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Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 1 Aula 08 Legislação Especial – Policial Rodoviário Federal Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente. Professor: Leandro Igrejas Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 2 Tópicos da Aula Introdução ....................................................................................................................................................... 3 Lei n.º 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente. .......................................................... 4 Dos crimes e das infrações administrativas ..................................................................................... 31 Resumo dos pontos mais importantes ............................................................................................... 56 Questões de concursos anteriores ....................................................................................................... 58 Anexo I – Infrações Administrativas ................................................................................................... 65 Aula 08 – Estatuto da Criança e do Adolescente Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 3 Introdução Olá! Na aula de hoje, abordaremos a Lei n.º 8.069/90, o Estatuto da Criança e do Adolescente, conhecido como “ECA”. O edital do concurso da PRF/2013 exigiu o conhecimento das seguintes partes desse diploma: Título II Dos Direitos Fundamentais. Capítulos I Do Direito à Vida e à Saúde. Capítulos II Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade. Título III Da Prevenção. Capítulo II Da Prevenção Especial. Seção III Da Autorização para Viajar. Título V Do Conselho Tutelar. Título VII Dos Crimes e Das Infrações Administrativas. Em que pese a delimitação dos artigos passíveis de cobrança, precisaremos estudar também alguns outros, uma vez que contemplam princípios essenciais à interpretação da Lei e à compreensão de seus institutos. Mas, não se preocupe. Faremos a abordagem, como sempre, de forma objetiva e sem divagações teóricas que, apesar de importantes sob o ponto de vista acadêmico, são desnecessárias à preparação para o nosso concurso. O ponto de maior interesse, é claro, será o Título VII, em especial, a parte que trata dos crimes em espécie. Mãos à obra! Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 4 Lei n.º 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente. O Estatuto da Criança e do Adolescente, o conhecido “ECA”, representou um marco histórico na luta pela garantia dos direitos da infância e da juventude em nosso país. Antes do Estatuto, a legislação tratava a questão dos menores de idade, basicamente, sob o aspecto criminal, com pouca (ou nenhuma) preocupação em garantir a sua proteção e seus direitos fundamentais. Iniciaremos nosso estudo pelo fundamento constitucional do ECA, que reside no art.227 de nossa Lei Maior: Aqui já temos as primeiras observações importantes para nossa prova. O primeiro ponto é que o amparo à criança e ao adolescente não se esgota no âmbito da família. Ao contrário, trata-se de um dever imposto também à sociedade e, em especial, ao Poder Público em todos os níveis (Federal, Estadual, Distrital e Municipal). Além disso, a garantia dos direitos assegurados (vida, saúde, educação, etc.) deve se dar com absoluta prioridade, o que implica, naturalmente, o direcionamento prioritário de recursos orçamentários para as políticas públicas voltadas para essa população. Trata-se de uma das vertentes do princípio da prioridade absoluta à criança e ao adolescente, que deve ser observado, principalmente, pelos Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 5 gestores públicos. Esse princípio servirá de referência para interpretação de várias disposições do ECA. Passemos ao estudo da Lei. As disposições preliminares contidas nos art.1º a 6º estabelecem definições e regras importantes para a interpretação do Estatuto. No art.1º, temos o princípio da proteção integral à criança e ao adolescente, que se materializa, conforme disposto no art.3º, na garantia do desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Título I Das Disposições Preliminares Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. FCC/2012 – TRT/20ª REGIÃO - Juiz do Trabalho (adaptada) Em relação ao direito da criança e do adolescente, julgue o item a seguir: O comando constitucional do caput do art. 227 da Constituição Federal, com a redação da Emenda Constitucional no 65/2010, que estabelece que é dever do Estado, da família e da sociedade, com absoluta prioridade, assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, entre outros, o direito à vida, à saúde, à dignidade e à profissionalização tem no Estatuto da Criança e do Adolescente sua regulamentação principal. Gabarito: Certo. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 6 O inciso II do art.100 do Estatuto assim dispõe: Mas quem deve ser considerado criança e adolescente? A Lei estabeleceu critérios objetivos: criança é a pessoa com idade até 12 anos incompletos. Adolescente é aquele entre 12 e 18 anos de idade. Essa diferenciação se faz necessária porque a Lei, em várias oportunidades, trata de modo diverso esses sujeitos. Um exemplo dessa distinção de tratamento reside na autorização para viagens (art.83 a 85), que será visto adiante. Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Parágrafo único.Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade. Capítulo II Das Medidas Específicas de Proteção Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das medidas: (...) II - proteção integral e prioritária: a interpretação e aplicação de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve ser voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de que crianças e adolescentes são titulares; Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 7 Importante saber também que, excepcionalmente, o ECA pode ser aplicado a pessoas entre 18 e 21 anos de idade1. Criança: 0 a 12 anos incompletos Adolescente: 12 a 18 anos 1 São duas as disposições às quais se aplica o ECA à pessoa entre 18 e 21 anos de idade: art.40 e § 5º do art.121. Vejamos: Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes. Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. (...) §5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade. A emancipação civil gera reflexos (efeitos jurídicos) em relação aos direitos positivados pelo ECA? Essa foi uma questão cobrada no concurso para Juiz de Direito/DF/2013 realizado pelo CESPE. Eis o padrão de resposta da banca examinadora: “(...) o Direito da Criança e do Adolescente encampou a doutrina da proteção integral, diante da singularidade dos sujeitos em situação de desenvolvimento. Assim, o regime de capacidade civil não gera reflexos nos direitos dispostos no ECA (art.2º), pois as normas nele elencadas têm natureza pública. A emancipação é instituto jurídico que gera efeitos patrimoniais, não maculando qualquer direito fundamental especialmente assegurado. Em suma, nenhum adolescente deixa de ser titular de direitos assegurados no ECA por ter sido emancipado, sob pena ofensa à doutrina da proteção integral.” Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 8 O art.3º reforça o entendimento que crianças e adolescente são também sujeitos de direito, tal como previsto no texto constitucional: Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem. (incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) CESPE/2014 - Câmara dos Deputados - Analista Legislativo Julgue o próximo item, referente ao disposto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e às atribuições do conselho tutelar. As disposições do ECA aplicam-se apenas a crianças, indivíduos até doze anos de idade incompletos, e a adolescentes, indivíduos entre doze e dezoito anos de idade. Gabarito: Errado. Comentário: Conforme parágrafo único do art. 2º, nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 9 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; Conforme dissemos, o princípio da proteção integral determina que sejam assegurados à criança e ao adolescente todas as oportunidades e facilidades para o seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. O parágrafo único é fruto de recentíssima alteração legislativa, promovida pela Lei n.º 13.257/2016, que trata das políticas públicas voltadas para a primeira infância. Esse dispositivo reforça a vedação à discriminação, principalmente no que se refere à formulação de políticas públicas, em razão dos parâmetros lá dispostos: nascimento, situação familiar, raça, cor, comunidades em que vivem, etc. Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 10 O art.4º repete a orientação constitucional (art.227) de que a proteção dos direitos assegurados à criança e ao adolescente não é obrigação apenas da família, mas também da comunidade, da sociedade e do Poder Público, em todos os níveis de governo. A afronta ou inobservância dos direitos elencados neste artigo podem configurar infrações administrativas ou até mesmo crimes, conforme veremos adiante (art.225 e seguintes). O art.4º estabelece também a absoluta prioridade na efetivação dos direitos estabelecidos neste Estatuto. Esse princípio (que também tem fundamento do art.227 da CRFB/88) determina à destinação prioritária de recursos para as políticas públicas ao atendimento das necessidades da população infanto-juvenil. Trata-se, portanto, de um comandodirigido, principalmente, aos gestores públicos. O parágrafo único do art.4º define como será concretizada essa prioridade. O rol de ações lá disposto é meramente exemplificativo e não dispensa o Administrador de tomar, no caso concreto, outras providências a fim de dar cumprimento à priorização determinada pelo Estatuto. Esse rol deve ser, na medida do possível, memorizado, já que costuma ser objeto de prova: Primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; Precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; Preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas Destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 11 Os art.228 a 244-B tipificam as condutas atentatórias aos direitos fundamentais das crianças e adolescentes (crimes). Já os art. 245 a 258-C descrevem condutas consideradas infrações administrativas. Todos esses dispositivos penais estão contemplados em nosso edital e serão vistos adiante. Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. TRT 2ª Região/2012 – TRT/ 2ª Região - Juiz do Trabalho A garantia de prioridade absoluta assegurada à criança e ao adolescente concernente a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização e à cultura, dentre outros, compreende: a) Procedência de atendimento apenas nos serviços públicos. b) Primazia de receber proteção e socorro em circunstâncias pré-estabelecidas pelo Poder Público. c) Preferência exclusiva na formulação das políticas sociais públicas. d) Destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. e) Apenas os deveres da família e do poder público na adoção destas medidas prioritárias. Gabarito: D Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 12 Além disso, o descumprimento das determinações do ECA pode ensejar também a responsabilização civil dos agentes2. Perceba que a Lei contempla a possibilidade do cometimento de violações às suas disposições por meio de ação ou omissão dos agentes, como nos casos em que pais ou responsáveis deixem de dar educação, tratamento médico, etc. O art.6º determina que a interpretação das disposições do ECA deve sempre ser feita visando à proteção da criança e do adolescente, que é um dos fins visados pelo Estatuto. Na eventual aplicação de sanções, deve ser ponderada a sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. 2 Art.97, art.201, inciso X e art.216, todos do ECA. Título II Dos Direitos Fundamentais Capítulo I Do Direito à Vida e à Saúde Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. O descumprimento das disposições do ECA pode implicar a responsabilização administrativa, civil e penal do agentes envolvidos. Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 13 Mais uma vez, o Estatuto reforça que as políticas públicas devem ser implementadas pelo Poder Público visando proteger os direitos fundamentais à vida e à saúde. Esses artigos constaram do edital do concurso PRF/2013. Existe, portanto, a possibilidade teórica de a banca examinadora vir a cobrar alguma questão sobre os mesmos, caso sejam mantidos no próximo edital. Não acredito, contudo, que valha a pena investir muito tempo na leitura desses artigos. Isso porque a probabilidade de cobrança em prova, apesar de existente, é baixa, em razão de sua pouca afinidade com a natureza do cargo de Policial Rodoviário Federal. Sugiro que você aguarde o edital para confirmar a manutenção dos mesmos no programa. Caso afirmativo, a leitura do texto “seco” da Lei já será suficiente para realizar a prova, sobretudo por se tratar, em grande parte, de alteração legislativa recente, não havendo doutrina ou jurisprudência consolidados sobre o tema. Nesse sentido, as eventuais questões, ressalvada a hipótese de um comportamento atípico do CESPE, exigirão o conhecimento “literal” da Lei. Prosseguindo em nosso estudo! As observações a seguir são válidas para os art.8º a 12 e 14 do ECA. Capítulo II Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 14 Conforme dissemos, o ECA referendou o entendimento que o princípio da dignidade da pessoa humana independe da idade do seu destinatário. Ou seja, alcança a criança e o adolescente, que também são sujeitos de direitos, cujo cumprimento pode ser exigido, se for o caso, pela via judicial. O direito à liberdade, ao respeito e à dignidade compreende os seguintes aspectos: Liberdade (art.16) Respeito (art.17) Dignidade (art.18) I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; II - opinião e expressão; III - crença e culto religioso; IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação; VI - participar da vida política, na forma da lei; VII - buscar refúgio, auxílio e orientação. Inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da: Imagem. Identidade. Autonomia dos valores, ideias e crenças. Espaços e objetos pessoais. Permanecerem a salvo de qualquer tratamento: Desumano. Violento. Aterrorizante. Vexatório. Constrangedor. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 15 TJ-PR/2011 – TJ/PR – Juiz de Direito De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, o direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: I. Ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, sem restrições de qualquer natureza. II. Opinião e expressão. III. Crença e culto religioso. IV. Brincar, praticar esportes e divertir-se, quando fundado em atividade pedagógica efetiva. V. Participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação. VI. Participar da vida política e de atividade partidária, na forma da lei. VII. Buscar refúgio, auxílio e orientação. Está(ão) CORRETA(S): a) Somente as assertivas I, III, V e VI. b) Somente as assertivas III, IV, VI e VII. c) Somente as assertivas II, IV, VI e VII. d) Somente as assertivas II, III, V e VII. Gabarito: D Comentário: Aplicação direta do art.16 do ECA. Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá- los, educá-los ou protegê-los. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 16 A Lei n.º 13.010/2014, conhecida como a "Lei da Palmada", incluiu esse dispositivo no ECA visando à proibição, a qualquer pretexto, de castigos físicos ou tratamentos cruéis ou degradantes no cuidado e educação de crianças e adolescentes. Essa vedação se aplica aos: Pais Família ampliada, Responsáveis, Agentes públicos executores de medidas socioeducativas; ou Qualquer pessoa encarregada de cuidar, tratar, educar ou proteger crianças e adolescentes. Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se: I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente que resulte em: a) sofrimento físico; ou b) lesão; II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente que: a) humilhe; ou b) ameace gravemente; ou c) ridicularize. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 17 O conceito de família natural e ampliada encontra-se no art.25 do ECA: Família NATURAL Família AMPLIADA Comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. Aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade. Perceba que basta memorizar que a vedação se dirige a qualquer pessoa encarregada do cuidado, educação e proteção. IDECAN/2016 - Prefeitura de Natal - Advogado Estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente que a criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê- los. Para os fins do referido estatuto, considera-se tratamento cruel ou degradante a conduta ou forma cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente que: a) Ridicularize ou resulte em lesão. b) Resulte em sofrimento físico ou lesão. c) Humilhe ou resulte em sofrimento físico. d) Humilhe, ameaça gravemente ou ridicularize. Gabarito: D Comentário: A definição de tratamento cruel ou degradante encontra-se no inciso II do parágrafo único do art.18-A do ECA. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 18 Perceba que a mera suspeita dessas violações já é motivo suficiente para comunicação obrigatória ao Conselho Tutelar. O Conselho Tutelar é órgão permanente, autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei (art.131 do Estatuto). A omissão da comunicação obrigatória pode configurar infração administrativa (e não crime!) prevista no art.245 do ECA: Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente: Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência. Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 19 Este artigo lista as medidas cabíveis em caso de utilização de castigo físico ou tratamento cruel ou degradante, a qualquer pretexto, contra criança e adolescente. Perceba que as medidas previstas nesse artigo não afastam a responsabilização penal ou civil do agressor, se for o caso. Importante memorizar, se possível, o rol das medidas cabíveis, em razão de sua reiterada cobrança em concursos. Além disso, é importante saber que compete ao Conselho Tutelar a aplicação de tais medidas, e não ao Poder Judiciário. Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os responsáveis, os agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou protegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou degradante como formas de correção, disciplina, educação ou qualqueroutro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão aplicadas de acordo com a gravidade do caso: I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família; II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; III - encaminhamento a cursos ou programas de orientação; IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado V - advertência. Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo serão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras providências legais. Compete ao Conselho Tutelar (e não ao Poder Judiciário) a aplicação das medidas decorrentes do emprego de castigo físico ou tratamento cruel ou degradante contra criança ou adolescente (art.18-B). Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 20 CESPE/2015 – DEPEN - Serviço Social Com relação a políticas, diretrizes, ações e desafios referentes à família, à criança e ao adolescente, julgue o item subsecutivo. Caso a pessoa encarregada de cuidar de crianças utilize tratamento cruel como forma de correção, ela estará sujeita a encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família, a tratamento psicológico ou psiquiátrico e a cursos ou programas de orientação. Gabarito: Certo Comentário: As medidas relacionadas no enunciado encontram-se previstas no art.18-B. Seção III Da Autorização para Viajar Art. 83. Nenhuma CRIANÇA poderá viajar para fora da comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou responsável, sem expressa autorização judicial. § 1º A autorização não será exigida quando: a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana; Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 21 As restrições para viagens de crianças e adolescentes representam importante mecanismo de combate ao tráfico de pessoas em nosso país. Trata- se, assim, de mais um instrumento a serviço da proteção integral da população infanto-juvenil (art.1º do ECA). A regra é que a criança só poderá viajar para fora da comarca onde resida se estiver acompanhada dos pais/responsável, ou então com expressa autorização judicial. O primeiro ponto a destacar é que a exigência de autorização para viagem, dentro do território nacional, se aplica apenas a crianças e não a adolescentes. Não há, em relação a esses, restrição para viagem dentro do território nacional. As viagens para o exterior são tratadas no art.84, a seguir. Importante memorizar as situações onde não será exigida a autorização, em razão da frequente cobrança em concursos. Note que na hipótese de autorização fornecida por pai, mãe ou responsável para viagem acompanhada por pessoa maior, não há previsão legal para reconhecimento de firma (ao contrário do previsto no art.84, II, que será visto adiante). A falta de autorização prevista neste artigo configura, em tese, a infração administrativa prevista no art.251 do ECA. b) a criança estiver acompanhada: 1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, comprovado documentalmente o parentesco; 2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe ou responsável. § 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou responsável, conceder autorização válida por dois anos. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 22 Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qualquer meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, 84 e 85 desta Lei: Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência. CESPE/2004 - Polícia Federal - Agente de Polícia Federal Em cada um dos itens a seguir, é apresentada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada. Sabendo que Patrícia está prestes a viajar de carro de São Paulo para Brasília, um amigo pediu-lhe que levasse consigo Antônio, que é filho dele e tem 17 anos de idade. Patrícia aceitou o pedido, mas solicitou a seu amigo que lhe conferisse uma autorização por escrito, com firma reconhecida em cartório, para evitar problemas na condução de Antônio. Nessa situação, a autorização solicitada por Patrícia é desnecessária para que Antônio possa viajar com ela de maneira regular. Gabarito: Certo Comentário: Observe que Antônio é adolescente (17 anos), não necessitando de autorização para viajar no território nacional, nos termos do art.83 do ECA. Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a autorização é dispensável, se a criança ou adolescente: I - estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável; II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente pelo outro através de documento com firma reconhecida. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 23 O art.84 trata da saída de criança e adolescente do país (lembre-se que o art.83 trata apenas de crianças, e não de adolescentes). Para viagem ao exterior, a regra também é a autorização judicial, que poderá ser dispensada quando a criança ou adolescente estiver acompanhado de ambos os pais ou, por apenas um deles, desde que expressamente autorizado pelo outro. Perceba que a autorização dada pelo pai/mãe que não acompanhará a criança ou adolescente deve ser através de documento com firma reconhecida (diferentemente do que ocorre em viagem nacional, art.83). A falta de autorização prevista neste artigo também configura infração administrativa prevista no art.251 do ECA. A autorização referida neste artigo tem aplicação no bojo de processos de adoção por estrangeiros, e terá lugar, normalmente, após o transito em julgado da sentença (§7º do art.47 do Estatuto). As regras atinentes ao processo de adoção não constaram do edital da PRF/2013. A falta da autorização prevista neste artigo também pode configurar a infração administrativa prevista no art.251. Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, nenhuma criança ou adolescente nascido em território nacional poderá sair do País em companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no exterior. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof.Leandro Igrejas 24 O Conselho Tutelar é um órgão criado por lei municipal (não se trata, portanto, de órgão jurisdicional, mas sim administrativo), com a missão de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente naquela base territorial. Atua, portanto, no fomento à proteção integral prevista no art.1º do ECA. Para tanto, a lei garante a sua autonomia, traduzida na independência funcional. A partir daí, conclui-se que suas decisões não precisam ser submetidas à ratificação do Poder Executivo Municipal (ou do Poder Judiciário) para que produzam efeitos. Não há, portanto, subordinação funcional. Naturalmente, tais decisões, como qualquer ato administrativo, podem ser revistas pelo Poder Judiciário em caso de ilegalidade, mediante provocação de quem seja legitimado, nos termos do art.137 do ECA: Título V Do Conselho Tutelar Capítulo I Disposições Gerais Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei. Art. 132. Em cada Município e em cada Região Administrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um) Conselho Tutelar como órgão integrante da administração pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos pela população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida 1 (uma) recondução, mediante novo processo de escolha. Observe que o ECA determina a criação de, no mínimo, 1 (um) Conselho Tutelar, em cada Município e em cada Região Administrativa do Distrito Federal. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 25 Possui legítimo interesse aquele que, de algum modo, for afetado por decisão desfavorável do Conselho Tutelar, como, por exemplo, nos casos de aplicação das medidas previstas no art.18-B, já estudado. Importante que você saiba que as decisões do Conselho Tutelar tem caráter coercitivo. Ou seja, devem ser obrigatoriamente cumpridas por seus destinatários, entre os quais pode figurar até mesmo o Poder Público. Além disso, o Conselho também pode promover a execução de suas próprias decisões (art.136, III). O descumprimento de determinação do Conselho Tutelar configura, em tese, o crime (não infração administrativa!) previsto no art.249 do ECA: Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho Tutelar. Por fim, o Ministério Público, em razão de sua função fiscalizatória, também possui legitimidade para questionar atos do Conselho Tutelar. Repito aqui observação similar àquela relativa aos art.8º a 12 e 14, já tratados acima. Os art.133, 134, 135, 138, 139 e 140 tratam de particularidades do funcionamento dos Conselhos Titulares que não guardam maior afinidade, nem com a natureza do cargo de Policial Rodoviário Federal, nem com o estilo de prova típico dos concursos da área policial. As observações a seguir são válidas para os art.133, 134, 135, 138, 139 e 140 do ECA. Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente poderão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de quem tenha legítimo interesse. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 26 No entanto, tendo em vista a possibilidade, ainda que teórica, de a banca examinadora vir a cobrar alguma questão envolvendo esses temas, recomendo a sua leitura. Sigamos em frente! Capítulo II Das Atribuições do Conselho Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII; II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art. 129, I a VII; III - promover a execução de suas decisões, podendo para tanto: a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança; b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento injustificado de suas deliberações. IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente; V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência; VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional; Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 27 O art.136 trata das atribuições do Conselho Tutelar. Esse é mais um rol com o qual você deve estar familiarizado, já que costuma ser cobrado – de forma literal – em concursos. Detalhes importantes: I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII. Os art.98 e 105 dispõem sobre as hipóteses onde caberá a aplicação das medidas de proteção à criança e ao adolescente: VII - expedir notificações; VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente quando necessário; IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente; X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição Federal; XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural. XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos profissionais, ações de divulgação e treinamento para o reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e adolescentes. Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal entendimento e as providências tomadas para a orientação, o apoio e a promoção social da família. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 28 Ocorrendo alguma das situações descritas nos incisos do art.98 (criança ou adolescente em situação irregular) ou no art.105 (práticade ato infracional 3 por criança (não adolescente!)), o Conselho Titular será a autoridade competente para aplicação das medidas de proteção elencadas nos incisos I a VII do art.101. São elas: 3 Ato infracional é a conduta descrita como crime ou contravenção penal, quando praticada por criança ou adolescente (art.103 do ECA). Das Medidas de Proteção Capítulo I Disposições Gerais Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; III - em razão de sua conduta. Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as medidas previstas no art. 101. Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da criança e do adolescente; Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 29 Então, essas medidas de proteção são destinadas à criança que comete ato infracional (art.101). Em relação aos adolescentes que cometem atos infracionais são aplicáveis as medidas sócio-educativas previstas no art.112. No entanto, sua aplicação é da competência do Poder Judiciário, e não do Conselho Tutelar. II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art. 129, I a VII; O Conselho Tutelar também será a autoridade competente para aplicação de medidas aos pais ou responsáveis. São elas: V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; VII - acolhimento institucional; * Os incisos VIII e IX não são da competência do Conselho Tutelar* VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; IX - colocação em família substituta. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 30 IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente Em relação aos crimes, a obrigação do Conselho Tutelar não se restringe àqueles previstos no ECA. Lembre-se que existem crimes passíveis de serem cometidos contra crianças e adolescentes também fora do ECA (Exemplo: homicídio, art.121 do CP). Título IV Das Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável: I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família; (Redação dada dada pela Lei nº 13.257, de 2016) II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação; V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua freqüência e aproveitamento escolar; VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado; VII - advertência; * Os incisos VIII a X não são da competência do Conselho Tutelar* VIII - perda da guarda; IX - destituição da tutela; X - suspensão ou destituição do poder familiar. Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto nos arts. 23 e 24. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 31 Caberá ao Conselho, de ofício, a comunicação ao Ministério Público de qualquer fato que constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente, estejam ou não previstos no ECA. Dos crimes e das infrações administrativas No sistema de proteção instituído pelo ECA, algumas condutas - que violam de forma grave os direitos assegurados às crianças e adolescentes - foram tipificadas como crimes (art.228 a 244-B). Em relação a esses, o processo e julgamento se dá, naturalmente, pelas regras do Código de Processo Penal. Decidiu também o legislador descrever outro rol de condutas que também deveriam ser penalizadas, embora com menor gravidade, tendo sido classificadas como infrações administrativas (art.245 a 258-C). Em relação a essas, o processo se dá na forma dos art.194 e seguintes do ECA, sendo a CESPE/2014 - Câmara dos Deputados - Analista Legislativo Julgue o próximo item, referente ao disposto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e às atribuições do conselho tutelar. Caso o conselho tutelar entenda que o afastamento do convívio familiar é necessário, poderá decidir sobre a destituição do poder familiar, desde que informado ao Ministério Público. Gabarito: Errado Comentário: A destituição do poder familiar, apesar de prevista no inciso X do art.129 do ECA, não se encontra na esfera de competências do Conselho Tutelar (inciso II do art.136). Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 32 Justiça da Infância e da Juventude 4 competente para aplicação das penalidades. Por fim, como você já sabe, o art.104 do ECA, em consonância com o art.228 da CRFB/885, estabelece que são penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, que ficam sujeitos às medidas previstas nesta Lei. Iniciemos o estudo dos crimes. Trataremos agora dos crimes praticados contra a criança e o adolescente previstos no ECA. Pontos importantes para a prova: Os crimes previstos no ECA podem ser comissivos (cometidos por meio de ação) ou omissivos (omissão). 4 Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para: (...) VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações contra norma de proteção à criança ou adolescente; 5 Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial. Título VII Dos Crimese Das Infrações Administrativas Capítulo I Dos Crimes Seção I Disposições Gerais Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados contra a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem prejuízo do disposto na legislação penal. Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as normas da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao processo, as pertinentes ao Código de Processo Penal. Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública incondicionada. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 33 Nem todo crime cometido contra criança e adolescente estará, necessariamente, previsto no ECA. (Exemplo: Homicídio, art.121 do CP). Todos os crimes previstos no ECA são de ação penal pública incondicionada (art.227). Crianças e adolescentes não cometem crimes ou contravenções penais, mas sim atos infracionais6. Trata-se de uma opção do legislador, de modo a não considerar a pessoa ainda em desenvolvimento como “criminoso”, mas sim “infrator”. Em caso de cometimento de “atos infracionais”, a criança estará sujeita às medidas de proteção previstas no art.101 do ECA, conforme já vimos. Já aos adolescentes poderão ser aplicadas as medidas sócio- educativas previstas no art.112 do ECA. Em que pese esse artigo não ter constado expressamente do Edital da PRF/2013, creio que seja importante que você esteja familiarizado(a) com ele: 6 Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal. Das Medidas Sócio-Educativas Seção I Disposições Gerais Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V - inserção em regime de semi-liberdade; VI - internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 34 Passemos aos crimes em espécie. Omissão de registro ou fornecimento de declaração de nascimento O art.10 do ECA estabelece: Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a: (...) I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos; (...) IV - fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente as intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato; O sujeito ativo deste crime é o encarregado de serviço ou o dirigente de estabelecimento de atenção à saúde. Trata-se, portanto, de crime próprio, existindo previsão para punição na modalidade culposa. O sujeito passivo é a gestante ou parturiente. A consumação se dá com a omissão, independente de qualquer resultado posterior (crime omissivo próprio). Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de manter registro das atividades desenvolvidas, na forma e prazo referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à parturiente ou a seu responsável, por ocasião da alta médica, declaração de nascimento, onde constem as intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato: Pena - detenção de seis meses a dois anos. Parágrafo único. Se o crime é culposo: Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 35 Não identificação de neonato ou não realização de exames obrigatórios O art.10 do ECA estabelece: Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a: (...) II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade administrativa competente; (...) III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como prestar orientação aos pais; (...). Esse tipo penal visa evitar os tristes casos de troca de recém-nascidos que, infelizmente, ainda ocorrem nos dias de hoje. O sujeito ativo deste crime é o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante. Trata-se, portanto, de crime próprio, existindo previsão para punição na modalidade culposa. O sujeito passivo é a parturiente e o recém-nascido. A consumação se dá com a omissão, independente de qualquer resultado posterior (crime omissivo próprio). Perceba que, em relação à Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de identificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto, bem como deixar de proceder aos exames referidos no art. 10 desta Lei: Pena - detenção de seis meses a dois anos. Parágrafo único. Se o crime é culposo: Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 36 conduta “deixar de identificar corretamente o neonato e a parturiente” não é necessário que ocorra a troca de recém-nascidos para que se consume o crime. Privação ilegal de liberdade de criança ou adolescente Dispõe o art.106 do ECA: Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente O sujeito ativo deste crime pode ser qualquer pessoa. Não há necessidade que seja apenas o agente policial. Trata-se, portanto, de crime comum. O sujeito passivo é a criança ou o adolescente cuja liberdade foi cerceada. A consumação se dá com a efetiva privação ilegal da liberdade. Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente: Pena - detenção de seis meses a dois anos. Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem observância das formalidades legais. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas37 ECA x Lei de Abuso de Autoridade O art.4º da Lei n.º 4.898/65 dispõe: Art. 4º Constitui também abuso de autoridade: a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder. No caso do sujeito passivo ser criança ou adolescente, o crime será o do art.230 do ECA, e não o previsto na Lei de Abuso de Autoridade. Deixar de comunicar a apreensão de criança ou adolescente Dispõe o art.107 do ECA: Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local onde se encontra recolhido serão incontinenti comunicados à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada. O sujeito ativo deste crime é a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou adolescente. Trata-se, portanto, de crime próprio. O sujeito passivo é a criança ou adolescente apreendidos. A consumação se dá com a omissão, independente de qualquer resultado posterior (crime omissivo próprio). Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata comunicação à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada: Pena - detenção de seis meses a dois anos. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 38 Submissão de criança ou adolescente a vexame ou constrangimento O sujeito ativo deste crime pode ser qualquer pessoa: pais, responsáveis, agentes educadores, etc. Trata-se, portanto, de crime comum. O sujeito passivo é a criança ou o adolescente submetidos ao vexame ou constrangimento. A consumação se dá com a efetiva submissão da criança ou adolescente a vexame ou constrangimento Note que o uso de algemas, fora dos parâmetros excepcionais estabelecidos pela Sumula Vinculante n.º 11/STF pode, em tese, configurar o crime aqui em estudo. Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento: Pena - detenção de seis meses a dois anos. Súmula Vinculante 11/STF: Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 39 Deixar de liberar criança ou adolescente ilegalmente apreendido O sujeito ativo deste crime é a autoridade policial ou o juiz. Trata-se, portanto, de crime próprio. O sujeito passivo é a criança ou adolescente apreendidos. A consumação se dá com a omissão, sem que exista justa causa (crime omissivo próprio). Descumprimento injustificado de prazo O sujeito ativo deste crime é a autoridade responsável pelo cumprimento do prazo (autoridade policial, juiz ou membro do MP). Trata-se, portanto, de crime próprio. Note que o prazo objeto deste crime é aquele que opera em benefício do adolescente privado de liberdade. O sujeito passivo é o adolescente (lembrar que crianças não estão sujeitas à internação, art.101). Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão: Pena - detenção de seis meses a dois anos. Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta Lei em benefício de adolescente privado de liberdade: Pena - detenção de seis meses a dois anos Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 40 A consumação se dá com o efetivo descumprimento do prazo. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade O sujeito ativo deste crime pode ser qualquer pessoa. Trata-se, portanto, de crime comum. O sujeito passivo são as autoridades cujas atribuições foram dificultadas (embaraço) ou impedidas, além do próprio Estado. As atribuições do Conselho Titular foram estudadas no art.136 do ECA. A consumação se dá com o efetiva impedimento ou embaraço a ação da autoridade. Subtração de criança ou adolescente sob guarda em virtude de lei ou ordem judicial O sujeito ativo deste crime pode ser qualquer pessoa. Trata-se, portanto, de crime comum. O agente deve atuar com a finalidade de colocar a Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei: Pena - detenção de seis meses a dois anos. Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto: Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 41 criança ou adolescente em lar substituto. Sem esse dolo específico, o crime não estará configurado. O sujeito passivo é quem tem a criança ou adolescente sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial. Perceba que a criança ou adolescente deve estar em poder do sujeito passivo em virtude de lei ou ordem judicial, e não apenas “de fato”. A consumação se dá com a efetiva subtração com a finalidade específica de colocação em lar substituto, sendo irrelevante que isso venha ou não a ocorrer. Promessa ou entrega de filho ou pupilo a terceiro mediante paga O sujeito ativo da conduta prevista no caput deste crime são os pais (filho), tutores e detentores da guarda. Trata-se, portanto, de crime próprio. Já em relação à conduta equiparada prevista no parágrafo único, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa que ofereça ou pague a recompensa pelo filho ou pupilo a ser entregue. O sujeito passivo é o filho ou pupilo. A consumação se dá com a mera promessa ou com a efetiva entrega do filho ou pupilo pelos pais (filho), tutores e detentores da guarda (caput), independente do efetivo recebimento da paga ou recompensa. Já em relação ao parágrafo único, a consumação se dá com o mero “oferecimento” ou com a efetiva paga ou recompensa. Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga ou recompensa: Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa. Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece ou efetiva a paga ou recompensa.Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 42 Envio ilícito de criança ou adolescente para o exterior O sujeito ativo deste crime pode ser qualquer pessoa. Trata-se, portanto, de crime comum. O sujeito passivo é a criança ou adolescente. Perceba que não necessariamente a conduta será realizada com o fito de lucro: a inobservância das formalidades legais também configura o crime. A consumação se dá com a promoção (autoria) ou auxílio à prática do ato (participação), sendo irrelevante que o envio tenha ou não ocorrido efetivamente. O parágrafo único descreve uma conduta qualificada: quando a promoção ou auxílio do ato se dá com emprego de violência, grave ameaça ou fraude, a reprovação será, naturalmente, maior. Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito de obter lucro: Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa. Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 43 Cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente . Este tipo penal visa evitar a produção e o registro de cena de sexo envolvendo criança ou adolescente. O art.241-E traz o esclarece o conceito de “cena de sexo explícito ou pornográfica”: Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” compreende qualquer situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais. Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. § 1o Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a participação de criança ou adolescente nas cenas referidas no caput deste artigo, ou ainda quem com esses contracena. § 2o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete o crime: I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de exercê-la; II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade; ou III – prevalecendo-se de relações de parentesco consangüíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem, a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com seu consentimento. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 44 O sujeito ativo deste crime pode ser qualquer pessoa. Trata-se, portanto, de crime comum. Note que aquele que contracena com a criança ou adolescente também comete o crime. O sujeito passivo é a criança ou adolescente. A consumação se dá com qualquer das condutas descritas no caput e no § 1o . Esteja atento às causas de aumento de pena do § 2o. O agente que se aproveita de sua função pública ou da relação doméstica, de parentesco ou de autoridade sobre a vítima para prática do crime, receberá uma punição maior. Venda de registro de cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente O sujeito ativo deste crime pode ser qualquer pessoa. Trata-se, portanto, de crime comum. O sujeito passivo é a criança ou adolescente. A consumação se dá com a venda ou com a exposição à venda de fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente. Perceba que não é necessário que a venda ocorra efetivamente. A mera exposição à venda já é conduta punível. Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 45 Divulgação de registro de cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente O sujeito ativo deste crime pode ser qualquer pessoa. Trata-se, portanto, de crime comum. O sujeito passivo é a criança ou adolescente. A consumação se dá com a prática de qualquer das condutas descritas, independente de qualquer resultado (Por exemplo: não descaracteriza o crime o fato de o agente ter disponibilizado o registro, mas que seu conteúdo não tenha sido acessado por ninguém). Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. § 1o Nas mesmas penas incorre quem: I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo. II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo § 2o As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1o deste artigo são puníveis quando o responsável legal pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo. Legislação Penal Especial – Teoria e exercícios comentados Policial Rodoviário Federal Aula 08 - Estatuto da Criança e do Adolescente Prof. Leandro Igrejas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Leandro Igrejas 46 O §1o traz condutas equiparadas que, no entanto, somente serão puníveis se o responsável legal pela prestação do serviço, após ter sido notificado, não desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito. Aquisição, posse ou armazenamento de registro de cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente O sujeito ativo deste crime pode ser qualquer pessoa. Trata-se, portanto, de crime comum. O sujeito passivo é a criança ou adolescente. A consumação se dá com a prática de qualquer das condutas descritas, independente de qualquer resultado. Art. 241-B.