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1 Sumário 1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................... 1.1 Comentários iniciais........................................................................................................... 1.2 Histórico............................................................................................................................. 1.3 Aplicação da química em outras áreas de exames periciais............................................... 1.4 Principais aplicações da química forense........................................................................... 2 DROGAS................................................................................................................................... 2.1 Introdução ao estudo de drogas de abuso........................................................................... 2.1.1 Classificação das drogas............................................................................................. 2.1.2 Definições importantes relativas as drogas de abuso................................................. 2.2 Principais drogas de abuso................................................................................................. 2.2.1 Cocaína....................................................................................................................... 2.2.2 Maconha..................................................................................................................... 2.2.3 Ópio............................................................................................................................ 2.2.3.1 Heroína................................................................................................................ 2.2.4 LSD............................................................................................................................. 2.2.5 Anfetaminas................................................................................................................ 2.2.6 Ecstasy........................................................................................................................ 2.2.7 Alucinógenos Naturais................................................................................................ 2.2.8 Solventes e inalantes................................................................................................... 2.2.9 Barbitúricos................................................................................................................ 2.2.10 Benzodiazepínicos.................................................................................................... 2.2.11 Anticolinérgicos........................................................................................................ 2.2.11.1 Anticolinérgicos sintéticos................................................................................ 2.2.11.2 Anticolinérgicos naturais................................................................................... 3 REVISÃO DE CONCEITOS BÁSICOS DA QUÍMICA.......................................................... 3.1 Unidade de massa atômica................................................................................................. 3.2 Massa molecular................................................................................................................. 3.3 Subdivisões da química...................................................................................................... 3.4 Principais funções orgânicas.............................................................................................. 3.4.1 Hidrocarbonetos.......................................................................................................... 3.4.1.1 Alcanos................................................................................................................ 2 3.4.1.2 Alcenos................................................................................................................ 3.4.1.3 Alcinos................................................................................................................ 3.4.1.4 Aromáticos.......................................................................................................... 3.4.2 Alcoóis........................................................................................................................ 3.4.3 Fenóis.......................................................................................................................... 3.4.4 Eteres.......................................................................................................................... 3.4.5 Aminas........................................................................................................................ 3.4.6 Compostos carbonílicos.............................................................................................. 3.4.6.1 Cetonas................................................................................................................ 3.4.6.2 Aldeídos.............................................................................................................. 3.4.6.3 Ácidos carboxílicos............................................................................................. 3.4.6.4 Esteres................................................................................................................. 3.4.6.5 Amidas................................................................................................................ 4 LEGISLAÇÃO PERTINENTE A QUÍMICA FORENSE......................................................... 4.1 Lei 11.343 de 2006............................................................................................................. 4.2 Portaria 344/1998 Anvisa................................................................................................... 4.3 Artigos do código penal cuja materialidade necessita de uma análise química................. 4.3.1 Homicídio................................................................................................................... 4.3.2 Incêndio...................................................................................................................... 4.3.3 Explosão..................................................................................................................... 4.3.4 Uso de gás tóxico ou asfixiante.................................................................................. 4.3.5 Fabrico, fornecimento, aquisição posse ou transporte de explosivos ou gás tóxico, ou asfixiante......................................................................................................................... 4.3.6 Envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal............ 4.3.7 Corrupção ou poluição de água potável...................................................................... 4.3.8 Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de substância ou produtos alimentícios.......................................................................................................................... 4.3.9 Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais............................................................................................................................ 4.3.10 Emprego de processo proibido ou de substância não permitida............................... 4.3.11 Invólucro ou recipiente com falsa indicação............................................................ 4.3.12 Produtos ou substância nas condições dos artigos 274 e 275 do CPB..................... 4.3.13 Substância destinada à falsificação...........................................................................4.3.14 Outras substâncias nocivas à saúde pública.............................................................. 3 4.3.15 Medicamento em desacordo com receita médica..................................................... 4.3.16 Contrabando ou descaminho.................................................................................... 5 ANÁLISES INSTRUMENTAIS................................................................................................ 5.1 Análises Qualitativas e Análises Quantitativas.................................................................. 5.2 Cromatografia..................................................................................................................... 5.2.1Classificações da cromatografia.................................................................................. 5.2.1.1Cromatografia em coluna..................................................................................... 5.2.1.2 Cromatografia planar.......................................................................................... 5.2.1.3 Classificações com relação a fase móvel............................................................ 5.2.1.4 Classificação quanto a interação......................................................................... 5.2.1.5 Classificação quanto ao objetivo........................................................................ 5.2.2 O processo de separação............................................................................................. 5.2.2.1 Polaridade........................................................................................................... 5.2.3 Aplicações da cromatografia em química forense...................................................... 5.2.4 Outras aplicações da cromatografia............................................................................ 5.2.4.1 Purificação e isolamento de substâncias............................................................. 5.2.4.2 Acompanhamento de reações químicas.............................................................. 5.2.5Técnicas cromatográficas............................................................................................ 5.2.5.1 Cromatografia clássica em coluna...................................................................... 5.2.5.2 Cromatografia em camada delgada..................................................................... 5.2.5.3 Cromatografia gasosa.......................................................................................... 5.2.5.3.1 Injetor.......................................................................................................... 5.2.5.3.2 Colunas........................................................................................................ 5.2.5.3.3 Detectores.................................................................................................... 5.2.5.3.4 Métodos cromatográficos em cromatografia gasosa................................... 5.2.5.3.5 Limitações da cromatografia gasosa........................................................... 5.3 Espectrometria no Infravermelho....................................................................................... 5.3.1 Interpretação dos espectros no infravermelho............................................................ 5.3.1.1 Acima de 3000cm-1............................................................................................ 5.3.1.1.1 Alcoois e Fenois.......................................................................................... 5.3.1.1.2Aminas......................................................................................................... 5.3.1.1.3 Ácido carboxílico........................................................................................ 5.3.1.1.4 Alcenos........................................................................................................ 5.3.1.1.5 Alcinos......................................................................................................... 4 5.3.1.1.6 Aromáticos.................................................................................................. 5.3.1.2 Abaixo de 1000 cm-1.......................................................................................... 5.3.1.3 Entre 1900 e 2800 cm-1...................................................................................... 5.3.1.3.1 C tripla C (conforme alcinos)...................................................................... 5.3.1.3.2 C – H de aldeido 2830 – 2695 cm-1 (uma ou duas bandas)........................ 5.3.1.4 Carbonila............................................................................................................. 5.3.1.4.1 Cetona......................................................................................................... 5.3.1.4.2 Ester............................................................................................................. 5.3.1.4.3 Amida.......................................................................................................... 5.3.1.4.4 Aldeído........................................................................................................ 5.3.1.4.5 Ácido........................................................................................................... 5.3.1.5 1300 – 900cm-1.................................................................................................. 5.3.1.6 CH2 (metileno) e CH3 (metila).......................................................................... 5.4 Espectrometria de massas................................................................................................... 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................... 5 1 INTRODUÇÃO Este trabalho trata da aplicação, utilidade e importância da química; uma ciência natural, na solução de problemas de interesses da Justiça, dando ênfase na área penal. 1.1 Comentários iniciais As palavras química e forense, a princípio, parecem não terem nenhuma relação entre si e pertencerem a áreas completamente distintas. A química pode ser, de uma forma bastante genérica, definida como uma ciência natural que estuda a composição, propriedades, interações e, principalmente, transformações da matéria. A palavra forense refere-se a tudo que seja relativo a fóruns e tribunais, ou seja, aquilo que é estritamente relacionado a assuntos do judiciário. Assim, a química forense pode ser definida como aplicação de conhecimentos e técnicas científicas, relacionados a química, para solução de problemas de interesse da justiça. A química forense tem aplicabilidade em diferentes áreas. Pode-se destacar: ✔ Atividades policiais; ✔ Questões trabalhistas (atividades perigosas ou insalubres); ✔ Questões relativas ao meio ambiente; ✔ Doping desportivo; ✔ Pesquisa científica; 1.2 Histórico Na antiguidade a química forense tinha como principal casuística a tentativa de desvendar assassinatos provocados por arsênio. Orfila é considerado o primeiro grande nome da química forense ao desenvolver técnicas para análise de arsênio. O primeiro relato de aceitação de análises química em um tribunal faz referência ao caso Blandy em meados do século XVIII. Nos dias atuais a química forense tem grande aplicabilidade e um papel fundamental 6 de orientar a justiça nos mais variados processos. 1.3 Aplicação da química em outras áreas de exames periciais Em diversas outras áreas periciais a química é utilizada durante a realização dos exames. Podemos citar como exemplo a utilização de substâncias químicas como o luminol para revelar vestígios de sangue em local de crime, utilização de reveladores em exames papiloscópicos,a utilização de reagentes em perícia de veículos e balísticas para revelação de números de série, na documentoscopia e em várias outras áreas. Figura 1: Ação do luminol 1.4 Principais aplicações da química forense Abaixo se encontram relacionadas as principais amostras que são analisadas no dia a dia de um químico forense: ✔ Drogas ilícitas; ✔ Agrotóxicos; ✔ Medicamentos; ✔ Combustíveis; ✔ Bebidas; ✔ Amostras recolhidas em locais de incêndio; ✔ Amostras recolhidas em locais de pós explosão; ✔ Análise toxicológica em vísceras e fluidos humanos; 7 ✔ Resíduos biológicos. O que caracteriza a química forense é principalmente o tipo de amostra e a finalidade de realização da análise. Como veremos em capítulos posteriores, os métodos analíticos instrumentais empregados são os mesmos utilizados em outras diferentes aplicações da química. Entre as diversas aplicações da química para solucionar problemas de interesse do judiciário, sem dúvida alguma, a análise de drogas ilícitas é a principal e com maior número de casuística. Desta forma, o próximo capítulo será dedicado ao estudo das principais drogas ilícitas que são utilizadas para fins recreativos. 8 2 DROGAS Sem dúvida alguma, a principal aplicação da química para solucionar problemas de interesse do judiciário é a análise de amostras de substâncias suspeitas de serem drogas ilícitas. Como veremos em capítulos posteriores, drogas ilícitas, de acordo com a legislação brasileira, são as que estão relacionadas em anexos da Portaria 344/1998 da ANVISA. Existem diversas definições para droga. Uma das versões para a origem da palavra droga é que trata-se de uma palavra de origem holandesa “drogg” que significa “folha seca”, provavelmente porque antigamente todos os medicamentos eram feitos a partir de vegetais. Abaixo temos algumas definições para droga. Definição de droga dada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA): “DROGA - substância ou matéria-prima que tenha finalidade medicamentosa ou sanitária. Quando citado em inglês a palavra “drug”, esta deve ser traduzida, preferencialmente, como fármaco e não como droga. (Lei n.° 5.991/73; Decreto n.° 79.094/77; Portaria n.° 344/98)” Definição de droga segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, “abrange qualquer substância não produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas produzindo alterações em seu funcionamento.” Definição de droga em glossário da ONU “Um termo de uso variado. Em medicina, refere-se a qualquer substância com o potencial de prevenir ou curar doenças ou aumentar o bem estar físico ou mental; em farmacologia, refere-se a qualquer agente químico que altera os processos bioquímicos e fisiológicos de tecidos ou organismos. Portanto, droga é uma substância que é, ou pode ser, incluída numa farmacopeia. Na linguagem comum, o termo se refere especificamente a drogas psicoativas e em geral ainda mais especificamente às drogas ilícitas, as quais têm um uso não médico além de qualquer uso médico. As classificações profissionais (por exemplo: “álcool e outras drogas”) normalmente procuram indicar que a cafeína, o tabaco, o álcool e outras substâncias de uso habitual não médico sejam também enquadradas como drogas, na medida em que elas são consumidas, pelo menos em parte, por seus efeitos psicoativos.” Definição de droga constante na Lei 11.343/2006, de 23 de agosto de 2006 Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União. 9 É comum a utilização do termo droga para indicar substâncias que são utilizadas com propósito de recreação. Essas substâncias atuam sobre o Sistema Nervoso Central (SNC) e geralmente também são citadas como substâncias psicoativas, substâncias psicotrópicas ou drogas de abuso. 2.1 Introdução ao estudo de drogas de abuso Nesse curso será dado ênfase ao estudo das drogas ilícitas, substâncias proscritas (não podem ser comercializadas em nenhuma hipótese), e também as substâncias não proscritas que são utilizadas como drogas de abuso. A maioria das substâncias utilizadas para esse propósito, que não são proscritas, são comercializadas de forma controlada. 2.1.1 Classificação das drogas As drogas de abuso são classificadas de acordo com sua ação no sistema nervoso central: ➢ Depressoras (psicoléptica): deprime o sistema nervoso central. Exemplo: álcool, opiáceos, barbitúricos, benzodiazepínicos, etc. O usuário fica relaxado, geralmente com maior facilidade para dormir. ➢ Estimulante (psicoanaléptica): estimula o sistema nervoso central. Exemplo: cocaína, anfetaminas, nicotina, etc. O usuário fica “elétrico”, cheio de energia. Em geral, diminuem o sono e a fome. ➢ Alucinógenos (psicodisléptica): altera os sentidos provocando alucinações. Exemplo: maconha, LSD, ecstasy, etc. O usuário pode vir a ter alucinações, ou seja, percepção sem objeto. Ver ou escutar algo que não existe. Com relação a origem as drogas são classificadas em: ➢ Naturais ➢ Sintéticas ➢ Semi sintéticas Com relação aos aspectos legais as drogas são classificadas em: ➢ Lícitas: álcool, nicotina, cafeína, etc 10 ➢ Ilícitas: cocaína, maconha, heroína, etc 2.1.2 Definições importantes relativas as drogas de abuso Tolerância: Característica desenvolvida pelo organismo do usuário de drogas que faz com que seja necessário uma dose cada vez maior de uma determinada droga para que seus efeitos continuem a serem percebidos. Dependência física: Necessidade que o organismo desenvolve em relação a uma determinada substância. A dependência física tem uma relação direta com a crise de abstinência, ou seja, o dependente físico tem crise de abstinência na ausência de uma substância a qual ele é fisicamente dependente. Dependência psíquica: Necessidade psicológica do usuário de utilizar determinada substância. Sensação quase incontrolável para utilizar determinada substância. Crise de abstinência: Reação do organismo do indivíduo, que sofre de dependência física, na ausência de uma determinada substância. 2.2 Principais drogas de abuso 2.2.1 Cocaína A cocaína é uma substância natural que é extraída de uma planta denominada erythroxylum coca. Esta planta é típica da região andina da América do Sul. Figura 2: Planta de coca 11 A molécula de cocaína contém um par de elétron livres em um átomo de nitrogênio. Todo o processo de extração da cocaína da folha de coca está baseado na reatividade desse par de elétrons. A cocaína é uma substância psicoativa com propriedades estimulantes, ou seja, é uma droga psicoanaléptica. O usuário tem sensações de euforia, coragem, sensação de poder, hiperatividade, insônia e perda de apetite. Outra característica típica do uso de cocaína são as sensações persecutórias experimentada pelo usuário. As vias de administração mais comum da cocaína são: aspirada, injetada e fumada. A cocaína fumada é um fenômeno que recentemente ganhou grandes proporções com o advento do “crack” e atualmente a imprensa tem divulgado a existência do “oxi” que do ponto de vista técnico-científico carece de maiores informações. A cocaína fumada (na forma de crack, pasta base ou “oxi”) é a via mais rápida e eficaz de absorção devido ao tamanho da superfície pulmonar em comparação com a mucosa nasal. Por isso, a capacidade do crack produzir dependência é maior. 2.2.2 Maconha A maconha é um produto natural composto por folhas e floressecas da planta cannabis sativa. A cannabis sativa é uma planta que pode ser cultivada em diferentes regiões do planeta. Escohotado (1999) registra que no tratado medicinal chinês, escrito no primeiro século, existem relatos baseado no material de Shen nung, datado de trinta séculos antes, acerca da maconha. As substâncias psicoativas encontradas na maconha são os canabinoides. O THC (tetrahidrocanabinol) é o canabinoide com maior potencial psicotrópico encontrado na maconha. A maconha é considerada uma droga psicodisléptica, ou seja, um alucinógeno. A principal via de administração é fumada, no entanto, ela também pode ser ingerida como ingrediente de bolos, biscoitos, etc. Os usuários experimentam uma sensação de tranquilidade, calma e relaxamento. A pessoa ri por qualquer motivo e se sente mais descontraída. Aumenta a sensibilidade ao som (ficar curtindo uma música por exemplo) e ao gosto (a famosa “larica”). O usuário fica “morgando”, que se caracteriza pela vontade de não fazer nada, ou “viajando” em algum objeto, pois a maconha aumenta a sensibilidade visual. Podendo ocorrer perda da percepção 12 do tempo e espaço e também da memória. De acordo com dados de órgãos vinculados a ONU e do CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas), a maconha é a droga psicoativa mais consumida no mundo e também no Brasil para fins recreativos. 2.2.3 Ópio Ópio é uma palavra de origem grega com significado de suco. O ópio é extraído dos frutos imaturos (capsula) da papoula através de uma incisão (figura 4). A papoula e a cannabis sativa estão entre as plantas que possuem substâncias psicotrópicas mais consumidas como drogas de abuso. O ópio possui diversos alcaloides em sua composição, sendo a morfina (nome derivado de Morfeu Deus dos Sonhos), uma substância com grande poder analgésico, a mais abundante. A morfina foi isolada em 1803 pelo alemão Friedrich Wilhelm Adam Sertürner. Este fato é uma marco no processo de extração de substâncias com atividades biológicas de plantas (fitoquímica). Figura 3: Papoula 2.2.3.1 Heroína A heroína é uma substância semissintética obtida a partir da diacetilação da morfina. Foi sintetizada em 1874 com o propósito de substituir a morfina devido a capacidade desta de provocar dependência. O seu nome deriva do fato de ser uma das substâncias com maior poder analgésico que se tem conhecimento, ou seja, seria uma homenagem ao seu heroísmo no combate a dor. No entanto, a heroína, até mais que a morfina, também provoca dependência e ficou no mercado apenas por cinco anos. 13 A heroína, como droga de abuso, é consumida aspirada e principalmente injetada. Seu uso provoca um estado de torpor, isolamento da realidade do mundo, calmaria. A realidade e fantasia se misturam, gerando uma sensação de sonhar acordado, um estado sem sofrimento e sem paixões. O usuário esquece de todas as suas preocupações e tem uma sensação de felicidade. Uma característica peculiar de todos os derivados de ópio, inclusive a heroína, é sua grande capacidade de causar dependência física. Não pode haver interrupção abrupta de utilização da droga, pois isto pode acarretar em fortes crises de abstinência que podem levar até a morte. 2.2.4 LSD LSD é uma sigla em alemão para a substância dietilamida do ácido lisérgico (Lyserg- saure-diathylamid). O ácido lisérgico é um núcleo comum em alcaloides encontrados na cravagem do centeio a qual é relacionada ao fungo claviceps purpurea que cresce parasitamente no centeio. Albert Hofmann, químico suiço que trabalhava nos laboratórios Sandoz , atualmente parte do grupo farmacêutico Novartis, sintetizou o LSD em 1938 com a intenção de obter um estimulante circulatório e respiratório (um analéptico). No entanto, devido aos resultados obtidos nos testes, a nova substância não despertou nenhum interesse especial nos farmacólogos e médicos e os testes foram então descontinuados. Cinco anos mais tarde, devido a uma sensação que o próprio Dr. Hofmann descreve como um sentimento peculiar, a síntese do LSD foi repetida. Na etapa final da síntese, durante a purificação e cristalização o trabalho foi interrompido devido a sensações incomuns e Dr. Hofmann elabora o seguinte relatório ao seu chefe: “Sexta-feira passada, 16 de abril de 1943, fui forçado a interromper meu trabalho no laboratório, no meio da tarde e retornei a minha casa afetado por uma inquietude notável, combinada com uma leve vertigem. Em casa eu me deitei e afundei numa condição não desagradável de um tipo de intoxicação, caracterizada por uma imaginação extremamente estimulada. Num estado como que em sonho, com os olhos fechados, eu achei a luz do dia desagradavelmente brilhante, eu percebia um fluxo ininterrupto de quadros fantásticos, formas extraordinárias com um intenso caleidoscópico jogo de cores. Depois de umas duas horas esta condição diminuiu” (Hofmann). Dr. Hofmann chegou a conclusão que os efeitos foram decorrentes de uma pequena 14 absorção acidental que poderia ter ocorrido quando trabalhava com o LSD, então, após o final de semana, em 19 de abril de 1943, resolveu fazer uma auto-experiência narrada abaixo: Começando uma vertigem, sentimento de ansiedade, de distorções visuais, sintomas de paralisia, desejo de rir. Fui para Casa através de bicicleta. Das 18:00 às 20:00 crise mais severa. Aqui cessam as notas do meu diário de laboratório. Eu só pude escrever as últimas palavras com um grande esforço. Agora já estava claro para mim que o LSD tinha sido a causa da notável experiência da sexta-feira prévia, pelas percepções alteradas que eram do mesmo tipo de antes só que com uma intensidade muito maior. Eu tive que lutar para falar de forma inteligível. Eu pedi para meu assistente de laboratório, que estava ciente da minha auto-experiência, que me acompanhasse até minha casa. Nós fomos de bicicleta, nenhum automóvel estava disponível por causa das restrições de seu uso durante a guerra. Uma vez em casa, minha condição começou a assumir formas ameaçadoras. Tudo em meu campo de visão oscilava e estava distorcido como se visto num espelho torto. Eu também tive a sensação de estar impossibilitado de sair do lugar. Não obstante, meu assistente me falou depois que nós tínhamos viajado muito rapidamente. Felizmente nós chegamos em casa são e salvos e eu fui capaz de pedir para meu companheiro chamar nosso médico de família e mesmo pedir leite aos vizinhos. Apesar da minha condição delirante, confusa, eu tive breves períodos de pensamento claro e efetivo e escolhi leite como um antídoto não específico para o envenenamento. A vertigem e sensação de desmaio às vezes ficavam tão fortes que eu já não podia ficar em pé e tive que me deitar num sofá. Meus ambientes tinham se transformado agora de modo terrificante. Tudo no quarto estava girado ao meu redor e os objetos mais familiares, as peças de mobília assumiam formas grotescas, ameaçadoras. Elas estavam em contínuo movimento, animadas, como se dirigidas por uma inquietude interna. A vizinha, que eu reconheci parcamente, trouxe-me leite e, durante a noite, bebi mais de dois litros. Ela não era mais nenhuma Senhora R., mas sim uma bruxa malévola, insidiosa com uma máscara colorida. Até pior que estas transformações endiabradas do mundo exterior, eram as alterações que eu percebia em mim, em meu próprio ser interno. Todo esforço na minha tentativa para pôr um fim na desintegração do mundo exterior e na dissolução de meu ego, parecia ser um esforço desperdiçado. Um demônio tinha me invadido, tinha tomado posse do meu corpo, mente, e alma. Saltei, gritei e tentei me livrar dele, entretantoafundei novamente e me deitei impotente no sofá. A substância, que eu tinha querido experimentar, tinha me derrotado. Era o demônio que desdenhosamente triunfava sobre minha vontade. Fui tomado pelo terrível medo de ter ficado louco. Eu fui levado para um outro mundo, um outro lugar, um outro tempo. Meu corpo parecia estar sem sensações, inanimado, estranho. Estaria eu morrendo? Esta era a transição? Às vezes eu acreditava que estava fora do meu corpo e então percebia claramente, como um observador externo, a completa tragédia da minha situação. Eu nem mesmo tinha tido a oportunidade de me despedir da minha família (minha esposa, com nossas três crianças, tinha viajado naquele dia para visitar seus pais, em Lucerne). Entenderiam eles que eu não tinha experimentado irrefletidamente, irresponsavelmente, mas com uma precaução bastante extrema e isto era um resultado totalmente imprevisível? Meu medo e desespero se intensificaram, não só porque uma família jovem poderia perder seu pai, mas também porque eu temia ter que deixar meu trabalho de pesquisa química inacabado no meio de um desenvolvimento frutífero, promissor. Outra reflexão que tomou forma foi uma ideia cheia de ironia amarga: se eu fosse forçado a deixar este mundo prematuramente, seria por causa deste ácido lisérgico diethylamide que eu mesmo tinha trazido ao mundo. Antes que o doutor chegasse, o clímax da minha desesperada condição já tinha passado. Meu assistente de laboratório o informou sobre minha auto-experiência porque eu não era ainda capaz de formular uma frase coerente. Ele, perplexo, balançou sua cabeça depois de minhas tentativas para descrever o perigo mortal que ameaçava meu corpo. Ele não pôde descobrir nenhum sintoma anormal diferente das pupilas extremamente dilatadas. Pulso, pressão sanguínea e a respiração estavam totalmente normais. Ele não via nenhuma razão para prescrever qualquer medicamento. Ao invés disso ele me levou para minha cama e ficou me vigiando. Lentamente eu voltei de um mundo misterioso, pouco 15 conhecido e reassumindo a realidade cotidiana. O horror suavizou-se e deu lugar a um sentimento de muita felicidade e gratidão, quanto mais normais as percepções e os pensamentos devolvidos, fiquei mais confiante de que o perigo da loucura tinha definitivamente passado. Agora, pouco a pouco, eu poderia começar a desfrutar as cores sem precedentes e os jogos de forma que persistiram por trás de meus olhos fechados. Imagens caleidoscópicas, fantásticas surgiram em mim, variando, alternando, abrindo e então se fechando em círculos e espirais, explodindo em fontes coloridas, reorganizando e se cruzando em fluxos constantes. Era particularmente notável como cada percepção acústica, como o som de uma maçaneta de porta ou de um automóvel passando, foi transformada em percepção óptica. Todo som gerava uma vívida imagem variável, com sua própria forma, consistência e cor. Mais tarde, à noite, minha esposa voltou de Lucerne. Alguém a tinha informado, através de um telefonema, que eu estava sofrendo um desarranjo misterioso. Ela tinha voltado para casa imediatamente e tinha deixado para trás as crianças com os pais dela. Até então eu já tinha me recuperado suficientemente para lhe contar o que tinha me acontecido. Exausto, então eu dormi para despertar na próxima e fresca manhã com uma mente clara, embora ainda um pouco cansado fisicamente. Uma sensação de bem-estar e vida renovada fluía por mim. O café da manhã teve um gosto delicioso e me deu um extraordinário prazer. Quando depois eu fui ao jardim, no qual o sol brilhava depois de uma chuva da primavera, tudo brilhou e centelhou numa luz fresca. O mundo era como se tivesse sido recentemente criado. Todos meus juízos vibravam em uma condição mais alta de sensibilidade que persistiu durante o dia inteiro. Esta auto-experiência mostrou que o LSD-25 se comportara como uma substância de propriedades psicoativas extraordinárias e com muita potência. Não havia no meu conhecimento, nenhuma outra substância que provocasse tais efeitos psíquicos profundos em tais doses extremamente baixas e que causassem tais mudanças dramáticas na consciência humana e na nossa experiência do mundo interior e exterior. O que parecia mais significante era que eu podia até mesmo lembrar-me da experiência de inebriação do LSD em todos os detalhes. Isto só poderia significar que a função gravadora da consciência não foi interrompida, até mesmo no clímax da experiência do LSD, apesar do desarranjo profundo da visão normal do mundo. Durante toda a experiência, eu tinha estado ciente, até mesmo atento, da participação em uma experiência, mas apesar deste reconhecimento da minha condição, não pude eu, com todo o esforço do meu querer, sacudir o mundo do LSD. Tudo foi experimentado como completamente real, como uma realidade alarmante; alarmante porque o quadro da outra, a familiar realidade cotidiana, ainda tinha sido completamente preservada na memória para comparação. Outro aspecto surpreendente do LSD foi sua habilidade de produzir um estado de longo alcance, poderoso de inebriação, sem deixar uma ressaca. Totalmente ao contrário, no dia seguinte ao experimento do LSD eu mesmo me senti, como já descrevi, em excelente condição física e mental. Eu estava seguro que o LSD, uma combinação ativa nova com tais propriedades, teria que ter uso na farmacologia, na neurologia e especialmente na psiquiatria, e que atrairia o interesse dos especialistas envolvidos. Mas naquele momento eu não tive nenhuma percepção de que a nova substância também viria a ser usada, além da ciência médica, como um inebriante no cenário das drogas. Considerando que minha auto-experiência tinha revelado o LSD em seu terrificante e endiabrado aspecto, a última coisa que eu poderia ter esperado era que esta substância pudesse mesmo achar aplicação como qualquer coisa se aproximando de uma droga de prazer. Eu, além disso, não reconheci a conexão significante entre a inebriação do LSD e as experiências visionárias espontâneas, até muito mais recente, depois de experiências adicionais que foram levadas a cabo com doses muito mais baixas e debaixo de condições diferentes. (Hofmann, 2009, pag. 10) As sensações provocadas pelo uso do LSD estão bem descritas acima pelo Dr. Hofmann. Destaca-se a pequena quantidade necessária para produzir o efeito alucinógeno. O LSD, geralmente, é consumido através de micropontos que são colocado sob a língua. Nos 16 micropontos a uma quantidade da ordem de microgramas. Outra característica peculiar ao LSD é a possibilidade do usuário experimentar o efeito de “flashback”. O usuário pode voltar a ter alucinações semanas ou meses depois de ter consumido a droga. O “flashback” é geralmente uma vivência psíquica muito dolorosa, pois a pessoa não estava procurando ou esperando ter aqueles sintomas, e assim eles podem aparecer em momentos bastante impróprios, sem que ela saiba porque, podendo até pensar que está ficando louca. 2.2.5 Anfetaminas São drogas sintéticas de efeito estimulante. Como exemplo de anfetaminas temos alguns medicamentos sujeito a controle especial com notificação de receita. Esses medicamentos são utilizados como moderador de apetite (aconselhado apenas em casos de obesidade mórbida); em pacientes com transtorno de deficit de atenção, hiperatividade e em pessoas com narcolepsia (condição neurológica caracterizada por episódios irresistíveis de sono). As anfetaminas foram sintetizadas no final do século XIX e o controle da comercialização iniciou-se na década de setenta. Como exemplo de alguns medicamentos que o princípio ativo é estruturalmente relacionado com as anfetaminas temos a ritalina e o desobesi-m. As anfetaminas também são conhecidas como “Rebite”pelos motoristas. Existem muitos relatos de utilização entre os caminhoneiros, que precisam dirigir várias horas seguidas sem descansar. Entre os estudantes, é conhecida por “bola”, e é também utilizada para inibição de sono com objetivo de passar a noite inteira estudando. A principal forma de utilização é por via oral através da ingestão de comprimidos. Em usuários crônicos pode ser usada na forma injetável. A metanfetamina, principal derivado anfetamínico utilizado como droga de abuso, pode ser fumada através de cachimbo e também aspirada na forma de pó. Pelos usuários é conhecida como “cristal” ou “ice”. As sensações provocadas pelo uso é o aumento do alerta, da vigília, da energia, das atividades motoras, da fala, da autoconfiança e da capacidade de concentração, sensação geral de bem-estar e diminuição do apetite. Outra característica inerente as anfetaminas é a necessidade do usuário de usar doses cada vez maiores para experimentar os mesmos efeitos antes obtidos com doses menores, ou seja, a tolerância. 17 2.2.6 Ecstasy O ecstasy é uma substância sintética, que geralmente é consumida na forma de comprimidos. Droga que possui propriedades estimulantes e alucinógenas. Seu consumo geralmente é associado a festas rave e música eletrônica. O princípio ativo do ecstasy é o metilenodioximetanfetamina (MDMA). O registo da patente do MDMA foi pedido a 24 de Dezembro de 1912 pela empresa farmacêutica Merck com a finalidade de ser um moderador de apetite. Seu uso foi proibido nos Estados Unidos em 1985 e posteriormente em vários outros países. As sensações provocadas pelo uso são euforia, bem-estar, alterações da percepção sensorial do consumidor, alterações ao nível do tato, sensibilidade das vistas, sensação de compreensão, mudança da percepção da realidade, aumento da atividade física, insônia, autoconfiança, empatia aumentada junto com sensação de maior proximidade e intimidade com outras pessoas, melhora na comunicação e nas habilidades de relacionamento. Em síntese, além dos efeitos estimulantes, o usuário sente uma sensação de estar de bem consigo e com os outros. Uma sensação de afetividade. O ecstasy é conhecido como a pílula do amor. O ecstasy, geralmente, é classificado como alucinógeno em razão do seu potencial de causar alucinações se utilizado em doses extremamente altas (American Psychiatric Association, 1994; WHO, 2001). Como os efeitos subjetivos do MDMA em humanos não são os mesmos produzidos pela dietilamida do ácido lisérgico (LSD) e como a droga não apresenta estrutura ou atividade farmacológica similar aos alucinógenos, o termo entactogênios, que significa entrando em contato com você mesmo (Nichols, 1986; Morgan, 2000), foi proposto para definir uma nova classe farmacológica. 2.2.7 Alucinógenos Naturais Existem muitas plantas que contém substâncias com propriedades alucinógenas. Alucinação é a percepção sem objeto. Ver ou ouvir algo que não existe são exemplos de alucinações. As alucinações podem aparecer espontaneamente no ser humano em casos de psicoses, como a esquizofrenia. As drogas alucinógenas são defendidas por muitos usuários. É comum movimentos que defendem a liberação da maconha, por exemplo. Plantas que possuem um alucinógeno conhecido como DMT são utilizadas por ceitas como o santo daime. 18 A utilização de alucinógenos pode levar a “boas” ou “más” viagens. As sensações provocadas pelo uso de alucinógenos dependem de várias condições, como sensibilidade e personalidade do indivíduo, expectativa que a pessoa tem sobre os efeitos, ambiente, presença de outras pessoas, entre outros fatores. Muitos rituais religiosos que utilizam substâncias alucinógenas contam com o trabalho de um guia ou sacerdote para orientar e preparar os usuários a terem os efeitos desejados. Entre os alucinógenos naturais mais utilizados para alteração da consciência podemos citar a psilocibina que é encontrada em alguns cogumelos, o DMT que é o princípio ativo da bebida do santo daime encontrado na chacrona e a mescalina encontrada no cactus peiote cujo uso é mais comum na América Central. 2.2.8 Solventes e inalantes Solventes e inalantes são, em geral, produtos industriais, combustíveis ou material de limpeza que são normalmente utilizados por crianças de rua. São produtos altamente voláteis, ou seja, que se evapora naturalmente. São acessíveis e possuem preço baixo. Como exemplo deste tipo de substância podemos citar a cola de sapateiro (tolueno, hexano e acetato de etila), éter, gasolina, esmalte, acetona, corretivo, tiner, etc. Entre os usuários que não são moradores de rua, é mais comum o uso do cheirinho da loló e do lança perfume. O cheirinho da loló é uma mistura de clorofórmio com éter, ou qualquer outro solvente que o “fornecedor” tenha disponível, pois como qualquer outra droga de abuso de venda ilícita, estes produtos não passam por controle de qualidade. O lança perfume é uma substância que, geralmente, é mais utilizada no carnaval. O princípio ativo do lança perfume é o cloreto de etila. A apreensão de tubos de lança perfume tendo freon, gás utilizado em geladeiras e ar condicionado, é relativamente comum. A sensação experimentada pelo uso dos inalantes é muito rápida, pois dos pulmões passa para a circulação sanguínea, atingindo o cérebro e o fígado, órgãos com maior volume de sangue no corpo. Inicialmente, provoca euforia, caracterizada por cabeça leve, girando, fantasias que parecem reais (processo alucinatórios). Essas sensações acabam em poucos minutos e essa é a razão pela qual os usuários habituais de inalantes colocam o produto num saco plástico, e ficam cheirando durante muito tempo. Uma peculiaridade associada ao uso de solventes e inalantes é a “morte súbita por inalação de solventes”. Após a inalação, se o individuo se submeter a algum exercício ou 19 stress inesperado, pode ocorrer a morte, que é causada por falência cardíaca associada à arritmia cardíaca acentuada (o coração fica mais sensível a adrenalina). Outra possibilidade desses produtos levarem a morte é por sufocamento. O usuário desmaia com o saco plástico na boca e nariz e morre por falta de ar. 2.2.9 Barbitúricos Os barbitúricos são substâncias sintéticas encontradas em medicamentos de uso comercial. São compostos derivados do ácido barbitúrico, o qual é obtido através de uma reação química entre ureia e ácido malônico. Com a substituição de um dos hidrogênios alfa as duas carbonilas obtém-se uma grande variedade de compostos com propriedades farmacológicas. Os barbitúricos atuam como depressores do sistema nervoso central. Atualmente, existem medicamentos com propriedades mais adequadas para serem utilizados no combate a ansiedade e o uso de barbitúricos é praticamente restrito como antiepilético ou como anestésico de forma injetável, neste caso sendo de uso apenas hospitalar. As sensações provocadas pelo uso de barbitúricos são: sono, alívio da tensão, sensação de calma e relaxamento, capacidade de raciocínio e de concentração alterada. Em doses maiores o usuário pode sentir: sensação de embriaguez, fala “pastosa” e dificuldade de andar direito. Os barbitúricos provocam diminuição do metabolismo cerebral, do consumo de oxigênio, do fluxo sanguíneo cerebral, com consequente diminuição da pressão intracraniana. Em doses muito altas, a pressão do sangue fica muito baixa e a respiração é tão lenta que pode parar. A morte ocorre exatamente por parada respiratória. A dose que começa a intoxicar está próxima da que produz os efeitos terapêuticos desejáveis, ou seja, são medicamentos pouco seguros, pois a diferença entrea dose terapêutica e a tóxica é muito pequena. Os efeitos tóxicos ficam muito mais intensos se o usuário ingerir álcool ou outras drogas sedativas, ou seja apresenta um grande sinergismo. Na linguagem popular é comum a utilização da expressão: “Você tomou gardenal com pinga?”. O gardenal é um medicamento cujo princípio ativo é o fenobarbital, que é um barbitúrico. No Brasil, ou uso de barbitúricos era irresponsável. Vários medicamentos para dor de cabeça continham um barbitúrico qualquer. Exemplo: Cibalena®, Veramon®, Optalidom®, Fiorinal® etc. Os laboratórios retiraram os barbitúricos de suas fórmulas devido ao uso abusivo em 20 grandes quantidades. A legislação brasileira exige que todos os medicamentos que contenham barbitúricos em suas fórmulas sejam vendidos nas farmácias somente com a receita do médico, para posterior controle pelas autoridades sanitárias. 2.2.10 Benzodiazepínicos Os Benzodiazepínicos, assim como os barbitúricos, são depressores do sistema nervoso central, no entanto diferem por ter uma ação mais seletiva, pois têm a propriedade de atuar quase que exclusivamente sobre a ansiedade e tensão. Diminui a ansiedade das pessoas, sem afetar em demasia as funções psíquicas e motoras. Os benzodiazepínicos estão entre os medicamentos mais utilizados no mundo todo, inclusive no Brasil. Em geral, os benzodiazepínicos possuem a terminação “am” em sua nomenclatura: diazepam, bromazepam, clobazam, clorazepam, estazolam, flurazepam, flunitrazepam, lorazepam, nitrazepam, etc. Os efeitos provocados pelo uso de benzodiazepínicos são: diminuição de ansiedade, indução de sono, relaxamento muscular, redução do estado de alerta, dificuldade nos processos de aprendizagem e memória. Trata-se de uma substância pouco tóxica, quase não produz efeitos em outros orgãos, agindo exclusivamente no cérebro. 2.2.11 Anticolinérgicos Anticolinérgicos são substâncias naturais ou sintéticas que tem efeito de inibir a produção de acetilcolina. Os anticolinérgicos, tanto de origem vegetal como os sintetizados em laboratório, atuam principalmente produzindo delírios e alucinações. São comuns as descrições pelos usuários de se sentirem perseguidos, de verem pessoas e bichos etc. Esses delírios e alucinações dependem bastante da personalidade do indivíduo e de sua condição; assim, nas descrições de usuários dessas drogas, encontram-se relatos de visões de santos, animais, estrelas, fantasmas, entre outras imagens. Um menino de rua com as pupilas muito dilatadas descreveu o que sentia após tomar 10 comprimidos de Artane® (medicamento à base de triexafenidila, utilizado para mal de Parkinson, mas usado como droga de abuso devido as suas propriedades em produzir alucinações): “via elefante correndo pela rua e rato saindo do buraco, se olhava para o céu via estrelas de dia. Tava tudo embaçado e dava medo, mas era também bonito”. 21 Os efeitos são bastante intensos, podendo demorar de 2 a 3 dias. Apesar disso, o uso de medicamentos anticolinérgicos, com controle médico, é muito útil no tratamento de várias doenças . 2.2.11.1 Anticolinérgicos sintéticos Os anticolinérgicos, comercializados como medicamentos, são utilizados como antiesparmodicos (contra cólicas), no tratamento da doença de Parkinson e também por médicos oculistas para dilatar as pupilas dos olhos. Entre os principais medicamentos podemos citar: Akineton (substância ativa - biperideno) Uso terapêutico: Mal de Parkinson (antiparkinsoniano) Artane (substância ativa - triexafenid) Nome popular: aranha, artemis, buque Uso terapêutico: Mal de Parkinson (antiparkinsoniano) Bentyl (substância ativa - diciclomina) Nome popular: bentinho Uso terapêutico: antiespasmódico Asmosterona (substância ativa - benactizina) Uso terapêutico: asma Periatin, Periavit (substância ativa - ciproheptadina) Uso terapêutico: orexígeno (produz apetite) O uso de anticolinérgicos comerciais, como droga de abuso, é muito comum entre crianças de ruas no Nordeste brasileiro. O artane é a terceira droga, depois de inalantes e maconha, mais usada por meninos de rua de grandes capitais nordestinas. Todas as drogas anticolinérgicas são capazes de, em doses elevadas, além dos efeitos no corpo, alterar as funções psíquicas. São alucinógenos secundários. 2.2.11.2 Anticolinérgicos naturais Em 1866, um médico da Bahia descreve o seguinte quadro em dois escravos: Fui chamado a visitar estes doentes no dia seguinte às 8 horas da manhã. Já podiam ca- minhar mas estavam ainda trôpegos e hallucinados, vendo objetos himaginários, phantasmas, ratos a passear pela camara etc., de que procuravam fugir dirigindose 22 para a porta. Ambos tinham as pupilas dilatadas... a boca e faces nada oferecem de notável... Na panela que servia para vazer o cosimento estavam dous ramos com muitas folhas e algumas flores rudimentares, de uma planta que conheci ser trombe- teira (Datura arborea, Lin).(http://www.viverbem.fmb.unesp.br/anticolinergicos.asp página consultada em 02/07/2011) Existem algumas plantas que possuem substâncias anticolinérgicas em sua composição. Entre elas podemos citar a Datura Suaveolens (planta conhecida popularmente como trombeteira, trombeta, saia branca, Lírio1, etc.), a Atropa belladona, conhecida popularmente como beladona, a Hyosciamus niger conhecida popularmente como meimendro e a Mandragora officinarum conhecida popularmente como mandrágora. As substâncias encontradas nessas plantas que são anticolinérgicas são a atropina, escopolamina e a hiosciamina. O princípio ativo do buscopan, um analgésico com propriedades antiespasmódicas é o butilbrometo de escopolamina. 1 Considerando a classificação taxinômica, apesar de ser semelhante, não se trata de um lírio 23 3 REVISÃO DE CONCEITOS BÁSICOS DA QUÍMICA Como citado anteriormente, a química pode ser definida como uma ciência que estuda a composição, propriedades, interações e, principalmente, transformações da matéria. O objeto de estudo da química é a matéria, no entanto o que é matéria? Matéria pode ser definido como tudo aquilo que tem massa. Outra definição possível é tudo aquilo que ocupa lugar no espaço. Voltando a definição de química, quando se fala em estudar a composição da matéria significa, de uma forma bem genérica, definir a composição atômica da menor parte de uma determinada substância que mantêm suas propriedades químicas e físicas. Como exemplo podemos afirmar que a molécula2 de água possui fórmula molecular H2O e a molécula de cocaína C17H21NO4. Como propriedades da matéria podemos citar que a água é uma substância líquida a temperatura ambiente e seu ponto de fusão é 0ºC e seu ponto de ebulição é 100ºC, em determinadas condições de pressão. Estas são propriedades físicas. As interações entre a matéria pode ser ilustrada com a característica que a água possui de solubilizar substâncias como o sal de cozinha e o açúcar. São interações que derivam de propriedades relacionadas com a polaridade3, que por sua vez tem relação com a estrutura molecular4 e eletronegatividade5 dos átomos constituintes de uma determinada substância. A transformação da matéria está relacionada com reações químicas. Como por exemplo podemos citar a queima de um cigarro; a reação do vinagre (ácido acético) com o bicarbonato de sódio gerando CO2 (gás carbônico); a reação química que ocorre em um disparo de arma de fogo, na qual a expansão dos gases gerados pela queima da pólvora são responsáveis por acelerar o projétil dentro do cano da arma ou a oxidação de um metal, provocando ferrugem, quando o metalfor o ferro. Coincidentemente, a maioria dos exemplos de reação química citados acimas, incluem transformações de estado da matéria em que substâncias sólidas foram transformadas em substâncias líquidas ou gasosas. No entanto nem toda reação química possui essas características. 2 Molécula é a menor parte de uma substância que conserva suas propriedades químicas e físicas. 3 Substâncias polares são aquelas com cargas parciais. Este fato decorre da eletronegatividade e da estrutura molecular. 4 Ordem de ligação e posição no espaço de átomos de uma determinada molécula 5 È uma medida da tendência que um determinado elemento químico possui de atrair elétrons compartilhados em uma ligação química. 24 3.1 Unidade de massa atômica Como citado anteriormente, matéria é aquilo que tem massa. A unidade fundamental da matéria é o átomo, o qual é constituído por três partículas (próton, nêutron e elétron). Átomos que possuem o mesmo número de prótons são denominados isótopos. Um conjunto de isótopos constitui em um elemento químico. A tabela periódica é uma forma de agrupar os diferentes elementos químicos de acordo com suas principais propriedades. Como matéria é tudo aquilo que tem massa e a unidade fundamental da matéria é um átomo, então qual seria a massa de um átomo? Depende de qual isótopo de um determinado elemento químico. Por definição, ao isotopo de Carbono 12 (12C) foi atribuído o valor de 12 unidades de massa atômica, portanto a massa atômica dos demais átomos são obtidas baseada na massa do isotopo de carbono 12. 3.2 Massa molecular A massa molecular é obtida a partir da massa atômica dos átomos que constituem uma determinada molécula. Para a molécula de cocaína C17H21NO4 temos dezessete átomos de carbono, vinte e um átomos de hidrogênio, um átomo de nitrogênio e quatro átomos de oxigênio. Assim a massa molecular é obtida multiplicando o valor da massa atômica de um determinado elemento químico pelo número de átomos desse elemento químico na molécula. Um mol é a unidade de quantidade de matéria. Uma das sete grandezas fundamentais da física. Um mol de qualquer substância é equivalente, em gramas, a massa molecular ou atômica em caso de elementos químicos. Em um mol de qualquer substância temos 6,02 x 1023 moléculas ou átomos, no caso de elementos químicos. Por exemplo, em um mol de água temos 6,02 x 1023 moléculas de água. Isto significa que 6,02 x 1023 moléculas de água terá aproximadamente dezoito gramas, que é a massa molecular da água. Assim podemos responder a pergunta do item anterior e calcular, utilizando uma regra de três, qual seria a massa de um átomo de carbono 12. 3.3 Subdivisões da química A química é subdividida em quatro grandes áreas: ✔ Química Orgânica; 25 ✔ Química Inorgânica; ✔ Físico-Químico; ✔ Química Analítica. A maioria das amostras analisadas dentro da química forense são moléculas orgânicas. Desta forma, a principal casuística da química forense é a análise de moléculas orgânicas. Para compreendermos as noções de alguns métodos instrumentais é importante recordar alguns conceitos básicos de química orgânica. 3.4 Principais funções orgânicas 3.4.1 Hidrocarbonetos São compostos formados exclusivamente por átomos de carbono e hidrogênio. 3.4.1.1 Alcanos São hidrocarbonetos em que todos os átomos de carbonos estão ligados entre si apenas por ligações simples (carbono com hibridização sp3) 3.4.1.2 Alcenos São hidrocarbonetos em que pelo menos dois átomos de carbono formam uma ligação dupla (carbono com hibridização sp2) 3.4.1.3 Alcinos São hidrocarbonetos em que pelo menos dois átomos de carbono formam uma ligação tripla (carbono com hibridização sp) 26 3.4.1.4 Aromáticos São compostos que possuem anel aromático em suas estruturas. Um anel aromático é constituído de 6 (seis) átomos de carbono com hibridização sp2 formando ligações duplas conjugadas. 3.4.2 Alcoóis São compostos que apresentam um ou mais grupos hidroxilas (um átomo de oxigênio ligado a um átomo de hidrogênio) ligados a um grupo alquila. 3.4.3 Fenóis Fenóis são compostos que apresentam em sua estrutura um grupo hidroxila ligado diretamente a um carbono de um anel aromático. 3.4.4 Eteres Eteres são compostos que apresentam um átomo de oxigênio ligado a dois grupos alquilas, ou seja duas cadeias carbônicas. 3.4.5 Aminas Aminas são compostos nitrogenados, ou seja que apresentam pelo menos um átomo de nitrogênio. As aminas são derivadas da amônia NH3. O átomo de nitrogênio pode estar ligado a um, dois ou três grupos alquilas, formando assim as aminas primárias, secundárias e terciárias respectivamente. 3.4.6 Compostos carbonílicos O grupo carbonila é constituído por um átomo de carbono ligado a um átomo de oxigênio por ligação dupla. Os grupos que fazem as outras duas ligações com o carbono da carbonila determinam a função do composto. 27 3.4.6.1 Cetonas São compostos com grupo carbonila ligado a dois grupos alquilas. Como exemplo temos a acetona, nome IUPAC propanona, que é utilizada como removedor de esmalte. 3.4.6.2 Aldeídos São compostos com grupo carbonila ligado a um hidrogênio e a um grupo alquila ou outro hidrogênio no caso do metanal. Como exemplo temos o formaldeído (metanal) e aldeído acético que é produzido no fígado na metabolização do álcool. 3.4.6.3 Ácidos carboxílicos São compostos com grupo carbonila ligado a um grupo alquila e um grupo hidroxila. Como exemplo temos ácido etanoico (ácido acético), que é o vinagre. 3.4.6.4 Esteres São compostos com grupo carbonila que podem ser obtidos pela reação de um ácido carboxílico com um álcool. 3.4.6.5 Amidas São compostos com grupo carbonila que podem ser obtidos pela reação de um ácido carboxílico com uma amina. 28 4 LEGISLAÇÃO PERTINENTE A QUÍMICA FORENSE 4.1 Lei 11.343 de 2006 Datada de 23 de agosto de 2006, publicada em 24 de agosto de 2006. Entra em vigor em 08 de outubro de 2006 e revoga a Lei nº 6368/76 e Lei nº 10.409/02. Art. 1o Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União. Art. 28. (Lei 11.343/2006) Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; (5 meses reincidente 10) III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo (5 meses reincidente 10). § 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica. Não havia essa previsão na lei anterior. § 2o Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente. Art. 33 Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze)anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. § 1o Nas mesmas penas incorre quem: I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas; 29 § 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga: Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa. § 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28. Na Lei 6368/76 esta conduta era tipificada com a mesma pena para o “traficante” (reclusão de 3 a 15 anos). Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa. Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 200 (duzentos) dias-multa. Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal da categoria profissional a que pertença o agente. Crime próprio. O sujeito ativo pode ser médico, dentista, farmacêutico, enfermeiro. Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da apreensão do veículo, cassação da habilitação respectiva ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena privativa de liberdade aplicada, e pagamento de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos) dias-multa. Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas cumulativamente com as demais, serão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) dias-multa, se o veículo referido no caput deste artigo for de transporte coletivo de passageiros. Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia judiciária fará, imediatamente, comunicação ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do qual será dada vista ao órgão do Ministério Público, em 24 (vinte e quatro) horas. § 1o Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea. § 2o O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1o deste artigo não ficará impedido de participar da elaboração do laudo definitivo. Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o 30 Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios: I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes; II - a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível. Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização será concedida desde que sejam conhecidos o itinerário provável e a identificação dos agentes do delito ou de colaboradores. Art. 56. Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, ordenará a citação pessoal do acusado, a intimação do Ministério Público, do assistente, se for o caso, e requisitará os laudos periciais. Art. 58. Encerrados os debates, proferirá o juiz sentença de imediato, ou o fará em 10 (dez) dias, ordenando que os autos para isso lhe sejam conclusos. § 1o Ao proferir sentença, o juiz, não tendo havido controvérsia, no curso do processo, sobre a natureza ou quantidade da substância ou do produto, ou sobre a regularidade do respectivo laudo, determinará que se proceda na forma do art. 32, § 1o, desta Lei, preservando-se, para eventual contraprova, a fração que fixar. § 2o Igual procedimento poderá adotar o juiz, em decisão motivada e, ouvido o Ministério Público, quando a quantidade ou valor da substância ou do produto o indicar, precedendo a medida a elaboração e juntada aos autos do laudo toxicológico. Art. 62. Os veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer outros meios de transporte, os maquinários, utensílios, instrumentos e objetos de qualquer natureza, utilizados para a prática dos crimes definidos nesta Lei, após a sua regular apreensão, ficarão sob custódia da autoridade de polícia judiciária, excetuadas as armas, que serão recolhidas na forma de legislação específica. § 8o Feita a avaliação e dirimidas eventuais divergências sobre o respectivo laudo, o juiz, por sentença, homologará o valor atribuído aos bens e determinará sejam alienados em leilão. Art. 66. Para fins do disposto no parágrafo único do art. 1o desta Lei, até que seja atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998. Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, se caracterizado ilícito transnacional, são da competência da Justiça Federal. Parágrafo único. Os crimes praticados nos Municípios que não sejam sede de vara federal serão processados e julgados na vara federal da circunscrição respectiva. 31 4.2 Portaria 344/1998 Anvisa PORTARIA N.º 344, DE 12 DE MAIO DE 1998 Diário Oficial da União em 19/5/1998 D.O.U de 31/12/1998. Ementa oficial: Aprova o Regulamento Técnico sobre substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial. CAPÍTULO I DAS DEFINIÇÕES Art. 1º Para os efeitos deste Regulamento Técnico e para a sua adequada aplicação, são adotadas as seguintes definições: Droga - Substância ou matéria-prima que tenha finalidade medicamentosa ou sanitária. Entorpecente - Substância que pode determinar dependência física ou psíquica relacionada, como tal, nas listas aprovadas pela Convenção Única sobre Entorpecentes, reproduzidas nos anexos deste Regulamento Técnico. Medicamento - Produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico. Precursores - Substâncias utilizadas para a obtenção de entorpecentes ou psicotrópicos e constantes das listas aprovadas pela Convenção Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e de Substâncias Psicotrópicas, reproduzidas nos anexos deste Regulamento Técnico. Psicotrópico - Substância que pode determinar dependência física ou psíquica e relacionada, como tal, nas listas aprovadas pela Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas, reproduzidas nos anexos deste Regulamento Técnico. Substância Proscrita - Substância cujo uso está proibido no Brasil. CAPITULO II DA AUTORIZAÇÃO Art. 2º Paraextrair, produzir, fabricar, beneficiar, distribuir, transportar, preparar, manipular, fracionar, importar, exportar, transformar, embalar, reembalar, para qualquer fim, as substâncias constantes das listas deste Regulamento Técnico (ANEXO I) e de suas atualizações, ou os medicamentos que as contenham, é obrigatória a obtenção de Autorização Especial concedida pela Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde. CAPITULO II DA AUTORIZAÇÃO Art. 4º Ficam proibidas a produção, fabricação, importação, exportação, comércio e uso de substâncias e medicamentos proscritos. Parágrafo único. Excetuam-se da proibição de que trata o caput deste artigo, as atividades exercidas por Órgãos e Instituições autorizados pela Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde com a estrita finalidade de desenvolver pesquisas e trabalhos médicos e científicos. 32 Art. 5º A Autorização Especial é também obrigatória para as atividades de plantio, cultivo, e colheita de plantas das quais possam ser extraídas substâncias entorpecentes ou psicotrópicas. § 1º A Autorização Especial, de que trata o caput deste artigo, somente será concedida à pessoa jurídica de direito público e privado que tenha por objetivo o estudo, a pesquisa, a extração ou a utilização de princípios ativos obtidos daquelas plantas. CAPITULO II DA AUTORIZAÇÃO Art. 6º A Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde dará conhecimento da concessão da Autorização Especial de que tratam os artigos 2º e 5º deste Regulamento Técnico à Divisão de Repressão a Entorpecentes do Departamento de Policia Federal do Ministério da Justiça. CAPÍTULO VII DA GUARDA (único artigo) Art. 67 As substâncias constantes das listas deste Regulamento Técnico e de suas atualizações, bem como os medicamentos que as contenham, existentes nos estabelecimentos, deverão ser obrigatoriamente guardados sob chave ou outro dispositivo que ofereça segurança, em local exclusivo para este fim, sob a responsabilidade do farmacêutico ou químico responsável, quando se tratar de indústria farmoquímica. CAPÍTULO IX DA EMBALAGEM Art. 80 Os rótulos de embalagens de medicamentos a base de substâncias constantes das listas "A1"e "A2" (entorpecentes) e "A3" (psicotrópicos), deverão ter uma faixa horizontal de cor preta abrangendo todos os lados, na altura do terço médio e com largura não inferior a um terço da largura do maior lado da face maior, contendo os dizeres: "Venda sob Prescrição Médica" - "Atenção: Pode Causar Dependência Física ou Psíquica". Parágrafo único. Nas bulas dos medicamentos a que se refere o caput deste artigo deverá constar obrigatoriamente, em destaque e em letras de corpo maior de que o texto, a expressão: "Atenção: Pode Causar Dependência Física ou Psíquica". CAPÍTULO IX DA EMBALAGEM Art. 81 Os rótulos de embalagens de medicamentos a base de substâncias constantes das listas "B1" e "B2" (psicotrópicos), deverão ter uma faixa horizontal de cor preta abrangendo todos seus lados, na altura do terço médio e com largura não inferior a um terço da largura do maior lado da face maior, contendo os dizeres: "Venda sob Prescrição Médica" - "O Abuso deste Medicamento pode causar Dependência". Parágrafo único. Nas bulas dos medicamentos a que se refere o caput deste artigo, deverá constar, obrigatoriamente, em destaque e em letras de corpo maior de que o texto, a expressão: "O Abuso deste Medicamento pode causar Dependência". CAPÍTULO XI DAS DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 89 É proibido distribuir amostras grátis de substâncias e/ou medicamentos constantes deste Regulamento Técnico e de suas 33 atualizações. Art. 90 A propaganda de substâncias e medicamentos, constantes das listas deste Regulamento Técnico e de suas atualizações, somente poderá ser efetuada em revista ou publicação tecno-científica de circulação restrita a profissionais de saúde. Art. 93 Os medicamentos destinados a uso veterinário, serão regulamentados em legislação específica. Art. 94 Os profissionais, serviços médicos e/ou ambulatoriais poderão possuir, na maleta de emergência, até 3 (três) ampolas de medicamentos entorpecentes e até 5 (cinco) ampolas de medicamentos psicotrópicos, para aplicação em caso de emergência, ficando sob sua guarda e responsabilidade. Parágrafo único. A reposição das ampolas se fará com a Notificação de Receita devidamente preenchida com o nome e endereço completo do paciente ao qual tenha sido administrado o medicamento. Art. 95 Quando houver apreensão policial, de plantas, substâncias e/ou medicamentos, de uso proscrito no Brasil - Lista - "E" (plantas que podem originar substâncias entorpecentes e/ou psicotrópicas) e lista "F" (substâncias proscritas), a guarda dos mesmos será de responsabilidade da Autoridade Policial competente, que solicitará a incineração à Autoridade Judiciária. § 1º Se houver determinação do judicial, uma amostra deverá ser resguardada, para efeito de análise de contra perícia. § 2º A Autoridade Policial, em conjunto com a Autoridade Sanitária providenciará a incineração da quantidade restante, mediante autorização expressa do judicial. As Autoridades Sanitárias e Policiais lavrarão o termo e auto de incineração, remetendo uma via à autoridade judicial para instrução do processo. Art. 96 Quando houver apreensão policial, de substâncias das listas constantes deste Regulamento Técnico e de suas atualizações, bem como os medicamentos que as contenham, dentro do prazo de validade, a sua guarda ficará sob a responsabilidade da Autoridade Policial competente. O juiz determinará a destinação das substâncias ou medicamentos apreendidos. Art. 100 As Autoridades Sanitárias e Policiais auxiliar-se-ão mutuamente nas diligências que se fizerem necessárias ao fiel cumprimento deste Regulamento Técnico. 4.3 Artigos do código penal cuja materialidade necessita de uma análise química O ordenamento jurídico brasileiro segue o sistema do direito romano-germânico. Uma característica deste sistema de direito é de valer o que está escrito. Na área penal é comum a expressão: não existe crime sem tipificação, ou seja só é crime aquilo que está 34 escrito que é crime. Em alguns artigos do Código Penal Brasileiro a materialidade do crime depende da realização de análise química. Alguns exemplos são dados a seguir: 4.3.1 Homicídio Art 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Homicídio qualificado § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo fútil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Verifica-se que o homicídio qualificado tem uma pena maior que o homicídio simples. A qualificação do inciso III, no que diz respeito ao emprego de veneno, geralmente, vai necessitar de uma análise química para comprovar a utilização do veneno. 4.3.2 Incêndio Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. Aumento de pena § 1º - As penas aumentam-se de um terço: I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio; Nas investigações de um incêndio,umas das principais perguntas a ser respondida é se o incêndio foi ou não criminoso. Muitas vezes, são necessárias análises químicas para solução dessa questão. As análises químicas, em algumas ocasiões, podem indicar o tipo de combustível e o agente ígneo. 4.3.3 Explosão Art. 251 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. § 1º - Se a substância utilizada não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos: 35 Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. O caput do artigo faz menção direta a dinamite, provavelmente por ser o explosivo mais conhecido na época que o código foi elaborado. Como o nosso país não possui casuística de ataques terroristas ou crimes cometidos com a utilização de explosivos, a redação do artigo persiste até os dias atuais. A análise em locais de pós explosão é uma atividade pericial que muitas vezes requer a análise química de vestígios encontrados no local para determinar qual o explosivo que deu origem a explosão. 4.3.4 Uso de gás tóxico ou asfixiante Art. 252 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, usando de gás tóxico ou asfixiante: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Para materializar que o gás possui propriedades tóxicas ou asfixiante é indispensável a realização de um exame pericial para determinar a sua composição química. 4.3.5 Fabrico, fornecimento, aquisição posse ou transporte de explosivos ou gás tóxico, ou asfixiante Art. 253 - Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transportar, sem licença da autoridade, substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à sua fabricação: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. O Perito Criminal, através de exames periciais, que será o responsável por afirmar que determinado material ou substância possui características explosivas, tóxicas ou asfixiante como citado no caput do artigo. 4.3.6 Envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal Art. 270 - Envenenar água potável, de uso comum ou particular, ou substância alimentícia ou medicinal destinada a consumo: Pena - reclusão, de dez a quinze anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990) § 1º - Está sujeito à mesma pena quem entrega a consumo ou tem em depósito, para o fim de ser distribuída, a água ou a substância envenenada. É imprescindível a realização de exame pericial envolvendo uma análise química 36 para verificar se a água ou a substância foram envenenadas. 4.3.7 Corrupção ou poluição de água potável Art. 271 - Corromper ou poluir água potável, de uso comum ou particular, tornando- a imprópria para consumo ou nociva à saúde: Pena - reclusão, de dois a cinco anos. A confirmação de que uma amostra de água está poluída, imprópria para o consumo ou nociva à saúde é feita através da realização de um exame pericial envolvendo análises químicas. 4.3.8 Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de substância ou produtos alimentícios Art. 272 - Corromper, adulterar, falsificar ou alterar substância ou produto alimentício destinado a consumo, tornando-o nociva à saúde ou reduzindo-lhe o valor nutritivo: (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. § 1º-A - Incorre nas penas deste artigo quem fabrica, vende, expõe à venda, importa, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo a substância alimentícia ou o produto falsificado, corrompido ou adulterado. § 1º - Está sujeito às mesmas penas quem pratica as ações previstas neste artigo em relação a bebidas, com ou sem teor alcoólico. A adulteração e a alteração será materializada com a realização de exame pericial que, geralmente, necessitará de uma análise química. 4.3.9 Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais: Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa. § 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado. § 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere este artigo os medicamentos, as matérias-primas, os insumos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de uso em diagnóstico. § 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no § 1º em relação a produtos em qualquer das seguintes condições: I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente; II - em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior; III - sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização; 37 IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade; V - de procedência ignorada; VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente. É claro que a tipificação deste artigo do código penal impõe como necessário a realização de uma análise química. O texto deste artigo foi alterado pela edição da Lei nº 9.677/98, antes o art. 273 do Código Penal tinha a seguinte redação: "Alterar substância alimentícia ou medicinal: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa". Além da alteração citada acima, a lei nº 9695 de 20 de agosto de 1998 acrescenta incisos ao art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, que dispõe sobre os crimes hediondos, assim, o crime tipificado no art. 273 passa a ser crime hediondo. Os crimes hediondos são: I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV e V); Lei nº 8.930, de 1994) II - latrocínio (art. 157, § 3º, in fine); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994) III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 94) IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lº, 2º e 3º); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994) V - estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º); (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º); (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º). (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994) VII-A – (VETADO) (Inciso incluído pela Lei nº 9.695, de 1998). No projeto de Lei havia a inclusão do art. 272 como crime hediondo, no entanto foi vetado pelo Presidente da República. VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1º, § 1º-A e § 1º-B, com a redação dada pela Lei nº 9.677, de 2 de julho de 1998). (Inciso incluído pela Lei nº 9.695, de 1998) Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei nº2.889, de 1º de outubro de 1956, tentado ou consumado. (Parágrafo incluído pela Lei nº 8.930, de 1994) A inclusão do art. 273 do código penal como crime hediondo é bastante controvérsia. 38 É grande o número de juristas que a consideram inconstitucional por considerarem que não atenta para o princípio da proporcionalidade. 4.3.10 Emprego de processo proibido ou de substância não permitida Art. 274 - Empregar, no fabrico de produto destinado a consumo, revestimento, gaseificaçãoartificial, matéria corante, substância aromática, anti-séptica, conservadora ou qualquer outra não expressamente permitida pela legislação sanitária: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) Para ter conhecimento se uma substância é permitida pela legislação sanitária, o primeiro passo é saber de que substância se trata. Para isso, análises químicas são indispensáveis. Somente após a identificação da substância encontrada no produto destinado a consumo que está sendo questionado, é possível verificar se essa substância é ou não permitida pela legislação sanitária. 4.3.11 Invólucro ou recipiente com falsa indicação Art. 275 - Inculcar, em invólucro ou recipiente de produtos alimentícios, terapêuticos ou medicinais, a existência de substância que não se encontra em seu conteúdo ou que nele existe em quantidade menor que a mencionada: (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) É imprescindível a análise química qualitativa da substância armazenada no recipiente ou invólucro para verificar se corresponde aquela que está sendo anunciada como componente do produto. No caso de quantidade menor que a mencionada, é indispensável uma análise química quantitativa. 4.3.12 Produtos ou substância nas condições dos artigos 274 e 275 do CPB. Art. 276 - Vender, expor à venda, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma, entregar a consumo produto nas condições dos arts. 274 e 275. Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.(Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) Para a tipificação desse crime valem os mesmos comentários realizados nos artigos 274 e 275. 39 4.3.13 Substância destinada à falsificação Art. 277 - Vender, expor à venda, ter em depósito ou ceder substância destinada à falsificação de produtos alimentícios, terapêuticos ou medicinais:(Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) A materialização de que uma determinada substância é destinada a falsificação de produtos alimentícios, terapêuticos ou medicinais passa pela resposta a pergunta de que substância é essa, que só pode ser respondida mediante uma análise química. 4.3.14 Outras substâncias nocivas à saúde pública Art. 278 - Fabricar, vender, expor à venda, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma, entregar a consumo coisa ou substância nociva à saúde, ainda que não destinada à alimentação ou a fim medicinal: Pena - detenção, de um a três anos, e multa Como se chega a conclusão que uma coisa ou substância é nociva à saúde? O primeiro passo é saber o que é essa coisa ou substância. Em muitos casos a realização de uma análise química para responder a essa pergunta é estritamente necessário. 4.3.15 Medicamento em desacordo com receita médica Art. 280 - Fornecer substância medicinal em desacordo com receita médica: Pena - detenção, de um a três anos, ou multa. A confirmação de que a substância medicinal está em desacordo com a receita médica só é possível mediante uma análise química. 4.3.16 Contrabando ou descaminho Art. 334 Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria: Pena - reclusão, de um a quatro anos. § 1º - Incorre na mesma pena quem: (Redação dada pela Lei nº 4.729, de 14.7.1965) a) pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei; b) pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando ou descaminho; c) vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no 40 território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem; d) adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal, ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. § 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências. § 3º - A pena aplica-se em dobro, se o crime de contrabando ou descaminho é praticado em transporte aéreo. A tipificação desse crime, a princípio, não teria nenhuma necessidade de realização de análises químicas. No entanto, na prática é muito comum, quando a mercadoria trata-se de agrotóxicos, combustíveis, etc, da requisição de perícia ter um quesito acerca da composição do material. A resposta a esse quesito, caso o perito não queira levar em consideração apenas as informações, por ventura, presentes no rótulo, necessitará de uma análise química. 5 ANÁLISES INSTRUMENTAIS Análise instrumental, como o próprio nome sugere, é um tipo de análise que utiliza um instrumento. Esse é o ponto que a diferencia de análises clássicas, que geralmente não utiliza um instrumento e são baseadas em testes colorimétricos, medidas de volume, massa, entre outros. Para exemplificar a diferença entre análise instrumental e análise clássica podemos considerar a medida de pH (relacionado a concentração de H+ por uma escala logarítmica). Uma análise clássica envolveria a utilização de uma bureta para medir o volume necessário de uma solução padrão6 para que um determinado indicador vire apontando o momento exato da neutralização da solução cuja concentração deve ser medida. Em uma análise instrumental utilizaria-se um instrumento denominado ph-metro para efetuar essa medida. 6 Solução com concentração conhecida. 41 Figura 4: Ph-metro a esquerda e bureta com erlenmeyer a direita Na química forense, em geral, os exames de constatação são realizados com aplicação de métodos clássicos e os exames definitivos com a utilização de métodos instrumentais. Grande parte das análises em química forense são as mesmas utilizadas em outras áreas da química. A peculiaridade da química forense são as amostras e o interesse na realização das análises que estará associado a resolução de um problema de interesse do judiciário. Neste módulo do curso vamos estudar noções de 3 (três) técnicas de análise instrumental: ✔ Cromatografia; ✔ Espectrometria no infravermelho; ✔ Espectrometria de massas. Antes de entrarmos nas técnicas instrumentais é improntante frisarmos alguns conceitos. 5.1 Análises Qualitativas e Análises Quantitativas Uma análise qualitativa tem a preocupação de responder a pergunta “o que tem aí?”, enquanto em uma análise quantitativa, além da resposta a pergunta anterior, é preciso responder “quanto disso tem aí?”. Para exemplificarmos, vamos imaginar duas apreensões de drogas. Na primeira apreensão trata-se de pasta base de cocaína cuja composição é aproximadamente 90% de 42 cocaína. Na segunda apreensão trata-se de cloridrato de cocaína cuja composição é aproximadamente 10% de cloridrato de cocaína. No campo da química analítica qualitativa, para as duas amostras, a resposta seria a mesma, ou seja, as análises realizadas identificaram a substância cocaína na amostra encaminhada para exame. No campo da química analítica quantitativa, a resposta seria diferente para as amostras edeve indicar a quantidade de cocaína que tem em cada amostra. As análises quantitativas são mais complexas que as análises qualitativas pois exigem padrões de referência, calibrações, entre outras coisas. Todas as análises discutidas nesse curso tratam-se de análises qualitativas. 5.2 Cromatografia A palavra cromatografia é originada do grego chrom = cor e graphie = escrita. A origem da nomenclatura está relacionada com fatos históricos, pois a cromatografia foi inicialmente utilizada para separação de compostos coloridos. No entanto, devido ao desenvolvimento da técnica, a cromatografia não é limitada a separação apenas de compostos coloridos. Apesar da nomenclatura não podemos ter a ideia errônea de que o processo seja dependente da cor. A cromatografia é uma técnica que, de uma forma geral, é útil para separar duas ou mais substâncias presentes em uma mistura. Consiste na diferença de retenção dos compostos em uma fase estacionária quando eluído por uma fase móvel. Em outras palavras, as moléculas das substâncias que constituem a mistura ora estão retidas na fase estacionária ora deslocando-se com a fase móvel. A cromatografia pode ser definida, de uma forma “simplista” e “genérica”, como uma técnica para separar duas ou mais substâncias. Como exemplo podemos citar a seguinte situação: a polícia fez uma apreensão de uma determinada substância que suspeita ser cocaína batizada com cafeína. Uma técnica cromatográfica pode ser utilizada para separar a cocaína da cafeína. O termo utilizado pelos químicos para tal situação seria “isolar a cocaína” ou “isolar a cafeína”. O processo de separação cromatográfica se baseia em uma migração diferencial. No exemplo acima, a cocaína teria uma migração diferente da cafeína quando “arrastada” por uma fase móvel através de uma fase estacionária. A cocaína e a cafeína nesse caso seriam os componentes da mistura que está sendo analisada pela técnica cromatográfica. 43 A migração diferencial ocorre através de um meio denominado fase estacionária, sendo que para percorrer a fase estacionária, os componentes da mistura (a amostra) devem ser transportados (“arrastados”) por uma fase móvel. Assim, para ocorrer a separação, os componentes da mistura devem ter retenções diferentes na fase estacionária. Em outras palavras, a fase móvel deve “arrastar” os componentes da amostra de forma seletiva, tendo mais facilidade para “carregar” uma determinada substância e mais dificuldade para “carregar” outra, propiciando, desta forma, a separação dos componentes de uma mistura de substâncias. Esta migração diferencial ocorre devido a diferentes interações, em nível molecular, entre os componentes da mistura e as substâncias que compõem a fase móvel e a fase estacionária. A base da cromatografia está inserida nos conceitos de migração diferencial, fase estacionária e fase móvel. Com aplicação desses conceitos podemos definir a cromatografia como um processo de separação de duas ou mais substâncias devido sua migração diferencial quando em contanto com uma fase estacionária e uma fase móvel. Os termos fase móvel e fase estacionária tem relação próxima com as suas denominações. A fase móvel percorre a fase estacionária, sendo esta fixa. Desta forma, a mistura de substâncias a serem separadas interagem com ambas as fases. Dependendo da interação dos componentes da mistura com a fase estacionária e a fase móvel o tempo para percorrer todo o espaço ocupado pela fase estacionária será maior o menor, propiciando, assim, a separação de diferentes substâncias. 5.2.1Classificações da cromatografia. Existem várias formas de classificar uma técnica cromatográfica. Uma forma de classificação bem abrangente é com relação ao suporte da fase estacionária, ou seja a forma física do sistema. Considerando essa classificação, a cromatografia pode ser planar ou em coluna. 5.2.1.1Cromatografia em coluna A fase estacionária está inserida dentro de uma coluna. Em cromatografia clássica de coluna, podemos imaginar uma coluna cromatográfica (instrumento semelhante a uma bureta) preenchida com a fase estacionária. 44 5.2.1.2 Cromatografia planar A fase estacionária está aderida a um suporte planar. Como exemplo desse tipo de cromatografia temos a cromatografia em papel e a cromatografia em camada delgada (CCD). 5.2.1.3 Classificações com relação a fase móvel Com relação a fase móvel a cromatografia pode ter as seguintes classificações: Cromatografia líquida: a fase móvel é um líquido. A fase estacionária é um sólido ou Figura 6: cromatografia planar Figura 5: cromatografia em coluna 45 um líquido fixado em um suporte. Como exemplo temos a cromatografia clássica em coluna, a cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) e a cromatografia em camada delgada que é uma cromatografia planar. Cromatografia gasosa: a fase móvel é um gás inerte como o helio (He). A fase estacionária é um liquido fixado em um suporte ou um sólido. Como exemplo temos a cromatografia gasosa. Neste caso o suporte da fase estacionária é uma coluna. Existem outras fases móveis como fluídos supercríticos, que utiliza um vapor pressurizado acima de sua temperatura crítica7, mas que não serão discutidas nesse curso. 5.2.1.4 Classificação quanto a interação O tipo de interação que ocorre entre as substâncias que constituem a amostra e a fase móvel e estacionária pode ser: Partição Como exemplo desse tipo de interação temos a cromatografia gasosa em que a fase estacionária é um líquido. As diferentes substâncias que constituem a mistura migram de forma diferenciada devido a interação com a fase estacionária. Neste exemplo a fase móvel, geralmente, é um gás inerte como o Hélio. Adsorção Na cromatografia de adsorção, as moléculas são adsorvidas sobre o sólido. Os sólidos mais comum, por ordem de atividade de adsorção, são alumina e sílica gel. A separação na cromatografia de adsorção depende da competição entre a adsorção na superfície do sólido e a dessorção pela fase móvel (solvente). Solventes ou mistura de solventes mais polares irão deslocar os compostos mais rapidamente para a fase móvel. A cromatografia clássica em coluna e a cromatografia em camada delgada são exemplos que ocorrem adsorção durante o processo de separação. Em algumas técnicas cromatográficas vai haver mistura de diferentes mecanismos. Outras interações em técnicas cromatográficas, que não serão discutidas nesse curso introdutório, são troca iônica, exclusão por tamanho, imunoafinidade, bioafinidade, etc. 7 É a temperatura acima da qual a substância pode existir somente na forma de gás. Um gás, acima dessa temperatura, não pode ser liquefeito, por mais que a pressão do sistema seja elevada. Uma determinada substância no estado gasoso é um gás se a sua temperatura for superior à temperatura crítica, se a temperatura for igual ou inferior à temperatura crítica a substância é vapor. 46 5.2.1.5 Classificação quanto ao objetivo A cromatografia pode ser empregada com um proposito puramente analítico, como no caso de cromatografia gasosa e cromatografia em camada delgada. Nessas técnicas cromatográficas o objetivo não é obter os diferentes componentes da mistura de forma pura para um procedimento posterior. O interesse está nas informações obtidas, como o número de componentes e até mesmo a identificação no confronto com padrões disponíveis. As técnicas cromatográficas nas quais o principal interesse é obter de forma pura os diferentes componentes da mistura são conhecidas como preparativas. Exemplo destastécnicas são cromatografia clássica em coluna e cromatografia em camada delgada preparativa. 5.2.2 O processo de separação Nos processos cromatográficos que envolvem partição ou adsorção, que são os que serão mais enfatizados nesse módulo, a polaridade e o peso molecular são características relevantes para a separação das moléculas. Geralmente, quanto maior o peso molecular, menor é a migração da substância pela fase estacionária quando “arrastada” pela fase móvel. Essa afirmação não pode ser levada ao pé da letra, pois outro característica importante é a polaridade. De uma forma geral, a fase estacionária é mais polar do que a fase móvel. Assim, os componentes da mistura com maior polaridade terão maior afinidade pela fase estacionária e terão uma migração mais lenta quando “carregados” pela fase móvel. Os componentes menos polares terão menos afinidade pela fase estacionária (polar) e maior afinidade pela fase móvel (menos polar), assim terão uma migração mais rápida quando “carregados” pela fase móvel. Cabe registrar que existe a denominada cromatografia de fase reversa, na qual fase móvel é mais polar que a fase estacionária. Abaixo são apresentadas algumas características que fazem com que uma molécula seja polar ou apolar. 5.2.2.1 Polaridade A polaridade de uma molécula está relacionada com os elementos químicos que a constituem e também com a sua geometria. Tendo como exemplo a molécula do gás cloro 47 (Cl2), verificamos que se trata de uma molécula formada por dois átomos idênticos, então o par de elétrons compartilhado na ligação química não tem preferência por estar mais próximo de um ou outro átomo de cloro. No caso da molécula de HCl, o par de elétrons compartilhado na ligação estará localizado mais próximo do átomo de cloro do que do átomo de hidrogênio, pois o cloro é mais eletronegativo que o hidrogênio. Este fato produz um dípolo elétrico permanente com uma carga parcial positiva no hidrogênio e uma carga parcial negativa no cloro. Lembrando que eletronegatividade é uma propriedade periódica que pode ser definida como a tendência de um determinado elemento químico de atrair elétrons compartilhados em uma ligação química. Além da eletronegatividade, a geometria da molécula também apresenta um importante papel na polaridade da substância. Um exemplo interessante está na molécula de tetracloreto de carbono (CCl4). O cloro é mais eletronegativo do que o carbono, no entanto o CCl4 não é uma molécula polar pois a resultante vetorial das forças de atração dos quatro átomos de cloro sobre os elétrons que compartilham com o átomo de carbono é nula porque a geometria da molécula é tetraédrica. 5.2.3 Aplicações da cromatografia em química forense Na química forense a cromatografia é bastante aplicada. Principalmente a cromatografia em camada delgada, a cromatografia gasosa e a cromatografia líquida de alta eficiência. Existem normativos de análises que consideram como forma definitiva de identificação de uma droga de abuso, a utilização de cromatografia em camada delgada com dois sistemas de fase móvel distintos mais um teste colorimétrico. A cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas, bem como a cromatografia liquida de alta eficiência, associado a um teste colorimétrico são suficientes para elaboração de laudo definitivo de diversas substâncias. 5.2.4 Outras aplicações da cromatografia A cromatografia é uma técnica amplamente utilizada e aplicada nas mais diversas áreas de pesquisa e produção. Abaixo temos dois exemplos de como a cromatografia pode ser empregada como meio para isolamento de substância e fornecendo informações relevantes no 48 acompanhamento de uma reação química. 5.2.4.1 Purificação e isolamento de substâncias Extração e purificação de compostos para posteriores análises e utilização como substrato em síntese. Uma técnica muito utilizada para esse propósito é a cromatografia clássica em coluna. Como exemplo podemos citar a análise cromatográfica de extratos vegetais cujos constituintes podem vir a ser pesquisados como um futuro fármaco. A cromatografia em coluna também pode ser utilizada para a separação dos produtos de uma reação química. 5.2.4.2 Acompanhamento de reações químicas Como exemplo vamos imaginar a seguinte reação química: Para simplificarmos as denominações, vamos nos referir ao composto o-nitrotolueno como A, ao p-nitrotolueno como B e ao m-nitrotolueno como C. O tolueno que é o reagente, a molécula a esquerda da seta, será denominada R. O interesse do químico que está trabalhando com essa reação é obter a molécula A. No entanto, após o final da reação, quando o sistema já estiver em equilíbrio, na mistura reacional vai haver quatro substâncias distintas. O reagente R que não reagiu. O produto A que é o desejado e os produtos B e C que não são de interesse. Considerando que haja disponibilidade de padrões das quatro substâncias citadas, é possível acompanhar o andamento da reação química através de cromatografia em camada delgada. Figura 7: Nitração do tolueno 49 Após o término da reação, as diferentes substâncias podem ser separadas por cromatografia clássica em coluna com a utilização de cromatografia em camada delgada para acompanhar a separação. 5.2.5Técnicas cromatográficas 5.2.5.1 Cromatografia clássica em coluna Na cromatografia clássica em coluna, a fase móvel é deslocada pela ação da gravidade. A coluna cromatográfica é um “tubo” de vidro que tem uma torneira na extremidade inferior e um bulbo para acondicionar a fase móvel, geralmente um solvente orgânico, na extremidade superior. As fases estacionárias mais comumente utilizadas são sílica gel e alumina. Como fase móvel, geralmente, são utilizados solventes orgânicos ou misturas de solventes com as mais variadas polaridades e proporções de acordo com as substâncias que se deseja separar. Uma mistura de solvente muito utilizada é n-hexano com acetato de etila nas mais variadas proporções. Quanto maior a quantidade de acetato de etila maior é a polaridade desta fase móvel. Clorofórmio e metanol também é uma mistura comum. Para este exemplo, quanto maior a quantidade de metanol maior é a polaridade da fase móvel. 5.2.5.2 Cromatografia em camada delgada Na cromatografia em camada delgada, diferentemente da cromatografia em coluna, a fase móvel desloca-se em sentido contrário a ação da gravidade. O deslocamento ocorre devido a capilaridade8. A fase estacionária é depositada em um suporte rígido e inerte. No mercado existem placas que são comercializadas prontas, sendo o suporte, geralmente, constituído por uma folha de alumínio com a fase estacionária aderida a placa. A fase estacionária mais comum é a sílica gel (ácido) ou alumina (básica). Também é comum o uso de placas de vidro como suporte, sendo que a fase estacionária pode ser aderida a placa no próprio laboratório. A cromatografia em camada delgada é uma técnica barata que fornece informações bem relevantes. É muito utilizada no dia a dia de um laboratório de química no acompanhamento de reações químicas e de cromatografia em coluna. Com a disponibilidade 8 Capilaridade é a capacidade que um líquido possui de subir ou descer por tubos bem finos (capilares). 50 de padrões, pode ser utilizada como uma técnica analítica na identificação de drogas de abuso. 5.2.5.3 Cromatografia gasosa Das técnicas cromatográficas vistas até o momento, a cromatografia gasosa será a primeira que utiliza um equipamento eletrônico. Os conceitos envolvidos na cromatografia gasosa são exatamente os mesmos jádiscutidos para as outras técnicas cromatográficas. Um cromatógrafo gasoso é um equipamento que possui os seguintes componentes: Injetor; Coluna; Detector; Forno para controlar a temperatura. O equipamento, geralmente, é ligado a um microcomputador com um software apropriado para controlar as variáveis do equipamento. O conjunto dessas variáveis é denominado método cromatográfico. 5.2.5.3.1 Injetor O injetor é a parte responsável no equipamento para inserir a amostra na coluna. Este dispositivo pode ser automático ou manual. Além da função de inserir a amostra na coluna, no injetor existe o “liner” que é responsável por evitar que qualquer impureza seja introduzida no interior da coluna. A amostra é inserida no injetor por intermédio de uma micro seringa. A temperatura do injetor é controlada, pois é nessa parte do equipamento que ocorre a volatização da amostra. O valor da temperatura do injetor é uma das variáveis do método cromatográfico. Outra característica do injetor é o seu controle com relação a quantidade de amostra que vai ser inserida na coluna. Existes injetores que podem subdividir a amostra, sendo que uma parte é descartada e outra inserida na coluna. Esta também é uma variável que pode ser controlada no método. Quando o injetor insere na coluna toda a amostra, inserida nele pela micro seringa, temos um método “splitless”. Quando o injetor faz uma subdivisão, por exemplo em dez partes, e insere na coluna apenas uma fração dessas partes, temos um método “split”. 51 5.2.5.3.2 Colunas As colunas utilizadas em cromatografia gasosa podem ser subdivididas em colunas capilares e colunas recheadas. As capilares são mais comuns. As colunas são removíveis e em um único equipamento pode ser utilizada uma grande variedade de colunas. 5.2.5.3.3 Detectores Em um único instrumento podemos ter diferentes detectores. Um espectrômetro de massa é muito utilizado como detector em um cromatógrafo gasoso. As informações fornecidas pelo espectrômetro de massa são relevantes e este equipamento pode ser considerado bem mais que um detector pois fornece informações relevantes para elucidação estrutural das moléculas da amostra. A técnica de espectrometria de massas será discutida com mais detalhes no próximo subcapítulo. Existem outros tipos de detectores como detector de condutividade térmica (TCD), detector de ionização de chama (FID), detector de captura de elétrons (ECD), entre outros. 5.2.5.3.4 Métodos cromatográficos em cromatografia gasosa Entre as variáveis que compõem um método cromatográfico destaca-se a temperatura do injetor, a temperatura do detector, a temperatura inicial da coluna (do forno), bem como a taxa de variação desta temperatura em °C/min, a existência ou não de rampas de temperatura e a temperatura final do forno. Outras variáveis do método é com relação a injeção split ou splitless e o fluxo da fase móvel (gás). 5.2.5.3.5 Limitações da cromatografia gasosa A cromatografia gasosa é uma técnica limitada a compostos que podem ser volatilizados e que sejam termicamente estáveis. Desta forma muitas moléculas mais polares de interesse da química forense, como alguns medicamentos e agrotóxicos, não podem ser analisados por cromatografia gasosa e precisam necessariamente serem analisados por cromatografia líquida. Muitas biomoléculas, como proteínas, que apresentam altas massas moleculares, também não podem ser analisadas em cromatografia gasosa. 52 5.3 Espectrometria no Infravermelho O infravermelho é uma região do espectro eletromagnético. O espectro eletromagnético é um conjunto com radiações eletromagnéticas. Radiação eletromagnética, considerando a teoria de ondas, consiste num tipo de energia composta por um campo magnético perpendicular a um campo elétrico. De acordo com a teoria corpuscular, ou quântica, a radiação eletromagnética é formada por pacotes de energia denominados fótons ou quanta. Estas duas teorias são complementares e cada uma isoladamente não é capaz de explicar todas as propriedades das radiações eletromagnéticas. O espectro eletromagnético, sem darmos muita atenção a isto, está presente no nosso dia a dia. Controles remotos, telefone celular, forno de microondas, sinais de rádio, exames médicos, entre outros, são exemplos de aplicações do espectro eletromagnético. Na química, a interação de radiação eletromagnética com a matéria fornece informações acerca da estrutura molecular e composição atômica. Várias técnicas foram desenvolvidas devido a essas propriedades. Podemos citar ressonância magnética nuclear, espectroscopia no ultravioleta e visível, espectrometria de absorção atômica, fluorescência de raios x, entre outras. A espectrometria no infravermelho também é uma técnica que consiste na interação peculiar da matéria com a radiação eletromagnética. Da forma como está descrito no primeiro parágrafo deste subtítulo, o conceito de radiação eletromagnética é um tanto quanto abstrato. Na tentativa de simplificar, vamos imaginar radiação eletromagnética como um “tipo de energia”. Esta energia é quantizada. Isto significa que não pode assumir qualquer valor, apenas valores pré definidos. A relação matemática que define esse energia é: E = hν Equação 1: equação de planck Onde E é a energia h é a constante de planck e vale 6,62 x 10-34 Js ν é a frequência A afirmação de que a energia de uma radiação eletromagnética é quantizada e não pode assumir qualquer valor é perceptível na equação acima, pois o valor da energia necessariamente precisa ser múltiplo de h que é uma constante. Considerando que radiação eletromagnética está associada a uma energia de acordo 53 com o a equação 1. Verificamos que a energia é diretamente proporcional ao valor da frequência, isto é, quando maior o valor da frequência maior será a energia. A frequência representa o número de oscilações em cada segundo e tem como unidade o Hertz (Hz) em ciclos por segundo. Outra variável importante com relação a radiação eletromagnética é o comprimento de onda (λ), que representa a unidade repetitiva que descreve uma oscilação completa. Frequência e comprimento de onda são inversamente proporcionais de acordo com a equação abaixo: υ = c/λ Equação 2: relação entre frequência e comprimento de onda Onde c é a velocidade da luz 3 x 1010 cm/s Quanto maior o valor da frequência (ν), menor será o comprimento de onda (λ) e maior será a energia. Combinando as equações 1 e 2, chegamos a equação 3 que demonstra que a energia é inversamente proporcional ao comprimento de onda (λ). E = h(c/λ) Equação 3: energia inversamente proporcional a comprimento de onda Na espectrometria no infravermelho uma definição importante é o número de onda (ῡ) que é dado pela equação: ῡ = 1/λ Equação 4: número de onda Combinando a equação 4 com a equação 3 chegamos a: E = hcῡ Equação 5: relação entre energia e número de onda A equação acima demonstra que o número de ondas é diretamente proporcional a energia. A região do espectro eletromagnético no infravermelho de maior utilidade é a situada entre 2,5 μm e 25 μm. Transformando para número de onda (equação 4) e convertendo para cm-1, temos o intervalo de 400cm-1 a 4000cm-1. 54 O número de onda em um espectro de infravermelho, geralmente, é a variável que é plotada no eixo X. No eixo Y é plotado a absorbância ou transmitância. Assim um espectro de infravermelho pode ser definido como um gráfico de transmitância ou absorbância em função do número de onda. A transmitância é a razão entre a energia radiante transmitida por uma amostrae a energia radiante que nela incide, ou seja, é a percentagem da luz que consegue atravessar a amostra. A absorbância é o logaritmo decimal do inverso da transmitância, isto é, A = log (1/T). Quando a amostra de uma determinada substância interage com radiação eletromagnética no comprimento de onda do infravermelho, esta radiação será absorvida ou não absorvida de acordo com a estrutura da molécula, principalmente no que se refere a grupos funcionais presentes na mesma. Quando a molécula absorve radiação eletromagnética em determinado comprimento de onda ocorre transições em níveis vibracionais e rotacionais. As vibrações moleculares podem ser classificadas em deformações axiais (variação da distância interatômica) e deformações angulares (variação entre os ângulos em uma ligação química). 5.3.1 Interpretação dos espectros no infravermelho A teoria apresentada no subcapítulo anterior é fundamental para a espectroscopia na região do infravermelho. No entanto, a interpretação de espectros é feita com informações das regiões de absorção dos principais grupos funcionais. Um espectro pode ser definido como o Figura 8: exemplo de um espectro de infravermelho 55 registro da absorção (ou emissão) de radiação eletromagnética em função do comprimento de onda. No caso de um espectro de infravermelho a variável no eixo x é o número de onda que se relaciona com o comprimento de onda por intermédio da equação 4. Existem alguns passos a seguir que podem facilitar a interpretação de espectros no infravermelho. Por exemplo: 5.3.1.1 Acima de 3000cm-1 5.3.1.1.1 Alcoois e Fenois Banda larga entre 3590 – 3000 cm-1 A presença do grupo OH é confirmada com a presença de uma banda intensa devido ao estiramento C-O entre 1250cm-1 a 1000cm-1. A falta dessa banda é um indicativo de que o composto em questão não se trata de um álcool e provavelmente é uma amina. Fenóis duas bandas 1410 – 1320cm-1 e 1260-1180cm-1 5.3.1.1.2Aminas N-H 3550-3250 cm-1 Aminas primarias apresentam duas bandas 3550-3330cm-1 e 3450-3250cm-1 (intensidade média a fraca) N-H angular 1650-1580cm-1 C-N 1240 a 1030cm-1 (fraca a média), diferente da banda intensa devido ao estiramento C-O entre 1250 a 1000. Essa característica permite diferenciar álcoois de aminas. 5.3.1.1.3 Ácido carboxílico Os ácidos carboxílicos apresentam uma banda bem larga, devido a presença do grupo OH, entre 3300 a 2500cm-1. A confirmação de que o composto se trata de um ácido carboxílico é realizada com a confirmação do grupo carbonila que absorve em aproximadamente 1710cm-1 5.3.1.1.4 Alcenos C sp2 – H 3020 a 3080cm-1 (banda não intensa) e 1000 a 650 cm-1 (banda intensa) 56 angular fora do plano C dupla C 1680 – 1620 cm-1 5.3.1.1.5 Alcinos C sp – H 3340 – 3000 cm-1 C tripla C 2300 – 2100 cm-1 (média a fraca, banda de fácil identificação por estar na região limpa) C sp – H 695 – 575 (intensa e larga) C sp – H harmônica 1365—1225 (larga de intensidade fraca a média) 5.3.1.1.6 Aromáticos 3080 a 3010cm-1 Csp2 – H Csp2 – H deformação angular fora do plano de intensidade média a forte 900-650cm-1 harmônica 2000 a 1660cm-1 5.3.1.2 Abaixo de 1000 cm-1 Absorções importantes para caracterizar alcenos, alcinos e aromáticos conforme subitem acima. 5.3.1.3 Entre 1900 e 2800 cm-1 Região limpa. Existem apenas duas funções orgânicas que absorvem nessa região e apresentam bandas em seus espectros. 5.3.1.3.1 C tripla C (conforme alcinos) 5.3.1.3.2 C – H de aldeido 2830 – 2695 cm-1 (uma ou duas bandas) 5.3.1.4 Carbonila A presença de uma banda intensa entre 1540 – 1870 cm-1 indica a presença desse grupo. 57 5.3.1.4.1 Cetona Apresenta banda em 1715 cm-1 aproximadamente. 5.3.1.4.2 Ester Apresenta banda de carbonila entre 1750 e 1725cm-1 e 1160 a 1050cm-1 (intensa, estiramento C-O). 5.3.1.4.3 Amida Apresenta banda de carbonila na região de 1680 cm-1. Caso não seja uma amida dissubstituída, vai existir uma banda larga acima de 3000 cm-1 devido a ligação N-H. 5.3.1.4.4 Aldeído Apresenta banda de carbonila na região de 1725 cm-1. A presença desse grupo funcional é facilmente perceptível devido a presença de uma banda em uma região que, geralmente, é bastante limpa, conforme já discutido acima. 5.3.1.4.5 Ácido Apresenta banda de carbonila na região de 1710cm-1. A presença de ligação O-H é facilmente detectada devido a uma banda larga acima de 3000cm-1 5.3.1.5 1300 – 900cm-1 É uma região complexa, com muitos bandas, conhecida como impressão digital. Nessa região, há uma banda de interesse, intensa, devido a presença do grupo C-O, que pode ser de álcool ou éster. 5.3.1.6 CH2 (metileno) e CH3 (metila) Esses grupos existem na grande maioria dos compostos orgânicos. Assim, a presença desses bandas não são específicas para grupos funcionais. C – H 1450 a 1365 cm-1 deformações angulares C – H (metila) sp3 2962 e 2872cm-1 (assimétrica e simétrica respectivamente) C – H (metileno) sp3 2926 e 2853cm-1 (assimétrica e simétrica respectivamente) C – H (metila) 1375cm-1 deformação angular simétrica 5.4 Espectrometria de massas A espectrometria de massas é uma técnica utilizada para elucidar estruturas moleculares. Esta técnica se baseia na ionização da molécula que está sendo analisada. O mais 58 comum é que essa ionização seja realizada arrancando um elétron da molécula, produzindo, desta forma, um íon radical com carga positiva. Este primeiro íon é denominado íon molecular por ter exatamente a mesma massa molecular da molécula que está sendo analisada. Este íon é extremamente instável e a tendência é que ele seja decomposto em íons e radicais com massas moleculares menores. O espectrômetro de massas é um equipamento que tem a capacidade de registrar os diferentes íons de carga positiva formados. Desta forma, se o íon molecular for estável o suficiente para que seja registrado, o espectro de massas indica qual a massa molecular do composto que está sendo analisado. Esta informação é bastante útil para a elucidação estrutural da molécula que está sendo analisada. Como dito anteriormente, o íon molecular é bastante instável, com muita energia, e tem a tendência de se decompor em outros íons e radicais com massas moleculares menores. Da mesma forma que o espectrômetro de massas pode registrar a massa do íon molecular, a massa dos demais fragmentos com carga positiva também podem ser registrados. A forma como a molécula vai “quebrando” é relacionada a sua estrutura e as informações da massa molecular destes fragmentos com carga positiva orientam os químicos a montar o quebra cabeça podendo chegar a estrutura molecular. O íon molecular é decomposto em fragmentos menores para atingir estados com energia mais baixa. Um espectro de massa pode ser definido como um gráfico com a indicação da massa molecular dos fragmentos positivos no eixo X e a abundância dos respectivos picos no eixo Y. A figura abaixo é o espectro de massas da cocaína (C17H21NO4) No espectro de massas acima, verifica-se que o pico do íon 82 é o maior e, de forma arbitrária, corresponde a 100 no eixo Y. Todo espectro de massas terá um pico que vai corresponder a 100. Esse pico se denomina pico base e representa o íon mais estável, que é o mais abundante. Em alguns casos o pico do íon molecular pode ser o pico base. A intensidade Figura 9: espectro de massas da cocaína ( re p lib ) C o c a in e 40 6 0 80 10 0 120 140 1 60 180 200 2 20 240 260 280 300 320 340 36 0 0 50 100 42 51 68 8 2 9 4 105 122 140 152 166 18 2 198 214 24 4 259 272 303 N H H OO O O 59 dos demais picos é registrado de acordo com a percentagem deles em relação ao pico base. A técnica de espectrometria de massas é uma técnica destrutiva. Como a molécula é decomposta, no final da análise a amostra não pode ser recuperada. Este fato não chega a ser um problema, pois é uma técnica muito sensível e a quantidade de amostra é muito pequena. A inserção da amostra no espectrômetro de massas, geralmente, é realizada por um cromatógrafo, seja gasoso ou líquido. 60 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AQUINO NETO, F. R. de; NUNES, D. da S. e S. Cromatografia Princípios Básicos e Técnicas Afins. 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São Paulo: Scipione, 2010. (Série diálogo na sala de aula). 1 INTRODUÇÃO 1.1 Comentários iniciais 1.2 Histórico 1.3 Aplicação da química em outras áreas de exames periciais 1.4 Principais aplicações da química forense 2 DROGAS 2.1 Introdução ao estudo de drogas de abuso 2.1.1 Classificação das drogas 2.1.2 Definições importantes relativas as drogas de abuso 2.2 Principais drogas de abuso 2.2.1 Cocaína 2.2.2 Maconha 2.2.3 Ópio 2.2.3.1 Heroína 2.2.4 LSD 2.2.5 Anfetaminas 2.2.6 Ecstasy 2.2.7 Alucinógenos Naturais 2.2.8 Solventes e inalantes 2.2.9 Barbitúricos 2.2.10 Benzodiazepínicos 2.2.11 Anticolinérgicos 2.2.11.1 Anticolinérgicos sintéticos 2.2.11.2 Anticolinérgicos naturais 3 REVISÃO DE CONCEITOS BÁSICOS DA QUÍMICA 3.1 Unidade de massa atômica 3.2 Massa molecular 3.3 Subdivisões da química 3.4 Principais funções orgânicas 3.4.1 Hidrocarbonetos 3.4.1.1 Alcanos 3.4.1.2 Alcenos 3.4.1.3 Alcinos 3.4.1.4 Aromáticos 3.4.2 Alcoóis 3.4.3 Fenóis 3.4.4 Eteres 3.4.5 Aminas 3.4.6 Compostos carbonílicos 3.4.6.1 Cetonas 3.4.6.2 Aldeídos 3.4.6.3 Ácidos carboxílicos 3.4.6.4 Esteres 3.4.6.5 Amidas 4 LEGISLAÇÃO PERTINENTE A QUÍMICA FORENSE 4.1 Lei 11.343 de 2006 4.2 Portaria 344/1998 Anvisa 4.3 Artigos do código penal cuja materialidade necessita de uma análise química 4.3.1 Homicídio 4.3.2 Incêndio 4.3.3 Explosão 4.3.4 Uso de gás tóxico ou asfixiante 4.3.5 Fabrico, fornecimento, aquisição posse ou transporte de explosivos ou gás tóxico, ou asfixiante 4.3.6 Envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal 4.3.7 Corrupção ou poluição de água potável 4.3.8 Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de substância ou produtos alimentícios 4.3.9 Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais 4.3.10 Emprego de processo proibido ou de substância não permitida 4.3.11 Invólucro ou recipiente com falsa indicação 4.3.12 Produtos ou substância nas condições dos artigos 274 e 275 do CPB. 4.3.13 Substância destinada à falsificação 4.3.14 Outras substâncias nocivas à saúde pública 4.3.15 Medicamento em desacordo com receita médica 4.3.16 Contrabando ou descaminho 5 ANÁLISES INSTRUMENTAIS 5.1 Análises Qualitativas e Análises Quantitativas 5.2 Cromatografia 5.2.1 Classificações da cromatografia. 5.2.1.1 Cromatografia em coluna 5.2.1.2 Cromatografia planar 5.2.1.3 Classificações com relação a fase móvel 5.2.1.4 Classificação quanto a interação 5.2.1.5 Classificação quanto ao objetivo 5.2.2 O processo de separação 5.2.2.1 Polaridade 5.2.3 Aplicações da cromatografia em química forense 5.2.4 Outras aplicações da cromatografia 5.2.4.1 Purificação e isolamento de substâncias 5.2.4.2 Acompanhamento de reações químicas 5.2.5 Técnicas cromatográficas 5.2.5.1 Cromatografia clássica em coluna 5.2.5.2 Cromatografia em camada delgada 5.2.5.3 Cromatografia gasosa 5.2.5.3.1 Injetor 5.2.5.3.2 Colunas 5.2.5.3.3 Detectores 5.2.5.3.4 Métodos cromatográficos em cromatografia gasosa 5.2.5.3.5 Limitações da cromatografia gasosa 5.3 Espectrometria no Infravermelho 5.3.1 Interpretação dos espectros no infravermelho 5.3.1.1 Acima de 3000cm-1 5.3.1.1.1 Alcoois e Fenois 5.3.1.1.2 Aminas 5.3.1.1.3 Ácido carboxílico 5.3.1.1.4 Alcenos 5.3.1.1.5 Alcinos 5.3.1.1.6 Aromáticos 5.3.1.2 Abaixo de 1000 cm-1 5.3.1.3 Entre 1900 e 2800 cm-1 5.3.1.3.1 C tripla C (conforme alcinos) 5.3.1.3.2 C – H de aldeido 2830 – 2695 cm-1 (uma ou duas bandas) 5.3.1.4 Carbonila 5.3.1.4.1 Cetona 5.3.1.4.2 Ester 5.3.1.4.3 Amida 5.3.1.4.4 Aldeído 5.3.1.4.5 Ácido 5.3.1.5 1300 – 900cm-1 5.3.1.6 CH2 (metileno) e CH3 (metila) 5.4 Espectrometria de massas 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS