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psi comunitaria

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Histórico e fundamentos - Silvia Lane 
 
-Década de 70: questionamento da Psicologia - atuação no Brasil. 
 
-1968: questionamento da prática do psicólogo. 
 
-Psicologia Comunitária: tem origem nos EUA – população carente e atuação de cunho assistencial e manipulativo. 
Este modelo não se encaixou no Brasil (a igreja católica teve grande participação para contrariar este modelo 
manipulativo). 
 
-Década de 60/70: Paulo Freire – educação popular (alfabetização), Psicologia do Oprimido. Atuava com a população 
menos favorecida. Era contra a educação bancária (sem crítica ou reflexão sobre o assunto apresentado; as pessoas 
apenas aceitavam o que o professor falava: manipulação). Propunha uma educação libertadora através de reflexões. 
A alfabetização necessitava de um tema gerador (tema que a pessoa conhecesse / conhecimento prático 
- experiências vividas), e a partir dele poderia gerar uma conscientização da realidade (conhecer a si mesmo e suas 
condições de vida). O professor deveria atuar como mediador/facilitador, não é detentor do conhecimento. 
 
-1981: encontro: prevenção de saúde mental (postos de saúde, igrejas) e educação popular. 
 
-Questionamento: o que é comunidade? Na época era apenas direcionado para a saúde. Comunidade são pessoas 
com algo em comum; união; território. 
 
-1988: relato de experiências e trabalhos comunitários na zona rural. A Psicologia tinha como foco 
pessoas/grupos/sujeito (trabalho na comunidade feito em grupo: observação das relações sociais e regras de 
convivência). A saúde passou a ser vista como condição social, não apenas de sobrevivência (ampliação do papel do 
psicólogo, que sai do técnico “fazer por fazer” e passa para o “olhar para um indivíduo como um todo” - subjetividade). 
 
Conclusões: 
-Busca de uma sistematização teórica. 
-O grupo como condição de trabalho. 
-Busca pelo conhecimento da realidade. 
-Autorreflexão e ação conjunta e organizada (unir conhecimento da Psicologia e da comunidade). 
-Resgate da identidade e por si (reflexão, conscientização, subjetividade). 
-Trabalho com linguagem e representações grupais. 
 
 
-Psicologia comunitária: “estudar as condições (internas e externas) ao homem, que o impedem de ser sujeito e as 
condições que o fazem sujeito em uma comunidade”. 
 
Relações comunitárias / relações de dominação - P. Guareschi 
 
 
 
-Relação: interação entre um indivíduo e outro (uma coisa com outra coisa). Coisa que não pode ser ela mesma, se 
não houver outra. Nós só existimos na presença do outro. Exemplo: mãe só é mãe porque tem filho. 
 
-A partir do outro significativo, estabelecemos uma relação. 
 
-A relação também se dá nas situações de conflito. Exemplo: guerra depende do outro (rival). 
 
-A exclusão só acontece por causa do outro. 
 
-O estado deveria garantir o exercício dos direitos e deveres para haver cidadania. Entretanto, exclui alguns e 
privilegia outros. 
 
-A relação com o outro passa pela relação de poder. 
 
-Nos vemos como uma pessoa em relação (perceber o outro em nós → os seres que, em si mesmos, implicam o 
outro)? 
 
-Nos vemos como um indivíduo (você não tem nada a ver com os outros → eu me vejo e vejo os outros)? 
 
-Relações sociais se dão a partir das pessoas que se constituem em grupo. A constituição de um grupo é a 
existência ou não de relações. 
 
-Grupo tem algo em comum. 
 
-Existe a possibilidade de mudar um grupo (observar as relações entre as pessoas e transformar essas relações): 
trabalho do psicólogo. 
 
-As pessoas do grupo também têm um conhecimento, não apenas o psicólogo. Todos devem falar e escutar. Com 
isso, o grupo se fortalece/modifica/pode estabelecer outras necessidades. 
 
-O grupo tem uma relação relativa: está sempre em construção/transformação. 
 
-Relação e relações: identificar o tipo de relação (do que se trata). Utilização de técnicas para conhecer essas 
relações: observação, escuta, entrevista, questionário, pesquisa. Com isso, será revelada a vida social dessas 
pessoas. 
 
-Relações de poder (todos temos / conhecimento / capacidade de uma pessoa ou grupo de desempenhar uma ação 
qualquer) e de dominação (relação entre pessoas e grupos, onde uma das partes expropria/rouba o poder / relação 
assimétrica, desigual, injusta). 
 
-Dominar o outro está relacionado com a questão da ideologia. Cria/sustenta relações injustas ou éticas (ideias para 
que algo não aconteça mais). 
 
-Dominação pode ser econômica e cultural: dá sentidos. 
 
-Relação comunitária de igualdade quando as pessoas "são" (ser). Deveriam ser permeadas de direitos. 
 
-Numa comunidade, devem haver relações de saberes diferentes a serem respeitados. 
 
Tensões na relação comunidade-profissional 
 
-Propostas da autora: trabalhar com profissionais externos e a comunidade. Compreensão das possíveis tensões entre 
os processos de participação e conscientização dos trabalhos comunitários; Compreensão sobre o que acontece no 
dia-a-dia, sobre os significados que atribuem à vida que têm e sobre o tipo de relação que estabelecem com os demais, 
durante o processo de intervenção; Profissionais externos e o grupo autóctone dos moradores e/ou representantes e 
líderes comunitários. 
 
-A avaliação das relações dos atores, para poder compreender em que medida os processos de suscetíveis de 
mudança a partir das interações estabelecidas e dos sentidos de comunidade que as pessoas vão construindo, 
criando, reiterando e fortalecendo; 
 
-Ou, redefine, alteram, enfraquecem e negam como decorrência dos laços interpessoais que constroem e dos 
resultados que suas ações produzem, seja na perspectiva individual ou coletiva. 
 
-Toda prática comunitária está relacionada a agentes comunitários e intervenções psicossociais. 
 
-Os programas devem ser eficazes e efeitos produzidos junto às populações (a população deve reconhecer/viver os 
benefícios dos programas). 
 
-É importante garantir que tenham a perspectiva da Psicologia Social Comunitária: as necessidades vividas e sentidas 
e os compromissos decorrentes disso; a adoção de estratégias de intervenção guiadas pelo foco da melhoria de vida 
das pessoas, tomando-as como referência para isso, e ações e intervenções comunitárias que tenham importância e 
sentido na vida das pessoas e da sua comunidade (as pessoas têm que se sentir responsáveis pelo local). 
 
-Os profissionais devem ter compromisso e consciência da implicação social deles e dos projetos de intervenção. 
 
-Os programas devem ter: (1) compromisso por parte dos profissionais e devem ser capacitados com qualidade 
também estar (2) implicados com a realidade social e com os problemas concretos da população, com a sociedade e 
com a profissão. 
 
-Sua implantação, desenvolvimento e consolidação das práticas de intervenção psicossocial deve se considerar à 
própria dinâmica interna das práticas, como as relações estabelecidas entre os participantes e aqueles ligados aos 
objetivos para a realização dos trabalhos comunitários. 
 
-Psicologia Social Comunitária: organizar a população em torno dos seus direitos básicos para construção de uma 
vida digna e justa (compreensão sobre o que acontece com as pessoas no dia-a-dia, significado que dão ao que 
acontece na vida, relação que estabelecem com os demais para que as práticas possam avançar em direção aos 
objetivos e compromissos). 
 
-PSC: trabalha com a comunidade e com profissionais. 
 
-Há aspectos intrínsecos nas relações. 
 
-Potencializar a construção de redes mais solidárias e comunitárias de convivência. 
 
-Identificar problemas dentro da equipe que interfere no andamento do trabalho. 
 
Desafios: 
-Impactos e importância que os trabalhados têm na vida de todos: ganhos e fracassos; 
 
-Desafio ligado ao compromisso e aliança presentes na proposta de ação comunitária; 
 
-Buscar uma delimitação ou posicionamento consensual – nas perspectivas individual e grupal; 
 
-Tensõesnas relações profissional – comunidade e repercussões na vida cotidiana. 
 
-Práticas psicossociais passam por conscientização e participação. Processo de conscientização: como se constrói a 
consciência na vida cotidiana a partir das práticas de intervenção psicossocial e como pode ser apreendida; 
 
-Projeto político: projeto de ação / criado junto à comunidade. 
 
A entrevista psicológica - diário de campo 
 
 
 
 
-Malinowiski: observação participante (descritiva, reflexiva). 
 
-A partir da observação, teremos contato com a realidade. 
 
-Entrevista é uma relação de empatia, que passa por um processo de comunicação (diálogo, fala, conteúdo) e 
observação do comportamento. 
 
-Diário de campo é uma técnica utilizada nas pesquisas qualitativas (metodologia). 
 
-Ao observar, temos uma consciência do outro e de nós mesmos. 
 
-Diário de campo se materializa em anotações. 
 
 
Entrevista 
-Quem comanda a entrevista é o entrevistado. 
 
-Tem um roteiro (perguntas abertas, fechadas ou semi-dirigidas). 
 
-Fundamental obter confiança do entrevistado. 
 
-Estabelecer um vínculo e se distanciar para observar (distância ótima). 
 
-A coleta de dados vai da observação em si e da entrevista (dados novos). 
 
-O psicólogo age como investigador profissional. 
 
-Entrevista é um campo de ação/observação. 
 
-Importante analisar a personalidade e o comportamento do entrevistado. 
 
-Observar o enquadre (local e como ele está). 
 
-Observar se na fala do sujeito existem lacunas, contradições, dissociações. 
 
-Investigamos a conduta das pessoas. 
 
-Transferência: por parte do entrevistado (processo de depositação de sentimentos). Contratransferência: por parte 
do entrevistador. Podem ser positivas ou negativas. 
 
-Interpretação dos dados: identificar lacunas, unir à teoria, ter controle sobre a ansiedade (observar que ela estava 
presente). 
 
-Importante estar atento aos próprios comportamentos. 
 
Psicologia da libertação 
 
-Vários colaboradores, movimentos sociais nas comunidades deram origem a essa linha (não tem um autor 
específico). 
 
Psicologia Comunitária - base: transformação social 
 
-Trabalho com pessoas em situação de risco (grupos). 
 
-1980: Goes (professor da UFC, fazia trabalho na comunidade). Aperfeiçoou conceitos da Psicologia, contribuiu para 
a Psicologia Comunitária. 
 
-Utilizar a Psicologia para transformação social. 
 
-Libertação do povo cearense - latino americano (oprimidos). 
 
-Construção de sujeitos comunitários e autônomos. 
 
-Sujeitos: considera a história. 
 
-Libertação: promove autonomia através da conscientização. 
 
 
Base teórica: 
 
Psicologia da libertação - Martin Baro 
Paulo Freire (pedagogia do oprimido; reflexão sobre a realidade de cada um; forma sujeito crítico, ativo. 
-Psicologia da libertação: “que fazer” – atitudes que os profissionais devem tomar; refletir sobre suas ações. 
-Propõe a emancipação dos indivíduos: para terem voz, serem sujeitos da história, autônomos. Trabalha a 
identidade do sujeito. 
 
Educação libertadora - Paulo Freire 
 
Histórico cultural - Vygotsky 
-Materialismo-histórica-dialético. 
-Entende o psi a partir da condição material de vida do sujeito. 
-Desenvolve as funções psicológicas superiores, memória. 
-Parte dos aspectos concretos para o psicológico. 
-Formação da linguagem e do sujeito como mundo. 
 
Teoria Rogeriana - Carl Roger (humanista) 
-Potencialização do sujeito, terapia voltada para as necessidades do sujeito. 
-Trabalho a partir da fala do sujeito. Centrada na pessoa. 
-Trabalho com o aqui e o agora. Acolhe a pessoa. 
-A Psicologia Comunitária usa essa forma de trabalho com os grupos, trabalha a potência (através do diálogo). 
 
Biodança - Rolando Toro 
-Vivência - música. 
-As pessoas dançam, têm o facilitador/mediador do processo. 
-Música faz parte da formação do sujeito, trabalha a relação entre as pessoas, aflora sentimentos. Querem despertar 
esses aspectos. 
 
Ideologia da libertação 
-Igreja atuando nas comunidades para elas e com elas. Para desenvolvimento, o sujeito crítico a partir da sua 
condição material de vida. 
-Hoje na América-Latina perdeu força. 
 
Fatalismo - Martin Baró (crítica) 
-O povo latino-americano se submete ao destino, como se já fosse predeterminante, e não tem jeito de mudar. 
Crença no "ente divino" que influencia no que somos. É cultural e reforçado pelas religiões. Não consciência de si, 
mas de que a vida individual está nas mãos de Deus. Paralisação da vida por conta das crenças e valores. 
 
Olhar do Martin Baró importante para a Psicologia Comunitária 
-Reflexão sobre os assuntos da própria comunidade. 
-Reflexão com o grupo, problematiza para haver conscientização. 
-Não impões ideias, problematiza em grupo. 
 
Sujeitos são alienados sobre sua condição de vida material, há a necessidade de se refletir sobre isso. 
 
 
Bader Savaia - sofrimento ético-político 
-Pessoas em processo de exclusão/inclusão. 
-Sofrimento de origem social (é provocado). 
-Questão moral e política, das relações entre as pessoas. 
-Exemplo: pessoa não está na rua por culpa dela, tem questões sociais. 
 
-Quem trabalha com o social, vê mais os aspectos materiais da pessoa. É importante ver os sentimentos e emoções 
das pessoas em situação de risco. 
 
-Diálogo: intervenção. 
 
 
Interdisciplinaridade 
-Linhas teóricas diferentes, mas que possuem pontos importantes para o desenvolvimento da Psicologia 
Libertadora. 
 
 
Paradigma: complexidade 
-Não naturalizar ou conformar. Ver que é social, construído, não é imposto pelo divino. Tem interesses envolvidos, 
deve-se considerar as pessoas em si. 
 
 
-Martin Baro foi assassinado. 
 
-Banalização da vida. O psicólogo trabalha com a vida. 
 
-Aproxima o conhecimento da Psicologia para essas comunidades, já que o estado é ausente. Utiliza essas bases 
teóricas para trabalhar com grupos. 
 
Conscientização (ressignificar) – desideologização (tirar a ideologia 
presente) 
-Possibilita que o indivíduo tenha escolha. 
-O indivíduo aprende valores com: família (dependência), escola (passividade) e moral (hipocrisia) – necessidade de 
refletir sobre o que essas instituições impõem. 
 
 
-Proposta de Martin Baro: busca da verdade para os grupos populacionais, nas práxis psicológicas. 
 
-Para desenvolver o trabalho na comunidade, proposta de fortalecimento ou potencialização. 
 
-Fortalecimento: indivíduo e grupos controlam sua situação de vida, a partir do desenvolvimento de capacidades e 
recursos. Usam crítica para alcançar a transformação. Desenvolver e potencializar capacidades; obter e administrar 
recursos para alcançar formas de desenvolvimento e transformação para bem estar pessoal e coletivo e superação 
das relações de opressão, submissão e exploração. 
 
-Desenvolver criticidade: reflexão sobre direitos. 
 
-Objetivos: superar condições de vida marcadas pela desigualdade (falta de acesso); indivíduos vivem situações 
negativas: adquirem controle sob o entorno no qual vivem e desenvolvem recursos para as transformações para obter 
bem-estar coletivo e pessoal em liberdade; desenvolver ações libertadoras; marca da Psicologia Social Latino-
Americana: transformação (condição de vida das pessoas). 
 
-Processos fortalecedores: caráter coletivo e libertador. 
 
-Centraliza o controle e o poder na comunidade e em seus membros organizados. Os atores sociais são construtores 
de sua realidade e das mudanças que nela ocorrem. 
 
-Uso dos conceitos da educação popular freireana: problematização, desideologização, conscientização. 
 
-Desenvolvimento ou aumento da capacidade e da atividade organizadoras; o desenvolvimento das formas 
participativas de ação, intervenção e pesquisa; incorporação e desenvolvimento do poder político, sentimento 
de eficácia política e de validade psicopolítica das comunidades e das pessoas interessadasem produzir mudanças 
dentro delas, com a finalidade de aumentar o grau de controle que exercem sobre suas vidas e seu ambiente. 
 
-Desenvolver o ser-em-relação com o mundo. Ruptura com a sensação e percepção de isolamento. 
 
-Compreensão crítica das forças sociais e políticas que atuam em nossa vida: avaliar causas, efeitos, razões e 
emoções. Compreensão crítica - conscientização e ação - reflexão e ação. 
 
-Questionamento: o processo de fortalecimento comunitário é sempre libertador? 
 
-Existem agentes externos (os que chegam na comunidade) e internos (os que vivem na comunidade). O que é 
comunidade para cada um? 
 
-Fortalecer para que temores ou incapacidades desapareçam; 
 
-Sensibilizar para reconhecimento de certas atividades. 
 
-Informação e ajuda técnica em um processo reflexivo ativo para sucesso das atividades. 
-Controvérsias: intervenção tem diferentes conotações; Incompreensão dos AE na concepção de Comunidade; 
Sobreposição dos interesses individuais sobre os coletivos por parte dos AE; Problemas com os AI: rivalidades 
internas, hostilidade e manipulação – não são relatados por AE. 
 
-Atenção à família. 
 
 
-Influências alienantes de origem externa: interação entre comunidade e as instituições e o ambiente: ausência de 
retroalimentação.

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