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EDUCAÇÃO E EXCLUSÃO O FENÔMENO DE FAVELIZAÇÃO

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EDUCAÇÃO E EXCLUSÃO: O FENÔMENO DE FAVELIZAÇÃO 
 
 
MARQUES, Antonio Ricardo Castellar – UERJ 
ricastel@click21.com 
 
 
Resumo 
 
Há 507 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus. O objetivo foi o enriquecimento 
da metrópole. Na realização deste objetivo, previa-se muito trabalho pesado e a solução 
encontrada por eles foi à oficialização da escravidão no país como política sócio-econômica; 
escravidão não rima com solidariedade, nem inclusão. As conseqüências desta política 
contaminaram negativamente as relações raciais e sociais em todo Brasil e, até hoje estamos 
colhendo seus malefícios. Partindo desse pressuposto, desde o nosso “descobrimento”, ser 
homem, euro-descendente e com posses (bens materiais); é bem diferente de ser mulher, afro-
descendente e pobre. Assim sendo, com os adventos do capitalismo e da globalização, outros 
cidadãos passaram a ser vítima de preconceito e ser excluído socialmente foram: os analfabetos e 
retirantes. Portanto, escolhi como objeto de pesquisa para este trabalho, o processo de 
favelização; tendo em mente a relação entre causa e efeito, onde um acontecimento pode 
desencadear em outros, utilizo esse raciocínio para investigar e problematizar fenômenos que se 
apresentam no nosso cotidiano. Inicialmente o que me leva a compreender o fenômeno são as 
questões que de início ficam evidenciadas. Compreendendo estes princípios como um dos pilares 
básicos para a (re)construção de conhecimentos na escola (ou em outros espaços que sirvam para 
elucidação de conhecimentos e transmissão de saberes) e a necessidade de organização de um 
currículo integrado, escolhi o processo de favelização como fenômeno a ser problematizado e 
analisado. Otimizando elaborar um currículo emancipatório e comprometido com a construção de 
uma identidade perdida no perverso processo de dominação e que se proliferou paralelamente ao 
crescimento da nação; interagindo com o meio baseado na ideologia Paulo Freire e fazendo da 
educação um dos meios possíveis para emancipação dos cidadãos menos favorecidos e assim 
corroborando com a teoria de Weber de que existem três meios para o individuo migrar de classe. 
 
Palavras-chave: Educação; Exclusão; Favelização; Menos-favorecidos 
 
 Introdução 
 Em 1500, o Brasil foi descoberto e/ou invadido pelos colonizadores portugueses. O 
objetivo foi o enriquecimento de Portugal. Na realização deste objetivo, previa-se muito trabalho 
pesado e a solução encontrada por eles foi à oficialização da escravidão, tanto do nativo (índio), 
quanto dos negros oriundos do continente africano, como política econômica, formando desde 
essa época uma camada social dos menos favorecidos, baseado apenas na questão étnico-racial, 
originando assim, desde então o preconceito racial. 
 
 
3362 
 As conseqüências desta política contaminaram negativamente as relações sociais e raciais, 
assim como as práticas de ensino. Uma vez que somente uma elite privilegiada tinha acesso ao 
ensino de ponta, os de mais integrantes da população eram exclusos de qualquer forma de 
educação ou tinham noções básicas sobre os conhecimentos a serem relevantes na sociedade, pois 
a elite necessitava de uma mão-de-obra com o mínimo de conhecimento, que deveriam ser 
lecionados nas escolas, mas que nem sempre são ou muitas vezes muitos cidadãos não têm acesso 
a essa, originando dessa forma um novo tipo de descriminação, referente aos cidadãos que não 
possuíssem certo grau de instrução (analfabetos), ampliando assim a classe social dos menos 
favorecidos; indo agora, além das questões étnico-raciais. É bem verdade, que esse quadro pouco 
se modificou, desde aquela época, até nossos dias. A prática dessa política excludente e 
segregacionista, só serviu para reiterar as desigualdades sociais em todo o Brasil e até hoje 
estamos colhendo os seus malefícios. Assim sendo, esse contingente social dos menos 
favorecidos, só fez crescer, visto a falta de políticas públicas na área de educação. 
 Portanto, enxergo a educação como ponto principal, para realização de debates e 
deliberações, almejando a superação de mazelas históricas, otimizando a (re)construção de 
conhecimentos na escola (ou em outros espaços que sirvam para elucidação de conhecimentos e 
transmissão de saberes), tendo como necessidade principal, a interdisciplinaridade e a 
(re)organização de um currículo integrado, objetivando encontrar pistas para possíveis soluções 
eficazes em um país marcado por políticas arcaicas de branqueamento, machistas, patriarcal e 
preconceituosa. Ao ressaltar certas características de nossa sociedade, como sendo um país 
machista e patriarcal, detectamos um novo componente a esfera social dos excluídos e menos 
favorecida, as mulheres. 
 Fazemos parte de uma sociedade capitalista, global, materialista, marcada pelo contraste 
social, com má distribuição de renda, onde o preconceito é uma dura realidade, vitimando grande 
parte da população (analfabetos, índios, mulheres, negros e pobres) formam o grupo social dos 
menos favorecidos e que foram excluídos do processo de evolução, ficando a margem da 
sociedade, formando um grupo de cidadãos que sobrevivem muitas vezes em condições 
subumanas e que ao longo de nossa história foram excluídos socialmente, simbolicamente, 
economicamente e ignorados de qualquer projeto referente ao sistema de ensino público. Partindo 
do pressuposto, entendo a educação como um ato político que tenha como objetivo a 
emancipação do homem e o exercício de sua cidadania (dentro da lógica capitalista na qual 
 
 
3363 
estamos inseridos); por isso, essa foi sempre um privilégio das classes dominantes e ainda hoje, 
quando falamos em ensino de ponta, nos deparamos com uma minoria usufruindo dessa 
vanguarda educativa. Quando falamos em desigualdades sociais, devemos atentar para o culto a 
“verdade absoluta” que está imbuído na ideologia onipotente capitalista das sociedades pós-
industriais; na qual somos parte da sociedade que as atitudes individuais e coletivas, podendo 
interferir no contexto social de forma mais ampla. Tendo em mente a relação entre causa e efeito, 
onde um acontecimento pode desencadear em outros, utilizo este raciocínio para investigar e 
problematizar fenômenos que se apresentam no nosso cotidiano. 
 Nesse sentido a crítica pode ser feita à sociedade capitalista, calcada no fator educacional 
e sócio-econômico como universalista, deixando de lado as formas de coerência nas culturas em 
sua pluralidade, e heterogeneidade. Assim atento para a submissão do mundo capitalista ao 
dinheiro e as necessidades individuais inventadas, que assim colocam o segmento de cidadãos 
menos favorecidos (analfabetos, índios, mulheres, negros e pobres) socialmente, sendo esse 
grupo excluído e colocado às margens do processo “civilizatório” ocidental, simplesmente o 
seduzindo, através do discurso de que a verdade existe e que a ela temos que nos submeter. Por 
isso, a todo o momento muitos são seduzidos e se acham incapazes de ocupar, por exemplo, uma 
vaga em propagandas publicitárias, por conta de um padrão de beleza exigido pela mass-media 
(BOND,1962) ou por não terem tido acesso à educação formal em sua infância. Compreendemos 
esses fatores como um dos pilares para fomentação do preconceito e outras injustiças sociais. 
 As injustiças do cotidiano alimentam o preconceito de marca (segundo o sociólogo Oracy 
Nogueira) determinando as regras de uma sociedade pragmática regida por uma cidadania 
regulada (Segundo o geógrafo Milton Santos) que esta fundada em uma estratificação 
ocupacional definida por uma norma legal, “legitimando” como cidadão o membro da 
comunidade que se encontra em ocupação definida por lei, excluindo do processo de distribuição 
de renda e desenvolvimento da nação, aquele que se encontra fora dos planos desse 
“desenvolvimentismo” de uma forma perversa e maniqueísta, gerando apobreza estrutural. 
Percebemos com isso as controvérsias geradas pela exclusão e pela má distribuição renda, porque 
a sociedade torna-se um lugar de produção e reprodução da desigualdade sócio-educativa e racial. 
 Em um país que se diz “democrático e livre” para a liberdade de circulação e expressão, 
espaço de fluxo de vai e vem, possui também suas “ilhas”, lugar onde só os ricos ou gabaritados 
circulam (porque, segundo Weber, existem três formas de estratificação social: econômica, 
 
 
3364 
cultural e política), outros onde só os pobres entram (EX.: favelas) e lugares de passagem, 
serviços elitistas, serviços populares, espaços democráticos espaços excludentes. É um espaço 
determinante para o estilo de vida de cada individuo. Sonha-se, vive-se e articula-se conforme o 
espaço, conforme o que é oferecido. Portanto, percebemos que a cidadania tem bens 
materiais/classe social, nível de instrução e cargo/hierarquia; além, de vivermos em um ambiente 
complexo, onde ao mesmo tempo que é de todos, não é para todos. Assim sendo, os analfabetos e 
iletrados, acabam tornando-se excluídos economicamente, simbolicamente e socialmente ao 
longo de nossa história, assim como os índios, as mulheres, os negros e os pobres, que formam a 
base do quadro dos moradores residentes em comunidades carentes (conjuntos habitacionais, 
favelas e morros), assim como boa parte dos retirantes do norte e nordeste, que migraram para 
estados do da região sul e sudeste, compondo a classe social dos menos favorecidos e fazendo da 
educação pública e gratuita de qualidade uma necessidade iminente para atender esses sujeitos, 
vítima constante de nossa exclusão social e insuficiência de políticas públicas na área da 
educação. Ressaltando a necessidade de investimentos no campo da educação formal ou 
informal; assim como das ações afirmativas, como os pré-vestibulares comunitários; além, é 
claro, da necessidade da implementação de políticas públicas, destinadas para os cidadãos menos 
favorecidos, como as cotas sócio-raciais em Universidades públicas. 
 As medidas políticas especiais e temporárias, tomadas ou determinadas pelo estado, 
espontânea ou compulsoriamente, com o objetivo de eliminar desigualdades históricas 
acumuladas, garantindo a igualdade de oportunidade e tratamento, bem como provocar perdas 
provocadas pala discriminação e marginalização, decorrente de posição social ocupada, nível de 
instrução, questões étnico-raciais, opções religiosa, gênero e outros fatores. Portanto, as ações 
afirmativas visam combater a insuficiência de políticas públicas e os efeitos negativos 
acumulados em virtude das injustiças sócio-raciais ocorridas no passado e que se perpetuaram até 
nossos dias. 
 A partir daí, vemos a necessidade da implantação e aplicação das políticas públicas, 
socioeconômicas e ligadas ao campo da educação; além, da regulamentação e expansão das ações 
afirmativas e medidas educativas ligadas à educação formal ou não como os métodos singulares 
de educação e as cotas universitárias sócio-raciais, visto que ainda hoje, há uma grande barreira 
econômica, simbólica e social que impede que às aspirações dos cidadãos que foram excluídos ao 
 
 
3365 
longo da história, que não tiveram acesso à educação durante a infância, sejam satisfeitas, em 
virtude da violência política acumulativa de exclusão que perdura até os dias atuais. 
 Partindo desse pressuposto, o analfabetismo e a discriminação sócio-racial no Brasil, é um 
mal que persegue nosso país desde seus primórdios. Portanto, o objetivo deste trabalho é estar 
relatando, pontuando e levantando questões sobre os aspectos, mecanismos e os projetos políticos 
pedagógicos que dizem respeito à educação. Porque, entendo que a educação seja uma das 
poucas formas ou o pilar principal, para qualquer tipo de emancipação social, para os cidadãos 
excluídos e menos favorecidos, sendo esse um segmento social em crescimento constante, visto a 
falta da existência de um controle de natalidade, aliada a inexistência de políticas públicas e 
ações afirmativas, que possibilitem uma migração social seja econômica, cultural e/ou política 
(segundo Weber, as três formas existentes de migração social). 
 Percebo com isso, que a pobreza, a exclusão e o descaso para com os menos favorecidos, 
caminham lado a lado. O analfabetismo é um mal que persegue nosso país, desde que houve a 
oficialização de um idioma nacional. Ao longo da exclusão sócio-racial de nossa história, 
principalmente após a abolição (1888) e as reformas Pereira Passos (1902-1906), os cidadãos 
menos favorecidos economicamente e excluídos socialmente ficaram sem ter onde morar, com 
isso, os pobres (negros em sua maioria e muitos mestiços) passaram a viver em habitações 
irregulares, precárias, pobres, instaladas em terrenos não utilizados pela construção organizada, 
fora da especulação imobiliária, sem infra-estrutura e legalidade fundiária. Dando início assim, 
aos egressos do descaso de nossas leis e inexistência de políticas públicas, ampliando o número 
de analfabetos, paralelamente surgia o fenômeno da favelização e desde então, ambos só fazem 
proliferar, devido ao descaso de nossos governantes e a implementação de políticas públicas 
sempre baseadas na ideologia das classes hegemônicas. 
 
O fenômeno da favelização 
A crise habitacional no Brasil se inicia com o nosso “descobrimento”, quando os 
portugueses invadiram nosso território e o tomou do nativo (índio), desrespeitando seus 
costumes, hábitos e modo de vida; assim sendo, os lusitanos começaram a construir suas 
primeiras instalações (residências e estabelecimentos comerciais) naquela imensa área verde, com 
isso restou aos indígenas, migrarem para o interior do território e desde então, tais injustiças 
sócio-raciais aos índios, só fizeram aumentar. Em 1808, o Rio de Janeiro, era uma cidadela, eis 
 
 
3366 
que desembarca no Rio de Janeiro, a família real e toda sua corte, as conseqüências dessa 
chegada de surpresa foram muito negativas para vários habitantes da cidade do Rio, uma vez que 
muitos cidadãos tiveram suas residências confiscadas pela coroa, sendo obrigados a cederem suas 
moradias para a nobreza portuguesa, deixando esses sujeitos que tiveram suas casas confiscadas 
sem ter onde morar. 
 A gravidade da crise habitacional no estado do Rio de Janeiro tem seus alicerces no 
período colonial brasileiro. Com medidas de cunho universalistas, mas que na verdade tinham um 
caráter racista, segregacionista, patrimonialista que otimizavam desestruturar a auto-estima do 
escravizado, pois não contemplava em nada esse segmento, porque eram leis (ventre-livre, 
sexagenário e Áurea) que não tinham nenhum caráter de inclusão deste contingente populacional, 
mas sim, a finalidade de desestabilizar a família negra e fomentar as injustiças sociais e 
simbólicas. Os negros ganhavam a liberdade, mas, sem nenhum tipo de subsídio, deixando os 
afro-descendentes “...livre do açoite da senzala, preso na miséria da favela...” (G.R.E.S.E.P. de 
Mangueira, 1988) e que para vários pesquisadores, teriam sido fatos, que contribuíram de modo 
direto para a proliferação do fenômeno da favelização em nosso país. 
O processo de evolução e ocupação do espaço urbano remonta a segunda metade do 
século XIX com mais força a partir da abolição da escravatura, da Proclamação da República 
fazendo surgir os primeiros conflitos sociais pós – abolição. 
Pesquisadores apontam como principais causas do desencadeamento da má estruturação 
urbana fatores como: falência do sistema escravocrata, crise nas áreas rurais, êxodo rural, 
imigrações, início do processo industrial, implantação da reforma Passos. O início do processo de 
industrialização coincide com o declínio da produção cafeeira e abolição da escravatura. A cidade 
nesta época também recebeu muitos estrangeiros com sua entrada através do cais do porto, 
permitindouma maior oferta de força de trabalho para o setor emergente da economia urbana. A 
pressão pelo lado da demanda e a baixa disponibilidade pelo lado da oferta de moradia ocasiona 
um desequilíbrio no setor habitacional, no qual afetaria diretamente as populações de baixa 
renda. 
A ocupação dos cortiços se dava pela população mais pobre, pela classe subalterna, pela 
nova população de ex-escravos que não tinham meios de sobrevivência com o fim do sistema 
escravocrata, e só lhes restavam ocupar os cortiços morros e estalagens. Essa ocupação 
provocava críticas por parte da cidade, reconhecida oficialmente, desencadeou uma batalha 
 
 
3367 
contra os cortiços; da classe dominante sobre a Inspetoria de Higiene Pública uma vez que a 
cidade sofria de endemias atribuídas aos moradores de habitações coletivas (negros em sua 
maioria), sendo mais um meio de fomentar o preconceito racial. 
As primeiras investidas do governo no intuito de ocupação da cidade apontam os decretos 
de isenção de impostos aduaneiros para as indústrias que construíssem vilas operárias para 
abrigar seus trabalhadores, concessão de terrenos para as empresas construírem casas populares, 
com soluções higiênicas, caracterizam o surgimento das vilas operárias próximas às indústrias, 
semelhantes aos conjuntos habitacionais. Entretanto, elas minimizavam os problemas mas não 
davam conta da demanda devido ao grande contingente de desempregados e primeiros imigrantes 
que ocupavam o Rio de Janeiro. 
O “pontapé” inicial para a reordenação da área central da cidade foi em 1893 com a 
demolição do cortiço chamados de “Cabeça de Porco” desabrigando mais de 2.000 pessoas. Tudo 
em nome da higienização (já que a cidade do Rio de Janeiro, sofria com uma epidemia e a classe 
dominante “aristocracia urbana” atribuía ser oriunda das populações menos favorecidas “de baixa 
renda”, tendo os cortiços como foco). No período entre 1902 a 1906, durante a gestão de Pereira 
Passos, acontece uma das mais importantes reformas em nome do progresso e embelezamento da 
cidade nos moldes do urbanismo europeu. Esta reforma atingiu vários quarteirões ocupados por 
operários que se viram obrigados a mudar para os subúrbios, ocupar morros da cidade (São 
Carlos, Providência, Santo Antônio), áreas impróprias ao comércio imobiliário e de pouco 
interesse pela aristocracia vigente na época, dando inicio ao processo de favelização. Já que a 
área desapropriada estava fortemente ligada aos interesses da aristocracia urbana. O impacto 
social causado pela abertura da Avenida Central foi gigantesco; cerca de 1.681 imóveis haviam 
sido derrubados e cerca de 20 mil pessoas foram obrigadas a procurar nova moradia em apenas 
quatro anos. 
O crescimento urbano se dava de forma dual: setor/zona sul – organizado, setor/zona 
norte (subúrbio) – desorganizado. Um fator determinante para a proliferação das favelas é que 
não houve resposta do governo na produção de mecanismos na reposição de moradias `a 
população expulsa de suas modestas residências. A população tinha duas escolhas: ocupar os 
morros do centro da cidade ou dirigirem-se para os subúrbios onde a ocupação residencial, em 
sua maioria pela classe proletária, não oferecia infra-estrutura adequada e não contavam com o 
apoio do governo. Havia também um crescente favorecimento e interesse do governo apenas pela 
 
 
3368 
ocupação do setor secundário de terrenos pouco valorizados. Desde esta época os meios de 
transporte não favoreciam a transição entre o centro e os subúrbios que contavam também com o 
fator preconceito: os bondes eram para os nobres e os trens para os pobres. 
O crescimento da cidade seguia orientações apenas dentro de critérios urbanísticos 
aceitáveis pela visão da classe dominante. O Plano Agache defendia que seria inútil destruir as 
favelas sem que antes fosse planejado um grande mínimo de habitações populares, caso contrário, 
o problema persistiria. Com a Revolução de 1930 o Plano Agache foi arquivado. 
As cidades ao longo da história mundial, se desenvolvem onde existe a possibilidade de 
comercialização de mercadorias e as favelas, conseqüentemente, onde não existe uma infra-
estrutura planejada, se desenvolvem em função da concentração de oportunidades de emprego – 
centro da cidade, setor/zona sul (litoral), crescem paralelamente à evolução da cidade. O inchaço 
nos centros urbanos provoca a ocupação de áreas mais longínquas, de risco, sem uso, beiradas 
dos rios, encostas dos morros. O aumento das favelas existentes e o aparecimento de outras são 
reflexo da falta de uma política habitacional adequada. As políticas habitacionais até então, são 
direcionadas para a construção de conjuntos habitacionais com critérios clientelistas, paternalistas 
e demagógicas. Um dos motivos para a proliferação das favelas também se apresenta com o fim 
dos financiamentos de lotes urbanizados, na década de 80, a crise econômica e o aumento dos 
preços das passagens de ônibus e trens. 
A questão da “favelização” ou “perificação” da cidade ilustra a reprodução e 
conseqüências do capital que desencadeia o caos urbano, que provoca um movimento pendular – 
periferia/núcleo/periferia, que estrangula as vias de acesso ao Rio de Janeiro, que cria “cidades 
paralelas” (sub-bairros). Dentro da lógica da urbanização, influenciadas por mudanças e 
transformações técnico-científica e por políticas e gestões metropolitanas, faz com que a 
população busque alternativas de sobrevivência e manutenção do próprio espaço. Estes sub-
bairros surgem e se ampliam manifestando suas peculiaridades históricas, sociais e culturais, que 
atraem interesses e investimentos obscuros, influenciando e interferindo conseqüentemente em 
toda a estrutura social (pauperização, violência, tráfico de drogas, saúde pública, etc). 
A delimitação de espaços representa um marco de segregação urbana que envolve atores 
de classes distintas e mecanismos distintos de sobrevivência. A população assiste ao crescimento 
das favelas, ao crescimento desordenado das cidades e delimitam espaços como obstáculo à 
 
 
3369 
expansão (condomínios fechados, barreiras e cercamento das favelas – habitações legalizadas 
convivem lado a lado com habitações improvisadas). 
OBS.: Apesar de ter o maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do 
Estado, Niterói também não escapa do crescimento desordenado de favelas: 
“Num período de quatro anos, pelo menos 25 favelas surgiram na cidade a cada 12 
meses. Esse número pode até duplicar”. – O Globo – 19/05/02 p.18 
Niterói, IDH alto e favelas em expansão – O Globo – 04/11/05 – p. 14 
 
Este é mais um exemplo que o fenômeno não é um caso isolado da cidade do Rio de 
Janeiro. Pesquisas recentes revelam a existência de favelas “estruturadas”, com escolas, comércio 
local, serviços de entrega, moto-táxis, algumas ligações de esgoto, iluminação (Ex. Rocinha e 
Vidigal). Um espaço não só de pouso, mas de sobrevivência em tempos de crise, ou seja, um 
sub-bairro que possui suas próprias leis e mecanismos de convivência. 
 
Na grande cidade, há cidadãos de diversas ordens ou classes, desde o que, farto de 
recursos, pode utilizar a metrópole toda, até o que, por falta de meios, somente a utiliza 
parcialmente, como se fosse uma pequena cidade, uma cidade local(...)Para muitos, a 
rede urbana existente e a rede de serviços correspondente são apenas reais para os 
outros. Por isso são cidadãos diminuídos. (SANTOS ) 
 
A cidade deve ser pensada como um espaço de garantia de todos os direitos humanos, 
como um espaço político, produtivo e reprodutivo dos direitos do cidadão. Entretanto, há 
controvérsias porque ao mesmo tempo torna-se um lugar de produção e reprodução da 
desigualdade. A cidade, espaço para a liberdade de circulação, de fluxo, de vai e vem, possui 
também suas “ilhas”; lugares onde os ricos não circulam e onde os pobres estão de passagem, 
serviçoselitistas, serviços populares, espaços democráticos, espaços segregadores. É um espaço 
complexo. Ao mesmo tempo em que a cidade é de todos não é para todos. É um espaço 
determinante para o estilo de vida de cada indivíduo. Sonha-se, vive-se e articula-se conforme o 
espaço, conforme o que é oferecido. 
A má distribuição de renda fez com que os menos favorecidos ao longo de nossa história 
buscassem alternativas de sobrevivência e manutenção do seu próprio espaço. Estas comunidades 
carentes (favelas) surgem e se ampliam manifestando várias peculiaridades históricas, sociais e 
culturais, que atraem investimentos obscuros influenciando e interferindo conseqüentemente em 
toda estrutura social com a delimitação de espaços que representam um marco da segregação 
urbana e envolve uma série de mecanismos distintos de sobrevivência. Muitas manifestações 
culturais são oriundas desses guetos como o samba (Pedra do Sal, morro do centro da cidade do 
 
 
3370 
Rio de Janeiro) e funk (Cash Box “fazendinha” e Furacão 2000 “juramento”, equipes de som e 
comunidades carentes, da zona norte do Rio de Janeiro), conquistando novos adeptos no “asfalto” 
(bairros projetados com moradias regulares, infraestrutura e saneamento básico) e em todo o 
Brasil. A partir desse intercâmbio, muitos sujeitos da classe hegemônica passaram a freqüentar 
essas comunidades carentes, sendo seduzidos e “empregados” pelo tráfico de entorpecentes. 
Para enfrentar e driblar as contradições e a crise existentes no sistema habitacional, e seus 
desdobramentos fazem-se necessário uma reforma política realmente compromissada com o 
desenvolvimento social. Até então as medidas que vem sendo realizadas surtem alguns efeitos 
produtivos para os moradores de favelas, contudo ainda não dão conta da situação já enraizada há 
tantas décadas, pois as demandas são como uma “bola de neve”. Ficam no ar questionamentos 
acerca da “utilidade” dos moradores das favelas. Se, no início do século XX esta população era 
tão indesejável, porque não efetivaram programas condizentes para evitar sua proliferação? Por 
que não os instrumentalizaram? A existência e manutenção dos dominadores e dominados. Até 
que ponto era interessante manter esta população para ser utilizada através de promessas 
eleitorais? Por que tanta vista grossa para a questão do sistema habitacional? 
 
Considerações Finais 
A proposta deste trabalho me remeteu a um exercício de análise e reflexão sobre um dos 
desafios do sistema educacional, que é elaborar um currículo integrado e que superem o caráter 
fragmentado dos conteúdos sistematizados e divulgados no âmbito escolar. No fenômeno, em 
particular que escolhi para trabalhar, o crescimento do processo de favelização, para iniciar o 
processo de investigação deve-se isolar o objeto de investigação do contexto real com uma 
questão: como tudo começou? Remetendo-nos assim à gênese do fenômeno. Esta por sua vez, foi 
analisada dentro de um contexto temporal, como um fator histórico. Este exercício favorece a 
compreensão do fenômeno, fonte inesgotável de conhecimento, a realidade, a própria essência, 
além das aparências; antes de se julgar é preciso conhecer e analisar a fonte (para se conhecer o 
rio que chegou até o mar reme ao contrário e conheça seus afluentes). 
No entanto, tal análise necessitou de uma orientação para a sua ação, um referencial 
teórico. Se desejarmos, de fato, colaborar com o processo de transformação da educação escolar, 
precisamos buscar um procedimento metodológico que nos ajude. O que irá importar é procurar 
uma concepção que dê conta de orientar efetivamente a prática educativa na superação de suas 
 
 
3371 
contradições. Concebe-se metodologia como sendo uma postura diante da realidade, postura essa 
que implica sempre as seguintes tarefas indissociáveis: partir da prática, refletir sobre a prática e 
transformar a prática. No que se refere sobre a reflexão sobre a prática, ocorre através de um 
processo de construção de conhecimentos que se dá num movimento de confronto entre análise e 
síntese. 
No processo de investigação ao partir da investigação da questão determinante do 
fenômeno, estabeleci analogias, traçando seus paralelos e alternativas, uma vez conhecida e 
compreendida a sua gênese, somos capazes de questionarmos os percursos de seus 
desdobramentos surgindo então um leque de situações que se relacionam entre si e chegam a um 
ponto em comum. Esta situação que se relacionam entre si, numa proposta curricular me remeteu 
à questão da interdisciplinaridade. O caminho mais seguro para fazer relação entre as disciplinas 
é se basear numa situação real. A abordagem interdisciplinar permite que os conteúdos que 
seriam dados de forma convencional sejam ensinados e aplicados na prática, o que dá sentido ao 
estudo. Quando as disciplinas são usadas para a compreensão dos detalhes, os alunos percebem 
sua natureza e utilidade. A interdisciplinaridade refere-se a uma nova concepção de ensino e de 
currículo, baseada na interdependência entre os diversos ramos do conhecimento. 
 Nesta amálgama, ao embasar-me do método dialético, o que compreendo é justamente a 
necessidade de dar um caráter mais científico e filosófico à prática escolar. Contudo, este não 
pode ser um simples método de interpretação e ilustração a respeito da realidade; o conhecimento 
na perspectiva dialética é um conhecimento que tende para a transformação da realidade. É um 
processo de investigação e análise que pressupõe a ratificação, retificação e desmistificação de 
conhecimentos historicamente construídos. Como produto final teremos a (re)construção do 
conhecimento, o método de exposição que vai reunir as relações que configuram a totalidade 
(interdisciplinaridade). À medida que as contradições são postas a descoberto, são tematizadas, 
favorece-se a tomada de consciência, a superação do senso comum. 
Neste exercício compreendo que o trabalho como princípio educativo não pode ser umas 
meras aprendizagens formais, teóricas ou intelectualizadas. A realidade concreta nada mais é do 
que o material de estudo. Quando se utiliza a prática associando-se aos conteúdos, chega-se ao 
método científico. Contudo há de ser uma reflexão orientada por professores ou especialista, com 
base na experiência vivida pelos alunos no trabalho desenvolvido dentro e fora da escola. Tendo 
como foco toda e qualquer atividade que vise à transformação das relações do homem com a 
 
 
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natureza e com os outros homens. O ser humano possui a força de transformar, modificar o meio 
em que vive e as relações que nele se estabelecem. A elaboração de um currículo integrado 
representa um mecanismo que favorece o movimento de “politização” dos indivíduos podendo 
ser um forte aliado para quebrar as algemas da alienação. Uns cidadãos instruídos e esclarecidos, 
defendem melhor seus interesses e sabe quais são seus direitos e obrigações. 
 
REFERÊNCIAS 
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