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Tecnologia dos Materiais 01 Unidade V FRATURA, FLUÊNCIA E FADIGA CONTEÚDO DESTA UNIDADE Introdução. Fratura: Fratura Dúctil. Fratura Frágil. Concentração de Tensão. Ensaio de Choque. Fluência. Fadiga. 02 Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga INTRODUÇÃO O projeto de um componente ou estrutura exige com freqüência que se minimize a possibilidade de falhas. A falha de um material em serviço é sempre um evento indesejável, pois: Vidas humanas podem ser colocadas em perigo. Perdas econômicas. Interrupção no fornecimento de bens e serviços. É importante, então, compreender as diferentes modalidades de falha: FRATURA, FADIGA e FLUÊNCIA. Embora seja difícil se garantir que falhas não ocorram, as suas causas usuais são: Seleção ou processamento inadequado dos materiais. Projeto inapropriado. Má utilização da peça/componente. 03 Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga FRATURA 04 Consiste na SEPARAÇÃO DE UM CORPO EM DUAS OU MAIS PARTES, em resposta a uma aplicação de uma TENSÃO ESTÁTICA (constante ou que varia lentamente com o tempo), em uma TEMPERATURA BAIXA em relação ao ponto de fusão do material. A tensão pode ser de TRAÇÃO, COMPRESSÃO, CISALHAMENTO ou TORCIONAL. Nesta unidade, discutem-se apenas a fratura resultante de ESFORÇOS TRATIVOS UNIAXIAIS. Existem dois tipos gerais de fratura, cada um com características próprias em nível MICROSCÓPICO e MACROSCÓPICO: DÚCTIL ou POR ESCORREGAMENTO: acompanhada por uma deformação plástica substancial e com grande absorção de energia. FRÁGIL ou POR SEPARAÇÃO: acompanhada por pouca ou nenhuma deformação plástica e com baixa absorção de energia. Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga Fratura Qualquer processo de fratura envolve 2 etapas: a formação e a propagação de trincas, em resposta à aplicação de uma tensão. A fratura dúctil é caracterizada por EXTENSA DEFORMAÇÃO PLÁSTICA na vizinhança de uma trinca que está avançando. O processo de abertura e propagação da trinca é relativamente lento (ESTÁVEL). Na fratura frágil, as trincas se espalham de maneira extremamente rápida. O processo é INSTÁVEL: uma vez aberta, a trinca se propaga ESPONTANEAMENTE, SEM AUMENTO DA TENSÃO APLICADA. A fratura dúctil é geralmente PREFERÍVEL pois: A fratura frágil ocorre REPENTINAMENTE e CATASTROFICAMENTE, sem aviso (deformação plástica). No caso da fratura dúctil, por outro lado, a deformação plástica alerta de que a fratura é eminente, permitindo a tomada de medidas preventivas. DÚCTIL E FRÁGIL SÃO TERMOS RELATIVOS. 05 Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga FRATURA DÚCTIL Uma fratura dúctil sob tensão de tração envolve as seguintes etapas: Inicialmente ocorre a ESTRICÇÃO. Formam-se pequenas cavidades na região estrangulada. Admite-se que essas cavidades se formam em INCLUSÕES. Ocorre a ação das DISCORDÂNCIAS, que se amontoam em torno de uma inclusão ou do contorno de grão, elevando assim a tensão. As cavidades aumentam de tamanho, unindo-se (COALESCEM). A trinca formada se estende rapidamente na seção transversal. A fratura ocorre pela rápida propagação de uma trinca ao redor do perímetro externo, em uma direção de 45º em relação ao eixo de tração. 06 Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga Fratura dúctil 07 Fratura do tipo “TAÇA E CONE” no alumínio As superfícies da fratura podem formar o contorno característico conhecido como TAÇA e CONE Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga FRATURA FRÁGIL 08 Ocorre sem qualquer estrangulamento aparente, através de rápida propagação de uma trinca. A direção do movimento da trinca é quase PERPENDICULAR à direção da tensão aplicada, produzindo uma superfície de fratura relativamente PLANA. Fratura frágil no aço. Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga Fratura frágil 09 Dependendo do modo de propagação da trinca, a fratura frágil pode ser: TRANSGRANULAR: a trinca avança devido à quebra sucessiva e repetida de ligações atômicas em planos cristalográficos específicos. Este processo é denominado CLIVAGEM e é comum à maioria dos materiais frágeis cristalinos. INTERGRANULAR: a trinca segue os contornos de grão. Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga CONCENTRAÇÃO DE TENSÃO Todos os materiais apresentam um grande número de pequenos defeitos ou trincas, os quais possuem diversos tamanhos, geometrias e orientações. A presença dessas trincas DIMINUI A RESISTÊNCIA DO MATERIAL À FRATURA porque uma tensão aplicada é AMPLIFICADA próximo às suas extremidades. Devido a essa capacidade de amplificar uma tensão aplicada em suas vizinhanças, esses defeitos são chamados de FATORES DE CONCETRAÇÃO DE TENSÃO. A magnitude dessa amplificação depende da geometria e da orientação da trinca. QUANTO MAIS PONTIAGUDA A TRINCA (MENOR O RAIO DE CURVATURA DA PONTA), MAIOR É ESSE EFEITO. A concentração de tensão é mais significativo em materiais frágeis do que em materiais dúcteis. A amplificação da tensão pode ocorrer também em descontinuidades como VAZIOS, ARESTAS VIVAS e ENTALHES. 10 Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga O grau em que uma tensão externa 0 é amplificada é medido através do FATOR DE CONCETRAÇÃO DE TENSÃO Ke: 2a a X’ X 0 0 Concentração de tensão 11 m 0 Tensão Se e << a: Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga EXEMPLO: PROBLEMA 8.3, PÁGINA 162 12 Qual a magnitude da tensão máxima que existe na extremidade de uma trinca interna que possui um raio de curvatura de 2,5×10-4 mm e um comprimento de trinca de 2,5×10-2 mm quando uma tensão de tração de 170 MPa é aplicada? SOLUÇÃO: dos dados do problema, tem-se: a = 2,5×10-2 mm/2 = 1,25×10-2 mm. e = 2,5×10-4 mm. 0 = 170 MPa. Logo: m = 2404,2 MPa A tensão aplicada 0 foi amplificada 14 VEZES na ponta da trinca! Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga ENSAIOS DE CHOQUE 13 FINALIDADE: medir a energia absorvida por uma amostra de material submetida a uma carga de impacto (choque) de valor conhecido. Determina a TENACIDADE do material. Há diversas técnicas e equipamentos disponíveis. Os métodos mais comuns para metais são os ensaios padronizados CHARPY e IZOD. Em ambos o golpe é aplicado através de um peso oscilante (MARTELO DE PÊNDULO). Tanto na técnica CHARPY como IZOD, o corpo de prova possui o formato de uma barra com seção reta quadrada, na qual é usinada um entalhe em “V”. A diferença entre os dois ensaios está na forma como o corpo de prova é posicionado na máquina. Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga ENSAIOS CHARPY E IZOD 14 Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga Ensaios Charpy e Izod 15 A seqüência de ensaio é: O pêndulo é libertado de uma altura inicial, onde adquire ENERGIA POTENCIAL GRAVITACIONAL. Ao cair, atinge o corpo de prova, continuando sua trajetória até uma altura menor. A diferença entre a energia potencial gravitacional inicial e final corresponde à energia absorvida pelo corpo. Essa energia é lida diretamente na escala da máquina (em kgf·m, kgf ·cm, kgf ·mm ou Joules). Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga 16 TRANSIÇÃO DÚCTIL-FRÁGIL Em algumas situações, materiais normalmente DÚCTEIS podem sofrer fratura FRÁGIL. Uma das principais funções dos ensaios CHARPY e IZOD é determinar se um material experimenta ou não a TRANSIÇÃO DÚCTIL-FRÁGIL. Alguns metais sofrem fratura FRÁGIL, com BAIXA ABSORÇÃO DE ENERGIA, abaixo de uma temperatura crítica (DE TRANSIÇÃO) ou faixa de temperaturas. Acima dessa(s) temperatura(s), entretanto, a fratura se torna DÚCTIL, com MAIOR ABSORÇÃO DE ENERGIA. Ligas que apresentam esse comportamento devem ser utilizadas apenas em temperaturas acima da temperatura de transição, a fim de se evitarem fraturas FRÁGEIS e CATASTRÓFICAS. Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga Exemplos clássicos desse fenômeno ocorreram durante a SEGUNDA GUERRAMUNDIAL, quando inúmeros navios de transporte repentina e abruptamente partiram ao meio, de modo semelhante à figura abaixo. Os cascos dessas embarcações eram fabricados de um aço que possuía ductilidade adequada, de acordo com ensaios realizados à TEMPERATURA AMBIENTE. Quando os navios atravessavam o Mar do Norte, cujas águas estão a aproximadamente 4 ºC (PRÓXIMO À TEMPERATURA DE TRANSIÇÃO DA LIGA), ocorriam fraturas frágeis. 17 Transição dúctil-frágil Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga 18 Transição dúctil-frágil Através dos ensaios de impacto, é obtida uma curva de ENERGIA DE IMPACTO X TEMPERATURA. Se o material apresenta transição dúctil-frágil, observa-se uma redução ABRUPTA da energia absorvida em uma dada temperatura ou faixa de temperaturas. Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga 19 Consiste na DEFORMAÇÃO PLÁSTICA, LENTA E PROGRESSIVA, QUE OCORRE SOB CARGA CONSTANTE, À MEDIDA QUE ATEMPERATURA AUMENTA. Com muita freqüência, materiais metálicos são colocados em serviço sob altas temperaturas e expostos a tensões mecânicas estáticas. Exemplos: rotores de turbinas a jato, componentes de reatores nucleares, linhas de vapor. A fluência é significativa para o ALUMÍNIO ACIMA DE 150 ºC. PARA OS AÇOS, ACIMA DE 350 ºC. O CHUMBO É SUJEITO A ESSE FENÔMENO À TEMPERATURA AMBIENTE. A fluência é influenciada pelo NÍVEL DE TENSÃO, TEMPERATURA e TEMPO. As temperaturas mais elevadas aumentam a mobilidade das discordâncias, favorecendo a deformação plástica. A fratura geralmente é INTERGRANULAR, ocorrendo no contorno de grão. Nesse caso, aumentando-se um material com GRANULOMETRIA MAIS GROSSEIRA é mais resistente à fratura por fluência. FLUÊNCIA Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga 20 A fratura geralmente é INTERGRANULAR, ocorrendo no contorno de grão. Nesse caso, aumentando-se um material com GRANULOMETRIA MAIS GROSSEIRA é mais resistente à fratura por fluência (possui uma área total de contorno de grão menor). Fluência Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga COMPORTAMENTO GERAL DA FLUÊNCIA Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga ENSAIOS DE FLUÊNCIA Para os materiais metálicos, a maioria dos ensaios de fluência envolve TRAÇÃO UNIAXIAL, com corpos de prova de mesma geometria daqueles empregados em ensaios de tração. Os ensaios utilizam 3 dispositivos principais: FORNO ELÉTRICO, com controle de temperatura. EXTENSÔMETRO. DISPOSITIVO DE CARGA. Os ensaios permitem a obtenção de vários dados importantes. Dois aspectos importantes são: RESISTÊNCIA À FLUÊNCIA: tensão a uma dada temperatura que produz uma certa velocidade mínima de deformação. Exemplos: tensão para produzir uma velocidade de 1% em 10.000 horas (para ligas de motores a jato) ou 1% em 100.000 horas (11,5 anos, para turbinas a vapor). RESISTÊNCIA À RUPTURA SOB FLUÊNCIA: tensão a uma dada temperatura necessária para provocar a ruptura em um dado tempo (100, 1.000 ou 10.000 horas). 22 Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga 23 Ensaios de fluência Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga Quando o tempo total de ensaio é excessivamente longo (DA ORDEM DE ANOS), o que torna o teste impraticável, realiza-se a EXTRAPOLAÇÃO dos dados de um ensaio realizado com uma duração menor, com nível de tensão comparável mas a TEMPERATURAS MAIS ELEVADAS do que as encontradas em condições de serviço. FADIGA 24 Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga Falha que ocorre em estruturas e componentes mecânicos sujeitos a tensões OSCILANTES e DINÂMICAS. Nessas condições, a ruptura pode ocorrer mesmo que a tensão aplicada seja INFERIOR à resistência estática do material, desde que o esforço seja aplicado REPETIDAMENTE. O termo “FADIGA” é empregado porque a falha normalmente ocorre após um tempo prolongado. Estimam-se que 90% das falhas em metais são causadas por fadiga. A falha por fadiga é de NATUREZA FRÁGIL, mesmo em materiais dúcteis: há pouca ou nenhuma deformação plástica associada à fratura. As trincas associadas a falhas por fadiga quase sempre se iniciam na SUPERFÍCIE de um componente, em algum PONTO DE CONCENTRAÇÃO DE TENSÃO: RISCOS SUPERFICIAIS, MUDANÇAS BRUSCAS DE SEÇÕES, ENTALHES, PEQUENAS INCLUSÕES E TRINCAS PRÉ-EXISTENTES, VAZIOS, entre outros. TENSÕES CÍCLICAS 25 Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga A tensão aplicada pode ser axial (TRAÇÃO-COMPRESSÃO), de flexão ou torcional. Em geral, são possíveis 3 modalidades de tensões flutuantes: CICLO DE TENSÕES ALTERNADAS OU REVERSÍVEIS. CICLO DE TENSÕES REPETIDAS. CICLO DE TENSÕES ALEATÓRIAS OU CICLO COMPLEXO. TENSÕES (+): TRAÇÃO TENSÕES (-): COMPRESSÃO FRATURA POR FADIGA Etapas do processo de falha por fadiga: ESTÁGIO I: início da trinca em algum ponto de alta concentração de tensões. ESTÁGIO II: propagação da trinca (a trinca avança em incrementos a cada ciclo de tensões). ESTÁGIO III: fratura final rápida uma vez que a trinca atingiu o seu tamanho crítico. Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga 26 Fratura por fadiga Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga 27 ENSAIOS DE FADIGA Consistem em se submeter uma série de corpos de prova a cargas decrescentes, cíclicas ou alternadas, que podem levar o material à ruptura após certo tempo. Através de um ensaio de fadiga, pode-se determinar: LIMITE DE FADIGA: tensão abaixo da qual uma carga pode ser aplicada repetidamente, por tempo indefinido, SEM QUE OCORRA RUPTURA. Exemplos: ALUMÍNIO, MAGNÉSIO, CERTAS LIGA DE TITÂNIO, AÇOS DE BAIXO CARBONO). RESISTÊNCIA À FADIGA: tensão para a qual ocorre a falha, após um certo número de ciclos de aplicação de carga. Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga 28 LIMITE DE FADIGA Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga 29 RESISTÊNCIA À FADIGA Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga 30 FATORES QUE INFLUENCIAM A RESISTÊNCIA À FADIGA NÍVEL DE TENSÃO MÉDIA: quanto maior, menor o número de ciclos até a falha (VIDA EM FADIGA). EFEITOS DA SUPERFÍCIE: VARIÁVEIS DE PROJETO: suavização de descontinuidades, como cantos vivos, raios de curvatura. Esses elementos funcionam como CONCETRADORES DE TENSÃO, reduzindo a vida da peça. ACABAMENTO SUPERFICIAL: melhoria do acabamento da superfície da peça (eliminação de riscos e sulcos, decorrentes de um processo de usinagem, por exemplo) aumenta a vida resistência à fadiga. ENDURECIMENTO DA CAMADA SUPERFICIAL: aumenta o número de ciclos necessários até a falha. Tecnologia dos Materiais Fratura, Fluência e Fadiga 31 * *
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