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Monografia Mário César Procópio Santos O prévio requerimento administrativo como condição para propositura de ação previdenciária

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� PAGE \* MERGEFORMAT �57�
Centro Universitário do Distrito Federal – UDF
Coordenação do Curso de Direito
Mário César Procópio Santos
O PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO COMO CONDIÇÃO PARA PROPOSITURA DE AÇÃO PREVIDENCIÁRIA
Brasília
2013�
Mário César Procópio Santos
O PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO COMO CONDIÇÃO PARA PROPOSITURA DE AÇÃO PREVIDENCIÁRIA
Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação de Direito do Centro Universitário do Distrito Federal - UDF, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito Orientador: Paulo Cardoso Oliveira.
Brasília
2013�
Reprodução parcial permitida desde que citada a fonte.
	Santos, Mário César Procópio.
O prévio requerimento administrativo como condição para propositura de ação previdenciária / Mário César Procópio Santos. – Brasília, 2013.
59 f.
Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação de Direito do Centro Universitário do Distrito Federal - UDF, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito. Orientador: Paulo Cardoso Oliveira.
1. Direito Previdenciário. I. O prévio requerimento administrativo como condição para propositura de ação previdenciária.
CDU 349.3:369.01
�
Mário César Procópio Santos
O PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO COMO CONDIÇÃO PARA PROPOSITURA DE AÇÃO PREVIDENCIÁRIA
Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação de Direito do Centro Universitário do Distrito Federal - UDF, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito. Orientador: Paulo Cardoso Oliveira
Brasília, 05 de novembro de 2013.
Banca Examinadora
_________________________________________
Paulo Cardoso de Oliveira
Mestre
UDF
__________________________________________
Alberto Gomes Santana Carneiro
Doutor
UDF
___________________________________________
Hildebrando Afonso Carneiro
Mestre
UDF
Nota: 10,0 (dez)
�
Dedico à minha família, especialmente à minha irmã, aos meus pais e à minha avó, que durante toda essa graduação me estimularam e apoiaram quando necessário.
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AGRADECIMENTO
Agradeço primeiramente a Deus, por mais uma conquista; ao meu orientador, pela tranquilidade, disponibilidade, dedicação e correções; e aos bibliotecários pelo suporte em todas as pesquisas.
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“Um país se faz com homens e livros.”
M. Lobato
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RESUMO
O presente trabalho de conclusão tem por objetivo analisar a necessidade do prévio requerimento administrativo para propositura de ação em que se pretende o recebimento de benefício previdenciário. Isso porque há uma discussão no meio jurídico sobre a existência de interesse de agir processual quando não há a resistência da parte contrária. Para esclarecimento sobre o assunto, de início, é feita uma análise acerca das condições da ação, principalmente relacionada ao interesse de agir, de acordo com o que estabelece o Código de Processo Civil, a doutrina e a jurisprudência. Após, examina-se o procedimento administrativo para requerimento de benefícios no âmbito previdenciário analisando as funções estatais relacionados à assistência e seguridade social e estabelecendo a competência da autarquia previdenciária para desempenho de tais funções. Por fim, é feita uma análise sobre os argumentos utilizados pela doutrina e pela jurisprudência, para sustentar tanto a necessidade, quanto a desnecessidade do anterior pleito na esfera administrativa de um beneficio previdenciário para propositura de ação judicial.
Palavras-chave: Previdenciário. Benefícios. Prévio requerimento administrativo. Condições da ação. Interesse de agir.
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ABSTRACT
This paper aims to analyze the necessity of prior application on the administrative actions to obtain pension benefits. Therefore there is a discussion in the legal community about the existence of procedural interest to act when there is no resistance from the opposite part. For elucidation on the matter, this paper firstly proceed to an analysis of all the broad terms of the action, mainly related to the interest to act according to the terms of the Code of Civil Procedure, doctrine and jurisprudence. Then the administrative procedure for application for benefits under pension is analyzed, as well as the state functions related to health care and social security and the jurisdiction of the local authority social security for the performance of such functions. At last it analysis the arguments used by the doctrine and jurisprudence, to support both the need and unnecessariness of the prior application on the administrative actions in order to obtain a social benefit.
Key words: Social Security Law. Social welfare institution. Social security benefits. Administrative Requirements. Condition of action. Legal interest in bringing proceedings.
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SUMÁRIO
111 INTRODUÇÃO	�
142 O INTERESSE DE AGIR COMO CONDIÇÃO DA AÇÃO	�
142.1 CONDIÇÕES DA AÇÃO	�
152.1.1 O interesse de agir	�
162.1.1.1 Binômio necessidade-utilidade	�
193 PROCESSO ADMINISTRATIVO PREVIDENCIÁRIO	�
193.1 O EXERCÍCIO DO PODER PELAS FUNÇÕES ESTATAIS	�
203.2 PROCESSO ADMINISTRATIVO	�
223.3 ASSISTÊNCIA E SEGURIDADE SOCIAL	�
233.4 PEDIDO ADMINISTRATIVO DOS BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS	�
264 PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO COMO CONDIÇÃO DA AÇÃO	�
274.1 AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL	�
284.2 AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR	�
304.2.1 Ausência de pretensão resistida	�
344.3 PRINCÍPIO DO LIVRE ACESSO À JUSTIÇA	�
374.4 PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES	�
384.4.1 Função do Instituto Nacional do Seguro Social de análise dos requerimentos administrativos	�
404.5 SUPERLOTAÇÃO JUDICIÁRIA NO ÂMBITO PREVIDENCIÁRIO	�
414.6 CORRIQUEIRA NEGATIVA DOS PEDIDOS NO ÂMBITO ADMINISTRATIVO	�
424.7 POSICIONAMENTO DOS TRIBUNAIS SUPERIORES	�
434.7.1 Superior Tribunal de Justiça	�
474.7.2 Supremo Tribunal Federal	�
474.7.2.1 Exaurimento da via administrativa	�
484.7.2.2 Repercussão Geral	�
505 CONCLUSÃO	�
52REFERÊNCIAS	�
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1 INTRODUÇÃO
No âmbito das ações previdenciárias existe uma discussão acerca da exigência de prévia postulação administrativa do benefício que pretende gozar o requerente, para comprovação do interesse de agir. Isso porque muitos postulantes propõem ações diretamente no Poder Judiciário sem que antes tenham requerido o benefício na autarquia previdenciária.
Nesse contexto, o Instituto Nacional do Seguro Social tem, dentre outras, a função de análise dos benefícios previdenciários. Ocorre que, ao postular o benefício unicamente no Poder Judiciário, além do Judiciário assumir função que compete ao Poder Executivo, não se configura a pretensão resistida, necessária à caracterização do interesse de agir e, consequentemente, das condições da ação.
Por um lado, os que entendem pela exigibilidade do anterior rogo na esfera administrativa, e cabe salientar que o Instituto Nacional do Seguro Social faz frente a essa corrente, se arrimam nas alegações de que a ausência de tal postulação fere o princípio da separação dos poderes, além de causar a superlotação do Judiciário Federal e, por fim, sustentam, que tal ação previdenciária carece de uma das condições da ação, qual seja, o interesse de agir.
De outra banda, há quem defenda a desnecessidade da postulação administrativa antes da postulação judicial e se apoia no princípio do acesso à justiça, da falta de previsão legal que exija tal requisito e a corriqueira negativa pela autarquia previdenciária em deferir os benefícios.
Cada um dos argumentos apresentados, tanto do ponto de vista da exigibilidade, quanto da desnecessidade do prévio pedido administrativo dos benefícios, merece análise minuciosa, sendoesta a proposta do presente trabalho.
Até o presente momento, não existe legislação especifica ou pronunciamento pelo Supremo Tribunal Federal que pacifique o assunto, via de consequência os Tribunais Regionais Federais têm se manifestado de modo diferente acerca do assunto.
Assim, em consideração à relevância do presente tema no âmbito do ordenamento jurídico atual, devem ser pontualmente ressaltadas as manifestações dos Tribunais Regionais Federais, do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal.
Cabe esclarecer, que o presente trabalho não pretende analisar o exaurimento da via administrativa para propositura de ação previdenciária, mas apenas a prévia provocação administrativa, uma vez que aquela questão já tem entendimento pacificado no ordenamento jurídico, no sentido da desnecessidade do esgotamento administrativo.
O método a ser adotado no presente trabalho é jurídico-dedutivo, pois a partir do estudo de teses, conceitos e princípios jurídicos pré-estabelecidos, será possível examinar a hipótese de postulação judicial sem o anterior requerimento na esfera administrativa do beneficio previdenciário que se pretende.
No tocante ao marco teórico, como a técnica de pesquisa será bibliográfica-jurisprudencial e documental indireta, será feita uma análise bibliográfica referente ao assunto a ser estudado, por meio da leitura e exploração de artigos científicos, teses, livros, periódicos, destacando-se os autores Alexandre Henry Alves, João Batista Lazzari e Enderson Danilo Santos de Vasconcelos, exegese de leis, estudo de súmulas e informações relevantes publicadas, com a necessária comparação e análise jurisprudencial, de modo a tornar possível a execução de um trabalho completo e diversificado.
O trabalho será desenvolvido em três capítulos (seções). Inicialmente, será realizado um estudo acerca do interesse de agir, esclarecendo quais são as condições da ação e conceituando-as, dando maior enfoque ao interesse de agir que se divide no binômio utilidade-necessidade processual.
No segundo, serão estabelecidos os aspectos do processo administrativo no âmbito previdenciário, esclarecendo de inicio a divisão dos poderes estatais refletida na distribuição de funções; em sequência, buscar-se-á a conceituação do processo administrativo, elucidando suas principais características; em seguida, será analisada a função de prestação de assistência e seguridade social pelo Instituto Nacional do Seguro Social. Postos tais esclarecimentos, serão apontadas as principais características do procedimento administrativo na esfera previdenciária.
No terceiro, serão analisados os argumentos e pontos de vista, de modo alternado e contextualizado, dos autores que entendem tanto pela necessidade quanto pela desnecessidade do prévio pedido administrativo dos benefícios previdenciários para propositura de ação, analisando e comparando, nesse momento, os posicionamentos dos Tribunais Regionais Federais. Por fim, adentrar-se-á no posicionamento, primeiro do Superior Tribunal de Justiça, examinando a jurisprudência existente e as divergências de entendimento das Turmas no âmbito desse tribunal. Após, no reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal da repercussão geral sobre o assunto, esclarecendo-se que, até o presente momento, a matéria encontra-se sem manifestação pela Corte Suprema.
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2 O INTERESSE DE AGIR COMO CONDIÇÃO DA AÇÃO
As condições da ação são entendidas como as condições necessárias para que o juiz atue de acordo com a lei invocada pelo autor, declarando a existência do direito pretendido. (CHIOVENDA, 2000, p. 89)
A concepção adotada pelo Código de Processo Civil brasileiro é a concepção eclética, segundo a qual o direito de ação é o direito de julgamento de mérito da causa. No entanto, para que ocorra o referido julgamento, exige-se o cumprimento das denominadas condições da ação, desenvolvidas na obra de Enrico Tullio Liebman, processualista italiano que influenciou de modo relevante o processo civil brasileiro. (DIDIER JÚNIOR, 2008, p 171).
2.1 CONDIÇÕES DA AÇÃO
São três as condições da ação de acordo com Liebman, quais sejam, a possibilidade jurídica do pedido, a legitimidade ad causam e o interesse de agir. (DIDIER JÚNIOR, 2008, p 171).
O Código de Processo Civil brasileiro (1973) faz referencia às condições da ação em dois momentos, no artigo 3º quando explica que para se interpor uma ação é necessário o interesse de agir e a legitimidade, e no artigo no artigo 267, VI, ao afirmar que o processo merece ser extinto sem julgamento de mérito, quando o pedido for juridicamente impossível, quando as partes não forem legitimas e quando não houver interesse processual. (DIDIER JÚNIOR, 2008, p 171).
Diz-se juridicamente impossível aquele pedido que choca com preceitos de direito material, sendo inviável o seu atendimento independente dos fatos e circunstancias do caso concreto. (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2008, p. 276)
Quanto à legitimidade, exige-se a existência de um vínculo entre a situação fático-jurídica e os sujeitos da demanda, de modo que sejam autorizados a gerir o processo durante seu curso. (DIDIER JÚNIOR, 2008, p 176)
O interesse de agir, que merece mais ênfase no presente trabalho, tem relação direta com a causa de pedir, diz respeito à utilidade e à necessidade do pronunciamento judicial, ou seja, questiona se a postulação judicial será necessária para se alcançar o bem da vida e se ao fim do processo esse bem da vida terá utilidade. (DIDIER JÚNIOR, 2008, p 176)
Alguns doutrinadores entendem que a análise, no âmbito processual, das condições da ação é desnecessária, haja vista a impossibilidade de realização de tal análise isolada do mérito da causa, de modo que os fundamentos constantes na decisão que extingue o processo sem julgamento de mérito serviriam para um julgamento com mérito e consequente fim da demanda. (DIDIER JÚNIOR, 2008, p 174)
2.1.1 O interesse de agir
O interesse de agir decorre dos fatos narrados na petição inicial, ou seja, do caso em concreto. Assim, não há como se verificar a presença do interesse de agir em abstrato, vez que sempre estará relacionado a uma demanda judicial. (DIDIER JÚNIOR, 2008, p 187)
Os mesmos doutrinadores que se posicionam no sentido de que as condições da ação não podem ser analisadas isoladamente do mérito da causa, sustentam que o interesse de agir processual não é um direito autônomo, trata-se de posicionamento minoritário. (DIDIER JÚNIOR, 2008, p 187)
Por outro lado, a maior parte da doutrina divide o interesse de agir em substancial ou material e processual, eles não se confundem, assim, devem ser diferenciados. O interesse processual, objeto do presente estudo, é um interesse secundário do qual se utiliza como meio para obter o interesse substancial, interesse primário. O interesse substancial/material é o que busca não a tutela jurisdicional, mas o bem da vida, a satisfação da situação de fato objetivamente existente. (DIDIER JÚNIOR, 2008, p 188)
Nessa toada, José Frederico Marques esclarece:
O interesse é a posição favorável à satisfação de uma necessidade, de que o titular é a pessoa física ou jurídica e cujo objeto é um bem. No direito material esse interesse se relaciona com bem jurídico diverso daquele que se procura obter com o direito processual de agir. O direito de crédito diz respeito ao interesse em receber determinada soma em dinheiro. O direito de ação que o credor exerce relaciona-se com um bem jurídico distinto, que é o julgamento da sua pretensão em obter a aludida importância.
(MARQUES, 1962, p 32-33)
Para que no âmbito do processo se concretize o interesse de agir devem ser verificados dois requisitos, quais sejam, a utilidade e a necessidade, posicionamento adotado pela maioria dos doutrinadores. (FREIRE, 2000, p.)
Nesse contexto, para que a função estatal jurisdicional seja plenamente exercida, deve ser acompanhada do interesse de agir, que é subdividido no binômio necessidade-utilidade do resultado da ação (CINTRA; GRINOVER;DINAMARCO, 2008, p 277)
Assim, o interesse de agir reside na necessidade e utilidade da jurisdição, presente quando o autor do processo tem a necessidade de recorrer ao judiciário para alcançar uma pretensão útil. (FREIRE, 2000, p 91)
2.1.1.1 Binômio necessidade-utilidade
Como já elucidado, o Estado tem o poder/dever do exercício da jurisdição, função necessária à manutenção da paz e da ordem social, no entanto, o aparato judiciário não deve ser exercido sem que daí decorra um resultado útil. Assim, é indispensável que de cada processo resulte um provimento jurisdicional necessário e útil. Portanto, deve-se analisar o interesse de agir útil e o interesse de agir necessário. (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2008, p 277)
Quando o processo puder propiciar ao demandante o resultado favorável pretendido estará presente o interesse de agir útil. Diz-se, assim, que é útil a providencia jurisdicional quando, por sua própria natureza, é apta a tutelar da maneira mais completa possível a situação jurídica do requerente. (DIDIER JÚNIOR, 2008, p 188)
Nesse sentido, quando se constata que o resultado almejado não é mais possível de obter, contata-se também que não há mais interesse de agir e que o objeto da causa se perdeu. (DIDIER JÚNIOR, 2008, p 188)
Durante todo o curso de um processo é necessária a análise do interesse de agir como utilidade, inclusive na fase executória, pois se pretensão executória for ínfima e o exequente se desinteressar pela causa, esta será extinta por falta utilidade e consequentemente de interesse de agir. (DIDIER JÚNIOR, 2008, p 188)
Nesse sentido, as brilhantes palavras do Ministro do Supremo Tribunal Federal Décio Miranda:
[...]
Segundo o art. 3º do CPC, para propor ou contestar ação é necessário ter interesse e legitimidade.
Ora, o interesse está ligado à noção de utilidade.
O agravante não indica que utilidade teria o protesto ou a interpelação que pretende seja efetuada, em relação à eficácia da ação popular que, segundo diz, vai ajuizar.
A atividade jurisdicional não se presta à satisfação de meros caprichos. Movimenta-se na expectativa de alguma finalidade concreta. [...]
(BRASIL. 1979)
Já a necessidade é constatada quando se verificar que o requerente não terá sua pretensão satisfeita sem a intervenção do Estado, quando a parte contrária se negar a satisfazer a obrigação e o requerente for proibido de usar a autotutela ou quando a lei expressamente exigir a declaração judicial para efetivo exercício do direito pretendido. (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2008, p 277)
Nesse contexto, se o cumprimento de uma pretensão de direito puder ser exercido espontaneamente, seja obrigacional, real ou personalíssima, estará ausente o interesse de agir, vez que também está ausente a necessidade da demanda. (DIDIER JÚNIOR, 2008, p 188)
Por outro lado, algumas demandas são necessárias por expressa determinação legal, sendo denominadas “ações constitutivas necessárias”, onde o bem da vida só é alcançado por meio do pronunciamento do Poder Judiciário, como exemplo, pode-se indicar a ação de interdição, vez que a interdição somente pode ser decretada pelo Poder Judiciário. Nesse caso, diz-se que a análise sobre o interesse de agir necessidade é dispensável, pois a necessidade é, in re ipsa, ou seja, presumida. (DIDIER JÚNIOR, 2008, p 189)
Há ainda a ausência do interesse de agir necessidade quando ausente a pretensão resistida, ou seja, a menos que haja um conflito de interesse e a parte contrária ofereça resistência à vontade/pretensão do outro, não se presencia o interesse de agir necessidade. (ARRUDA, 2010)
Diante disso, pode-se, pois, perceber que as condições da ação não funcionam como uma obstrução à Justiça, mas como um filtro para o acesso à Justiça de modo a objetivar a prestação estatal. (ARRUDA, 2010)
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3 PROCESSO ADMINISTRATIVO PREVIDENCIÁRIO
O povo, de um modo geral, abre mão de parte de seu poder individual e oferece ao Estado, o qual, por meio de normatização organiza e garante, dentre outras, segurança social. Assim, o povo confere ao Estado o poder de criação de normas para posteriormente se submeter a estas normas, que inclusive, limitam seu próprio poder. Este Direito Positivado é o que garante a organização social e, via de consequência, garante a segurança social. (BALERA, 1999, p. 11)
Nesse sentido, o povo dá ao Estado o poder para que posteriormente este mesmo Estado lhe proteja. Essa proteção estatal, que já está normatizada, quando solicitada pelo povo, se materializa por meio de uma sequência de atos administrativos que culminam em um ato final de proteção. (BALERA, 1999, p. 11-26)
Nesse contexto, o processo administrativo previdenciário é o modo encontrado pelo Poder Público para alcançar a parte necessitada da população e lhes oferecer proteção. (BALERA, 1999, p. 26)
Portanto, a Constituição Federal garante aos necessitados o direito de pedir auxílio, segurança e proteção e o Estado o faz por meio do processo administrativo previdenciário. (BALERA, 1999, p. 30)
3.1 O EXERCÍCIO DO PODER PELAS FUNÇÕES ESTATAIS
De acordo com Wagner Balera, o poder no Estado moderno é exercido por meio das funções estatais, competindo ao Direito fixar critérios de organização das funções e consequentemente do poder. (BALERA, 1999, p. 15)
A Teoria da Separação dos Poderes, que organiza o Estado a partir das funções estatais foi proposta primeiramente por Aristóteles na obra “A Política”, onde estabelecia que as decisões do Estado deveriam ser tomadas por três órgãos separados. (COUCEIRO, 2011)
Posteriormente, em sua obra “Segundo Tratado sobre o Governo Civil”, Locke entendeu que o Estado deveria ser dividido em três poderes, mas que o Poder Legislativo deveria ser coordenador dos demais. (COUCEIRO, 2011)
Por fim, Montesquieu consagrou a teoria da tripartição de poderes com as devidas repartições de atribuições no modelo mais semelhante ao atual, em sua obra “O Espírito das Leis”. (COUCEIRO, 2011)
Seguindo os ensinamentos de Montesquieu e de acordo com os reflexos das referencias históricas e teóricas, o Estado é preenchido por três atividades básicas, quais sejam, a confecção de leis e instauração da ordem jurídica, a administração/execução das leis editadas e a resolução das controvérsias oriundas dessa administração. (BALERA, 1999, p. 15-16)
Ainda de acordo com os ensinamentos de Montesquieu, as atividades básicas estatais, que também podem ser chamadas de funções, são exercidas pelos Poderes Estatais, de modo que o Poder Legislativo é responsável pela confecção das leis e instauração da ordem jurídica, o Poder Judiciário responsável pela resolução das controvérsias e o Poder Executivo pela execução das leis. (ALVES, 2004)
Tais poderes, para que o Estado funcione, devem ser autônomos e ao mesmo tempo harmônicos entre si, de modo que um poder não tome as funções de outro. (LAGES, 2008)
Assim, faz-se necessário que o poder controle o poder, de modo que cada órgão cumpra rigorosamente suas atribuições nos exatos termos em que determina a Constituição, para que o Estado atenda aos fins que lhes são esperados, favorecendo as necessidades individuais e coletivas da população. (BALERA, 1999, p. 16-17)
3.2 PROCESSO ADMINISTRATIVO
O conceito de processo administrativo, além de amplo não é unívoco na doutrina, nesse aspecto, necessária uma junção de várias opiniões. (OLIVEIRA, 2012)
Para Patrícia Vianna Meirelles Freire e Silva (2007, p. 42-43), o processo administrativo é uma sucessão encadeada de atos que pretendem a produção de um ato administrativo final, subordinado a um regime jurídico administrativo.
Antônio Porfirio Filho (2010) conceitua de forma ampla e geral como “meio pelo qual os chamados entes públicos se utilizam para regular as atividades no âmbito de sua administração”
Nesse sentido, Claudinei Teixeira de Souza (2010) conceitua o processo administrativo como “[...] a forma pela qual a Administração Pública registra seus atos, controla seus agentes públicos ou decideas controvérsias com os administrados e os servidores públicos.”.
Márcia Lima Santos Oliveira elucida que
[...] para prevenir arbitrariedades e propiciar maior justiça à Administração, a ordem jurídica vincula a edição do ato administrativo a uma série de atos encadeados e sucessivos, segundo um método de trabalho estabelecido em normas adequadas. Ao conjunto de atividades em cooperação, encadeadas, e ao somatório de direitos, poderes, faculdades, deveres, ônus e sujeições que objetivam a formação de um ato administrativo lícito e impessoal, dá-se o nome de processo administrativo. (OLIVEIRA, 2012)
Nelson Nery Costa esclarece:
[...] processo administrativo é o conjunto de atos administrativos, produzidos por instituições públicas ou de utilidade pública, com competência expressa, respaldados em interesse público, que são registrados e anotados em documentos que formam peças administrativas, disciplinando a relação jurídica entre a Administração e os administrados, os servidores públicos ou outros órgãos públicos. (COSTA, 2005, p. 8 )
Diante das diversas ilustrações apresentadas, pode-se pois, concluir que o processo administrativo é extremamente relevante tanto para a Administração Pública quanto para os cidadãos de modo geral, pois dá segurança e melhora tanto o conteúdo, quanto a eficácia das decisões proferidas, garantindo um justo, correto e controlado desempenho das funções estatais. (OLIVEIRA, 2012)
3.3 ASSISTÊNCIA E SEGURIDADE SOCIAL
A Seguridade Social é o instrumento encontrado pelo Estado para prestação, a quem de direito, de seguro social e assistência social. (BALERA, 1999, p. 23)
Como já elucidado, ao Estado competem atribuições/funções de diversos setores que são exercidas sob o esquema da separação de poderes. (BALERA, 1999, p. 22)
A Constituição Federal brasileira divide a atuação do Estado em jurídica e social. O agir social se expressa pela seguridade social que, via de consequência, é oriunda do constitucionalismo social. (BALERA, 1999, p. 24-25)
Nesse contexto, a assistência previdenciária social é função estatal e é exercida tanto pelo Poder Executivo quanto pelo Poder Judiciário. No presente momento, a análise sobre a seguridade social se torna mais relevante do ponto de vista administrativo, que é exercida pelo Instituto Nacional do Seguro Social. (BALERA, 1999, p. 22)
Os principais objetivos do Estado quanto à seguridade são o bem estar e a justiça social. Para tanto, tal setor conta com orçamento especifico, apartado do orçamento fiscal e é dotado de normatização específica, sujeitando-se, assim, a ditames específicos de regime jurídico. (BALERA, 1999, p. 23)
Assim, a seguridade social é um serviço público prestado através de duas espécies de prestação, quais sejam, os benefícios e os serviços. Tal divisão decorre do artigo 22, da Lei Orgânica da Previdência Social (BRASIL. 1960) “Art. 22. As prestações asseguradas pela previdência social consistem em benefícios e serviços [...]”. (BALERA, 1999, p. 26)
Nesse sentido, os benefícios são prestações pecuniárias e os serviços são ações sociais em favor do interessado. Assim, necessitando, o particular, por determinada situação, de auxílio, tem direito a uma prestação que favorece toda a coletividade decorrente de atividade administrativa que pode ser recebida na forma de benefício ou ainda um serviço social. (BALERA, 1999, p. 26)
Por oportuno, cabe esclarecer que as necessidades que se refletem em prestações previdenciárias devem estar normatizadas, pois os fatos não pertencem ao mundo jurídico se não estiverem normatizados. (BALERA, 1999, p. 27)
3.4 PEDIDO ADMINISTRATIVO DOS BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS
Para que um beneficiário goze determinado benefício previdenciário é necessária uma provocação ou um pedido à Administração Pública. A Autarquia responsável pela análise de tal pedido, com fundamentos na legislação, é o Instituto Nacional do Seguro Social. (BALERA, 1999, p. 27)
Trata-se da análise realizada pela Administração Pública sobre a adequação do caso previsto na legislação com o caso apresentado pelo requerente do benefício. (BALERA, 1999, p. 27-28)
O pleito do beneficio previdenciário se expressa pela apresentação de formulário devidamente preenchido pelo interessado, onde deve constar qual o beneficio pleiteado, a situação prevista na legislação como fato gerador de recebimento do benefício e a adequação do caso concreto ao legalmente previsto. (BALERA, 1999, p. 28)
O órgão administrativo – Instituto Nacional do Seguro Social – não pode, salvo as exceções previstas na lei, conceder benefícios previdenciários de ofício. Portanto, o requerimento é indispensável à constituição de um crédito previdenciário. (BALERA, 1999, p. 28)
Confira-se as brilhantes palavras do professor Wagner Balera:
A função administrativa previdenciária consistirá na qualificação da necessidade vital e, baseada nessa medida, na concretização do objeto da prestação.
Sem a provocação do benefício, o Poder Público não pode satisfazer-lhe o interesse, atuando a prestação cabível. (BALERA, 1999, p. 28)
Insta consignar que o artigo 105, da Lei n. 8.213, de julho de 1991, garante o recebimento e a análise, pelo órgão previdenciário, do requerimento administrativo, ainda que este não esteja instruído com todos os documento necessários à respectiva apreciação. (BALERA, 1999, p. 28-29)
Assim, ainda que o formulário de pedido de concessão de benefício previdenciário esteja desacompanhado dos documentos necessários ao respectivo deferimento, o órgão previdenciário deve examiná-lo, pronunciar-se, atestar, formal e regularmente sobre o direito pleiteado. (BALERA, 1999, p. 29)
Trata-se inclusive de garantia constitucional expressamente prevista, vejamos:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal; (BRASIL. 1988)
Desse dispositivo, pode-se retirar três relevantes considerações. Inicialmente, a garantia de todos os interessados provocarem o Poder Público. Retira-se também, a gratuidade dos processos administrativos. E por fim, o requerimento administrativo dos benefícios como expressa manifestação do direito de petição e, via de consequência, a resposta advinda da Administração Pública. (BALERA, 1999, p. 30-31)
Vale salientar que o referido direito de petição limita-se à análise, pelo órgão competente, do pedido formulado. Assim, se o Instituto Nacional do Seguro Social verificar que a situação do requerente não se adéqua ao caso descrito em lei ou caso algum documento necessário à verificação da situação não esteja juntado, indeferir-se-á o respectivo pedido. (BALERA, 1999, p. 32)
No entanto, deve-se ressaltar duas situações, a primeira diz respeito à obrigação do órgão previdenciário de esclarecer, de modo formal e claro, o(s) motivo(s) do indeferimento do requerimento e quais os requisitos ou documentos indispensáveis ao processamento do pedido não estão presentes. (BALERA, 1999, p. 32)
De outra banda, a segunda situação diz respeito à possibilidade, pelo requerente, de acesso a documento essenciais à análise do pedido. Quando um documento é indispensável à analise de determinado pedido, mas o requerente não tem condições de trazer o documento ao processo administrativo em tramite, a administração tem a obrigação, de oficio, de providenciar tal documento, isso porque, a concessão de benefícios previdenciários é interesse social e devem ser concedidos a que necessita. (BALERA, 1999, p. 32-33)
Nesse sentido Wagner BALERA (1999, p.33) ilustra “Independentemente do papel reservado às partes, na seguridade social a todos incumbe o dever grave de colaborarem para que os direitos sociais sejam outorgados aos necessitados”.
O processo administrativo previdenciário em que se analisa o pedido de concessão de benefício estende-se por várias fases em que se busca qualificar o requerente, verificar a carência, enquadrar a situação de fato à previsão legal, apurar e calcular o salário mensal do benefício e por fim comunicar a decisão ao interessado. (BALERA, 1999, p. 34)
Muito embora a comunicação da decisão se sobressaia em relação aos demais atos, cada um deles deve ser realizado e proferido de forma fundamentada, objetiva e célere. (BALERA, 1999, p. 34)
Ao peticionário é garantido ainda o direito de insurgir contra cada ato praticado no decorrer do processo administrativo, para tanto, a lei prevê o cabimento de recursos administrativos. (BALERA, 1999, p. 34)
Assim, como o indivíduo não pode exercitar seu direito social desde o exato momento descrito na norma como gerador da proteção jurídica estatal, os exerce por meio do processo administrativo, modo encontrado pelo Estado para concretizar o respectivo direito, mediante provocação do interessado. (BALERA, 1999, p. 35-36)
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4 PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO COMO CONDIÇÃO DA AÇÃO
O presente trabalho busca analisar a necessidade da instrução da ação previdenciária, pelo autor, desde já com o prévio requerimento administrativo do benefício pretendido. (NOLASCO, 2012)
No âmbito dos Tribunais Regionais Federais paira a discussão acerca da exigência da apresentação do prévio requerimento administrativo junto ao Instituto Nacional do Seguro Social- INSS acompanhado com a petição inicial da ação previdenciária. (ALVES, 2010, p. 17)
Essa discussão vem de longa data e muito embora já tenha sido demasiadamente discutida, nunca foi e ainda não é unânime. O posicionamento dos Tribunais Federais diverge e se modifica com o tempo e os argumentos que fundamentam tal impasse são inúmeros. (NOLASCO, 2012)
Por um lado, há quem defenda a desnecessidade da postulação administrativa antes da postulação judicial e se apóia no princípio do acesso à justiça, da falta de previsão legal que exija tal requisito e a corriqueira negativa pelo INSS em deferir os benefícios. (ALVES, 2010, p. 17)
De outra banda, os que entendem pela exigibilidade do anterior rogo na esfera administrativa, e caba salientar que o Instituto Nacional do Seguro Social faz frente a essa corrente, se arrimam nas alegações de que a ausência de tal postulação fere o princípio da separação dos poderes, além de causar a superlotação do judiciário federal e por fim sustentam que em tal ação previdenciária carece de uma das condições da ação, qual seja, o interesse de agir. (ALVES, 2010, p. 17)
Cada um dos argumentos apresentados, tanto do ponto de vista da exigibilidade, quanto da desnecessidade do prévio pedido administrativo dos benefícios, merece uma análise minuciosa, sendo esta a proposta do presente trabalho. (ALVES, 2010, p. 17)
4.1 AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL 
Não há, na legislação em vigor, nenhuma previsão legal acerca da necessidade do prévio requerimento administrativo dos benefícios previdenciários para propositura de ação, desse modo, os que entendem pela desnecessidade do pleito administrativo se apóiam em tal argumento e defendem que o Estado não pode exigir uma conduta do povo se não estiver legalmente prevista. (ALVES, 2010, P. 17)
Em decisão proferida no agravo de instrumento n. 525.766, o Ministro do STF Marco Aurélio (BRASIL. STF, 2007) confirma a falta de previsão legal acerca da matéria e ainda esclarece que a atual Constituição Federal não exige a confecção de previsão legal nesse sentido, vejamos: 
[...] Não há previsão, na Lei Fundamental, de esgotamento da fase administrativa como condição para o acesso, ao Poder Judiciário, por aquele que pleiteia o reconhecimento de direito previdenciário. Ao contrário da Carta pretérita, a atual não agasalha cláusula em branco, a viabilizar a edição de norma ordinária com disposição em tal sentido. (BRASIL. STF, 2007)
A partir desse argumento, faz-se necessária uma análise sobre as formas oferecidas pelo ordenamento jurídico brasileiro de resolução de conflito decorrentes de lacunas legais. (ALVES, 2010, P. 17)
O Decreto Lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942, denominado Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, em seu artigo 4º, prevê a utilização, pelo juiz que analisa a causa, da analogia, dos costumes e dos princípios gerais de direito, quando houver omissão normativa quanto a determinada questão em discussão.
Nesse sentido, o legislador reconheceu a existência de lacunas na legislação e ofereceu ao juiz que analisa a causa remédios eficazes para sanar tais omissões, a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. (LOPES, GONÇALVES, MAFIA, 2011, p. 12)
A analogia é a aplicação da solução de um caso semelhante prevista em lei, ao caso concreto em discussão. Os costumes são práticas reiteradas e uniformes de determinada situação, concedendo a tais práticas certa relevância e condição de equiparação ao caso concreto em litígio. Já os princípios gerais de direito são orientações de caráter geral que condicionam e norteiam o ordenamento jurídico e inclusive, servem de base para criação de novas leis. (LOPES, GONÇALVES, MAFIA, 2011, p. 13-15)
Diante das possibilidades oferecidas pelo ordenamento jurídico, cabe esclarecer que a falta de previsão legal acerca da exigência do prévio requerimento administrativo, isoladamente, não funciona como resolução da presente discussão, mas como ponto de partida. (ALVES, 2010, p. 17)
Assim, necessário o esclarecimento de que os princípios gerais de direito são os principais norteadores dos argumentos do presente trabalho, tanto do ponto de vista que entende necessária a prévia postulação administrativa (Princípio da Separação dos Poderes), quanto dos que entendem pela desnecessidade (Princípio do Livre Acesso à Justiça). (ALVES, 2010, p. 17)
Além disso, são relevantes as orientações, os posicionamentos e as discussões levantadas pelos doutrinadores, pelos Tribunais Regionais Federais e pelos Tribunais Superiores. (ALVES, 2010, p. 17)
4.2 AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR
Como já demonstrado, o Código de Processo Civil brasileiro adotou a teoria de que o direito de ação é o direito de julgamento de mérito da causa, no entanto, para que ocorra o referido julgamento, exige-se o cumprimento das denominadas condições da ação. (DIDIER JÚNIOR, 2008, p 171)
São conhecidas como condições da ação a possibilidade jurídica do pedido, a legitimidade ad causam e o interesse de agir. (DIDIER JÚNIOR, 2008, p 171).
O interesse de agir, que merece mais ênfase no presente trabalho, diz respeito à utilidade e à necessidade do pronunciamento judicial, ou seja, discute se a postulação judicial será necessária para se alcançar o bem da vida e se ao fim do processo, esse bem da vida terá utilidade. (DIDIER JÚNIOR, 2008, p 176)
Feita a análise sobre as condições da ação ao se constatar a ausência de uma delas, diz-se que ele é carecedor e como determina o Código de Processo Civil, extingue-o sem análise de mérito. (CINTRA, 2008, p 276)
Diante de tais esclarecimentos, necessária uma análise acera do interesse de agir no âmbito da ação previdenciária proposta sem a prévia postulação administrativa. (ALVES, 2010, p. 19)
Mais precisamente, é relevante uma análise acerca da necessidade, no âmbito do interesse de agir, das ações propostas sem o anterior pleito administrativo. (ALVES, 2010, p. 19)
A necessidade é constatada quando se verificar que o requerente não terá sua pretensão satisfeita sem a intervenção do Estado, do Poder Judiciário. (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2008, p 277)
Ora, não só é desnecessária a postulação administrativa para utilização dos benefícios oferecidos pela Previdência Social, como inclusive é uma usurpação, pelo Judiciário, de funçãodo Executivo. (ALVES, 2010, p. 19)
A necessidade é verificada quando se constata que o requerente só terá sua pretensão alcançada através da intervenção do Poder Judiciário. No presente caso, o Poder Judiciário não é a única forma de gozo de beneficio oferecido pela Previdência Social, inclusive, o processo no âmbito administrativo é mais célere e de mais fácil acesso que o judicial. (ALVES, 2010, p. 19)
Nesse sentido, a jurisprudência do egrégio Tribunal Regional Federal da 2ª Região: 
PREVIDENCIÁRIO. REMESSA NECESSÁRIA. AGRAVO INTERNO. PRÉVIO INGRESSO NA VIA ADMINISTRATIVA. RECURSO NÃO PROVIDO. - Em que pese a existência do princípio constitucional da inafastabilidade da tutela jurisdicional, o que vem se observando nas ações previdenciárias, em que o autor pleiteia a concessão de aposentadoria rural por idade, é que o Poder Judiciário está assumindo a função da Administração Pública na análise dos inúmeros pedidos que deveriam ser apreciados meticulosamente pela Autarquia Previdenciária, sendo necessária a formação do conflito de interesses disposto no art. 3º do CPC, que justifique a instauração de processo judicial. - Muito embora haja posicionamento no sentido de que a contestação caracterizaria a resistência à pretensão autoral, configurando o binômio interesse-necessidade, na prática, a Autarquia Previdenciária, para cumprir os prazos legais, apresenta suas contestações sem tempo hábil para obter a documentação necessária ao deslinde de cada caso, comprometendo muitas vezes o julgamento dos feitos. - Não se pode olvidar, entretanto, que não há necessidade do exaurimento da via administrativa para a propositura da ação, bastando o prévio requerimento administrativo para oportunizar ao INSS avaliar o direito almejado pelo segurado. A Súmula nº 213 do ex-TFR, segundo a qual não dispensa o requerimento administrativo corrobora tal entendimento. - O entendimento supra não ofende qualquer direito constitucional, eis que possibilita o ajuizamento de nova ação em caso de negativa do requerimento, demora excessiva ou requerimento de documentação incompatível ou desnecessária. - Visando não comprometer a celeridade da entrega da prestação judicial, tal entendimento não pode, ser aplicado em grau recursal, vez que fere os princípios da razoabilidade e economia processual, a extinção do processo após a caracterização da lide no curso do processo, tendo em vista a resistência oposta pela parte ré à pretensão manifestada pelo autor. - Agravo interno não provido. (REO 201202010156481, Desembargador Federal MESSOD AZULAY NETO, TRF2 - SEGUNDA TURMA ESPECIALIZADA, E-DJF2R - Data: 26/03/2013.)
DIREITO PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. DESNECESSIDADE. PENSÃO POR MORTE. FILHA MENOR. DEPENDENTE. ART. 16 DA LEI 8213-91. APELAÇÃO E REMESSA NECESSÁRIA DESPROVIDAS. I - Fere os princípios da instrumentalidade das formas e da proporcionalidade a extinção do processo, sem apreciação do mérito, em razão da falta de interesse jurídico (art. 267, VI, do Código de Processo Civil) de segurado que ajuizou ação visando deferimento de benefício sem que, antes, tivesse realizado requerimento administrativo. II - A suposta obrigatoriedade de o segurado realizar o requerimento administrativo para somente após, se for o caso, requerer a tutela jurisdicional viola os princípios da separação dos poderes e do livre acesso ao Judiciário (artigos 2.º e 5.º, XXXV, da Constituição da República) III - Comprovada a qualidade de segurado do de cujus, assim como a qualidade de dependente, nos termos do que dispõe o art. 16 da Lei 8.213-91, requisitos para concessão da pensão por morte, deve ser reconhecido o direito ao benefício pleiteado. IV - Apelação e remessa necessária desprovidas. (APELREEX 201202010161889, Desembargador Federal ANDRÉ FONTES, TRF2 - SEGUNDA TURMA ESPECIALIZADA, E-DJF2R - Data: 06/08/2013.)
Desse modo, não está presente a necessidade embutida no interesse de agir, uma vez que existe outro modo de se alcançar a pretensão previdenciária perseguida, qual seja, a postulação administrativa, no órgão previdenciário respectivo.
4.2.1 Ausência de pretensão resistida
Ainda nesse contexto, cabe uma análise sobre a existência de pretensão resistida, mas antes, necessária uma elucidação acerca do conceito de lide. Para Carnelutti (apud VALENTE, p. 1) lide é “um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida”.
De tal conceito pode-se extrair três elemento, o “interesse”, a “pretensão” e a “resistência”. O interesse já foi analisado anteriormente, cabendo agora a análise acerca da pretensão e da resistência. (VALENTE, p. 1)
A pretensão é a intenção de suplantar o interesse alheio em detrimento do próprio. Nesse sentido, uma lide nasce quando, a partir de uma pretensão manifestada por uma parte, outrem oferece resistência. (VALENTE, p. 2)
Assim, muito embora uma das partes tenha interesse em um especifico bem da vida, a parte contrária ao caso determinado manifesta oposição e, consequentemente, ocorre um conflito de interesses. (VALENTE, p. 2)
Partindo de tais esclarecimentos, pode-se dizer que existe uma lide quando a partir de uma manifestação de interesse uma das partes oferece resistência e a pretensão de exigir o adimplemento desse interesse. (VALENTE, p. 2)
No contexto da presente discussão, os que entendem pela necessidade do prévio requerimento administrativo para postulação judicial de beneficio previdenciário, defendem que quando não ocorre o prévio pedido administrativo não se caracteriza a pretensão resistida e, via de consequência, não existe uma lide. (ALVES, 2010, 19-20)
Quando o requerente postula diretamente no judiciário sua pretensão, não está ciente da resposta da autarquia previdenciária competente, assim, não sabe se haverá uma resistência. Ora, a resistência se materializa pela negativa do interesse que se pretende pleitear, se não há negativa, a resistência não se materializa. (ALVES, 2010, p. 20)
Nesse sentido, a jurisprudência do egrégio Tribunal Regional Federal 4ª da Região. Vejamos:
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA RURAL POR IDADE. REGIME DE ECONOMIA FAMILIAR. INTERESSE DE AGIR. PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. Demonstrada a falta da existência de interesse processual, pela ausência de prévio requerimento administrativo de aposentadoria rural por idade em regime de economia familiar, impõe-se a extinção do feito sem resolução do mérito. (TRF4, APELREEX 0013235-07.2013.404.9999, Quinta Turma, Relator Ricardo Teixeira do Valle Pereira, D.E. 24/09/2013)
PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. CARÊNCIA DE AÇÃO. FALTA DE INTERESSE DE AGIR. PRÉVIOREQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. NECESSIDADE. A inexistência de prévio requerimento administrativo do benefício postulado judicialmente, sem comprovação de que se trata de caso em que haja negativa sistemática do pleito pelo INSS, aliado à falta de resistência da Autarquia à matéria de fundo da pretensão vestibular, na contestação ou nas vias recursais, evidencia a carência de ação da parte autora, por falta de interesse de agir, e enseja a extinção do feito sem resolução do mérito, com base no art. 267, inc. VI, do CPC (STJ, Segunda Turma, REsp n. 1.310.042, Rel. Ministro Herman Benjamin, julgado em 15-05-2012).
No mesmo sentido, a manifestação do Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Confira-se:
PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. INEXISTÊNCIA DE PRETENSÃO RESISTIDA. CARÊNCIA DE AÇÃO POR FALTA DE INTERESSE DE AGIR. APELAÇÃO PROVIDA. 1. Trata-se de recurso de apelação interposto pelo INSS em face de sentença que julgou procedente o pedido de concessão do benefício de salário-maternidade apesar da ausência de prévio requerimento administrativo do benefício pleiteado. 2. Diante da manifestação da própria suplicante na petição inicial, quando assume expressamente que não requereu o benefício na via administrativa, conclui-se pela ausência de uma das condições da ação, merecendo reforma a decisão de primeiro grau que concedeuo benefício pleiteado para extinguir o processo sem resolução do mérito por este fundamento. 3. O Poder Judiciário não pode substituir-se ao administrador, analisando os pedidos de concessão de benefício previdenciário ainda não submetidos ao órgão competente para o deferimento ou indeferimento do pleito. 4. Inexistindo pretensão resistida, não há interesse legítimo para o exercício do direito de ação. 5. Conclui-se pela ausência de uma das condições da ação, devendo ser extinto o processo, sem apreciação do mérito, na forma do art. 267, I, do CPC. 6. Apelação provida. (PROCESSO: 00029571720134059999, AC560865/SE, RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL ROGÉRIO FIALHO MOREIRA, Quarta Turma, JULGAMENTO: 03/09/2013, PUBLICAÇÃO: DJE 05/09/2013 - Página 537)
PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. BENEFÍCIO DE SALÁRIO-MATERNIDADE CUMULADO COM INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. EXTINÇÃO DO PROCESSO, SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. ART. 267, VI DO CPC. FALTA DE INTERESSE DE AGIR. AUSÊNCIA DE PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. 1. Em se tratando de benefícios previdenciários, necessário o prévio requerimento administrativo, a fim de gerar o conflito de interesses, legitimando, assim, o ingresso perante o Poder Judiciário, apesar do princípio constitucional da inafastabilidade da tutela jurisdicional. 2. Súmula n.º 213 do extinto TFR não dispensa o pedido prévio administrativamente, apenas dispõe que não é condição para propositura de ação o exaurimento da via administrativa, através dos recursos disponíveis. 3. Precedentes desta Corte. Correspondência maior com a realidade social e com o escopo das legislações constitucional, processual e previdenciárias pátrias. 4. Apelação não provida. (PROCESSO: 08004166520124058300, AC/PE, RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO NAVARRO, Terceira Turma, JULGAMENTO: 21/03/2013)
Nesse sentido também, as palavras de Daniel Amorim Assumpção Neves (2009, p. 11), que entende a pretensão resistida como uma fato jurídico anterior ao processo. Confira-se:
Como se pode notar na própria definição clássica de lide, trata-se de um fenômeno não processual, mas fático-jurídico (ou ainda sociológico), anterior ao processo. A lide não é criada no processo, mas antes dele, e também não é tecnicamente correto afirmar que será solucionada no processo, considerando-se que o juiz resolve o pedido do autor e não a lide em si. A solução da lide pelo processo é uma mera consequência dessa solução do pedido, dependendo de sua abrangência para ser total ou parcialmente resolvida. (NEVES, 2009, p. 11)
Nesse diapasão, a lide como fenômeno pré-processual deve existir antes da propositura da ação. Ocorre que em respeito ao que dispõe o artigo 300 do Código de Processo Civil (1973), no contesto, o réu deve alegar toda a matéria de defesa e nesse momento, caso a pretensão resistida ainda não exista, passa a existir e por consequência a lide. (BRASIL. STJ, 2012)
Do mesmo modo, quando o Instituto Nacional do Seguro Social contesta a ação, proposta sem o prévio pedido administrativo, e entendendo pelo indeferimento do beneficio se defende da matéria ali posta, a lide se materializa. (BRASIL. STJ, 2012)
Assim, não é proporcional ou processualmente econômico extinguir o processo sem julgamento de mérito, uma vez que a pretensão resistida se materializou nesse momento. (BRASIL. STJ, 2012)
Nesse sentido, as palavras da Ministra do Superior Tribunal de Justiça Maria Thereza de Assis Moura (2012) proferidas no julgamento do Recurso Especial n. 1.085.790 - RS, in verbis:
[...] tendo havido contestação pelo mérito, está presente a necessária pretensão resistida, caracterizadora do interesse processual da parte. É que, estando a resistência suficientemente configurada nos autos, faz-se certa a necessidade do provimento judicial para dirimir a lide posta.
No mesmo sentido, o acórdão proferido pela meritíssimas Desembargadora Federal Loraci Flores de Lima (TRF4, 2006): 
SFH. CONTRATO DE MÚTUO HIPOTECÁRIO. REVISÃO. PES. DESCUMPRIMENTO. DESNECESSIDADE DE ESGOTAMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA. 1 - Não há necessidade de prévio requerimento administrativo para ingrssar em juízo. Caracterizada a pretensão resistida em face da contestação do pedido. 2 - "Aplica-se o índice da variação do salário da categoria profissional do mutuário para cálculo do reajuste dos contratos de mútuo habitacional com cláusula PES, vinculados ao SFH." (Súmula 39/TRF 4ª Região). (TRF4, AC 2004.04.01.037140-5, Primeira Turma Suplementar, Relatora Loraci Flores de Lima, DJ 22/02/2006)
Com base nos esclarecimentos e pontos de vista apresentados , pode-se, pois, constatar que quando o pleito de benefícios previdenciários é feito no judiciário sem a prévia provocação no âmbito administrativo, não está presente o interesse de agir do ponto de vista necessário, menos ainda, a pretensão resistida, essencial à caracterização da lide e, via de consequência a ação é carecedora e merece a extinção sem análise de mérito. (ALVES, 2010, p. 21)
De outra banda, caso a autarquia previdenciária se manifeste contrariamente ao pedido inicial, a extinção do processo sem julgamento de mérito passa a ser medida injusta, vez que fere o Princípio da Proporcionalidade e o Princípio da Economia Processual (ALVES, 2010, p. 21)
Existem ainda, no ordenamento jurídico, situações em que há jurisdição sem haver lide, contudo, são situações especificas previstas expressamente em lei, não sendo esta a hipótese em análise. (NEVES, 2009, p. 11)
Cabe por fim esclarecer que alguns especialistas entendem que a análise sobre as condições da ação relativiza o princípio do livre acesso à justiça, vez que obstacula o pleito judicial. Diante disso, necessário o cotejamento. (DIDIER JÚNIOR, 2008, p 171)
4.3 PRINCÍPIO DO LIVRE ACESSO À JUSTIÇA
Reza o artigo 5º, inciso XXX, da Constituição Federal de 1988:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; (BRASIL. 1988)
A Convenção Interamericana sobre Direito Humanos – Pacto São José da Costa Rica promulgada pelo Decreto n. 678, de 6 de novembro de 1992, em seu artigo 8º, assim dispõe:
Toda pessoa tem direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer natureza. (BRASIL. 1992)
De tais previsões, constitucional e internacional, decorre o Princípio do Livre Acesso à Justiça. Trata-se da garantia que todos do povo detêm, tanto individualmente quanto coletivamente, de postular em juízo tutela preventiva ou reparatória de um direito. (TORRES, 2002)
Para Cândido Rangel Dinamarco (2008, p. 359), “Mais do que um princípio, o acesso à justiça é a síntese de todos os princípios e garantias do processo, seja no plano constitucional ou infraconstitucional, seja em sede legislativa ou doutrinária e jurisprudencial.“.
No âmbito de discussão do presente trabalho, alguns autores entendem que a exigência do prévio requerimento administrativo do benefício previdenciário pretendido para propositura de ação judicial fere o princípio do livre acesso à justiça. (ALVES, 2010, p. 19)
Nesse sentido, inclusive, se posiciona o Tribunal Regional da 1ª Região. Confira-se:
PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL CONTRA DECISÃO MONOCRÁTICA DO RELATOR QUE DEU PROVIMENTO À APELAÇÃO DA PARTE AUTORA. ART. 557, §1º-A DO CPC E ART. 29, XXVI, DO RITRF1ª. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. DESNECESSIDADE. JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA. MULTA DO ART. 557 § 2º DO CPC AFASTADA PELO E. STJAGRAVO REGIMENTAL MANIFESTAMENTE INFUNDADO.1. Por força da decisão proferida pelo egrégio Superior Tribunal de Justiça, no recurso especial interposto pelo INSS, descabida a aplicação da multa prevista no art. 557, § 2º, do CPC, fixada por esta Corte. 2. Consoante entendimento firmado nesta Corte e no Colendo STJ, o exaurimento da via administrativa não é condição para propositura de ação de natureza previdenciária (Súmula 213/TFR). Vedação de tal exigência por aplicação do princípio constitucional da inafastabilidade do controle jurisdicional (art. 5º, XXXV). 3. No mais, deve ser garantido o livre acesso à Justiça e, sobretudo, à ordem jurídica justa, bem como tendo em mira a prestação da tutela jurisdicional, direito fundamental do cidadão assegurado por expressa previsão constitucional (CF/88, art. 5º). 4. Em que pese o disposto no art. 2º da CF/88, "inexiste violação ao princípio da Separação dos Poderes na admissão do feito sem a necessidade de prévia postulação administrativa, visto que o que se busca assegurar com a deliberação acima mencionada é o pleno acesso do jurisdicionado ao Poder Judiciário, sem lhe impor o indevido condicionamento da análise de sua pretensão ao prévio exame da Autarquia previdenciária" (AC 0030707-19.2009.4.01.9199/MG, Rel. Desembargadora Federal Neuza Maria Alves Da Silva, Segunda Turma,e-DJF1 p.64 de 06/05/2010). 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (AGRAC 0033579-70.2010.4.01.9199 / MG, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO DE ASSIS BETTI, Rel.Conv. JUIZ FEDERAL CLEBERSON JOSÉ ROCHA (CONV.), SEGUNDA TURMA, e-DJF1 p.195 de 22/05/2013) (BRASIL. 2013)
AGRAVO REGIMENTAL. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA RURAL POR IDADE. FALTA DE INTERESSE DE AGIR. DESNECESSIDADE DE PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 2º E 5º, XXXV, DA CF. 1. Este Tribunal, na linha da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, pacificou o entendimento de que "a ausência de prévio requerimento administrativo não constitui óbice para que o segurado pleiteie, judicialmente, a revisão de seu benefício previdenciário" (AgRg no REsp 1179627/RS, Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, DJe 7.6.2010), bem como que sua exigência como condição ao ajuizamento de ação para a obtenção de benefício previdenciário não se coaduna com o art. 5º, XXXV da Constituição Federal (cf. AC 0005512-95.2010.4.01.9199/PI, Juiz Federal Marcos Augusto de Sousa (convocado), Primeira Turma, e-DJF1 30.6.2011 p. 251), não havendo que se falar, de outro modo, em violação ao princípio da separação dos Poderes (CF/88, art. 2º) ao se assegurar ao jurisdicionado o pleno acesso à justiça. Precedentes. Ressalva do ponto de vista em sentido contrário do Relator. 2. Agravo regimental ao qual se dá provimento. (AGA 0009371-71.2010.4.01.0000 / GO, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL NÉVITON GUEDES, PRIMEIRA TURMA, e-DJF1 p.469 de 11/04/2013)
Tal interpretação decorre, na maioria dos casos, da linha de entendimento que considera a análise sobre as condições da ação uma limitação ao princípio do livre acesso à justiça. (ALVES, 2010, p. 20)
Sobre o assunto, Daniel Amorim Assumpção Neves (2009, p. 18-19) esclarece:
[...] havendo um processo administrativo, com decisão desfavorável à parte e com recurso recebido com efeito suspensivo, é preciso analisar – como em qualquer outra demanda – se o sujeito que provoca o Poder Judiciário tem interesse de agir, o que deverá ser demonstrado no caso concreto. Ainda que aparentemente a suspensão da decisão em razão do recurso impeça a alegação de qualquer violação ou ameaça de violação a direito, essa análise deverá ser feita no caso concreto. Não se trata de exceção ao princípio da inafastabilidade, mas tão-somente de exigência de preenchimento das condições da ação no caso concreto. (NEVES, 2009, p. 18-19)
No mesmo sentido, Gilmar Ferreira Mendes (COELHO, BRANCO, 2007, p. 492) faz sábias colocações, vejamos:
[...] regras sobre capacidade processual, competência, obrigatoriedade ou não de advogado, prazo para propositura de ação, efeito vinculante de decisões de outros tribunais, coisa julgada hão de ser consideradas, em princípio, normas destinadas a conferir conformação ao direito de proteção judicial efetiva.
Valendo-se da formula ambígua constante no art. 5º, XXXV – a lei não poderá excluir -, pode-se sustentar que, ao lado da tarefa conformadora, o legislador não está impedido de restringir ou limitar o exercício do direito à proteção judicial, especialmente em razão de eventual colisão com outros direitos ou valores constitucionais. (MENDES, COELHO, BRANCO, 2007, p. 492) )
Lincoln Nolasco (2012) concorda com tais posicionamentos ao afirmar: 
Não se trata de restrição ao acesso à justiça, princípio consagrado no artigo 5º, inciso XXXV da Carta Magna, pois apesar de não ser necessário o esgotamento das vias administrativas para que se recorra ao Poder Judiciário, não se justifica que o autor pleiteie diretamente judicialmente, um benefício que, talvez, poderia obter sem recorrer a tais vias. (NOLASCO, 2012)
Cabe ainda ressaltar que o artigo 5º, XXXV, da Constituição Federal diz expressamente que o Poder Judiciário deve analisar casos de lesão ou ameaça de lesão a direito. Ora, se o autor pretende o recebimento de um benefício previdenciário e entende se adequar a uma das hipóteses legalmente previstas, deve primeiro requerer ao órgão previdenciário competente, pois antes disso não há que se falar em lesão ou ameaça de lesão a direito. (CASTRO, LAZZARI, 2006, p. 675-676)
Desse modo, como visto, muito embora a Constituição Federal garanta o livre acesso à justiça, é necessária uma analise sobre a necessidade e a utilidade da manifestação judicial, não sendo esta uma limitação ao acesso á justiça, mas somente uma verificação do real interesse de agir do postulante. (NEVES, 2009, p. 18-19)
4.4 PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES
Como já visto, a teoria da Separação dos Poderes foi proposta primeiramente por Aristóteles onde estabelecia que as decisões do Estado deveriam ser tomadas por três órgãos separados. Posteriormente, Locke entendeu que o Estado deveria ser dividido em três poderes, mas que o Poder Legislativo deveria ser coordenador dos demais. Por fim, Montesquieu consagrou a teoria da tripartição de poderes com as devidas repartições de atribuições no modelo mais semelhante ao atual. (COUCEIRO, 2011)
O artigo 2ª da Constituição Federal (BRASIL, 1988) ata a referida teoria no atual ordenamento jurídico brasileiro ao estabelecer que “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.”. (COUCEIRO, 2011)
Desse modo surgiu o Princípio da Separação dos Poderes que distribui entre eles as funções estatais de forma independente e harmônica. (COUCEIRO, 2011)
No âmbito de tal distribuição, se inclui a função de análise das condições previstas em lei como garantia da seguridade e assistência social, refletida no deferimento dos benefícios previdenciários. Essa função foi atribuída ao Instituto Nacional do Seguro Social.
4.4.1 Função do Instituto Nacional do Seguro Social de análise dos requerimentos administrativos
O artigo 17 da Lei 8.029/90 (BRASIL, 1990) autoriza o Poder Executivo a instituir o Instituto Nacional do Seguro Social. Confira-se:
Art. 17. É o Poder Executivo autorizado a instituir o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, como autarquia federal, mediante fusão do Instituto de Administração da Previdência e Assistência Social - IAPAS, com o Instituto Nacional de Previdência Social - INPS, observado o disposto nos §§ 2° e 4° do art. 2° desta lei. (BRASIL, 1990)
No mesmo sentido, o artigo 1º, Anexo I, do Decreto 7.556/2011 (BRASIL, 2011), confere ao Instituto Nacional do Seguro Social a obrigação de análise e reconhecimento de direito ao recebimento dos benefícios previdenciários. Vejamos:
Art. 1º O Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, autarquia federal com sede em Brasília - Distrito Federal, vinculada ao Ministério da Previdência Social, instituída com fundamento no dispostono art. 17 da Lei no 8.029, de 12 de abril de 1990, tem por finalidade promover o reconhecimento de direito ao recebimento de benefícios administrados pela Previdência Social, assegurando agilidade, comodidade aos seus usuários e ampliação do controle social. (BRASIL, 2011)
O retrotranscrito artigo garante ainda a agilidade na análise dos benefícios, comodidade aos postulantes e ampliação do controle social. (BRASIL, 2011)
A lei 8.213 de 24 de julho de 1991 (BRASIL, 1991) regula os benefícios previdenciários em espécie e a Lei 8.742 de 7 de dezembro de 1990 (BRASIL, 1990) disciplina os benefícios assistenciais.
Nesse sentido, resta clara que a função de análise dos pedidos de benefícios é exercida pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, além de que a probabilidade do deferimento do respectivo benefício ocorrer de forma mais célere que postulando judicialmente, é enorme. (BALERA, 1999, p. 46)
Postas tais considerações, a análise de pedidos administrativos é competência do Poder Executivo, mais precisamente, da autarquia previdenciária, assim, a postulação diretamente no Poder Judiciário fere o Princípio da Separação dos Poderes. (BALERA, 1999, p. 46)
Como já visto, cada poder tem atribuições respectivas e de modo harmônico e independente deve exercer suas funções. (BALERA, 1999, p. 46)
No presente contexto, não há duvidas de que a análise de requerimentos previdenciários é atribuída ao Poder Executivo. Ora, ao postular um beneficio previdenciário diretamente no Poder Judiciário ocorre a modificação da respectiva atribuição. Desse modo, a instancia administrativa é suprimida e a função é passada a outro poder, no mesmo passo, a harmonia existente entre os poderes é relativizada, pois ao Judiciário é inserida função que não lhe compete e do Executivo a função é extirpada. (BALERA, 1999, p. 46)
Nesse sentido, já se manifestou o egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª Região. In verbis:
DIREITO PREVIDENCIÁRIO. PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. NECESSIDADE. RECURSO DE AGRAVO LEGAL PROVIDO PARA REFORMAR A DECISÃO IMPUGNADA E, EM NOVO JULGAMENTO DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO DE APELAÇÃO.
- Esta Nona Turma firmou entendimento, em consonância com os precedentes do C. Superior Tribunal de Justiça (Resp 147186, Rel. Min. Fernando Gonçalves, 6ª Turma, DJ 6/4/1998, p. 179), de que as Súmulas n. 213 do extinto TFR e 9 desta Corte não afastam a necessidade de pedido na esfera administrativa, a dispensar, tão-somente, o seu exaurimento para a propositura da ação previdenciária.
- Nesse aspecto, ficou decidido ser necessária a demonstração de prévio pedido administrativo e, se ultrapassado o prazo de 45 (quarenta e cinco) dias previsto no artigo 41, § 6º, da Lei n. 8.213/91, mantendo-se omissa a Autarquia Previdenciária em sua apreciação, ou indeferido o pleito, não ser exigível o esgotamento dessa via, para invocação da prestação jurisdicional. (Precedente desta Nona Turma:TRF/3, AC 1150229, Rel. Des. Fed. Marisa Santos, 9ª Turma, DJ 29/03/2007, p. 625)
- Agravo Legal provido, para reformar a decisão impugnada e dar parcial provimento à apelação
(TRF 3ª Região, NONA TURMA, AC 0033701-54.2010.4.03.9999, Rel. JUIZ CONVOCADO SOUZA RIBEIRO, julgado em 26/08/2013, e-DJF3 Judicial 1 DATA:04/09/2013)
PROCESSUAL. PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE BENEFÍCIO. AUSÊNCIA DE PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. FALTA DE INTERESSE DE AGIR. - O artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição da República em vigor, dispõe que "a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito". - Restando consagrado no aludido dispositivo constitucional o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, não é infenso aos beneficiários da Previdência Social pleitearem, perante o Judiciário, a reparação da lesão a direito, descabendo falar em necessidade de exaurimento da via administrativa, ou seja, o esgotamento de todos os recursos administrativos cabíveis, para que se possa ingressar em juízo, o que não se confunde com o prévio requerimento na via administrativa, a fim que demonstre, a parte, lesão a direito que entende possuir. - Na esteira do comando constitucional, esta Corte editou a Súmula n° 9, segundo a qual "Em matéria previdenciária, torna-se desnecessário o prévio exaurimento da via administrativa como condição de ajuizamento da ação." - A parte autora pleiteia a revisão de benefício, devendo, portanto, manifestar seu interesse, primeiramente, perante autarquia. - Apelação a que se nega provimento. (TRF 3ª Região, OITAVA TURMA, AC 0003078-52.2011.4.03.6125, Rel. DESEMBARGADORA FEDERAL THEREZINHA CAZERTA, julgado em 23/09/2013, e-DJF3 Judicial 1 DATA:04/10/2013)
Nesse contexto, verifica-se que a postulação judicial em ação que se pretende o recebimento de benefício previdenciário sem a prévia postulação fere o Princípio da Separação dos Poderes.
O contra-argumento existente é o Princípio do Livre Acesso à Justiça, que como visto, garante a todos o acesso à ordem jurídica justa. No entanto, como também já visto, o acesso ao poder judiciário deve ser livre, mas deve ser limitado as condições da ação, para que a prestação jurisdicional além de trazer aos postulantes a utilidade buscada, seja efetivamente necessária.
4.5 SUPERLOTAÇÃO JUDICIÁRIA NO ÂMBITO PREVIDENCIÁRIO
Alguns dos que defendem a necessidade do pleito administrativo anterior ao judicial sustentam que a quantidade de processos de matéria previdenciária seria diminuído no âmbito da Justiça Federal. (ALVES, 2010, p. 18)
Em consulta realizada no site do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, por exemplo, pode-se constatar que a quantidade de processos nos gabinetes previdenciários é notadamente maior que a quantidade de processos dos gabinetes das demais matérias. (BRASIL. TRF, 2013)
Muito embora não se possa vincular a superlotação do Poder Judiciário Federal exclusivamente a tal argumento, é inegável a contribuição da postulação unicamente judicial ao exorbitante número atual de demandas. (ALVES, 2010, p. 18)
Ademais disso, o excesso de demandas se reflete em excesso de trabalho e por fim se reflete em demora na apreciação das demandas e dos provimentos jurisdicionais, relativizando o conceito de justiça. Nesse sentido, as brilhantes palavras de Humberto Theodoro Júnior (2005, p. 34):
É evidente que sem efetividade, no concernente ao resultado processual cotejado com o direito material ofendido, não se pode pensar em processo justo. E não sendo rápida a resposta do juízo para a pacificação do litígio, a tutela não se revela efetiva. Ainda que se reconheça e proteja o direito material violado, o longo tempo em que o titular, no aguardo do provimento judicial, permaneceu privado de seu bem jurídico, som razão plausível, somente pode ser visto como uma grande injustiça. (THEODORO JÚNIOR, 2005, p. 34)
Postas tais considerações, cabe ressaltar a fragilidade de tal argumento por falta de fundamente jurídico e amparo legal (ALVES, 2010, p. 18)
4.6 CORRIQUEIRA NEGATIVA DOS PEDIDOS NO ÂMBITO ADMINISTRATIVO
Aqueles que entendem pela desnecessidade do prévio requerimento administrativo para a propositura de ação previdenciária argumentam que o Instituto Nacional do Seguro Social nega na maioria dos casos, aos requerentes, os benefícios pleiteados. (ALVES, 2010, p. 18)
Afirmam ainda, que diante de tantas negativas, o pleito direto no âmbito judiciário já é uma consequência e se apóiam no princípio da economia e da celeridade processual. (ALVES, 2010, p. 18)
No entanto, não existe uma estatística que confirme tal argumento, o que o torna, de certo modo, infundado. E, por outro lado, a resposta dada pela autarquia previdenciária quando compara com a resposta judicial, é muito mais célere. Assim, é mais vantajoso para o próprio requerente o pleito na via administrativa. (ALVES, 2010, p. 18)
Cabe ainda salientar que o artigo 49, da Lei 8.213/91 garante ao segurado o recebimento do beneficio a partir da postulação administrativa, confira-se:
Art. 49. A aposentadoria poridade será devida:
I - ao segurado empregado, inclusive o doméstico, a partir:
[...]
b) da data do requerimento, quando não houver desligamento do emprego ou quando for requerida após o prazo previsto na alínea "a";
II - para os demais segurados, da data da entrada do requerimento. (BRASIL. 1991)
Desse modo, ainda que o benefício pleiteado seja negado ao fim do procedimento administrativo, o direito do requerente continua garantido desde o momento que requereu (ALVES, 2010, p.18)
Diante disso, não há duvidas que o pedido administrativo trará ao postulante mais benesses que prejuízos, tanto do ponto de vista de um provável deferimento de benefício mais célere, quanto da segurança e garantia do recebimento das parcelas vencidas ao fim da contenda. (ALVES, 2010, p. 18)
4.7 POSICIONAMENTO DOS TRIBUNAIS SUPERIORES
Muito embora o ponto central do presente trabalho seja altamente e diariamente discutido no âmbito dos Tribunais Regionais Federais, ocorre com menor frequência nos Tribunais Superiores tal discussão. (BRASIL. STJ, 2012)
As Turmas do Superior Tribunal de Justiça têm posicionamentos diferentes o que não foi pacificado no âmbito da Seção e o Supremo Tribunal Federal, embora tenha reconhecido a Repercussão Geral sobre o assunto, não se manifestou ainda. (BRASIL. STJ, 2012)
Assim, em consideração à relevância do presente tema no âmbito do ordenamento jurídico atual, devem ser pontualmente ressaltadas as manifestações tanto do Superior Tribunal de Justiça, quanto do Supremo Tribunal Federal. (BRASIL. STJ, 2012)
4.7.1 Superior Tribunal de Justiça
O egrégio Superior Tribunal Justiça (BRASIL, STJ, 1998), há aproximadamente 15 anos, proferiu decisão acerca do prévio requerimento administrativo dos benefícios previdenciários.
A referida decisão, proferida pela Sexta Turma, não conheceu o recurso especial interposto em face do acórdão proferido pela Colenda Primeira Turma do eg. Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Confira-se: (BRASIL, STJ, 1998)
PROCESSUAL CIVIL. CARENCIA DE AÇÃO POR FALTA DE INTERESSE DE AGIR. PREVIDENCIARIO. APOSENTADORIA POR IDADE. FALTA DE PEDIDO ADMINISTRATIVO. DISSIDIO COM A SUM. 213-TFR E 9-STJ. NÃO OCORRENTE. 1. SE A INTERESSADA, SEM NENHUM PEDIDO ADMINISTRATIVO, PLEITEIA DIRETAMENTE EM JUIZO BENEFICIO PREVIDENCIARIO (APOSENTADORIA POR IDADE), INEXISTE DISSIDIO COM A SUM. 213 - TFR E COM A 9 - STJ ANTE A DESSEMELHANÇA ENTRE AS SITUAÇÕES EM COTEJO, PORQUANTO AMBAS TRATAM DO EXAURIMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA E NÃO DA AUSENCIA TOTAL DE PEDIDO NAQUELA ESFERA. CORRETO O JULGADO RECORRIDO AO FIXAR A AUSENCIA DE UMA DAS CONDIÇÕES DA AÇÃO - INTERESSE DE AGIR - PORQUANTO, A MINGUA DE QUALQUER OBSTACULO IMPOSTO PELA AUTARQUIA FEDERAL (INSS), NÃO SE APERFEIÇOA A LIDE, DOUTRINARIAMENTE CONCEITUADA COMO UM CONFLITO DE INTERESSES CARACTERIZADO POR UMA PRETENSÃO RESISTIDA. 2. RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO. (REsp 147186/MG, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, SEXTA TURMA, julgado em 19/03/1998, DJ 06/04/1998, p. 179)
Em seu voto, o i. Ministro Fernando Gonçalves não conheceu do Recurso Especial, pois entendeu correto o acórdão proferido pelo Tribunal a quo. Em sequência, esclareceu que o caso dos autos não era o exaurimento dos pedidos administrativo, matéria sumulada pelo Tribunal Federal de Recursos, mas a total ausência de pedido na esfera administrativa, com pleito apenas no judiciário. (BRASIL, STJ, 1998)
Ato contínuo, o Exmo. Ministro reconhece a ausência de uma das condições da ação – o interesse de agir – uma vez que a autarquia previdenciária não impôs obstáculos, via de consequência, não houve pretensão resistida, fazendo com que a lide não se completasse, tornando a ação carecedora. Por fim, a r. sentença proferida pelo MM. Juízo a quo, que julgou extinguindo a ação sem análise de mérito foi mantida. (BRASIL, STJ, 1998)
Posteriormente, o entendimento firmou-se no sentido da desnecessidade do requerimento prévio. Vejamos:
PREVIDENCIÁRIO. SALÁRIO MATERNIDADE. RECONHECIMENTO DE REPERCUSSÃO GERAL PELO STF. SOBRESTAMENTO DO FEITO. IMPOSSIBILIDADE. POSTULAÇÃO PERANTE O PODER JUDICIÁRIO. PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. DESNECESSIDADE. SÚMULA 83/STJ. 1. O reconhecimento da repercussão geral pela Suprema Corte não enseja o sobrestamento do julgamento dos recursos especiais que tramitam no Superior Tribunal de Justiça. Precedentes. 2. É firme nesta Corte o entendimento no sentido da prescindibilidade de prévia postulação administrativa de benefício previdenciário para o ajuizamento da ação judicial previdenciária. Agravo regimental improvido. (AgRg no AREsp 140101/PR, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 24/04/2012, DJe 02/05/2012)
No entanto, em maio de 2012, a matéria voltou a ser discutida no âmbito do Superior Tribunal de Justiça e, nesse momento, com maior profundidade, haja vista o entendimento dissonante dos Ministros que analisaram a causa. (BRASIL, STJ, 2012)
O ilustríssimo Relator, Ministro Humberto Martins apresentou proposta de julgamento no sentido da desnecessidade do prévio requerimento administrativo, fundamentado em precedentes da própria Turma julgadora.
Ocorre que o MM. Ministro Herman Benjamim apresentou proposta de julgamento no sentido contrário, esclarecendo que a verificação sobre as condições da ação não caracteriza ofensa ao acesso à justiça e que, por consequência, a verificação sobre o interesse de agir também não ofende tal preceito. (BRASIL, STJ, 2012)
Esclareceu, ainda, que o interesse de agir processual é caracterizado pela materialização do binômio necessidade-utilidade da atuação jurisdicional, bem como pela existência de um conflito de interesses no âmbito do direito material. (BRASIL, STJ, 2012)
Nesse sentido, entendeu que a pretensão resistida não existe sem a postulação administrativa, não configurando, desse modo, conflito e, menos ainda, lide. Assim, como o Poder Judiciário se destina a resolução de conflitos e não há conflito no caso, entendeu que a ação é carecedora. (BRASIL, STJ, 2012)
Ademais, ressaltou que a análise de benefícios previdenciários é atividade administrativa e que sem a postulação administrativa dos benefícios, o poder judiciário está assumindo tal função. (BRASIL, STJ, 2012)
Por fim, esclareceu que a intenção não é exigir o exaurimento da via administrativa, mas tão-somente a exigência do pedido administrativo para se constatar o interesse de agir. (BRASIL, STJ, 2012)
Postas tais considerações, o ilustríssimo Ministro deu provimento ao agravo regimental, para extinguir o processo sem julgamento de mérito, nos termos do artigo 267, VI, do Código de Processo Civil, que trata das condições da ação. Confira-se: (BRASIL, STJ, 2012)
PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO CONCESSÓRIA DE BENEFÍCIO. PROCESSUAL CIVIL. CONDIÇÕES DA AÇÃO. INTERESSE DE AGIR (ARTS. 3º E 267, VI, DO CPC). PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. NECESSIDADE, EM REGRA. 1. Hipótese em que, na origem, o segurado postulou ação com o escopo de obter benefício previdenciário sem ter requerido administrativamente o objeto de sua pretensão. 2. A presente controvérsia soluciona-se na via infraconstitucional, pois não se trata de análise do princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV, da CF). Precedentes do STF. 3. O interesse de agir ou processual configura-se com a existência do binômio necessidade-utilidade da pretensão submetida ao Juiz. A necessidade da prestação jurisdicional exige demonstração de resistência por parte do devedor da obrigação, mormente em casos de direitos potestativos, já que o Poder Judiciário é via destinada à resolução de conflitos. 4. Em regra, não se materializa a resistência do INSS à pretensão de concessão de benefício previdenciário não requerido previamente na esfera administrativa. 5. O interesse processual do segurado e a utilidade da prestação jurisdicional concretizam-se nas hipóteses de a) recusa de recebimento do requerimento ou b) negativa de concessão do benefício previdenciário, seja pelo concreto indeferimento

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