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Online 9 - A Questão Indigena( 1930-20130)
Nesta aula, vamos entender como a questão indígena foi tratada na História contemporânea do Brasil. Vamos ver os avanços e retrocessos, bem como os aspectos que mais dificultam a resolução desse problema nos dias atuais. Bons estudos!
Quem, quando criança, nunca teve o rosto pintado no Dia do Índio? Dependendo da idade, pode ter dançado ao som da marchinha: “Eu fui às touradas em Madri/ E quase não volto mais aqui/ Pra ver Peri beijar Ceci”.
Ou, quem sabe, entoou junto com a Xuxa: “Vamos brincar de índio/ Mas sem mocinho/ Pra me pegar...”. Talvez tenha lido O guarani ou se encantado com a ópera de mesmo nome. Quase certamente já viu alguém fantasiado de índio no Carnaval.
A não ser que você pertença a alguma nação indígena, é possível que se identifique com alguma situação descrita antes. Todos nós carregamos, na memória, um imaginário sobre os povos indígenas.
Esse imaginário está carregado de preconceitos, tanto positivos quanto negativos: sejam inocentes, valentes, selvagens ou preguiçosos, os “índios” com que nos relacionamos, na maioria das vezes, estão muito distantes do que são, de fato, os povos indígenas.
Em nossa aula, vamos apresentar aspectos da construção deste imaginário e tentar entender um pouco mais o posicionamento dos povos indígenas na História contemporânea.
O ideal seria que os tratássemos em sua diversidade, que falássemos de ticunas, bororós, guaranis e jurunas - entre muitos outros – e não de“índios”.
Contudo, isso seria assunto para um curso inteiro. Como só temos uma aula, vamos nos contentar com a história dos índios em geral. E, ainda assim, temos muito do que tratar!
Antes de começarmos a entender como a questão indígena foi tratada ao longo da Era Vargas, seria interessante que você desse uma olhada nesta fotografia:
A partir da observação da fotografia e das informações contidas na legenda, como você imagina que tenha sido a relação do governo Vargas com os povos indígenas?
Uma política completa de integração do índio a sociedade ocidental, porém com uma total aculturação e desvalorização da cultura dos mesmos.
A resposta é individual, mas é importante que você atente para as roupas que as crianças estão usando e para o próprio cerimonial, que fogem ao que comumente associamos às culturas indígenas.
Isso é um indício de que Vargas queria integrar os povos indígenas à cultura ocidental, hegemônica no Brasil.
O Estado Novo, o trabalhismo e os povos indígenas
1930-1940 O índio seria muito bem tratado no Brasil, desde que aceitassem a cultura ocidental, uma política de assimilação. Não poderiam andar nus, deveriam falar o português e de preferência, serem cristãos.
Esse processo não deveria ser obrigatório nem agressivo; pelo contrário: a assimilação era entendida como um dos motores do progresso da humanidade e aconteceria de qualquer forma, porém lenta e gradualmente.
Essa postura pode ser bem detectada na trajetória do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), criado em 1907 e mantido durante a Era Vargas. O SPI ainda trabalhava com premissas coloniais, como a “conquista” dos índios através de doação de presentes para, em seguida, vesti-los e ensinar-lhes hábitos ocidentais.
Tais ações eram embasadas em leis (anteriores a 1930) que haviam oficializado a tutela dos índios em relação ao Estado (representado pelo SPI). Deste modo, os índios eram considerados relativamente incapazes de se autogerir, necessitando do Estado para se sustentar e resolver conflitos.
Isso relegava os índios a uma condição infantil. Ao mesmo tempo em que zelava pela proteção, a tutela gerava exclusão. Tal princípio foi usado para retirar os índios de suas terras, que foram usadas para colonização, já que Getulio empreendeu, a partir da década de 1940, a Marcha para o Oeste.
Essa marcha, assim como influenciou na relação do governo com os trabalhadores rurais, também envolveu as políticas indigenistas.
Para Vargas, os índios que habitavam as regiões Norte e Centro-Oeste, sendo a maioria da população dali, deveriam ser usados como aliados na ocupação do interior do Brasil.
A melhor forma de colaborar seria através da assimilação à cultura ocidental e consequente transformação em um trabalhador rural.
Aqui, esta nossa aula dialoga com a aula 8: os mesmos planos que Vargas tinha para os trabalhadores rurais, dedicava aos índios. Como vimos, ele deixaria o governo sem conseguir cumprir as promessas de extensão da legislação trabalhista ao campo.
1940 – Fundado o Conselho de Nacional de Proteção ao Índio, para atuar junto ao SPI. Antropólogos em luta para que o SPI abandonasse as praticas retrogradas em nome pelo respeito pelas culturas das nações indígenas.
1983 – Claude Levi Strauss, um dos fundadores da Antropologia Moderna.
Os três irmãos Villas Boas não eram antropólogos, mas atuaram seguindo as mesmas premissas. 1960, conceberam e implantaram o Parque Indígena do Xingu, Norte do Mato Grosso, Planalto Central e Amazônia.
A ditadura civil-militar e a FUNAI: proteção ou extermínio?
Período Democrático – 1946/1964 Os irmão Villas Boas já atuavam. 
Na praticas os índios eram tratados como trabalhadores rurais, apesar das perspectivas dos antropólogos fosse oficialmente levada em conta.
Comunicação entre as aldeias de péssima qualidade ou precárias, devido a inexistência de estradas, dificultava o trabalho dos fiscais. Muitas vezes a presença do SPI e do CNPI levou a morte dos índios, devido a epidemias.
1967 – Cria-se a FUNAI, pelo governo militar.
Em termos filosóficos, a FUNAI não se distingue dos órgãos que lhe antecederam, também tendo em vista a ideia de que as nações indígenas deveriam ser integradas à sociedade brasileira de forma lenta e progressiva.
Contudo, a perspectiva sobre a sua atuação durante a ditadura é ambígua. Há quem a defenda, sobretudo no que se refere ao atendimento de índios doentes e na prática da medicina preventiva.
Outros, contudo, fazem denúncias graves que envolvem casos de escravidão e genocídio, como veremos mais adiante.
Antes de tudo, precisamos comentar a criação do Estatuto do Índio em 1973. Este documento continuava a considerar o índio como tutelado (não se diferindo do SPI, do CNPI nem da FUNAI), mas apontava para alguns avanços.
Foi o Estatuto que regulamentou o direito dos índios à posse das terras que tradicionalmente eram suas, assim como tinha sido feito com as terras do Xingu em 1961.
No entanto, apesar de ter fixado um prazo de cinco anos para que este processo se realizasse, o Estatuto até hoje não garantiu que ele acontecesse. Além disso, a disputa pelas terras continuou causando inúmeras situações de agressão contra os índios.
Também comentamos anteriormente que mesmo a FUNAI foi acusada de crimes contra os índios durante o período, lembra-se? Vamos conhecer um pouco mais do assunto? Sigamos!
A ditadura ataca novamente: os crimes contra os povos indígenas
Atualmente, por conta da instalação da Comissão Nacional da Verdade (CNV), com a proposta de investigar crimes cometidos pelo Estado, sobretudo durante a ditadura civil-militar, surgiram depoimentos que denunciam prisões, torturas e humilhações sofridas por índios de diversas etnias.
Durante os anos de chumbo, após o golpe de 1964, a Fundação Nacional do Índio (Funai) manteve silenciosamente em Minas Gerais dois centros para a detenção de índios considerados “infratores”. Para lá foram levados mais de cem indivíduos de dezenas de etnias, oriundos de ao menos 11 estados das cinco regiões do país. O Reformatório Krenak, em Resplendor (MG), e a Fazenda Guarani, em Carmésia (MG), eram geridos e vigiados por policiais militares. Sobre eles recaem diversas denúncias de violações de direitos humanos.
Os “campos de concentração” étnicos em Minas Gerais representaram uma radicalização de práticas repressivas que já existiam na época do antigo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) – órgão federal, criado em 1910, substituído pela Funai em 1967. Em diversas aldeias, os servidores doSPI, muitos deles de origem militar, implantaram castigos cruéis e cadeias desumanas para prender índios.
Os anos desde o fim da ditadura pouco contribuíram para tirar da obscuridade a existência dos presídios indígenas. Um silêncio que incomoda novas lideranças como Douglas Krenak, 30 anos, ex-coordenador do Conselho dos Povos Indígenas de Minas Gerais (Copimg). “Em 2009, recebi um convite para participar das comemorações, em Belo Horizonte (MG), dos 30 anos da Anistia no Brasil. Havia toda uma discussão sobre a indenização dos que sofreram com a ditadura, mas a questão indígena não foi nem sequer lembrada”, reclama.
Douglas é mais um entre os que têm histórias familiares de violência física e cultural sofridas nesse período. “Meu avô foi preso no reformatório Krenak”, conta. “Chegou a ser arrastado com o cavalo de um militar, amarrado pelos pés”.
Para a pedagoga Geralda Soares, ex-integrante do Conselho Indigenista Missionário em Minas Gerais (Cimi/MG), é fundamental reparar a dívida com os indígenas vítimas de violências no período – que, acredita ela, não difere daquela reconhecida como direito de outros grupos que sofreram nos porões da ditadura. “Muitos desses índios, na minha concepção, são presos políticos. Na verdade, eles estavam em uma luta justa, lutando pela terra”, defende. Não existe, no Brasil, nenhum indivíduo ou comunidade indígena indenizado pelos crimes cometidos pelo Estado nessas áreas de confinamento.
“Se cabe para os outros, porque não cabe para os índios?”, questiona Maria Hilda Baqueiro Paraíso, professora associada da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ela lembra que há relatos de pessoas desaparecidas após ingressarem em tais locais, cujos familiares vivem até hoje sem qualquer tipo de resposta do Estado ou política de reparação.
A Comissão Nacional da Verdade (CNV), instalada pelo governo federal em maio de 2012, definiu os crimes contra camponeses e indígenas como um dos seus 13 eixos de trabalho. O balanço de um ano de atividades da CNV, divulgado recentemente, informa que a existência de prisões destinadas a índios é um dos seus objetos de pesquisa. A Agência Pública entrou em contato para saber mais detalhes sobre as apurações que estão sendo realizadas, mas a Comissão não se pronunciou.
Leia também: Prisões e castigos para “civilizar os índios”
Leia também: Treinados pela PM, índios-soldados reprimiam seus pares
Leia também: Um campo de concentração indígena a 200 quilômetros de Belo Horizonte (MG)
Espancamentos e trabalhos forçados no “centro de reeducação” Krenak
Em 1965, o combalido Serviço de Proteção aos Índios (SPI), afundado em denúncias de inoperância e corrupção, começou a negociar um convênio com o governo de Minas Gerais, através do qual o Executivo estadual assumiria a incumbência de garantir a ordem e a assistência às aldeias locais. O acordo foi ratificado posteriormente pela Fundação Nacional do Índio (Funai), em 1967. Assim nasceu Reformatório Agrícola Indígena Krenak, um “centro de recuperação” de índios mantido pela ditadura militar no município de Resplendor (MG).
Sem alarde, o reformatório – por vezes também chamado de Centro de Reeducação Indígena Krenak – começou a funcionar em 1969 em uma área rural dentro do Posto Indígena Guido Marlière. As atividades locais eram comandadas por oficiais da Polícia Militar mineira, que, após o estabelecimento do convênio, assumiram postos-chave na administração local da Funai.
Nos anos seguintes, foram enviados para lá mais de cem índios, pertencentes a dezenas de comunidades. Um mosaico de etnias que incluía desde habitantes do extremo norte do país, como os índios ashaninka e urubu-kaapor, a povos típicos do sul e do sudeste, como os guaranis e os kaingangs.
Até hoje, muito pouco se divulgou sobre o que de fato acontecia no local. “O reformatório não teve sua criação publicada em jornais ou veiculada em uma portaria”, escreve o pesquisador José Gabriel Silveira Corrêa, autor de um dos poucos estudos sobre a instituição. “Seu funcionamento e a própria ‘recuperação’ lá executada passavam pela manutenção do sigilo”.
Em 1972, o então senador pela Aliança Renovadora Nacional (Arena) – partido de sustentação da ditadura – Osires Teixeira, se pronunciou sobre o tema na tribuna do Senado, em uma poucas manifestações conhecidas de agentes do Estado sobre o reformatório. Afirmou que os índios levados ao Krenak retornavam às suas comunidades com uma nova profissão, mais conhecimentos e saúde e em melhores condições de contribuir com o seu cacique. “O Brasil tem sido vítima de ignóbeis explorações de sua política indigenista por órgão da imprensa no exterior, quando, na verdade, todos sabemos que o Brasil foi o único país do continente que, para a conquista de sua civilização, jamais dizimou tribos indígenas”, afirmou Teixeira.
Relatos atuais de ex-presos e familiares, no entanto, revelam uma realidade muito diferente daquela descrita pelo senador da Arena.
Trabalho escravo
A sede do reformatório possuía duas edificações. Numa delas ficava a administração, o almoxarifado e o alojamento dos guardas. Já a outra era o reformatório propriamente dito. Dispunha de cozinha e refeitório, além de duas celas individuais, dois confinamentos coletivos e dois cubículos para detenção – estes últimos destinados a encarcerar quem cometesse faltas graves no dia a dia correcional.
Pela manhã, após o desjejum, os “confinados” – jargão utilizado para designar os índios – eram levados para trabalhos rurais, que prosseguiam também depois do almoço. No fim do dia, numa rotina tipicamente prisional, eram postos para dormir após o banho e o jantar coletivo.
“Íamos até um brejo, com água até o joelho, plantar arroz”, revela Diógenes Ferreira dos Santos, índio pataxó levado ao Krenak em 1969. “Botavam a gente para arrancar mato, no meio das cobras, e os guardas ficavam em roda vigiando, todos armados”, complementa João Batista de Oliveira, conhecido como João Bugre, da etnia krenak. A região onde foi instalado o reformatório era habitada pelos índios krenaks, e muitos de seus representantes também foram presos.
A reportagem da Agência Pública teve acesso a diversos documentos produzidos pelos policiais que comandavam as atividades do reformatório – ofícios, telegramas e fichas individuais que acompanhavam, mês a mês, o comportamento dos presos. Uma dessas fichas, de um índio da etnia karajá, descrito como lerdo e preguiçoso, deixa claro a obrigatoriedade dos trabalhos braçais. “É um elemento fraco, parecendo até mesmo ser um retardado. Se pudesse, não faria nenhum serviço.”
Outras formas de tratamento degradante, como, por exemplo, escassez no fornecimento de comida, calçados e vestimentas, também estão explicitadas nesses ofícios. “À tarde eles chegam do serviço, tomam banho e vestem a mesma roupa molhada de suor”, escreve o cabo da PM Antônio Vicente, então chefe do Posto Indígena Guido Marlière, em telegrama de 1971, pedindo providências a seus superiores.
Em 1972, outro comunicado informa que se esgotaram todos os alimentos locais. “Os índios confinados estão se alimentando de pura mandioca e inhame. Considerando-se a precariedade da alimentação, serão suspensos os trabalhos braçais.”
Crime e castigo
Homicídios, roubos e o consumo de álcool nas áreas tribais – na época fortemente repreendido pela Funai – são alguns dos motivos alegados para a transferência de índios ao Krenak. Além disso, os documentos do órgão também citam brigas internas, uso de drogas, prostituição, conflitos com os chefes de posto, indivíduos penalizados pelo “vício de pederastia” e atos descritos, não raro de forma bastante vaga, como vadiagem.
Segundo os registros oficiais, alguns índios permaneceram por mais de três anos e havia indivíduos sobre os quais desconhecia-se até o suposto delito. “Não sabemos a causa real que motivou o seu encaminhamento, uma vez que não recebemos o relatório de origem”, escreve o cabo Vicente, ao escritório central da Ajudância Minas-Bahia da Funai, a respeito de um xavante,considerado de bom comportamento, que lá estava há mais de cinco meses.
“Uma das histórias contadas é a de dois índios urubu-kaápor que, no Krenak, apanharam muito para que confessassem o crime que os levou até lá”, explica Geralda Chaves Soares, que trabalhou do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) em Minas Gerais, e atua como pesquisadora da história indígena no estado. “O problema é que eles nem sequer falavam português”.
Surras com chicotes e o confinamento em solitária eram outros castigos aplicados, segundo os relatos colhidos pela pesquisadora.
Se comunicar em língua indígena, diz o ex-preso João Bugre, era terminantemente proibido. “Você era repreendido, pois os guardas achavam que a gente estava falando deles”, lembra. Situação ainda mais difícil para aqueles que não sabiam português. “Tinha que aprender na marra. Ou falava, ou apanhava”.
Bugre foi preso em 1970. O registro sobre o caso, descrito nos documentos da Funai, afirma que ele transportou cachaça para dentro da aldeia e se embriagou com outros índios. “João Bugre está insuportável pelas desobediências que vem cometendo. Já faz juz a um confinamento e está detido em alojamento separado”, relata o documento.
“Muitos, como eu, não tinham feito nada. Tomei uma pinga. Será que uma pinga pode deixar alguém preso quase um ano?”, questiona ele. Bugre afirma ter ficado preso no reformatório por cerca de nove meses.
Além do consumo de bebida, também sair da área do posto indígena era considera uma falta grave. “Meu avô chegou a ser arrastado com o cavalo de um militar, amarrado pelos pés, porque tinha saído da aldeia”, revela Douglas Krenak. “Eu, uma vez, fiquei 17 dias preso porque atravessei o rio sem ordem, e fui jogar uma sinuquinha na cidade”, rememora José Alfredo de Oliveira, também índio Krenak.
São exemplos do comportamento comumente classificado como “vadiagem” pelos representantes do órgão indigenista na época. Até mesmo atividades tradicionais de caça e pesca fora dos postos indígenas – não raro pequenos e impróprios para prover a alimentação básica – podiam, segundo relatos, levar índios a temporadas correcionais.
Via de regra, os presos lá chegavam a pedido dos administradores regionais das áreas indígenas. Mas, em alguns casos, por ordem direta de altos escalões em Brasília. É o caso de um índio canela encaminhado à instituição em julho de 1969. “Além do tradicional comportamento inquieto da etnia – andarilhos contumazes –, o referido é dado ao vício da embriaguez, quando se torna agressivo e por vezes perigoso. Como representa um péssimo exemplo para a sua comunidade, achamos por bem confiá-lo a um período de recuperação na Colônia de Krenak”, atesta ofício emitido pelo diretor do Departamento de Assistência da Funai, Lourival Lucena.
Conflitos de terra
O depoimento do pataxó Diógenes Ferreira dos Santos sugere outro motivo para a prisão de indígenas no reformatório Krenak.
Em meados da década de 1960, ele era apenas uma criança no dia em que, conforme conta, viu dois policiais chegando à Reserva Indígena Caramuru – um vasto território de Mata Atlântica, no sul da Bahia, tradicionalmente ocupado pelos pataxós. Vieram acionados por um fazendeiro, que reclamava ser o dono daquele local. “Tinha uma árvore ali em frente (onde Diógenes vivia com seus pais), e eles cravejaram de bala. Depois mandaram tirar tudo o que tinha dentro da nossa casa, e meteram fogo nela”, diz.
Sua família migrou então para uma área próxima, onde viveram “de favor” por cinco anos, instalando benfeitorias para um fazendeiro. Até o dia em que o pretenso proprietário vendeu o local, deixando-os novamente desalojados.
“Já que não tínhamos apoio de ninguém, decidimos voltar ao Caramuru”, conta Diógenes. Expulsaram o novo ocupante local, mas 15 dias depois novamente apareceram policiais, dessa vez incumbidos de levar, Diógenes e seu pai, até a cidade mais próxima. “Disseram que o Capitão Pinheiro (Manoel dos Santos Pinheiro, chefe da Ajudância Minas Bahia da Funai) estava nos esperando”, lembra. “Ficamos então seis dias presos na delegacia de Pau Brasil (BA), até que veio a ordem de nos levarem para o Krenak”.
Nessa época, Diógenes era adolescente. Por ironia do destino, ainda viveu para ver a Funai lhe dar razão em seu pleito. Em 1982, o órgão entrou com uma ação pedindo a declaração de nulidade de todas as propriedades de não índios instaladas dentro da Reserva Indígena Caramuru. Após anos de disputa judicial, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em maio de 2012, a favor dos índios.
Mesmo assim, Diógenes ainda sofre com esse passado. “Eu não gosto nem de falar, porque me dá ódio. É difícil estar preso por um erro. Trabalhando para sobreviver, ir pra cadeia?”, questiona.
Desaparecidos
Algumas mulheres krenaks, que chegaram a ser recrutadas pelos policiais da Funai para trabalhar no reformatório, também são testemunhas das violências desse período. “Quem fugia da cadeia sofria na mão deles”, afirma Maria Sônia Krenak, que foi cozinheira no local.
Além dos espancamentos, há relatos sobre perseguições acompanhadas de tiros, e de presos que nunca mais foram vistos. “Saiu um bocado ali que não voltou mais”, revela.
Um dos desaparecidos é Dedé Baenã, ex-habitante de terras no sul da Bahia, cujo sumiço é confirmado pelo depoimento de índios e não-índios. Ofícios da Funai afirmam que, em agosto de 1969, ele foi levado ao Krenak a pedido de um funcionário do órgão. O documento o qualifica como um “índio problema”, violento quando embriagado e dono de vasto histórico de agressões a “civilizados”.
Maria Hilda Baqueiro Paraíso, professora associada da Universidade Federal da Bahia (UFBA), realiza pesquisas há décadas junto a comunidades indígenas da região. E revela uma versão diferente para a prisão de Dedé Baenã. “Foi numa ocasião em que o Capitão Pinheiro esteve na Bahia anunciando a suspensão da assistência aos índios locais. Dedé se revoltou e fez um discurso contra a administração do órgão. Saiu de lá já preso”, conta.
Após ingressar no reformatório, ele nunca mais foi visto. “Diz-se que ele teria sido executado por um militar que fazia a segurança dos índios presos na área Krenak”, comenta um indígena que vive na região onde Dedé nasceu.
Segundo os depoimentos, qual era o objetivo das cadeias dedicadas aos povos indígenas?
A de levá-los ao trabalho escravo rural, ao mesmo tempo em que liberava as terras que eles ocupavam, para latifundiários, como ideia de punir, humilhar e em alguns casos, matar indivíduos de diversas etnias. As causas das prisões eram injustificadas, como mostram diversos documentos.
Cite três etnias que foram mandadas para essas prisões. ( Xavantes, Terenas e Guaranis )
Ashaninka , urubu-kaapor, guaranis e os kaingangs.
Você concorda em considerar tais crimes como “crimes políticos”, passíveis de indenização?
Sim, pois foram privados, pelo regime militar, de sua liberdade, para a exploração de trabalho escravo e como forma de punição devida aos movimentos políticos pela posse da terra, sndo que muitos “desapareceram”, os que eram rebeldes e questionadores a essa política, a exemplo de muitos presos políticos que sofreram nos porões da ditadura militar, logo, deve ser considerado como crimes aos direitos humanos.
 
Formação da Guarda Indígena
Chocante, não? Principalmente quando atentamos para o fato de que não foram acontecimentos isolados, mas que se repetiram em outros lugares do país.
Seja qual for a sua opinião sobre as denúncias, você não pode deixar de notar que a formação da Guarda Indígena, denunciada no vídeo, é uma perpetuação da política equivocada do SPI.
Afinal, os índios eram vestidos e treinados como soldados ocidentais, sendo usados em prol da violência do Estado contra seus próprios familiares. A sequência em que desfilam com um homem carregado no pau de arara é bastante forte, não?
Antes de seguirmos, fica uma dica de reflexão:
De fato, esses relatos depõem contra a atuação da FUNAI durante a ditadura militar. Contudo,saiba que um mesmo órgão pode passar por fases distintas, de acordo com sua direção e com os grupos que estão no comando do país.
O fato de ter cometido erros durante a ditadura não faz com que a FUNAI os continue cometendo hoje, não é mesmo?
A Constituição de 1988: índios cidadãos
Como você certamente se lembra, em 1988 foi promulgada a nossa atual Constituição, que ficou conhecida como “cidadã”. 
Veja uma fotografia tirada durante o período em que a Carta ainda estava sendo concebida: Índios fazem vigília para garantir que seus diretos sejam assegurados pela Constituição.
Interessante, não? Em vez de continuar nas aldeias, esperando pela decisão que os outros tomassem sobre suas vidas, muitos grupos de diversas etnias se organizaram e foram a Brasília garantir que seus direitos fossem assegurados.
Podemos dizer que parte destas reivindicações foi atendida. Afinal, a Constituição de 1988 considera que os índios têm direito a sua cultura, podendo permanecer como índios, em vez de serem “integrados” à força na sociedade brasileira.
Além disto, reforça a parte positiva do Estatuto do Índio, que garantia aos povos indígenas o direito de posse de suas terras.
Ainda cabe ao Estado zelar pelo cumprimento destes benefícios (o direito à cultura e às terras), o que perpetua a relação de dependência. Agora, porém, a tutela não se dá mais sobre os indivíduos – considerados capazes de se autogerir –, mas sobre os direitos.
Como vimos até agora, estas eram as facetas mais problemáticas dos órgãos e decretos que regiam a questão indígena. Logo, a Constituição se confirma como um avanço, certo?
Contudo, como o Estatuto do Índio continuou a existir, e vimos que ele contraria muitos dos aspectos da Constituição, seria necessário reformulá-lo ou substituí-lo.
A Constituição de 1988: índios cidadãos
Você deve se lembrar de que é o Estatuto que rege a FUNAI. Embora haja projetos de reformulação, até agora nada foi efetivado.
Já que estamos falando da década de 1980, que tal darmos uma olhada em outros eventos que também se relacionavam com os povos indígenas e que marcaram a época?
Outro destaque do fim da década de 1980, consequência direta das lutas pelo reconhecimento dos direitos dos povos indígenas, foi o sucesso internacional alcançado pelo líder caiapó Raoni Metuktire.
Lutando pela preservação da floresta amazônica e pelo direito à demarcação de terras indígenas, Raoni angariou apoio de figuras internacionalmente conhecidas, entre políticos, intelectuais e artistas.
A relação mais estreita se deu com o cantor Sting, que fazia sucesso internacional nos anos 1980. A parceria entre o cantor e o líder indígena gerou muitos frutos, como o cancelamento da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte – que, atualmente, foi retomada, apesar de inúmeros protestos no Brasil e no mundo.
Você já ouviu falar de Belo Monte? Não? Procure se informar! As pessoas que se colocam contra a obra denunciam que ela ocasionará desastres ambientais, além de isolar populações ribeirinhas, entre as quais algumas são indígenas.
Vale lembrar que, embora a luta de Raoni tenha sido parcialmente vitoriosa, há muitos casos de derrota daqueles que lutam pela preservação da floresta e dos povos indígenas.
Vale citar o caso de Chico Mendes, assassinado justamente no ano em que a Constituição foi promulgada. Motivo? A sua luta, também internacionalmente reconhecida, pela preservação da floresta Amazônica, procurando unir todos que dela precisam para sobreviver – e não para explorar de forma predatória – como os seringueiros e os povos indígenas.
Nesse caso, porém, talvez nem fosse certo chamarmos de “derrota”. Afinal, o corpo de Chico Mendes foi morto, mas seu nome e suas lutas continuam.
A questão indígena hoje
Até agora, conversamos sobre avanços e retrocessos na luta dos povos indígenas pelo reconhecimento de seus direitos ao longo do século XX. E sobre o século XXI, o que será que temos a dizer?
Para tentarmos responder a esta questão, leia um trecho da reportagem Sobrenome: ‘Guarani Kaiowa’, de Eliane Brum, publicada em 26/11/2012:
 
“No início de outubro, a carta de um grupo de guaranis caiovás de Mato Grosso do Sul provocou uma mobilização, em vários aspectos inédita, na sociedade brasileira. No texto [...], os índios, ameaçados de despejo por ordem judicial, declaravam: ‘Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui’. A carta foi divulgada pelo Twitter e pelo Facebook, gerando uma rede de solidariedade e de denúncia das violências enfrentadas por essa etnia indígena. Desta rede, participaram – e participam – milhares de brasileiros urbanos. [...]
De repente, pessoas de diferentes idades, profissões e regiões geográficas passaram a falar diretamente com as lideranças indígenas, no espaço das redes sociais, sem precisar de nenhum tipo de mediação. E de imediato passaram a ampliar suas vozes. A partir dessa rede de pressão, as instituições – governo federal, congresso, judiciário etc. – foram obrigadas a colocar a questão na pauta. Depois de dias, em alguns casos semanas, a imprensa repercutiu o que ecoava nas redes. Alguns dos grandes jornais enviaram repórteres para a região, colunistas escreveram artigos com diferentes pontos de vista. O movimento de adesão à causa guarani caiová nas redes sociais – sua articulação, significados e consequências – é um fenômeno fascinante. E, por sua força e novidade, traz com ele uma série de questões que possivelmente precisem de muito tempo para serem respondidas – e que não têm uma resposta só.”
Fonte: Revista Época
A qual acontecimento o texto se refere?
Ao fato de muitas pessoas terem adotado o sobrenome “Guarani Kaiwoa” em seus perfis no Facebook, como forma de protesto contra o despejo desta nação de suas terras.
O que você pensa sobre a eficiência deste tipo de ação?
Quando a denuncia toma uma dimensão gigantesca, a informação chega mais rápida e mai precisa, facilitando o conhecimento da mesma e a mobilização dos diversos grupos sociais, Para tal, a evolução e difusão da tecnologia é fundamental, gerando assim um saldo positivo e uma maior atenção da mídia e da sociedade, gerando uma pressão sobre as autoridades, que tiveram que colocar o assunto em pauta e rever suas decisões.
 
Porém, isto pode se tratar apenas de “moda” e a atenção aos kaiowa se dissipará assim que a “onda” acabar, mas se for apenas um modismo, ainda assim as manifestações geraram um saldo positivo.
Situação atual dos povos indígenas
Após a leitura do texto e as reflexões possibilitadas pelas questões, você deve ter mais dúvidas que respostas, não é mesmo?
Assim como a autora do artigo, deve estar se perguntando sobre o que este fenômeno das redes sociais significou e o que ele pode nos dizer sobre a situação atual dos povos indígenas no Brasil do século XXI. A boa notícia é que você não é a única pessoa a se sentir um pouco aturdida por estes acontecimentos.
Todos nós estamos tentando entender como funciona o mundo hoje em dia, que ganhos e perdas ele pode nos trazer. Como em todos os setores da sociedade, a questão indígena também está envolvida nisto.
Ainda seguindo o trecho da matéria de Eliane Brum, podemos tirar algumas conclusões.
Em primeiro lugar, percebemos que, apesar de toda proteção legal, os povos indígenas continuam a sofrer ataques, muitas vezes com o apoio de parte do governo. Como estamos falando de internet, o texto de Brum nos aponta para outro fenômeno: os índios têm acesso à tecnologia; também estão conectados!
 
Isto pode causar espanto em alguns e mesmo desconfiança. Alguns disseram que não eram os índios que estariam publicando os textos nas redes sociais, pois não dominariam a tecnologia a este ponto. Outros achavam que, se tinham acesso à tecnologia, já não poderiam mais ser considerados índios.
Você se lembra da “bancada ruralista” sobre a qual conversamos na aula 8? Sim, aquela mesma que votava contra todosos esforços pela reforma agrária. Ela é a mesma que atua contra a demarcação de terras indígenas, pelos mesmos motivos: manter os privilégios de latifundiários.
 As posições da bancada e dos agentes da violência que ela sustenta são apoiadas por alguns meios de comunicação conservadores.
Por esse motivo, a divulgação da campanha pelas redes sociais foi tão importante: as notícias foram divulgadas com mais liberdade, permitindo que as pessoas se informassem sem precisar passar pelas mídias tradicionais.
Claro que, como você já deve ter percebido, nem tudo que é divulgado pelo “Face” é confiável, tanto do ponto de vista da procedência quanto das ideias. Afinal, mesmo os conservadores estão conectados hoje em dia, não é mesmo?
Logo, fica a dica: antes de compartilhar um conteúdo, procure pesquisar sobre o tema, compare com outras notícias e – principalmente – pense bem se é aquela ideia mesmo que pretende divulgar.
Se você está em um dos grupos, vamos conversar! Afinal, o seu posicionamento pode ter sido influenciado pela falta de conhecimentos a respeito da forma como são considerados os índios pela Antropologia moderna e pela lei brasileira.  
Por um lado, sabemos que os índios, hoje, têm o direito de manter sua cultura. Isto, contudo, não significa que ela deva ser estática e permanecer imutável. Um índio que use a internet pode contribuir para preservar e divulgar sua cultura através de um meio de tecnologia contemporâneo. Por outro lado, um indivíduo que pertença a uma nação indígena é um ser humano como outro qualquer, capaz de dominar toda sorte de técnicas e tecnologias.
Sim, eles continuam sendo índios mesmo que usem um computador, tenham celular ou assistam à TV. O caso dos Guarani Kaiwoa ainda está em aberto, mas outro tema recente que chamou a atenção da mídia é a destruição da Aldeia Maracanã, vizinha ao estádio de mesmo nome no Rio de Janeiro, onde moravam alguns índios.Essas pessoas foram obrigadas a deixar a sua casa por conta das obras preparatórias da região para abrigar a final da Copa de 2014, o que contou tanto com protestos quanto com defesas.
 Imediatamente, a notícia ganhou o mundo, dividindo as opiniões. (Por enquanto, ficaremos só no comentário, pois teremos a oportunidade de falar mais sobre o assunto na aula 10, quando trataremos da visão sobre o Brasil no mundo.)
Agora, para finalizarmos nossa aula, vamos discutir um pouco sobre educação e História(s) indígena(s).
A(s) História(s) indígena(s) e a História nacional: o Estado e a educação
Começamos a nossa aula comentando as diversas imagens que temos dos índios em nossa cultura, lembra-se? Agora, você poderá realizar uma crítica deste imaginário, através da reflexão sobre o ensino das culturas e das histórias dos povos indígenas do Brasil.
Embora uma visão idealizada dos povos indígenas já tenha sido construída pelo movimento romântico brasileiro no século XIX, foi principalmente durante a Era Vargas que muitas de nossos preconceitos se originaram.
Apesar de a política varguista privilegiar a assimilação dos povos indígenas à sociedade brasileira – contribuindo, desta forma, para a destruição de seus traços culturais -, do ponto de vista intelectual o governo incentivava o conhecimento e registro destes povos.
Muitos intelectuais renomados investiram nesta área. Por exemplo: já vimos na aula 2 que Mário de Andrade atuou como folclorista.
Embora o folclore não estivesse associado apenas aos povos indígenas, estes eram particularmente visados.
Outro folclorista de destaque foi Câmara Cascudo, que escreveu inúmeras obras de referência sobre o tema.
Contudo, nenhum pensador contribuiu tanto para a divulgação de uma “cultura indígena” vaga e difusa do que Gilberto Freyre.
Suas ideias envolvendo a miscigenação como o traço fundamental da cultura brasileira fez com que as características originais das etnias que habitam o Brasil fossem apagadas em nome de uma “cultura nacional” mestiça e sintética.
Se você tem mais de 30 anos, deve se lembrar de que nos livros didáticos sempre líamos textos a respeito da “união das três raças”, de como os brancos, os índios e os negros haviam contribuído para nossa história e cultura.
E isso já no fim da ditadura civil-militar... Ou seja, as ideias construídas nos anos 1930 praticamente atravessaram o século!
Contudo, não estamos aqui “condenando” Gilberto Freyre por este processo. Trata-se de um intelectual sofisticado e criativo, cuja obra merece toda a reverência possível.
No entanto, a apropriação e empobrecimento de suas ideias tiveram, de fato, consequências negativas para nossa apreensão das culturas e das histórias indígenas – tanto quanto dos negros.
Mas, e hoje, como anda essa situação? Para responder a esta pergunta, vamos ler um trecho do artigo Herói e trabalhador: o papel do índio no Estado Novo através da análise de fontes históricas, de Roberta Rosa:
A abordagem da cultura indígena em sala de aula é defendida pela lei nº 11.645 de 10 de março de 2008, que estabelece a inclusão no currículo oficial da rede de ensino da obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.
Sendo assim, as escolas de todo território nacional têm a obrigatoriedade de abordar essa temática, e por isso se faz necessário pensar metodologias que possam orientar os docentes na abordagem de tais conteúdos.
Desta forma, é possível mostrar aos discentes como se deu a participação de afro-brasileiros e indígenas na formação do nosso Estado, enfatizando o fato de que negros e índios eram agentes ativos, reagiam e enfrentavam os problemas que os cercavam.
Fonte: Oficina Revista de História
Interessante essa perspectiva, não é? A autora nos informa sobre a existência de uma lei que exige o ensino, mas não determina como ele se dará. Ou seja: como ensinar a “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”?
 No trecho, já temos uma dica: devemos visualizar estes povos como ativos na construção de nossa história. Afinal, do jeito que se ensina hoje, parece que negros e, sobretudo, índios, eram figurantes em uma história em que tanto heróis quanto vilões eram brancos. Que tal pesquisar para saber como os povos indígenas e negros reagiam, resistiam, atuavam?
A segunda dica é também uma crítica ao texto da lei: por que devemos ensinar “uma” história e “uma” cultura? Como temos falado desde o início, são muitas as nações indígenas que habitam o Brasil, assim como foram muitas as nações africanas. Por que não ao menos tentar – sabemos que a tarefa é difícil! – aprender e ensinar as histórias e as culturas dos povos indígenas?
 Se algum dia você estiver em sala de aula, lembre-se disso!
Leia um trecho da reportagem A farra da antropologia oportunista, de Leonardo Coutinho, Igor Paulin e Júlia de Medeiros, publicada na revista Veja, em 5 de maio de 2010:
“As dimensões continentais do Brasil costumam ser apontadas como um dos alicerces da prosperidade presente e futura do país. As vastidões férteis e inexploradas garantiriam a ampliação do agronegócio e do peso da nação no comércio mundial. Mas essas avaliações nunca levam em conta a parcela do território que não é nem será explorada, porque já foi demarcada para proteção ambiental ou de grupos específicos da população.
[...] O governo pretende criar outras 1.514 reservas e destinar mais 50.000 lotes para a reforma agrária. Juntos, eles consumirão uma área equivalente à de Pernambuco. A maior parte será entregue a índios e comunidades de remanescentes de quilombos. Com a intenção de proteger e preservar a cultura de povos nativos e expiar os pecados da escravatura, a legislação brasileira instaurou um rito sumário no processo de delimitação dessas áreas.
Os motivos, pretensamente nobres, abriram espaço para que surgisse uma verdadeira indústria de demarcação. Pelas leis atuais, uma comunidade depende apenas de duas coisas para ser considerada indígena ou quilombola: uma declaração de seus integrantes e um laudo antropológico. A maioria desses laudos é elaborada sem nenhum rigor científicoe com claro teor ideológico de uma esquerda que ainda insiste em extinguir o capitalismo, imobilizando terras para a produção.
Alguns relatórios ressuscitaram povos extintos há mais de 300 anos. Outros encontraram etnias em estados da federação nos quais não há registro histórico de que elas tenham vivido lá. Ou acharam quilombos em regiões que só vieram a abrigar negros depois que a escravatura havia sido abolida.”
Fonte: Veja
Em nossa aula, vimos que a mídia se divide em relação à questão indígena. De acordo com este debate, qual seria o posicionamento da revista Veja?
Contrária a reforma agrária ou a demarcação de terras afro indígenas, pois a Revista Veja é de uma empresa a qual está vinculada a setores conservadores.
Segundo a matéria, as políticas de proteção ambiental, de demarcação de terras indígenas e de terras para reforma agrária acarretariam um prejuízo para o país. Comente.
Haveria muitas desapropriações que atingiriam a bancada ruralista, ou seja, grandes latifundiários, que usam a terra apenas visando o lucro desmedido e o desenvolvimento econômico do país, não atendendo assim o modelo econômico capitalista, e não a sobrevivência e o bem estar humano.
(1- A revista se mostra conservadora, condenando as políticas de proteção aos territórios indígenas. 2- A revista defende que tais políticas atrapalham o desenvolvimento econômico do país, pois estariam vinculadas à atuação das esquerdas, que não teriam interesse no desenvolvimento capitalista do país.)

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