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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI VICE-REITORIA DE GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS CURSO DE DIREITO A BUSCA PELA CONCRETIZAÇÃO DO DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES PELO VIÉS DO INSTITUTO DA ADOÇÃO GUSTAVO AMPESE GHIDORSI . Itajaí, junho de 2017 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI VICE-REITORIA DE GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS CURSO DE DIREITO A BUSCA PELA CONCRETIZAÇÃO DO DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES PELO VIÉS DO INSTITUTO DA ADOÇÃO GUSTAVO AMPESE GHIDORSI Trabalho de Conclusão de Curso de Direito submetido à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Direito. Orientador: Professor Dr. Clovis Demarchi Itajaí, junho de 2017 AGRADECIMENTO À minha excepcional família, em especial à minha mãe, à minha avó e ao meu avô, por serem os responsáveis pela pessoa que sou, pois me apoiaram incondicionalmente ao longo do percurso, em todos os sentidos possíveis, e que serão para sempre os verdadeiros responsáveis pelos méritos alcançados, e merecedores do meu amor. Aos bons amigos conquistados no período em que fui agraciado pela oportunidade de estágio na 2ª Vara da Família, Infância e Juventude da comarca de Balneário Camboriú – SC; em especial às brilhantes colegas Deisi Vieira, Michelli Marian, Senira Mantovani, Silvia Uber, Vivian Rubin Krüel, e ao Excelentíssimo Sr. Dr. Claudio Barbosa Fontes Filho, todos responsáveis direta ou indiretamente pela escolha e dedicação ao tema abordado. Aos amigos e colegas de turma pelo companheirismo nesta incrível e marcante jornada. Ao professor orientador Clóvis Demarchi, pelo empenho despendido em todas as etapas de elaboração da presente monografia. A todos os demais professores que tive a oportunidade de conhecer durante o curso, pois são os responsáveis por proporcionar mais uma vitória na minha vida. DEDICATÓRIA Dedico o presente trabalho a todas as crianças e adolescentes que esperam ansiosamente pela chance de se verem inseridas junto ao amor de uma família. TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. Itajaí, junho de 2017 Gustavo Ampese Ghidorsi Graduando PÁGINA DE APROVAÇÃO A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Gustavo Ghidorsi, sob o título “A busca pela concretização do direito à convivência familiar de crianças e adolescentes pelo viés do instituto da adoção”, foi submetida em 07 de junho de 2017 à banca examinadora composta pelos seguintes professores: Dr. Clovis Demarchi, orientador e presidente da banca, e MSC. Maria Fernanda Amaral Pereira Gugelmin Girardi e aprovada com a nota 10 (dez). Itajai, 07 de junho de 2017 Professor Dr. Clovis Demarchi Orientador e Presidente da Banca Prof. MSc. Artur José Martins Coordenação da Monografia SUMÁRIO RESUMO ............................................................................................... X INTRODUÇÃO ..................................................................................... 11 Capítulo 1 ............................................................................................. 14 ASPECTOS EVOLUTIVOS DO INSTITUTO DA ADOÇÃO ............... 14 1.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DO INSTITUTO DA ADOÇÃO NO MUNDO ....... 14 1.1.1 Na época pré-romana................................................................................. 14 1.1.2 Na Roma antiga .......................................................................................... 15 1.1.3 Na idade média ........................................................................................... 16 1.1.4 No código civil francês .............................................................................. 17 1.2 A EVOLUÇÃO LEGISLATIVA DO INSTITUTO DA ADOÇÃO NO BRASIL .. 17 1.2.1 A Adoção no Código Civil de 1916 ........................................................... 18 1.2.2 A Adoção na Constituição da República Federativa de 1988 ................ 22 1.2.3 A Adoção no Estatuto da Criança e do Adolescente .............................. 24 1.2.3.1 A criação do Estatuto da Criança e do Adolescente como legitimador do Princípio da Proteção Integral ...................................................................................... 24 1.2.3.2 A Adoção à luz do Estatuto da Criança e do Adolescente ............................. 28 1.2.4 A adoção no Código Civil de 2002 ............................................................ 30 1.2.5 A dualidade de sistemas jurídicos e o advento da lei da adoção – lei nº 12.010/09 .............................................................................................................. 36 Capítulo 2 ............................................................................................. 38 ELEMENTOS INFORMADORES INTRÍNSECOS AO INSTITUTO DA ADOÇÃO ............................................................................................. 38 2.1 CONCEITO DE ADOÇÃO E SUA NATUREZA JURÍDICA ............................ 38 2.2 REQUISITOS GERAIS DA ADOÇÃO ............................................................ 41 2.2.1 Legitimidade para a adoção ...................................................................... 42 2.2.2 A adoção unilateral e a adoção por duas pessoas ................................. 43 2.2.3 Quem não pode adotar? ............................................................................ 45 2.2.4 Contraste de idade entre adotando e adotante ....................................... 46 2.2.5 Consentimento para a adoção e hipótese de dispensa .......................... 47 2.2.6 O estágio de convivência .......................................................................... 49 2.3 A ADOÇÃO COMO MEDIDA EXCEPCIONAL ASSOCIADA AO REAL BENEFÍCIO AO ADOTADO ................................................................................. 51 2.4 DO PROCESSO DE CADASTRO AO PROCESSO JUDICIAL ..................... 53 2.4.1 Da habilitação para o cadastro de pretendentes à Adoção .................... 54 2.4.2 A inscrição no cadastro e a Ação de Adoção .......................................... 56 2.5 OS EFEITOS DA ADOÇÃO............................................................................ 60 2.5.1 Efeitos de ordem pessoal .......................................................................... 61 2.5.1.1 Rompimento automático do vínculo de parentesco com a família de origem ........................................................................................................................................ 61 2.5.1.2 Estabelecimento de verdadeiros laços de parentesco civil entre adotando e adotado ..........................................................................................................................62 2.5.1.3 Transferência definitiva e de pleno direito do poder familiar para o adotante ........................................................................................................................................ 63 2.5.1.4 A modificação do nome patronímico e a possibilidade de mudança do prenome ......................................................................................................................... 63 2.5.1.5 Determinação do domicílio do adotado ........................................................... 64 2.5.1.6 Possibilidade da propositura de ação de investigação de paternidade ........ 64 2.5.2 Efeitos de ordem patrimonial .................................................................... 65 2.5.2.1 Direito do adotante de administração e usufruto dos bens do adotado menor ........................................................................................................................................ 66 2.5.2.2 Dever recíproco na prestação de alimentos .................................................... 66 2.5.2.3 O direito e a reciprocidade nos efeitos sucessórios ...................................... 67 2.5.2.4 O rompimento de testamento e a revogabilidade de doações feitas pelo adotante no caso de superveniência de filho adotivo ................................................ 68 Capítulo 3 ............................................................................................. 69 A CONCRETIZAÇÃO DO DIREITO FUNDAMENTAL À CONVIVÊNCIA FAMILIAR PELO VIÉS DO INSTITUTO DA ADOÇÃO .............................................................................................................. 69 3.1 A CONSTRUÇÃO DA BASE NORMATIVA DE PROTEÇÃO À INFÂNCIA .. 69 3.1.1 Gênese: o florescer do direito no cenário internacional ........................ 70 3.1.2 A evolução internacional respaldada no Brasil ....................................... 73 3.2 ESTADO, SUJEITO DE DIREITOS E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS ....... 74 3.2.1 Dos direitos humanos aos direitos fundamentais: uma linha tênue ..... 76 3.2.2 Conceito de direito fundamental e seu conteúdo ético e normativo ..... 78 3.3 DIREITOS FUNDAMENTAIS DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES: APLICAÇÃO E LEGITIMAÇÃO JUNTO AO ESTADO, A FAMÍLIA E A SOCIEDADE ......................................................................................................... 80 3.4 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS ELENCADOS PELO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ........................................................................ 83 3.5 DO DIREITO FUNDAMENTAL DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES À CONVIVÊNCIA FAMILIAR ................................................................................... 84 3.5.1 A caracterização da família e sua flexibilidade como perspectiva de mudanças ............................................................................................................ 85 3.5.2 Intervenção estatal e a institucionalização da criança e do adolescente: um problema enraizado na construção social do Brasil ................................. 86 3.5.3 O instituto da adoção como alternativa concretizadora do direito fundamental à convivência familiar ................................................................... 90 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 98 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 104 RESUMO O instituto da adoção sempre foi um cenário cercado de discussões, preconceitos, preocupações, emoções e esperanças. Visto como prática extraordinária, a adoção teve sua origem na necessidade do homem em permear seu legado na história, limitando a criança a um papel objetificado, qual era resgatado somente na impossibilidade ou necessidade de se perpetuar a família. Essa situação se modifica quando, ao longo dos séculos, crianças e adolescentes passaram a conquistar notável espaço em meio a agenda política dos Estados, onde foi se construindo uma vasta gama de direitos em favor do seu reconhecimento como sujeitos de direitos, prioritários no meio social, político e econômico de uma nação. Nesse sentido, buscava-se na família moderna – fundada em laços de amor e fraternidade –, o berço para um desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes, passando a ser garantido, no Brasil, o direito fundamental à convivência junto ao seio familiar afim de proporcionar tais benefícios. Porém, à mercê de uma construção social com preceitos padronizados, criou-se uma cultura à institucionalização infanto-juvenil que se estende até os dias atuais, onde a situação vem sendo agravada por políticas públicas ineficazes de um Estado falho. A adoção, então, passa a se destacar como um meio alternativo para concretizar o direito de crianças e adolescentes estarem inseridos no seio de uma família. E é baseado nessa premissa que o presente trabalho vem apresentar argumentos em prol da importância de se reconhecer o instituto da adoção como importante aliado nessa busca. INTRODUÇÃO A presente Monografia tem como objeto o instituto da adoção e o direito fundamental à convivência familiar de crianças e adolescentes. O seu objetivo é abordar a forma como a prática da adoção foi e é aplicada no Brasil, e de que maneira ela pode vir a ser um caminho alternativo à concretização do direito fundamental à convivência familiar de crianças e adolescentes que não podem mais estarem inseridas em suas famílias de origem. Para a presente monografia foram levantados os seguintes problemas: a) O instituto da adoção pode ser considerado uma alternativa eficaz na persecução do direito à convivência familiar de crianças e adolescentes? b) A sociedade está apta a ser parte na concretização do direito à convivência familiar de crianças e adolescentes? c) No que diz respeito ao direito à convivência familiar, o Estado vem cumprindo com seu dever legal de dar prioridade à proteção da criança e do adolescente? Frente a estes problemas, foram levantadas as seguintes hipóteses: a) entende-se que o instituto da adoção é uma alternativa eficaz na persecução do direito à convivência familiar de crianças e adolescentes; b) entende-se que a sociedade não está integralmente apta a ser parte na concretização do direito à convivência familiar de crianças e adolescentes; c) entende-se que o Estado não vem cumprindo com seu dever legal de priorizar a proteção da criança e do adolescente no sentido de garantir o direito à convivência familiar das mesmas. 12 Para buscar a confirmação ou não destas hipóteses, o trabalho foi dividido em três capítulos a saber: No Capítulo 1, trata-se acerca dos aspectos evolutivos referentes ao instituto da adoção, especificamente quanto a sua evolução histórica e legislativa, onde serão analisadas as características próprias do instituto em alguns momentos relevantes em sua trajetória evolucionária. No Capítulo 2, trata-se da contextualização do instituto da adoção na seara jurídico-doutrinária, onde serão salientados alguns pontos fundamentais referentes às suas generalidades, buscando apresentar um panorama abrangente, porém sem pretensão de se esgotar a perquisição no aprofundamento da matéria. No Capítulo 3, aborda-se as nuances do direito fundamental à convivência familiar garantido às crianças e adolescentes, analisando os pontos concernentes ao que o instituto da adoção veio e vem contribuindo para a concretização de tal direito em meio aos percalços enfrentados pelas milhares de crianças em situação de acolhimento institucional; assim como desenvolver uma visão crítica às formas como são vistas algumas práticas e procedimentos do instituto em pauta, quando verificados à luz da realidade sociale jurídica a que se destinam. O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre importância de se ter a adoção como importante aliada na persecução de garantir o direito à convivência familiar de crianças e adolescentes institucionalizados. Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de Investigação1 foi utilizado o Método Indutivo2, na Fase de Tratamento de Dados 1 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente estabelecido [...].” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. 13 ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2015. p. 87. 2 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção 13 o Método Cartesiano3, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia é composto na base lógica indutiva. Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas do Referente4, da Categoria5, do Conceito Operacional6 e da Pesquisa Bibliográfica7. ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 91. 3 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22- 26. 4 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 58. 5 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma ideia.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 27. 6 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das ideias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 39. 7 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 215. Capítulo 1 ASPECTOS EVOLUTIVOS DO INSTITUTO DA ADOÇÃO Neste primeiro capítulo, o objetivo será o de tratar os aspectos evolutivos acerca do instituto da adoção, especificamente quanto a sua evolução histórica e legislativa, onde serão analisadas as características próprias do instituto em alguns momentos relevantes em sua trajetória evolucionária. 1.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DO INSTITUTO DA ADOÇÃO NO MUNDO 1.1.1 Na época pré-romana De comum acordo doutrinário, não se sabe exatamente em qual ponto da linha histórica o instituto da Adoção foi concebido. Tem-se, porém, na antiguidade, os primeiros registros de normas reguladoras do assunto pelo Código de Hamurabi (1.728 – 1686 a.C.), qual disciplinava, na seção XI, intitulada de “Adoção, ofensas aos pais, substituição de criança”, onze dispositivos acerca do assunto.8 “Naqueles tempos recuados o critério fundamental do legislador era considerar, antes de mais nada, se o adotado podia ou não ser reclamado pelos seus pais legítimos, critério que lhe serve para ordenar cada um dos dispositivos”.9 Um pouco mais à frente da primeira dinastia babilônica, berço do código de normas do Rei Hamurabi, tem-se o Sistema Jurídico Hindu, igualmente influenciado pela religião, onde encontra-se o “Manusmrti”, que, segundo Ribeiro, 10 “é uma literatura tradicional sobre as regras de conduta (dharmas) [...] [que] equivocadamente são chamadas pela doutrina como ‘Código de Manu’, [...] revelado entre 200 a. C e 200 d. C.” No “Manusmrti”, encontram-se 5.400 versículos distribuídos em 12 livros, tratando dos mais variados assuntos. Em especial, traz-se à baila a 8 RIBEIRO, Marcus Vinicius. História do direito. São Paulo: Montecristo, 2012. E-Book, p. 23-24 9 CHAVES, Antônio. Adoção. Belo Horizonte: Del Rey. 1995. p. 48. 10 RIBEIRO, Marcus Vinicius. História do direito. p. 45. 15 Lei IX, X: “Aquele a quem a natureza não deu filhos, pode adotar um, para que as cerimônias fúnebres não se extingam”.11 Assim, complementa Coulanges12 que: O dever de perpetuar o culto doméstico foi a fonte do direito de Adoção entre os antigos. [...] Adotar um filho, portanto, era velar pela continuidade da religião doméstica, pela salvação do fogo sagrado, pela continuação das ofertas fúnebres, pelo repouso dos manes dos antepassados. Como a Adoção não tinha outra razão de ser além da necessidade de evitar a extinção do culto, seguia- se daí que não era permitida se não a quem não tinha filhos. Ademais, “embora conhecido o instituto no Egito, na Caldéia, na Palestina, poucos antecedentes existem para determinar, com segurança, os requisitos, os efeitos e as formalidades exigidas”.13 1.1.2 Na Roma antiga O instituto da Adoção se destacou pela primeira vez de forma disciplinada no direito romano antigo, momento em que se difundiu notoriamente.14 Era considerada uma instituição de direito privado que se assemelhava à finalidade da naturalização provinda do direito público, uma vez que esta findava conceder a cidadania ao estrangeiro, enquanto a Adoção tinha por escopo repousar um estranho alheio ao seio da família romana, ressalvando direitos e deveres de filho-família. Todavia sua principal finalidade era perpetuar o culto doméstico, e, segundamente, eternizar o nome da família, evitando assim a sua extinção.15 Sabe-se que a Adoção, no direito romano antigo, representava um ato solene ao qual se admitia como filho outrem que não era 11 COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. Tradução de Frederico Ozanam Pessoa de Barros. São Paulo: Editora das Américas S.A. 2006. E-Book, p. 46. 12 COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. p. 46. 13 CHAVES, Antônio. Adoção. p. 49. 14 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v.6. p. 339. 15 CHAVES, Antônio. Adoção. p. 49. 16 proveniente de sua prole natural.16 Neste interim, complementa Gomes,17 que a Adoção: [...] ocorria em relação ao alieni juris, determinando a submissão do filho adotivo à patria potestas do adotante. Realizava-se por um destes três processos: 1°) a mancipatio; 2°) o contrato; 3º) o testamento. Ainda, de importância ressaltar que o instituto da Adoção representava uma notável e preponderante finalidade política e econômica, visto que era uma das maneiras em que os romanos podiam auferir cidadania e também a transferência de mão-de-obra dentre as famílias.18 1.1.3 Na idade média Com a expansão colossal do catolicismo nesse período histórico, o instituto em pauta acabou por apresentar um vultoso encolhimento, posto que afrontava diretamente os interesses da Igreja Católica. Assim, aqueles que não pudessem instituir uma prole biológica acabariam por deixar seu patrimônio para a Igreja, o que não aconteceria se a Adoção fosse recepcionada pela comunidade cristã, motivo pelo qual não houve previsão do instituto no direito canônico.19 Tendo advindo sob o aspecto de família patriarcal, que resplandecia ao autônomo e aprimorado conjunto social, político, religioso e econômico de seu precedente romano, tem-se, então, a causa do desprezo acerca do instituto da Adoção nesse período, visto não seacomodar às instituições e costumes que se formavam.20 16 RODRIGUES, Dirceu A. Victor. Dicionário de brocardos jurídicos. São Paulo: Ateniense, 1995, p. 22. 17 GOMES, Orlando. Direito de família. 14 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 369. 18 SILVA FILHO, Artur Marques da. O regime jurídico da adoção estatutária. São Paulo: RT, 1997, p. 20. 19 MARCÍLIO, Maria Luisa. História social da criança abandonada. São Paulo: Hucetec, 1998, p. 301. 20 CHAVES, Antônio. Adoção. p. 51. 17 No direito hispano-lusitano não existia propriamente o instituto da Adoção. Havia o chamado “perfilato”, que, em suma, assemelhava-se à Adoção, mas tinha por escopo principal a questão patrimonial, sendo que criava parentesco e permitia os direitos à sucessão.21 1.1.4 No código civil francês Após o período de obscuridade enfrentado pelo instituto da Adoção na idade média, este vem a ser resgatado pelo então Código Civil Francês, de 1804, mais conhecido como “Código de Napoleão”. O citado Código, na sua forma originária, como lecionam Veronese e Petry:22 [...] só admitia a Adoção dos maiores de idade (art. 346), com a reforma de 1923 passou-se a admitir a Adoção de menores. Em 1939, ocorreu outra profunda reforma com a criação do instituto da “legitimação adotiva”, dando tal modificação nova redação ao art. 343, do Código Civil Francês: “A Adoção não pode ter lugar a não ser que haja justos motivos e que apresente vantagens para o adotado. Tem-se aqui um marco para os adotandos, pois pela primeira vez a vontade dos adotantes passa para o segundo plano, enquanto dá-se destaque às vantagens e interesses daqueles que até então eram vistos como relegados.23 1.2 A EVOLUÇÃO LEGISLATIVA DO INSTITUTO DA ADOÇÃO NO BRASIL Hoje a Adoção é guiada à luz de sua própria lei, esta qual é resultado dos vários anos de profunda evolução experimentada pela junção do 21 MARCÍLIO, Maria Luisa. História social da criança abandonada. p. 16. 22 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 17. 23 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 17. 18 conjunto: filiação adotiva, justiça e dignidade constitucional, mesclados à evolução do próprio Direito de Família Brasileiro.24 Como todos os institutos jurídicos evoluídos – e aqui não se aplica à palavra “evoluído” o seu sentido absoluto, mas sim como mero aperfeiçoamento e desenvolvimento, resguardado seu desígnio evolutivo – a Adoção, como visto previamente, sujeitou-se a diversas transformações e percepções diferentes para cada povo e época em que perdurou. Antes de se adentrar ao assunto do desenvolvimento do instituto no conjunto de normas jurídicas brasileiras, vale ressaltar que a Adoção no direito pré-codificado brasileiro, fazia alusão às Ordenações Filipinas, pois pelo fato de não ser sistematizado pelo ordenamento jurídico, permitia, assim, a utilização do instituto pelos juízes que eram então obrigados, devido à falta de referências, a suprir as lacunas apoiados na interpretação moderna do direito romano.25 1.2.1 A Adoção no Código Civil de 1916 Com a entrada do Código Civil de 1916, o qual se mantinha bastante conservador dentre suas regras, a Adoção foi disciplinada com a finalidade de preservar e proporcionar a continuidade da família, tendo como forte influência os princípios romanos. Assim, os casais desafortunados pelo malgrado da infertilidade eram favorecidos pelo direito brasileiro a ter êxito em alcançar o deleito de ter os filhos que a natureza lhes negara, razão pela qual se permitia apenas aos maiores de 50 anos, sem prole legítima ou legitimada, usufruir do instituto da Adoção, visto que a probabilidade de não virem a ter filhos com essa idade era grande.26 24 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: Direito de família. As famílias em perspectiva constitucional. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 663. 25 BEVILÁQUA, Clóvis. Direito de família. Campinas: Red Livros, 2001. 26 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. p. 339. 19 Acerca da regulamentação do instituto da Adoção pela entrada do Código Civil de 1916, complementa Dias,27 que este: [...] chamava de simples a Adoção tanto de maiores como de menores; [...] [sendo que] a Adoção era levada a efeito por escritura pública e o vínculo de parentesco estabelecia-se somente entre o adotante e ao adotado. (sem grifo no original). Nessa perspectiva, Diniz28 denomina a Adoção simples também como “restrita”, mas a define no mesmo sentido de que “[...] era a concernente ao vínculo de filiação que se estabelece entre o adotante e o adotado [...]”. Com o passar do tempo a Adoção passou a desempenhar um papel filantrópico, indo muito além de apenas dar filhos aos que não possuíam a sorte de tê-los. Tornou-se uma ferramenta humanitária ao proporcionar um novo lar aos menores desamparados.29 Essa mudança decorreu da implementação da Lei n. 3.133, de 8 de maior de 1957, ao qual reduziu a idade mínima do adotante de 50 para 30 anos de idade, tendo ou não prole natural.30 Nesse sentido, explica Rodrigues,31 que “o legislador não teve em mente remediar a esterilidade, mas sim facilitar as adoções, possibilitando que um maior número de pessoas, sendo adotado, experimentasse melhoria em sua condição moral e material”. Ainda que o adotado detivesse a sorte de adentrar em uma família, o Código Civil de 1916 não o integrava totalmente ao seio familiar. Isto porque o Art. 378, do aludido diploma legal, tratava que “os direitos e deveres que resultam do parentesco natural não se extinguem pela Adoção, exceto o pátrio 27 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 9 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 498. 28 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 573. 29 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. p. 339-340. 30 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. p. 340. 31 RODRIGUES, Silvio. Direito civil. 28 ed. São Paulo: Saraiva, 2004. 20 poder, que será transferido do natural para o adotivo”.32 Tal disposição veio a dar origem a práticas ilegais de simulacros de Adoção, denominadas pela jurisprudência de “Adoção simulada” ou “Adoção à brasileira”, as quais se caracterizavam pelo registro de filho alheio como próprio, buscando se desatar do vínculo com a família biológica que o Art. 377, do Código Civil de 1916, condicionava.33 O embaraço jurídico-social da época referente ao instituto tradicional da Adoção, trazido pelo Código Civil de 1916, é retratado por Pereira,34 que em seus ensinamentos explana: Era [...] muito frequente o recurso a um simulacro de legitimação, pelo qual os pais (mais comumente a mãe), recebendo uma criança, faziam constar de seu Assento de nascimento a declaração de que era seu filho biológico. Não foram poucos os casos desta natureza, levados à barra da Justiça Criminal, sob denúncia de falsidade ideológica, de que o agente às vezes escapava sob o fundamento da pia causa. Mas os traumatismos resultantes não faltavam, como a insegurança em que vivia o casal, em relação ao filho. Por toda parte [...] clamava-se por um sistema que viesse suprir o parentesco civil dos meios hábeis a realizarefetivamente a integração do adotado no meio familiar que o recebia. Assim, em virtude desta prática reiterada de simulacros de Adoção, foi introduzida ao ordenamento jurídico a “legitimação adotiva”, advinda da Lei n. 4.655, de 2 de junho de 1965, que estabelecia um vínculo de parentesco de primeiro grau entre o adotante e o adotado, rompendo a conexão subliminar com sua família biológica. Este desligamento se dava mediante a inscrição da sentença concessiva da legitimação, por mandado, no Registro Civil, como se fosse um registro fora do prazo.35 32 BRASIL. Código civil de 1916. Lei n. 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071.htm>. Acesso em: 20/09/2016. 33 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. p. 340. 34 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família.14 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 390. 35 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. v.6. p. 340-341. 21 Todavia a inserção da “legitimação adotiva” veio a enfrentar duras críticas, que, conforme ensina Pereira, 36 tinham o “[...] argumento de que é próprio da legitimação atribuir legitimidade aos filhos do casal, nascidos antes do matrimônio, e isto não ocorre no novo instituto [da legitimação adotiva]”, porém, de imediato, complementa que a crítica era especiosa, tendo em vista que “[...] a polivalência da terminologia jurídica não é incompatível com um sentido novo para o vocábulo “legitimação”. 37 Seguindo ainda a ideia de Pereira,38 destaca-se: Onde a crítica procede é na designação que lhe deu o legislador brasileiro – legitimação adotiva –, uma vez que legitimidade é o status do filho concebido na constância do casamento, sem o recurso a qualquer ficção jurídica. À vista disso, houve uma predisposição para se alterar a denominação do novo instituto, o que efetivamente veio a acontecer com a implementação do Código de Menores, pela Lei 6.697, de 10 de outubro de 1979.39 A já mencionada “Adoção simples”, originária do Código Civil de 1916, passou a dividir espaço com a “Adoção plena”, advinda com a implementação do mencionado Código de Menores.40 Referente ao assunto, explica Gonçalves41 que: Enquanto a primeira dava origem a um parentesco civil somente entre adotante e adotado sem desvincular o último da sua família de sangue, era revogável pela vontade das partes e não extinguia os direitos e deveres resultantes do parentesco natural [...], a Adoção plena, ao contrário, possibilitava que o adotado ingressasse na família do adotante como se fosse filho de sangue, modificando-se o seu assento de nascimento para esse fim, de modo a apagar o anterior parentesco com a família natural. 36 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família. p. 390. 37 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família. p. 390. 38 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família. p. 390. 39 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família. p. 391. 40 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. v.6. p. 341. 41 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. v.6. p. 341. 22 Ademais, vale acrescentar que embora a “adoção plena” seja uma criação do direito moderno, a mesma guiou-se à luz da affiliatio, e tem por escopo um processo mais complexo que sua propínqua “adoção simples”, visto que àquela contempla um alto mérito de proporcionar ao adotando a integração à família adotiva.42 1.2.2 A Adoção na Constituição da República Federativa de 1988 Na década de 1980 surgiram movimentos sociais que passaram a questionar o quão significativo era o papel da criança e do adolescente no ordenamento jurídico brasileiro. As mobilizações se deram por parte de organizações de proteção infanto-juvenil, como o Movimento dos Meninos e Meninas de Rua, que destacaram a luta pelos direitos das crianças, proporcionando maior enfoque nas garantias pertinentes ao universo da criança e do adolescente, especialmente na promulgação da Constituição Federal de 1988, e posteriormente na concepção do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990.43 O efeito advindo do alvoroço coletivo, bem como da atenção especial dada às questões sociais das últimas décadas, resultaram em um espaço significante no texto Constitucional de 1988, pertinente a todo um capítulo: VII – Da Família, Da Criança, Do Adolescente e do Idoso – arts. 226 ao 230.44 Em especial, destaca-se o Art. 227, da Carta Magna, in verbis: Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Dentre as disposições aplicadas com a finalidade de resguardar o bem maior da casta infanto-juvenil, destaca-se o §6º do artigo 42 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família. p. 391. 43 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 109-110. 44 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 110. 23 supramencionado, qual passou a equiparar os filhos adotivos aos filhos legítimos, ou seja, garantindo os mesmos direitos e qualificações daqueles, sem qualquer tipo de discriminação.45 Assim sendo, as garantias recém-adquiridas acabaram por tornar inconstitucionais pela jurisprudência alguns dispositivos constantes no ordenamento jurídico vigente até então, como, por exemplo, o adotado não ter direito à herança se o adotante tivesse prole biológica, e também a reserva de apenas a metade do quinhão a que fazia jus os filhos “legítimos” vindos depois da Adoção, inclusive quanto à adoção de maiores.46 Conforme Rizzardo,47 encontrou-se uma discordância entre os doutrinadores acerca da equiparação quanto a adoção de maiores, referente ao princípio trazido pela Constituição Federal de 1988, mais especificamente o que consta no Art. 227, §6º, qual proíbe quaisquer designações discriminatórias entre adoção e filiação, veja-se, in verbis: Art. 227 [...] § 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por Adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. Ainda acerca do assunto, Rizzardo48 coloca que: [...] muitas ações, envolvendo pessoas adultas, encerravam mais uma razão materialista e interesseira. Mas não podia este elemento ser levado a uma regra geral. Existiam e existem adoções que refletem sobretudo uma forte aproximação afetiva e pessoal das pessoas. Foram-se entre o adotante e o filho uma comunhão de interesses, ideias e sentimentos paterno-filiais, que torna-se difícil generalizar o puro interesse econômico. Complementando, ainda pela perspectiva do autor: Além disso, o texto constitucional expressamente impõe que os filhos havidos por adoção terão os mesmos direitos e qualificações 45 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. v.6. p. 340.46 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 497. 47 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 550. 48 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. p. 550 24 que aqueles biológicos, ou nascidos durante o casamento. Não há algum indício, no referido texto, para se diferenciar o tratamento. Como proceder a distinção se o legislador constituinte não o fez? A seguir-se tal posicionamento, tornar-se-iam duas classes de adotivos: uma, com todos os direitos, idênticos aos dos filhos biológicos; a outra com somente alguns direitos, quando ambas as espécies de adoção conduzem ao mesmo resultado, que é tornar uma pessoa filha de outra.49 Seguindo a mesma concepção, explana Dias50 que “a justiça [...] é uníssona em impedir distinções. Mesmo que tenha sido a adoção de maiores levada a efeito antes da vigência da norma constitucional, não mais existem diferenciações”. 1.2.3 A Adoção no Estatuto da Criança e do Adolescente 1.2.3.1 A criação do Estatuto da Criança e do Adolescente como legitimador do Princípio da Proteção Integral A confecção da Lei n. 8.069, em 1990, qual trata do Estatuto da Criança e do Adolescente, também foi uma conquista adquirida pela força dos movimentos em prol dos interesses infanto-juvenis da década de 1980, destacando-se: o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua; a Pastoral do Menor da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil); a Frente Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente e a Comissão Nacional Criança e Constituinte. Tais movimentos, que também foram os fortes responsáveis pela real atenção dada aos direitos infanto-juvenis na promulgação da Constituição de 1988, tinham por escopo combater a onda de maus-tratos, violência doméstica, discriminação, exploração sexual e exploração pelo trabalho que eram recorrentes.51 Assim, o Poder Público, em decorrência da ausência de políticas públicas e da precariedade de textos normativos antigos, como o Código 49 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. p. 550. 50 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 497. 51 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 117. 25 de Menores – Lei n. 6.697, de 1979, também se constituía como um agente violentador dos direitos e interesses infanto-juvenis.52 O citado Código Menorista, como explicam Veronese e Petry,53 se portava como uma legislação segmentadora, visto que: [...] situava-se como essencialmente excludente, isto porque o citado Código Menorista fundamentava-se na Doutrina da situação irregular, ou seja, havia um conjunto de regras jurídicas que se dirigiam a um tipo de criança ou adolescente específico, aqueles que estavam inseridos num quadro de exclusão social [...]. Para Amaral e Silva,54 o texto do Código Menorista confundia na mesma situação irregular os abandonados, maltratados, vítimas e infratores. O que se considerava assombroso era designar como irregular o filho abandonado ou maltratado pelo pai, ou mesmo aquele que não era alcançado pelos direitos sociais – como educação e saúde – por negligência do Estado. Nesse sentido, o Estatuto da Criança e do Adolescente foi concebido com a finalidade de legitimar o princípio da Proteção Integral trazido pela Constituição Federal de 1988,55 construindo, portanto, um segmento exclusivo no ordenamento jurídico, baseado no fato de que “[...] em face da sua condição de pessoas em processo de desenvolvimento, são merecedores de direitos próprios e especiais, além dos direitos fundamentais inerentes a todo ser humano”.56 Seguindo essa perspectiva, Pereira,57 em seus ensinamentos, tece um comentário acerca da nova concepção dada aos indivíduos a qual o Estatuto da Criança e do Adolescente alcança, que passam a serem vistos 52 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 117. 53 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 117. 54 Apud VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 118. 55 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 497. 56 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 118. 57 PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da criança e do adolescente: uma proposta interdisciplinar. Rio de Janeiro: Renovar, 1996. p. 28. 26 “como ‘sujeitos de direitos’, ou seja, titulares de direitos Fundamentais, crianças e adolescentes deixam de ser tratados como objetos passivos, passando a ser, como os adultos, titulares de Direitos Fundamentais”. Neste mesmo seguimento, Veronese e Petry58 concluem que o Estatuto da Criança e do Adolescente: [...] ao colocar-se como instrumento jurídico regulamentador do texto constitucional, tem o relevante papel de – como lei proclamadora de direitos individuais e sociais – ser um efetivo instrumento de transformação não apenas de estruturas, mas de construir uma nova mentalidade, poder-se-ia mesmo dizer de uma nova cultura em favor da infância e da juventude. A busca dessa nova cultura infanto-juvenil de que tratam os autores Veronese e Petry,59 é caracterizada pela obra de Philippe Ariès, que evidencia o processo histórico em busca do que ele chama de “sentimento da infância”, visto o desinteresse social histórico com as mesmas. Segundo Ariès,60 as crianças possuíam a aura de um sentimento especial em seus primeiros anos de vida, onde eram vistas como distrações graciosas para as pessoas, que se divertiam com a presença de uma “pequena graça”. As eventuais mortes destas pequenas criancinhas, em geral, eram encaradas com indiferença, pois logo outra a substituiria e tudo voltava ao normal. O autor complementa que esse modelo de família antiga mencionado por ele, tinha por objetivo a conservação dos bens, a prática de um ofício, a proteção da honra, e a ajuda mútua para sobreviver em um mundo que, à 58 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 119. 59 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 119. 60 ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Trad. De Dora Flasksman. 2 ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora , 1981. p. 04. 27 época, não poupava os isolados, ou seja, a família não tinha uma função afetiva em sua essência.61 A partir do século XVII, essa forma obsoleta de família acabou por se modificar de acordo com dois fatores: o primeiro foi o processo de escolarização das crianças, onde elas não mais se desenvolviam sob a perspectiva de um adulto, e sim pelo viés da escola; e a segunda refere-se à cumplicidade sentimental das famílias, onde essa passou a ser um lar para a afeição entre os cônjuges e os filhos.62 A construção de uma consciência social em prol da infância e da adolescência não se limitou à sua origem nos séculos XVII e XVIII, e veio a se estender pelos séculos XIX e XX.63 Após longos períodos de dessabores enfrentados pela comunidade infanto-juvenil, o Estado brasileiro, ao final do século XX, em decorrência do clamor social enfrentado, reconhece, antes tarde do que nunca, a importância de assegurar a proteção jurídicae social da criança e do adolescente. Um corpo social até então marcado pela incúria e pelo desinteresse estatal, conseguia, enfim, dar o primeiro respiro como parte de um direito social resguardado pela Constituição Federal. É imprescindível, como ensinam Veronese e Petry,64 no atual século XXI, dar efetividade ao reconhecimento da importância em favor da criança e do adolescente, “pois ainda se está distante da real concepção e dignidade, de respeito, de que é merecedora cada criança, cada adolescente”. Nesse sentido, o Estatuto da Criança e do Adolescente veio para assegurar a proteção integral à criança e ao adolescente, visto que 61 ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. p. 05. 62 ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. p. 05. 63 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 121. 64 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 121. 28 reconheceu, em seu Art. 1º, o princípio constante no Art. 19, da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, que determina:65 Os Estados-Partes adotarão todas as medidas legislativas, administrativas, sociais e educacionais apropriadas para proteger a criança contra todas as formas de violência física ou mental, abuso ou tratamento negligente, maus-tratos ou exploração, inclusive abuso sexual, enquanto a criança estiver sob a custódia dos pais, do representante legal ou de qualquer outra pessoa responsável por ela. Assim, um novo ramo jurídico independente dava seus primeiros passos, qual viria a enfrentar um longo e árduo caminho evolutivo em prol dos direitos infanto-juvenis. 1.2.3.2 A Adoção à luz do Estatuto da Criança e do Adolescente Como explanado nos tópicos anteriores, é cristalino o fato de que a Constituição Federal alterou profundamente o enfoque da criança e do adolescente no cenário jurídico-social,66 extinguindo-se a ideia assistencialista e institucionalizada que privilegiava a vontade dos adultos, qual não visava preferência às escolhas e direitos dos menores.67 Consequentemente o instituto da Adoção pegou carona nessa transição, e acabou por se reinventar com os novos ditames do Estatuto da Criança e do Adolescente, instrumento este concebido à luz de tais garantias constitucionais. O Estatuto, como pode-se observar pelo seu Art. 267,68 revogou expressamente o Código de Menores,69 e passou a tratar exaustivamente 65 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 121. 66 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 498. 67 BRAUNER, Maria Claudia Crespo. AZAMBUJA, Maria Regina Fay. A releitura da adoção sob a perspectiva da doutrina da proteção integral à infância e adolescência. nº 18. RBDF: Porto Alegre, 2003. p. 31. 68 Revogam-se as Leis n.º 4.513, de 1964, e 6.697, de 10 de outubro de 1979 (Código de Menores), e as demais disposições em contrário. BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990, Art. 267. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acesso em: 14 set. 2016. 69 BRASIL. Lei nº 6.697, de 10 de outubro de 1979. Institui o Código de Menores (Revogada pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, Art. 267). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/L6697.htm>. Acesso em: 27/09/2016. 29 dos direitos referentes à convivência familiar, à guarda, à tutela e principalmente à adoção, sem as distinções que existiam na legislação anterior.70 A mudança do ponto de vista social ao assunto é retratada pelas palavras de Wald e Fonseca:71 As [novas] regras aplicáveis à família substituta tinham como pressuposto, na medida do possível, a audiência da criança ou do adolescente, a apreciação do meio familiar e de suas relações com o adotado, considerando excepcional a colocação em família estrangeira e só admissível na forma da adoção. Além da revogação total do Código Menorista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, este também revogou disposições acerca da adoção de menores no Código Civil de 1916, que passariam a se submeter às regras do Estatuto. Todavia, a adoção de maiores continuaria a ser regida pelo Código Civil.72 Com a entrada do novo Estatuto, o instituto da adoção trouxe como principal inovação o preceito de que essa seria sempre plena para aqueles que ainda não houvessem completado 18 anos,73 ou, “quando ultrapassada essa idade, já estivesse anteriormente sob a tutela ou guarda dos adotantes”,74 restando a adoção simples restrita aos demais. Dessa maneira, o ordenamento jurídico brasileiro, após a promulgação da Constituição de 1988 e da entrada do Estatuto da Criança e do Adolescente, passou a ter duas espécies legais de adoção: uma civil, que também era chamada de tradicional ou simples, ainda nos termos do Código Civil de 1916, e uma estatutária, denominada plena, que, embora trazida pelo novo Estatuto, era remanescente do Código Menorista de 1979, como visto nos tópicos anteriores.75 70 WALD, Arnoldo; FONSECA, Priscila M. P. Corrêa da. Direito civil: direito de família. 18 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 333. 71 WALD, Arnoldo; FONSECA, Priscila M. P. Corrêa da. Direito civil: direito de família. p. 333. 72 WALD, Arnoldo; FONSECA, Priscila M. P. Corrêa da. Direito civil: direito de família. p. 333. 73 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 341 74 WALD, Arnoldo; FONSECA, Priscila M. P. Corrêa da. Direito civil: direito de família. p. 333. 75 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 341. 30 Nesse sentido, referente à adoção plena conforme a vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente, Diniz76 ensina que: Com a revogação da Lei n. 6.697/79 pela Lei n. 8.069/90, art. 267, mantivemos aquela nomenclatura [adoção plena] por entende-la conforme aos princípios e efeitos da adoção regulada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e ante o fato de essa terminologia já estar consagrada juridicamente [...]. Assim, o então novo Estatuto da Criança e do Adolescente vinha para densificar a adoção plena, condensando-se com os novos mandamentos constitucionais que promoviam a igualdade total entre os filhos e adotados, menores de 18 anos, o que seria amplamente expandido com o Código Civil de 2002.77 1.2.4 A adoção no Código Civil de 2002 Alerta-se, antes do prosseguimento da leitura, que alguns dos artigos citados neste tópico foram revogados ou passaram a vigorar sob nova redação, quais serão indicados, sendo o caso, por nota de rodapé. Com a promulgação da Lei n. 10.406, em 10 de janeiro de 2002, que colocava em vigor o então novo Código Civil, o instituto da adoção passou a compreender tanto a de crianças e adolescentes como a de maiores, exigindo o procedimento judicial em ambos os casos,78 não havendo mais a possibilidade de se levar a termo a adoção aos maiores de dezoito anos, pois em ambas as modalidades se exigia o caminho judicial, com a constituição do ato por meio de sentença.79 Nesse mesmo sentido, Lôbo80 destaca em seus ensinamentos que, com a vigência do novo Código Civil: 76 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. p. 573. 77 LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 276 78 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 342. 79 RIZZARDO,Arnaldo. Direito de família. p. 538. 80 LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. p. 276. 31 Desaparece a distinção que resultou da convivência entre o ECA e o Código Civil anterior, a saber, entre adoção plena ou integral para a criança ou adolescente, dependente de decisão judicial, e adoção simples, para os maiores de 18 anos, mediante escritura pública. Tanto para os menores quanto para os maiores, a adoção reveste- se das mesmas características, sujeitas à decisão judicial. Seguindo algumas das alterações importantes advindas com o Código Civil de 2002, Dias e Pereira81 apontam que uma das mudanças fundamentais trazidas pelo Código foi a redução da idade para o exercício dos atos civis, que passou a ser de 18 anos para a capacidade absoluta, e para os maiores de 16 e menores de 18, a incapacidade relativa, conforme os Arts. 5º e 4º, respectivamente. Destaca-se tal importância porque, tendo o Estatuto da Criança e do Adolescente condicionado a capacidade para adotar à maioridade civil, o Código Civil, dentro da orientação estatutária, estabeleceu no texto original do seu Art. 1.618,82 que “só pessoa maior de dezoito anos pode adotar”. À frente disso, tinha-se, então, uma nova idade-referência para questões relativas à adoção, pois o adotante poderia ter 18 anos.83 A complementar o assunto, Veronese e Petry84 explanam que a alteração trazida pelo texto original do Art. 1618, do Código Civil, revogava parcialmente o Art. 42, do Estatuto da Criança e do Adolescente,85 para o qual, antes da mudança trazida pela Lei n. 12.010/09, o limite era de 21 anos. Outra mudança significativa foi a confirmação do princípio constitucional da igualdade – Art. 5º, da Constituição Federal – pelo Código Civil de 81 DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 159. 82 Este artigo passou a vigorar sob outra redação, conforme Art. 2º da Lei n. 12.010, de 03 de agosto de 2009. 83 DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil. p. 159. 84 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 124. 85 Este artigo passou a vigorar sob outra redação, conforme Art. 2º da Lei n. 12.010, de 03 de agosto de 2009. 32 2002, em seu Art. 1.626,86 atribuindo a condição de filho ao adotado, o desligando de qualquer vínculo com a família consanguínea, ressalvados os impedimentos para o casamento.87 Nessa perspectiva, tal ratificação constitucional, trazida pelo Art. 1.626, do Código Civil, que já se encontrava presente no Art. 41, do Estatuto da Criança e do Adolescente, serviu para culminar qualquer divergência doutrinária acerca da abrangência das garantias constitucionais aos adotandos maiores, conforme a temática discutida no tópico 1.2.3 desta monografia. Em relação à diferença de idade exigida entre o adotante e o adotado, o Código Civil de 2002, no texto original do Art. 1619,88 determinou ser de dezesseis anos, o que igualmente apresentava o Estatuto, no §3º do Art. 42.89 Reforçando a ideia apresentada, Pereira90 ensina que: Manteve o legislador de 2002 (art. 1619) a mesma orientação estatutária (§3º do art. 42, ECA) e do diploma civil anterior, ao exigir a diferença de 16 anos entre adotante e adotado, imitando a filiação biológica, e propiciando autoridade e respeito. Quanto à possibilidade dos divorciados e os judicialmente separados adotarem conjuntamente, o parágrafo único, do Art. 1.622,91 do Código Civil de 2002, trazia o já disposto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu Art. 42, §4º,92 sendo possível desde que os mesmos estivessem de acordo 86 Revogado pelo Art. 8º, da Lei n. 12.010, de 03 de agosto de 2009. 87 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 125/126. 88 Este artigo passou a vigorar sob outra redação, conforme Art. 2º da Lei n. 12.010, de 03 de agosto de 2009. 89 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 128. 90 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família. p. 401. 91 Revogado pelo Art. 8º, da Lei n. 12.010, de 03 de agosto de 2009. 92 Este parágrafo passou a vigorar sob outra redação, conforme Art. 2º da Lei n. 12.010, de 03 de agosto de 2009. 33 acerca da guarda e do regime de visitas, tendo iniciado o estágio de convivência na constância da sociedade conjugal.93 Já o caput do Art. 1.622, do Código Civil de 2002, não encontrava precedente no Estatuto da Criança e do Adolescente, mas sim no Código Civil de 1916, mais especificamente em seu Art. 370: “Ninguém pode ser adotado por duas pessoas, salvo se forem marido e mulher”. Assim, para que a regra se adequasse ao texto constitucional (Art. 226, §3º), o novo diploma acrescenta: “ou se viverem em união estável”. Referente ao texto do artigo supramencionado, Gonçalves94 esclarece, especificamente acerca do caput, que o mesmo “[...] condiciona a concessão da medida em favor de duas pessoas, ‘se forem marido e mulher ou se viverem em união estável’, não admitindo, por exemplo, que irmãos adotem conjuntamente”. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, foi admitida no ordenamento jurídico brasileiro a possibilidade da adoção póstuma, regulamentada primeiramente pelo Estatuto da Criança e do Adolescente,95 especificamente em seu Art. 42, §5º, que passou a vigorar sob outra redação após a Lei n. 12.010, de 2009, que, na verdade, apenas a incluiu em um novo parágrafo subsequente, in verbis: Art. 42 [...] §6º A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do procedimento, antes de prolatada a sentença. 93 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 130. 94 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 342. 95 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 134. 34 O legislador, no Código Civil de 2002, trouxe a mesma ideia posta pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, e tratava, no seu Art. 1.628,96 que: Art. 1.628. Os efeitos da adoção começam a partir do trânsito em julgado da sentença, exceto se o adotante vier a falecer no curso do procedimento, caso em que terá força retroativa à data do óbito. As relações de parentesco se estabelecem não só entre o adotante e o adotado, como também entre aquele e os descendentes deste e entre o adotado e todos os parentes do adotante. Quanto ao consentimento dos pais ou do representante legal para que houvesse a possibilidade da adoção não foi diferente, pois o legislador estabeleceu igualmente o disposto no Estatuto da Criança e do Adolescente, ou seja, era indispensável, como tratava a primeira parte do Art. 1.621,97 do Código Civil, in verbis: Art. 1621. A Adoção depende de consentimento dos pais ou dos representantes legais, de quem se deseja adotar, [...]. Essa indispensabilidade do consentimento dos pais ou responsáveis do adotando se dava pelo fato dos mesmos serem os primeiros detentores do poder familiar,98 o que será tratado especificamente mais à frente. Ainda quanto ao consentimento, o Código Civil de 2002, seguindo as diretrizes do Art. 45, §1º, do Estatutoda Criança e do Adolescente, especificou que nos casos em que os pais eram desconhecidos ou tinham sido destituídos do poder familiar, o consentimento passava a ser dispensado, isso era o que trazia a redação do Art. 1.621, §1º,99 do Código Civil.100 Já no que dizia respeito ao consentimento do adotando, era necessário quando o mesmo fosse maior de 12 anos de idade, como constava na 96 Revogado pelo Art. 8º, da Lei n. 12.010, de 03 de agosto de 2009. 97 Revogado pelo Art. 8º, da Lei n. 12.010, de 03 de agosto de 2009. 98 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 136. 99 Revogado pelo Art. 8º, da Lei n. 12.010, de 03 de agosto de 2009. 100 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 136. 35 parte final do Art. 1.621, do Código Civil, e que já tratava o Estatuto da Criança e do Adolescente em seu Art. 45, §2º, o que também será exposto de maneira abrangente mais à frente.101 Algumas outras matérias também foram trazidas para o texto do então novo Código Civil, como a proibição da adoção pelos ascendentes e irmãos do adotando; a observação das vantagens reais para o adotando no momento da adoção; a proibição da adoção pelo tutor ou curador antes de dar contas de sua administração e saldar seu débito; a precedência do estágio de convivência com o adotando; etc.102 Matérias, estas, que serão abordadas em outros pontos específicos e oportunos deste trabalho. De toda forma, percebe-se, como já mencionado anteriormente, que o legislador, do momento da confecção do Código Civil de 2002, espelhou-se por completo no Estatuto da Criança e do Adolescente, implementando pequenas modificações, ou, em muitos casos, nenhuma, como pode-se perceber pelo texto do referido Código. Todavia a implementação do Código Civil de 2002 não tinha por escopo a pretensão de colocar-se como um sistema jurídico que encerrasse todo o direito privado antecedente, mas sim conviver pacificamente com a legislação já existente, de maneira que fosse complementada, nos casos de omissão, pela norma estatutária.103 Essa pretensão de coexistência, porém, não foi bem-sucedida devido as grandes dúvidas que passaram a surgir com o tempo. Assim, o legislador veio a intervir novamente buscando dar um fim a qualquer dubiedade, o que se verá a seguir. 101 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 136. 102 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 134/141. 103 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 125. 36 1.2.5 A dualidade de sistemas jurídicos e o advento da lei da adoção – lei nº 12.010/09 Como foi visto, com a entrada do Código Civil de 2002, o instituto da adoção passou a ser disciplinado concomitantemente por este e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, acabando por gerar uma dúvida quanto à incidência dos referidos diplomas.104 Assim, a Lei nº 12.010/09 – Lei nacional de Adoção, veio para sepultar qualquer dúvida, alterando, dentre outros, os arts. 1.618 e 1.619 do Código Civil, redigindo novo texto para os mesmos:105 Art. 1.618. A adoção de crianças e adolescente será deferida na forma prevista pela Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente. Art. 1.619. A adoção de maiores de dezoito anos dependerá da assistência efetiva do poder público e de sentença constitutiva, aplicando-se, no que couber, as regras gerais da Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente. Sobre o assunto, Farias e Rosenvald106 colocam que: A conjugação dos aludidos dispositivos legais é de clareza solar ao estabelecer que a adoção de criança ou adolescente é regida, diretamente, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, enquanto a adoção de pessoa maior de dezoito anos estará submetida à sistemática do Código Civil, aplicando-se, no que couber (e isso será possível amplamente), as regras estatutárias. Valorizam-se, com isso, as normas estatutárias, inclusive reconhecendo a sua aplicabilidade à adoção de pessoa maior de dezoito anos de idade. Dessa maneira tem-se o sepultamento definitivo do sistema de adoção contratual, sendo que com o novo sistema implantado pela Codificação Reale, toda adoção, seja ela qual for, exigirá sempre uma decisão judicial que deve ser proferida em procedimento tramitado na vara da infância e juventude, nos casos 104 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: direito das famílias. 6. ed. Salvador: Juspodivm, 2014. p. 935 105 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: direito das famílias. p. 936 106 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: direito das famílias. p. 936 37 envolvendo crianças e adolescentes, e nas varas de família nos demais casos, ambos com a intervenção do Ministério Público.107 Ao analisar as distinções normativas entre o Código Civil e o regime estatutário, percebe-se que a adoção de adultos traz, basicamente, duas particularidades que a distingue da adoção infanto-juvenil.108 A primeira é que na adoção de adultos não há a necessidade da fixação de tempo de estágio de convivência; e a segunda é a dispensabilidade de estudo social interprofissional.109 Assim, vale aqui lembrar a crítica disparada por parcela dos doutrinadores acerca da possibilidade da adoção de adultos sob a proteção do Estatuto da Criança e do Adolescente, visto que não haveria razão para protege- los por meio da inserção em família substituta, além da possibilidade de se ocultar interesses de índole patrimonial ou econômica.110 Nessa lógica, Gioris111 aponta que o magistrado deve se portar com um maior cuidado quando se tratar de adoção de adultos, especialmente nos casos em que envolvam pessoas idosas, doentes e possuidoras de grande riqueza. De qualquer maneira, a adoção de adultos amparada pelas normas estatutárias é expressamente admitida no ordenamento jurídico brasileiro, devendo o magistrado averiguar com cautela o caso em concreto, evitando-se, assim, a chancela de interesses escusos de pessoas mal-intencionadas.112 107 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: direito das famílias. p. 936 108 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: direito das famílias. p. 936 109 ROSSATO, Luciano Alves; LÉPORE, Paulo Eduardo. Comentários à Lei Nacional da Adoção. São Paulo: RT, 2009. p. 43. 110 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: direito das famílias. p. 936 111 GIORGIS, José Carlos Teixeira. Direito de família contemporâneo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010. p. 132. 112 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: direito das famílias. p. 937 38 Capítulo 2 ELEMENTOS INFORMADORES INTRÍNSECOS AO INSTITUTO DA ADOÇÃO “Enquanto houver uma única criança privada do convívio familiar ainda há muito por fazer” (SCHREINER, Gabriela. 2004). Na sequência do presente estudo analisar-se-á a contextualização do instituto da adoção na seara jurídico-doutrinária, onde serão salientados alguns pontos fundamentais referentes às suas generalidades,buscando apresentar um panorama abrangente, porém sem pretensão de se esgotar a perquisição no aprofundamento da matéria, fato este que seria impossível diante da extensa abrangência da dimensão temática em apreço. Dessa forma será transcorrido um aparato acerca das generalidades do instituto em questão, apresentando uma noção terminológica, seus requisitos, suas particularidades, seu processo legal e as principais característica jurídico-doutrinárias que passamos a contemplar a seguir. 2.1 CONCEITO DE ADOÇÃO E SUA NATUREZA JURÍDICA Primeiramente, antes de se adentrar à definição conceitual do instituto da adoção, é de importância determinar o que seria o estado de filiação,113 que nada mais é do que a decorrência de um fato – que se traduz pelo nascimento do infante – ou de um ato jurídico: a adoção, cujo ato é exclusivamente condicionado ao aval judicial. Assim, Gonçalves114 destaca que, na doutrina, há vasta diversidade de conceitos referentes ao aludido instituto. De toda forma, realça que todos os autores convergem em pelo menos um ponto, reconhecendo na adoção, 113 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 497. 114 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. p. 337. 39 o caráter de uma fictio iuris, e a conceitua como sendo um “[...] ato jurídico solene pelo qual alguém recebe em sua família, na qualidade de filho, pessoa a ela estranha”. A adoção, para Wald e Fonseca,115 “[...] é uma ficção jurídica que cria o parentesco civil. É um ato jurídico solene que gera laços de paternidade e filiação entre pessoas para as quais tal relação inexiste naturalmente”. Pereira116 a caracteriza como sendo “[...] ato jurídico pelo qual uma pessoa recebe outra como filho, independentemente de existir entre elas qualquer relação de parentesco consanguíneo ou afim”. Já nos ensinamentos de Farias e Rosenvald,117 os mesmos conceituam a adoção como um: [...] mecanismo de determinação de uma relação jurídica filiatória, através do critério socioafetivo, fundamentado no afeto, na ética e na dignidade das pessoas envolvidas, inserindo uma pessoa humana em família substituta, de acordo com o seu melhor interesse e sua proteção integral, com a chancela do Poder Judiciário. Maria Helena Diniz,118 amparada por diversos autores, define que a adoção: [...] é o ato jurídico solene pelo qual, observados os requisitos legais, alguém estabelece, independentemente de qualquer relação de parentesco consanguíneo ou afim, um vínculo fictício de filiação, trazendo para sua família, na condição de filho, pessoa que, geralmente, lhe é estranha. Como explana Rizzardo,119 a adoção vem para se estabelecer entre duas pessoas, gerando, assim, uma relação de filiação legal, qual se equivale 115 WALD, Arnoldo; FONSECA, Priscila M. P. Corrêa da. Direito civil: direito de família. p. 343. 116 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família. p. 392. 117 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: direito das famílias. p. 934. 118 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. p. 571. 119 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. p. 550. 40 à natural, e complementa que “por meio de tal ato jurídico, cria-se entre duas pessoas o laço de parentesco civil de paternidade ou maternidade e filiação”. Em relação à natureza jurídica da adoção, Gonçalves120 explica ter sido controvertida sua definição junto à doutrina. Isso porque, como já retratado, no sistema do Código Civil de 1916, a adoção tinha caráter contratual, sendo um negócio bilateral e solene, e, a partir da Constituição Federal de 1988, passou a se dar por ato complexo, exigindo sentença judicial, demonstrando que a matéria passava a ser de interesse de ordem pública. Nesse mesmo sentido, Lobo121 salienta ser a adoção um ato jurídico em sentido estrito, de natureza complexa, visto que a mesma está condicionada a uma decisão judicial para que venha produzir seus efeitos. O autor ainda enfatiza que a adoção não é um negócio jurídico unilateral, e tendo em vista que o estado de filiação, qual é indisponível, não pode ser revogada. Por mais que o autor supramencionado realce a ideia de que a adoção é um negócio bilateral, Pereira122 destaca que essa bilateralidade foi considerada por muitos como sendo um “contrato”, e avulta em suas palavras que “não obstante a presença do consensus, não se pode dizê-la um contrato, se se tiver em consideração a figura contratual típica do direito das obrigações”. Sobre o caráter contratual do instituto, vale, mais uma vez, enfatizar que com a norma constitucional posta pelo art. 227, §6º, essa denominação foi completamente afastada.123 Em complemento à construção conceitual da natureza jurídica do instituto, Gagliano e Pamplona Filho124 definem ser a adoção um “[...] ato jurídico 120 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. p. 338. 121 LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. p. 273. 122 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família. p. 393. 123 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: direito das famílias. p. 932. 124 GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo curso de direito civil: direito de família. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. 41 em sentido estrito, de natureza complexa, excepcional, irrevogável e personalíssimo [...]”. De toda forma, por fim, é de importância realçar que a adoção é constituinte de um parentesco eletivo, ou seja, se dá exclusivamente por um ato de vontade, sendo que a verdadeira paternidade tem sua origem na busca de amar e ser amado,125 realçando a ideia trazida por Farias e Rosenvald,126 que “[...] a doção é decorrente de uma escolha recíproca, uma espécie de via de mão dupla, na qual adotante e adotando se escolhem e se adotam”. 2.2 REQUISITOS GERAIS DA ADOÇÃO Tendo em vista o interesse conferido pelo ordenamento jurídico brasileiro à proteção do instituto familiar, que ao longo das décadas passou por imperiosas transformações, saindo de relações restritas aos bens e a honra em rumo a priorização da família como um vínculo afetivo,127 e após o advento da Constituição Federal de 1988, onde foi contemplada a importância do papel infanto- juvenil na sociedade, sobressaiu-se, conjuntamente com o Estatuto da Criança e do Adolescente, uma gama de direitos próprios e especiais focados no coletivo infanto-juvenil,128 inclusive quanto a garantias e direitos em relação a questões referentes à adoção. Devido a essas mudanças sociais envolvendo as relações familiares e a proteção especializada aos interesses das crianças e dos adolescentes, o ordenamento jurídico brasileiro, neste momento tratando especificamente o que diz respeito ao instituto da adoção, passou a ser mais rígido 125 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 498. 126 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: direito das famílias. p. 935. 127 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 111. 128 VERONESE, Josiane Rose Petry; PETRY, João Felipe Corrêa. Adoção internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e sociais. p. 118/119 42 quanto as suas regras e requisitos, justamente visando a ampla proteção infanto- juvenil. Embora já discorrido anteriormente, vale
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