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A educação intelecto atual o construtivismo teórico prático

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A EDUCAÇÃO INTELECTO ATUAL: O
CONSTRUTIVISMO TEÓRICO-
PRÁTICO
A EDUCAÇÃO INTELECTO ATUAL: O
CONSTRUTIVISMO TEÓRICO-
PRÁTICO
Relber Aguiar Gonçales
(Organizador)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
___________________________________________
Gonçales, Relber Aguiar
A educação intelecto atual: o construtivismo teórico-
-prático / Relber Aguiar Gonçales -- 1ª ed. São Paulo
SP : PoloBooks, 2017.
256p.; 14,8 x 21cm.
ISBN: 978-85-5522-261-0
Educação. 2. Educação e pesquisa. 3. Construtivismo I. Título
CDD 320
___________________________________________
Índice para catálogo sistemático:
1 Educação: 2 Educação e pesquisa: 3 Construtivismo
1ª edição: dezembro de 2017
2017
Gráfica PoloEditora
11 . 3791.2965 11 . 98393.7000
www.poloprinter.com.br
atendimento@poloprinter.com.br
 polo.books
SUMÁRIO
CAPÍTULO I
SABERES BRASILEIROS E PORTUGUESES: (RE) PENSANDO A
EDUCAÇÃO, COMO, PORQUE E PARA QUE
Relber Aguiar Gonçales
Mariana Gonçalves
CAPÍTULO II
DESPERTAR DO ESPÍRITO CIENTÍFICO
Rosangela Ferreira Rodrigues
Marla Piumbini Rocha
Anderson Ferreira Rodrigues
Luciane da Silva Martins
Vera Lucia Bobrowski
CAPÍTULO III
BACTÉRIAS FANTÁSTICAS E ONDE HABITAM
Ricardo Cardoso Castro
Relber Aguiar Gonçales
Flávia Costa Mendonça Natividade
CAPÍTULO IV
O ENSINO DE CIÊNCIAS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO NA
EMEF BENJAMIN CONSTANT – ARROIO DO PADRE/RS: UM
ESTUDO DE CASO
Elizângela Macedo Torres
Adriane Maria Delgado Menezes
Beatriz Helena Gomes Rocha
Vera Lucia Bobrowski
CAPÍTULO V
ENSINO DE BOTÂNICA NO CONTEXTO DAS ESCOLAS
PÚBLICAS E PROPOSTAS PARA FORMAÇÃO CONTINUADA DE
PROFESSORES
Relber Aguiar Gonçales
Anelize Cardozo da Gama
CAPÍTULO VI
A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS E
BIOLOGIA CENTRADA NA EVOLUÇÃO BIOLÓGICA
Gustavo Tavares Medina
Beatriz Helena Gomes Rocha
Vera Lucia Bobrowski
CAPÍTULO VII
UM ESTUDO SOBRE OS DESEJOS E RECURSOS DEFENSIVOS DE
PROFESSORES QUE ATUAM NO ENSINO FUNDAMENTAL DE
UMA ESCOLA PÚBLICA NA CIDADE DE SÃO PAULO – BRASIL
Susana Sneiderman
Marlene Banhos
Laura Bongiardino
Melanie Ghidella
Fiorella Martino
Ana Joulie Araújo Mora
Alesis Biaín
Fernanda Iglesias
CAPÍTULO VIII
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS REFERENTES DA EDUCAÇÃO
PARA UM GRUPO DE PROFESSORES DE FÍSICA
Magliane Soares Trindade
Odair Nunes Soares
CAPÍTULO IX
DIFAJ (DIAGNÓSTICO INTERDISCIPLINAR FAMILIAR DE
APRENDIZAGEM EM UMA JORNADA): UM MODELO CLÍNICO
DE PRIMEIRA ENTREVISTA NO TRATAMENTO
PSICOPEDAGÓGICO
Cláudia Moscarelli Corral
APRESENTAÇÃO
Este livro contém contribuições de pesquisadores com saberes distintos e
de níveis de conhecimentos das mais diversas áreas do conhecimento; o
sentimento de mudança e a inquietude prevalece em todos, com a certeza de
que um mundo onde a educação seja prioridade prevalecerá. O primeiro livro
publicado Educação: Pesquisas, Reflexões e Problematizações, o qual
organizei com muito afinco, foi composto por capítulos de suma importância
para a construção de saberes, reflexões e problematizações para a formação
de professores, além de abarcar questões relevantes dentro da temática
Educação. Organizar este segundo livro com a temática educação tornara-se
mais um desafio que decidi tomar nas mãos, sendo o intelectual e o saber
docente os grandes cernes deste livro, e compilam contribuições de diferentes
metodologias teórico- práticas para uma educação de qualidade. A educação,
de forma geral, necessita que o intelecto esteja em constante atualização,
assim como os profissionais docentes. As mudanças são inexoráveis e
necessitamos sonhar com um futuro onde a temática educação seja prioridade
para todas as nações, juntos somos mais, juntos podemos mudar os rumos
que ora elencamos em todas as pesquisas aqui exploradas.
Julgo que podemos alavancar o que sonhamos para uma educação mais
justa e igualitária, acessível a todos, com valorização dos docentes em todos
os âmbitos e que os mais interessados em aprender possam ser beneficiados
com o que o ensino pode oferecer. O time de autores que compõem os
capítulos deste livro foi escolhido conforme suas expertises e vivências,
compreendendo áreas diversas. Dessa forma, desejo a você prezado leitor, um
sonho a ser realizado e que ao mergulhar neste livro, você possa compreender
a mensagem deixada em cada um dos capítulos aqui explicitados, desejo que
você sonhe, sonhe alto, sonhe o quanto puder, que possas dar asas a tua
imaginação e que, a partir disso, possas concretizar todos os teus sonhos, com
a certeza de que os sonhos são possíveis a todos aqueles que acreditam que
após a chuva sempre o sol volta a brilhar. E assim, vou concluindo com uma
frase que diz muito sobre os nossos sonhos, pois “sem sonhos, a vida não tem
brilho. Sem metas, os sonhos não têm alicerces. Sem prioridades, os sonhos
não se tornam reais. Sonhe, trace metas, estabeleça prioridades e corra riscos
para executar seus sonhos. Melhor é errar por tentar do que errar por omitir. “
(Augusto Cury)
Ademais, desejo que você, prezado leitor, seja um sonhador, venha sonhar
conosco, veja o concreto hoje e agora, e principalmente para que
“futuramente o adolescente tenha boas recordações das aulas que um dia
fizeram a diferença para que hoje (futuro) tivessem chegado aonde chegaram
(GONÇALES, et al., 2016, p.36), e que esses sonhos sejam concretizados
com base em uma educação de qualidade, construtivista e que a teoria e a
prática virem rotina dentro das escolas mundo a fora, pois o mundo real
necessita de profissionais comprometidos com o saber fazer e o saber como
fazer, pois dessa forma, com esse pensamento, tornar-se- á possível
concretizarmos os nossos sonhos que ora almejamos.
CAPÍTULO I: Saberes brasileiros e portugueses: (re) pensando
a educação, como, porque e para que
A educação brasileira e portuguesa passam por constantes mudanças de
cunho político e social. Nosso berço enquanto civilização traz consigo
inúmeras características e similaridades. Somos brasileiros emancipados há
517 anos, com traços marcantes e diversidades enormes, enquanto que
portugueses milenares como nação. O que temos em comum? O que difere na
educação desses dois países? Vamos explorar e viajar através do Atlântico
para Brasil e Portugal. Visões e reflexões acerca de culturas e vivências. Para
tanto, convidamos você, querido leitor, a embarcar conosco, nessa aventura...
Por favor, não aceite nossas constatações como meras e cruas verdades,
queremos que você seja nosso espectador e porque não fazer-se presente
nessa viagem emocionante pelo mundo da educação? Vem conosco, venha,
venha...
Palavras-chave: educação brasileira; educação portuguesa; valores;
metodologias de ensino.
CAPÍTULO II: Despertar do espírito científico
Com o objetivo de avaliar a efetivação do processo de aprendizagem, através
da interpretação de artigos científicos, e o posicionamento de forma crítica,
através de debates apresentados a comunidade escolar, foi desenvolvido um
projeto na EEEM Adolfo Fetter, Pelotas, RS, em 2011. Os alunos
participaram do projeto preparando uma apresentação em que ocorreu a
simulação de uma entrevista abordando, sob o ponto de vista biológico,
sociológico e filosófico, o artigo cientifico intitulado “Todas as Cores”, de
Nina G. Jablonski e Geoge Chaplin. Os resultados desta pesquisa
evidenciaram que somente o envolvimento efetivo produz um conhecimento
duradouro e real, pois à medida que leem o assunto e tiram dúvidas e
apropriam-se de conceitos e ideias antes desconhecidas passa a fazer parte de
sua realidade.
Palavras-chave: Construção do conhecimento, ensino de Biologia,
alfabetização científica
CAPÍTULO III: Bactérias fantásticas e onde habitam
O modelo de aprendizagem tradicional, no qual cabe ao professor a função de
transmitir informações e posteriormente avaliar oconhecimento do aluno tem
cedido espaço a uma nova estratégia de ensino voltada ao protagonismo do
aluno. Nessa nova abordagem, é considerado o conhecimento prévio trazido
pelos estudantes, advindos do seu cotidiano que serve como base mental para
que a partir disso novos conceitos sejam aplicados e compreendidos. O
projeto Bactérias Fantásticas e Onde Habitam, abordou temas relacionados a
microbiologia geral e pautou-se em um levantamento de dados, a partir de
questionários, construção de mapa conceitual, atividades práticas,
experimentais e lúdicas a estudantes do ensino fundamental e médio. O
objetivo foi proporcionar conhecimentos gerais sobre ubiquidade microbiana
com aplicações em cultivo celular, transmissão bacteriana, assepsia e
esterilização, correlacionando com atividades da rotina diária dos alunos.
Palavras-chave: Pesquisa em sala de aula. Aulas-práticas no ensino de
Ciências. Higienização. Micro-organismos. Células de defesa.
CAPÍTULO IV: O ensino de ciências no ciclo de alfabetização
na EMEF Benjamin Constant – Arroio do Padre/RS: um
estudo de caso
O estudo foi realizado na EMEF Benjamin Constant, Arroio do Padre- RS,
com o objetivo de analisar fragilidades com relação à alfabetização científica,
apontadas por professoras dos anos iniciais, e assim propor atividades para
dirimir tais dificuldades, incentivando o uso de diferentes abordagens
pedagógicas.
Palavras-chave: Alfabetização Científica. Anos Iniciais. Metodologias
Alternativas.
CAPÍTULO V: Ensino de botânica no contexto das escolas
públicas e propostas para formação continuada de professores
Visando qualificar o ensino de botânica, projetos vêm sendo criados na busca
pela ressignificação das práticas educativas. Esta pesquisa objetivou avaliar a
aprendizagem dos alunos em relação aos conceitos de botânica e a partir daí
propor aos professores ferramentas didáticas alternativas para as necessidades
evidenciadas. A pesquisa foi desenvolvida em escolas da rede pública da
cidade de Pelotas, RS, com turmas regulares da educação básica, através da
aplicação de entrevistas semi-estruturadas para 355 alunos e 21 professores.
Os resultados demonstraram os alunos desejam aulas-práticas sobre botânica,
pois entendem que facilita a compreensão, tornando o aprendizado
significativo; já os professores alegam que as escolas não apresentam infra-
estrutura adequada para aulas práticas e que possuem dificuldades com os
conceitos de botânica e a elaboração de aulas inovadoras. Evidencia-se neste
trabalho o quanto é importante à formação continuada para professores da
educação básica, numa perspectiva reflexiva e autônoma, para que estes, ao
capacitarem-se, instiguem seus alunos a tornarem-se sujeitos de suas
aprendizagens, construtores de seus conhecimentos e de sua história.
Palavras-chave: Ensino de Botânica. Formação continuada. Aprendizagem
significativa
CAPÍTULO VI: A formação inicial de professores de ciências e
biologia centrada na evolução biológica
A teoria evolutiva possui papel fundamental para o entendimento de muitos
conceitos biológicos e tem sua validade pouco questionada pela comunidade
científica, sendo considerada por muitos como um fato. Porém, mesmo que
possua importância, tanto científica quanto filosófica, a Evolução Biológica
ainda não é totalmente aceita pela população em geral e até mesmo por
professores de Ciências e de Biologia. Ademais, um número razoável deles
tem pouco conhecimento sobre as bases da evolução ou continuam com
equívocos mesmo após sua formação ter sido concluída ou praticamente
concluída. Esse fenômeno é preocupante, visto que esses professores são os
responsáveis pela disseminação do paradigma evolutivo para seus alunos no
Ensino Básico. Dessa maneira, o objetivo desta pesquisa foi analisar a
formação inicial de alunos de Licenciatura em Ciências Biológicas da
Universidade Federal de Pelotas (RS, Brasil) quanto à estrutura do Curso e ao
aprendizado sobre Evolução Biológica.
Palavras-chave: Ensino de Evolução. Teoria da Evolução. Ciências
Biológicas. Ensino Superior.
CAPÍTULO VII: Um estudo sobre os desejos e recursos
defensivos de professores que atuam no ensino fundamental de
uma escola pública na cidade de São Paulo – Brasil
Objetivou-se refletir sobre as vicissitudes sofridas pelo educador do Ensino
Fundamental. Analisamos uma pequena amostra de professoras da rede
pública da cidade de São Paulo – Brasil, explorando quais recursos
psicológicos funcionais dispõe para realizarem suas funções laborais
cotidianas. Estudamos quais desejos e mecanismos de defesa são utilizados,
bem como o que poderia acontecer se estes falharem.
Palavras–chave: professor, desejos, defensas, questionário desiderativo.
CAPÍTULO VIII: Representações sociais dos referentes da educação
para um grupo de professores de física
O presente artigo refere-se a pesquisa com um grupo de professores
universitários sobre o tema Referentes Educacionais, a saber, Educação,
Ensino e Aprendizagem que ocorreu com 19 sujeitos, docentes do Curso
Física da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). O estudo teve
como aporte teórico a Teoria das Representações sociais (Moscovici,1978) e
a filosofia política de Hanna Arendt. As discussões no artigo apontam os
pressupostos presentes na relação professor-aluno: a forma como essa relação
se estabelece em torno do ensino e aprendizagem da Física; a relação que se
constrói a partir de modelos ora humanistas e dialógicos, ora tecnicistas e
autoritários; e a dificuldade que os professores encontram ao falar de assuntos
que atravessam as suas práticas como educação, ensino e aprendizagem.A
coleta dos dados ocorreu através de entrevistas semiestruturadas, as quais
foram processadas pelo software ALCESTE 2010.
Palavras-chave: Educação. Ensino. Aprendizagem. Representações Sociais.
CAPÍTULO IX: DIFAJ (diagnóstico interdisciplinar familiar
de aprendizagem em uma jornada): um modelo clínico de
primeira entrevista no tratamento psicopedagógico
Este artigo apresenta a experiência de extensão universitária em
Psicopedagogia Clínica, do Curso de Psicologia através do Projeto
Psicopedagogia em Ação. O caráter inovador deste projeto foi se utilizar do
diagnóstico instrumentado por uma só visita à clínica-escola, com a inclusão
de toda a família no processo diagnóstico; e depois foram atendidos o
paciente, seus pais e seus irmãos pelos acadêmicos de Psicologia e de
Especialização em Psicopedagogia em grupos. Em três horas e meia de
atendimento clínico foram feitas: anamnese com os pais; diagnóstico da
dinâmica familiar através de sessões lúdicas; análise dos testes projetivos da
criança dos membros da família; análise das relações entre irmãos e,
posteriormente, entrevista de devolução, apresentando o plano de tratamento
posterior a seguir para a família, incluindo um olhar sobre a escola. Este
artigo descreve a experiência de pesquisa-ação situada no paradigma
qualitativo e executada numa abordagem psicanalítica e psicopedagógica do
sintoma na aprendizagem. A população a que se destinou a prática foi
composta por 23 crianças na faixa etária de 7 a 12 anos, seus pais e seus
irmãos, além de professores e acadêmicos participantes. Os resultados do
método oportunizaram a construção do conhecimento na interface entre a
Psicologia, a Psicanálise e a Psicopedagogia na compreensão, interpretação e
intervenção, em âmbito institucional e clínico. Dando ênfase à Epidemiologia
Crítica como modo de compreensão do fracasso escolar. O projeto contou
com uma abordagem através de palestras e oficinas nas instituições de
ensino. Posteriormente as crianças diagnosticadas foram atendidas em
oficinas de escrita e em grupos de tratamento durante dez sessões semanais.
Seus pais foram acolhidos em grupos de pais e orientados concomitantemente
em salas distintas pela coordenação do projeto junto aos acadêmicos. Os
resultados do método apontam um êxito na consecuçãodos objetivos
propostos, demonstrou que ao se utilizar da escuta da família num modelo de
abordagem sistêmico o tratamento dos problemas de aprendizagem em
instituições ganha eficiência e eficácia.
Palavras-chave: Diagnóstico Familiar. Problema de Aprendizagem.
Interdisciplinaridade. Primeira Entrevista.
Boa leitura!
Relber Aguiar Gonçales
CAPÍTULO I
“Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o
opressor”.
Paulo Freire
SABERES BRASILEIROS E PORTUGUESES: (RE) PENSANDO A
EDUCAÇÃO, COMO, PORQUE E PARA QUE
Relber Aguiar Gonçales1, Mariana Gonçalves 2
1 Biólogo, Me e Doutorando em Biologia Celular e Molecular. Universidade de São Paulo (FMRP-
USP), Ribeirão Preto, SP. E-mail: relbergoncales@usp.br
2 Mariana Gonçalves, Gestora de Marketing Digital, Licenciada em Comunicação Social. Universidade
do Minho, Braga, Portugal. E-mail: mrgoncalves@gmail.com
Quem somos nós?
Um brasileiro...
Parece fácil descrever quem ou o que fomos ou somos, não é mesmo? A
vida é uma caixinha de surpresas, nem sempre somos aquilo que gostaríamos
de ser. Nossa vida baseia-se em princípios de honestidade, de força de
vontade, de determinação, de valores e de crenças.... Sem todo esse alicerce
em nossa formação não teríamos a construção do Eu, a isso chamamos de
bagagem intelecto-atual.
Caro leitor, bem-vindo ao mundo em que é possível sonhar... um mundo de
altos e baixos... com algumas curvas que ora desbravaremos e poderemos
compreender que as decisões na vida podem ser inúmeras e para saber se
tomamos as decisões de forma correta, basta nos posicionarmos em algum
ponto do nosso passado e olharmos para o hoje.... Para tanto, convido você a
uma viagem... uma viagem de histórias e estórias também.
A nossa viagem começa no período entre os anos 70 e 80. Dissertaremos
aqui com você momentos que fizeram história por onde, quando e como
passamos e vivemos, convivemos das mais diversas formas de ser e de agir;
histórias de vida, de alegria, de tristezas, de lutar pelo que se acredita. Nesse
ponto duas histórias com um mesmo objetivo: a educação.
Brasil e Portugal juntos, desde o extremo sul do Rio Grande do Sul até o
extremo norte de Portugal, ambos os personagens nasceram em um dia
cinzento, o sol escondera-se por entre nuvens, as folhas das árvores
balançavam lentamente conforme o som de uma brisa leve... Incrível,
exorbitante, extraordinário.
Provavelmente, o nascimento desses desbravadores em épocas totalmente
diferentes tenha sido a principal coisa que aconteceu nas décadas de 70 e 80,
ao menos para eles, não é mesmo? Complicado falar sobre histórias de vida
tão complexas, pois toda palavra é uma confissão e uma confissão sobre
pessoas e culturas pode parecer indecente, porque de fato, só haverá
qualidades. A vida está nos sonhos que se sonham e os sonhos somos nós
mesmos, nunca sonharam uma vírgula que não fossem concretizar. Nossas
histórias começam em 1979 e 1988. Nascidos numa cidade do Norte de
Portugal e extremo sul do Rio Grande do Sul, Brasil, filha única de pai
mecânico e mãe doméstica e quarto filho (gêmeo) de pai pecuarista e mãe
costureira.
Os julgamentos fazem parte da trajetória e quando se é julgado pode-se
constatar e levantar hipóteses, mas pode ser pelo fato de não nos conhecerem
de fato. Talvez sejamos de outro planeta, com mentes inventivas e dirigidas
para o progresso. Penso que se faz necessário ter e construir uma opinião
formada sobre tudo e caso não se tenha opinião sobre algo, é importante
correr atrás, estudar, aprimorar o que e para que, pois, dessa forma podemos
concretizar uma opinião sobre diversos assuntos.
Uma portuguesa...
Infância passada a brincar entre bonecas e legos, sem grande contato com
outras crianças, devido a uma super-proteção materna. Esta circunstância
criou grandes expectativas quanto à entrada na escola. Com 6 anos entrei pela
primeira vez numa sala de aula, sedenta de conhecimentos e acima de tudo,
de amizades. Em pouco tempo aprendi a ler, a escrever concretizando assim o
sonho da independência na leitura. Já podia assim fugir da realidade solitária
caseira nas páginas dos livros. Em casa, minha mãe sempre incentivou o
estudo:
“Não queiras ter uma vida sofrida como a dos teus pais e estuda, para que nunca tenhas que
depender de um homem!”
Quantas vezes ouvi esta frase, a mesma ficou tatuada para sempre no meu
Ser. Eu acreditei que se estudasse, me formasse, tudo seria mais fácil. E fui
crescendo, com o objetivo de ingressar na Universidade. Contudo, naqueles
tempos não havia a quantidade de informação que hoje temos disponível.
Não havia apoio às escolhas de um futuro. Ou as crianças já tinham ideias
muito concretas do que queriam ser “quando fossem grandes”, ou tinham que
escolher um pouco na base do “acho que gosto disto”. No meu caso
particular, que tinha muita facilidade em qualquer área do saber, escolhi as
Humanidades porque gostava de ler e de escrever. Com certeza, nos dias de
hoje, as coisas teriam sido diferentes, mas o apoio na escola às escolhas era
bem diferentes.
Chegada à Universidade, a realidade era outra. Professores distantes,
matérias totalmente alheadas da realidade do mundo do trabalho, e eu
questionei se era mesmo aquele o caminho. Mas a decisão estava tomada, e
segui até o final. Cinco anos de academia, fui estagiar e confirmei que a
Universidade muito pouco de útil para o mundo real me tinha oferecido.
Entendi, contudo, que tinha cumprido o seu papel de contribuir para uma
abertura de mente, e para o treino da ginástica mental face aos diversos
desafios propostos.
Com altos e baixos, avalio de uma forma muito positiva todo o meu
percurso acadêmico, e gostaria que os meus dois filhos pudessem ter a
mesma qualidade no ensino público que a mãe teve.
Brasil e Portugal: Estratégias marcantes
Visão brasileira...
Dinamizar com o jovem é o grande desafio para as escolas da atualidade,
essas por sua vez têm o dever de aguçar a curiosidade, uma vez que os
educadores têm o papel de instigar os alunos na busca pela construção de
conhecimentos, levando-os a questionamentos, resolução de situações-
problema, e assim, muitas vezes a família apresenta papel fundamental na
formação pedagógica dos seus filhos.
Final da década de 80, família em sua maioria com pouca instrução (ensino
fundamental incompleto), origem humilde, pai pecuarista e mãe costureira,
sem luz elétrica, realidade brasileira ainda observada em muitos lares
inclusive nos dias de hoje.
Alguns fatos marcantes se perpetuam em meu intelecto, para chegar até a
escola, era necessário deslocar-me de ônibus que levava em média 30 min até
o destino. Dessa forma, com 5 anos ingressei na pré- escola, tive uma boa
formação e em poucos meses aprendi a ler e a escrever. Embora estivesse
com um destino pré-definido, pois era mais fácil remar a favor da correnteza,
não contra, seguir as lides da pecuária, plantações de arroz, de milho e de
verduras, criação de animais de pequeno e grande porte.
Mas “não está morto quem peleia” e era preciso correr atrás do que a
progenitora pensava e acreditara que seria o melhor para sua prole: estudar.
Acreditava que a melhor saída era, de fato, estudar, como uma sonhadora
nata, sonhava por todos, impulsionava, instigava e dava exemplos de vida
particulares, provavelmente na tentativa de mostrar a importância de se
acreditar em um futuro diferente, promissor, ou porque não tentador, com o
passar dos anos, aprendi a sonhar e percebi que eu poderia concretizar cada
sonho, pois quando sonhamos com outras pessoas, mais real ele pode se
tornar...
Desde pequeno, questionador, curioso, emotivo e extrovertido. Sabia que a
vida era pequena para ser vivida com base no pouco, não me contentava com
restos, pois não precisamos de restos para ser felizes. Assim, fomos todos
residir no município, com média de 33 mil habitantes, e os desafios e
preocupações para os paisagora já eram outros, pois sair do interior para
viver na cidade era notório o fácil acesso a drogas, bebidas, cigarros.
Preocupações que abalavam a todos, inclusive parentes mais próximos.
No que concerne ao ensino, observava professores que já não gostavam
mais de ensinar, pois eram questionados do porquê disto ou daquilo, hoje
compreendo que o método ensino-aprendizagem se pautava no tradicional: o
professor finge que ensina e o aluno finge que aprende...
Com base na construção de minha personalidade, diversos episódios foram
importantes. Traumas, medos, aflições, amigos, falsos amigos, alegrias,
tristezas, a vida nos presenteia o tempo todo, a cada dia, precisamos acreditar
que o presente, o hoje, pode ser algo em que se pode sonhar, o importante é
sonhar, sonhe caro leitor, sonhe dormindo, sonhe acordado, feche os olhos e
sonhe, sonhe muito [...]. Creio que a identidade é julgada como sendo
característica própria de uma pessoa que compõem quem ela é, sua
nacionalidade, sua filiação, sua profissão, etc. Também, ao olhar da
psicologia, a identidade pode ser entendida como tudo aquilo que constitui a
personalidade e permanece semelhante com o passar do tempo, ou seja, que é
imutável. No ser humano, a identidade é construída na infância, período em
que nos desenvolvemos física e mentalmente, estando abertos ao aprendizado
de novos conhecimentos e experiências, fase em que existe necessidade de
cuidados.
A construção é gradativa e se dá por meio das interações sociais. Por meio
de participação no grupo familiar, pois ao confundirmos deveres com
cuidados extremos, realizando as tarefas por eles, não estamos permitindo ao
jovem construir sua identidade.
Já em Portugal...
Há alguns anos, em Portugal, houve profundas alterações no sistema
educativo: agregação de escolas, com a criação de mega- agrupamentos,
aumento da escolaridade obrigatória até ao 12º ano e a criação das “metas
curriculares”. A criação dos mega-agrupamentos, que consiste em juntar
diversas escolas de diferentes níveis de ensino debaixo de uma mesma
alçada, foi uma medida por muitos considerada economicista em tempos de
crise. Permitiu diminuir o número de professores e auxiliares necessários,
mas criou agrupamentos com mais de 3.000 alunos, o que dificulta, e muito,
uma gestão de proximidade e a criação de laços fundamentais.
Em 2012, a escolaridade obrigatória foi aumentada do 9º para o 12º,
considerando-se que era essencial para os jovens estarem na escola pelo
menos até os 18 anos. Contudo, o reverso da medalha, representa na
insistência em alunos que não querem estar na escola e consequentemente um
aumento da indisciplina.
Mais recentemente, houve a introdução das metas curriculares, que
provocaram profundas alterações nos programas e manuais escolares. Em
teoria, seria a criação de objetivos gerais para todo o país, na prática, há um
alheamento da realidade escolar, o que as torna muito dificeis de realizar no
contexto de sala de aula.
Muito resumidamente, estes marcos, são a realidade atual das escolas de
um Portugal que luta para sair de uma profunda crise econômica. Lembro-me
que, nas escolas por onde passei, os alunos, na sua maioria, respeitavam os
professores. E os pais desses alunos respeitavam os professores! Lembro-me
também, que era objetivo da grande maioria tirar a melhor nota possível. E
essa grande maioria esforçava-se, e estudava para passar de ano.
Os professores viram a sua credibilidade diminuída dentro da sala de aula,
fruto de uma profunda crise de valores. Não são raras as vezes que vemos
casos de graves desrespeitos tanto de alunos como de pais, a quem ali está
para ensinar. Na minha opinião muito pessoal, estamos a criar uma perigosa
cultura de mediocridade. Ao não se incentivarem os alunos à excelência,
porque afinal passam sempre, porque afinal não há grandes consequências
dos seus atos, estamos a criar jovens que se contentam com pouco e que esse
pouco venha sem esforço, de preferência.
Porque precisamos pensar sobre os rumos da educação?
Em Portugal...
A educação é a pedra basilar da evolução de uma sociedade, para a sua
transformação, e contribui de forma inquestionável para o desenvolvimento
de cada indivíduo. Atualmente, em Portugal, pelo que vejo e sinto muito de
perto, pois tenho dois filhos em idade escolar, estamos muito à deriva nesta
área. Professores desmotivados, com carreiras congeladas desde 2005 devido
à crise econômica, alunos cada vez mais medicados devido aos crescentes
diagnósticos de hiperatividade são uma mistura explosiva para o futuro de um
país.
No meu ponto de vista muito pessoal, terá que haver uma humanização das
escolas. No agora, as escolas são os locais onde deixamos os nossos jovens,
para que lhes abram a cabeça e lhes extirpem o sentido crítico, a vontade e o
questionamento. Os conteúdos programáticos são despejados, sem tempo
para que haja um entendimento real, porque é preciso cumprir as metas
curriculares. O indivíduo é diluído no todo, não havendo atenção às
necessidades de cada um, afinal o professor é um e na sala são 26
crianças/jovens.
A indisciplina tem aumentado de forma exponencial nos últimos anos,
resultado do contexto familiar (familias desestruturadas, horas de trabalho em
demasia por parte dos pais), da necessidade de auto- afirmação face a si
próprio e ao grupo, e como resposta à desmotivação do corpo docente.
Muitos pais delegam para a escola responsabilidades suas, como o ensinar a
respeitar, a valorizar o outro. A escola não está de modo nenhum preparada
para esta mudança. Pensar os rumos da educação é pensar todo o rumo de
uma Sociedade!
E quanto ao Brasil?
Bem, precisamos acreditar e apostar nas escolas é um dos maiores desafios
dos próximos anos, é preciso confiar, explorar os professores ao máximo.
Parisotto e colaboradores (2003) nos relatam que:
A vida tem sido definida como a soma de propriedades pelas quais um organismo se desenvolve
e se reproduz, adaptando-se ao seu meio ambiente, qualidades essas que o diferem de corpos
orgânicos mortos ou de corpos inorgânicos. Estes seres vivos (ou Sistemas Adaptativos
Complexos), desde a mais simples forma orgânica até a complexidade observada nos primatas,
seguem sua evolução sob a égide do Imperativo Reprodutivo: deixar cópias gênicas da melhor
qualidade possível. Essa programação básica de fato está impressa em todos os seres vivos.
Os valores que de berço carregamos são formadores de nossa
personalidade, pais que mesmo sem instrução de ensino, são os nossos
maiores professores, nos mostram desde cedo o certo e o errado, ou
deveriam. Por isso, é papel da família educar, enquanto cabe a escola ensinar
e contribuir para uma formação sólida e de qualidade. Mãe costureira e pai
pecuarista, como podem ter culminado e instigado a formação de seus filhos?
Enfermeira, Biólogo, Médico e Engenheiro de Produção, por acaso seria uma
exceção à regra caro leitor?
Muito fácil justificarmos tudo com esse tipo de frase (exceção à regra?).
Talvez o principal ponto que deve ser levado em consideração é o sonho, pais
sonhadores formam filhos concretizadores, pais que acreditam e filhos que
constroem. O exemplo sempre esteve presente nas nossas vidas, nada é fácil,
precisamos arregaçar as mangas e ir à luta (frase da progenitora), é preciso
enfrentar os medos e não dar ouvidos as pessoas, em sua maioria, querem
apenas nos dizer que já estamos predestinados a sermos pobres, do interior e
que não seremos jamais capazes de conseguir o tão sonhado “lugar ao sol”,
ledo engano, todo e qualquer cidadão é capaz de conseguir o que ele bem
entender. Basta acreditar, impor metas e correr atrás.
Nada é fácil, para ninguém, reclamar já o fazemos bastante, fazer-se de
coitado não resolve, em frente os obstáculos e faça acontecer, mostre ao que
veio. Julgo que o importante é falarem da vida alheia, de bem ou de mal, mas
falem, enquanto isso, crescemos e construímos onosso império intelectual.
Quem diria, hoje, podemos olhar para trás e dizer: “- Foi difícil, mas
vencemos! ” Hoje, mãe é empresária, conseguiu instigar os filhos ao estudo,
bem que ninguém pode jamais retirar de outrem, em meio a dificuldades,
todos de sua prole estudaram em escolas públicas com formação superior em
Instituições Públicas, formações, cursos, e etc. Um mestre e doutor
diplomado pela Universidade de São Paulo (USP), a melhor da América
Latina. Após cada obstáculo vencido para chegar até aqui, talvez muitos
blasfemem, conseguiram tudo isso, porque roubaram, porque se prostituiram
ou até mesmo porque se envolveram com o mundo das drogas, mas ninguém
que aponta o dedo e julga, ninguém, acompanhou as noites em claro, de
trabalho (por parte de quem nos sustentou) ou de noites estudando, quantas
vezes tivemos que abrir mão de festas, de reuniões com amigos para que
pudéssemos concretizar os nossos objetivos.
Jovens de idade similar, na época, sonhavam com o primeiro emprego para
comprarem seu primeiro veículo, nós sonhávamos com o primeiro emprego
para pagar o cursinho pré-vestibular. Como digo sempre, o mundo dá voltas e
gira muito rápido, não duvide da capacidade alheia, não desafie quem você
não conhece, a vida é uma caixinha de surpresas e ninguém precisa de restos
para ser feliz, faça acontecer pois o futuro é agora.
Ao refletir sobre os rumos da educação é colocar em prática o que sempre
tivemos que praticar no cotidiano, desde pequenos, quando não tínhamos
aula, questionávamos o porquê, queríamos aula, cobrávamos,
questionávamos e queríamos respostas. Professores já tinham receio, pois o
conhecimento era colocado em prova, precisamos, hoje, mais do que nunca
questionar sobre a qualidade do ensino. As escolas precisam acompanhar a
evolução, precisam de internet de qualidade, aulas com Datashow,
audiovisual de qualidade, aulas que instiguem a cultura (teatro, dança), os
pais precisam estar presentes, contribuindo para o desenvolvimento local. A
escola somos nós todos!
Como seria a escola ideal?
A partir de uma perspectiva brasileira...
Enfim, acreditar que é possível uma escola mais informacional, mais
prática é um dos maiores desafios para a modernidade, é preciso apostar,
arriscar e investir em melhorias e capacitar os educadores, para que esses
sejam o elo entre os pais e os alunos, e que possam ser finalmente os
construtores de conhecimentos.
A formação do Ser cidadão é, portanto, elemento que deve ser levado em
consideração na formação da identidade do adolescente, manifestada por
múltiplas identificações, como da imagem corporal, da descoberta do outro
como objeto de amor ou desejo e da descoberta de si e das relações com os
familiares, grupos e profissionais. Embora o exercício e o desenvolvimento
do Eu seja considerado uma conduta simples e cotidiana, é muito complexa,
pois assim como a sexualidade, permeia aspectos cognitivos que vão desde os
mais primitivos (sensoriais) até esquemas de representação mais complexos,
que envolvem a linguagem corporal, facial e outros sistemas de sinais
(ROMERO, et al., 2007). Há, ainda, os aspectos culturais, extremamente
relevantes, também arraigados na formação e no exercício da cidadania e
valores construídos dentro do lar.
Nascer, crescer, adolescer, adultecer, envelhecer e morrer. Parece clichê,
mas a regra é esta. Permanecemos anos presos à escola, controlados para não
sairmos antes de contemplarmos todas as aulas, além disso, somos avaliados
o tempo todo e instigados a uma competição desenfreada, precisamos ser os
melhores, em tudo. Assim, apenas os que detém melhores notas é que serão
os mais queridos pelos professores, os demais são tratados como inferiores,
como aqueles que estão ali apenas por número ou por um diploma de
conclusão de curso para poderem conseguir um melhor emprego ou para
melhorar os índices de avaliação do ensino, ou ainda para participarem de
programas sociais do governo federal.
A escola, além de apresentar características prisionais, toda murada, com
“seguranças” prevendo a fuga dos alunos, janelas retangulares, aulas em sua
maioria tradicionais, com pouco incentivo aos mais interessados em aprender.
Pão e leite em sua maioria são as refeições oferecidas, pois com fome, não dá
né? Muitos pais até gostam de enviar os seus filhos para a escola, não porque
é legal e pensam no futuro dos mesmos, mas para se livrarem mesmo, para
que a escola eduque e faça o papel que eles não são capazes de o fazer, a
escola, finalmente, é vista, além de presídio, como comércio, como
passatempo, como desempenhando papel de pais dos educandos. A escola
deve ser libertadora como apregoa o grande mestre Paulo Freire, o
conhecimento deve ser libertador e deve, e se assim não o ser, o sonho do
oprimido será o de ser o opressor e, dessa forma, deverá conduzir os alunos a
serem construtores de conhecimentos e de sonhos, especialistas na resolução
de situações-problema, assim, devem ser os agentes transformadores do
porquê e para que estudam.
A escola ideal deve ser promotora de aulas em que os alunos estejam pelo
prazer naquilo que a escola tem a oferecer. Devem ter o professor como
mediador do processo ensino-aprendizagem. A escola ideal é aquela em que
os professores se tornam parte do que e para que constroem o conhecimento,
devem esses, preparar aulas diferenciadas, que estimulem o raciocínio lógico
dos alunos. A escola ideal é aquela que contempla os saberes da comunidade
em que está inserida, é aquela em que os alunos atuam como multiplicadores
do conhecimento, levando até os lares o que estudam, assim, com esse
pensamento, poderemos todos sonhar com um ensino de qualidade e com
uma escola ideal.
Além disso, para que a escola se torne ideal, as rixas políticas devem ser
deixadas de lado, a equipe diretiva precisa estar alinhada com a comunidade e
com os interesses da mesma, deve ser ativa e praticante dentro da
comunidade ou do bairro. Professores devem (re) pensar o método de
avaliação, fazer prova e prova e prova nem sempre é o melhor método, o
melhor método é aquele que mesmo durante o processo avaliativo ainda há
construção de conhecimentos, há formação, durante esse processo, o ser
docente também deve ser avaliado. Muitos professores, não aguentariam
assistir as suas próprias aulas de tão cansativas, aulas demasiadamente
longas, ditadas, no quadro negro que pouco acrescentam e/ou multiplicam.
A formação pedagógica nas escolas tem pouca adesão e a premissa básica
ainda vale nos dias de hoje: professores fingem que ensinam e alunos fingem
que estudam. E depois? Depois a gente vê como se vira.... Grande parte dos
professores, hoje no Brasil estão adoecendo, licenças saúde solicitadas com
frequência, aulas canceladas e professores desgostosos com a profissão
docente, pouco valorizados, estressados e desenvolvendo a Síndrome de
Burnout (GONÇALES, MACIEL & RODRIGUEZ, 2011; GONÇALES, et
al., 2016).
Atualmente, não existe mais a dialética de que o professor sabe tudo, sabe-
se que o professor também pode errar e que não é o sabichão. A internet hoje,
traz consigo a preocupação maior para os professores graduados no século
passado, pois hoje durante a aula, os alunos têm acesso as informações em
tempo real, e podem questionar do porquê das coisas de forma instantânea e
isso assusta muitos docentes pois coloca em cheque as formações dos
mesmos.
Em suma, o que desejamos é que haja uma escola em sintonia com a
comunidade, alunos e professores, uma escola livre de preconceitos, que não
leve em consideração a cor, a etnia, a classe social, a estatura, a opção sexual.
A escola tem o dever de agregar e formar cidadãos reflexivos pois dessa
forma, conduziremos qualquer País, Brasil, Portugal a uma busca constante
por melhores condições, pois o mundo será, finalmente povoado por pessoas
que pensam e agem conforme o que e para que foram formados.
A partir de uma perspectiva portuguesa...A palavra “Educação”, em português, vem de “Educar”, a origem desta,
por sua vez, é do Latim EDUCARE que é um derivado de EX, que significa
“fora” ou “exterior” e DUCERE, que tem o significado de “guiar”, “instruir”,
“conduzir”. Ou seja, em latim, educação tinha o significado literal de “guiar
para fora” e pode ser entendido que se conduzia tanto para o mundo exterior
quanto para fora de si mesmo.
Deste modo, a escola ideal deveria ser um local onde fossem oferecidas ao
aluno as ferramentas necessárias para que se realize um percurso de auto
conhecimento e de relacionamento com o ,mundo. Numa escola ideal, o
indivíduo seria capaz de enxergar a sua individualidade e criatividade, pois
seriam valorizadas, potencializadas e exploradas. Afinal, somos todos
diferentes, como poderemos ser avaliados de forma tão igual? A lei de que o
mais forte é quem sobrevive é válida?
A escola ideal seria o local onde se despertaria o crescimento do cidadão
participante na vida da comunidade. A escola ideal teria poucos alunos em
cada grupo para que cada um tivesse o seu tempo e espaço, haveria lugar de
discussão e não só ao monólogo. Os temas poderiam ser muito mais gerais e
inter-ligados entre si, permitindo uma colaboração entre as temáticas do
saber. Na escola ideal os professores estariam motivados a ensinar mas
também a aprender. Na escola ideal as crianças e os jovens aprenderiam a ser
cidadãos do mundo com a responsabilidade que isso acarreta.
Esta escola é possível, inclusivamente há projetos aqui em Portugal que são
escolas ideais. O meu filho mais novo frequenta uma dessas escolas ideais.
Todos os dias ele vai com um sorriso, todos os dias ele caminha na floresta,
ele brinca ao ar livre, ele aprende coisas novas sobre tamáticas tão díspares
como astronomia e a 2ª guerra mundial. Ao mesmo tempo, aprende a ler, a
escrever e a fazer contas. A escola ideal é possível, basta que haja vontade de
se construir uma escola ideal para todos...
Poderemos perguntar: que pode um ser humano fazer para provocar uma mudança, uma
revolução radical, uma nova maneira de ver e viver? Penso que é uma pergunta errada. Se
pomos a questão assim, então já demos a resposta: não podemos fazer nada. Mas se nos
empenharmos, não no que poderemos fazer a esta enorme desgraça, mas em como poderemos
viver uma vida totalmente diferente, então veremos que a nossa relação com o homem, com
toda a comunidade, com o mundo, sofre uma transformação. Porque, afinal, vós e eu, como
seres humanos, somos o mundo... O modo como vivemos a nossa vida, o que fazemos na
existência quotidiana, é da maior importância [...] Vida é relação, e esta relação é um
movimento constante, uma constante mudança. J. Krishnamurti, YOU ARE THE WORLD
(editado em Portugal como O MUNDO SOMOS NÓS)
Considerações Finais
A partir de tais perspectivas ora apresentadas, acreditamos que inúmeros
questionamentos devem estar permeando o seu intelecto, não é mesmo?
Revoltante, intrigante, exorbitante, delirante, surreal... tantos adjetivos,
críticas poderiam ser exploradas das mais diversas formas e sabores culturais
entre Brasil e Portugal. Lançamos algumas discussões que não devem parar
por aqui, não, somos sonhadores e construtores de um futuro bom para as
próximas gerações.
Desejamos que a educação seja, de fato libertadora, e que possamos desejar
professores bem capacitados, alunos interessados, pais brilhantes,
governantes interessados com o que o ensino pode oferecer. O ideal seria que
nós todos, Mundo a fora, pudéssemos sonhar e concretizar o que gostaríamos
para viver em um lugar que é possível concretizar e conquistar encantos, pois
os saberes são inúmeros e as temáticas também. Precisamos estar vigilantes e
(re) pensando a educação sempre, o tempo todo, dialogando e construindo.
Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para
mudar o que somos (Eduardo Galeano). Pense nisso!
Referências
PARISOTTO, Luciana et al. Diferenças de gênero no desenvolvimento
sexual: integração dos paradigmas biológico, psicanalítico e
evolucionista. Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul [online]. 2003, vol.25, suppl.1,
pp.75-87. ISSN 0101- 8108. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-
81082003000400009.
GONCALES, RA; CORRAL, CM; SPEROTTO, RI; GONCALES, TA;
CASTRO, RC; RODRIGUEZ, RCMC. (2016) Síndrome de Burnout: um
estudo de caso na rede municipal de Pelotas, RS, Brasil. Educação:
Pesquisas, Reflexões e Problematizações. Relber Aguiar Gonçales (Org.).
1.ed. São Paulo: PoloBooks. p.320. 978-85-5522-138-5
GONCALES, MACIEL & RODRIGUEZ. Síndrome de Burnout: avaliação
quantitativa dos educadores da rede municipal de ensino do Município
de Pelotas – RS. In. Seminário Internacional de Educação em Ciências, 1.,
2011, Rio Grande. Anais do I Seminário Internacional de Educação em
Ciências. Rio Grande: I SINTEC, 2011. p.110-113.
ROMERO, Kelencristina T.; MEDEIROS, Élide Helena G. R.; VITALLE,
Maria Sylvia S. and WEHBA, Jamal. O conhecimento das adolescentes
sobre questões relacionadas ao sexo. Rev. Assoc. Med. Bras. [online].
2007, vol.53, n.1, pp.14- 19. ISSN 0104-4230.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302007000100012.
CAPÍTULO II
“Ensinar e aprender tem que ver com o esforço metodicamente crítico do
professor de desvelar a compreensão de algo e com o empenho
igualmente crítico do aluno de ir entrando como sujeito em
aprendizagem, no processo de desvelamento que o professor ou
professora deve deflagrar”.
Paulo Freire, (1996, p.143)
DESPERTAR DO ESPÍRITO CIENTÍFICO
Rosangela Ferreira Rodrigues1, Marla Piumbini Rocha2, Anderson
Ferreira Rodrigues3, Luciane da Silva Martins4, Vera Lucia Bobrowski5
1 Bióloga, Doutora em Ciências, Esp. em Ciências e suas Tecnologias na Educação. Universidade
Federal de Pelotas (IB-UFPel), Pelotas, RS. E-mail: rosangelaferreirarodrigues@gmail.com
2 Bióloga, Doutora em Biologia Celular e Estrutural, Esp. em Ensino de Ciências e Matemática.
Universidade Federal de Pelotas (IB-UFPel), Pelotas, RS. E-mail: marlapi@yahoo.com.br
3 Analista de Sistemas, Acadêmico do curso de Engenharia Elétrica. Instituto Federal Sul-rio-grandense
de Pelotas, RS. E-mail: andersonferreirarodrigues@gmail.com
4 Bióloga, Doutora em Ciências, Especialista em Pedagogia. Governo do Estado do Rio Grande do Sul.
Pelotas, RS. E-mail: vipmartins@yahoo.com.br
5 Agrônoma, Doutora em Genética e Biologia Molecular. Universidade Federal de Pelotas (IB-UFPel),
Pelotas, RS. E-mail: vera.bobrowski@gmail.com
Introdução
Segundo Freire (1997), somos seres que para aprender é necessário muito
mais do que repetir a lição dada, é uma aventura criadora, é construir,
reconstruir e constatar para mudar. Entretanto, durante muito tempo persistiu
o conceito de aprendizagem em que se utilizou o condicionamento para
promover mudança de comportamento. Esse tipo de ensino promovia um ser
humano submisso, subserviente e incapaz de se insurgir contra o “status quo”
vigente. Assim sendo, o professor continuava a ser o “dono da verdade” e o
aluno o “aprendiz submisso” (COELHO; MIRANDA, 2012). O surgimento
das teorias construtivistas e interacionistas, fundamentadas no pensamento de
Piaget, contribuíram para algumas mudanças. Nesse tipo de concepção, em
que o método de conhecimento é baseado no processo cognitivo e não no de
condicionamento, o ser humano age, aprende e realiza a construção do
conhecimento através da inteligência, propiciando uma interação cada vez
melhor com o meio, o que minimiza e proporciona suporte para lidar com as
adversidades (PIAGET, 1973).
Segundo Piaget (1997 apud COELHO e MIRANDA 2012), provocar
discordâncias ou conflitos cognitivos que provoquem desequilíbrios
possibilita que o aluno, mediante atividades para reequilibrar-se, supere a
discordância reconstruindo o conhecimento. Portanto, o conhecimento
ultrapassa os limites da aprendizagem, pois “aprendizagem consiste em saber
fazer com êxito, enquanto que conhecerconsiste em atribuir significado a
alguma coisa ou ação, levando em conta não só o atual e o explícito como
também o passado, o possível e o implícito”. E o papel fundamental da escola
é o instigar de forma constante a curiosidade do educando em vez de
“amaciá-la” ou “domesticá-la” (FREIRE, 1997). E através desse processo
ajudá-lo a adquirir uma visão crítica, científica e autônoma, reconhecendo a
ciência como uma atividade em constante transformação e ele como o
principal agente transformador dessas relações.
Entretanto, o pensamento científico não é algo inato ou espontâneo, requer
o desenvolvimento de hábitos de pensamentos que exigem esforço e tempo,
portanto a responsabilidade da escola nesse processo é muito grande. Os
professores têm um papel crucial, organizando aulas com abordagens
didáticas diversas, que priorizem a realização de experiências, trabalhos com
textos, debates, pesquisas, análise de resultados e muitas outras formas que
permitam aos alunos um papel ativo (FURMAN, 2010). Essa proposta não é
nova, entretanto até hoje não foi implantada nas escolas de forma efetiva. Os
desafios vão desde o medo de correr riscos, “pois a construção do novo exige
ousadia e criatividade”, até a falta de tempo para planejamento das aulas,
falta de formação especifica e principalmente deficiência no processo de
graduação, pois é muito difícil ensinar algo que não se conhece em
profundidade (FREIRE, 1997).
Importância da aprendizagem problematizadora
Quando os conhecimentos prévios dos alunos são inter- relacionados ao
novo conteúdo a ser estudado, ele adquire significado especial, pois passa a
ser incorporado às estruturas de conhecimento. Por isso, ensinar exige não
somente respeitar os saberes dos educandos, mas discutir com eles a razão de
ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos
(FREIRE, 1997). Se esse processo não ocorrer, a aprendizagem dar-se-á de
forma mecânica, as novas informações serão aprendidas sem a interação com
conceitos relevantes existentes na estrutura cognitiva. Consideramos que a
aprendizagem problematizadora possibilita inúmeras vantagens em relação à
aprendizagem memorística. Possibilita que o conhecimento seja retido e
lembrado por mais tempo, facilita a aprendizagem de outros conteúdos de
maneira mais fácil, mesmo se a informação original for esquecida, e facilita a
reaprendizagem.
Formas de desenvolver a aprendizagem problematizadora
A contextualização e a interdisciplinaridade são colocadas como elementos
facilitadores do processo de ensino e aprendizagem e como elementos
indispensáveis para o desenvolvimento adequado das competências e
habilidades. Tecer relações entre o que está sendo estudado e sua experiência
ou cotidiano, assim como informações relacionadas a outras disciplinas, faz
com que perceba sua aplicabilidade no dia a dia. A importância dessa nova
visão, mais integradora e totalizadora na construção do conhecimento, fica
evidente nessas palavras:
A formação científica das crianças e dos jovens deve contribuir para a formação de futuros
cidadãos que sejam responsáveis pelos seus atos, tanto individuais como coletivos, conscientes e
conhecedores dos riscos, mas ativos e solidários para conquistar o bem-estar da sociedade e
críticos e exigentes diante daqueles que tomam as decisões (VASCONCELOS, 2011, p. 3).
Segundo Fumagalli (1993), a formação de uma atitude científica depende
de como se constrói o conhecimento. Portanto, o professor deve utilizar
práticas que favoreçam a aprendizagem dos conteúdos, possibilitando ao
aluno tanto o desenvolvimento dos conhecimentos transmitidos na escola
como a oportunidade de criar novos conhecimentos, e isto somente é possível
dando o que pensar ao aluno (FROTA-PESSOA et al., 1982). Por isso, ao
invés de mediar conhecimentos prontos e acabados, o professor precisa
instigar os alunos a solucionar problemas, possibilitando dessa forma que
aflore o espírito científico e a gama de potencialidades que habita no seio de
cada um, fazendo que mantenham o gosto pela rebeldia, que aguçando sua
curiosidade os “imuniza” contra o poder apassivador do “bancarismo”
(FREIRE, 1997). Entretanto, para que isto ocorra, as atividades práticas
devem ser acompanhadas por questionamentos indutivos e não apenas
diretivos.
Vivenciamos uma situação paradoxal no nosso País em relação ao ensino
de Ciências e Biologia. Geralmente nos discursos pedagógicos e políticos
ocorre um consenso geral, relativo à importância social de abordar, em todos
os níveis pedagógicos, o conhecimento científico e biotecnológico.
Entretanto, a realidade da prática cotidiana das escolas é completamente
diferente e, se houve uma constatação, não há como continuar diante deste
quadro agindo de forma neutra, pois, segundo Freire (1997, p. 85-86),
“constato não para me adaptar, mas para mudar”. Os fatores responsáveis por
essa realidade são muitos e os mais variados. Um dos fatores é de que o
docente carrega a maior parte da responsabilidade em garantir a
aprendizagem de Ciências pelos alunos, entretanto deixa muito a desejar.
Muitas vezes isso resulta nele carregar em sua prática diária docente a
concepção errônea de “ciência como conjunto acabado e estático de verdades
definitivas”, entretanto “onde há vida, há inacabamento” (FREIRE, 1997, p.
55). Agindo dessa forma ele perde a oportunidade de conduzir o aluno a
caminhos carregados de sentido e deixa de levá-lo a solucionar situações
problemas que certamente desenvolveria o espírito científico que habita em
cada um, por isso que “uma das condições necessárias a pensar certo é não
estarmos demasiado certos de nossas certezas” (FREIRE, 1997, p. 30).
Outros fatores relevantes a serem salientados, baseados nas experiências
como professoras e formadoras de profissionais da Educação Básica, é a falta
de assessoramento para lidar com turmas grandes, como também a falta de
tempo para fazer o planejamento, visto que os horários fixos de discussões
pedagógicas são raramente implantados nas escolas.
Papel da tecnologia na aprendizagem
Atualmente, os avanços científico-tecnológicos ocorrem de forma
imprevisível e inimaginável e sua amplitude e velocidade muitas vezes nos
deixam perplexos diante da constante necessidade de atualização (COELHO;
MIRANDA, 2012). Perante tal realidade, se torna visível o distanciamento
entre esses avanços tecnológicos e a situação da maioria de nossas escolas,
além da inexpressiva formação continuada dos professores, no sentido de
torná-los aptos a usar essas tecnologias no processo de ensino e
aprendizagem. Essa capacitação é vital diante da atual exigência do mercado
de trabalho e da globalização nas formas de produção. Entretanto, há um
descompasso entre os recursos tecnológicos existentes e os recursos didáticos
geralmente utilizados pelos professores, que muitas vezes se restringem
somente ao uso do quadro branco e pincel, metodologia geralmente citada
pelos alunos como enfadonha e desinteressante. Por isso, é urgente uma
reestruturação do sistema escolar, através de medidas que propiciem o acesso
da comunidade escolar às metodologias que sejam atrativas e facilitem a
contextualização. Serres, com muita propriedade no seu livro Filosofia
Mestiça, nos diz que,
para que haja aprendizagem, exige-se uma viagem, uma partida... O aprender é uma busca
incessante da sabedoria, é a busca do “lugar mestiço” Afirma: “nada aprendi sem que tenha
partido, nem ensinei ninguém sem convidá-lo a deixar o ninho (SERRES, 1993, p.14).
A aprendizagem é uma via de mão dupla, o educador ensina e aprende ao
mesmo tempo (FREIRE, 1997). Entretanto, para ocorrer deste modo é
necessário termos a coragem e a disposição de mudar essa prática perversa
que não nos estimulou enquanto discentes e nem estimula nossos alunos a
questionar, discutir e optar pelo que acreditam ser o melhor. Essa é uma
característica da nossa sociedade, que é carente de uma consciência críticaa
qual é básica para nos levar a novas pistas e perceber novos caminhos na
elaboração de uma prática pedagógica mais humana. Entretanto, a rotina é
previsível, enquanto que fugir dela é trabalhoso e traz inquietações que
muitas vezes não temos disposição para enfrentar, por isso repetimos tudo
que nos ensinaram, sem dar aos nossos alunos a oportunidade de discernirem
por si mesmos. Nessas ocasiões passamos a utilizar nosso discurso de
verdade revestido de autoridade e nos tornamos nocivos ao processo de
ensino e aprendizagem. Segundo Freire (1997, p. 37) “transformar a
experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há
de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter
formador”.
Portanto, a escola precisa de forma urgente diminuir o descompasso
existente na forma “como tem realizado” o processo escolar e “como precisa
realizá-lo”. Somente assim poderá ressignificar a sua função social e política,
bem como tornar a aprendizagem prazerosa, através do estímulo constante de
sua inteligência, e da construção de novos conhecimentos e novos saberes
(COELHO; MIRANDA, 2012).
É essencial, portanto, a necessidade de uma política educativa que promova
não somente uma mudança curricular em relação à oferta de conteúdos, mas
também em relação às metodologias de ensino utilizadas pelos professores
que devem estar em compasso com a modernidade (LÓPEZ CEREZO, 2002
apud ZAIUTH, 2011).
No artigo “Formas de ensinar produzem o aprender?”, Traversini e Costa,
(2006) apresentam e discutem representações culturais de alunos sobre
atividades desenvolvidas no cotidiano da sala de aula que geram ou não
aprendizagem, e observou-se que muitas vezes a representação cultural
construída pelo aluno acerca de uma atividade pode ter sentido oposto para o
professor, portanto é essencial não somente pesquisar e explorar
metodologias alternativas, mas aplicá-las de forma adequada e em
consonância com as necessidades dos alunos. Segundo Freire (1997), é
pensando criticamente nossa prática atual que podemos melhorar a próxima.
Uma metodologia que surge como linha emergente na didática das Ciências
é a alfabetização científica, pois possibilita uma compreensão do cotidiano e
uma decodificação da linguagem científica (CHASSOT, 2003). A disposição
em refletir sobre a prática educativa e como podemos utilizar essas
alternativas são essenciais para sanar a dispersão e falta de interesse que
geralmente ocorre por não entenderem a relação do que estão estudando com
a realidade que os cerca. Ao propiciarmos este elo, utilizando os recursos
tecnológicos e situações reais e embasamento teórico, a aprendizagem se
torna mais significativa. Um professor competente está sempre replanejando
sua prática educativa e refletindo sobre sua metodologia e postura em sala de
aula para, através da motivação, estimular a aprendizagem, fazendo com que
cada um se torne um ser autônomo, participativo e “agente crítico
modificador de sua realidade” (SIQUEIRA, 2003).
Outra metodologia que tem apresentado bons resultados é o uso de recursos
tecnológicos. Entretanto, não basta ter acesso a esses recursos na escola,
deve-se buscar o seu bom uso. É necessário fazer um planejamento para ter
clareza quanto aos objetivos relativos à sua utilização. Alguns autores
salientam o papel central da incorporação das tecnologias da informação e da
comunicação (TICs) aos processos pedagógicos (BARRETO, 2001b apud
BARRETO, 2003). E não há dúvida também quanto à forma como podem
auxiliar no processo de alfabetização científica. A revolução tecnológica
causou um impacto sobre a produção, socialização do conhecimento e
formação de profissionais. Atualmente, podemos pesquisar em nossos
computadores em qualquer local, assim como podemos nos informar por
meio dos canais abertos pela telemática, e através da internet, sobre todo e
qualquer assunto. Portanto, o papel do professor como apenas repassador de
informações atualizadas ficou obsoleto.
Diariamente somos surpreendidos com informações novas trazidas por
nossos alunos, que muitas vezes desconhecemos por falta de oportunidade de
estarmos atualizados, devido à gama de tarefas que temos de dar conta. Isso
faz com que não nos reconheçamos mais como os únicos detentores do saber
a ser transmitido, mas como um dos parceiros a quem compete compartilhar
seus conhecimentos e mesmo aprender com outros, inclusive com nossos
próprios alunos. É um novo mundo, uma nova atitude, uma nova perspectiva
na relação entre o professor e o aluno, pois a cada dia vemos a veracidade das
palavras de Paulo Freire de que, “ao ser produzido, o conhecimento novo
supera outro que antes foi novo e se fez velho e se dispõe a ser ultrapassado
por outro amanhã” (FREIRE, 1997, p.28). Essa nova realidade exige que
tenhamos a capacidade de combinar a imaginação e ação com capacitação
para buscar novas informações, saber trabalhar com elas e nos intercomunicar
por meio dos recursos cada vez mais modernos da informática.
O projeto foi realizado porque observamos essa realidade em nossa
comunidade escolar, na qual muitos de nossos alunos possuíam uma gama de
potencialidades, passíveis de aflorar através de estímulos que os
desestabilizassem. A dúvida consistia em se a discussão de artigos científicos
e o posicionamento de forma crítica, através de debates apresentados à
comunidade escolar, provocaria o desequilíbrio necessário para esse processo
ocorrer.
Metodologia
A metodologia utilizada nesta pesquisa foi de natureza qualitativa e
quantitativa e a análise metodológica do tipo estudo de caso.
Esta pesquisa procura compreender os processos e retratar o ponto de vista
dos seus participantes, observando as características situacionais apresentadas
por eles, envolvendo a obtenção de dados, através do contato direto do
observador e com a situação estudada (BOGDAN; BIKLEN, 1994).
A atividade foi desenvolvida na Escola Estadual de Ensino Médio Adolfo
Fetter, em Pelotas, RS. O projeto foi executado de outubro de 2011 a maio de
2012 e envolveu as disciplinas de Filosofia, Sociologia e de Biologia; e os
alunos do 2º ano (turmas 201-202-203-204) e 3º ano (turma 301) do Ensino
Médio. Os alunos das turmas 201 e 301 participaram do projeto preparando
uma apresentação sobre o artigo intitulado “Todas as Cores”, de Nina G.
Jablonski e Geoge Chaplin, divulgado na revista Scientific American Brasil,
de novembro de 2002. Os alunos da turma 202 participaram assistindo à
apresentação da turma 201, e os alunos da turma 203 e 204 participaram
como grupo controle, pois eles não prepararam e nem assistiram à
apresentação, entretanto responderam ao questionário com perguntas
objetivas e uma pergunta dissertativa, aplicado a todos os que avançaram
para o terceiro ano.
O artigo científico colocado à disposição para tirar fotocópia aborda a
origem do ser humano e sua adaptação através da perda de pelos e
desenvolvimento da síntese maior da melanina em algumas regiões.
Apresenta também vários problemas de saúde devidos à migração crescente e
a fatores sociais e financeiros que induzem a essa condição em detrimento da
qualidade de vida. Esse artigo foi escolhido porque abrange o conteúdo de
Histologia sobre os constituintes celulares da pele, abordado no 2º ano, e o
conteúdo sobre a herança quantitativa, que promove as diferenças genéticas
nas populações, abordado no 3º ano. Entretanto, apesar do assunto do artigo
conter parte do conteúdo estudado, foi considerado muito difícil, por isso foi
incentivada a leitura e o entendimento dos termos científicos com a ajuda dos
professores. À medida que liam o artigo, discutiam os pontos obscuros e os
termos desconhecidos. Foram incentivados a buscar mais informação sobre o
tema em outros artigos para adquirir domínio e segurança antes da
apresentação.
Foi solicitado para a turma 201 e 301 que preparassem uma apresentação
em que explorariam o assunto abordado no artigoatravés de uma entrevista
simulada com biólogos, filósofos e sociólogos. Foi esclarecido que o repórter
não somente faria perguntas, mas deveria fazer a conexão dos assuntos entre
os entrevistados e que os entrevistados deveriam esclarecer os ouvintes.
Assim que a proposta foi lançada alguns grupos ficaram muito entusiasmados
e partiram para o trabalho, outros tiveram um pouco de resistência, mas
acabaram aceitando a proposta. Alguns grupos se reuniam em turno inverso
para planejar a metodologia de trabalho e treinar as apresentações, e essa
movimentação chamou a atenção das outras turmas e criou expectativa para a
apresentação.
A avaliação do projeto foi realizada pelos alunos através de declaração
escrita no dia da apresentação, cujos depoimentos, bem como as atividades,
foram registrados através de fotografias e vídeos. No ano seguinte ocorreu a
avaliação referente ao processo de aprendizagem com os alunos do 2º ano
que avançaram para o 3º ano, através da aplicação de um questionário com
sete (07) perguntas objetivas e uma (01) pergunta dissertativa referente ao
conteúdo científico do trabalho apresentado. Foi quantificado o número de
respostas corretas de cada aluno e, após a identificação da turma à qual
pertenciam no ano anterior, foram realizadas médias de acertos por turma. O
questionário não foi aplicado aos alunos da turma 301, porque concluíram o
Ensino Médio dois meses após a apresentação do trabalho.
A análise dos dados foi realizada de maneira descritiva, pois esse tipo de
estudo descreve os fatos e fenômenos de determinada realidade
(GERHARDT; SILVEIRA, 2009).
Resultados e discussão
Foi observado que a reação durante o desenvolvimento das atividades foi
mudando gradativamente. No início a proposta foi aceita com cautela,
insegurança e medo de que seria mais uma atividade para sobrecarregar e não
para trazer resultado positivo. Foi necessária uma negociação, de que se
houvesse um envolvimento efetivo com a realização do trabalho este
consistiria na avaliação final, e a garantia que podiam recorrer aos
professores à medida que precisassem de esclarecimentos. Entretanto, foi
salientado que o entendimento dos aspectos biológicos, filosóficos e
sociológicos seriam esclarecidos sempre que solicitado, mas não a ponto de
interferir na criatividade individual. Estávamos cientes da veracidade de que
“ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua
produção ou a sua construção” (FREIRE, 1997, p. 47). Durante o processo,
os professores das disciplinas de Sociologia e Filosofia ficaram
sobrecarregados e não conseguiram participar efetivamente como combinado.
Os alunos contornaram esse problema intensificando a busca de informações
na internet e as discussões entre os grupos. À medida que recorriam em busca
de esclarecimentos sobre os aspectos biológicos, realizavam questionamentos
para perceberem os outros aspectos inseridos.
Em relação à apresentação, cada grupo apresentou em conformidade com o
perfil da maioria dos componentes. Alguns centraram em repassar a
informação científica, salientando os pontos relevantes e sua conexão com o
tema que estava sendo abordado no conteúdo curricular. Outros aproveitaram
a oportunidade para, através de sátiras, aprofundar as relações sociológicas e
filosóficas envolvidas em torno do assunto.
Alguns grupos estavam tão entusiasmados no dia da apresentação que
motivaram a turma toda a participar na organização e limpeza do auditório.
Prepararam o local como se fosse um estúdio de gravação com cadeiras
cobertas simulando sofá, vários microfones, telão e outros equipamentos para
dar suporte. A apresentação da turma 301 foi assistida pela turma 302 e a
apresentação da turma 201 foi assistida pela turma 202. O formato utilizado
para a realização do trabalho foi um sucesso, pois conforme relato dos outros
professores até mesmo alunos do 1º ano que não estavam envolvidos pediram
para sair da sala de aula, pois queriam ir para o auditório assistir às
apresentações. Os alunos da turma 202 que haviam sido liberados somente
em um período, pois no outro teriam prova de Química, fizeram a prova
rapidamente para retornar para o auditório. Principalmente durante a
apresentação do grupo nº 1 da turma 201, o grupo mais empenhado, os alunos
ficaram em silêncio extremo, extasiados. Os componentes desse grupo
trouxeram roupas para fazerem uma produção especial antes da apresentação,
e tiveram que apresentar duas vezes, pois alguns professores que estavam em
aula no momento da apresentação queriam assistir. Tal fato ocorreu porque
esses professores, apesar de não estarem participando diretamente do
trabalho, partilharam de toda a movimentação realizada durante as semanas
de preparação.
Após a abertura houve a apresentação dos entrevistados com sua formação
fictícia como biólogos, sociólogos e filósofos e sua respectiva instituição
(Fig. 1).
Figura 1. A) Abertura do trabalho simulando a entrevista; B) Apresentação
pelo entrevistador dos profissionais fictícios a serem entrevistados.
Durante a entrevista o mediador não somente fez perguntas, mas elaborou
muito bem a transição entre os participantes, com perguntas questionadoras e
esclarecimentos quando necessário, evidenciando uma excelente preparação e
integração com o grupo (Fig. 2a). As biólogas interagiram com a plateia
buscando duas pessoas de fenótipos diferentes para fazer o questionamento
quanto a se consideravam que elas tinham o mesmo número de melanócitos
(Fig. 2b). Enquanto as biólogas problematizavam o assunto (Fig. 2c), o
entrevistador coletava opiniões (Fig. 2d). Esse momento foi muito
importante, pois eles motivaram os alunos que estavam assistindo para
participarem, mostrando que “não haveria criatividade sem a curiosidade que
nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não
fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos” (FREIRE, 1997, p.35).
Após, discutiram as opiniões coletadas e esclareceram, através da projeção
de imagens histológicas da epiderme, que o número de melanócitos é o
mesmo e o que difere é a produção de melanina.
Salientaram a informação do artigo científico sobre a diferença devido à
adaptação ao ambiente e aproveitaram o momento para falar dos benefícios,
em termos de preservação da espécie, da diversidade.
Figura 2. A) Entrevista; B) Biólogas interagindo com a plateia; C) Biólogas
problematizando o assunto. D) Entrevistador coletando opiniões.
Ao final uma das integrantes deixou uma mensagem falando sobre a
discriminação racial (Fig. 3a), mostrando dessa forma que a Biologia possui a
melhor ferramenta para combater o preconceito, ou seja, a informação
científica. Neste trabalho foi possível perceber isto, pois o artigo não somente
mostrou a origem comum de todos os seres humanos, mas também salientou
algo que a maioria não sabia, que todos, independentemente da cor, possuem
o mesmo número de melanócitos.
Essa informação ficou gravada na mente da maioria, pois meses após a
atividade ainda recordava a informação e foi possível fazer várias discussões
em sala sobre o assunto. Os alunos realizaram o fechamento de forma
surpreendente, demostrando comprometimento, seriedade e dedicação (Fig.
3b).
Figura 3. A) Mensagem Final do grupo; B) Fechamento da apresentação.
Observamos durante todo o processo de elaboração e apresentação a forma
positiva com que uns incentivaram os outros, confirmando a declaração de
que tarefas realizadas em colaboração com os colegas propiciam uma
contribuição maior para o seu desenvolvimento pessoal do que uma avaliação
individual (VYGOTSKY, 1988).
No dia da apresentação ocorreu a avaliação referente à participação, clareza
e objetividade pelos professores e também da importância do projeto, através
do depoimento de 21 alunos da turma 201 e nove alunos da turma 301. Os
depoimentos foram muito semelhantes, escolhemos alguns que estão
transcritos literalmente.Observamos que somente dois alunos da turma 201
declararam preferir aulas expositivas e não atividades alternativas.
“Penso que é mais fácil entender com apresentações e aulas com slides. Contudo prefiro aulas
em que a professora explica a matéria, faz perguntas e etc. Creio que seja mais fácil entender
com a apresentação, mas é melhor com a professora explicando”.
“Eu aprendo mais com textos resumidos copiados do quadro”.
Os outros 28 alunos expressaram de forma diferente as várias contribuições
que esse tipo de trabalho trouxe. Alguns mencionaram que foi intensificada a
curiosidade por saber mais.
“Eu acredito que é melhor nós estudarmos e apresentarmos o trabalho do que ficar só
escutando o que o professor fala, estudando e apresentando nós vamos ter mais conhecimento
sobre o assunto, vamos nos interessar, ter curiosidade e assim procurando saber mais”. (Turma
201)
“Na minha opinião o trabalho foi mais proveitoso sendo apresentado pelos alunos, pois com
isso foi necessário que os alunos corressem atrás do conteúdo e o entendessem para que fosse
apresentado para o restante da turma, é claro que o trabalho ficou mais fácil com a ajuda da
professora”. (Turma 301)
Segundo Freire (2008), é o exercício da curiosidade que nos faz mais
criticamente curiosos, mas metodicamente perseguidores do nosso objeto.
Por isso, é muito importante instigar essa curiosidade e mostrar que essa
viagem em busca do conhecimento não precisa ser enfadonha, mas prazerosa
e recompensadora, quando percebem que se superaram.
“Esse trabalho foi uma experiência única, um dos mais diferentes que eu já apresentei.
Passamos várias tardes treinando e trocando conhecimentos, aprendemos melhor, mais
gravamos para falar como você prova. Quebramos as barreiras da vergonha, do nervosismo e
nos superamos. O único problema, que é sempre trabalhos de apresentar no 3º trimestre,
sempre com pouco tempo e atrapalha muito”. (Turma 201)
“Foi uma experiência única neste ano porque quando fazemos trabalho avaliados recebemos o
tema e mais nada, quando o conteúdo do trabalho é igual a todos a diferença está na visão que
cada um tem e assim o professor pode saber o que cada aluno absorveu do trabalho”. (Turma
301)
“Eu gostei muito mais aprender assim porque temos que estudar muito e entender o que temos
que apresentar e assim entendemos muito mais a matéria em questão. E também de ver os
outros grupos apresentarem. Por serem nossos colegas a gente presta bem mais atenção”.
(Turma 201)
“Eu acredito que com o trabalho nós tivemos um grande proveito, pois nós aprendemos de uma
forma diferente, uma forma mais recreativa. O trabalho teve um bom desenvolvimento, e não foi
muito difícil, mas deu para se notar que a turma se esforçou para a realização do trabalho.
Com certeza, é uma boa ideia a escola continuar com esse tipo de trabalho para avaliação”.
(Turma 301)
Manifestaram, nos depoimentos, terem achado o texto difícil, mas que
aprenderam a se organizar para superar a dificuldade inicial.
“O trabalho de Biologia mesmo com um artigo que pra mim foi muito difícil de desenvolver e
difícil de trabalhar o grupo conseguiu aprender muitas coisas. Tiramos algumas dúvidas,
aprendemos a trabalhar em grupo. Talvez o trabalho tivesse ficado bem melhor se tivéssemos
mais tempo. Mas o que vale foi a experiência”. (Turma 301)
“Para mim o trabalho foi mais difícil do que os outros, além de ter que se parecer com uma
entrevista, o assunto era também um pouco difícil para entender no início, mas depois ficou
mais fácil, também o nosso grupo não estava preparado para este tipo de trabalho”. (Turma
301)
Foi observado que a interação entre os componentes nesse tipo de atividade
possibilitou o desenvolvimento de habilidades e competências de forma
gradativa e natural. À medida que os desafios foram surgindo, eles se
arquitetaram para resolvê-los, o que serviu para uma maior integração e troca
de saberes, fazendo com que cada um se enriquecesse com a experiência do
outro. Isto ficou evidente em um dos grupos no qual um dos integrantes tinha
experiência em apresentações. Ele trouxe sua experiência para o trabalho e
contaminou os outros participantes com seu entusiasmo. Em outro grupo
observei que a responsabilidade e determinação de uns integrantes fizeram a
diferença, pois realizaram consultas frequentes para sanar as dúvidas que
tinham sobre o artigo e foram lapidando o trabalho até acharem que estava
aceitável.
O processo foi contribuindo gradativamente para adquirirem autoconfiança
e deixarem de lado a ideia de que são receptáculos vazios, que nada sabem e
que necessitam serem preenchidos com o conhecimento provido pelo
professor. Este processo é essencial, pois, segundo Freire (1997), não
somente transmitir saberes, mas dar significado através de um constante
exercício em favor da construção e do desenvolvimento da autonomia de
professores e alunos é a verdadeira prática educativa.
“Na minha opinião o trabalho serviu para motivar a turma nos estudos e aprendemos melhor a
trabalhar em equipe e pensarmos mais nos outros ajudando-os a melhorar sempre mais. A
experiência foi válida porque aprendemos a estudar em equipe e assim o conteúdo tornou-se
mais acessível”. (Turma 301)
“O trabalho foi bastante difícil, com assunto bastante interessante, onde aprendemos melhor a
trabalhar em coletivo, e exigia bastante preparação do grupo”. (Turma 301)
“Pra mim a apresentação de trabalhos é melhor para aprendermos melhor a matéria, apesar
de ser meio complicado o trabalho e exige mais de nós, temos que ter mais responsabilidade e
isso faz com que o desempenho seja maior, o interesse aumenta em ambas as partes. Na
apresentação do trabalho de Biologia eu tentei dar o meu melhor apesar do nervosismo. Eu
acho que valeu a pena e aprendi muito com esse trabalho e com meu grupo. Nós demos o nosso
melhor e agradeço muito tanto aos meus colegas por terem me ajudado muito como agradeço
também à professora que junto aos meus colegas me ajudou e me encorajou muito”. (Turma
201)
Por mais desmotivados que alguns talvez estivessem não há como não se
envolver neste tipo de trabalho, diferente de uma aula expositiva em que o
aluno se quiser fica alienado em seu mundo bloqueando a aproximação. Por
isso, é importante refletirmos de forma crítica sobre a prática educativa, para
não reproduzirmos uma prática alienada que consista somente em um
discurso teórico, sem questionamentos (FREIRE, 1997).
A segunda etapa da avaliação foi realizada no ano seguinte, com os alunos
do 2º ano que avançaram para o 3º ano, através da aplicação de um
questionário com sete questões objetivas e uma dissertativa referente ao
conteúdo de Biologia do trabalho apresentado. Foram quantificadas as
respostas corretas de cada aluno e, após identificação da turma à qual
pertenciam no ano anterior, foram realizadas médias de acertos por turma,
apresentadas na Figura 4.
Figura 4. Médias da quantidade de acertos nas questões objetivas da
avaliação relacionada ao artigo do projeto.
O gráfico mostra que os alunos da turma 201, que participaram do projeto
preparando uma apresentação sobre o artigo, tiveram uma média de acertos
expressiva (4,44) no questionário aplicado em maio do ano seguinte, em
relação aos alunos das turmas 202 (2,78) que somente assistiram à
apresentação e aos alunos da turma 203 (2,92) e 204 (2,81) que não
prepararam e nem assistiram à apresentação.
Com os alunos da turma 301 não foi possível fazer a avaliação referente ao
processo de aprendizagem, pois saíram da escola no final do ano letivo.
Figura 5. Número de alunos que responderam corretamente à questão
discursiva.
Quando quantificada a questão oito – “Escreva algo que você lembra sobre
pigmentação da pele que não foi abordado nas perguntas”, foi observada uma
diferença expressiva no número de alunos que acertaram a resposta da
questão discursiva entre os alunos da turma 201, que apresentaram

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