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Estatuto da Pessoa com Deficiência e o absolutamente incapaz nos casos de interdição

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA 
Faculdade Mineira de Direito 
 
O Estatuto do Deficiente nos casos de interdição: 
o interditado será relativamente capaz em todos os casos? 
 
 
LARISSA OLIVEIRA GONÇALVES 
 
 
A partir da Lei 13.146/2015, na qual institui o Estatuto da Pessoa com Deficiência, ocorre um 
notável avanço para a proteção da dignidade da pessoa com deficiência e, com decorrência dessa 
nova legislação, ocorre mudanças estruturais e funcionais na chamada “teoria das incapacidades”, 
alterando alguns institutos do Direito de forma geral e, em especial, do Direito da Família, como a 
curatela, a interdição e o casamento. 
Para darmos continuidade, se faz necessário, antes, o entendimento acerca do conceito de 
interdição que, segundo Carlos Roberto Gonçalves, é a medida judicial pela qual a autoridade priva o 
incapaz, pessoa maior, porém sem discernimento, de gerir seus próprios bens e praticar 
determinados atos da vida civil, nomeando-lhe um curador. De forma que poderá promover-se a 
interdição do pródigo, do deficiente mental, do ébrio habitual, do viciado em tóxicos ou do 
excepcional com insuficiência mental. 
A partir da entrada em vigor do mencionado Estatuto, a pessoa com deficiência, nos termos do seu 
art. 2º, não deve ser mais tecnicamente considerada civilmente incapaz, na medida em que os arts. 
6º e 84, do mesmo documento, expressam que a deficiência não afeta a plena capacidade civil da 
pessoa. Ainda que, para atuar no cenário social, precise se valer de institutos assistenciais e 
protetivos como a tomada de decisão apoiada ou a curatela, a pessoa deve ser tratada, em 
perspectiva isonômica, como legalmente capaz. 
O que se levanta em pauta com o presente estudo é, sobretudo, a concepção (ou falta desta) 
do absolutamente incapaz no então vigente ordenamento brasileiro. Pode-se dizer que o conceito de 
capacidade civil foi reconstruído e ampliado, de forma que o art. 3º do Código Civil, que dispõe sobre 
os absolutamente incapazes, teve todos os seus incisos revogados, mantendo-se, como única 
hipótese de incapacidade absoluta, a do menor de 16 anos. Assim, não mais são considerados 
absolutamente incapazes os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário 
discernimento para a prática desses atos, e os que, mesmo por causa transitória, não puderem 
exprimir sua vontade. 
Como se vê, além dos menores de 16 anos não há outros absolutamente incapazes no atual 
ordenamento jurídico brasileiro. A partir dessa lei, a pessoa com deficiência - seja física, mental, 
intelectual ou sensorial - tem de ser considerada capaz, não podendo sofrer qualquer restrição ou 
discriminação por isso. A não ser que não possa exprimir a sua vontade, e, então, é enquadrada não 
mais como absolutamente incapaz, mas como relativamente incapaz, sendo-lhe nomeado um 
curador num processo judicial, e esta medida é considerada excepcional. A questão apontada é a de 
que: não é inapropriado inserir as pessoas sujeitas a uma causa temporária ou permanente, 
impeditiva da manifestação da vontade (como aquela que esteja em estado de coma), no rol dos 
 
 
relativamente incapazes? Se não podem exprimir vontade alguma, a incapacidade não poderia ser 
considerada meramente relativa. 
De acordo com Pablo Stolze Gagliano, pode-se empreender que “o que o Estatuto pretendeu foi, 
homenageando o princípio da dignidade da pessoa humana, fazer com que a pessoa com deficiência 
deixasse de ser “rotulada" como incapaz, para ser considerada - em uma perspectiva constitucional 
isonômica - dotada de plena capacidade legal, ainda que haja a necessidade de adoção de institutos 
assistenciais específicos, como a tomada de decisão apoiada e, extraordinariamente, a curatela, para 
a prática de atos na vida civil.”. 
 
 REFERÊNCIAS 
BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Estatuto da Pessoa com Deficiência. 
GAGLIANO, Pablo Stolze. É o Fim da Interdição? Disponível em: 
http://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/304255875/e-o-fim-da-interdicao-artigo-de-pablo-
stolze-gagliano/. Acesso em: setembro de 2018. 
GONÇALVES, Carlos Roberto. Sinopses Jurídicas - Direito de Família. 12ª ed. v. II, São Paulo: Saraiva, 
2007. 
VELOSO, Zeno. Estatuto da Pessoa Com Deficiência: uma nota crítica. Disponível em: 
http://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/338456458/estatuto-da-pessoa-com-deficiencia-uma-
nota-critica/. Acesso em: setembro de 2018.

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