Buscar

Artigo Silvio Cezar

Prévia do material em texto

SILVIO CÉZAR CONSTANTINO VOLPASSSO
ABANDONO E VITIMIZAÇÃO DO OFENDIDO E SEUS FAMILIARES DIANTE DOS ORGÃOS DE PROTEÇÃO E ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
FADILESTE – FACULDADE DE DIREITO E CIÊNCIAS SOCIAIS DO LESTE DE MINAS
REDUTO, 2018
SILVIO CÉZAR CONSTANTINO VOLPASSSO
ABANDONO E VITIMIZAÇÃO DO OFENDIDO E SEUS FAMILIARES DIANTE DOS ORGÃOS DE PROTEÇÃO E ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
Artigo apresentado ao departamento de Direito da FADILESTE - Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas - como requisito parcial para obtenção do título de Pós-Graduação em Direito Penal e Processual Penal.
Professor Orientador: Dr Glauco Murad Macedo
FADILESTE – FACULDADE DE DIREITO E CIÊNCIAS SOCIAIS DO LESTE DE MINAS
REDUTO, 2018
�
ABANDONO E VITIMIZAÇÃO DO OFENDIDO E SEUS FAMILIARES DIANTE DOS ORGÃOS DE PROTEÇÃO E ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
 							Silvio Cézar Constantino Volpassso
RESUMO
Este artigo teve como objetivo analisar e estabelecer, a partir da perspectiva do ordenamento jurídico pátrio a análise da vítima sobre um novo prisma, e uma discussão sobre a possibilidade da vítima figurar como sujeito de direito e não apenas como objeto do processo, bem como a capacidade de expansão de seus direitos frente ao princípio da igualdade, sintetizado no artigo 5º caput, e o da dignidade humana contida no artigo 1º, inciso III, ambos da Constituição Federal de 1988. Para estudo do tema proposto, desenvolveu-se pesquisa bibliográfica através da analise de textos doutrinários, jurisprudências e legislações, bem como, analise da Constituição Federal vigente, visando demonstrar o abandono da vítima no ordenamento jurídico pátrio e o excesso de proteção ao infrator. A pesquisa pretende equiparar em direitos, réu e vítima, evitando assim, a subtração de direitos das partes, utilizando-se do direito comparado para melhor analise e entendimento dos fatos.
Palavras-Chave: Direitos. Equiparação. Réu. Vítima
INTRODUÇÃO
O presente trabalho evidenciará o tratamento da vítima como objeto do processo e não como sujeito de direitos. A vítima encontra-se esquecida no sistema jurídico pátrio e até marginalizada, destarte a omissão da Carta Magna de 1988 (CR/88), que elenca princípios explícitos e implícitos que devem ser observados quando se tratar do ofensor, porém, a vítima fica a mercê de leis extravagantes em uma pálida tentativa de minimizar o seu esquecimento.
Abordará a história da vítima no sistema jurídico, utilizando-se para tanto dos ditames do Código de Hammurabi, entre outros, quando “olho por olho e dente por dente”, demonstrava a inclusão da vítima como beneficiário de direitos.
Posteriormente far-se-á uma breve explanação sobre o atual sistema jurídico, a partir do momento em que o Estado assume o jus puniendi. Nesse sistema, a vítima é renegada no ordenamento jurídico passando a mero objeto do processo e não mais a sujeito de direitos, sendo que, o contrário acontece com o ofensor que ganha mais direitos após o cometimento do crime, tornando o direito sui generis ao criminoso.
Por fim, apresenta-se o estudo da Lei n.º 9.099, de 26 de setembro de 1995, como o primeiro impulso rumo a uma sensível valorização da vítima, através da possibilidade de composição do dando, podendo a vítima, desta forma, optar pelo ressarcimento.
Para a realização desta pesquisa, utilizou-se o método dedutivo mediante abordagem qualitativa e o estudo do tema de forma descritivo, por meio da análise de textos doutrinários, jurisprudenciais e legais, bem como, textos da web, visando à verificação da evolução concernente aos direitos da vítima a partir da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CR/88). Neste sentido, este trabalho busca propor ao leitor uma incursão sobre vitimologia, propondo uma abordagem prática e direta da origem, conceitos fundamentais e evolução da vítima no ordenamento jurídico. O presente trabalho é fruto de uma exaustiva pesquisa histórica, doutrinária e jurisprudencial e aspira e procura enaltecer a vítima como sujeito de direitos por meio de sua devida adequação no ordenamento jurídico pátrio com a integral garantia da dignidade da pessoa humana frente ao princípio da igualdade.
INTERPRETAÇÃO DO ARTIGO 5º “CAPUT” DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1988 (PRINCÍPIO DA IGUALDADE)
Inicialmente é necessário vislumbrar a aplicação do princípio da igualdade de forma a não gerar desigualdades entre pessoas que se encontram em situações idênticas, princípio este de suma importância em nosso ordenamento jurídico, embarcado na Constituição Federal, que proporciona legalidade a todas as leis infraconstitucionais.
Segundo Moraes (2010) o princípio da igualdade é tratado em dois planos, primeiro, para manter a igualdade frente aos Poderes Legislativo e Executivo, quando da aprovação e promulgação das leis, consecutivamente, e em um segundo momento pelo magistrado, quando interpreta a lei diante do caso concreto. Importante salientar que a doutrina também faz alusão a este princípio, no que tange a desigualdade gerada por sua inaplicabilidade. 
O princípio da igualdade se manifesta quando se trata os iguais com igualdade e os desiguais na medida de suas diferenças, de forma que a não observância desta regra resulta em desigualdade. Os tratamentos normativos diferenciados são compatíveis com a Constituição Federal quando verificada a existência de uma finalidade razoavelmente proporcional ao fim visado (MORAES, 2010).
Silva (2004) afirma que além da base geral em que assenta o princípio da igualdade perante a lei, consistente no tratamento igual a situações iguais e tratamento desigual a situações desiguais, a Constituição veda distinções de qualquer natureza.
O art.5º, caput, consagra serem todos iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.
Deve-se, contudo, buscar não somente essa aparente igualdade formal (consagrada no liberalismo clássico), mas, principalmente, a igualdade material, uma vez que a lei deverá tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades.
Isso porque, no Estado Social ativo efetivador dos direitos humanos. Imagina-se uma igualdade mais real perante os bens da vida, diversa daquela apenas formalizada perante a lei (LENZA, 2010).
O princípio da igualdade encontrado no caput do artigo 5º da Constituição da Republica Federativa de 1988, que enuncia: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”, tem sido utilizado em todos os ramos do direito, buscando sempre equilibrar situações diversas, figurando como um exponencial dentro do ordenamento jurídico (BRASIL, 1998).
A importância do princípio da igualdade no ordenamento jurídico como forma de manter o equilíbrio das relações jurídicas. Nesse diapasão, será possível analisar situações de desprestígio da vítima, por meio de uma simples interpretação sistemática da Constituição Federal, pois se sobre o acusado temos várias referências a direitos e garantias fundamentais (artigo 5º, CF/88), por outro lado, não encontramos proteções à vítima nesse âmbito, podendo vislumbrar o abandono e o desequilíbrio entre réu e vítima, frente ao princípio da igualdade.
ARTIGO 5º E SEUS INCISOS: PROPORCIONAM AMPLO DESEQUILÍBRIO ENTRE RÉU E VÍTIMA
Buscando evitar os excessos do Estado no jus puniendi,a CR/88 elencou um rol de proteção ao acusado, causando desta forma, disparidade entre este e a vítima. “Uma sociedade que não protege e não presta assistência efetiva às vítimas de seus crimes não obtém níveis de cidadania dignos para o momento histórico em que a humanidade se encontra.” (CALHAU, 2009).
Em uma análise fria do artigo 5º e seus incisos da CF/88, percebe-se uma gama de direitos e garantias ao acusado. Há uma disparidade entre o princípio da igualdade contido na Carta Magna e a quantidade de incisos de proteção ao acusado. Talvez, o legislador constituinte,na tentativa de buscar justiça e ao mesmo tempo proteger o criminoso dos excessos no jus puniendi, tenha focado mais o agente delituoso em contrapartida, o esquecimento da vítima.
Fica claro esse desequilíbrio ao analisarmos alguns incisos do artigo em comento. Percebe-se a preocupação do constituinte com os direitos do criminoso quando em análise aos incisos constitucionais que ilustram os direitos e garantias que geram a desigualdade.
Não obstante o artigo 5º da CR/88, o art. 201, Inciso IV, do mesmo diploma legal “remota ao auxílio-reclusão”, fator este, que novamente gera disparidade entre vítima e réu, visto que, a família do criminoso tem direito ao auxílio-reclusão regulamentado no artigo 80 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Quanto à composição aos danos da vítima, esta terá que ingressar com uma ação exdelicto, entretanto, somente após sentença transitada em julgado que poderá ter seu prejuízo ressarcido na esfera civil. 
Segundo Lenza (2010) uma sentença na esfera criminal pode levar anos para ser sentenciada, terá a vítima que aguardar a morosidade da justiça, e ainda correr o risco de não ter seu prejuízo composto, caso o criminoso comprove ser pobre e não ter condições para tanto. Diante dos fatos expostos, adota-se a lição de Pedro Lenza, que afirma: “a grande dificuldade consiste em saber até que ponto a desigualdade não gera inconstitucionalidade.”
Constantes são as críticas aos excessos de direitos e garantias ao agente criminoso, visto que, tal ocorrência aumenta a impunidade, pois, as vítimas ao passarem pelo traumático fato delituoso ainda se sentem constrangidas pelo ordenamento jurídico que as abandonam e colocam em dúvida o contexto dos fatos; desamparadas e com medo de novas represarias dos criminosos acabam se omitindo como forma de se protegerem, aumentando assim a impunidade.
Ocorrendo desta forma, haverá ofensa, não apenas a dignidade da pessoa humana, mas também, ao próprio Estado Democrático de Direito, como assevera Calhau (2009):
O acréscimo de um inciso elevando a proteção da vítima criminal ao patamar de direito constitucional fundamental será uma medida de elevada importância no plano da Política Criminal e da proteção dos direitos humanos no Brasil, podendo servir de paradigma para outros países, que nesse momento buscam dentro de suas realidades enfrentarem o aumento da criminalidade que vem assolando diversas nações dando um tratamento justo para as vítimas criminais.
LXXIX – a proteção da vítima criminal é assegurada pelo Estado, devendo o Poder Judiciário garantir tratamento igualitário á vítima e ao acusado em processo criminal;
Vitimologia
Sobre o conceito de vitimologia:
Vitimologia é o estudo do Homem em sua magnitude, como homem que trabalha que serve que chora, que tenta, que consegue, que ganha, que perde, que reage, que cai, que levanta, que busca e que caminha almejando uma vida mais rica – sem agruras e sem sofrimentos. A vitimologia é uma conquista do século que se despediu, e começa a florescer neste novo milênio como notável ciência biopsicossocial, tão festejada quanto desconhecida pela maioria dos juristas. (KOSOVSKI; PIEDADE JUNIOR, 2005, p. 52).
Cabe salientar, que houve um tempo em que a sociedade só se preocupava com o crime. Decorrido o tempo, a sociedade passou a se preocupar com o autor do crime, e finalmente, a figura da vítima ressurge como protagonista importante. A vitimologia é uma ciência que está em ascensão, porém ainda “desconhecida pela maioria dos juristas.” Por meio da vitimologia estuda-se o comportamento da vítima e a vitimização. 
Conceito vítima
Tratando-se do conceito de vítima, pode-se afirmar a existência das seguintes subdivisões: primária, secundaria e terciária, o que se passa a conceituar. Além disso, pode-se afirmar a subdivisão da mesma em vitimização ou sobre vitimização.
Entendem-se por "vítimas" as pessoas que, individual ou coletivamente, tenham sofrido um prejuízo, nomeadamente um atentado à sua integridade física ou mental, um sofrimento de ordem moral, uma perda material, ou um grave atentado aos seus direitos fundamentais, como consequência de atos ou de omissões violadores das leis penais em vigor num Estado membro, incluindo as que proíbem o abuso de poder (ONU, 1985).
	
Cabe informar que o conceito de vítima não alcança só quem sofreu a agressão diretamente, mas também sua família. Então, vítima é a pessoa que diretamente sofrena sua integridade física ou mental e/ou familiares e outros interventores que acompanham e sofrem junto com a vítima direta, os reflexos do ato criminal doloso ou culposo.
Ampliando o conceito de vítima, Jorge (2005. p.15) ensina:
Do latim, victima significa a pessoa ou animal sacrificado ou destinado aos sacrifícios, oferecido como forma de pedido de perdão pelos pecados humanos. Apalavra é derivada do verbo vincere, que significa atar ou amarrar, vez que o animal ou pessoa a ser sacrificado após uma vitória era amarrado.
Então vítima pode ser considerada o animal amarrado, sacrificado, ofertado, entretanto, diante o tratamento isonômico atribuído pela Constituição da República às partes litigantes de um processo, a vítima não pode mais ser considerada como tal, daí a importância da vitimologia como ciência capaz de esclarecer o papel da vítima no processo. Sendo assim, necessário se faz o estudo de vitimização ou sobre vitimização, buscando enfatizar cada um dos aspectos de tal ciência.
Classificação de vitimização
Para um amplo conceito de vitimização: 
[...] inclui como fatores vitimizantes a tecnologia, o meio ambiente, atores físicos, psíquicos, econômicos, políticos e sociais, se for transplantado para auxiliar em um conceito jurídico amplo de vítima, compreenderá como vítimas aqueles que sofrem algum tipo de ofensa a direitos fundamentais, do qual emergiria um dano ou lesão (BARROS, 2008, p.56).
Pode-se afirmar que a vitimização se dá no momento em que a vítima retoma todos os dados do crime, ou até mesmo quando esta se depara com seu agressor. Em suma, a vitimização ou a sobre vitimização, como se verá a seguir, acarretam constrangimento significativo a vítima que se vê mais uma vez em estado de alerta, participando do cometimento do delito, repassando os fatos e os sentimentos (BARROS, 2008, p.56).
Etapas da vitimização (primária, secundária e terciária)
A agressão primária é aquela que trata do abuso ao bem jurídico tutelado, no momento do fato delituoso. Pode trazer graves consequências a quem sofre a agressão, como exemplo, distúrbios mentais provocando mudanças no comportamento ou outros efeitos negativos e intenso sofrimento.A Vitimização primária ocorrida durante os atos executórios do crime, como mostrado acima, causa sofrimento a vítima devido à execução dos atos criminosos. Após a execução do ato criminoso, a vítima passa por mais um temor, o de não ser bem recebida pelos órgãos de atuação estatal, indagando, inclusive, se acreditarão na sua versão dos fatos. Além disso, a vítima ainda convive com o receio de procurar os órgãos de primeiro atendimento e sofrer nova repressão por parte do agressor. 
A vitimização secundária ocorre na fase inquisitória da ação, pela inquirição dos fatos que fazem com que a vítima lembre de todo constrangimento sofrido com o fato delituoso, destarte, as dúvidas sobre os fatos narrados, e as perguntas constrangedoras principalmente se tratando de crimes contra a dignidade sexual, que levam a vítima lembrar de todo o ocorrido, tendo ainda que ser ouvida na frente de pessoas desconhecidas, aumenta desta forma o constrangimento que chega a ser tão duro quanto à própria violência ocorrida. 
No que tange a vitimização terciária, pode-se afirmar que esta ocorre “mediante o contado da vítima com o grupo familiar ou em seu meio ambiente social, como trabalho, escola, associações comunitárias, ou igrejas” (BARROS, 2008. p. 74).
Vitimização terciária ocorre no âmbito familiar, nas igrejas e escolas. A vítima agora sofre no âmbito social em que vive, sempre quealguém lhe aponta como se fosse um perdedor.Destarte, que no sistema jurisdicional, onde a vítima espera proteção e amparo é o mesmo órgão que a afasta de buscar pela justiça, devido seus métodos rudimentares e falta de preparo de seus operadores. Fato este que ocorre desde os primeiros atendimentos até a sentença transitada em julgado. O próprio órgão repressor que deveria gerar segurança acaba trazendo transtorno para a vítima gerando desta forma a impunidade. 
A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO GARANTIA CONSTITUCIONAL (artigo 1º, III, CF/88)
Para se discutir o princípio da dignidade da pessoa humana, necessário se faz, discernir a diferença existente entre o direito natural, o direito fundamental e direito humano.
O Direito natural transcende a natureza humana e “traduz-se na existência de um direito fundado na natureza das coisas e, em último tempo, na vontade divina, no direito justo, denominando-se por concessão jus naturalista (do jus naturalismo).”�Por sua natureza peculiar “caracterizar-se o direito natural como universal, imutável e cognoscível, querendo significar que é abrangente de todos os homens, em todos os tempos e lugares, é imutável em consequência da própria imutabilidade da natureza humana”, capaz de ser conhecido por todos os homens naturalmente.
Quanto aos direitos fundamentais, conceituá-los não é tarefa fácil, pois o que pode ser direito fundamental em determinada época poderá não sê-lo em outra, visto que, direitos fundamentais são conquistas históricas, e tem como vetor determinada necessidade em determinada época.
Diferenciar Direitos Humanos de Direitos Fundamentais esbarra no estudo da própria história do homem. Os Direitos Humanos surgem após a Segunda Guerra mundial, com a formação da ONU e reconhecimento de todos os direitos (gerações) até o momento aceitas pela humanidade (MOREIRA, 2007). Direitos Fundamentais, de forma diferente, são todos aqueles direitos positivados nas Constituições do mundo, independentemente se o foram hoje, ou no século XVIII, quando as primeiras Constituições começaram a surgir no pós Revolução Francesa.
Os Direitos Humanos surgidos no pós-segunda guerra mundial decorrem da história, importar estatuir que os direitos fundamentais “surgem para a humanidade quando positivados por um ordenamento jurídico específico, geralmente garantido em normas constitucionais frente a um Estado” (MORAES, 2003, p. 39).
É preciso salientar, que a dignidade da pessoa humana, elevada a princípio fundamental pela Constituição Brasileira (artigo 1º, III, CF/88) é fator importante para implementação de outros direitos fundamentais, como moradia, lazer, trabalho, entre outros. A dignidade da pessoa humana abarca todos os direitos capazes de satisfazer o homem em sua plenitude no decorrer da busca por uma vida digna. Destarte, que a dignidade da pessoa humana é o respeito a direitos e garantias fundamentais, viabilizando a possibilidade de todos terem amplo acesso aos meios para uma vida digna. “Nesse sentido, dignidade é um conceito que se opõe a todo tipo de violação ao direito do ser humano” (IBID. p.14).
Moraes (2003) sintetiza a ascensão dos direitos fundamentais aos “demais direitos previsto no ordenamento jurídico, apresentando diversas características: imprescritibilidade, inalienabilidade, irrenunciabilidade, inviolabilidade, universalidade, efetividade, interdependência”. Visto que, os direitos e garantias fundamentais são pontos de extrema importância para um Estado democrático de direito 	que por sua vez, tem-se a “garantir a dignidade da pessoa humana como princípio inviolável significa o desejo de construir um convívio social em que seja possível a diminuição das desigualdades entre os seres humanos” (MORAES, 2003).
Dignidade da pessoa humana esta relacionado aos direitos e garantias fundamentais, mesmo aquele decorrente de tratados e convenções internacionais como assevera nossa Carta Magna de 88. Desse modo, importa agora esclarecer que o estado democrático visa, coibir “o arbítrio dos governantes” (FERREIRA FILHO, 2010) e concomitante garantir que todos tenham o mesmo tratamento com as mesmas condições frente ao ordenamento jurídico.
ANÁLISE DO ARTIGO 245 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1988
Segundo Brasil (1988) para adentrarmos ao próximo assunto, não pode deixar de fazer uma breve análise do artigo 245 da CR/88, pois se trata do único artigo da Constituição da República que faz menção a vítima. Todavia, não elencando direito, mas sim certa margem de direitos aos seus familiares como se percebe da redação do artigo. Destarte, ainda observar que o artigo refere-se a crime doloso deixando claro que neste momento a vítima poderá não estar viva, e mesmo que sobrevivesse a agressão, o artigo em comento não prever direitos e nenhuma garantia a vítima e sim “aos herdeiros e dependentes carentes”, padecendo de erro redacional.
É importante salientar, que se comparando a quantidade de direitos e garantias do art. 5º, com o art. 245 CF/88, fica patente o desequilíbrio entre vítima e criminoso. Consiste ainda em estatuir, que as leis infraconstitucionais que buscam amenizar o sofrimento da vítima, podem padecer de inconstitucionalidade por não haver previsão na Carta Magna de 88. “Na legislação brasileira, o sistema jurídico é interpretado através do critério da hierarquia, e a maior patente desta hierarquia é a Constituição Federal de 1988” (COSTA, 2004. p.19).
Todas as leis buscam fundamento de validade na Constituição da República Federativa do Brasil, isto significa que todas outras leis estão hierarquicamente abaixo da Constituição. Caso conflite com a Constituição, serão inconstitucionais. Existem leis infraconstitucionais que buscam amenizar o abandono da vítima no ordenamento jurídico, todavia, reina a insegurança jurídica por não haver previsão em nossa Carta Magna.
Buscando segurança jurídica e elencando direitos e garantias a vítima, o jurista Lélio Braga Calhau, entende que deveria haver uma reforma constitucional acrescentando mais um inciso ao (artigo 5º CF/88), que é: “LXXIX – a proteção da vítima criminal é assegurada pelo Estado, devendo o Poder Judiciário garantir tratamento igualitário á vítima e ao acusado em processo criminal”.
Visto que vítima de crime doloso tentado e consumado, não tem proteção no âmbito Constitucional, ficando a mercê de leis extravagantes que muitas das vezes apesar de uma redação bonita e bem elaborada, não funcionam na prática. Não obstante, a isto percebemos na redação do mesmo artigo que a previsão é tão somente de acordo com Brasil (1988) “aos herdeiros e dependentes carentes de pessoas vitimadas”, ficando claro que a assistência somente às vítimas de baixa renda.
Desta forma, percebe-se contradição ao princípio da igualdade embarcado no artigo 5º caput, já comentado anteriormente, visto que ocorrer o esquecimento das vítimas de crimes culposos e o artigo não trazem proteção à vítima e sim seus familiares e dependentes carentes, ou seja, se tratando somente de vítima de baixa renda. Giram grandes criticas em torno do artigo 245 da CR/88, por apenas tratar de crimes dolosos contra vida, não elencando em seu texto os crimes culposos. 
No Estado Democrático de Direito, a vítima precisa alcança plenitude de seus direitos e garantias consubstanciadas na Constituição ou, ao menos, equiparar seus direitos e garantias aos do agente criminoso. Depreende do ponto acima conforme ensinamento do jurista Lélio Braga Calhau, que cidadania é igualdade de tratamento, que evidência a formação de um Estado de direito.
Abandono legislativo da vítima e seus familiares e o sentimento de impunidade
Visto que a vítima é abandonada no nosso ordenamento Pátrio, e que somente o artigo 245 da CR/88, faz menção “aos herdeiros e dependentes” de crime doloso, importa observar por meio de apresentação de fatos acontecido, se os familiares, vítimas de crime recebem do Estado devida assistência e proteção legal, como acontece com o agente criminoso, para tanto, apresta-se alguns casos acorridos nopaís (BRASIL, 1988).
Como pode se observar o caso do menino “João Hélio Fernandes Vieites, de apenas 6 anos, morreu após ser arrastado por mais de sete quilômetros, preso ao cinto de segurança do carro onde estava, [...]. O crime ocorreu durante um assalto”. Neste caso, ocorreu uma grande comoção popular, entretanto na prática, o que ocorreu foi um protencionismo aos agentes crimonosos, como pode ser obeservado na decisão abaixo:
Um dos condenados pela morte do menino João Hélio, de 7 anos - arrastado por ladrões de carro por sete quilômetros e quatro bairros em 2007, foi solto na semana passada e incluído no Programa de Proteção à Criança Ameaçada de Morte (PPCam), mantido pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos, do governo federal. Depois de cumprir três anos de medida socioeducativa, o jovem, que na época do crime era menor, foi liberado no último dia 10, quando já tinha completado a maioridade. Ele foi levado para outro estado porque teria recebido ameaças de morte durante o tempo em que ficou internado no Instituto João Luiz Alves, na Ilha do Governador.
A assessoria de imprensa da Secretaria Nacional de Direitos Humanos confirmou que o jovem foi retirado do Rio. O PPCam tem como objetivo a reintegração à sociedade e a proteção de menores que tenham sido testemunhas de algum crime ou estejam ameaçados(LEITE, 2011, p. 15)
Brasil tem se destacado por ser um grande defensor das garantias constitucionais e fundamentais daqueles que cometem determinados delitos, em detrimento da proteção “temporária” dos direitos humanos das vítimas. Assim, o termo temporário refere-se ao debate que se instala quando um determinado crime de grande clamor e publicidade acontece devido aos personagens envolvidos, ou pela gravidade do delito. Após determinado tempo se esquece do caso, e a vítima carrega por toda sua vida as marcas do crime sofrido, muitas vezes sem conseguir do Estado a devida reparação.
Mediante tanto protecionismo aos agentes criminosos, aplicado isto, a falta de proteção legal à vítima e seus familiares, gerando sentimento de insegurança e impunidade, frustrando desta forma tanto aos familiares da vítima quanto a sociedade, vez que almejam por justiça e segurança que é dever de todos e obrigação do Estado.
Um dos envolvidos do crime que chocou o país ganhou o beneficio da liberdade assistida, o jovem Ezequiel Toledo da Silva atualmente com maior idade, era na época o único menor envolvido neste assassinato. Ele cumpriu apenas 3 anos de medida sócia educativa e passou a ser acompanhado pela vara da infância e juventude, ao terminar a medida sócia educativa saiu com a ficha branca como se não tivesse feito nada. 
Retomamos ao caso João Hélio que foi morto durante a um assalto, destarte não ser uma exceção neste país, inúmeros casos de violências brutais acontece todos os dias. Como pode ser observado no protesto em busca por justiça no caso João Hélio, que reuniu outras pessoas também vítimas pedindo por justiça.
Mais um caso que gerou polêmica na sociedade brasileira e trouxe átona a questão da maioridade penal. Liana Bei Briedenbache e seu namorado Felipe Silva Caffé de 19 anos foram mais duas vítimas de uma guerra que vem assolando o país, uma guerra entre bandidos e polícia, que deixa no meio gente descente, de bem.
Liana e Felipe estavam em sua barraca quando um de seus futuros assassinos, um morador da região, à época, menor de idade (que a nossa lei insiste em proteger e na época o chamava de R.A.A.C. e que hoje publicamos para que ele nunca mais seja visto na rua, é a sigla de Roberto Aparecido Alves Cardoso), vulgo Champinha, e que deviam publicar o nome e a foto deste animal vira-lata), viu o casal e teve sua ideia macabra, iria assaltá-los, pareciam um casal de posses como ele mesmo afirmou. Chamou então dois comparsas, Agnaldo Pires e Paulo César da Silva, o "Pernambuco" e planejaram tudo. Porém depois decidiram sequestrar ao invés de assaltar apenas.
Em nenhum dos casos apresentado se percebe preocupação com os familiares da vítima como prevê o artigo 245 da Constituição da República de 1988, e sim o crimonoso como foco das atenções. Neste contexto, vimos leis que não aspiram aos anseios da sociedade. Um dos primeiros princípios da Constituição Federal é o da dignidade da pessoa humana, princípio este que reza pela igualdade, ou seja não pode haver distinção entre pessoas, o que não ocorre nos casos apresentandos, visto que não existe igualdade de tratamento.
Ausência de política pública como programa de Estado
Importa-nos agora analisar a falta de política pública como programa de Estado e sim como forma de governo, neste contexto, pode citar a bolsa família, sendo desta forma usada pelos nossos governantes como plataformas para ganhar eleições. Hodiernamente, perdura somente durante o mandato do político eleito e em caso de reeleição ou quando o eleito é da coligação, e não sendo diferente se tratando de política criminal, visto que neste momento não só a vítima é abandonada, mas o próprio sistema prisional, não passando de utopia a ressocialização.
Visto que quando o agente delituoso sai do sistema prisional, sai sem a menor expectativa de vida, pois é renegado no mercado de trabalho, na vida social, não restando outra opção a não ser voltar ao crime. Nota-se, então a falta de investimento em políticas públicas, quando se trata da ressocialização do preso. Nota-se também a falta de politicas públicas de proteção e amparo a vítima e seus familiares. Assim, como não existe politicas pública de combate a criminalidade, visto que são constante e rotineiros os casos de violência, registrados pelos sistemas jurídicos e divulgados pela impressa. Explica Jorge (2005):
O que se percebe atualmente é o Estado se eximindo, com frequência, de suas responsabilidades, mas não só quanto à segurança. Obviamente que este não é o pior aspecto de sua má atuação. Abominável é sua omissão para com as necessidades humanas mais primárias, de saúde, educação e trabalho. A consequência é o aumento da criminalidade, pois, na grande maioria, os carentes e marginalizados do presente, são os delinquentes do futuro.
A má atuação ou omissão do Estado estabelecem uma relação jurídica de corresponsabilidade deste nas infrações ocorridas, principalmente devido a sua deficiência na segurança que deveria ser oferecida adequadamente aos cidadãos. A insegurança proporcionada pelo Estado é o que pode responsabilizá-lo diretemente, pois existe um nexo de causalidade entre sua omissão e o acontecimento de diversos crimes, afinal a prevenção criminal está instrinsecamente relacionada com a segurança pública.
Importa neste momento entender que as politicas públicas visam garantir direitos sociais, e acolher os anseios da sociedade por meio de seus representantes, pois fazemos parte de uma democracia participativa, buscando beneficiar uma pequena massa elitista, este que são resposáveis em fomentar a politica social, visando diminuir a concentração de renda, diminuindo desta forma desigualdade social. 
Tímida tentativa de minimizar o esquecimento da vítima pelo poder público
Em capítulos anteriores nota-se, a disparidade na Constitucional da República de 1988, ou seja, o esquecimento da vítima e em contrapartida um rol muito grande de direitos aos agentes criminosos, e que somente o artigo 245, faz menção a vítima e somente quando se tratam de crime doloso, não abrangendo desta forma os crimes culposos. Visto que o artigo em comento trata de assistência aos herdeiros e dependentes e não propriamente a vítima. Neste contexto buscando minimizar o esquecimento da vítima por meio de leis infraconstitucionais, que podem até ser declaradas inconstitucionais, não por ir de encontro a preceitos Constitucionais, mas por não haver previsão literal no texto Constitucional. Pois onde todas outras Leis buscam fundamento de validade na Constituição.
Visto que a vítima é abandonada na Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988 e que as Leis infraconstitucionais não funcionamna prática. Buscando, segurança jurídica e elencando direitos e garantia a vítima, o jurista Lélio Braga Calhau, entende que deveria haver uma reforma constitucional acrescentando mais um inciso ao art. 5º CF/88, por este artigo tratar de direitos e garantias elevando desta forma a vítima a sujeito de direitos e garantias Constitucionais. Sendo, bem visto, por equiparar direitos e garantia a vítima como assevera Reale (1997, p. 90), explicando:
O acréscimo de um inciso elevando a proteção da vítima criminal ao patamar de direito constitucional fundamental será uma medida de elevada importância no plano da Política Criminal e da proteção dos direitos humanos no Brasil, podendo servir de paradigma para outros países, que nesse momento buscam dentro de suas realidades enfrentarem o aumento da criminalidade que vem assolando diversas nações dando um tratamento justo para as vítimas criminais.
Neste momento importa-nos analisar algumas leis infraconstitucionais, que traz significativa mudança da vítima no ordenamento jurídico brasileiro, entretanto não sendo suficiente para minimizar o sofrimento da vítima, destarte que muitas delas não saem do papel por falta de investimento. Primeiro passo rumo à valorização da vítima foi com a Lei n.º 9.099, de 26 de setembro de 1995, Juizados Especiais Cíveis e Criminais, que trouxe a possibilidade da compensação. O assunto reúne à elevação teórica uma significativa importância prática, isso concernente ao comportamento da vítima no julgamento e aplicação da pena e quanto à reparação do dano (BRASIL, 1995).
Neste momento importa observar a Lei nº 11.690/ 2008, que traz alterações quanto às provas e dispositivos do Código de Processo Penal.Trazendo uma pequena margem de direitos, como (ofendido deverá ser comunicado dos atos processuais, as comunicações deveram ser feitas no endereço por ele indicado, deverá ter um lugar separado para o ofendido antes do início da audiência, o juiz poderá encaminhar o ofendido para atendimento multidisciplinar, psicossocial, assistência jurídica e de saúde, o juiz poderá se necessárias à preservação da intimidade determinando segredo de justiça). Porém, o parágrafo primeiro deste artigo é alvo de críticas pelo fato de o ofendido deixar de comparecer, podendo ser conduzido, pois além de sofrer agressão poderá ser conduzido coercivamente. De mesma forma, o parágrafo sexto que faz menção ao direito de atendimento multidisciplinar, psicossocial, assistência jurídica e de saúde, a expensas do ofensor ou do Estado, ocorre que se o ofensor não tiver condições financeiras para isto, a vítima além de sofrido a agressão ainda deverá arca com estas despesas.
Importa salienta as alterações trazidas pela Lei nº 11.719/2008, trouxe alterações ao código de processo penal, quanto ao procedimento, antes o procedimento comum era dividido em rito sumário e ordinário, sendo que o rito era definido pela qualidade da pena aplicada, ou seja, se tratando de pena de detenção, o rito é sumário e pena de reclusão o rito era ordinário, após a vigência da Lei a pena aplicada ao crime que definia qual é o rito a se seguir. Esta lei trouxe a vítima o benefício de que quando o juiz sentencia de plano fixa, um valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido (CARVALHO, 2008).
Neste mesmo contexto, importa apresentar a Lei nº 9.807/99, de 13 de julho de 1999, de proteção a vítima e testemunhas.
A Lei nº 9.807/99, de 13 de julho de 1999 estabelece normas para a organização e a manutenção de programas especiais a vítimas e testemunhas ameaçadas, institui o Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas ameaçadas e dispõe ainda, sobre a proteção de acusados ou condenados que tenham voluntariamente prestado efetiva colaboração à investigação policial e ao processo criminal (BRASIL, 1999, p. 1672). 
O tratamento da vítima no direito comparado (EUA)
Cumpre agora observar no direito comparado norte americano, normas e políticas de segurança pública que tem por escolpo reduzir ou minimizar o avanço da criminalidade bem como investimento em programas de proteção a vítima e seus familiares. Faz mister saber que o direito brasileiro já sofreu muitas influências do direito norte americano, importa-nos também ressaltar que o direito norte americano tem suas bases na common law e o direito brasileiro da civil law, não obstante quando comparamos, ainda percebemos um grau muito grande de diferença, principalmente no que tange as políticas públicas de incentivos e proteção a vítima que é o foco deste trabalho.“Ser vítima criminal é um fato social cada vez mais rotineiro (PEDROSA, 2010).
No direito comparado, percebemos a ascensão da vítima como sujeito de direito, neste contexto, analisar-se-á os Estados Unidos da America, onde podemos observar o crescimento e a valorização da vítima nas políticas públicas. No Direito Comparado são cada vez mais numerosos os casos de redescoberta da vítima. Os Estados estão reconhecendo, a importância da vítima, vinculando o tema à questão da cidadania.
Observa-se que nos Estados Unidos, existem efetivos programas de política pública de proteção a vítima e seus familiares. Contribuindo neste mesmo contexto:
Existem também programas de compensação às vítimas dos crimes administrados por todos os Estados da Federação norte americano. Esses programas proporcionam assistência financeira à vítimas de crimes de ordem federal e estadual. O típico programa de compensação estadual requer que as vítimas reportem os crimes em 3 dias e reivindiquem indenizações dentro de um período fixo de tempo, normalmente dois anos. A maior parte dos Estados da Federação pode estender esses limites, se houver necessidade, exclusivamente. 
A assistência às vítimas inclui, mas não limitada, os seguintes serviços: intervenção nas situações de crises, consultas, abriga de emergência, advocacia na justiça criminal, transporte de emergência. Por toda a nação existem aproximadamente 10.000 organizações que proporcionam auxílios desses e outros tipos para as vítimas de crimes. Por volta de 2.800 dessas recebem alguma contribuição dos fundos VOCA (CALHAU, 2009).
Visto no que tange a vítima e familiares os Estados Unidos da America, está muito a frente do Brasil, pelos diversos programas e incentivos de proteção. Esse tipo de iniciativa demonstra claramente que os Estados Unidos se conscientizaram que a vítima, como cidadã, deve ser da mesma forma assistida como o Estado que possui o seu aparato próprio para a defesa do Direito (Ministério Público, Polícia etc) quando da ocorrência de um crime (CALHAU, 2009).
Neste contexto, podem-se citar outros Estados, além dos Estados Unidos da America que buscam a valorização da vítima e seus familiares no ordenamento jurídico por meio de política pública. Vários Estados, dentre eles Nova Zelândia, Inglaterra e Portugal, possuem organizações que prestam grande assistência às vítimas, inclusive em nível jurídico, psicológico e social.
Diante dos programas Norte Americano de incentivo e proteção as vítimas, fica claro que o Brasil deixa muito a desejar e que estar muito atrasado em políticas públicas neste âmbito. Principalmente em nossa Magna Carta de 88, que não faz menção a vítima como sujeito de direito, confrontando com princípio da igualdade embarcado neste mesmo ordenamento pátrio. Ficando desta forma, esses direitos e garantias para Leis infraconstitucionais, que, por conseguinte não tem respaldo em nossa Magna Carta, não por afrontar princípio, mas por não haver previsão, podendo padecer de inconstitucionalidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por muito tempo a vítima, vem sendo abandonada no ordenamento jurídico, e nas políticas públicas de seguranças, passando de sujeito de direito, a objeto do processo, tendo sido visto único e exclusivamente como forma de provas, servindo para condenar ou agravar a situação do réu. Porém, houve época que a vítima participava ativamente na imposição da pena, utilizando-se para tanto, dos ditames doCódigo de Hammurabi, entre outros, quando “olho por olho e dente por dente” demonstrava a inclusão da vítima como beneficiário de direitos.
Entretanto, quando o Estado assumiu o Jus Puniendi, ou seja, trouxe para si o direito de punir. Então, a vítima passou a ser renegada no ordenamento jurisdicional brasileiro passando de sujeito de direito a objeto do processo.
Ao analisar os incisos do artigo 5º que tratam de direitos e garantias, percebe-se esta disparidade entre vítima e agente criminoso, ocorrendo desta forma a inobservância do princípio da igualdade e em contrapartida afronta ao princípio da dignidade da pessoa Humana embarcado no artigo 1º, inciso III, da Magna Carta, corolário do Estado Democrático de Direito.
No entanto, são constantes as violações aos direitos do homem, mesmo diante de Leis infraconstitucionais, devido má aplicabilidade das mesmas, trazendo desta forma uma pequena margem de proteção e amparo a vítima.
Não obstante a isto, importa-nos ressaltar a questão do auxilio reclusão do art. 201. Inciso IV, fator este, que contribui novamente para gerar disparidade entre a vítima e o réu, visto que, a família do criminoso tem direito ao auxílio-reclusão regulamentado pelo artigo 80, da lei nº 8.213/91.
Quanto à composição aos danos da vítima, esta terá que ingressar com uma ação exdelicto. Entretanto, somente após sentença transitada em julgado que poderá ter seu prejuízo ressarcido na esfera civil. Tendo em vista, que uma sentença na esfera criminal leva anos para ser sentenciada, terá a vítima que aguarda a morosidade da justiça, e ainda correndo o risco de não ter seu prejuízo composto caso o criminoso comprove ser pobre e não ter condições para isto.
Destarte, que no sistema jurisdicional, onde à vítima espera proteção e amparo é o mesmo órgão que afasta de buscar pela justiça, devido seus métodos rudimentares e falta de preparo desses operadores. Fato este que ocorrer desde os primeiros atendimentos, até, a sentença transitada em julgado.
O próprio órgão repressor que deveria gerar segurança, acaba trazendo transtorno para a vítima gerando desta forma o medo de buscar pelo judiciário e fazer valer seus direitos, aumentado desta forma a impunidade.
Neste contexto, surge a vitimologia uma ciência voltada ao estuda da vitima, buscando analisar a vitima sobre um novo prisma, ou seja, como sujeito de direito, urge informar que está ciência, de estudo da vítima dividem em subclassificação, chamadas de vitimização ou sobre vitimização, estas que podem ser primaria, secundaria e terciária.
Importa observar, que as omissões têm maiores relevo nos crimes contra a dignidade sexual. Pelas dificuldades enfrentadas e o constrangimento que a vítima enfrenta em relembrar todo o fato constrangedor e em ter que contar todo ocorrido frente a pessoas desconhecidas e despreparadas para colher às oitivas.
Destarte, que a dignidade da pessoa humana é o respeito a direitos e garantias fundamentais bem como à plenitude de direitos inerentes ao ser humano como valor absoluto, viabilizando a possibilidade de todos terem amplo acesso aos meios, para uma vida digna, como forma de consubstancia um estado democrático de direitos.
Desta forma, qualquer norma que gera desigualdade, mesmo que provindo de nossa Magna Carta, vai de encontro ao principio da igualdade, embarcado em nossa Constituição como um valor absoluto, afrontando desta forma nosso Estado democrático de direito.
Nesta seara conclui-se que, a dignidade da pessoa humana está relacionada aos direitos e garantias fundamentais, mesmo aquele decorrente de tratados e convenções internacionais como assevera a Magna Carta de 88. Desse modo, importa agora esclarecer que o estado democrático visa coibir o arbítrio dos governantes e concomitantes garantir que todos têm o mesmo tratamento com mesmas condições frente ao ordenamento jurídico. Isto remota ao princípio da igualdade, que significa inexistência de diferença.
Neste mesmo contexto, importa estatuir que o artigo 245 da Magna Carta e que somente neste momento a Constituição da Republica de 1988 faz menção a vítima. Entretanto, não elencando direito à vítima, mas sim os seus familiares como se percebe da redação do artigo. Destarte, ainda observar que o artigo refere-se a crime doloso e não fazendo menção ao crime doloso tentado e culposo, deixando claro que neste momento a vítima poderá não estar viva, e mesmo que sobrevivesse a agressão, o artigo em comento não prever direitos e nenhuma garantia a vítima e sim aos herdeiros e dependentes carentes, padecendo de erro redacional. Importa-nos salientar, que se comparando a quantidade de direitos e garantias do art. 5º, com o art. 245 CF/88, fica patente o desequilíbrio entre vítima e agente criminoso. 
Entretanto, existem leis infraconstitucionais que buscam amenizar o abandono da vítima no ordenamento jurídico, todavia reina a insegurança jurídica por não haver previsão em nossa Carta Magna.
Pois, todas as leis buscam fundamento de validade na Constituição da República Federativa do Brasil, isto significa que todas outras leis estão hierarquicamente abaixo da constituição. Caso conflite com a Constituição, serão inconstitucionais.
Diante do exposto, a disparidade entre vítima e criminoso em nossa Constituição e incontestável. 
Importa-nos observar que este trabalho não visa tolir direitos dos agentes criminosos, mas, elencar direitos a vítima a partir de nossa Magna Carta ou aumentos equiparar direitos de forma a efetivar segurança e proteção. Desta forma evitando as chamadas “Sifras Negras”, ou seja, a impunidade dos agentes criminosos, que não são denunciados porque a vítima se retrai diante da insegurança e dos maus tratos neste percurso de buscar por justiça.
Ainda nesta seara, observamos falta de políticas públicas de amparo e proteção a vítima e seus familiares. Importa-nos neste momento entender que as politicas públicas visam garantir direitos sociais, e acolher os anseios sa sociedade por meios de seus representantes, o que hodiernamente não acontecer na prática.
Cumpre agora observar no direito comparado norte americano, normas e políticas de segurança pública que tem por escolpo reduzir ou minimizar o avanço da criminalidade bem como investimento em programas de proteção a vítima e seus familiares.
No direito comparado, percebemos a ascensão da vítima como sujeito de direito, quando analisamos os Estados Unidos da América, onde podemos observar o crescimento e a valorização da vítima nas políticas públicas. Os Estados estão reconhecendo a importância da vítima, vinculando o tema à questão da cidadania. No que tange a vítima e familiares, os Estados Unidos da América, esta muito a frente do Brasil, pelos diversos programas e incentivos de proteção.
Ainda neste relevo, importa-nos salientar que este trabalho não tem como proposta tolir direitos, mas sim, elencar ou equiparar.
ABANDONMENT AND VITIMIZATION OF THE OFFENDED AND THEIR FAMILIARS BEFORE THE ORGANS OF PROTECTION AND BRAZILIAN LEGAL ORDINANCE
Silvio Cézar Constantino Volpasso
	
ABSTRACT
Ouvir
Ler foneticamente
This conclusion of course work aimed to establish, from the perspective of the legal system of country analysis of the victim on a new light, and a discussion of the possibility of the victim appear as subjects of law and not just as an object of the procedure and as the ability to expand their rights against the principle of equality, synthesized in Article 5 of the caption, and human dignity contained in Article 1, section III, both the Constitution of 1988. To study the theme, developed through the literature review of doctrinal texts, case law and legislation, as well as analysis of the Brazilian Federal Constitution, intended to demonstrate the abandonment of victims in legal parental over-protection and the offender. The research aims to equalize in rights, defendant and victim, thus avoiding the subtraction of rights of the parties, using the comparative law analysis and tobetter understanding of the facts.
Keywords: Rights. Equal. Offender. Victim.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A ressocialização do preso na realidade brasileira: perspectivas para as políticas públicas. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/index .php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6301>. Acesso em: 25 abr. 2018.
Aspectos da vitimologia. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/ index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=430>. Acesso em: 01 mai. 2018.
BARROS, Flaviane de Magalhães. A participação da vítima no processo penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
BRASIL, Lei 9.099 de 26 de setembro de 1995. Promulgada em 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre Juizados Especiais Cíveis e CriminaisIn:PINTO, Antonio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos e CÉSPEDES, Livia.VadeMecum, 9. ed. atual. e ampl. São Paulo, Saraiva, 2010. p. 1573-1580.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Promulgada em 05 de outubro de 1988. Disponível em:<http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 13 out. 2011.
BRASIL. Lei 9.807 de 13 de julho de 1999. Dispõe sobre Sistema de proteção a vítimas e testemunhas. in: PINTO, Antonio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos e CÉSPEDES, Livia. VadeMecum, 9. ed. atual. eampl. São Paulo, Saraiva, 2010. p.1672/1674.
BRASIL. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991/91. Dispõe sobre os planos de benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8213cons.htm>. Acesso em: 13. out. 2011.
CALHAU, Lélio Braga. Proposta de emenda constitucional sobre o tratamento da vítima de crimecomo direito fundamental. Conteúdo Jurídico, Brasilia-DF: 04 ago. 2009. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver= 2.24601>. Acesso em: 10 jul. 2011.
CARVALHO, Sandro Carvalho Lobato de. Vitimização e processo penal. Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n. 1937, 20 out. 2008. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/11548>. Acesso em: 11 jul. 2011.
COSTA, Tailson Pires. Dignidade da pessoa humana diante da sanção penal. São Paulo: Fiuza Editores, 2004. 
DO JORNAL O GLOBO.Assassino de João Hélio é solto e recebe proteção. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/noticias/2089620/assassino-de-joao-helio-e-solto-e-recebe-protecao>. Acesso em: 01 agost. 2011.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos humanos fundamentais. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 
JORGE, Alline Pedra. Em Busca da Satisfação dos Interesses da Vítima penal. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2005.
Jovem envolvido na morte de João Hélio ganha liberdade assistida no RJ. Disponível em: <http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2011/04/jovem-envolvido-na-morte-de-joao-helio-ganha-liberdade-assistida-no-rj.html>. Acesso em: 2 ago. 2011.
LEITE, Rodrigo de Almeida. Os direitos humanos da vítima e a teoria do direito penal do inimigo: consequência da ineficácia do estado? Disponível em: <http:// www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/33523-43358-1-PB.pdf>. Acesso em: 01 agost. 2011.
 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 14. ed. rev. atual. eampl. São Paulo: Saraiva, 2010. 
MAYR, Eduardo. Ora, Direis, a vitimologia... Mas o que pretende ela, afinal? In: KOSOVSKI, Ester; PIEDADE JUNIOR, Hietor. Vitimologia e Direitos Humanos. Rio de Janeiro: Reproarte, 2005. 
MEMORIAL ANGELICAL O CASO DE LIANA BEI FRIEDENBACH. Saiba como aconteceu o crime bárbaro que chocou o país. Disponível em: <http://members.tripod.com/angelical_memorial.br/id4.html>. Acesso em: 19 out 2011.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 26. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
________. Direitos humanos fundamentais: teoria geral, comentários aos arts. 1º a 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. 
O GLOBO ONLINE. Memória: João Hélio morreu após ser arrastado preso ao cinto de segurança na Zona Norte. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/rio/mat/2007/06/08/296073544.asp>. Acesso em: 19 out. 2011.
Organizações das Nações Unidas (ONU).Declaração dos Princípios Básicos de Justiça Relativos às Vítimas da Criminalidade e de Abuso de Poder. Assembleia Geral das Nações Unidas na sua resolução 40/34, de 29 de Novembro de 1985. Disponívelem:<http://www.lgdh.org/Declaracao%20dos%20Principios%20Basicos%20de%20Justica%20relativos%20as%20Vitimas%20da%20Criminalidade%20e%20de%20Abuso%20do%20Poder.htm>. Acesso em: 12 jul. 2011. 
PEDROSA, Katia Lelis Aguiar. O contrato nas doutrinas Common Law e CivilLaw. Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2465, 1 abr. 2010. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/14625>. Acesso em: 9 set. 2011. 
REALE, Miguel. Questões de direito público. São Paulo: Saraiva, 1997. 
SILVA, José Afonso da.Curso de Direito Constitucional positivo. 23. ed. São Paulo: Malheiros, 2004. 
� DIREITO NATURAL. In Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2011. Disponível em: <�HYPERLINK "http://www.infopedia.pt/$direito-natural"�http://www.infopedia.pt/$direito-natural�>. Acessado em: 23 mar. 2018.

Continue navegando