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TEORIA DAS INCAPACIDADES A capacidade é a medida jurídica da personalidade - reconhecida às pessoas naturais e jurídicas. Trata-se da aptidão para adquirir direitos e assumir deveres pessoalmente. Dessa maneira, algumas das relações jurídicas podem ser praticadas pessoalmente pelos capazes ; ao passo que são realizadas por intermédio de terceiros pelos incapazes . De um lado, encontramos os plenamente capazes; de outros, os incapazes. A incapacidade civil pode ser absoluta ou relativa ; trata-se de uma diferença de nível de capacidade . Os absolutamente incapazes devem ser representados e os relativamente incapazes, assistidos. A representação e assistência consistem em institutos protetivos do incapaz. A capacidade é, preliminar e fundamentalmente, entendida como a regra, enquanto a incapacidade é entendida como exceção . A teoria das incapacidades é a aplicação da regra de que a igualdade se consubstancia tratando desigualmente quem está em posição desigual. Trata-se de conceder direitos diferenciados, e não de retirar a plena capacidade . ➔ Incapacidade: reconhecimento da inexistência, numa pessoa, daqueles requisitos que a lei acha indispensáveis para que ela exerça os seus direitos direta e pessoalmente A incapacidade civil deflagra uma série de medidas protetivas em favor do incapaz : Não corre o prazo de prescrição ou de decadência contra o absolutamente incapaz; Os pais não podem alienar ou gravar de ônus real os imóveis dos filhos menores, salvo com autorização judicial, ouvido o MP; Ao incapaz é permitido, excepcionalmente, recobrar o valor pago, voluntariamente, a título de jogo ou aposta; O mútuo feito a pessoa menor, sem prévia autorização do responsável, não pode ser reavido, salvo nas hipóteses previstas em lei; FERNANDA CAUS PRADO DIREITO CIVIL - PARTE GERAL I 17 ----------------------------------------- APROFUNDANDO --------------------------------------- Tutela e curatela são ambos institutos de representação legal, atuando tanto como representante, como assistentes. A tutela está ligada à menoridade civil e falta dos pais; menor perdeu os pais ou ocorreu a decadência dos pais do poder familiar, ou pais ausentes. A curatela é aplicada quando ocorre uma deficiência mental, intelectual, que impede sua expressão. Ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação anulada, pagou a um incapaz, salvo se provar que a importância paga reverteu em seu proveito; Havendo interesse de incapaz, a partilha no inventário tem de ser judicial. O Estatuto da pessoa com deficiência e a Teoria das incapacidades A teoria das incapacidades sofreu profundas alterações com a introdução da Lei 13.146/2015 , o Estatuto da Pessoa com Deficiência, que internalizou, no Brasil, a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência – a Convenção de Nova Iorque , promovendo e ampliando os direitos dos deficientes. Esse documento internacional tem o objetivo de promover, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais pelas pessoas com deficiência. Ao introduzir uma visão mais humanizada da pessoa com deficiência, considerada como aquela que tem “impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial”, o Estatuto esclarece que a deficiência não tangencia, sequer longinquamente, uma incapacidade para a vida civil . Pessoa com deficiência ≠ pessoa incapaz. Incapacidade e vulnerabilidade Incapacidade difere de vulnerabilidade. A vulnerabilidade consiste no estado inerente de risco que enfraquece um dos contratantes, desequilibrando uma relação jurídica. A incapacidade , por sua vez, é a falta de perfeita compreensão para a prática de atos jurídicos. FERNANDA CAUS PRADO DIREITO CIVIL - PARTE GERAL I 18 ----------------------------------------- APROFUNDANDO --------------------------------------- A prescrição e decadência estão relacionados à segurança jurídica e ao tempo; quando alguém sofre um dano, tem origem a pretensão reparatória (possibilidade de ter o dano reparado, direito à prestação). A pretensão deve ser exercida em prazo determinado, caso contrário prescreverá (extinção da pretensão). Após a prescrição segue a obrigação natural (o direito é preservado). ➔ Obrigação natural: obrigação civil imperfeita (falta de exigibilidade), não podem ser cobradas judicialmente. ★ Exemplificando: dívidas de jogo. A decadência se relaciona com os direitos potestativos, aquele que “encurrala” a outra parte. Não exige da outra parte a prestação, mas gera ao titular a possibilidade de alterar uma relação jurídica, sem que a outra parte possa fazer algo; a exemplo da anulação de um casamento. Vencido o prazo, a decadência extingue até mesmo o direito. Ambos caracterizam posição de desvantagem, bem como reclamam proteção jurídica. Entretanto, ao vulnerável não é obstada a prática direta de qualquer ato. Enquanto a proteção legal do incapaz abrange todo e qualquer ato jurídico, a tutela do vulnerável concerne somente à relação jurídica na qual estiver, especificamente, inserido. Incapacidade absoluta De acordo com a redação antiga do art. 3º do Código Civil , eram absolutamente incapazes: os menores de dezesseis anos; os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tivessem o necessário discernimento para a prática desses atos; os que, mesmo por causa transitória, não pudessem exprimir sua vontade. De acordo com a nova redação, introduzida pela Lei 13.146/2015, somente são absolutamente incapazes os menores de dezesseis anos, também denominados de menores impúberes . CC, Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. Em virtude da sua condição de ser humano em formação, são considerados absolutamente incapazes e os atos por eles praticados são nulos de pleno direito (art. 166, I do CC). Os atos praticados pessoalmente, sem representação, essa hipótese configura nulidade absoluta . CC, Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz. Eles podem ser ouvidos em audiência, embora sua vontade nãovincule o juiz. No sistema do ECA, o consentimento dos adolescentes, com 12 anos completos, é essencial para a adoção. FERNANDA CAUS PRADO DIREITO CIVIL - PARTE GERAL I 19 ----------------------------------------- APROFUNDANDO --------------------------------------- A teoria das invalidades afirma que há dois níveis de nulidade, a absoluta ou relativa (anulabilidade). A nulidade absoluta expressa uma ofensa do próprio ordenamento jurídico, que desperta interesse público, podendo ser reconhecida de ofício pelo juiz, em qualquer tempo. Se o ato é absolutamente nulo, não pode ser covalidado (ser validado por ato posterior). Em geral, se o ato é considerado nulo, os efeitos da anulação são retroativos, não produz efeitos. O juiz não anula, ele apenas declara uma nulidade já existente. Já a nulidade relativa entendemos que prevalece o interesse particular, logo, não pode ser reconhecida de ofício. Existem prazos de anulação, podendo ocorrer decadência. O ato que padece da nulidade relativa (anulável) pode ser covalidado. Seus efeitos são para o futuro. Incapacidade relativa De acordo com a redação antiga do art. 4º do Código Civil , eram relativamente incapazes: os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tivessem o discernimento reduzido; os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; os pródigos. Segundo a nova redação, introduzida pela Lei 13.146/2015, somente são relativamente incapazes: Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; Os ébrios habituais e os viciados em tóxicos; Os que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; Os pródigos. Os atos jurídicos praticados pelos relativamente incapazes são passíveis de anulação , diferentemente dos atos praticados pelos absolutamente incapazes, que são nulos de pleno direito. Maiores de dezesseis e menores de dezoito anos São os denominados menores púberes. Por já apresentarem certo grau de discernimento, sua vontade é levada em consideração, desde que regularmente assistidos. Os atos, por ele praticados, sem assistência, são anuláveis - nulidade relativa - (art. 171, I do CC). CC, Art. 171 . Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente. Há atos, no entanto, que podem praticar sem necessidade de assistência, como casar, elaborar testamento, servir como testemunha, etc. Ébrios habituais e os viciados em tóxicos No caso do inciso, a embriaguez, a toxicomania e a deficiência não retiram, apenas reduzem o discernimento. A proteção do inciso não alcança aqueles que, episodicamente, excedem na ingestão de álcool ou de entorpecentes - aplicação da teoria da actio libera in causa. Nestes casos, os incapazes são submetidos a uma ação de curatela. Cabe à sentença determinar os atos que podem e que não podem ser praticados pessoalmente pelo incapaz e nomear curador para assisti-los. FERNANDA CAUS PRADO DIREITO CIVIL - PARTE GERAL I 20 Os que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade Trata-se aqui daquele que se encontra submetido a uma limitação transitória ou permanente que o impeça de exprimir sua vontade. ★ Exemplificando: Alguém em coma; surdos-mudos que não conseguem exprimir sua vontade; vítima de intoxicação fortuita; pessoas que perderam a memória. Esta hipótese também pode incluir pessoas com deficiência, desde que, por algum fator pessoal, elas estejam impossibilitadas de manifestar a sua vontade, temporária ou definitivamente. O reconhecimento desta incapacidade também exige um procedimento judicial de curatela, previsto nos arts. 747 e s. do CPC. Os pródigos Pródigo é a pessoa que gasta imoderadamente o seu patrimônio. O curador deve assisti-lo em atos de cunho patrimonial, apenas. Deve-se notar que o pródigo não se confunde com o mero gastador, pois lhe falta percepção cognitiva racional. O que justifica a sua proteção é o estatuto jurídico do patrimônio mínimo. Segundo esta tese, as normas legais devem resguardar para cada pessoa um patrimônio mínimo para que tenha vida digna. Outras aplicações: bem de família. Indígenas Com relação aos indígenas, o Código Civil remeteu a disciplina à lei especial. O Código Civil afastou do regime das incapacidades os índios não integrados, antigamente chamados de silvícolas, submetendo-os à legislação especial, considerado o seu aculturamento. O Estatuto do Índio (Lei 6.001/73) disciplina a matéria, trazendo como regra geral a incapacidade absoluta do índio que não revele consciência em relação aos atos praticados. Não será nulo o ato praticado pelo índio que demonstre um estado de consciência e conhecimento do ato praticado, desde que não lhe seja prejudicial. Firma o art. 8º da Lei 6.001: Lei 6.001, Art. 8º. São nulos os atos praticados entre o índio não integrado e qualquer pessoa estranha à comunidade indígena quando não tenha havido assistência do órgão tutelar competente. O índio poderá adquirir a plena capacidade, por decisão judicial, ouvido o Ministério Público, caso comprove o preenchimento de certos requisitos. FERNANDA CAUS PRADO DIREITO CIVIL - PARTE GERAL I 21 Lei 6.001, Art. 9º. Qualquer índio poderá requerer ao Juiz competente a sua liberação do regime tutelar previsto nesta Lei, investindo-se na plenitude da capacidade civil, desde que preencha os requisitos seguintes: I - idade mínima de 21 anos; II - conhecimento da língua portuguesa; III - habilitação para o exercício de atividade útil, na comunhão nacional; IV - razoável compreensão dos usos e costumes da comunhão nacional. Parágrafo único. O Juiz decidirá após instrução sumária, ouvidos o órgão de assistência ao índio e o Ministério Público, transcrita a sentença concessiva no registro civil. Lei 6.001, Art. 10. Satisfeitos os requisitos do artigo anterior e a pedido escrito do interessado, o órgão de assistência poderá reconhecer ao índio, mediante declaração formal, a condição de integrado, cessando toda restriçãoà capacidade, desde que, homologado judicialmente o ato, seja inscrito no registro civil. O procedimento de tomada de decisão apoiada (TDA) TDA é um instituto que não está atrelado ao incapaz, mas sim ao deficiente . ➔ Tomada de decisão apoiada: processo judicial criado pela Lei Brasileira de Inclusão, para garantir apoio à pessoa com deficiência em suas decisões sobre atos da vida civil e assim ter os dados e informações necessários para o pleno exercício de seus direitos. De acordo com a nova teoria das incapacidades, a pessoa com deficiência ou retardamento psíquico ou intelectual, capaz de exprimir a sua vontade, não mais pode ser considerada absoluta ou relativamente incapaz. Nesses casos, apesar da capacidade civil ser plena, reconhecendo as suas limitações para autogovernar-se, o Estatuto da Pessoa com Deficiência criou um novo procedimento: a Tomada de Decisão Apoiada - TDA. A TDA trata-se de um modelo protecionista para pessoas plenamente capazes, porém em situação de vulnerabilidade por conta de uma deficiência . É um processo autônomo, com rito próprio , em que a pessoa com deficiência indica os apoiadores de sua confiança. Participam do processo a pessoa interessada, as partes apoiadoras, o juiz (assistido por equipe multidisciplinar) e o Ministério Público. A TDA tem previsão no art. 1783-A e s. do Código Civil, que determina que: CC, Art. 1.783-A. A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para que possa exercer sua capacidade. FERNANDA CAUS PRADO DIREITO CIVIL - PARTE GERAL I 22 Termo de apoio CC, Art. 1.783-A., § 1º Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a pessoa com deficiência e os apoiadores devem apresentar termo em que constem os limites do apoio a ser oferecido e os compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de vigência do acordo e o respeito à vontade, aos direitos e aos interesses da pessoa que devem apoiar. Legitimidade para propor a TDA CC, Art. 1.783-A., § 2º O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa a ser apoiada, com indicação expressa das pessoas aptas a prestarem o apoio previsto no caput deste artigo. A Doutrina critica tal posicionamento, apontando que a TDA também pode ser proposta pelos legitimados para a curatela, como familiares e MP. Procedimento CC, Art. 1.783-A., § 3º Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de decisão apoiada, o juiz, assistido por equipe multidisciplinar, após oitiva do Ministério Público, ouvirá pessoalmente o requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio. Validade da decisão CC, Art. 1.783-A., § 4º A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre terceiros, sem restrições, desde que esteja inserida nos limites do apoio acordado. Agindo o apoiador com desídia ou incúria, deverá ser destituído, a requerimento da pessoa apoiada, do MP ou de outro interessado. Nestes casos, poderá haver responsabilização civil e criminal. Cessação da medida Pode ser requerida, a qualquer tempo, pela pessoa apoiada, pelos apoiadores, pelo MP ou terceiro interessado. Aplicação do Estatuto da pessoa com deficiência no tempo Por se tratar de norma que dispõe sobre o estado de uma pessoa , a sua vigência é imediata , alcançando situações jurídicas já consolidadas. Por isso, as pessoas com deficiência que foram interditadas com base na legislação anterior, devem ser reputadas plenamente capazes , independentemente da prática de qualquer ato. Neste quadro, a pessoa curatelada, qualquer familiar ou interessado e até mesmo o MP podem requerer, com base nos arts. 755 e 756 do CPC, o levantamento da curatela. FERNANDA CAUS PRADO DIREITO CIVIL - PARTE GERAL I 23 CPC, Art. 755. Na sentença que decretar a interdição, o juiz: I - nomeará curador, que poderá ser o requerente da interdição, e fixará os limites da curatela, segundo o estado e o desenvolvimento mental do interdito; II - considerará as características pessoais do interdito, observando suas potencialidades, habilidades, vontades e preferências. § 1º A curatela deve ser atribuída a quem melhor possa atender aos interesses do curatelado. § 2º Havendo, ao tempo da interdição, pessoa incapaz sob a guarda e a responsabilidade do interdito, o juiz atribuirá a curatela a quem melhor puder atender aos interesses do interdito e do incapaz. CPC, Art. 756. Levantar-se-á a curatela quando cessar a causa que a determinou. § 1º O pedido de levantamento da curatela poderá ser feito pelo interdito, pelo curador ou pelo Ministério Público e será apensado aos autos da interdição. Para a doutrina, pode-se valer do mesmo procedimento do levantamento da curatela para requerer judicialmente a determinação da Tomada de Decisão Apoiada, com a nomeação de dois apoiadores. Críticas ao Estatuto da pessoa com deficiência O Estatuto descuidou de impactos que foram produzidos no direito civil: A fluência dos prazos de prescrição e decadência contra os relativamente incapazes . Se o comportamento da pessoa com deficiência revelar uma absoluta impossibilidade de exercício da pretensão, deve-se ampliar o rol previsto em lei. Os atos praticados pelo relativamente incapaz que, por causa transitória ou definitiva, não possa exprimir sua vontade, são reputados anuláveis (e não nulos). Por isso, produzirá efeitos regulares até que sobrevenha uma decisão judicial. Dificuldades nos casos de pessoas em coma ou em estado vegetativo por exemplo. A ação de curatela ➔ Curatela: processo judicial no qual um juiz, assistido por uma equipe multiprofissional, analisa as necessidades de uma pessoa adulta para o exercício de sua capacidade civil e decide se ela pode ou não praticar atos relacionados ao seu patrimônio e negócios, ou se precisará de apoio para isso. Há dois critériosdeterminantes da incapacidade: Etário: quando facilmente demonstrável, comprovado documentalmente. Psicológico: que exige o reconhecimento judicial, por meio de decisão judicial a ser proferida em ação específica, em procedimento especial de jurisdição voluntária – a ação de curatela. FERNANDA CAUS PRADO DIREITO CIVIL - PARTE GERAL I 24 Numa perspectiva civil-constitucional, a curatela só é justificável nas hipóteses em que o deficiente não puder exprimir a sua vontade e deve levar em consideração as necessidades próprias do curatelado . Por isso, a curatela deve ser proporcional às suas necessidades e vocacionada à sua dignidade. Deve haver moderação das medidas de curatela, bem como ela só deve ser ativa enquanto necessária . Podem pleitear a curatela os pais, tutores, cônjuge, parentes, Ministério Público (em caso de deficiência intelectual ou mental) ou o próprio interessado. O processo de curatela depende do convencimento do juiz sobre as condições da pessoa e de como irá fixar os limites ao exercício da capacidade civil na sentença. Uma vez decretada a curatela, a pessoa com deficiência é considerada relativamente capaz para praticar atos de negócios e patrimoniais, portanto, precisará do apoio do curador. O curador tem o dever de esclarecer qualquer hipótese relacionada a patrimônio e negócios para a pessoa em situação de curatela e, considerando sua opinião, assinará os documentos em conjunto com ela. Natureza jurídica da sentença de curatela e validade dos atos praticados anteriormente. No passado, a sentença apresentava efeitos declaratórios, ou seja, reconhecia o que já existe (não gerava algo novo). Dessa maneira, os efeitos eram retroativos. O novo CPC inovou ao estabelecer que a sentença de curatela apresenta efeitos constitutivos (art. 755 do CPC). Por conta disso, a sentença não produz efeitos retroativos ( ex tunc ), não podendo, por exemplo, desfazer atos praticados sem representação. Os atos e negócios jurídicos praticados pelo incapaz antes da sentença de curatela, independentemente de sua extensão, são válidos. Os efeitos são para o futuro ( ex nunc ). A doutrina, porém, tem temperado essa posição para, em nome da boa-fé, reconhecer a invalidade dos negócios jurídicos praticados pelo incapaz quando a sua incapacidade para manifestar sua vontade era evidente. Efeitos da redução da maioridade civil A codificação material de 2002 frente ao CC/1916 trouxe alteração substancial quanto ao inciso I do art. 4º do Código Civil, reduzindo a idade para se atingir a maioridade civil, de 21 para 18 anos. No campo previdenciário Lei 8213/91, Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado: I- o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência FERNANDA CAUS PRADO DIREITO CIVIL - PARTE GERAL I 25 intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente; (…) § 4º A dependência econômica das pessoas indicadas no inciso I é presumida e a das demais deve ser comprovada. Com a entrada em vigor do Código Civil, houve polêmica, pois a regra de pagamento de dependente da previdência era de até 21 anos. A regra foi mantida: a redução não atingiu a questão dos benefícios previdenciários dos filhos dependentes até os 21 anos. No campo do direito à alimentos A jurisprudência é firme em ampliar a pensão alimentícia até o fim dos estudos, por volta dos 24/26 anos. A maioridade civil não implica em exoneração automática da prestação alimentícia; o que ocorre é a mudança da natureza da obrigação alimentícia: até os 18 anos de idade, o pai presta pensão alimentícia ao filho com base no poder familiar; após os 18 anos, poderá prestar os alimentos, com fundamento no parentesco, devendo o filho demonstrar a sua necessidade. Súmula 358 do STJ : O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos. FERNANDA CAUS PRADO DIREITO CIVIL - PARTE GERAL I 26
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