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A reabilitação de áreas urbanas degradadas Políticas, instrumentos e incentivos no cenário internacional Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 2 Índice 1 OBJETIVO E METODOLOGIA ........................................................................................................ 3 2 GERENCIAMENTO DO RECURSO NATURAL “SOLO“ .......................................................................... 3 2.1 Reabilitação de áreas degradadas .................................................................................. 4 2.1.1 Definições .................................................................................................................. 4 2.1.2 Objetivos e impedimentos na reabilitação de áreas degradadas ........................................ 5 3 POLÍTICAS PÚBLICAS E BASES LEGAIS .......................................................................................... 6 3.1 Estados Unidos ................................................................................................................ 8 3.1.1 EPA Brownfields Program (Federal) ............................................................................... 8 3.1.2 The Small Business Liability Relief and Brownfield Revitalization Act, 2002 (Federal) – (Lei de alívio da responsabilidade para pequenas empresas para fins de revitalização de brownfields). .......................................................................................................................... 9 3.1.3 Políticas e legislação em nível estadual .......................................................................... 9 3.1.4 Políticas e instrumentos legais em nível municipal ......................................................... 10 3.2 Alemanha ...................................................................................................................... 11 3.3 Outros países europeus................................................................................................. 15 4 FINANCIAMENTO E INSTRUMENTOS ECONÔMICOS ........................................................................ 16 4.1 Fundos e Programas de financiamento ......................................................................... 17 4.1.1 Estados Unidos ......................................................................................................... 17 4.1.2 Alemanha ................................................................................................................. 19 4.1.3 Outros países ........................................................................................................... 20 4.2 Incentivos fiscais e financiamento indireto .................................................................. 20 4.2.1 Estados Unidos ......................................................................................................... 20 4.2.2 Europa ..................................................................................................................... 21 4.3 Instrumentos econômicos e gerenciais entre as esferas públicas e privadas .............. 22 5 FORMAS DE GERENCIAMENTO, COORDENAÇÃO E DIREÇÃO ............................................ 27 5.1 Gerenciamento por unidades inter-setoriais/inter-secretarias .................................... 27 5.2 Reabilitação da indústria abandonada Kienzle ............................................................. 32 5.3 Reabilitação de área comercial “Ferro velho” ............................................................... 34 6 RESUMO DOS PRÉ-REQUISITOS PRINCIPAIS PARA MEDIDAS DE REABILITAÇÃO.................................. 36 6.1 Políticas públicas........................................................................................................... 36 6.2 Financiamento e instrumentos econômicos ................................................................. 37 6.3 Formas e modelos de gerenciamento e cooperação ..................................................... 37 7777 CCCCHECK HECK HECK HECK LLLLIST IST IST IST DE INFORMAÇÕES A SEREM OBTIDAS EM SÃO PAULO ................................................... 38 7.1 Políticas e bases legais ................................................................................................. 38 7.2 Financiamento e incentivo econômico .......................................................................... 38 7.3 Instrumentos gerenciais ............................................................................................... 39 7.4 Seleção de áreas potenciais para a reabilitação ........................................................... 39 8 BIBLIOGRAFIA UTILIZADA ...................................................................................................... 40 ANEXO 1 ORGANIZAÇÕES E REDES DE COOPERAÇÃO EM NÍVEL INTERNACIONAL ................................. 41 ANEXO 2 GLOSSÁRIO SUCINTO DE NOVOS TERMOS TÉCNICOS .......................................................... 43 Reabilitação de áreas urbanas degradadas Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 4 1 OBJETIVO E METODOLOGIA O objetivo deste levantamento das experiências internacionais no âmbito de reabilitação reciclagem, reutilização ou revitalização de espaços urbanos degradados, abandonados e muitas vezes contaminados é de dar subsídios a iniciativas referente ao assunto, atualmente em discussão na Cidade de São Paulo. As informações e dados aqui apresentados foram obtidos através de literatura impressa e pesquisas na internet. A ênfase deste estudo é de enfocar os elementos essenciais das políticas e instrumento existentes no cenário internacional e dar alguns exemplos de reabilitações realizadas nos países Europeus e Norte Americanos. Ao final deste trabalho será apresentado um balanço e uma avaliação preliminar sobre as possibilidades de adaptar as experiências aqui relatadas em São Paulo. Uma listagem das organizações e redes (networks) internacionais que atuam no âmbito da reabilitação de áreas degradadas encontra-se em anexo 1. 2 GERENCIAMENTO DO RECURSO NATURAL “SOLO“ Como a água, o ar, a fauna e a flora, o solo é um bem a proteger e um recurso natural ameaçado tanto pelo uso excessivo, não adequado e mal planejado quanto pela degradação física e/ou química. O solo pode ser entendido como um bem ou recurso ambiental, mas também como espaço físico no sentido de “área”, “terra” ou “propriedade” , sendo a nossa base de vida, espaço que utilizamos e possuímos. O solo no sentido de terra ou área é um bem natural ou ambiental que pertence a particulares ou entidades públicas, configurando um propriedade. Sendo propriedade, ele tem um valor monetário e comercial calculável, o que o diferencia dos outros bens naturais acima citados. Como estes, o solo também fica escasso e sofre degradações qualitativas, resultantes da demanda social e econômica principalmente nas áreas urbanas. Na Alemanha por exemplo, ocupa-se 129 ha de espaço verde, não edificado (Freifläche) por dia (Doetsch et al., 1999)! Os motivos são : · Construção de áreas residenciais nas periferias das cidades: existe um aumento de áreas residenciais per capita decorrente da demanda principalmente por micro-famílias e solteiros, · Fuga para áreas residências no cinturão verde, · Aumento da mobilidade e consequentemente da infraestrutura viária e transporte, · Aumento da procura por áreas não edificadas pelos estabelecimentos comerciais e industriais. Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 4 Os efeitos deste desenvolvimento inerente às regiões industrializadas dos países do hemisférionorte são óbvios: · A ocupação de espaço não edificado (campos verdes = grüne Wiese) resulta em aumento da impermeabilização do solo com efeitos negativos para o balanço hídrico e os recursos hídricos em geral (recarga dos aqüíferos, enchentes), o microclima urbano, a flora e a fauna, etc. · A urbanização do entorno das cidades ou em áreas suburbanas requer grandes investimentos em infraestrutura, com decorrentes problemas para o trânsito, interrupção de corredores de mobilidade e afastamento de residências do local de trabalho; piora do balanço ambiental pelos efeitos de mobilidade adicional. Para impedir este processo, as políticas tanto do desenvolvimento regional e urbano, do fomento à economia e do meio ambiente dos países do hemisfério norte contemplam a necessidade de manusear o recurso solo numa maneira economicamente sensata e sustentável. Isto se expressa nas políticas, na legislação e nos instrumentos de administração e implementação (veja Capítulo 3). A reabilitação de áreas já ocupadas, utilizadas e atualmente abandonadas, baldias e economicamente ociosas, muitas vezes contaminadas ou degradadas pelo uso passado, representam uma das prioridades nas políticas do ordenamento e planejamento territorial e da gestão do solo, fazendo parte integral do gerenciamento dos recursos espaciais-territoriais (land management, Flächenressourcenmanagement). Estas políticas compreendem os instrumentos de planejamento e a implementação de ações que visam diminuir e controlar o uso excessivo do solo e reintegrar as áreas ociosas e degradadas ao ciclo econômico. 2.1 Reabilitação de áreas degradadas 2.1.1 Definições A mudança estrutural do espaço urbano dos países Europeus e Nortes Americanos nas últimas décadas trouxe a tona o problema das áreas degradadas, brownfields, Brachflächen, derelict land, Altlasten (um glossário com uma proposta para uma terminologia encontra se em anexo 2). Estas áreas representam espaços ociosos e abandonados, onde no passado se desenvolveram atividades industriais e comerciais, muitas vezes agressivas ao meio ambiente, resultado de uma exploração e utilização extensiva do solo e dos recursos naturais. A reutilização destas áreas pode ser dificultada pela existência de contaminações. A definição inglesa de derelict land (Süsskraut et al., 2001) se refere à “solo danificado pelas atividades industriais e outros de maneira que fica impedido seu uso sem tratamento específico”. A Brachfläche, na Alemanha é uma “área degradada, ociosa e abandonada na qual pode ou não existir contaminações reais que dificultam a sua reutilização”. Segundo USEPA (2003) brownfield significa "propriedades abandonadas ou subutilizadas cuja reutilização é dificultada pela presença real ou potencial de substancias perigosas poluentes ou contaminantes." Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 5 Importante frisar que a definição das áreas degradadas no sentido de brownfields1 e Brachflächen não usa o termo “risco” mas o critério econômico de reintegração ao ciclo econômico no sentido de “reciclagem” (Brachflächenrecycling, Alemanha) ou “re- desenvolvimento” (brownfield redevelopment, USA) Estas áreas degradadas podem ter os seguintes usos anteriores: · Usos industriais, incluindo mineração, agroindústria, indústria florestal, · Uso para infraestrutura: ferrovias, postos, portos, aeroportos, garagens, tratamento de resíduos, · Uso residencial, · Uso militar. Os donos/proprietários destas áreas são: · Particulares, pessoas físicas ou jurídicas, · Poder públicos federais, estaduais, municipais. 2.1.2 Objetivos e impedimentos na reabilitação de áreas degradadas "Reabilitação de áreas" significa a revitalização e a reutilização de terrenos (e de prédios) para um uso futuro, sem preocupações para a saúde e o bem-estar da população, através de medidas de segurança, saneamento e remediação. Neste sentido o objetivo da reabilitação é o uso razoável e sustentável do solo e o processo de reabilitação termina com o êxito da comercialização da área, assim diferenciando-se da remediação, que termina com a contenção ou eliminação do risco. Neste sentido a reabilitação se encaixa no conceito do desenvolvimento sustentável das cidades, trazendo benefícios nas esferas social, econômica e ambiental como segue: · Limitação de consumo de novas áreas não edificadas = benefício ambiental, · aumento da arrecadação municipal através da cobrança de impostos prediais e sobre atividades comerciais em áreas reabilitadas = benefício econômico, · Melhoramento da qualidade de vida através do restabelecimento ou estabilização do valor urbanístico, da infraestrutura e de empregos em regiões reabilitadas = benefício social, · Melhoramento da “imagem” da cidade. Fazendo parte do desenvolvimento urbano sustentável, estes objetivos são formulados nas exigências das legislações federais, estaduais e municipais dos países aqui analisados em particular. Exemplos são a Lei do Ordenamento Territorial (Raumordnungsgesetz – ROG) e o Código de Obras (Baugesetzbuch – BauGB) da Alemanha. Estas leis prevêem e exigem explicitamente a “priorização do uso de áreas degradadas frente a áreas livres e não edificadas e “uso sustentável e econômico do solo” (ROG § 2, 2,2; BauGB, § 1,1), (veja Quadro 2). Apesar destas obrigações legais ainda observamos nos países em questão um alarmante consumo progressivo de áreas não-edificadas. Isso revela que as leis têm somente o caráter de recomendação para o executor legal do uso e da edificação do solo: o município. 1 Brownfields não fazem e não podem fazer parte da National Priority List do Progarma Superfund que enfoca na defesa ao perigo de áreas contaminadas de alto risco Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 6 Analisando este equívoco mais de perto, detectam-se os principais motivos que inibem a reabilitação de áreas degradadas: · A subvenção do desenvolvimento regional através de programas de fomento à economia regional, visando o desenvolvimento áreas não edificadas (greenfields, Grüne Wiese), · Os preços baixos e a grande oferta de áreas não edificadas associados à baixa demanda de investidores e interessados em áreas, · A falta de recursos financeiros e programas de fomento de reabilitação de áreas degradadas, · A situação ambiental-legal das áreas e a questão da responsabilidade objetiva (liability, Haftungspflicht), · A imagem negativa de áreas contaminadas, · A competição entre municípios para atrair investimentos, · A falta de integração ou consideração do conceito de reabilitação no planejamento e ordenamento do espaço e do uso do solo em nível municipal. Os países industrializados procuram resolver estes empecilhos por meio de instrumentos legais, programas de fomento à reabilitação, inclusive fundos especiais, incentivos a cooperações entre os setores públicos e privados e programas de capacitação e pesquisa voltadas ao assunto. Os principaís elementos destes esforços são descritos em seguida. 3 POLÍTICAS PÚBLICAS E BASES LEGAIS A detecção de áreas contaminadas com risco para a saúde humana na década de 1970 exigiu do legislador regras claras sobre os procedimentos legais referente à responsabilização jurídica dos agentes causadores e sobre os critérios que definam “risco” e “contaminação”. Foi indispensável definir as atribuições dos órgãos públicos competentes que são a identificação e priorização de áreas contaminadas e a definição dos objetivos e abrangências da defesa ao perigo e das medidas de remediação. Esta atuação corretiva do problema não só alertou, na década de 80, sobre a questão das áreas contaminadas, mas ao mesmo tempo estigmatizou estas áreas,colocando-as em situações legalmente complicadas. Os principais problemas relacionam-se a abrangência da responsabilidade objetiva que muitas vezes recaiu sobre o proprietário não causador da contaminação e comprador de boa fé de uma propriedade, forçando-o a arcar com custos de remediação altos, em conseqüência de metas exigentes de descontaminação e restritivos a respeito do uso subsequente da área. Em decorrência de atitudes reativas e conservadoras dos órgãos ambientais, muitas medidas de remediação não foram realizadas por falência decretada do responsável ou por causa de disputas jurídicas intermináveis. Além disso os municípios responsáveis pelo planejamento do solo e licenciamento de obras, assim como os setores de construção civil, encontraram-se frente a um problema novo: assumir a responsabilidade pela reutilização adequada de áreas abandonadas muitas vezes estigmatizadas por contaminações desconhecidas, com riscos dificilmente calculáveis. Sanchez (2001) apresenta um resumo dos instrumentos legais aplicados dentro destas políticas mas alega, que a abordagem corretiva não resolveu o verdadeiro problema: como conseguir os recursos financeiros para devolver todas as áreas para o ciclo econômico e como prevenir novas áreas contaminadas ou degradadas. Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 7 Nos países em questão, a legislação ambiental de caráter corretivo, a partir dos anos 80, vinculou a remediação e a reutilização de áreas contaminadas á critérios restritivos ou extremamente conservadores. Isso se refletiu nos conceitos da multifuncionalidade da legislação Holandesa e na lei CERCLA (Comprehensive Environmental Response Compensation and Liability Act) dos E.U. e entrou em colisão com as políticas de desenvolvimento, muitas vezes conflitando com as leis de planejamento e uso do solo. Observam-se impedimentos no desenvolvimento econômico e decadência social, como p.ex., no caso das regiões industriais tradicionais, em Pittsburg e Buffalo, E.U.; Liverpool, Reino Unido e nas regiões carboníferas da França, Bélgica, Inglaterra e Alemanha, onde nos anos 70 aconteceu um forte declínio da industria pesada deixando atras passivos ambientais enormes. Tanto os Estados Unidos quanto os países Europeus, especialmente a Alemanha, a Holanda e a Inglaterra, apresentam o mesmo desenvolvimento conceitual-legal nas políticas voltadas ao problema de áreas contaminadas. Diferenciando três gerações de políticas públicas com enfoques diferentes, fica evidente uma flexibilização e um enfoque mais econômico na questão da remediação de áreas contaminadas a partir dos meados da década 90 (Quadro 1): · 1a. Geração: enfoque em defesa ao perigo e soluções para “bombas ecológicas” (exemplo Superfund) · 2a. Geração: enfoque na abordagem sistemática do gerenciamento de áreas contaminadas. · 3a. Geração: enfoque na viabilização econômica da remediação, flexibilização dos padrões e reutilização da área sob critérios econômicos e ambientais 1a. Geração década 70/80 2a. Geração década 80/90 3a. Geração meados da década 90 políticas reativas políticas corretivas Políticas voltadas ao conceito do ciclo econômico e da prevenção leis que focam a defesa ao perigo e inibem a reutilização leis que regulamentam a questão da responsabilidade legal e apresentam critérios para remediação conforme o uso do solo leis que minimizam a responsabilidade, incentivam e viabilizam a reutilização através da relação entre objetivo da remediação, uso futuro do solo e flexibilização dos padrões Quadro 1 Desenvolvimento das políticas públicas voltadas ao assunto “Áreas Contaminadas” apoiados em apoiados em Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 8 3.1 Estados Unidos A base legal da atuação em áreas contaminadas é a Comprehensive Environmental Response Compensation and Liability Act de 1980 (CERCLA ou “Superfund”). Esta lei federal define os critérios para a declaração da contaminação, as obrigações do responsável e os criterios de investigação e os objetos de remediação. Sendo uma lei da 1a. Geração, o “Superfund” foi criado como instrumento que financia a remediação de áreas prioritários com maior risco. A necessidade de atuação imediata sobre áreas de risco explica o caráter restritivo com padrões e objetivos conservadores e uma responsabilidade legal extremamente abrangente e prolongada para o proprietário ou operador da área. Isto obviamente criou pouca motivação para a revitalização de brownfields, já que o risco da responsabilidade objetiva (liability) para eventuais conflitos no uso futuro do solo geralmente foi incalculável. Para solucionar estes entraves legais e incentivar a reutilização de áreas contaminadas, vários políticas, programas e instrumentos legais nos anos 90 foram criados. 3.1.1 EPAEPAEPAEPA BrownfieldsBrownfieldsBrownfieldsBrownfields Program (Federal) Desde 1994 existe a iniciativa de redesenvolvimento econômico de brownfields (Brownfield Economic Redevelopment Initiative) como estratégia para tornar mais eficiente e flexível a reutilização econômica dos brownfields (USEPA, 2003). O Brownfield Program como parte desta política abrange vários subprogramas executados pela União. i Pilot Project Program objetivo: viabilizar investigações e planos para futuros usos de brownfields pilotos. beneficiados: municípios, particulares, sociedades de reabilitação e desenvolvimento. aporte: 200.000 U$/área; 2003: 200 Mi U$ para 362 projetos. ii Revolving Loan Funds objetivo: financiar a remediação de brownfields e investir o reembolso/repagamento dos empréstimos em novos projetos. beneficiados: municípios, particulares, sociedades de desenvolvimento. aporte: 500.000 – 1.000.000 U$/ empréstimo;104 pilotos iii Job Training Program objetivo: gerar empregos na reabilitação de brownfields através de capacitação beneficiados: municípios e desempregados aporte: 200.000 U$ por município iv Showcase Comunities Program objetivo: apoiar iniciativas inovadoras de redesenvolvimento de brownfields (financiamento parcial) beneficiados: municípios aporte: 200.000 U$; apoio por peritos da EPA Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 9 v Tax incentives objetivo: incentivos fiscais no sentido de dedução dos custos ambientais (brownfield reabilitação) dos impostos federais de renda ou impostos municipais prediais. 3.1.2 The Small Business Liability Relief and Brownfield Revitalization Act, 2002The Small Business Liability Relief and Brownfield Revitalization Act, 2002The Small Business Liability Relief and Brownfield Revitalization Act, 2002The Small Business Liability Relief and Brownfield Revitalization Act, 2002 (Federal) – (Lei de alívio da responsabilidade para pequenas empresas para fins de revitalização de brownfieldsbrownfieldsbrownfieldsbrownfields). Esta lei federal isenta da responsabilidade financeira (custos das medidas reparadoras) sob determinados critérios, os seguintes responsáveis: · Pequenos geradores/causadores de brownfields, · Geradores/ organizações sem fins lucrativos, · Geradores economicamente falidos Para proprietários não causadores de brownfields (inocentes) e compradores de boa fé (bona fide) que apesar de terem realizado todas as investigações obrigatórias acabam comparando um passivo ambiental, a lei prevê parcial ou total isenção da responsabilidade legal (liability). 3.1.3 Políticas e legislação em nível estadual Como resposta à uma legislação federal extremamente restritiva, 35 estados americanos regulamentaram e implementaram programas voluntários de remediação(Voluntary Clean Up Programs) para incentivar a revitalização de brownfields. Em geral, estes programas visam flexibilizar: · A responsabilidade civil objetiva · Os padrões e os objetivos da remediação (clean-up) Como instrumento legal de grande importância para a viabilização de remediações voluntárias cita-se o “No further action letter” ou o “certificate of completion”. Estes documentos, na forma de um acordo firmam os objetivos, medidas e procedimentos aplicados a uma remediação conforme o uso que se queira dar à área. Este certificado é dado como garantia ao o executor voluntário de uma medida, protegendo-lhe contra ações legais-institucionais uma vez que ele cumpra todas as exigências legais atuais e fixadas no "letter". Os estados podem através de leis específicas · Isentar da responsabilidade para a remediação o proprietário não- causador da contaminação, · Limitar as responsabilidades de instituições financeiras de brownfields se eles se tiveram tornado proprietários após a causa da contaminação (no caso de hipotecas assumidas), · Proteger investidores e empresas atuando no desenvolvimento urbano contra responsabilidades futuras se eles tiveram agido conforme as exigências legais na implementação de medidas corretivas. Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 10 A declaração e delimitação de "Regiões de Desenvolvimento Prioritário" (Priority funding Areas, Maryland) sob critérios ambientais que visam, entre outros, a revitalização de brownfields é um instrumento legal para inibir o consumo de áreas não edificadas e vincular a liberação de recursos a projetos de desenvolvimento urbano sustentável. Os municípios destas regiões recebem aporte financeiro do Estado para executar as medidas necessárias sob critérios preestabelecidos (ICF et al., 1999) Programas estaduais de fomento a remediações como o State Bond Act, New York, oferecem aos municípios 200 Mi U$ (75% participação do estado, 25% dos municípios) e proteção legal contra futuros riscos de responsabilidade. 3.1.4 Políticas e instrumentos legais em nível municipal Freqüentemente existem conflitos entre as secretarias de meio ambiente por um lado e de planejamento e habitação por outro, em função das diferentes atribuições e interesses destas entidades. Não é raro que as restrições ambientais entrem em conflito com os objetivos do desenvolvimento urbano. Adicionalmente motivos formais e burocráticos podem impedir a revitalização de brownfields. Neste contexto, encaixa-se a petição da US Conference of Mayors (Conferência dos Prefeitos), que exige como prioridade a isenção da responsabilidade para investidores e pessoas jurídicas não causadores da contaminação. Existem vários instrumentos legais, programas e estratégias para incentivar a revitalização de brownfields e minimizar a ocupação de greenfields ou áreas verdes não edificadas, muitas vezes subsidiados por programas de desenvolvimento regional ou fomento à economia regional. Aqui alguns exemplos (Tomerius et al., 2001): Comissão Regional ( North Virginia)Comissão Regional ( North Virginia)Comissão Regional ( North Virginia)Comissão Regional ( North Virginia) objetivo:objetivo:objetivo:objetivo: minimizar a concorrência regional entre municípios através de um plano integral regional (comprehensive plan) visando reduzir a ocupação de greenfields. instrumentosinstrumentosinstrumentosinstrumentos: co-financiamento da infra-estrutura por parte dos investidores (impact fees); o município compra áreas a serem protegidos; zoneamentos, restrições de uso benefíciosbenefíciosbenefíciosbenefícios: impedem só parcialmente a utilização de greenfields porque faltam recursos municipais para a viabilização total. Programas de Crescimento Inteligente (Smart Growth)Programas de Crescimento Inteligente (Smart Growth)Programas de Crescimento Inteligente (Smart Growth)Programas de Crescimento Inteligente (Smart Growth) objetivoobjetivoobjetivoobjetivo: promover ocrescimento econômico com avanços ecológicos e benefícios sociais (princípio da sustentabilidade). instrumentosinstrumentosinstrumentosinstrumentos: capacitação financeira dos municípios para comprar e preservar greenfields e estabelecer limitações de uso (Rural Legacy Program); compra de residências perto do lugar de trabalho diminuindo os impactos do transito (live-near-your-work); criação de empregos dentro de projetos brownfields através de incentivos fiscais benefíciosbenefíciosbenefíciosbenefícios: redução da ocupação de greenfields; emprego; pré-requisito: adesão ao programa é pré-condição de aportes públicos financeiros Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 11 Políticas de arrecadação de impostos municipa ísPolíticas de arrecadação de impostos municipa ísPolíticas de arrecadação de impostos municipa ísPolíticas de arrecadação de impostos municipa ís: objetivo:objetivo:objetivo:objetivo: revitalizar brownfields de forma a permitir um uso mais nobre que justifique maior cobrança de impostos prediais em decorrência da valorização instrumentos:instrumentos:instrumentos:instrumentos: impostos prediais diferenciados cujos uso são vinculados a investimentos como descrito em benefícios benefíciosbenefíciosbenefíciosbenefícios: impostos geram caixa para investimento em infraestrutura, escolas, etc. Limites de crescimento (Growth boundaries, Portland)Limites de crescimento (Growth boundaries, Portland)Limites de crescimento (Growth boundaries, Portland)Limites de crescimento (Growth boundaries, Portland) objetivoobjetivoobjetivoobjetivo: pré-estabelecer limites de crescimento urbano poupando greenfields instrumentosinstrumentosinstrumentosinstrumentos: planos urbanísticos, zoneamento. benefíciosbenefíciosbenefíciosbenefícios: através de alterações no zoneamento, uma área torna se mais valorizada resultando no aumento de preços imobiliários e do imposto predial naquela região, consequentemente viabilizando investimentos em reabilitação de brownfields e gerando recursos que são investidos em habitação popular para compensar o aumento dos aluguéis de habitação de baixa renda dentro desta região (comparável com “Operação Urbana”) 3.2 Alemanha As bases legais atuais que regulamentam a reabilitação de áreas degradadas (Brachflächenrecycling) estão resumidas no Quadro 2. Em relação à revitalização de áreas degradadas, a Alemanha mais que os Estados Unidos, baseia-se e utiliza a legislação de planejamento e ordenamento territorial. Isto se explica pelo fato de que já existe uma integração entre questões ambientais e de desenvolvimento sustentável em tais leis. Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 12 Lei de ordenamento Territorial (Raumordnungsgesetz) Regulamenta o planejamento do uso do solo e prioriza a reutilização de áreas degradadas Código de obras (Baugesetzbuch) Exige uso econômico do solo e a limitação da impermeabilização do solo Código estadual de obras (Landesbauverordnung) Especifica e detalha as diretrizes das leis federais Planejamento Regional (Regionalplanung) Especifica e detalha as diretrizes das leis federais Planejamento de expansão urbana (Bauleitplanung) Faz consideração especial de proteção do solo e meio ambiente na obra; insere e prioriza a reutilização/reabilitação de áreas no planejamento Contrato urbanístico, plano de uso do solo, Planta de utilização de solo e de ocupação urbana §11,6 BauGB (Städtebaulicher Vertrag, Flächennutzungsplan, Bebauungsplan) Fixam e concretizam as diretrizes legais em forma de planos e contratos:obrigações de identificar e documentar áreas suspeitas/ contaminadas no plano de obras e edificações e cruzar coma uso do solo Lei de proteção do solo (Bundesbodenschutzgesetz) Exige o restabelecimento das capacidades naturais de um solo não impermeabilizado sob critérios da proporcionalidade Contrato e plano de remediação (Sanierungsvertrag,§ 13,4) Visa a execução do plano de remediação; direciona a reabilitação e o uso futuro; coordena os tramites legal- administrativos e licenças Quadro 2 Resumo das bases legais no âmbito do ordenamento e planejamento territorial, código de obras e meio ambiente na Alemanha Le gi sl aç ão A m bi en ta l L eg is la çã o de p la ne ja m en to e o rd en am en to te rr ito ra l e d e O br as N ív el F ed er al M un ic ip al E st ad ua l F ed er al Instrumento legal Relevância para a reabilitação Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 13 As últimas revisões da Lei Federal de ordenamento territorial de 1989 e 1993 (Bau- und Raumordnungsgesetz (ROG)), colocam claramente como prioridades: · O fortalecimento de áreas rurais e verdes, · A consideração de aspectos ambientais enfatizando o uso e o consumo moderado de espaços livres (ROG, § 2). O conceito básico do ROG é obrigatório para o planejamento territorial estadual, legalmente fixado nas leis estaduais de planejamento e ordenamento territorial. No nível estadual elaboram-se os planos de desenvolvimento estadual (Landesentwicklungspläne), cujos objetivos são obrigatoriamente adaptados ao ROG. Em nível municipal, porém, os conceitos da ROG, assumidos nos planos de desenvolvimento estadual e regional não são bem regulamentadas. Aqui o Código de Obras (Baugesetzbuch) é a principal ligação funcional para inserir os conceitos da ROG na execução de medidas urbanísticas em nível municipal. O Parágrafo 1 da ROG exige entre outros: · A manutenção das condições de moradia que garante a salubridade e o bem estar da população, · A preservação de bairros tradicionais, · O uso do solo de maneira econômica e cuidadosa, preservando as áreas verdes rurais e florestais. Na realidade, porém, o planejamento de expansão urbana (Bauleitplanung) sob a forma do Plano de ocupação urbana (Bebauungsplan) e plano de utilização do solo (Flächennutzungsplan) sendo o instrumento principal para implementar os objetivos e conceitos da ROG, tem sempre a obrigação de seguir as diretrizes superiores. Assim, fica claro que o município tem que identificar obrigatoriamente possíveis contaminações do solo (§ 9, 5). A desconsideração destas áreas nos planos municipais de utilização do solo e de ocupação urbana significa assumir responsabilidade legal do município quanto aos conflitos ambientais decorrentes do futuro uso destas áreas (Selke et al., 1992) Existem, como seguem, no Código de Obras, instrumentos legais para direcionar o uso econômico do solo: · Contrato urbanístico de desenvolvimento (Städtebaulicher Erschließungs- vertrag) que determina os termos de uma medida de desenvolvimento para a construção e uso, · O planejamento de ocupação urbana (Bebaungsplan), · Medidas e planos de melhoramento e saneamento urbanístico (Städebauliche Sanierungsmaßnahmen) inclusive a reabilitação de áreas. Todos estes instrumentos exigem uma “avaliação cuidadosa dos interesses públicos e privados”, conforme a lei. Esta frase dá margem a todos os instrumentos específicos de parceria pública privada descrita no capitulo 4.3. Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 14 No âmbito da legislação ambiental, a Lei Federal de Proteção do Solo e Remediação de Áreas Contaminadas de 1998 (Bundes-Bodenschutzgesetz) não é tão significativa para questões relacionadas ao planejamento e é claramente subordinada às leis de planejamento territorial2. Dois aspectos desta lei regulamentados na “Portaria de Proteção do Solo“ (Bodenschutz- und Altlastenverordnung) de 1999 são de grande importância para a reabilitação de áreas: i Os valores de investigação e remediação voltados para quatro usos (playground, residências, parques, indústria e comércio); § 8, ii O plano de remediação e investigação para a remediação, § 13. Os valores de investigação são aplicados para determinar se um certo uso é tolerável ou se há indicações para a existência de um risco, o que exigiria investigações adicionais e medidas de intervenção e remediação. Neste sentido estes valores relacionados ao risco são uma ajuda real para os municípios no sentido de determinar usos futuros para áreas degradadas e contaminadas. Na prática as áreas cujos valores de investigação são ultrapassados, podem ser reutilizadas desde que seu uso futuro seja menos sensível o que significa exigências legais mais permissivas. Os objetivos de remediação têm que ser orientados ao uso futuro proposto e não precisam se orientar ao uso mais sensível permitido e fixado no plano do uso do solo (Sondermann et al., 2000) O processo administrativo que fixa os termos de uma remediação com o objetivo da descontaminação, o futuro uso do solo e as obrigações de todos os partidários envolvidos é o Contrato de Remediação. Ele regulamenta a execução do Plano de Remediação segundo Parágrafo 13, da Lei de Proteção do Solo. Este plano é obrigatoriamente elaborado pelo responsável e aprovado pelo órgão competente. Ele contém: · Um resumo da avaliação do risco e da investigação para a remediação, · Informações e dados sobre o uso atual e proposto, · O objetivo da remediação, as medidas/tecnologias a serem aplicadas e um cronograma de execução. Um detalhamento do Plano de Remediação encontra-se no Anexo 3 da Portaria de Proteção do Solo, de 1999. O Contrato de Remediação é um instrumento central na reabilitação de áreas que acelera este processo, já que ele representa um acordo ou ajuste público-privado que, desde o início, fixa e sintoniza os objetivos da remediação com o novo uso que se quer dar à área, levando em consideração interesses dos envolvidos como: · Coordenação e sintonização dos processos administrativos e de licenciamento, 2 Em primeiro lugar, esta lei regulamenta a “defesa ao perigo” , as medidas necessárias e as responsabilidades no processo de minimizar ou eliminar riscos surgidos de áreas contaminadas. Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 15 · Consenso entre os órgãos competentes sobre as exigências relacionadas à reabilitação do terreno especialmente no que se refere às exigências decorrentes do código de obras e da lei da proteção do solo, · Estabelecimento da abrangência da responsabilidade de cada ator, no que se diz respeito à execução, metas, objetivos e encaminhamento da remediação. Assim o contrato público-privado que regulamenta a remediação é um instrumento de flexibilização e de criação de consenso entre todos os envolvidos sobre os objetivos, responsabilidades, custos e prazos (Burmeier, 2002). 3.3 Outros países europeus Os países europeus mais industrializados como o Reino Unido, a França, a Bélgica, os Países Baixos e regiões da Espanha e da Itália também estão tratando do problema de reabilitação de áreas degradadas. Entretanto, estratégias, políticas e programas específicos existem apenas no Reino Unido, na França e nos Países Baixos(Clarinet, 2001/1). Os Países Baixos apoiam a reabilitação de áreas degradadas (estimados de ocupar uma área total de em 9000 – 10000ha) através de fundos como BELASTATO voltado para a revitalização urbana. São desembolsados cerca de 363 Mi US$ por ano. Sob a Lei de Proteção de Solo, são liberados anualmente cerca de 230 Mi US$ para remediação de áreas contaminadas prioritárias, tanto públicas quanto privadas. No Reino Unido existem quatro programas governamentais que enfocam a reabilitação de áreas degradadas (estimadas em 39.600ha) com objetivo de prevenção do consumo de áreas não edificadas (greenfields). O programa dentro do âmbito do planejamento territorial (town and country planning system) inibe a utilização exagerada de áreas verdes através de um mecanismo que força a autoridade local de planejamento a checar o potencial de reabilitação de áreas degradadas antes de ocupar áreas verdes. Programas de capacitação e suporte técnico desenvolvidas pelo governo e particulares, visam identificar “best practices”, assessorar projetos, desenvolver novas tecnologias de remediação, revisar os sistemas de licenciamento e da responsabilidade legal. Programas de suporte financeiro incluem financiamento de reabilitações, assumem garantias para empréstimos inclusive pagamento de juros e garantias (fiador) e proporcionam incentivos fiscais como créditos (tax credits) para custos de remediação ou dedução de impostos de venda de terrenos reabilitados. Existem fundos nacionais, agências e fundos de desenvolvimento regional que geralmente beneficiam os governos locais. Programas governamentais de desenvolvimento apoiam, preparam e encaminham medidas de reabilitação para o setor privado providenciando infraestrutura ou “framework” (quadro) de planejamento e uso do solo. Na França com uma estimativa de 20.000ha de áreas degradadas, existem políticas e programas nas regiões industrializadas de Lorraine e no noroeste do país. Entre 1986 e 1997 a agência regional de desenvolvimento EPMC, investiu mais de 100 Mi de US$ incluindo fundos da UE para a reabilitação de áreas degradadas. Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 16 E st ra té gi as d e ot im iz aç ão N um er o de á re as Fo m en to in di re to in ce nt iv os fi sc ai s fu nd os d e ris co A B C Fo m en to d ire to Custos de reabilitação/valor imobiliário A Itália e a Espanha têm programas e fundos que visam a remediação em áreas contaminadas prioritárias ou de interesse nacional. Várias reabilitações estão sendo executadas sob estes programas. A União Européia dispõe de vários instrumentos de financiamento como o European Regional Development Fund que co-financia projetos e iniciativas de reabilitação urbana e econômica para contrabalançar desigualdades regionais na EU. Muitos dos programas acima citados atuam em conjunto com este fundo. 4 FINANCIAMENTO E INSTRUMENTOS ECONÔMICOS É unanimidade que a reabilitação de áreas degradadas é principalmente uma questão de financiamento. Segundo Barczewski et al. (2003) o conceito de reabilitação diferencia entre três situações básicas. (Quadro 3) Quadro 3 Situações básicas de viabilização econômica de reabilitação de áreas degradadas A. O valor imobiliário da área é muito mais alto do que os custos de reabilitação; estas áreas podem ser comercializadas com facilidade e sem ajuda de financiamento externo. B. Na maioria das áreas a reabilitação ou revitalização pode se tornar viável com o apoio de instrumentos gerenciais, legais e financeiros. Estes incluem: Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 17 · redução dos custos através de uma remediação orientada ao uso futuro; gerenciamento e comunicação adequados; uso de experiências de terceiros etc., · apoio financeiro direto através de recursos públicos, · fomento indireto através de incentivos fiscais; limitação da responsabilidade; fundos financeiros que assumem riscos “residuais” para remediações imprevistos e motivam parcerias públicas e privadas. C. O valor imobiliário é tão baixo (pela falta de demanda) ou os custos de reabilitação são tão altos (pela complexidade da contaminação) que estas áreas nem mesmo com a ajuda de financiamentos externos poderão ser comercializadas Resumindo: o financiamento pode consistir em · aporte direto de recursos públicos através de fundos, orçamento público, programas financeiros; · aporte indireto de recursos públicos através de incentivos fiscais; · em investimentos de empresas ou entidades privadas. 4.1 Fundos e Programas de financiamento 4.1.1 Estados Unidos Os programas de financiamento mais importantes em nível federal são: · Pilot Project Program · Revolving Loan Funds · Community Reinvestment Act · HUD Development Program Enquanto o Pilot Project Program financia medidas piloto (ver 3.1.1.), o Revolving Loan Funds (RLF) é um fundo federal que financia com empréstimos projetos de revitalização de brownfields até 1 Mi de US$. O reembolso dos empréstimos realimenta o fundo (revolving). Existem RLF em nível estadual e municipal apoiados pela Environmental Protection Agency- USEPA (Süsskraut et al., 2001) O Community Reinvestment Act de 1977, destinado a quitação (repayment) de empréstimos feitos por bancos para revitalização urbana desde 1995, também é usado para brownfields. A EPA arca com o reembolso dos empréstimos dados. O Development Program do Federal Department of Housing and Urban Development- HUD da empréstimos para o desenvolvimento urbano. No caso de brownfields a quitação dos empréstimos segue o seguinte mecanismo (Quadro 4): Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 18 Quadro 4 Modelo de financiamento de reabilitação de brownfields usando emprestimos do HUD e tax increment mecanismos (de imposto adicional) * O Tax Increment Financing (TIF) é um instrumento legal usado em 47 estados da União desde mais que 20 anos. Criado por leis estaduais, possibilita os estados de autorizar os municípios de arrecadar um adicional (increment) de impostos sobre propriedades (property taxes). Este adicional é criado através de um mecanismo legal de designação de distritos TIF (TIF district designation). O distrito TIF é uma área, bairro ou distrito da cidade, muitas vezes em declínio ou sub utilizada, em qual a prefeitura pretende promover desenvolvimento urbano, melhoramentos de infraestrutura e dos serviços básicos. Com isso, ele cria incentivos para a empresa privada de promover investimentos, que afinal levam a uma valorização geral do distrito, especialmente dos preços imobiliários, que alcançam um valor n+x, sendo n o valor estabelecido e fixo antes da criação do distrito e x o adicional (increment) após a valorização. Este adicional é usado para financiar as obras de infraestrutura e para quitar eventuais dividas com empréstimos do Estado ou da União. (Illinois TIF Association, 2003) Em nível estadual existem vários programas de financiamento diretos como o Priority Funding Areas Program ou State Bond Act, descritos no Capítulo 3.1.3., e beneficiando principalmente os municípios. Em nível municipal poucas experiências de financiamento direto são relatadas (veja 3.1.4.). Aqui o financiamento indireto através de incentivos fiscais e de parcerias públicas privadas são os instrumentos mais aplicados. HUD fornece o empréstimo Revitalização de brownfieldsAumento do preço imobiliário Infra-estrutura, brownfields Arrecadação adicional de impostos, que segundo a Lei do Tax Increment* para resulta gera quita investe-se reinveste-se Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 19 4.1.2 Alemanha Dentro das políticas de fomento à economia regional (Regionale Wirtschaftsförderung) existem vários programas em nível federal e europeu, que também beneficiam a reabilitação de áreas degradadas. Os programas da UE têm como objetivo principal apoiar o câmbio estrutural econômico em certas regiões e minimizar as desigualdades econômicas entre as regiões. (veja 3.3). Na Alemanha estes programas (“Melhoramento da estrutura econômica regional”) beneficiam certos setores produtivos, empresas privadas e municípios em determinadas regiões do país, sendo administrados pelas secretarias de Fazenda dos estados. É importante frisar que estes programas e instrumentos de financiamento destinam-se, em primeiro lugar, à empresa privada e aos municípios com o intuito de assegurar empregos, capacitar recursos humanos, promover novas tecnologias e soluções tecnológicas e gerenciais e sanear o meio ambiente. Ao contrário dos Estados Unidos, não existem programas específicos para a reabilitação de áreas degradadas em nível federal. A maioria dos estados alemães tem programas para promover a remediação e a reabilitação de áreas contaminadas e degradadas. Estes programas apoiam os municípios na investigação e remediação através de assistência técnica e recursos financeiros. Os Estados de Nordrhein Westfalen (NRW) e Brandenburg estabeleceram fundos para financiar a remediação de áreas contaminadas, alimentados pelos geradores e empresas de tratamento de resíduos sólidos (“Lizenzmodell”). A associação estadual “Altlastenentsorgungs- und sanierungsverband NRW” (AAV) administrou este fundo, que foi utilizado para a reabilitação de áreas de indústrias abandonadas. No ano de 2000 este fundo parou de existir na sua forma inicial. Um instrumento central no financiamento e gerenciamento de medidas de reabilitação é a “Sociedade de Desenvolvimento Estadual” (Landesentwicklungsgesellschaft – LEG) criada por lei em vários estados da Alemanha. Trata-se de empresas de direito privado maioritariamente estadual (empresa de economia mista), cuja direção é constituída por funcionários públicos de alto escalão. As LEGs promovem o desenvolvimento regional tanto no que diz respeito ao planejamento quanto na implementação de projetos de habitação e urbanização. De fato, trata-se de empresas imobiliárias que atuam segundo as regras de mercado, podendo gerar lucros e reinvestimentos e, ao mesmo tempo, observar os objetivos e interesses públicos. A elas podem estar ligados fundos imobiliários como no caso do Estado de Nordrhein Westfalen (Grundstücksfond Nordrheinwestfalen- NRW). A LEG-NRW enquanto administradora deste fundo promove desde 1980 a compra, a reabilitação e a comercialização de áreas industriais abandonadas e muitas vezes contaminadas. O fundo é alimentado por recursos do orçamento estadual. Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 20 4.1.3 Outros países Informações gerais á respeito de programas de financiamento e incentivos fiscais no Reino Unido, França e Países Baixos encontram-se no Capítulo 3.3. É importante frisar que programas nacionais que beneficiam empresas privadas foram considerados “state aids” ou incentivos estatais – contrariando as políticas de competição na Europa. Assim estes programas têm que ser aprovados pela União Européia antes de serem implementados. 4.2 Incentivos fiscais e financiamento indireto 4.2.1 Estados Unidos O Brownfields Tax Incentive (Taxpayer Relief Act, 1997) possibilita a dedução sobre os custos totais para a remediação de brownfields no primeiro ano de vigência do projeto. O contribuinte tem que ser proprietário da área. Calcula-se, porem, que a não arrecadação de 300 Mi US$/ano decorrente desta lei pode incentivar 3.4 Bi US$ de investimentos privados e a revitalização de 8000 brownfields! O modelo de Tax Increment and Finance (incremento/ impostos adicionais) baseando-se nas legislações estaduais do Tax Increment (descrito em 4.1.1), possibilita o reinvestimento de ganhos fiscais obtidos através da valorização de brownfields, permitindo que os recursos O Fundo Imobiliário de NRWFundo Imobiliário de NRWFundo Imobiliário de NRWFundo Imobiliário de NRW, desde 1980 até 1997 comprou 2400 ha de áreas degradadas, maioritariamente industriais. Deste total 971 ha foram reabilitadas e devolvidas para o ciclo econômico (40,5 %) (Ministerium für Stadtentwicklung NRW, 1998) Durante 17 anos (1980 e 1997), cerca de 1.16 bi US$ (2,32 bi DM) ou 60 Mi US$ (120 Mi DM) por ano foram investidos na reabilitação de áreas de interesse urbanístico ou regional que estavam desvalorizadas em decorrência de degradação ou contaminações. Para um total de 390 ha encontrou-se um novo uso industrial/comercial o qual pode ser ligado à geração de 12.000 empregos. A reutilização destas áreas reabilitadas tem que cumprir os seguintes critérios: · Garantir alta qualidade urbanística através de arquitetura sofisticada assim gerando alto valor de mercado, · Dar incentivo à geração de empregos através da diversificação do uso e da implantação de incubadoras e centros tecnológicos, · Favorecer um uso misto sustentável através da integração de lugares de produção e trabalho, comércio, habitação/residências e lazer, · Promover usos inovadores com conotação sócio-cultural através da preservação de características históricas- industriais valorizadas (museus em indústrias, galpões para eventos culturais, parques industriais, etc. para o lazer) Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 21 investidos em remediação reflua para outros benefícios públicos, sendo aplicados em projetos de infra-estrutura, educação ou revitalizações de outros brownfields (Quadro 4)3 Além dos modelos específicos acima descritos existe uma grande variedade de incentivos fiscais, tanto de dedução de impostos quanto de isenção do pagamento de impostos no primeiro ano de incidência. Os municípios utilizam principalmente impostos equivalentes ao IPTU e ao ISS. O objetivo de incentivos fiscais é a motivação para investimentos quase sempre acompanhados de outros incentivos como o alívio da responsabilidade ou a flexibilização dos padrões e exigências de remediação conforme os usos pré-estabelecidos. A maioria das perdas em arrecadação de impostos através dos incentivos fiscais parece ser compensada, como vantagem, pela valorização dos imóveis, sua reinserção na economia e pelas vantagens sócio-econômicas decorrentes deste processo. Os programas estaduais também compensam a perda de impostos (Bridgeport, Connecticut) (Tomerius et al., 2001) 4.2.2 Europa Incentivos fiscais estão sendo usados no Reino Unido, beneficiando a venda de áreas em regiões estruturalmente decadentes, através de dedução de imposto de venda (stamp duty) e créditos fiscais para medidas de remediação (Süsskraut et.al., 2001) A antecipação da dedução de impostos representa um incentivo fiscal nos Países Baixos (Exemplo: uma remediação planejada para 2013 no valor de 10 Mi US$ pode ser deduzida anualmente em 1 Mi US$ a partir de 2003). A implementação da remediação tem que ser garantida por parte do responsável através de contratos. Problemas ocorrem se o início da remediação sofre atraso, tornando este instrumento questionável. 3 Na cidade de Chicago, este modelo foi aplicadoa 22 corredores industriais, alguns contendo brownfields. Para cada corredor foi feito um planejamento estratégico especifico e um detalhamento dos instrumentos fiscais. Em alguns corredores foi definida a linha- base fiscal a ser aplicada seguindo os critérios do Tax Incremente Finance (ver 4.1.1.). Em decorrência dos planos estabelecidos em consenso entre os partidos e os investimentos publicos feitos em infraestrutura, os investidores foram motivados á investir com uma maior segurança de retorno financeiro (City of Chicago www.ci.chi.il.us ) Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 22 4.3 Instrumentos econômicos e gerenciais entre as esferas públicas e privadas O envolvimento de agentes privados é um elemento central na reabilitação de áreas degradadas comercializáveis e assim muitas vezes economicamente interessantes. Atores privados, investidores, instituições financeiras e companhias de seguro têm um papel importante na implementação de medidas e na comercialização dos objetos no mercado. O termo “Parcerias Público Privadas” (Public Private Partnership - PPP) abrange uma grande variedade de modelos de cooperação entre parceiros públicos e privados (Quadro 5). Estas parcerias que visam a reabilitação com enfoques diferentes, devem sempre e idealisticamente proporcionar uma situação vantajosa para os dois (situação “win win”), tendo inputs ou participações diferentes porém complementares de ambos os parceiros. Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 23 Setor Público Setor Privado PPP Participação com: · Atribuições legais · Viabilização de financiamentos públicos · Flexibilização e concentração dos trâmites burocrático- legais Participação com: · Tecnologia/know how · Gerenciamento · Recursos financeiros · Flexibilidade executiva/ comercial Objetivos · Desenvolvimento urbano sustentável · Geração de emprego · Preservação ambiental · Equilíbrio social · Redução do uso do solo Objetivos · Interesses empresariais e econômicos · Lucro comercial Quadro 5 Parcerias Público-Privadas na reabilitação de áreas degradadas Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 24 Sociedade de Desenvolvimento de Reabilitação Município Empresa Privada Sociedade de desenvolvimento estadual Instituições financeiras Stakeholders As parcerias acontecem sob diversas formas e, por exemplo na Alemanha são previstas por lei, como se pode verificar no parágrafo 13 da Lei Federal de Proteção do Solo, prevendo o Contrato de Remediação como forma de parceria público privada (veja Cap. 3.2.) ou o Contrato urbanístico (Städtebaulicher Vertrag) do Código de Obras, § 124, que possibilita a contratação de terceiros para o desenvolvimento urbanístico. As medidas são implementadas através de "sociedades de desenvolvimento de projetos de reabilitação", formadas especificamente para tal objetivo, firmadas por contrato e constituídas por parceiros (stakeholders) como mostra o exemplo em Quadro 6. Erro! O parceiro privado pode ser representado pelo proprietário da área ou por uma empresa especializada em engenharia, construção ou desenvolvimento de projetos urbanísticos. Sociedades de desenvolvimento em nível estadual ou municipal podem solicitar financiamentos tanto públicos (programas) quanto privados (bancos). Quadro 6 A Sociedade de Desenvolvimento de Projeto de Reabilitação e o círculo de outros atores (stakeholders) Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 25 O município é o proponente principal do projeto e assegura a implementação conforme os pré- requisitos legais de planejamento, encaminhamento e ocupação de solo. Os modelos de reabilitação em parcerias público privadas (Quadro 7) têm como base contratos de implementação negociados livremente entre municípios e empresas privadas (Geschäftsbesorgungsvertrag) ou sociedade de desenvolvimento de projetos (Treuhandvertrag). Em ambos os casos o município se reserva o controle sobre os recursos e aportes públicos federais ou estaduais que em geral são necessários para tornar a reabilitação viável. Na Alemanha o financiamento público-privado de reabilitação é a forma mais usada: 40% das medidas implementadas são realizadas através de parcerias público-privadas, seguido de financiamentos exclusivamente privados em 32% e exclusivamente público em 24% das reabilitações realizadas (Tomerius et al., 2001) No caso da implementação de uma reabilitação por sociedade de desenvolvimento de projeto esta entidade atua autonomamente mas contratado pelo município e com plena confiança (fiel depositário - Treuhand). A sociedade pode assessorar o município em questões de direito de planejamento, de ordenamento da ocupação do solo e na comercialização da área. Um novo instrumento na tramitação da reabilitação é o seguro de risco, procurado para minimizar ou gerenciar o risco de custos adicionais decorrentes de imprevistos na remediação de contaminações muitas vezes não plenamente conhecidas. Como estes custos são essenciais para a viabilidade econômica da reabilitação, uma demanda adicional de recursos pode colocar em risco a rentabilidade da medida inteira. Existem várias modalidades de apólices que assumem todos os custos para a remediação de contaminações não conhecidos no momento do fechamento do contrato ou cobrem custos acima do estimado de uma remediação prevista. Obviamente os prêmios estão sendo estipulados após uma investigação detalhada por parte da companhia de seguros. Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 26 Quadro 7 Formas de implementação e financiamento de projetos de reabilitação de áreas degradadas através de sociedades de desenvolvimento em conjunto com municípios Sociedade de projeto compra área com recursos do município Área entra como capital na sociedade Sociedade desenvolve a reabilitação e comercializa a área Município reembolsa através de preço de venda e assume o risco de venda Sociedade de projeto compra área com próprios recursos Município assume compro- misso de comprar a área após 5 anos; co-determina preço de venda Sociedade desenvolve a reabilitação e a comercialização da área Município e parceiros dividem os lucros conforme contrato Sociedade de projeto e município firmam contrato de desenvolvimento da área Sociedade desenvolve a reabilitação com próprios investimentos Sociedade refinancia investimentos com venda, município participa nos lucros conforme contrato programas de financiamento federal/estadual (veja Cap.4.1) Exemplo 1 Exemplo 2 Exemplo 3 Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 27 5 FORMAS DE GERENCIAMENTO, COORDENAÇÃO E DIREÇÃO É unânime que a reabilitação de áreas degradadas é uma tarefa de coordenação entre vários atores, envolvendo, em geral, os setores públicos e privados. Modelos de financiamento e de gerenciamento são intrinsecamente intercalados. Especialmente em nível local é um grande desafio o gerenciamento do processo e da coordenação entre os “stakeholders”, uma vez que os recursos financeiros obtidos através de programas federais/estaduais ou através de incentivos fiscais, são geralmente administrados e utilizados em nível municipal. O primeiro desafio consiste em gerar consensoentre os diferentes órgãos públicos, em geral as repartições de habitação, planejamento, fomento à economia e meio ambiente, e de alinhar interesses e obter consenso a respeito de exigências legais, ambientais e de planejamento entre o poder público e particulares. Os mecanismos e modelos geralmente usados são: i grupos de trabalho, unidades de gerenciamento e coordenadorias subordinadas p.ex. ao prefeito e agregados aos órgãos públicos, ii sociedades maioritariamente municipais de direito privado com participação particular (empresa de economia mista), iii agências e sociedades de desenvolvimento em nível estadual ligados a fundos imobiliários. Todas estas entidades de gerenciamento têm como objetivo: · Incentivar medidas de reabilitação, · Flexibilizar os processos burocráticos, · Gerar transparência na comunicação, · Gerar consenso, · Atender melhor as necessidades econômicas do mercado imobiliário e do marketing. Na Alemanha 49 % das medidas de revitalização foram implementadas e 40 % foram financiadas através de parcerias público-privadas. 5.1 Gerenciamento por unidades inter-setoriais/inter-secretarias Segundo um levantamento sobre as experiências de gerenciamento e coordenação de reabilitações em 149 cidades alemãs, a coordenação inter-secretarias é o fator mais importante na viabilização institucional de medidas de reabilitação. Como mostram os Quadros 8 e 9 a maioria das medidas estão sob responsabilidade de uma secretaria só. Porém para um encaminhamento satisfatório de reabilitações em nível municipal é indispensável a criação de entidades organizacionais interdisciplinares entre as secretarias, atores privados e unidades de coordenação dos processos de licenciamento. Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 28 Levantamento realizado em 149 cidades alemães pelo Instituto Alemã de Urbanistica ( Tomerius et al., 2001) 1. Direção e coordenação do processo: na maior parte das cidades fica sob a competência da Secretaria de Planejamento (50%), seguido pela Secretaria de Fomento à Economia (26%). Sociedades de desenvolvimento (8%) e unidades inter-secretarias de coordenação estão em terceiro lugar seguidos por Secretarias de Meio Ambiente (5%) 2. Coordenação das atribuições das secretarias: antes do início do processo de reabilitação, as necessidades de licenciamento e planejamento das secretarias são informalmente sintonizadas em grupos de trabalho, conselhos ou comissões inter-secretarias.Os processos de licenciamento são centralizados e sintonizados. Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 29 Quadro 8 Modelos de Gerenciamento municipal de reabilitação de áreas degradadas, segundo Tomerius et al., 2001 Cadastro de obras Secretarias Licenciamento central no “balcão único” em 8 semanas Cooperação intersecretarial é tarefa obrigatória através de decreto do prefeito Investidores Duisburg . identificação de investidores da “economia nova” Prefeito “Projeto Dortmund” direção geral de projetos de reabilitação estabelecimento de um quadro favorável para investidores coordenação de recursos financeiros Fundação com empresas privadas Cidade de Dortmund Unidade de coordenação e direção na prefeitura 1 Gerente: Coordenador Central Sintonização Inter secretarias Moderação Es ci to rio d e ap oi o ao s in ve st id or es G ru po s de P ro je to Sociedades de desenvolvimento Cidade de Duisburg Prioriza medidas Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 30 Quadro 9 Modelos de gerenciamento de remediação de áreas degradadas segundo Tomerius et al., 2001 ciamento municipal de comercialização marketing “new economy” Secretaria de planejamento (Department of Planning) (1) VCP = Voluntary Clean-up Program (2) Carta que garante a suficiência de medidas de remediação Prefeito Secretaria de Meio Ambiente (Environmental Department) Cidade de Chicago Gerenciamento de fundos e programas Insere a reabilitação em programas de VCP (1) Obtém No-further-remediation letter (2) Implementa as medidas de reabilitação Cidade de Saarbrücken Secretaria do governo (Hauptdezernat) Sociedade de Inovação e fomento empresarial e gerenciamento de áreas (= Sociedade municipal de direito privado, 68 % municipal) C om un ic aç ão , n et w or ki ng apoio político Se cr et ar ia s Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 31 Em seguida são apresentados dois exemplos de reabilitação de áreas degradadas por uma sociedade de desenvolvimento de projetos. Ambos casos tratam da reabilitação de áreas parcialmente contaminadas localizadas em regiões urbanas de valor imobiliário considerável. Em ambos casos a reabilitação resultou em uma valorização dos terrenos em conseqüência de um uso mais nobre, residencial ou comercial (Ministerium für Umwelt und verkehr, Baden-Württemberg, 2002) No caso “Kienzle” (ver 5.2) , a área reabilitada foi subdividida em dois tipos de uso: residencial e estacionamento/comercial. Isso se explica pela existência de contaminações mais complexas em partes do terreno cuja remediação completa seria custosa demais, porem compatível com um uso comercial. No caso “Ferro Velho” (ver 5.3) a reabilitação se realiza dentro de um conceito de revitalização urbanística regional, envolvendo terrenos publico e privados na vizinhança. Ambos os casos foram realizados através de uma Sociedade particular de desenvolvimento de reabilitação. Sem entrar em explicações detalhadas dos gráficos e organogramas, as seguintes observações em relação ao gerenciamento da medida podem ser feitas: · a fase de concepção e planejamento é relativamente grande (39 meses no caso Kienzle respectivamente 101 meses no caso Ferro Velho), · todos os trâmites burocráticos, de planejamento e licenciamento foram coordenadas pela Sociedade de desenvolvimento, · contratos de cunho público privado formam a base para a remediação e garantem segurança aos investidores em relação ao objetivo da remediação e ao futuro uso, · a sociedade assume os riscos civis e econômicos através de contratos, · a captação de financiamento público fica por conta da Sociedade de desenvolvimento (caso “Ferro Velho”), · a venda para os investidores pode acontecer antes (“Kienzle”) ou depois (“Ferro Velho”) das medidas de remediação executadas. 32 5.2 Reabilitação da indústria abandonada Kienzle Localização · Indústria abandonada · Centro de cidade de 81.000 habitantes · Área residencial no norte · Escolas perto · Rodovia regional perto Situação da área degradada · Fabrica de relógios a partir de 1901 · Contaminação por hidrocarbonetos e solventens, detectado em 1980, área ficou ociosa · Demolição em 1990 · Avaliação de risco pelo órgão publico Uso urbanístico (17 ha) · Avaliação do potencial · Mudança do plano de edificação · Contrato urbanístico regulamenta a participação da Sociedade no planejamento e custosde infraestrutura · Plano e edificação: estacionamentos e feira no Norte, · 180 residências fora dos focos (hotspots) no Sul, · Bacia de retenção de águas pluviais no Leste 33 Cronograma Reabilitação KIENZLE – Areal Atividades institucionais Atividades particulares Análise uso local Check dos pré- requisitos legais referentes à obra Investigação para remediação e disposição de solos tratados Negociações e compra de terreno Sociedade de desenvolvimento de projetos Financiamento terreno Conceito urbanístico Plano de remediação Contrato de remediação público-privado Venda para investidores Reengenharia remediação desenvolvimento público, infraestrutura 1 INÍCIO Levanta- mento 2 meses Concepção 4 meses 6 meses Implantação em execução Aceitação legal do risco; plano de obra, remediação Financiamento remediação desenvolvimento imobiliário Início plano de obras Financiamento planejamento + identificação investidores Modificação plano edificação Contrato urbanístico Plano edificação aprovado Planejamento 11 meses 16 meses 34 5.3 Reabilitação de área comercial “Ferro velho” Localização · Cidade de 50.000 habitantes · perto de linha de trem · região de uso misto residencial e comercial · área de proteção de mananciais Situação da área degradada · Hidrocarbonetos, PAH, PCB, metais pesados no solo, decorrente de disposição e tratamento de sucata; · remediação: remoção do material contaminado Uso urbanístico planejado (16.4 ha) · Residências e lojas · Integração em medida de desenvolvimento urbanístico regional 35 Início Levanta- mento 12 meses Concepção 40 meses Planejamento 49 meses Implantação Em execução Análise uso local Check dos pré- requisitos legais referentes à obra Investigação para remediação Contato com o proprietário Sociedade de desenvolvimento de projetos Financiamento público Plano urbanístico Plano de remediação Identificação investidores Financiamento imobiliário Contrato de remediação Plano edificação aprovado Financiamento planejamento Reengenharia remediação desenvolvimento público Compra Aceitação legal do risco plano obra, remediação Financiamento remediação Venda para investidores Cronograma Atividades institucionais Atividades particulares Reabilitação “Ferro Velho Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 36 6 RESUMO DOS PRINCIPAIS PRÉ-REQUISITOS PARA MEDIDAS DE REABILITAÇÃO Baseando-se nas experiências dos países aqui relatados, é possível identificar os pontos cruciais para implementar medidas de reabilitação de áreas degradadas. 6.1 Políticas públicas Como mostra o exemplo dos países como Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido foi necessário de estabelecer políticas públicas voltadas ao uso econômico e a proteção do solo para inibir a crescente ocupação de áreas verdes e consequentemente promover a reutilização de áreas degradadas. Estas políticas se manifestam em legislações e programas públicas, que têm como objetivo a viabilização tanto urbanística quanto econômica e ambiental da reabilitação de áreas degradadas dentro do marco do desenvolvimento sustentável das cidades. Um outro pré-requisito é a restrição legal do uso do solo contaminado, fixado nas leis de ordenamento territorial e ambientais. Sem esta restrição legal, apoiada por portarias e regulamentações que especificam limites do uso do solo e grau de contaminação e risco, não existiria “revitalização”, brownfield development ou reabilitação de áreas degradadas ambientalmente correta. Sem uma legislação corretiva e uma atuação dos órgãos controladores e corretivos, as áreas degradadas e contaminadas são “revitalizadas” sem critérios ambientais, só visando o lucro comercial e sem uma preocupação com riscos decorrentes da obra, dos resíduos gerados e da incompatibilidade do novo uso com a qualidade do solo contaminado. As legislações restritivas nos países aqui relatados geravam grandes entraves á reutilização das áreas degradadas por causa do risco remanescente e incalculável ou a impossibilidade de atender as exigências legais. Isso causou decadência contínua de regiões, cidades ou bairros em decorrência da exclusão destas áreas do ciclo econômico. Este impasse incentivou a criação de mecanismos para a viabilização da reabilitação destas áreas e seu retorno ao ciclo econômico. Fazem parte das políticas públicas os seguintes conceitos básicos e instrumentos que viabilizam a reabilitação econômica e ambiental de áreas degradadas: · Flexibilização da questão “responsabilidade civil/legal objetivo” que isenta proprietários total ou parcialmente das obrigações legais, motivando desta maneira a comercialização de áreas degradadas, · Flexibilização dos padrões de remediação, voltados ao uso proposto da área com garantias públicas e leis que limitam a responsabilidade civil no futuro, · Existência de formas contratuais, acordos e ajustes para fixar, entre o órgão público e o responsável, objetivos, responsabilidades e metas, deste modo aumentando a segurança financeira e legal para os investidores e garantindo ao órgão público o alcance dos objetivos, · Definição do uso do solo em função da qualidade do solo ou do grau da contaminação residual assim viabilizando recuperações economicamente viáveis e futuros usos e comercializações lucrativos para o investidor, Projeto Demonstrativo N° 004: Recuperação de áreas urbanas degradadas 37 · Fundos financeiros públicos que iniciam processos, financiam investigações, remediações e motivam participações de investidores privados. 6.2 Financiamento e instrumentos econômicos O aporte financeiro direto é um fator crucial para iniciar e motivar a execução de projetos e medidas de reabilitação e revitalização urbana. Em nenhum dos países analisados este processo se desenvolveu somente com base em investimentos privados e regras do mercado. É consenso, especialmente nos Estados Unidos que os investimentos públicos em reabilitação têm ao longo prazo um benefício econômico grande em decorrência da revitalização estrutural da economia regional em decorrência de empregos criados, impostos arrecadados, conflitos sociais amenizados ou erradicados e estruturas urbanas preservadas. Isto explica as enormes quantidades de subvenções através de programas federais e estaduais, que em geral visam · Apoiar experiências piloto que podem ser multiplicadas · Co-financiar reabilitações em conjunto com municípios ou outros órgãos públicos e privados · Investir em capacitação de mão- de-obra especializada e criar empregos · Alimentar fundos públicos para a reabilitação Apoio financeiro indireto, através de incentivos fiscais, é um mecanismo obviamente lucrativo também para o poder público, observado principalmente nos países anglo- saxonicos e nos Países-Baixos. Estes instrumentos são aplicados, na sua maioria, diretamente beneficiando o investidor que tira vantagens da dedução de impostos prediais e territoriais, de energia ou outras taxas referente ao terreno revitalizado ou a medida de reabilitação. Indiretamente isso gera um refluxo para o poder público que se beneficia do aumento da arrecadação decorrente do aumento de preços imobiliários e reinveste este lucro em outros projetos. Instrumentos
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