbre originário latino: jocu – jogo, focu – fogo.
Figura 2.3: Letras ou fonemas?
Legenda: As letras alfabéticas, na imagem, representam a fala, porém não podem ser chamadas de fonemas.
Fonte: Plataforma Deduca (2017).
2. Metaplasmos por aumento: são aqueles que adicionam fonemas às palavras. Eles podem ser subdividi-
dos em:
• Prótese ou próstese: é o aumento de som no começo da palavra. Exemplos: stare – estar, nanu – anão, 
vult(u)re – abuiltre – abutre, pruneu – abrunho. Na língua portuguesa, muitas vezes a prótese provém da 
aglutinação do artigo. Exemplos: phantasma – abantesma, minacia – ameaça, mora – amora.
• Epêntese: é o acréscimo de fonema no interior da palavra. Exemplos: pign(o)ra – pendra – prenda, um(e)
ru – ombro, sim(u)lante – semblante – sembrante – semblante, ingen(e)rare – engendrar, stella – estrela. A 
posposição do “r” é no grupo “st” é fato comum no português: listra, lastro, mastro, estralar, celestrial (arc.).
• Anaptixe (ou suarabácti): é um tipo de epêntese especial e ocorre quando um grupo de consoantes 
é desfeito pela intercalação de uma vogal. Exemplos: grupa – kruppa (germ.) – garupa, bratta – blatta – 
barata, fevrairo – febrariu por februariu – fevereiro. 
• Paragoge ou epítese: é a adição de fonema no fim da palavra. Exemplos: ante – antes, cujo “s” se aplica 
por analogia ao de depois. Nos empréstimos modernos, acrescenta-se o fonema “e” quando as palavras 
terminam em consoantes que não são comumente usadas no português: chique (chic), clube (club), bife 
(beef), filme (film), restaurante (restautant), zinco (zink), lanche (lunch).
31
História da Língua Portuguesa | Unidade 2- Aspectos da história interna da 
língua portuguesa - o componente fonético
3. Metaplasmos por subtração: são aqueles que tiram ou diminuem fonemas da palavra. Podem ser sub-
divididos em:
• Aférese: é a queda de fonema em início de palavra. Exemplos: attonitu – tonto, episcopu – bispo, inamo-
rare – namorar. Os casos de aférese eram muito comuns no português antigo: geriza (ojeriza), lambique 
(alambique), laúde (alaúde), bondar (abundar), menagem (homenagem).
• Síncope: é a subtração de fonema no interior da palavra. Exemplos: malu – mau, mediu – meio, lepore – 
lebre, veritale – verdade.
• Haplologia: é uma espécie de síncope, que consiste na queda de uma sílaba medial, pelo fato de haver 
uma idêntica ou quase idêntica na mesma palavra. Exemplos: rodador – rotatore – rodor – redor, perdeda 
– perdida – perda, vendeda – vendita – venda. Também são exemplos de haplologia: bondoso, idoso, pie-
doso, maldoso, saudoso.
• Apócope: é a queda de fonema no fim da palavra. Exemplos: amat – ama – amare – amar, atroce – atroz, 
legale – legal, regale – real, mense – mês. 
• Crase: é a fusão de dois sons vocálicos contíguos. No latim, houve a fusão de vogais iguais em uma só.
 Veja as evoluções:
pede > pee > pé (pé formou-se pelo processo da crase)
nudu > nuu > nu (nu formou-se pelo processo da crase)
colore > color > coor > cor (o mesmo se deu aqui, no último processo. Antes, houve uma síncope, a queda 
do ‘L’.)
• Sinalefa (ou elisão): é a queda da vogal final de uma palavra e ocorre quando a seguinte começa com 
uma vogal. Exemplos: de+intro – dentro, de+ex+de – desde, de+este – deste, de+aquele – daquele.
4. Metaplasmos por transposição: são aqueles que consistem na deslocação de fonema ou de acento 
tônico da palavra. São divididos em:
• Metátese: é a transposição de fonema na mesma sílaba ou entre sílabas. Exemplos: inter – intre – entre, 
capiam – cabia (arc.) – caiba, pigritia – preguiça. Hiperbibasmo: é a transposição de acento tônico na 
palavra. É subdividida em:
• Sístole: transposição de acento tônico de uma sílaba para a anterior. Exemplos: amassémus - amavissé-
mus – amássemus, erámus – éramos, saíva – seíva – seiva.
• Diástole: deslocação de acento tônico de uma sílaba para a posterior. Exemplos: océanu – oceano, júdice – 
juiz, gémitu – gemido, mulíere – mulher. Também houve deslocação de acento tônico em palavras como 
fígado, nível, míope, regime, amido, farmácia, ídolo. A mudança de tonicidade é atribuída ao processo de 
analogia à prosódia grega ou aos finais de palavras portuguesas. Ainda, é atribuída aos poetas a facul-
dade de tornar tônicas as sílabas átonas e vice-versa, principalmente quando eles empregam palavras 
pouco conhecidas. Por exemplo, em Camões encontramos: Próteu, Anibál e Téseu.
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História da Língua Portuguesa | Unidade 2- Aspectos da história interna da 
língua portuguesa - o componente fonético
A prosódia envolve aspectos relacionados à emissão dos sons durante o processo da fala, 
como, por exemplo, a acentuação, o ritmo e a entonação.
Glossário
Na sequência, apresentamos o Quadro 2.1, que traz de forma resumida os metaplasmos.
Quadro 2.1: Síntese dos metaplasmos.
TIPOS DE METAPLASMOS
Por permuta Por aumento Por subtração Por transposição
Sonorização Prótese ou próstese Aférese Metátese
Vocalização Epêntese Síncope Hiperbibasmo
Consonantização Anaptixe (ou 
suarabácti)
Haplologia
Assimilação Paragoge ou epítese Apócope
Dissimilação Crase
Nasalação (ou 
nasalização)
Sinalefa (ou elisão)
Desnasalação (ou 
desnasalização)
Apofonia (ou deflexão)
Metafonia
Legenda: O quadro sintetiza os quatro tipos de metaplasmos existentes na língua portuguesa.
Fonte: Adaptado de Coutinho (1976).
Diante dos diferentes tipos de metaplasmos, pudemos observar como os fonemas influenciam as mudanças 
que as palavras sofrem ao longo do tempo. Essa categoria, por constituir a unidade mínima da palavra, se inter-
-relaciona, ou seja, pequenas partes influenciam na segmentação da palavra como um todo e na imagem que os 
falantes criam das palavras.
33
História da Língua Portuguesa | Unidade 2- Aspectos da história interna da 
língua portuguesa - o componente fonético
1.5 A analogia fonética
Para Coutinho (1796), entende-se, por analogia, o princípio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-se, redu-
zindo, assim, suas formas irregulares e menos frequentes.
Ao citar Niedermann, Coutinho (1796) adverte que a mutação analógica difere da fonética, pois aquela se produz 
sempre em função do sentido ou do papel gramatical, já esta só atinge a imagem acústica da palavra, que não diz 
respeito ao valor inerente da palavra em seus processos de significação.
Coutinho também afirma que não devemos confundir analogia com assimilação, pois a analogia resulta da influ-
ência de um vocábulo sobre outro, determinando igualdade ou aproximação, já a assimilação diz respeito à iden-
tidade ou semelhança de fonemas de uma mesma palavra.
Ainda, para o autor, a ação da analogia afeta diferentes domínios de uma língua e suas consequências podem 
ser vistas na fonética, na morfologia, na sintaxe e na semântica. Vejamos, por ora, como se dá a sua ocorrência no 
domínio da fonética.
Na perspectiva de Coutinho (1976), a palavra, quando tomada isoladamente, constitui-se como um conjunto 
material de fonemas ou sílabas aos quais atribuímos sentido. Quando a ação da analogia atinge essas unidades da 
palavra, sem que haja alteração nas formas do sistema linguístico, trata-se de analogia fonética. O autor afirma que
[...] o nosso espírito associa não raro palavras que na origem são distintas. Para isso basta que uma 
possa de algum modo evocara outra, o que acontece quando ela descobre certas relações entre 
elas, principalmente de afinidade ou oposição semântica. O resultado é que a menos familiar ou 
menos radicada na língua sofre a influência da outra, que lhe determina modificações materiais, 
inexplicáveis pelas leis fonéticas conhecidas. (COUTINHO, 1796, p. 154).
Nesse sentido, o “r” de estrela provém da analogia com astro; o “t” de cafeteira resulta da influência de leiteira; 
o “l” aparece em floresta por causa da influência da palavra flor; o “a” de chaminé se explica por interferência de 
chama; o “f” de ferrolho remete a ferro; o “au” de saudade está relacionado à intervenção de saúde; o “ou” de far-
roupilha relaciona-se com o de roupa, o “g” de golfinho provém de golfo; o “d” de estalajadeiro tem influência de 
pousadeiro, hospedeiro e o “nh” de caminhão revela o influxo de caminhar.
O autor afirma que os exemplos apresentados não se distanciam de outras palavras que os linguistas enquadram 
sob a denominação genérica de “etimologia popular”, as quais, em sua essência, não diferem de outras palavras 
tidas como cultas. Vejamos exemplos de etimologia popular no quadro a seguir.
34
História da Língua Portuguesa | Unidade 2- Aspectos da história interna da 
língua portuguesa - o componente fonético
Quadro 2.2: A etimologia popular.
Exemplos de etimologia popular
braguilha barriga braguilha
camapé cama canapé
esgatalhar gato esgadanhar
altomóvel alto automóvel
entrolhos entre antolhos
forçura força fressura
ourina ouro urina
ouvisto visto ouvido
praiamar praia preamar
palmeirão palmeira Paul Neyron
sancristão santo sacristão
semprenoiva sempre noiva centinódia
vagamundo mundo vagabundo
Legenda: As palavras no quadro apresentam analogia e, por serem consideradas ver-
náculos populares, são classificadas pelo termo “etimologia popular”.
Fonte: Coutinho (1976).
Para Coutinho, também não são poucas as expressões ou frases cujas palavras foram alteradas pela etimologia 
popular. Provavelmente você já deve conhecer alguns dos exemplos a seguir:
• “Quem tem boca vai a Roma.” no lugar de “Quem tem boca vaia Roma.”;
• “Cor de burro fugido.” no lugar de “Corro de burro fugido.”;
• “Quem não tem cão caça com gato.” no lugar de “Quem não tem cão caça como gato”;
• “Cuspido e escarrado” no lugar de “Esculpido em carrara”.
O termo etimologia diz respeito ao estudo da origem e evolução das palavras, a partir da 
investigação da sua origem desde diferentes estados apresentados em língua anteriores. 
Glossário
35
História da Língua Portuguesa | Unidade 2- Aspectos da história interna da 
língua portuguesa - o componente fonético
Ainda de acordo com o autor, as palavras e/ou frases estrangeiras estão mais sujeitas às alterações populares, 
pois basta uma homonímia ou semelhança qualquer entre os vocábulos estrangeiro e português para que os 
falantes procurem identificá-los. Podemos encontrar traduções como:
• a par e passo (pari passu);
• no tempo do Nilo (in illo tempore);
• já não há céu (janua caeli);
• contradança (country-dance);
• João das Armas (gendarmes);
• Tadeu (Te Deun).
Até na grafia das palavras é possível perceber os efeitos da analogia, uma vez que as pessoas aproximam grafica-
mente palavras de origens diferentes. Assim, a simplificação ortográfica contribui grandemente para evitar tais 
confusões, já que ainda é possível vermos grafias como as que apresentamos no quadro a seguir.
Quadro 2.3: Analogia e ortografia.
Relação analógica entre palavras
ascenção (ascensão) por analogia com assunção
excessão (exceção) por analogia com excesso
foçar (fossar) por analogia com focinho
serração (cerração) por analogia com serrar
setim (cetim) por analogia com seda
vasa (vaza) por analogia com vaso
ância (ânsia) por analogia com -ânsia
lisongeiro (lisonjeiro) por analogia com -geiro
Legenda: Relação de analogia entre palavras que, de acordo com a norma padrão da lín-
gua portuguesa, acabam sendo escritas de forma incorreta.
Fonte: Coutinho (1976, p. 156).
De acordo com Coutinho (1976), os homônimos mais conhecidos servem como modelo às pessoas com mais difi-
culdade em relação à ortografia das palavras. Do mesmo modo, são exemplos de analogia: cozer por coser (preparar 
o alimento ao fogo), massa por maça (clava), chácara por xácara (narrativa popular em verso), concerto por conserto 
(reparo), russo por ruço (esbranquiçado), caçar por cassar (tornar sem efeito), taxar por tachar (censurar).
Para você, o processo de analogia é relevante para o ensino da ortografia do português?
36
História da Língua Portuguesa | Unidade 2- Aspectos da história interna da 
língua portuguesa - o componente fonético
O cruzamento de palavras também pode ser considerado um caso de analogia, já que os falantes associam, às 
vezes, duas palavras semelhantes na significação ou pronúncia. Dessa associação, surge um terceiro vocábulo 
com características fonéticas de ambos. Como exemplo, Coutinho (1976) cita o verbo alcançar; do latim calce, 
formou-se incalceare e accalceare, que deram, no português, respectivamente, em encalçar e acalçar, dando ori-
gem, por metátese (transposição fonética, como visto na seção anterior), à palavra alcançar.
A etimologia popular é um aspecto importante quando estudamos as mudanças linguísticas, 
pois nos permitem analisá-las levando em conta a dimensão do uso da língua. Conheça mais 
sobre o tema lendo o artigo de Pereira (2014), De Saussure, de outras contribuições, de ocorrên-
cias linguísticas: a relevância da etimologia popular. Disponível em: <http://www.e-publicacoes.
uerj.br/index.php/matraga/article/view/17511>. Acesso em: 7 nov. 2017.
Diante do que apresentamos nesta unidade, observamos que o componente fonético é um aspecto importante 
na comunicação e no estudo das transformações das palavras ao longo do tempo. Também aprendemos que 
essas transformações são variadas e multifacetadas, o que ilustra a complexidade e a relevância desse compo-
nente quando analisamos a história interna da língua portuguesa.
http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/matraga/article/view/17511
http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/matraga/article/view/17511
37
Considerações finais
Nesta unidade, você desenvolveu conhecimentos acerca da história 
interna da língua portuguesa, especificamente o seu componente foné-
tico. Você desenvolveu conhecimentos sobre:
• o campo de estudo da fonética histórica;
• o aparelho fonador e os sons da fala;
• a articulação dos sons;
• as diferenças entre sons e fonemas na língua oral e escrita;
• as leis fonéticas;
• os metaplasmos e seus tipos;
• a analogia na fonética;
• a importância do componente fonético nas transformações das 
palavras da língua portuguesa.
Referências bibliográficas
38
CÂMARA JUNIOR, J. M. Estrutura da língua portuguesa. 18. ed. Petrópo-
lis: Vozes, 1988. 
COUTINHO, I. de L. Gramática histórica. 7. ed. Rio de Janeiro: Livro Téc-
nico, 1976.
CUNHA, C.; CINTRA, L. F. L. Nova gramática do português contemporâ-
neo. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
PEREIRA, M. T. G. De Saussure, de outras contribuições, de ocorrên-
cias linguísticas: a relevância da etimologia popular. Matraga, Rio de 
Janeiro, v. 21, n. 34, p. 133-147, jan./jun. 2014. 1
http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/matraga/article/view/17511
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3Unidade 3
Aspectos da história interna 
da língua portuguesa - o 
componente morfológico
Para iniciar seus estudos
Você já parou para pensar em como as palavras da língua portuguesa 
foram formadas? Você sabia que o nosso vocabulário possui palavras que 
vão do celta ao alemão? Nesta unidade, além das influências estrangei-
ras que nossa língua apresenta, aprenderemos os diversos processos de 
estruturação, formação e constituição do nosso léxico. Vamos começar?
Objetivos de Aprendizagem
• Refletir sobre a construção do léxico da língua portuguesa.
• Identificar transformações morfológicas na língua portuguesa.
• Reconhecer processos de formação de palavras na língua portu-guesa.
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História da Língua Portuguesa | Unidade 3 - Aspectos da história interna 
da língua portuguesa - o componente morfológico 
3.1 A formação de palavras na língua portuguesa
A evolução da língua portuguesa, sob o ponto de vista da sua história interna, também se relaciona com o seu 
componente morfológico, que, basicamente, pode ser concebido como o processo no qual se formam e se trans-
formam as palavras que constituem o seu léxico. O estudo dos processos constitutivos das palavras de uma lín-
gua é o foco de estudo da morfologia.
O processo de formação e evolução de palavras também diz respeito aos usos da língua como instrumento de 
comunicação, em épocas distintas, os quais, como sinaliza Coutinho (1976), apresentam progressos por meio 
das artes, das indústrias e das ciências. Assim, para o autor, são três as fontes das palavras da língua portuguesa: 
a derivação latina, a criação ou formação vernácula do português e a importação estrangeira.
Os aspectos de formação e evolução das palavras mencionados por Coutinho serão 
importantes durante a feitura do fórum desafio.
Desse modo, a formação do léxico, aspecto relevante no estudo do nosso idioma, passou por processos distintos, 
os quais vamos estudar a seguir para que possamos, assim, compreender como se deu a construção do léxico da 
língua portuguesa.
3.2 A raiz das palavras e a formação de vocábulos
Para Coutinho (1976), o elemento primário e significativo de uma palavra recebe o nome de raiz, e é em torno 
desse constituinte que se agrupam os outros elementos que formarão a palavra. 
O vocábulo, portanto, será composto pela raiz, que é o componente que exprime a sua ideia central, e por ele-
mentos secundários que, ao se juntarem a ele, expandem o seu sentido. Essas partículas acrescidas à raiz das 
palavras recebem o nome de afixos e dividem-se em dois grupos: os prefixos e os sufixos. Cada um deles ocu-
pará uma determinada posição na palavra: os primeiros aparecem antes da raiz (antepostos), e os segundos, 
depois da raiz (pospostos). 
Coutinho (1976) adverte que é preciso distinguir o sufixo da desinência, pois esta é o elemento final da palavra 
cuja finalidade é indicar a sua flexão. Contudo, o próprio sufixo pode conter em si a desinência. Por exemplo, o 
sufixo nominal ico, na palavra histórico, encerra a desinência �o do masculino. O afixo e as desinências recebem o 
nome de morfemas, os quais podem ser definidos como as unidades mínimas da palavra dotadas de significado.
Por conseguinte, quando eliminados os sufixos das palavras, a parte restante é denominada de radical, que pode 
ser composto pela própria raiz ou pela raiz acrescida de outro elemento de formação. Este, por sua vez, é deno-
minado tema.
42
História da Língua Portuguesa | Unidade 3 - Aspectos da história interna 
da língua portuguesa - o componente morfológico 
MAIS Para saber mais sobre a estrutura das palavras, leia o capítulo “Classe, estrutura e for-
mação de palavras”, do livro Nova Gramática do Português Contemporâneo (2001), de Celso 
Cunha e Lindley Cintra.
Ainda de acordo com Coutinho (1976), a formação de palavras novas no português seguiu os mesmos processos 
do latim, os quais são divididos em quatro: derivação, composição, parassintetismo e onomatopeia. 
Figura 3.1: Letras.
Legenda: A imagem apresenta letras aleatórias saindo de um livro. Pelo fato de elas não estarem seg-
mentadas, nós não reconhecemos nenhuma sequência que possa ser definida como palavra. 
Fonte: Plataforma Deduca (2017). ID: hobbitfoot150800001.
Nesta seção, estudamos as partes que compõem as palavras e as formas, desde a sua origem primária até os 
elementos que se agrupam no processo de construção do léxico. Essas partículas são de extrema relevância no 
estudo da língua portuguesa, pois nos permitem reconhecer os pormenores que caracterizam as palavras como 
um todo significativo.
43
História da Língua Portuguesa | Unidade 3 - Aspectos da história interna 
da língua portuguesa - o componente morfológico 
3.2.1 Formação de palavras por derivação
O processo de formação de palavras por derivação é um meio comum para aumentar o léxico de uma língua e 
consiste na formação de uma palavra a partir de outra já existente, acrescentando-lhe um sufixo ou suprimindo-
-o. Além disso, também é possível ocorrer a transferência de uma palavra de determinada classe para outra 
classe (COUTINHO, 1976). Na derivação, a palavra nova recebe o nome de derivada e a palavra antiga recebe o 
nome de primitiva. O autor divide a formação por derivação em quatro tipos, os quais apresentamos a seguir:
Própria ou progressiva
Consiste na formação de uma palavra nova a partir da associação de um sufixo a uma palavra já existente, agre-
gando sentido a ela. Os sufixos podem ser nominais e verbais, sendo que os primeiros formam adjetivos e subs-
tantivos, e os segundos, verbos. O único sufixo que forma advérbios no português é �mente. 
Ainda, a variação do radical depende, em sua maioria, do fonema inicial do sufixo ou do final do próprio radical. 
Quando o fonema inicial do sufixo é uma consoante, faz-se a junção dele com o radical sem alterações, com 
exceção das terminações em e ou –o, que se modificam em –i; ou –e. Porém, os fonemas são mantidos quando 
recai sobre eles a acentuação tônica: anda-dura; pada-dor; cometi-mento; perdi-ção; nascen-te.
De outro modo, quando o sufixo começa por vogal, ocorre a queda da vogal anterior final do radical, se ela for 
átona, ou permanece, se for tônica. No último caso, aparece entre o radical e o sufixo uma consoante interme-
diária, com o intuito de desfazer o hiato. Ela é geralmente representada por z: livr-aria; bel-eza; branc-ura; relv-oso; 
cafe-z-al. O mesmo fonema também é intercalado quando o radical termina em ditongo: pai-z-inho; mãe-z-inha. 
Terminando o radical em –z, muda-se esse para –g quando é seguido por a, o, u: narig-udo; rapag-ão; perdig-oto. 
Dá-se o nome de hiato ao processo em que duas vogais que se encontram são separadas em 
sílabas diferentes (exemplo: sa-ú-de). O processo diferencia-se do ditongo e do tritongo, 
uma vez que as vogais são pronunciadas separadamente, o que não ocorre nesses casos.
Glossário
Ainda, as palavras terminadas em vogal ou ditongo nasal podem manter ou perder a nasalidade: algodo-al; carvo-
-eiro; sensacion-al; grân-ulo. O quadro a seguir apresenta alguns exemplos de sufixos diminutivos.
44
História da Língua Portuguesa | Unidade 3 - Aspectos da história interna 
da língua portuguesa - o componente morfológico 
Quadro 3.1: Exemplos de sufixos diminutivos.
Sufixo Exemplificação
-inho, -a toquinho, vozinha
-zinho, -a cãozinho, ruazinha
-ino, -a pequenino, cravina
-im espadim, fortim
-elho, -a folhelho, rapazelho
-ejo animalejo, lugarejo
-ilho, -a pecadilho, tropilha
-acho, -a fogacho, riacho
-icho, -a governicho, barbicha
-ucho, -a papelucho, casucha
-ebre casebre
-eco, -a livreco, soneca
-ico, -a burrico, marica(s)
-ela ruela, viela
-ete artiguete, lembrete
-éto, -a esboceto, saleta
-ito, -a rapazito, casita
-zito, -a jardinzito, florzita
-ote, -a velhote, velhota
-isco, -a chuvisco, talisca
-usco, -a chamusco, velhusco
-ola fazendola, rapazola
Legenda: o quadro apresenta os principais sufixos diminutivos empregados na língua portuguesa.
Fonte: Cunha e Cintra (2001, p. 90-91).
Agora que conhecemos a formação por derivação própria ou progressiva, na sequência, vamos conhecer a for-
mação por derivação imprópria.
Imprópria
Esta derivação resume-se na mudança de classe gramatical das palavras, sem a necessidade de sufixo. Nesse 
sentido, palavras de uma determinada classe gramatical passam a ser utilizadas em outras. A derivação impró-
pria pode ser encontrada em substantivos, adjetivos, advérbios, preposições, conjunções e interjeições, como 
nos exemplos a seguir:
• substantivos comuns passam a ser próprios: Coelho, Leite, Leão, Leitão, Raposo, Carneiro;
• os substantivos próprios tornam-se comuns: carrasco, belchior, camélia, champanhe, anfitrião, hortência;

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