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Resumo psicologia comunitaria

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Disciplina: Psicologia Comunitária
Professora: Jorgelina Ines Brochier
Caros alunos e alunas: Esta coletânea de textos aborda conteúdos desenvolvidos ao longo do semestre. Trata-se de um material de apoio que está articulado com os planos de aula e com os livros didáticos desta disciplina. Assim, convido cada um de vocês a ler e, especialmente, analisar os textos propostos. Espero, portanto, que esta análise promova reflexões que potencializem novos saberes e horizontes! 
TEXTO 1
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA: considerações iniciais
COMUNIDADE: um lugar imprevisível no qual as pessoas vivem seu cotidiano (CAMPOS, 1992) e se relacionam, traduzindo os modos de vida contemporâneos, tanto na fragmentação e naturalização da vida quanto na possibilidade de desejar, conviver e criar. 
A comunidade se expressa como espaço de construção de cidadania, no qual todas as falas são legítimas (GUARESCHI, 2003 apud COSTA; BRANDAO, 2005). Esse conceito, que pode parecer utópico, é tomado nessa perspectiva para que marque o desafio de atuarmos focando as relações entre indivíduos, e entre estes e a sociedade, em uma busca de valorização das relações comunitárias que visem o bem comum (RICCI, 2003 apud COSTA). TRATA-SE DE UMA UTOPIA? Talvez seja apenas um sonho que precisa ser sonhado e, como disse Galeano (1944), o sonho, as utopias estão no horizonte, são inatingíveis, mas nos levam a caminhar!!!
A expressão “Psicologia social comunitária” designa um conjunto de saberes e práticas da psicologia que visam “contribuir para a melhoria na qualidade de vida das pessoas e grupos distribuídos nas inúmeras aglomerações humanas que compõem a grande cidade” (ANDREY, 2001, p.201). 
Góis (1993) define a psicologia social comunitária como sendo uma área da psicologia social que estuda a atividade do psiquismo decorrente do modo de vida da comunidade. Nessa perspectiva, o termo comunidade corresponde a um lugar “em que grande parte da vida cotidiana é vivida” (CAMPOS, 1998, p.9). Esse lugar, ainda de acordo com a autora, pode ser geográfico, como um bairro, por exemplo, ou psicossocial, constituído, por exemplo, por colegas de trabalho. Embora as intervenções do psicólogo que atua no âmbito sócio comunitário não estejam restritas aos grupos populares, observa-se uma tendência para privilegiar aqueles que vivem em condições precárias (ou inviabilizadas) de trabalho, saúde, saneamento básico, educação escolar, lazer, dentre outras. 
Ao atuar com grupos que estão em condição ou muito próximo da condição de marginalizados dos serviços e obrigações da sociedade e do Estado, o psicólogo busca contribuir para o desenvolvimento da CONSCIÊNCIA CRÍTICA, da ÉTICA DA SOLIDARIEDADE, das PRÁTICAS COOPERATIVAS e AUTOGESTIONÁRIAS do GRUPO CLIENTE. 
Para alcançar essas metas, as ações do psicólogo são estruturadas, preferencialmente, através de equipes interdisciplinares. Tais ações, inicialmente, partem do levantamento das demandas dos grupos-clientes. A partir da análise das necessidades e das possibilidades concretas de ações, “procura-se trabalhar com os grupos para que eles assumam seu papel de sujeitos de sua própria história, conscientes dos determinantes sócio-políticos de sua situação e ativos na busca de soluções para os problemas enfrentados” (FREITAS, 1998, 57). 
Nesse sentido, o psicólogo não atua como um profissional que, por deter um saber específico, toma as iniciativas para a solução dos problemas enfrentados pelo grupo-cliente. O psicólogo atua como um ANALISTA FACILITADOR que, a partir de um saber específico, pretende contribuir para a melhoria da qualidade de vida da comunidade. Sendo assim, o trabalho está norteado por um processo de reflexão fundamentado em duas premissas: 
- Todos os grupos comunitários possuem um saber-fazer, que a priori não pode ser considerado nem melhor, nem pior do que o conhecimento construído nas Universidades. Ao compartilhar saberes com o grupo, o psicólogo contribui com novos saberes para este grupo que, por sua vez, também contribui com a produção de saberes no âmbito da psicologia.
- O trabalho comunitário deve incluir, além do diálogo e da partilha de saberes, a garantia da autogestão das próprias comunidades. A autogestão é básica para que existam relações efetivamente democráticas, pautadas na participação de todos os envolvidos. Quem vai “por um tempo para partilhar um saber, não pode retirar da comunidade essa prerrogativa fundamental de liberdade autonomia” (GUARESCHI, op.cit.p.99). A formação de recursos humanos da própria comunidade assegura, não apenas a autonomia do grupo para gerir a sua vida, mas, especialmente, a continuidade e multiplicação dos projetos de melhoria da qualidade de vida. 
Em síntese: “A Psicologia (Social) Comunitária utiliza o enquadre teórico da psicologia social (crítica), privilegiando o trabalho com os grupos, colaborando para a formação da consciência crítica e para a construção de uma identidade social e individual orientadas por preceitos eticamente humanos. ” (1996, p.73).
A comunidade é mais do que uma categoria científico-analítica, é categoria orientadora da ação e da reflexão e seu conteúdo é extremamente sensível ao contexto social em que se insere. • A Psicologia Social ao qualificar-se de comunitária, hoje, explicita o objetivo de colaborar com a criação desses espaços relacionais, que vinculam os indivíduos a territórios físicos ou simbólicos e a temporalidades partilhadas.
A busca do desenvolvimento da consciência crítica, da ética da solidariedade e de práticas cooperativas ou mesmo autogestionárias, a partir da análise dos problemas cotidianos da comunidade, marca a produção teórica e prática da psicologia social comunitária.
TEXTO COMPLEMENTAR A
DEFINIÇÃO E FINALIDADES DA PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA
Definição e finalidade: A psicologia comunitária é definida como uma área da psicologia social que estuda a atividade do psiquismo decorrente do modo de vida do lugar/comunidade. Estuda o sistema de relações e representações, identidade, níveis de consciência, identificação e pertinência dos indivíduos ao lugar/comunidade e aos grupos comunitários (GÓIS, 1993).
A ORIGEM: remonta a uma psiquiatria social e preventiva, bem como a dinâmicas e psicoterapias grupais. O desenvolvimento de movimentos que se manifestaram contra a falta de atenção social, no que diz respeito à participação coletiva no processo de tomada de decisões se tornou expressivo para o surgimento da psicologia comunitária. (teremos uma aula sobre essa temática)
NO BRASIL: Uma revisão da psicologia comunitária no Brasil não pode ser feita fora do contexto econômico e político do Brasil e da América Latina. Sem dúvida, o golpe militar de 1964 tem muito a ver como seu surgimento, pois se num primeiro momento, vivemos um período de extrema repressão e violência, quando uma reunião de cinco pessoas já era considerada subversão, ele fez com que, individualmente, os profissionais de psicologia se questionassem sobre a atuação junto à maioria da população, e de qual maneira seria o seu papel na sua conscientização e organização. (CAMPOS, 2009).
Bonfim (1994) faz uma retrospectiva da história da psicologia social no Brasil, nas décadas de oitenta e noventa. Nos anos oitenta, surgiram os primeiros cursos de pós-graduação na área da Psicologia Social e foi criada a Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO). Novas práticas emergiram como, por exemplo, os trabalhos em favelas, com meninos de rua, com os sem-terra e com pessoas da terceira idade, além de práticas em comunidades, organizações e instituições. A partir dos anos noventa, em uma sociedade ainda mais pobre, foi constatado um aumento significativo da população. Ao mesmo tempo, ocorria o fortalecimento da democracia e a criação de instituições em defesa dos direitos humanos; por exemplo, as que foram criadas com base no Estatuto da Criança e do Adolescente, que entrou em vigor em 1990. Decorrentes desse contexto surgiram demandas de novas formas de trabalho do psicólogo, voltadas para práticas psicossociais. Por contadessas demandas, o quadro conceitual precisou também ser revisto e ampliado.
No início dos anos 90, em nível nacional, presencia-se a expansão dos trabalhos dos psicólogos junto aos diversos segmentos da população. Entretanto, cabe salientar que essa expansão acontece dentro de um quadro variado de práticas, envolvendo diferentes pressupostos filosóficos e referenciais teóricos. (CAMPOS, 2009).
Nesse caso, começam a se desenvolver práticas nos diferentes setores públicos da sociedade, bem como em postos de saúde, secretaria do bem-estar social, ou em algum órgão ligado à família e aos menores. Essa atuação tem o objetivo de expandir e democratizar os serviços psicológicos em diversas áreas para a população em geral, esse trabalho tem continuidade e perpassa os dias atuais.
Conceito de Comunidade: Podemos dizer que uma comunidade se caracteriza por: a) ser um grupo de pessoas, não um agregado social, com determinado grau de interação social;**b) repartir interesses, sentimentos, crenças, atitudes; **c) residir em um território específico; e **d) possuir um determinado grau deorganização”. (SANCHEZ; WIESENFELD apud Gomes,1999).
Comunidade é conceito ausente na história das ideias psicológicas. Aparece como referencial analítico apenas nos anos de 1970, quando um ramo da psicologia social se autoqualificou de comunitária. Assim fazendo, definiu intencionalidades e destinatários para apresentar-se como ciência comprometida com a realidade estudada, especialmente com os excluídos da cidadania. (SAWAIA, 1994).
Importante salientar que o conceito de comunidade não é mérito exclusivo da psicologia social. Esse conceito introduziu a incorporação de um corpo técnico e epistemológico da psicologia social, pois, representou a criação de um campo teórico que visa transformar o homem no contexto em que vive, levando em consideração a sua subjetividade.
- As relações comunitárias que constituem uma verdadeira comunidade são relações igualitárias, que se dão entre pessoas que possuem iguais direitos e deveres. Essas relações implicam que todos possam ter vez e voz, que todos sejam reconhecidos em sua singularidade, onde as diferenças sejam respeitadas. E mais: as relações comunitárias implicam, também, a existência de uma dimensão afetiva, implicam que as pessoas sejam amadas, estimadas e benquistas. (CAMPOS 2009). Entretanto, isto não significa que o conflito não exista. 
UM PEQUENO TEXTO PARA REFLEXÃO Movimento e transformação: uma identidade profissional para os psicólogos. 
[...] Tenho resistido um pouco a discussões sobre a identidade da Psicologia, porque, em geral, essas discussões buscam uma cara para a Psicologia pensando em poder mantê-la depois de encontrada. 
QUERO UMA PSICOLOGIA QUE SE METAMORFOSEIE o tempo todo, acompanhando as mudanças da realidade social de nosso país. Não podemos querer uma Psicologia que seja a cristalização de uma mesmice de nós mesmos. Se ENTENDERMOS QUE A IDENTIDADE É MOVIMENTO, É METAMORFOSE, devemos entender que a identidade profissional nunca estará pronta; nunca terá uma definição. Estará sempre acompanhando o movimento da realidade. Penso que nos enganamos quando falamos que não temos identidade profissional. Temos sim. Temos uma identidade profissional que reflete a prática importante que temos tido, porém elitista, restrita, pouco diversificada e colada às necessidades e demandas de setores dominantes de nossa sociedade. Uma minoria que, possuindo condições de comprar nossos serviços, foi por muito tempo a única usuária deles. QUEREMOS AGORA DAR A VOLTA POR CIMA E CONSTRUIR UMA PROFISSÃO IDENTIFICADA COM AS NECESSIDADES DA MAIORIA DA POPULAÇÃO BRASILEIRA, UMA MAIORIA QUE SOFRE E QUE LUTA DADAS AS CONDIÇÕES DE VIDA QUE POSSUI. 
Identificar-se com as necessidades de nosso povo e acompanhar o movimento destas necessidades, sendo capazes de construirmos, sempre e permanentemente, respostas técnicas e científicas. É este o nosso desafio. QUEREMOS ESTAR EM BUSCA PERMANENTE, EM MOVIMENTO SEMPRE. QUEREMOS QUE O MOVIMENTO SEJA A NOSSA IDENTIDADE E QUE A INQUIETAÇÃO SEJA NOSSO LEMA.
TEXTO 2
A PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA E ACRÍTICA À PSICOLOGIA SOCIAL TRACIDIONAL
Conforme já comentado, a Psicologia Comunitária implica em formas de pensar e fazer psicologia voltada para a facilitação da conscientização dos grupos com quem trabalha para que eles assumam progressivamente seu papel de protagonistas de sua própria história, conscientes dos determinantes sociopolíticos de sua situação e ativos na busca de soluções para os problemas enfrentados. 
Para refletir: A Psicologia Social Comunitária busca contribuir com a construção da consciência crítica, da ética da solidariedade e de práticas cooperativas e autogestionárias a partir da análise dos problemas cotidianos da comunidade. 
Mas, para que vocês compreendam essa dinâmica, INICIALMENTE VAMOS ABORDARALGUNS CONCEITOS:
A psicologia social comunitária emerge da crítica à psicologia social tradicional (também identificada por psicologia social psicológica). 
A PSICOLOGIA SOCIAL TRADICIONAL aborda, especialmente, pequenos grupos tendo como principais focos de investigação e de intervenção questões relacionadas com o ajustamento social, com as atitudes e os estereótipos, assim como as relações interpessoais sem, no entanto, vincular tais processos com seus contextos históricos e culturais. Assim, concebe o homem como um ser abstrato e a-histórico e, portanto, descontextualizado das condições concretas de vida. 
O distanciamento da Psicologia Social tradicional dos problemas sociais e sua incapacidade de dar respostas a estes problemas levaram um grupo de Psicólogos Sociais a questioná-la em seus objetivos, concepções, ações e resultados. 
Esse movimento na Psicologia Social defendia a diversidade cultural e enfocava o contexto e a ideologia como questões que deveriam ser centrais na área. Preocupava-se também com uma relação mais ativa e comprometida dos Psicólogos com os problemas da sociedade.
Como representantes dessa corrente, temos Martín-Baró (de origem espanhola, mas que viveu muitos anos na América Central, em El Salvador), Sílvia Lane (brasileira) e Maritza Montero (venezuelana). Suas obras estão voltadas para a construção de uma Psicologia Social crítica, preocupadas com a realidade dos povos da América Latina e com os caminhos de mudança dessa mesma realidade. Nessa perspectiva se evidencia a participação social e o desenvolvimento da consciência crítica. Atualmente, esta prespectiva é identificada por Psicologia Social Crítica ou Psicologia Social sociológica. Entre as abordagens do âmbito da psicologia, destaca-se a Psicologia Sócio Histórica. 
TEXTO COMPLEMENTAR B
SUBJETIVIDADE, SUBJETIVAÇÃO E SINGULARIZAÇÃO
No imaginário social a subjetividade é algo interior, está dentro de cada um. Com esta concepção fica definido um espaço interno, tomado pela subjetividade, e um espaço externo, tomado pelo que não é subjetivo, o objetivo, o espaço da vida social. Tem-se uma oposição entre interno (subjetivo) e externo (mundo social) e, consequentemente, uma separação entre as experiências sociais e as experiências subjetivas, de modo dicotômico. No entanto, pensar na dicotomia interno x externo implicar em desconsiderar que a subjetividade é produzida por instâncias individuais, coletivas e institucionais, ou seja, “a subjetividade é plural”. Dessa forma, não existe uma instância que domine ou determine a outra. Por conseguinte, pode-se compreender que a subjetividade não é constituída somente pelo campo pessoal, mas é construída, significada e ressignificada no campo dos processos de produção social e material. 
“A subjetividade não é exclusivamente individual e nem exclusivamente coletiva, ela se desenvolve para além do indivíduo, junto ao social. Abordar a subjetividade humana desconectada de suas dimensões sociais, históricas e culturais pode produzir práticas eivadas de artificialismos” (MENDONÇA, 2007). 
Pensar em subjetividade fomenta a necessidade de refletir sobre processos de subjetivação e de singularização. Assim,convido você a pensar sobre tais processos: 
 SUBJETIVIDADE:é a síntese singular e individual que cada um de nós vai constituindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando experiências da vida social e cultural. É uma síntese que nos identifica, de um lado por ser única e nos iguala, de outro lado, na medida em que os elementos que a constituem são experienciados no campo comum da objetividade social. A Subjetividade é a maneira de sentir, pensar, fantasiar, sonhar, amar e fazer de cada um.
É o que constitui o nosso modo de ser: “sou filho de japoneses e militante de um grupo ecológico, detesto Matemática, adoro samba e blackmusic, pratico ioga, tenho vontade mas não consigo ter uma namorada. Meu melhor amigo é filho de descendentes de italianos, primeiro aluno da classe em Matemática, trabalha e estuda, é flamenguista fanático, adora comer sushi e navegar pela Internet.” Ou seja, cada qual é o que é: sua SINGULARIDADE E, AO MESMO TEMPO, É PLURAL porque somos influenciados e influenciamos as outras pessoas com as quais convivemos ou ainda, em função do momento histórico que singulariza cada grupo. 
EM SÍNTESE: Subjetividade é o mundo das ideias, significados e emoções construídos internamente pelo sujeito a partir de suas relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica; é também, fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais.
SUBJETIVAÇÃO: é, um modo de ser que é fabricado, produzido, modelado. (subjetividade/indivíduo; subjetividade social.***SINGULARIZAÇÃO: como processos de singularização ou ainda novos modos de subjetivação. A principal característica do processo de singularização é que ele seja auto modelador, isto é, ao invés de ficar na dependência de um poder exterior, globalizado, construir seus próprios tipos de referências e práticas. Se os grupos adquirem essa liberdade, têm a capacidade de autogerir sua própria situação, com a possibilidade de criação, sendo possível desenvolver sua autonomia. Importante é realçar que, alienação ou criação são processos, nunca aquisições definitivas. Isso significa que um indivíduo ou coletivo pode alternar momentos-processos de alienação ou criação – nada é definitivo
O individuo é “uma realidade histórico social que se encontra fortemente enraizado em um processo cultural que lhe é próprio, em um modo de vida social peculiar, em uma estrutura social de classes e em um determinado espaço histórico, geográfico, social, cultural, econômico, simbólico e ideológico”; compreende o individuo vivendo em uma dada realidade concreta, físico-social, participando de uma rede de relações sociais complexas (mais além do interpessoal e do grupal) de uma sociedade de classes historicamente determinada.
O entorno social não é algo necessário ou unicamente negativo e fonte de problemas e conflitos para indivíduos e grupos, mas é também fonte de recursos e potencialidades positivas. (...). 
O ENTORNO SOCIAL E CULTURAL É FONTE TANTO DE CONFLITOS COMO DE SOLUÇÕES. ISTO É, IMPÕE LIMITAÇÕES, MAS TAMBÉM APORTA RECURSOS. (MUSITU 2004, p.19)
É essencial que não nos centrarmos mais unicamente no indivíduo (MUSITU, 2004), mas sim é fundamental voltar o olhar para o entorno social e cultural, pensando de que forma este contexto contribuiu para a formação daquele indivíduo em particular. ENTENDENDO QUE É EXATAMENTE ESTE ENTORNO QUE IRÁ DAR OS SUPORTES NECESSÁRIOS E TAMBÉM AS DIFICULDADES INEVITÁVEIS PARA A FORMAÇÃO DE UMA PESSOA ENQUANTO CIDADÃO.
- Ao se fazer ciência, é necessária a participação da comunidade. A prática do psicólogo comunitário está mais voltada para o desenvolvimento de potencialidades e recursos do que em sanar déficits, buscando, sempre a potencialização da comunidade. Tem como meta, a transformação social. Sobre isso diz Lane (1996) “desenvolver grupos que se tornem conscientes e aptos a exercer um autocontrole de situações da vida através de atividades cooperativas e organizadas” (2004, p. 25).
Diferentemente das intervenções participativas e dirigidas, uma perspectiva situada de intervenção social não “encara” os problemas sociais a partir de um conhecimento especializado, mas sim implica em ações coletivas em prol de um objetivo comum, socialmente definido. Essas ações envolvem as vidas das pessoas, as relações, discursos e práticas sociais, com uma visão do social mais anarquista (MONTENEGRO, 2001).
TEXTO COMPLEMENTAR
Ações assistencialista e a perpetuação da população assistida na situação de “assistidos”
[...] Temos que salvá-los. Salvá-los da bebida, da preguiça, da desorganização, da ignorância, do subdesenvolvimento, da desnutrição, das pestes, da falta de higiene, da desinformação, da rua, das drogas, da morte. Nos regozijamos com nossa bondade e solidariedade. Até os tratamos de igual para igual, não é mesmo? Somos como gênios da lâmpada: "Faça seu pedido e ele será satisfeito!!!" E eles pedem e nós oferecemos: pedem comida, roupas, passagens de ônibus, consultas em hospital, remédios, dinheiro...
Nós oferecemos porque a ideia básica é não deixar ninguém totalmente desamparado e, portanto, aliviar a sua miséria, a sua falta de esperança. E, partindo dos nossos valores e estilos de vida, nos deduzimos que necessitam de um bom banho, de um médico, de educação, de um emprego…. 
Mas, com o tempo constatamos: eles não reconhecem a importância de nossa ajuda: não querem mudar e, por isso, cada vez pedem mais coisas. E, perguntamos: Por que não aproveitam as oportunidades que oferecemos? Para essa pergunta, emergem diferentes respostas, como por exemplo, “são ingratos!” ou “são preguiçosos”: preferem esperar que alguém resolva os seus problemas.
No entanto, caberia perguntar: Será que ao oferecer coisas e serviços, atendemos apenas a nossa demanda de ofertar? Será que ao “fazer de nosso desejo, o desejo deles, produzimos (e, naturalizamos) a passividade e por isso, eles não aproveitam as oportunidades que lhes oferecemos? ”
Para sair desse impasse que tal refletir acerca da seguinte dinâmica: Ao querer levar nossos ideais até outros, fazemos da demanda, além de invertida, infinita - pois ninguém conseguirá sustentar este lugar de provedor incondicional.... Enquanto se pensar em assistência social como repasse de recursos, sempre estaremos lidando com recursos finitos para uma demanda infinita.
Quando encerram-se os recursos, àqueles que nos procuram, nada temos a dar - a não ser um sorriso amarelo, e uma esperança: "volta daqui um tempo, vou colocar teu nome na lista de espera..." Assim, novamente, cabe perguntar: as nossas intervenções provocaram mudanças significativas na qualidade de vida das pessoas assistidas ou apenas fortaleceram no imaginário destas pessoas que, elas devem esperar que alguém as ajude? 
TEXTO 3
INSERÇÃO DO PSICÓLOGO NO ÂMBITO COMUNITÁRIO: considerações históricas
-Na década de 40 e 50 do século XX, o Brasil passava por transformações em seu modelo produtivo, saindo do agropecuário e passando para o agroindustrial. Essa mudança demandava um rearranjo na mão-de-obra e para isso ‘trabalhos em comunidades’ precisaram ser realizados visando preparar a população para a realização de tarefas adequadas ao novo modelo econômico. A intenção era educativa, buscando um trabalho em comunidades, com o objetivo de integrar a população ao programa de modernização que o contexto econômico demandava. 
Essa primeiras experiências práticas estiveram associadas, portanto, à educação popular, à medicina psiquiátrica comunitária e sempre sob a proteção e orientação do Estado. Sua tese sociológica central era a crença na modernização cultural e econômica, como via de progresso, através de reformas de base na agricultura, indústria e nos valores e atitudes da população. (SAWAIA, 1996, p. 45) 
Naquele momento histórico, esses trabalhos em comunidade, sem dúvida, ATENDIAM A INTERESSES GOVERNAMENTAIS(embora fosse uma prestação de serviços do governo junto à população, atendia, antes de tudo, à preocupação do governo quanto ao desenvolvimento econômico do país, tendo, portanto, um caráter PREDOMINANTEMENTE ASSISTENCIALISTAE PATERNALISTA).
- A década de 1960 foi marcada por FORTES CONFRONTOS ENTRE ESTADO E POPULAÇÃO, tendo de um lado o recrudescimento dos mecanismos de controle repressivo e, de outro, reivindicações de necessidades básicas, que se davam via manifestações populares.
Em OPOSIÇÃO AO REGIME MILITAR, A EDUCAÇÃO, COMO FOI PENSADA POR AUTORES COMO PAULO FREIRE, foi a via utilizada para que fosse possível promover o desenvolvimento DE UMA CONSCIÊNCIA CRÍTICA DA POPULAÇÃO, para que esta pudesse se posicionar no quadro social que o país apresentava, reivindicando de forma consistente e consciente os direitos que julgava necessários para o exercício de sua cidadania. 
Embora tais mudanças tenham ocorrido em pequenas proporções, foi o suficiente para que despertasse na população e nos acadêmicos, estudiosos das questões sociais - dentre eles o psicólogo, o interesse por mudanças políticas e sociais. Tratava-se de demandas sociais causadas a partir de um movimento sócio histórico. Neste contexto, MUITOS PSICÓLOGOS SAEM DOS CONSULTÓRIOS (onde atendiam, de forma individual e curativa a um pequena clientela (composta por grupos economicamente privilegiados) e são fomentadas novas práticas VOLTADAS PARA O ATENDIMENTO DA POPULAÇÃO EXCLUÍDA EM ASSOCIAÇÕES DE BAIRROS, CRECHES COMUNITÁRIAS E SINDICATOS. 
Especialmente na década de 1970, havia um trabalho voltado para a militância e participação políticas. Não havia, por parte dos profissionais, uma preocupação “com o crescimento das práticas educativas e de conscientização e libertação” (ANDERY, 1994, p. 209), pois, ‘como’ e ‘com que’ instrumentos o trabalho seria realizado, era uma preocupação secundária. Preocupavam-se com recrutamento de pessoas em apoio a um determinado ideal partidário. Tratava-se de um ativismo político.
Assim, nesse período encontramos duas vertentes: Ativismo político e filantropia (benefício, amparo, assistencialismo).
A PARTIR DAS CRÍTICAS DIRIGIDAS TANTO À VERTENTE “MILITÂNCIA” QUANTO À “FILANTRÓPICA”, OUTRA POSSIBILIDADE FOI SENDO CONCEBIDA: Uma proposta orientada pela preocupação de possibilitar mudança na realidade cotidiana da população, que caracteriza uma nova forma de inserção na comunidade. Esta nova forma de saber-fazer psicologia comunitária defende a subjetividade não seria somente do campo pessoal, mas do campo dos processos de produção social e material. 
Tal proposta aponta para uma organização da própria população para criar e buscar em torno de si, suas próprias condições (seu próprio poder e saber) para se autogestionar. A população não é vista nem como desamparada nem como desvalida. A proposta aqui “significa descobrir que a população é diferente sim, diferente dos padrões e previsões tradicionalmente científicas, sendo mais lutadora e sobrevivente do que tem sido considerada pelos centros de investigação” (Freitas, 1998, p. 183). Em outas palavras: defende que o problema nunca é somente individual, mas causado pela estrutura social, econômica e política. 
EM SÍNTESE: A inserção do psicólogo na comunidade pode ser orientada por diferentes motivos: militância, curiosidade, assistencialismo/filantropia e compromisso social direcionado para mudanças nas condições de vida. 
a) Militância (especialmente na década de 1970) os profissionais inseriram-se nos bairros de periferia e nas favelas dos grandes centros, tentando negar a sua origem cultural e de classe. Era importante fazer algo, colaborar para a organização e mobilização dos setores oprimidos. Como e com que instrumentais constituíam-se em questões, na época, de importância secundária. Tratava-se de uma inserção guiada por uma preocupação de que o trabalho estivesse voltado para a militância e participação políticas. 
Surgem: Os centros comunitários de saúde mental. ** Educação popular: Paulo Freire – alfabetização de adultos como instrumento de conscientização. Assim, sobre rótulo de psicologia social comunitária, emergem práticas voltadas para: (A) prevenção da saúde mental, unindo psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais. (B) educação popular com a participação de pedagogos, psicólogos, sociólogos e assistentes sociais.
b) Filantropia e fornecimento de assistência psicológica mais acessível ou gratuito: voltado para a melhoria das problemáticas das pessoas. De um lado, estaria a população que necessita de tratamento e/ou orientação psicológica e, de outro, o psicólogo oferecendo sua ajuda, preocupado em implantar serviços e estratégias psicológicas, para que a população melhor se adapte às exigências societais ou que, pelo menos, aprenda a minimizar seus problemas e sofrimentos. 
c) Curiosidade em conhecer “as populações desfavorecidas”. Universitários passaram a caminhar nos bairros populares fazendo entrevistas, questionários, aplicando escalas e vários outros instrumentos importados de outros contextos e modelos. A inserção acontece com uma preocupação da ordem da curiosidade científica. 
d) INSERÇÃO ORIENTADA PELO COMPROMISSO DE QUE O TRABALHO DEVE POSSIBILITAR MUDANÇA DAS CONDIÇÕES VIVIDAS cotidianamente pela população, ao mesmo tempo em que esta população é quem estabelece os caminhos e aponta as suas necessidades prementes. Trata-se de uma inserção que se dá na dependência de a população comprometer-se com a possibilidade de mudança social e construção de conhecimento. 
As comunidades surgem do simples fato de vivermos em simbiose, isto é, de viverem juntos num mesmo habitat indivíduos tanto semelhantes quanto diferentes e da ‘competição cooperativa’ em que se empenham. As relações comunitárias que constituem uma verdadeira comunidade são relações igualitárias, que se dão entre pessoas que possuem iguais direitos e deveres. Essas relações implicam que todos possam ter vez e voz, que todos sejam reconhecidos em sua singularidade, onde as diferenças sejam respeitadas. E mais: as relações comunitárias implicam, também, a existência de uma dimensão afetiva, implicam que as pessoas sejam amadas, estimadas e benquistas. (CAMPOS 2009).
A psicologia social ao qualificar-se de comunitária, hoje, explicita o objetivo de colaborar com a criação desses espaços relacionais, que vinculam os indivíduos a territórios físicos ou simbólicos e a temporalidades partilhadas num mundo assolado pela ética do “levar vantagem em tudo” e do “é dando que se recebe”. Esses espaços comunitários se alimentam de fontes que lançam a outras comunidades e buscam na interlocução da fronteira o sentido mais profundo da dignidade humana. Enfim ela delimita seu campo de competência na luta contra a exclusão de qualquer espécie. (SAWAIA, 1994).
Para reflexão: o psicólogo na comunidade trabalha fundamentalmente com a linguagem e representações, com relações grupais – vínculo essencial entre o indivíduo e a sociedade – e com as emoções e afetos próprios da subjetividade, para exercer sua ação à nível de consciência, da atividade e da intensidade dos indivíduos que irão, algum dia, viver em verdadeira comunidade. 
Estratégias de inserção do psicólogo no âmbito comunitário
Duas modalidades de inserção: (1) Com objetivos do trabalho definidos a priori(a partir dos objetivos, motivos e preocupações que orientam o psicólogo - antes mesmo deste conhecer a realidade em que pretende trabalhar- . (2) Com objetivos definidos aposteriori: o contato e a entrada que o psicólogo constrói na comunidade acontecem orientados pelas necessidades que a população vive. 
Possíveis consequências de cada tipo de inserção:
(1) A priori: torna-se mais fácil e menos incerto identificar os fenômenos psicossociais e os instrumentais que devem ser utilizados. O papel do psicólogo não é questionado e a comunidade é vista e se assume como imutável, tendo uma vida e uma dinâmica de relações já dadas e prontas, fortalecendo assim o conformismo e a passividade, adotando uma posição de mera receptora dos serviços e benefícios fornecidos pelo psicólogo. 
(2) A posteriori: uma inserção que lida com o domínio das incertezas e poderá acontecer de duas maneiras: (a)A incerteza sobre o quê e como fazer e o desconhecimento sobre asnecessidades e a vida da população existem apenas nos primeiros contatos. À medida que tais informações vão sendo obtidas,vão se delimitando aspectos e fenômenos, tais como temáticas possíveis para o desenvolvimento do trabalho de intervenção. Neste momento, cessa a participação da população, minimizam-se as incertezas para o profissional e, consequentemente, garantindo uma especificidade da sua atuação. (b) Os objetivos são delimitados dentro de um processo decisório participativo, em que tanto profissional como comunidade e seus representantes, estabelecem relações horizontais de discussão, análise e definição sobre as problemáticas a serem consideradas e as possibilidades de resolução e/ou enfrentamento para as mesmas. 
TEXTO COMPLEMENTAR C
INSERÇÃO DO PSICÓLOGO NA COMUNIDADE: instrumentos e estratégias (leitura facultativa) 
- O trabalho de entrada do psicólogo na comunidade depende de: Momento inicial: contatos e conhecimentos que faz quando se depara com a realidade concreta dos setores populares;intermediários, individuais e/ou coletivos, que procuram o profissional de psicologia, geralmente com uma expectativa de que ele faça algum tipo de atendimento individual para as problemáticas vividas no contexto comunitário; tentativas em que o próprio psicólogo faz de se fazer conhecer junto à comunidade ou aos seus representantes, orientadas pela preocupação de que é necessário colocar seus serviços à disposição desses setores. Neste tipo de contato, está implícita a aceitação de se submeter à avaliação sobre a necessidade do seu trabalho, com o risco de haver algum tipo de recusa. Depois de estabelecida a entrada: inicia-se um processo contínuo de obtenção de informações e de interações, em que o profissional está, de um lado, exercendo atividades que derivam da sua especificidade profissional, e de outro, sendo, de alguma maneira, também observado, registrado e avaliado pelos moradores daquele lugar.
- Instrumentos utilizados e/ou construídos nas situações que se apresentam quando do desenvolvimento do trabalho: entrevistas que muitas vezes são realizadas de maneira coletiva com um número variável de participantes do início ao fim; conversas informais acontecidas em estabelecimento comerciais, pontos de ônibus, caminhando nas ruas, cujos conteúdos vão fornecendo indícios sobre a dinâmica existente na comunidade e sobre o tipo de interação e vínculo que os moradores vão criando; visitas às casas e participação em alguma festividade/evento; registros de acontecimentos e/ou episódios significativos em diários de campo, acompanhados de apreciações sobre as interações, as problemáticas vividas e as alternativas de ações encontradas pelas pessoas; recuperação da história de constituição da comunidade através de fontes vivas, como pessoas significativas, lideranças formais e informais, representantes de entidades, igrejas e templos, entre outros; resgate de documentos do saber popular e uso de fotografias e/ou objetos e/ou produções oriundas da produção cultural local; encontros não programados, reuniões imprevistas e debates repentinos acontecidos no seio dos grupos formais e informais. Tais estratégias objetivam: coleta de informações sobre a vida, condições de moradia e sobrevivência, recuperação histórica da construção daquela comunidade; identificação de necessidades e problemáticas vividas pela população na esfera do seu cotidiano, em termos de processos psicossociais que afetam as pessoas; detecção dos modos alternativos de enfrentamento e resolução, encontrados pelos moradores no seu cotidiano e nas relações estabelecidas; discussão conjunta, com a comunidade e seus representantes, sobre as alternativas, e decisão sobre aquela a serem adotadas, assim como sobre as estratégias para sua viabilização; constituição dos grupos para a execução das alternativas; e avaliação contínua e reformulação dos caminhos adotados, em função das necessidades e impedimentos que se apresentarem ao longo do trabalho.
TEXTO 4
RELAÇÕES COMUNITÁRIAS, RELAÇÕES DE DOMINAÇÃO: um pequeno recorte
Relação e relações sociais: O termo relação significa que uma coisa não pode existir se não houver outra. Essa outra é uma parte essencial: se ela não existir, não existe relação. Então essa outra passa a fazer parte da definição de relação. As relações sociais implicam em um direcionamento de uma pessoa em relação à outra. As pessoas precisam de outra(s) para serem elas mesmas. Exemplo: Maria somente pode ser chamada de mãe porque tem um filho.
As relações sociais envolvem: união, conflito, rejeição, exclusão, inclusão.
Relações sociais e grupos: o que constitui um grupo são as relações sociais. As relações são dinâmicas. Por isso, possíveis mudanças nas relações sociais implicam em transformações do grupo. 
Multidão: pessoas que estão juntas em um mesmo lugar. As pessoas não se conhecem. A única relação que existe, pode ser comum dirigente, um líder. A multidão e o efeito do contágio: as pessoas podem se deixar guiar pelas emoções. A certeza da impunidade (pela dificuldade de identificar quem faz o quê) aumenta a irresponsabilidade. 
Público: constituem multidões, mas podem estar em lugares diferentes. Por exemplo: o público do Jornal Nacional. As pessoas que compõem esse público tem algo em comum: assistem ao programa (mesmo horário, mesmo dia). Neste caso, a relações são unidirecionais: partem de uma fonte para todos esses indivíduos. 
As relações podem ser de diferentes tipos que, por sua vez, podem ser alocados em duas categorias: relações de dominação, relações comunitárias.
Diferença entre pode e dominação: Pode r capacidade de uma pessoa ou um grupo de executar uma ação qualquer ou desempenhar uma prática. Nesse sentido todos tem poder porque possuem capacidade para executar alguma coisa. Dominação configura uma relação entre pessoas grupos ou pessoas e grupos, na qual uma parte se apropria do poder de outras. É uma relação assimétrica, desigual. 
Ideologia: uso de formas simbólicas (significados, sentidos) para criar, sustentar, reproduzir determinados tipos de relações. É o que dá sentido e significado as coisas. A Ideologia pode sustentar relações justas e éticas, mas também injustas, desiguais, como as relações de dominação.
Cotidianamente damos significados às experiências e aos objetos buscando simplificar e agilizar a nossa compreensão sobre os fatos sociais. Para tanto, frequentemente, são criados estereótipos. POR EXEMPLO: os argentinos são metidos, os cariocas não gostam de parar no sinal de transito. Os judeus são inteligentes. Assim, vamos criando juízos de valor, discriminações, estereótipos, ligando qualidades às pessoas e aos grupos. Os estereótipos quando negativos geram relações de dominação.
Diferença entre estereótipos e preconceito(conceitos científicos): O preconceito perpetua uma atitude hostil ou negativa para com determinado grupo, baseada em generalizações deformadas ou incompletas (ARONSON, 1999). Esta generalização (ou representação mental) é chamada estereótipo e significa atribuir características pessoais ou motivos idênticos a qualquer pessoa de um grupo, independentemente da variação individual. Os estereótipos são, ao mesmo tempo, a causa e a consequência do preconceito. No entanto, os estereótipos podem ter valência positiva ou negativa, enquanto o preconceito sempre está pautado em estereótipos que apresentam valência negativa. Exemplos: Os cariocas são simpáticos (estereótipo com valência positiva). Uma pessoa, usando roupas simples ou desgastadas entra em uma loja de joias e o vendedor chama o segurança com medo de possível assalto (estereótipo negativo em relação à classe social). 
FORMAS DE DOMINAÇÃO
Dominação Econômica. Exploração do trabalhador.Dominação política: relações entre pessoas em uma sociedade, entre Estado, governo e cidadãos. Quando não são democráticas, desrespeitam os direitos dos cidadãos. Dominação cultural: relações entre pessoas e grupos, que se cristalizam de tal modo que podem ser pensadas como se fizessem parte das pessoas. EXEMPLO: Racismo.O racismo é materializado através de práticas políticas e econômicas. EXEMPLO: Institucionalismo: quando uma instituição é colocada como a mais importante ou verdadeira em relação às outras, que pode legitimar repressões ou ações injustas aos que estão ligados em outras instituições. EXEMPLO: Patriarcalismo: A presença e, em inúmeros contextos, a banalização da violência doméstica dirigida à mulher denuncia que ocorrem situações de dependência (dominação) no interior do espaço familiar, particularmente das mulheres com relação aos homens. 
Relações comunitárias: definida a partir das relações que são estabelecidas em grupo. Neste caso constituem relações que potencializam a participação profunda dos membros de um grupo. “Um tipo de vida em sociedade onde todos se conhecem pelo nome, ou seja, uma sociedade onde o indivíduo participa se expressa e mantém sua identidade (singularidade)”. Comunidades que exercitam a democracia garantem uma sociedade democrática, pois envolve a participação e a garantia do exercício de direitos. 
TEXTO 5
CONCEITOS BÁSICOS: atividade, consciência e identidade
Conforme já descrito, a subjetividade humana surge do contato entre os homens e dos homens com a natureza, isto é, esse mundo interno que possuímos e suas expressões são construídas nas relações sociais. 
O objeto da psicologia social: compreender como se dá a construção desse mundo interno a partir das relações sociais vividas pelo homem. O mundo objetivo passa a ser visto não como fator de influência para o desenvolvimento da subjetividade, mas como fator constitutivo. Para tanto apresenta três conceitos básicos de análise: ATIVIDADE, CONSCIÊNCIA E IDENTIDADE. 
CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE: 
ATIVIDADE: É a unidade básica fundamental da vida do sujeito material. É através da atividade que o homem se apropria do mundo, ou seja, é a atividade que propicia a transição daquilo que está fora do homem para dentro dele. Pense na criança, onde isso tudo fica mais evidente. Ela se apropria do mundo engatinhando, andando ou percorrendo com os olhos o mundo circundante. Ela manuseia os objetos, desmonta-os (infelizmente, nós compreendemos isso, às vezes, como destruição), monta-os, balança, lambe, ouve, vê, enfim, do PONTO DE VISTA DA PSICOLOGIA SOCIAL, COLOCA-OS PARA DENTRO DE SI, TRANSFORMA-OS EM IMAGENS E EM IDEIAS QUE PASSAM A HABITAR SEU MUNDO INTERNO.
A atividade humana é a base do conhecimento e do pensamento do homem. Estamos considerando que os indivíduos apresentam uma necessidade de manter uma relação ativa com o mundo externo. PARA EXISTIRMOS, PRECISAMOS ATUAR SOBRE O MUNDO, TRANSFORMANDO-O DE ACORDO COM NOSSAS NECESSIDADES. AO FAZER ISSO, ESTAMOS CONSTRUINDO A NÓS MESMOS,
O homem constrói o seu mundo interno na medida em que atua e transforma o mundo externo. Mundos externo e interno são, portanto, imbricados, pois são construídos num mesmo processo, e a existência de um depende da do outro.
CONSCIÊNCIA: A consciência humana expressa a forma como o homem se relaciona com o mundo objetivo. As aranhas constroem suas teias e reagem à vibração nelas produzida por insetos que ali ficam presos. Essa é a forma como as aranhas reagem ao mundo externo. As abelhas, os pássaros, os peixes e todos os animais apresentam uma maneira específica de relação com o mundo. O homem também apresenta o seu modo de reagir ao mundo objetivo: ELE O COMPREENDE, ISTO É, TRANSFORMA- O EM IDEIAS E IMAGENS E ESTABELECE RELAÇÕES ENTRE ESSAS INFORMAÇÕES, DE MODO A COMPREENDER O QUE SE PRODUZ NA REALIDADE AMBIENTE. A CONSCIÊNCIA É, ASSIM, UM CERTO SABER. NÓS REAGIMOS AO MUNDO COMPREENDENDO-O, “SABENDO-O”.
A consciência não se limita apenas ao saber lógico. Ela inclui o saber das emoções e sentimentos do homem, o saber dos desejos, o saber do inconsciente.
A consciência do homem é produto das relações sociais que os homens estabelecem. E esse estabelecer está diretamente implicado com condições externas, tais como trabalho, a vida social e a linguagem. 
O homem encontra um mundo de objetos e significados já construídos pelos outros homens. Nas relações sociais, ele se apropria desse mundo cultural e desenvolve o “sentido pessoal”. Produz, assim, uma compreensão sobre o mundo, sobre si mesmo e os outros, compreensão construída no processo de produção da existência, compreensão que tem sua matéria-prima na realidade objetiva e na realidade social, mas que é própria do indivíduo, pois é resultado de um trabalho seu. 
Estuda-se a consciência através de suas mediações. No mundo observável, vamos encontrar, por exemplo, as representações sociais, veiculadas pela linguagem, que são expressões da consciência. Quando alguém discursa ou simplesmente fala sobre algum assunto, está se referindo ao mundo real e expressa sua consciência através das representações sociais. 
A representação social é a denominação dada ao conjunto de ideias que articula os significados sociais, isto é, o sentido construído coletivamente para o objeto com o sentido pessoal. Envolve crenças, valores e imagens que os indivíduos constroem, no decorrer de suas vidas, a partir da vivência na sociedade.
IDENTIDADE: é a denominação dada às representações e sentimentos que o indivíduo desenvolve a respeito de si próprio, a partir do conjunto de suas vivências.
A identidade é a síntese pessoal sobre o si mesmo, incluindo dados pessoais (por exemplo: cor, gênero e idade), biografia (trajetória pessoal), atributos que os outros lhe conferem, permitindo uma representação a respeito de si.
Estamos nos transformando a cada momento, a cada nova relação com o mundo social e sabemos disso. A consciência que desenvolvemos sobre “quem sou eu” acompanha esse movimento do real, às vezes com mais facilidade, às vezes com menos, mas acompanha.
A mudança nas situações sociais, a mudança na história de vida e nas relações sociais determinam um processar contínuo na definição de si mesmo.
A análise de três categorias fundamentais - ATIVIDADES, CONSCIÊNCIA E IDENTIDADE – só se faz pelo registro de mediações com a linguagem (e o pensamento), ferramenta essencial para as relações com os outros e que irá constituir os conteúdos da consciência.
E são também estas relações que se desenvolvem através de atividades que, por sua vez, sofrem a mediação das emoções, individuais, possivelmente constituindo conteúdos inconscientes presentes tanto na consciência como na atividade e na identidade. 
O profissional de psicologia na comunidade trabalha fundamentalmente com a linguagem e representações, com relações grupais e com as emoções e afetos próprios da subjetividade, para exercer sua ação em nível da consciência, da atividade e da identidade dos indivíduos que irão, algum dia, viver em verdadeira comunidade (LANE, 2013)
TEXTO COMPLEMENTAR D
Consciência, Cultura, abordagem interacionista e representações sociais
- De modo geral, os trabalhos em Psicologia Comunitária focalizam: CONSCIÊNCIA: trabalho de conscientização, ou seja, desvelamento junto ao grupo, os determinantes de sua condição de vida. **CULTURA: descrição de práticas específicas de determinadas populações e dos significados compartilhados pelos membros do grupo em relação a sua prática. 
A problemática do convívio e do diálogo em grupos de diferentes inserções socioculturais e com histórias diversas ocupa lugar de destaque entre as preocupações de psicólogos que atuam em comunidades. 
As publicações da área divulgam estudos em que é analisada a psicossociologia de diferentes grupos e caracterizados por similaridades em termos de classe ou lugar social, gênero e etnia, em interação com a sociedade inclusiva. • Os conceitos utilizados para descrever essas interações decorrem das principais teorias utilizadas em psicologia social: cognitiva, representações sociais e interacionismo.
Cognição social: Enfatizam o estudo da consciência e exploram o efeito do pensamento e da interpretação dos sujeitos sobre a atividade social; • Inspirados na Gestalt, estes teóricos se interessam especialmente pelo modo como os processos mentais internos às pessoas impõem formasao mundo externo. • Nesse sentido, acreditam que a percepção dos eventos é a principal variável que influencia a conduta do sujeito social.
Abordagem sociointeracionista: O conhecimento se constrói na interação social. • Vygotsky é o principal representante dessa abordagem. Para ele, o conhecimento seria social antes de ser individual, e os artefatos criados pela atividade humano, bem como a linguagem, seriam os principais mediadores no processo de internalização da cultura.
Para o sócio interacionistas, os seres humanos vivem em um ambiente em constante transformação, pois os artefatos culturais e a linguagem são transformados pela própria atividade dos grupos humanos em interação; • Cada artefato cultural contém, além de sua forma física, o código de condutas e de interações que o tornou possível, e que condiciona a ação das novas gerações que o utilizam.
Representações sociais: Estuda a maneira como as representações sociais são hegemônicas em determinada formação social; • A ênfase será o estudo do aspecto social, isto é, interindividual, das representações; •A construção da representação deixa de ser individual, e passa a ser uma função simbólica do grupo social em seu conjunto.
A interpretação da cultura como empreendimento intersubjetivo: O campo de estudo delimitado pela psicologia social que norteia possibilidades de intervenção em comunidades é constituído pela análise da cultura; • O conceito de cultura refere-se, precisamente, a este conjunto de significados compartilhados que orientam a conduta dos indivíduos. • Estes significados, se por um lado apresentam as características de homogeneidade e a duração, tendo em vista suas origens na tradição e na história do grupo, são também questionados pelo movimento de construção de novas práticas, que por sua vez, na interação, produzem novos significados.
A psicologia social trabalha com conceitos que permitem trabalhar as relações culturais em situações de diálogo, contribuindo para desenvolver a capacidade de análise de novas interpretações. • Esta é precisamente a situação na qual se encontram muitos dos trabalhos comunitários com os quais se envolvem os psicólogos sociais. • E assim se movimenta o estudo psicossociológico dos grupos multiculturais: de uma abordagem centrada no indivíduo passamos à história do grupo social como fonte de representações que os indivíduos se fazem uns com os outros, para chegar a uma abordagem em que a própria análise das representações se torna um empreendimento intersubjetivo.
A interpretação dos sujeitos imersos na cultura é resultante de um processo de reflexão no qual a análise focaliza precisamente os diferentes pontos de vista envolvidos na definição da situação. • Para a psicologia social comunitária, estas contribuições são relevantes, na medida em que apontam para os aspectos cruciais do processo de conscientização: a cultura, como construção intersubjetiva de significado, e o diálogo, como contexto para a problematização e reconstrução cultural.
TEXTO COMPLEMENTAR D
PSICOLOGÍA SÓCIOHISTÓRICA: considerações iniciais
A Psicologia Sócio-Histórica tem como pilar a Psicologia Histórico-Cultural desenvolvida por Vygotsky, assim como por seus parceiros de trabalho, Luria e Leontiev, na ex-União Soviética durante a primeira metade do século XX. 
A abordagem sócio histórica é baseada no marxismo, fundamentada nos princípios e no método do materialismo histórico dialético e concebe o homem como um ser ativo, social e histórico, isto é, um homem que “é moldado pela cultura que ele próprio cria” (LUCCI, 2006, online). 
Esse método é denominado materialismo porque considera que a única realidade é a matéria, rejeitando concepções quec oncebem a existência de um princípio espiritual que liga a realidade à matéria e a suas modificações. É também identificado por dialético porque defende que a única realidade é a matéria em permanente movimento. Assim, cada ação possui em si o seu contrário, traz em si o germe de sua própria negação. A negação, por sua vez, entra em choque com a afirmação e este choque vai gerar um novo elemento.
O materialismo dialético é também histórico porque “as sociedades humanas viabilizam suas relações a partir das relações de produção, que em seu conjunto constituem a estrutura econômica da sociedade” (MARTINELI; LOPES, 2009, online). Partindo desse pressuposto é possível compreender que as diferentes dimensões da subjetividade, por serem produzida em um determinado momento histórico, expressam as contradições internas dos sistemas sociais. Tais contradições ao fomentar formas de pensar, sentir e agir, propiciam, simultaneamente, novas formas de ser e de se relacionar com os outros, produzindo constantes movimentos de transformação social.
Contexto em que nasce o projeto de Vygotsky: O autorsurge na psicologia num momento significativo para a nação russa. Logo após ter-se consolidado a revolução, emerge uma nova sociedade, que, consequentemente, exige a constituição de um novo homem. Nesse sentido, a primeira missão que a Revolução imprimiu para a psicologia foi a análise dos problemas de aplicação prática. Por sua formação humanista e sua bagagem cultural, Vygotsky reunia as condições necessárias para idealizar uma nova concepção de Educação, Pedologia (ciência da criança) e Psicologia.
Os objetivos de sua teoria são: caracterizar os aspectos tipicamente humanos do comportamento e elaborar hipóteses de como essas características se formam ao longo da história humana e de como se desenvolvem durante a vida do indivíduo.
PRINCIPAIS PRESSUPOSTOS DE VIGOTSKY: A teoria histórico-cultural ou sociocultural do psiquismo humano de Vygotsky, também conhecida como abordagem sociointeracionista, toma como ponto de partida as funções psicológicas dos indivíduos, as quais classificou de elementares e superiores, para explicar o objeto de estudo da sua psicologia: a consciência.
A teoria do desenvolvimento vygotskyana parte da concepção de que todo organismo é ativo e estabelece contínua interação entre as condições sociais, que são mutáveis, e a base biológica do comportamento humano: . Nesta perspectiva, o processo de desenvolvimento segue duas linhas diferentes em sua origem: um processo elementar, de base biológica, e um processo superior de origem sociocultural.
Funções psicológicas elementares: são de origem biológica; estão presentes nas crianças e nos animais; caracterizam- se pelas ações involuntárias (ou reflexas); pelas reações imediatas (ou automáticas) e sofrem controle do ambiente externo.
Funções psicológicas superiores: são de origem social; estão presentes somente no homem; caracterizam-se pela intencionalidade das ações, que são mediadas. Elas resultam da interação entre os fatores biológicos (funções psicológicas elementares) e os culturais, que evoluíram no decorrer da história humana. Dessa forma, Vygotsky considera que as funções psíquicas são de origem sociocultural, pois resultaram da interação do indivíduo com seu contexto cultural e social.
Segundo Vygotsky, o desenvolvimento mental é marcado pela interiorização das funções psicológicas. O que nós interiorizamos são os modos históricos e culturalmente organizados de operar com as informações do meio. 
Vygotsky considerava que a aquisição da linguagem constitui o momento mais significativo no desenvolvimento cognitivo. Ela, a linguagem, representa um salto de qualidade nas funções superiores; quando ela começa a servir de instrumento psicológico para a regulação do comportamento, a percepção muda de forma radical, novas memórias são formadas e novos processos de pensamento são criados.
É pela mediação que o indivíduo se relaciona com o ambiente, pois, enquanto sujeito do conhecimento, ele não tem acesso direto aos objetos, mas, apenas, a sistemas simbólicos que representam a realidade. É por meio dos signos, da palavra, dos instrumentos, que ocorre o contato com a cultura.
Nesse sentido, a linguagem é o principal mediador na formação e no desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Ela constitui um sistema simbólico,elaborado no curso da história social do homem, que organiza os signos em estruturas complexas permitindo, POR EXEMPLO, NOMEAR OBJETOS, DESTACAR SUAS QUALIDADES E ESTABELECER RELAÇÕES ENTRE OS PRÓPRIOS OBJETOS. O surgimento da linguagem, como já foi dito anteriormente, representa UM SALTO QUALITATIVO NO PSIQUISMO, ORIGINANDO TRÊS GRANDES MUDANÇAS. 
A primeira está relacionada ao fato de que ela permite lidar com objetos externos não presentes. A segunda permite ABSTRAIR, ANALISAR E GENERALIZAR CARACTERÍSTICAS DOS OBJETOS, SITUAÇÕES E EVENTOS. Já a terceira se refere a sua FUNÇÃO COMUNICATIVA; EM OUTRAS PALAVRAS, “A PRESERVAÇÃO,TRANSMISSÃO E ASSIMILAÇÃO DE INFORMAÇÕES E EXPERIÊNCIAS ACUMULADAS PELA HUMANIDADE AO LONGO DA HISTÓRIA”. 
É justamente pela sua função comunicativa que o indivíduo se apropria do mundo externo, pois é pela comunicação estabelecida na interação que ocorrem “negociações”, reinterpretações das informações, dos conceitos e significados.
A linguagem materializa e constitui as significações construídas no processo social e histórico. Quando os indivíduos a interiorizam, passam a ter acesso a estas significações que, por sua vez, servirão de base para que possam significar suas experiências, e serão estas significações resultantes que constituirão suas consciências, mediando, desse modo, suas formas de sentir, pensar e agir.
Considerando-se a origem do indivíduo (ontogênese), ocorrem dois saltos qualitativos no seu desenvolvimento. O primeiro, quando o indivíduo adquire a linguagem oral, e o segundo, quando adquire a linguagem escrita.
OUTRO PONTO FUNDAMENTAL PARA O SEU DESENVOLVIMENTO: o papel desempenhado pela aprendizagem.
Desse ponto de vista, para que o indivíduo se desenvolva em sua plenitude, ele depende da aprendizagem que ocorre num determinado grupo cultural, pelas interações entre seus membros.
A aprendizagem é encarada como um processo que antecede o desenvolvimento, ampliando-o e possibilitando a sua ocorrência. Em outras palavras, os processos de aprendizagem e desenvolvimento se influenciam mutuamente, gerando condições de que quanto mais aprendizagem, mais desenvolvimento e vice-versa.
NO CONTEXTO DA APRENDIZAGEM SÃO CONSIDERADOS dois níveis de desenvolvimento. Um corresponde a tudo aquilo que a criança pode realizar sozinha e o outro, às capacidades que estão se construindo; isto é, refere-se a tudo aquilo que a criança poderá realizar com a ajuda de outra pessoa que sabe mais. Esta última situação é a que melhor traduz, segundo Vygotsky, o nível de desenvolvimento mental da criança.
Entre esses dois níveis, há uma zona de transição, na qual o ensino deve atuar, pois é pela interação com outras pessoas que serão ativados os processos de desenvolvimento. Esses processos serão interiorizados e farão parte do primeiro nível de desenvolvimento, convertendo-se em aprendizagem e abrindo espaço para novas possibilidades de aprendizagem.
TEXTO COMPLEMENTAR D
PSICOLOGIA SÓCIO HISTÓRICA: breve reflexão sobre o compromisso profissional e social do psicólogo
Entre os principais referencias, encontra-se Vigotski e, portanto, fundamenta-se no marxismo e adota o materialismo histórico e dialético como filosofia, teoria e método. Nesse sentido, conforme já assinalado, concebe o homem como ativo, social e histórico. A sociedade, como produção histórica dos homens que, através do trabalho, produzem sua vida material. As ideias, como representações da realidade material. A realidade material, como fundada em contradições que se expressam nas ideias. E a história, como o movimento contraditório constante do fazer humano, no qual, a partir da base material, deve ser compreendida toda produção de ideias, inclusive a ciência. 
A Psicologia Sócio Histórica não trabalha com a concepção liberal de homem e de fenômeno psicológico. Acredita que o fenômeno psicológico se desenvolve ao longo do tempo. Assim: o FENÔMENO PSICOLÓGICONÃO PERTENCE À NATUREZA HUMANA• o fenômeno psicológico NÃO PRÉ EXISTE AO HOMEM• o fenômeno PSICOLÓGICO REFLETE A CONDIÇÃO SOCIAL, ECONÔMICA E CULTURAL EM QUE VIVEM OS HOMENS.
Falar da subjetividade humana é falar da objetividade onde vivem os homens. A compreensão do “mundo interno” exige a compreensão do “mundo externo”, pois são dois aspectos de um mesmo movimento, de um processo no qual o homem atua e constrói/ modifica o mundo e este, por sua vez, propicia os elementos para a constituição psicológica do homem.
A psicologia não tem sido capaz de, ao falar do fenômeno psicológico, falar de vida, das condições econômicas, sociais e culturais nas quais se inserem os homens. A psicologia tem, ao contrário, contribuído significativamente para ocultar estas condições. Fala-se da mãe e do pai sem falar da família como instituição social marcada historicamente pela apropriação dos sujeitos; fala-se da sexualidade sem falar da tradição judaico-cristã de repressão à sexualidade; fala-se da identidade das mulheres sem se falar das características machistas de nossa cultura; fala-se do corpo sem inseri-lo na cultura; fala-se de habilidade e aptidões de um sujeito sem se falar das suas reais possibilidades de acesso à cultura; fala-se do homem sem falar do trabalho; fala-se do psicólogo sem falar do cultural e do social. Na verdade, não se fala de nada. Faz-se ideologia!
Ideologia: “criação de universais abstratos, isto é, a transformação das ideias particulares da classe dominante em ideias universais de todos e para todos os membros da sociedade. Essa universalidade das ideias é abstrata porque não corresponde a nada real e concreto, visto que no real existem concretamente classes particulares e não a universalidade humana. As ideias da ideologia são, pois, universais abstratos”. (Chauí, 1981, p.95). A ideologia é, assim, uma representação ilusória que fazemos do real. O ilusório da ideologia está em que parte da realidade fica ocultada nas constituições ideais. 
NA PSICOLOGIA, AO CONSTRUIRMOS AS NOÇÕES E TEORIZAÇÕES SOBRE O FENÔMENO PSICOLÓGICO TEM FICADO OCULTADA A SUA PRODUÇÃO SOCIAL.Com isto, as consequências são danosas do ponto de vista das possibilidades da psicologia contribuir para a denúncia e a transformação das condições de vida constitutivos do fenômeno.
A psicologia histórica parte da premissa de que o mundo social e o mundo psicológico caminham juntos em seu movimento e a psicologia para compreender o mundo psicológico terá obrigatoriamente que trazer para seu âmbito a realidade social na qual o fenômeno psicológico se constrói; e por outro lado, ao estudar o mundo psicológico estará contribuindo para a compreensão do mundo social. Tal dinâmica possibilitará e exigirá do psicólogo um posicionamento ético e político sobre o mundo social e psicológico.
Conforme já comentado, o fenômeno psicológico não preexiste no homem. Se desenvolve conforme o homem se insere na sociedade, nas relações e na cultura. Ali estão as possibilidade do homem se tornar humano. A humanidade do homem está na cultura, nas relações sociais e nas formas de produção da vida. É lá que o homem vai buscar os elementos para sua constituição.
A concepção histórica do fenômeno psicológico permite que se pense o homem e o mundo em permanente movimento; permite que se construa uma prática profissional e saberes em Psicologia colados a um projeto de sociedade; permite que o psicólogo perceba claramente sua profissão como um fazer social, que incentiva um determinado projeto de transformação social. A concepção histórica do fenômeno psicológico contribui significativamente para a superação de perspectivas estigmatizadoras que a Psicologia desenvolveu. O homem é visto como uma construção do homem. O controle, a categorização e a diferenciação deixam de ser entendidas como naturais, para serem lidas como um determinado compromisso da Psicologia com as necessidades e projetos sociais.
Os processos a serem analisados são da objetivação do homem em seu mundo e o da apropriação do mundo, pelo homem, para se constituir. O homem atua, pondo no mundo social seus conteúdos individuais. O homem se objetivano mundo e faz isto junto com os outros homens. Assim, a humanidade vai se constituindo no mundo, nos objetos, na cultura, nas formas de sobrevivência e de produção humanas. De lá, que o homem vai retirar o material para se constituir. Vai se apropriar da humanidade que construiu ao transformar o mundo. Vai retomar para si a humanidade que construiu. Assim, o homem se constrói ao construir o seu mundo.
Pensar desta forma a subjetividade nos coloca em uma outra relação com o mundo social. Passamos a perceber a necessidade de nos posicionarmos sobre qual homem e qual sociedade queremos estimular. Isto porque, passamos a pensar que o mundo psicológico não está pronto e nem mesmo tem direção para seu desenvolvimento dado naturalmente. Nossas intervenções profissionais são, portanto, direcionamentos. Qual mundo queremos estimular? Qual sociedade? Qual subjetividade? Qual homem?
Ao mesmo tempo em que esta tarefa, de definirmos o projeto de nossa intervenção, se coloca como obrigatória, outro ganho acontece. Passamos a nos ver, como profissionais, que através de nossas intervenções atuamos no mundo; mudamos o mundo; nos objetivamos no mundo. Nos vemos, então, como sujeitos que transformam o mundo a partir de sua prática profissional. Isto passa a exigir que façamos de nosso projeto profissional, um projeto político, de construção do âmbito coletivo.
Queremos, com a perspectiva histórica na Psicologia, reverter esse processo e nos comprometermos com outros setores da população. Queremos acreditar que é possível pensar que os sofrimentos psíquicos que temos e que nossos conteúdos e estruturas psíquicas são reflexo de um mundo de competição, de discriminação, de estigmatização, de diferenciação... E que querer trabalhar para mudar esses quadros é, também, acreditar que um mundo melhor é possível. É em prol desse projeto, de um mundo melhor, que queremos colocar nossa profissão.
Texto extraído de: BOCK, Ana M. Bahia. A perspectiva histórica da subjetividade: uma exigência para la Psicologia atual. Psicología para América Latina Revista de laUniónLatinoamericana de Psicología. Disponível em: www.psicolatina.org. Acesso em: 26 out. 2015. LUCCI, Marcos A.A proposta de Vygotsky: a psicologia sócio histórica. Profesorado: revista de currículum y formacióndelprofesorado, 10, 2 (2006). Disponível em: http://www.ugr.es/~recfpro/rev102COL2port.pdf Acesso em: 26 out. 2015.
TEXTO 6
REFLETINDO SOBRE A NOÇÃO DE EXCLUSÃO: notas de aula I
Os discursos sobre a exclusão social estão continuamente presente na mídia, no discurso político e nos planos e programas governamentais. O processo de exclusão não é apenas um fenômeno que ocorre nos países pobres: ele sinaliza o destino excludente das parcelas majoritárias da população, em função das transformações das transformações do mundo do trabalho e dos modelos e estruturas econômicas que geram desigualdades absurdas na qualidade de vida. 
Pensar criticamente a exclusão como um mecanismo de produção da desigualdade social impõe um mergulho na complexidade e nas controvérsias do mundo atual, trazendo a reflexão para o campo ético, o que implica uma discussão de valores e dos efeitos da ordem capitalista sobre a vida das pessoas.
Mendigos, pedintes, vagabundos, marginais povoaram historicamente os espaços sociais, constituindo universos estigmatizados que atravessaram séculos. Porém, a partir dos anos 90 do século XX que uma nova noção – a de exclusão – vai protagonizar o debate intelectual e político.
Se atualmente a maioria dos problemas sociais são apreendidos através da noção de exclusão, é preciso ver aí, ao mesmo tempo, o resultado da degradação do mercado de emprego, particularmente forte no início da década, e também a evolução das representações e das categorias de análise que incluem pessoas qualificadas para o trabalho e em situação de desemprego duradouro ou que nunca conseguiram ingressar no mercado de trabalho.
Atribui-se a René Lenoir a invenção da categoria “exclusão social”. Este pesquisador, em 1974,já salientava algo extremamente importante para o psicólogo social comunitário: a exclusão não é um fenômeno individual, mas social, cuja origem deveria ser buscada no funcionamento da sociedade moderna. 
Principais causas: Rápido e desordenado processo de urbanização, inadaptação e uniformização do sistema escolar, desenraizamento (mobilidade profissional), desigualdade de renda e acesso aos serviços. Assim, a exclusão social atinge todas as camadas sociais. O fenômeno da exclusão é tão vasto que é quase impossível delimitá-lo. Cabe, portanto indagar: é possível categorizar quem são os excluídos? 
Excluídos são todos aqueles que são rejeitados de nossos mercados materiais ou simbólicos, de nossos valores. Excluídos não apenas física, geográfica ou materialmente. Não apenas de mercado ou de suas trocas. Mas de todas as riquezas espirituais porque seus valores não são reconhecidos, ou seja, há também uma exclusão cultural. Essas pessoas pertencem à denominada nova pobreza.
Quem pertence à nova pobreza? Os desempregados de longa duração que vão sendo expulsos do mercado produtivo e os jovens que não conseguem entrar nele. Os excluídos nesse contexto não são residuais ou temporários, como eram os pobres antes do neoliberalismo. 
No Brasil o tema foi inicialmente registrado por Helio Jaguaribe (que utilizou a expressão apartação social) e também na mídia e na academia nos anos de 1980. **APARTAÇÃO SOCIAL: A desigualdade social, econômica e política na sociedade brasileira chegou a um ponto incompatível com o processo de democratização da sociedade. **No Brasil há uma discriminação econômica, social e política, além de étnica. A exclusão inclui pobreza, discriminação, subalternidade, não equidade, não acessibilidade e não representação pública. Isto significa que a exclusão é social e, portanto, as causas não são individuais. .
APARTAÇÃO SOCIAL (Cristóvão Buarque): um processo pelo qual denomina-se o outro com um ser “à parte”. Ou seja, o fenômeno de separar o outro, não apenas como desigual, mas como um “não semelhante”, um ser expulso não somente dos meios de consumo, dos bens, serviços, etc., mas do gênero humano. Forma de intolerância social. Então, toda forma de pobreza leva a formas de ruptura de vínculo social e representa na maioria das vezes um acumulo de déficit e precariedades. Noção que busca demonstrar o papel essencial da dimensão simbólica no fenômeno de exclusão social.
Conceitos que compõem o universo da exclusão: de acordo com autores franceses contemporâneos de diferentes matrizes psicológicas e sociológicas.
- Desqualificação: processo relacionado a fracassos e sucessos de integração. Aparece como contrário da integração social, a partir da obra de Paugan. Pobreza: produto de uma construção social e problema de integração normativa e funcional que passa pelo emprego. O Estado é convocado a criar políticas indispensáveis à regulamentação do vínculo social, como garantia da coesão social. 
- Desinserção: conceito trabalhado por Gaujel (ênfase no papel essencial da dimensão simbólica nos fenômenos de exclusão):os estudos também analisam questões sobre emprego e vinculo social, mas ressaltam os fatores de ordem simbólica. Para os autores “não existe uma relação direta ente desinserção e situação social desfavorável, logo não há relação imediata entre desinserção e pobreza. Nessa perspectiva, é o sistema de valores de uma sociedade que define os “fora da norma” como não tendo valor ou utilidade social, o que conduz a tornar a desinserção como fenômeno identitário, na articulação entre elementos objetivos e subjetivos.
- Desafiliação: termo cunhado por Robert Castel. Significa uma ruptura de pertencimento, de vinculo societal. Desafiliado éaquele cuja trajetória é feita de uma série de rupturas com relação a estados de equilíbrio anteriores, mais ou menos estáveis ou instáveis. Inclui as populações com insuficiência de recursos materiais e também aquelas fragilizadas pela instabilidade do tecido relacional: desta forma ocorre, não somente com ospaupérrimos, mas também com aqueles que tiveram rupturas no vinculo societal. 
Castel é um crítico da concepção de exclusão: a heterogeneidade de usos do conceito e uso banalizado. Esse cenário promove: analise setoriais descontínuas e deslocadas da lógica econômica do neoliberalismo acarretando em políticas públicas apenas “encobridoras dessa lógica” 
Em síntese: Para além das controvérsias e das diferentes categorias de análise do termo, a exclusão na modernidade transformou o “exército de mão de obra de reserva” (que pautavam as relações de dominação) para um contingente extremamente significativo de indivíduos desnecessários e descartáveis. **NO BRASIL: particularmente, a pobreza e exclusão são faces de uma mesma moeda. Se por um lado cresce cada vez mais a distância entre os excluídos e os incluídos de outro essa distância nunca foi tão pequena, uma vez que os incluídos estão ameaçados de perder direitos adquiridos.
TEXTO 7
PROCESSOS PSICOSSOCIAIS DA EXCLUSÃO: notas de aula II
Exclusão: expressão polissémica, no entanto existe um ponto em comum: o nível de interação entre pessoas e entre grupos, que delas são agentes ou vítimas. Tema básico da psicologia social. 
QUESTÕES DA PSICOLOGIA SOCIAL: O que faz com que em sociedades que cultuam valores democráticos e igualitários as pessoas sejam levadas a aceitar a injustiça, a adotar ou tolerar aqueles que não são seus pares ou com eles práticas de discriminação que os excluem? 
COMO A PSICOLOGIA SOCIAL ABORDOU, ao longo da sua história, essa questão? Inicialmente dirigia a atenção aos comportamentos hostis que dão à exclusão manifestações externas, tais como linchamentos e os pogroms(estudos norteados pela teoria da frustração–agressão e em seus desdobramentos: o deslocamento sobre um “bode expiatório” e a submissão à autoridade. Em seguida, foram abordadas outras temáticas com ênfase nos estudos sobre a personalidade autoritária e no racismo simbólico. 
1. Teoria da frustação–agressão e possíveis desdobramentos: a produção de bodes expiatórios e a submissão à autoridade
- Desde antes da 2ª guerra mundial: prevaleceu a teoria da frustração-agressão que aborda a existência de motivações hostis. Tais motivações são ativadas em situações de frustração. 
Essa teoria defendia que o Impedimento para alcançar uma meta poderia provocar um estado de cólera que aumentaria a tendência agressiva. Por exemplo: entre 1882 e 1930, no sul dos USA, quanto mais o preço do algodão caía, ocorria um número maior de linchamentos de negros. Ou em relação aos judeus: a antipatia e hostilidade aumentava quando as pessoas ficavam insatisfeitas com as mudanças econômicas (1947)
Os exemplos acima descritos apontam para o fenômeno do “bode expiatório”: nem sempre é possível manifestar comportamentos abertamente agressivos(ocorre de maneira disfarçada por medo da desaprovação social). Por isso, essas condutas emergem na forma de estereótipos e preconceitos negativos Exemplo: suplício aos judeus pelos nazistas.
Observa-se ainda o poder de submissão :experimentos clássicos realizados em laboratórios. Exemplo: estudantes administram choques em alguém que supostamente está sofrendo em função desse ataque. Resultados: 60 a 80% apertam o botão elétrico sob o comando do pesquisador. Destaca-se que isto não é exclusão social, mas evidencia que o outro pode não ser mais tratado como pessoa ou que o laço de solidariedade pode ser rompido. 
- A propensão para prejudicar o outro também pode ser explicada pelo processo de culpabilização. Esta dinâmica tem como pilar a crença de um mundo justo: as pessoas têm o que merecem e merecem o que têm. Quanto mais se pensa que a pena infligida é forte e longa, menos se está inclinado para avaliar positivamente a vítima. Por exemplo: se as mulheres soubessem se comportar não existiriam tantos estupros. 
2.Personalidade autoritária e racismo simbólico. Escola de Frankfurt: teoria da personalidade autoritária: associam a personalidade e a ideologia para explicar posições racistas e antidemocráticas (que estão ligadas). 
PERSONALIDADE AUTORITÁRIA (características): atitudes políticas conservadoras (respeito à ordem instituída e, portanto, resistência às mudanças), etnocentrismo (a diferença é classificada como deficiência ou como um perigo à ordem social, política e econômica vigente). 
A personalidade autoritária pode ser modelada por uma educação familiar autoritária: intolerância frente ambiguidade e recusa à introspecção. Apesar de a pessoa defender, por exemplo, a cultura da paz tende a justificar ações de violência dirigido ao não semelhante. Nesse tipo de personalidade existe o predomínio de clichês e estereótipos (mesmo que pareçam contraditórios).
Críticas à teoria da personalidade autoritária: ênfase a dimensão intrapsíquica. Entretanto, destaca-se a sua relevância: atraiu a atenção para o papel dos grupos de pertencimentos e nos sistemas de comunicação mediáticos na transmissão e cristalização do preconceito. Exemplo: Estudos do Canadá mostram que um nível elevado de autoritarismo de direita é o melhor preditor da manifestação de preconceito dirigido aos grupos minoritários (homossexual, indianos, paquistaneses). Os participantes das pesquisas justificavam o preconceito alegando que o grupo discriminado ameaçava os valores morais da sociedade. Neste caso, é possível identificar a manifestação do preconceito simbólico. 
3ª Racismo e preconceito simbólico: representa uma forma de resistência a mudanças no status quo das relações racializadas nos EUA pós Declaração dos Direitos Civis. Esta forma de racismo se baseia em sentimentos e crenças de que os negros violam os valores tradicionais americanos do individualismo ou da ética protestante (obediência, ética do trabalho, disciplina e sucesso). **Nesta perspectiva as atitudes contra os negros decorrem menos da percepção por parte do grupo dominante de que os negros constituem uma ameaça econômica concreta, e mais da percepção dos negros como uma ameaça simbólica, ameaça aos valores e à cultura do grupo dominante.** Os negros são percebidos como violadores dos valores que mantêm o status quo das relações inter-raciais.
No Brasil, uma análise cuidadosa das características positivas atribuídas aos negros indica uma nova e mais sofisticada forma de preconceito, uma vez que os estereótipos positivos aplicados definem claramente papéis sociais específicos para este grupo. Podemos pensar que se eles são musicais, são também aptos para o ritmo e para a dança, se são fortes, estão aptos para o trabalho braçal, e se são alegres, não devemos nos preocupar com a sua situação social, pois nem eles têm consciência dela.
Novos Racismos (racismo moderno)ou Novos Preconceitos: Expressões utilizadas para categorizar e analisar as formas sutis de manifestação do preconceito (essas formas são criadas pelas pessoas em função da legislação antirracista e dos princípios democráticos ). 
Em síntese, o racismo moderno direcionado ao negro baseia-se nas seguintes crenças e avaliações: (a) a discriminação é uma coisa do passado porque os negros podem agora competir e adquirirem as coisas que eles almejam; (b) os negros estão subindo economicamente muito rápido e em setores nos quais não são bem-vindos; (c) os meios e as demandas dos negros são inadequados ou injustos e, (d) os ganhos recentes dos negros não são merecidos e as instituições sociais lhes dão mais atenção do que eles deveriam receber.
4º PARADIGMA DO GRUPO MÍNIMO: Tendência a favorecer os membros do grupo ao qual pertencemos em detrimento do representante do outro grupo e a maximizar a diferença entre o endogrupo e o exogrupo.**A imagem que temos de nos próprios encontra-se ligada àquela que temos do nosso grupo, isso nos conduz a defendermos os valores dele. Tal proteção nós impulsiona, inicialmente, diferenciar e, em seguida, a excluir aqueles que eu não estou neles. 
MAS, COMO ESSE PROCESSO É POSSÍVEL SE PERTENCEMOS A MUITOS GRUPOS? Buscamos estabelecer um critério de diferenciação categorial: nos grupos dominantes, haveria uma acentuação

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