Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 1 Olá, amigo(a) concurseiro(a)! Iniciaremos agora a Aula 04 de Direito Comercial para AFRFB e AFT 2012. A aula de hoje versará sobre o item 7 do edital: 7. Nota promissória. Cheque. Duplicata. Trata-se de matéria referente ao chamado Direito Cambial. Vamos à aula! Não perca o foco, continue na luta. Vamos estudar bastante. 1 – TÍTULOS DE CRÉDITO A nota promissória, o cheque e a duplicata, assim como a letra de câmbio, são títulos de crédito, documentos criados para facilitar a circulação de riqueza em uma economia e sujeitos a um regime especial que facilita essa circulação: as regras do Direito Cambial. São títulos representativos de uma prestação futura (crédito), a qual é devida àquele que possuir o respectivo documento comprobatório da obrigação (o título). Muitas pessoas nunca tiveram contato no dia a dia com alguns desses títulos que veremos, esse era o meu caso...(risos). Vou tentar facilitar o entendimento de vocês sobre o assunto. O melhor exemplo é o CHEQUE. Infelizmente, hoje em dia, é muito difícil fazer negócio onde os compromissos sejam cumpridos só com as palavras, essa realidade nos mostra a importância do título de crédito e de sua regulamentação. Exemplo: eu compro uma mercadoria em uma loja e peço para parcelar no cheque em 3 vezes. Eu poderia dizer para o vendedor que daqui a um mês eu volto para pagar uma parcela, mas e aí será que ele aceitaria? Acho que não. É preciso que na hora da compra você entregue os 3 cheques. E também se eu não entregasse o cheque ao vendedor e fizesse a negociação só de “boca”, ele não poderia usar esse crédito que tem comigo para outras negociações. O vendedor não pode chegar pro seu fornecedor e dizer que tem um crédito com o Cadu e pedir pro fornecedor cobrar de mim algum valor. É para isso que serve o título de crédito. Para que juridicamente o credor tenha algum documento que garanta aquela dívida e com isso esse crédito que está circulando pelo mercado tem valor, pois a lei dá essa garantia. Será que deu pra ter uma noção? Porque agora vamos ver a parte normativa desse assunto e que é cobrado em prova. Vamos lá... Segundo o jurista italiano Cesare Vivante, o título de crédito é o documento necessário para o exercício de um direito literal e autônomo, nele mencionado. O art. 887 do Código Civil de 2002 (CC/2002) expressamente adotou essa definição: CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 2 Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. Dessa definição, retiram-se os princípios fundamentais dos títulos de crédito: a cartularidade (ou incorporação), a literalidade e a autonomia. Desse último decorrem dois subprincípios: o da abstração e o da inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé. Veremos também que são esses princípios que conferem duas características marcantes aos títulos de crédito: a negociabilidade e a executividade. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO: -CARTULARIDADE -LITERALIDADE -AUTONOMIA -----ABSTRAÇÃO -----INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES PESSOAIS AOS TERCEIROS DE BOA-FÉ Cartularidade O princípio da cartularidade ou da incorporação significa que a obrigação representada pelo título de crédito materializa-se necessariamente em um documento ou cártula, isto é, está incorporada nesse documento. Assim, o crédito existe na medida em que está contido expressamente na cártula, a qual se torna o documento necessário ao exercício do direito nela mencionado. Somente quem detém o título de crédito original possui o direito de exigir a obrigação nele expressa. Sem a apresentação desse documento, a cobrança do crédito não pode ser exercida com as facilidades proporcionadas pelo Direito Cambial, ainda que o credor realmente tenha direito à prestação. Daí dizer-se que os títulos de crédito são documentos de apresentação. Por exemplo, se fulano recebe um cheque de beltrano e, no dia do pagamento, este não tem saldo em sua conta corrente, fulano terá o direito de cobrar a dívida judicialmente de beltrano. Se, no entanto, ele perder o cheque, não terá como ajuizar a ação executiva de cobrança, em função do princípio da cartularidade. Não se admite, tampouco, a prova do crédito por meio de cópia reprográfica do título, ainda que autenticada. A cobrança judicial do crédito em processo de execução exige a apresentação do original do título nos autos (salvo se ele estiver juntado a outro processo judicial, quando se admite a certidão do cartório da vara onde se encontra o processo, CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 3 atestando o fato). Pode-se dizer, na verdade, que o direito não existe sem o título, nem pode ser exigido sem sua exibição. Além disso, a transferência do direito de crédito a terceiros exige a tradição (entrega) da cártula. Se eu quiser pagar uma dívida com uma nota promissória, o meu credor só terá direito ao valor constante do título se estiver efetivamente na posse do documento. Não obstante, costuma-se discutir, atualmente, a mitigação (flexibilização) do princípio da cartularidade, diante do surgimento de alguns títulos não-cartularizados, elaborados em meio magnético, em função do avanço dos recursos de tecnologia da informação. A esse fenômeno a doutrina chama de desmaterialização dos títulos de crédito. Outra exceção à cartularidade é a possibilidade de execução em juízo de um crédito representado por uma duplicata sem a apresentação da respectiva cártula, em situações especiais, que serão estudadas adiante (art. 15, § 2.º, da Lei 5.474/1968 – Lei das Duplicatas). Veja esta questão sobre o princípio da cartularidade: (CESPE/CONSULTOR LEGISLATIVO/SENADO FEDERAL/2002) Quanto ao princípio da cartularidade, aplicável aos títulos de crédito, exige-se que o credor apresente o título – cártula – a fim de que possa obrigar o devedor a efetuar o pagamento de sua dívida. Não se admite, assim, que se inicie a ação cambial sem que a petição inicial esteja acompanhada do respectivo título de crédito. Gabarito: Certo O item foi considerado certo porque apresentou a correta definição do princípio da cartularidade e suas implicações. A ação cambial é a processo de execução fundado em título de crédito. Todavia, uma crítica que fazemos à questão é que ela não contemplou a hipótese de o título já estar juntado a outro processo judicial. Literalidade O princípio da literalidade reza que só se deve levar em conta a obrigação expressamente constante do título de crédito e na exata medida do que estiver consignado na cártula. Por exemplo, se uma nota promissória diz que o devedor pagará o valor de R$ 10.000, no dia 15/12/2009 (a promissória é uma promessa de pagamento feita pelo devedor, conforme veremos adiante), não pode o portador do título exigir que lhe seja pago valor maior ou em data anterior. Assim, o devedor tem a segurança de que CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 4 nada lhe poderá ser cobrado além do valor constante da nota promissória ou antes da data nela registrada. Do mesmo modo, o credor sabeque poderá exigir do devedor a exata quantia que consta do título e na data nele expressa. Ainda que efetivamente a obrigação que deu origem ao título (por exemplo: uma operação de compra e venda de um veículo) seja de maior valor, o credor só poderá executar o devedor judicialmente, por meio do título, até o valor nele consignado. Outros documentos que revelem o excedente da dívida, se não se revestirem da condição de título de crédito, não permitirão o ajuizamento direto da ação de execução do título, devendo ser promovida a competente ação de conhecimento. Vamos lembrar que o processo de execução é a ação utilizada para a cobrança judicial de dívidas e outras obrigações, quando o devedor não as cumpre espontaneamente, com a penhora (apreensão) e alienação judicial dos seus bens, para subsequente pagamento ao credor com o valor apurado com a venda do patrimônio do devedor. Para iniciar uma ação de execução, o credor deve ter um título executivo que comprove de forma líquida e certa seu direito (o título de crédito possui essa qualidade). Não havendo essa prova, o credor deverá inicialmente discutir a existência e extensão da dívida em juízo, em um processo de conhecimento, e somente após a sentença do juiz nesse processo, ele poderá prosseguir com a execução judicial, pois a sentença no processo de conhecimento é considerada um título executivo. Por exemplo, se eu possuir um cheque sem a assinatura do devedor, não poderei ajuizar a ação de execução contra ele, pois a assinatura do emitente é requisito necessário para a caracterização do título de crédito. Mas eu poderei ingressar na Justiça com uma ação de conhecimento, valendo-me do cheque não assinado e de outras provas, inclusive testemunhas, para provar que o devedor realmente me deve aquele valor. Obtida a sentença nesse processo, poderei promover a execução judicial da dívida. Em função da literalidade, não são consideradas informações expressas em folhas apartadas da cártula, com exceção da chamada folha de alongamento, justaposta aos títulos de créditos para permitir a continuação da cadeia de endossos (o endosso é uma das formas de transmissão da titularidade do título, por meio da assinatura do atual portador no documento, conforme veremos adiante). Ou seja, cartularidade = vale o que está escrito... Você me pergunta, mas e o cheque pré-datado, pode ser depositado antes da data nele escrita? Pode, o porquê falaremos mais a frente, fique um pouco curioso... kkk CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 5 Autonomia O princípio da autonomia é fundamental para garantir a livre circulação de um título de crédito no mercado e assegurar que seu portador receberá o valor nele mencionado. Segundo esse preceito, o direito do portador do título é autônomo em relação aos direitos que tinham os portadores anteriores (e não um direito derivado dos direitos dos titulares anteriores). Em outras palavras, as diversas obrigações representadas por um mesmo título de crédito são independentes umas das outras. O portador do título possui um direito próprio, caracterizado pela posse do documento, não influenciado por eventuais nulidades existentes nas relações anteriores. Por exemplo, imagine que João compre de Pedro um equipamento, entregando-lhe uma nota promissória, na qual afirma que pagará a Pedro o valor de R$ 1.000 em trinta dias. Em seguida, Pedro paga uma dívida que possuía com Jorge, entregando a este a promissória. No dia do vencimento, Jorge apresenta o título a João, para que este pague o valor constante da cártula. Ocorre que, anteriormente, João havia percebido que o equipamento que comprara não funcionava, razão pela qual tentou invalidar o negócio junto a Pedro, que, no entanto, se negou a fazê-lo. Diante disso, João diz a Jorge que não pagará o valor da nota promissória. Pergunta-se? Pode João se negar a honrar o título? A resposta é não. Jorge nada tem a ver com a relação jurídica travada entre João e Pedro. A relação entre Jorge e João é independente da relação inicial entre os dois primeiros. Embora o negócio de compra e venda possa ser invalidado por vício redibitório (vício oculto do equipamento), ainda assim Jorge tem direito ao recebimento da promissória, em função da autonomia entre as relações jurídicas representadas pelo título. A João restará, posteriormente, investir judicialmente contra Pedro, para reaver seu prejuízo. Note a importância do princípio da autonomia. Sem ele, não haveria segurança nas relações cambiais e os títulos deixariam de possuir ampla negociabilidade e circulabilidade. No exemplo dado, se João pudesse se negar a pagar a promissória, em função da nulidade do negócio realizado JOÃO PEDRO JORGE CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 6 com Pedro, Jorge seria prejudicado em seu direito de crédito. A autonomia, assim, protege o possuidor de boa-fé e proporciona segurança na circulação do título no mercado. Provavelmente, sem essa garantia, Jorge não aceitaria como pagamento da dívida a “nota promissória”. Entendeu direitinho? Eis uma questão de concurso sobre os princípios acima: (CESPE/ADVOGADO/HEMOBRAS/2008) Segundo a doutrina dominante, são princípios gerais do direito cambiário a cartularidade, literalidade e autonomia das obrigações. Gabarito: Certo O item é certo, pois apresenta os três princípios do direito cambial, citados acima. Abstração Esse é um subprincípio que deriva do princípio da autonomia. O princípio da abstração reza que o título de crédito, uma vez posto em circulação, desvincula-se da relação jurídica que o originou. Assim, por exemplo, se um locatário paga ao locador o valor do aluguel por meio de um cheque, e o locador, posteriormente, repassa esse cheque na praça a terceiro, aquele que apresentar o cheque para pagamento terá direito de recebê-lo, independentemente da validade da relação jurídica entre o locatário e o locador. Caso, por exemplo, o locatário já tivesse pago o aluguel daquele mês, o novo pagamento por meio do cheque seria indevido. Não obstante, o cheque apresentado por terceiro que o tenha recebido de boa-fé deve ser honrado assim mesmo, pois se tornou abstrato, isto é, desvinculou-se da relação jurídica inicial. Ao locatário, restará pleitear junto ao locador a devolução do que pagou a mais. LOCATÁRIO LOCADOR TERCEIRO CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 7 Note que a abstração é apenas outra forma de se enxergar a autonomia dos títulos de crédito, razão pela qual se entende que a abstração é tão-somente um subprincípio, uma decorrência lógica da autonomia. A abstração, porém, não é absoluta. Caso o recebedor do título tenha conhecimento da nulidade do negócio que lhe deu origem, esse fato poderá ser levantado por aquele que deva honrar o título, como exceção (defesa) contra o recebedor, que será considerado portador de má-fé do título. Frise-se, por fim, que a abstração só surge quando o título é colocado em circulação. Assim, no exemplo acima, se o próprio locador quisesse descontar o cheque e este não tivesse fundos, o locatário poderia opor o pagamento anterior como justificativa para impedir o novo pagamento, caso o locador viesse cobrá-lo na justiça. Eis uma questão da Esaf sobre os princípios cambiais vistos até agora:(ESAF/DEFENSOR PÚBLICO/CE/2002) “Título de crédito é o documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele mencionado” (César Vivante). Na expressão documento necessário do conceito transcrito é identificável o princípio da: A) literalidade; B) abstração; C) autonomia; D) incorporação. Gabarito: D A lera D é o gabarito porque o princípio da incorporação ou da cartularidade reza que a obrigação representada pelo título de crédito materializa-se na cártula, a qual é, assim, o documento necessário ao exercício do direito nela mencionado. A literalidade (letra A) significa que a obrigação a ser considerada é a que consta expressamente do título de crédito. O princípio da autonomia (letra C) prescreve que o direito do portador do título é autônomo em relação aos direitos que tinham os portadores anteriores. Por fim, a abstração (letra B) é um aspecto da autonomia que dispõe que o título de crédito, uma vez posto em circulação, desvincula-se da relação jurídica que o originou. Inoponibilidade das Exceções Pessoais aos Terceiros de Boa-fé Esse é outro subprincípio que deriva do princípio da autonomia. Esse princípio é apenas a faceta processual da autonomia dos títulos de crédito. Uma vez que as relações cambiais são autônomas entre si, não pode o devedor original do título opor (alegar em juízo) ao portador de boa-fé as CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 8 exceções (defesas) pessoais que possui contra o credor original. Ainda no exemplo do contrato de aluguel, o locatário não poderá alegar, em um processo judicial de execução movido pelo atual portador do cheque, o fato de que já tinha pago anteriormente o aluguel do respectivo mês ao locador, salvo se o portador sabia do fato e mesmo assim recebeu o cheque, quando então estará caracterizada a sua má-fé. Nesse sentido, dispõe o art. 916 do CC/2002: Art. 916. As exceções, fundadas em relação do devedor com os portadores precedentes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé. No entanto, conforme dito acima, o locatário poderia opor o primeiro pagamento como exceção ao locador que resolvesse executar ele mesmo o cheque em juízo, caso o devedor não o tivesse honrado na data do pagamento. Neste caso, o título não terá entrado em circulação (o que lhe daria abstração), nem o locador pode ser considerado de boa-fé, uma vez que sabia que já tinha recebido o pagamento pelo aluguel. Contra o terceiro de boa-fé, o devedor original, para se eximir do pagamento, só poderia alegar as defesas relativas à relação direta entre eles (exceção pessoal contra o atual portador), como a prescrição para a cobrança do crédito, ou a presença de algum vício formal da própria cártula, como falsidade de assinatura, incapacidade do subscritor do título, ausência de algum dado essencial à formação do título, etc., ou, ainda, ausência de requisito para a ação de execução, como a não- apresentação do original do título. Eis uma questão de prova sobre os assuntos até agora abordados: (CESPE/CONSULTOR LEGISLATIVO/SENADO FEDERAL/2002) Se Renato emitir determinado cheque em favor de André, e este o endossar em favor de Aldo, sustando-o em seguida, caso o título não seja pago, em decorrência do princípio da literalidade, Renato não poderá, em regra, opor contra Aldo a causa que o levou a sustar o pagamento do cheque. Gabarito: Errado O item está errado porque a regra não se refere ao princípio da literalidade, mas ao da autonomia (ou ao subprincípio da inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé). CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 9 Veja agora esta questão da Esaf, que explora o preceito da inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé: (ESAF/ADVOGADO/IRB/2006) Considere-se um título de crédito emitido parcialmente em branco, devendo ser preenchido pelo portador segundo os termos de um pacto adjecto. Nesse caso, a) o devedor poderá impugnar perante terceiro, em qualquer situação, o seu preenchimento em desconformidade com os ajustes realizados. b) se o preenchimento se deu em desconformidade com os ajustes e depois foi assim endossado a terceiro, o devedor poderá impugnar o pagamento apenas em relação ao favorecido original. c) o portador do título, preenchido indevidamente e objeto de uma série regular de endossos, poderá sofrer oposição do devedor, pois as transmissões ficaram contaminadas pelo vício referido. d) se o pacto adjecto não acompanhar a circulação do título, jamais qualquer credor poderá sofrer impugnação por parte do devedor diante do descumprimento indevido. e) a emissão de um título incompleto é risco absoluto que o emitente assume ao fazê-lo. Gabarito: B Pacto adjecto ou adjeto é o acordo acessório firmado juntamente com um ajuste principal. No caso do enunciado, é o acordo que o emitente do título celebrou com o beneficiário, para o preenchimento futuro do título, nas condições acordadas. Caso o beneficiário preencha o título em desacordo com o pactuado, estará agindo de má-fé e o emitente do título poderá acioná-lo judicialmente por isso. Já o terceiro que receba o título de boa-fé terá direito ao recebimento do crédito nas condições em que ele foi preenchido na cártula, em função do princípio da autonomia das obrigações cambiais. Assim, a letra A é errada porque o devedor não poderá impugnar o teor do título perante o terceiro de boa-fé. A letra B é o gabarito, pois o favorecido original, ao preencher o título em desacordo com o pactuado, agiu de má-fé, podendo responder por isso. A letra C é falsa, já que o devedor não poderá opor a exceção pessoal que tem contra o favorecido original ao terceiro de boa-fé. A letra D é incorreta porque o credor original pode sofrer impugnação por parte do devedor diante do descumprimento indevido, por ter agido de má-fé no preenchimento do título. Por fim, a letra E é errada, pois a emissão de um título incompleto não é risco absoluto do emitente, que pode impugná-lo perante o credor inicial que agiu de má-fé e também reaver posteriormente o que pagou ao terceiro de boa-fé, por meio de ação própria contra o favorecido inicial. CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 10 Negociabilidade Em função dos princípios acima, nota-se que o portador de um título de crédito possui uma grande garantia quanto ao recebimento do seu valor. Assim, o título de crédito proporciona segurança no mercado e é aceito livremente nas transações comerciais, daí ser dotado de grande negociabilidade, isto é, facilidade de negociação. Na verdade, o emissor de um título de crédito não assegura o pagamento exclusivamente ao credor inicial, mas a pessoa indeterminada, que venha a apresentar o título. A função do título de crédito, assim, é circular no mercado, promover a circulação da riqueza. Executividade Tendo em vista a cartularidade, a literalidade e a autonomia dos títulos de crédito, o portador da cártula possui um direito próprio, líquido e certo, consignado expressamente no documento. Em função disso, os títulos de crédito são considerados pela lei como títulos executivos extrajudiciais, isto é, servem de documento hábil para dar início a um processo judicial de execução. Em outras palavras, são dotados de executividade. Título executivo éo documento indicado em lei dotado de eficácia para tornar possível a tutela executiva em relação ao direito a que se refere. Em outras palavras, é o documento que o credor deve apresentar ao órgão judicial para dar início ao processo de execução, como se depreende da leitura dos artigos 580 e 586 do Código de Processo Civil (CPC): Art. 580. A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível, consubstanciada em título executivo. Art. 586. A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível. Apenas para reforçar, lembramos novamente que o processo de execução é aquele destinado a satisfazer o direito do autor, que pode ter sido reconhecido em uma sentença judicial anterior, em um processo de conhecimento (neste caso, a sentença é o título executivo judicial) ou estar consubstanciado em um título executivo extrajudicial (que não provenha do Judiciário), que comprove o direito do autor, como é o caso de um título de crédito ou de uma escritura pública. Toda execução, assim, tem por base um título executivo judicial ou extrajudicial. Sem esse título não há execução. O art. 585, I, do CPC qualifica como título executivo extrajudicial os seguintes títulos de crédito: letra de câmbio, nota promissória, duplicata, CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 11 debênture e cheque. As leis que dispõem sobre outros títulos de créditos (cédulas de crédito, letras imobiliárias, certificados de depósito bancário, etc.) também lhes atribuem a qualidade de título executivo extrajudicial. Note, assim, a vantagem de se possuir uma dívida garantida por um título de crédito. Sendo um título executivo, ele permite que o credor ajuíze diretamente um processo de execução contra o devedor, sem a necessidade de um prévio processo de conhecimento, em que se venha a reconhecer a existência do crédito. Ressalte-se, por fim, uma vez mais, que um documento que não contenha as formalidades de um título de crédito pode servir de prova da dívida do devedor ao credor em um processo de conhecimento (como no exemplo do cheque sem assinatura apresentado anteriormente). Apenas não será instrumento hábil a dar início diretamente ao processo de execução. Tudo bem em relação aos princípios? Foi só a introdução do assunto, ainda veremos muitas coisas... Legislação Cambial A legislação aplicável aos títulos de crédito varia conforme a espécie do título. No caso da letra de câmbio e da nota promissória, aplica-se o Decreto 57.663/1966, que incorporou ao ordenamento pátrio a chamada Lei Uniforme de Genebra (LUG) sobre esses títulos (suas regras foram acordadas na Convenção de Genebra de 1930). Se houver lacuna nessa Lei ou se o Brasil não aplicar alguma de suas normas, por ter manifestado reserva expressa no momento da ratificação do seu texto, deve ser utilizado, para suprir a lacuna, o Decreto 2.044/1908 (Lei Saraiva), que também versa sobre a letra de câmbio e a nota promissória. Quanto ao cheque, deve ser aplicada a Lei 7.357/1985 (Lei do Cheque) e, de forma subsidiária, o Decreto 57.595/1966, que incorporou ao ordenamento brasileiro a Lei Uniforme de Genebra sobre cheques (Convenção de Genebra de 1931). Já a duplicata é regida pela Lei 5.474/1968 (Lei da Duplicata) e, no que couber, pela legislação referente à letra de câmbio (art. 25 da Lei 5.474/1968). Por fim, o Código Civil de 2002 trouxe um título próprio com normas gerais sobre títulos de crédito (arts. 887 a 926), que, no entanto, só se aplicam aos títulos que possuem lei própria de forma subsidiária (art. 903 do CC/2002). CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 12 Classificação dos Títulos de Crédito Os títulos de crédito podem ser classificados segundo vários critérios. Vejamos os principais. QUANTO AO MODELO, eles se classificam em títulos de modelo livre e títulos de modelo vinculado. Os primeiros não possuem uma forma específica, bastando que contenham os elementos mínimos exigidos por lei para a validade do título, independentemente da sua apresentação formal. Ex.: letra de câmbio e nota promissória. Os de modelo vinculado, por sua vez, têm um formato específico definido em lei, para que sejam considerados válidos. Ainda que contenham todos os dados exigidos por lei para a respectiva espécie, se não se apresentarem no formato exigido, não serão considerados títulos de crédito. Ex.: cheque e duplicata. QUANTO AO PRAZO, os títulos de crédito podem ser classificados em títulos à vista, títulos a certo prazo da vista, títulos a data certa e títulos a certo prazo da data. Os títulos à vista devem ser pagos no momento de sua apresentação ao devedor, ou seja, seu vencimento ocorre no momento da apresentação (ex.: cheque). Caso a obrigação não seja honrada na apresentação, o protesto do título valerá como prova do vencimento. Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida (art. 1.º da Lei 9.492/1997). Deve ser feito no Cartório de Protesto de Títulos. O protesto dá publicidade ao título e prova a impontualidade do devedor, constituindo-o em mora (atraso). Falaremos mais do protesto adiante. Os títulos a certo prazo da vista devem ser pagos até um prazo máximo, contado da apresentação (ex.: 30 dias após a apresentação do título ao devedor). Os títulos a data certa ou a dia certo devem ser pagos na data neles prevista. Por fim, os títulos a certo prazo da data devem ser honrados em um prazo máximo, contado da data do saque (emissão) do título (ex.: 30 dias a partir de hoje). Essa classificação é mais bem visualizada quando aplicada na questão. CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 13 QUANTO À CIRCULAÇÃO, os títulos de créditos classificam-se em títulos ao portador e títulos nominais. Os títulos ao portador são os que não indicam o nome do beneficiário na cártula e, por isso, seu titular é aquele que o possui em determinado momento (portador). A transferência da propriedade de um título ao portador se dá por mera tradição (entrega) da cártula (art. 904 do CC/2002). Os títulos nominais são os que indicam o beneficiário no próprio documento e, por isso, a transferência de seu domínio exige um ato formal (que pode variar em função da espécie de título nominal), além da simples tradição. Os títulos nominais subdividem-se em títulos à ordem, não à ordem e nominativos. Título nominal à ordem é aquele que traz o nome do beneficiário, mas permite que este o transfira por meio de endosso, que é a transferência por meio da assinatura do titular no documento. Estudaremos o endosso adiante. O título nominal não à ordem é aquele que traz o nome do beneficiário, mas não permite que este o transfira por meio de endosso, justamente por trazer expressa a cláusula “não à ordem”. Neste caso, a transferência do título só pode ser feita por cessão civil de crédito, forma de transferência do direito regido pelas regras do Direito Civil e, portanto, sem as garantias do Direito Cambial. Adiante veremos as diferenças entre o endosso e a cessão ordinária (ou civil) de crédito. Por fim, o título nominativo é aquele cujo nome do beneficiário consta de registro próprio do emitente do título (art. 921 do CC/2002).A transferência, neste caso, deve ser feita por meio de termo no referido registro, assinado pelo alienante e pelo adquirente do título (art. 922 do CC/2002) (lembre-se das ações nominativas das sociedades anônimas). Caso o título nominativo seja transferido por endosso em preto, a transferência só terá eficácia perante o emitente depois de feita a competente averbação em seu registro (art. 923 do CC/2002). QUANTO À ESTRUTURA, os títulos de crédito podem ser de dois tipos: ordem de pagamento ou promessa de pagamento. Na ordem de pagamento, o saque (emissão) do título dá origem a três sujeitos cambiais: - o emitente, sacador ou subscritor, que dá a ordem a alguém (devedor ou sacado) para pagar o título a outra pessoa (tomador ou beneficiário); - o devedor ou sacado, que recebe a ordem de pagar a obrigação; e - o beneficiário ou tomador do título, que é a pessoa descrita no documento como detentora do direito de receber o crédito. CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 14 São exemplos de ordem de pagamento a letra de câmbio, o cheque e a duplicata. No cheque, o sacador é a pessoa que passa o cheque na praça; o sacado é o banco, que deve pagar a obrigação a quem apresentar- lhe o cheque; e o beneficiário é a pessoa constante do cheque ou a que atualmente o possua, em virtude de endosso, cessão civil ou tradição do título. Note ainda que o sacador e o tomador podem ser a mesma pessoa (posso emitir um cheque em meu próprio nome e descontá-lo no banco). Na ordem de pagamento, há o instituto do aceite, que consiste no reconhecimento expresso da dívida, por escrito, feito pelo sacado no próprio título. Na letra de câmbio, por exemplo, o sacador subscreve o título, dando ordem ao sacado para que pague certo valor ao tomador. Ora, o sacado pode nem saber da existência do título, razão pela qual o credor deve apresentar o documento ao devedor, para que este verifique a existência da dívida e aceite honrar a obrigação no prazo previsto. Estudaremos o aceite em maiores detalhes quando do estudo da duplicata, uma vez que a matéria referente à letra de câmbio não consta do edital de AFRFB 2009 e nem do AFT (provavelmente porque a letra de câmbio é título raramente usado no Brasil). Já na promessa de pagamento, temos apenas duas figuras jurídicas: - o promitente ou devedor, que emite o título; e - o beneficiário ou tomador do título, que é o credor. A nota promissória é uma promessa de pagamento, em que o emitente declara expressamente que pagará no futuro determinada quantia ao tomador. Eis uma questão de prova: (CESPE/FISCAL DE TRIBUTOS/PREFEITURA DE RIO BRANCO/2007) Assim como o cheque, a nota promissória é uma ordem de pagamento. Gabarito: Errado O item é errado porque a nota promissória é uma promessa de pagamento. CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 15 QUANTO À NATUREZA, os títulos de crédito podem ser causais ou abstratos (não-causais). Os causais são aqueles cuja obrigação que lhes deu origem consta expressamente da cártula, só podendo ser emitidos quando ocorre tal obrigação. Um exemplo é a duplicata, que só pode ser emitida quando ocorre uma venda de mercadorias ou uma prestação de serviços (lembre-se da conta “duplicatas a receber”, sinônima de “clientes”, que estudamos na Contabilidade Geral). Ressalte-se que um título causal só o é na origem, pois, a partir do momento em que entra em circulação (é transferido a terceiros), ele se torna abstrato, conforme o princípio da abstração. Mas atenção: como os títulos podem originalmente não ser abstratos, algumas questões de prova costumam dizer que o princípio da abstração não é aplicável a todos os títulos de crédito (não se aplica aos títulos causais que não entram em circulação). Eis um exemplo: (CESPE/JUIZ FEDERAL/TRF 1.ª REGIÃO/2009) A abstração – princípio absoluto dos títulos de crédito – é característica que serve à autonomia desses títulos e que é fundamental para a sua circulação. Gabarito: Errado O item é errado porque a abstração não é princípio absoluto dos títulos de crédito, tendo em vista a possibilidade de haver títulos causais que não entram em circulação. Os títulos abstratos são os que não mencionam a causa que lhes originou, podendo, em função disso, ser emitidos em qualquer situação, independentemente da relação jurídica extracambial, sendo, portanto, abstratos desde sua emissão. O direito inscrito na cártula vale independentemente do que tenha ocorrido no mundo fático. São exemplos a letra de câmbio, a nota promissória e o cheque. Por exemplo, posso emitir um cheque para pagar um almoço, comprar um carro, alugar um apartamento ou para saldar qualquer outra obrigação, não havendo necessidade de consignar no título a razão de sua emissão. Endosso O endosso é a transferência da propriedade do título de crédito nominal à ordem por meio da assinatura do atual portador (endossante) na própria cártula, que pode ocorrer com a indicação do nome do novo beneficiário (endossatário), o chamado endosso em preto, ou sem essa indicação, o denominado endosso em branco. Note que um título à ordem endossado em branco transforma-se em um título ao portador, por deixar de CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 16 conter o nome do beneficiário. A matéria referente ao endosso é tratada nos arts. 11 a 20 da LUG. A possibilidade de alienação do título à ordem por endosso é representada justamente pela presença da expressão “à ordem” ou “à sua ordem” no corpo do título (examine uma folha do seu talão de cheques e você verá essa expressão ao final da linha destinada ao nome do beneficiário). Na ausência de cláusula expressa, presume-se que o título é à ordem. Vejamos alguns exemplos de endosso: Endosso em preto a João da Silva, feito por Pedro de Souza: Endosso a João da Silva. Pedro de Souza Endosso em branco, feito por Pedro de Souza: Pedro de Souza No endosso em branco, basta a assinatura do beneficiário. O endosso é geralmente feito no verso do título. Se feito no anverso (parte frontal) da cártula, deve constar expressamente alguma expressão que demonstre que se trata de um endosso, não bastando a simples assinatura. A letra de câmbio, a nota promissória, o cheque e a duplicata são títulos nominais à ordem. No caso do cheque, admite-se sua emissão ao portador, até o limite de R$ 100 (cem reais) (art. 69 da Lei 9.069/1995). Nada impede, ainda, que o possuidor de um título endossado em branco aponha seu nome no título, tornando o endosso em preto. Resolva agora esta questão da Esaf: (ESAF/AGENTE AUXILIAR E ARRECADADOR TRIBUTÁRIO/SEFAZ- PI/2001) Títulos de créditos são: a) documentos públicos b) documentos que legitimam o exercício de direitos cartulares c) instrumentos de dívida d) únicos instrumentos cuja circulação se faz por tradição e) instrumentos que só podem ser endossados em preto Gabarito: B CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 17 A letra A é errada porque os títulos de crédito podem ser emitidos por particulares. A letra B é correta, pois os direitos decorrentes dos títulos de crédito exigem a presença da cártula para seu exercício (princípioda cartularidade). A letra C é incorreta porque o título de crédito só será instrumento de dívida quando não for emitido à vista, situação em que representará uma dívida a ser paga futuramente. Todavia, os títulos de crédito podem ser emitidos à vista, quando representarão um instrumento de pagamento. A letra D é falsa, já que vários outros instrumentos podem circular por tradição, como no caso dos negócios jurídicos que envolvem bens móveis, cuja propriedade se transfere pela tradição. Por fim, a letra E é errada porque os títulos de crédito podem ser endossados em branco ou em preto. Um título pode ser endossado inúmeras vezes, gerando o que se denomina cadeia de endossos. Se não houver mais espaço no documento para novos endossos, pode ser anexada uma folha à cártula, para que sejam colocadas novas assinaturas. É a chamada folha de alongamento ou de alongue. Considera-se legítimo possuidor do título aquele que prova seu direito por meio de uma série ininterrupta de endossos em preto, ainda que o último seja em branco, pois, nessa hipótese, o portador poderá acrescentar seu próprio nome ao título, tornando o endosso em preto. Se o único endosso existente for em branco, o portador do título será seu legítimo titular. Os endossos riscados consideram-se, para efeito da cadeia de endossos, como não-escritos. Veja este exemplo de cadeia de endossos: Endossei a Luiz Carlos Pedro José Luiz Carlos Endossado a Mário Sérgio Carlos Magno Cedo por endosso a Carlos Silva Mário Sérgio Cedo por endosso a Carlos Oliveira Mário Sérgio No exemplo acima, o beneficiário original do título era Pedro José. Já o atual beneficiário é Carlos Oliveira, único legitimado a apresentar o documento ao devedor original para cobrança, segundo a cadeia de CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 18 endossos. Note ainda que Luiz Carlos endossou o título em branco, mas logo depois há um endosso em preto de Carlos Magno a Mário Sérgio. Com isso, presume-se que o título, após o endosso de Luiz Carlos, circulou como título ao portador até chegar a Carlos Magno, que, naquele momento, se tornou seu legítimo possuidor, até endossá-lo novamente (em preto) a Mário Sérgio. O endosso deve ser puro e simples. Qualquer condição a que ele seja subordinado (ex.: endosso a fulano, desde que ele aceite cumprir tal obrigação) considera-se como não-escrita. Da mesma forma, o endosso parcial é nulo, isto é, o crédito inteiro constante do título deve ser transmitido pelo endosso. A transferência do título por endosso acarreta a responsabilidade solidária do endossante não só pela existência, mas pela própria solvência do crédito (se o devedor principal for insolvente, isto é, não puder pagar a obrigação, o endossante responde por isso). Lembre-se de que a solidariedade permite que a dívida seja cobrada na integralidade de qualquer dos devedores solidários. Assim, o portador de boa-fé, futuramente, pode acionar judicialmente tanto o devedor original como qualquer endossante constante da cadeia de endossos para honrar a obrigação. Para acionar os coobrigados, contudo, o atual titular do direito deverá provar que não conseguiu receber do devedor original, conforme veremos adiante. Veja o seguinte exemplo: A emite um cheque em favor de B, que o endossa em preto a C. C endossa em branco a D, que, por sua vez, o entrega a E por simples tradição (sem endosso). Com isso, E será o legítimo proprietário do título, pois o último endosso foi em branco, o que tornou o cheque ao portador. Note ainda que, como D não figura na cadeia de endossos, não terá responsabilidade alguma pelo pagamento da obrigação. emissão endosso em preto endosso em branco tradição A ��� B ��� C ��� D ��� E emitente beneficiário endossatário 1 portador endossante 1 endossante 2 Caso E não consiga receber o cheque, por exemplo, por insuficiência de fundos na conta de A, poderá acionar um, alguns ou todos os demais coobrigados da cadeia de endossos (em qualquer ordem) para honrar o cheque. Se um deles quitar o título, passará a ter direito de regresso contra os anteriores a ele na cadeia. Assim, E poderá cobrar a dívida de C, B ou A (lembre que D não figura na cadeia de endossos, não tendo responsabilidade pelo crédito). Se C quitar a dívida, poderá cobrá-la de B ou CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 19 A. Obviamente, se o cheque é honrado pelo próprio devedor inicial (A), não há que se falar em direito de regresso. Além disso, se um dos coobrigados paga a dívida, ele exonera os responsáveis posteriores a ele na cadeia de endossos. Assim, se B paga o título a E, C fica liberado da dívida, mas A poderá ser acionado por B. Ressalte-se ainda que o art. 914 do CC/2002 estabelece que o endossante só responde solidariamente pelo cumprimento da prestação constante do título se houver cláusula expressa no próprio endosso nesse sentido. Todavia, tal regra não é aplicável aos títulos que possuem lei especial de regência que disponham em sentido contrário (art. 903 do CC/2002), como é o caso da nota promissória, do cheque e da duplicata, como veremos à frente. Existem diferenças fundamentais entre a transferência do título por endosso e por cessão civil de crédito. O endosso, além de transferir a propriedade do título ao endossatário, vincula o endossante ao pagamento do título, na qualidade de coobrigado do devedor original, respondendo tanto pela existência, como pela solvência do crédito. Não obstante, o endossante pode proibir um novo endosso, o que não veda efetivamente o endosso posterior, mas faz com que o endossante que fez a proibição seja excluído de responsabilidade pelo pagamento do crédito aos que figurarem na cadeia de endossos após seu endossatário. Veja este exemplo: Endossei a André Luiz Daniel Paulo Endossado a Mauro Silva, com proibição de novo endosso André Luiz Endosso a José Oliveira Mauro Silva Endosso a Carlos Lima José Oliveira No presente exemplo, José Oliveira, se precisar acionar os coobrigados do título, não poderá demandar André Luiz, que proibiu novo endosso. Todavia, André Luiz será responsável junto a Mauro Silva, caso este venha a acioná-lo em juízo. CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 20 Veja esta questão de concurso sobre o endosso: (CESPE/FISCAL DE TRIBUTOS/PREFEITURA DE RIO BRANCO/2007) O endosso lançado em uma duplicata, em regra, acarreta a condição de coobrigado do respectivo endossante. Gabarito: Certo O item é correto, pois o endossante, como regra, é responsável solidário pela solvência do título de crédito, só se exonerando dessa responsabilidade se, ao endossar, incluir expressamente a cláusula “proibido novo endosso”. Já a cessão civil de crédito responsabiliza o cedente apenas pela existência do crédito, não pela sua solvência (arts. 295 e 296 do CC/2002). Por exemplo, se o devedor de um título de crédito endossado não o honra, o portador pode executar o endossante. Já o indivíduo que recebe o título por cessão civil só pode executar o cedente se o crédito não existir, e não se o devedor se tornar insolvente (incapaz de pagar a dívida).Outra diferença é que o devedor pode opor ao portador do título recebido por cessão civil as exceções pessoais que tinha contra o cedente (art. 294 do CC/2002), o que não ocorre em caso de endosso, em função do princípio da autonomia e do subprincípio da inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé, estudados acima. Destaque-se ainda que, se um título com a cláusula “não à ordem” for endossado, o endosso terá os efeitos de uma cessão civil de crédito, com as características acima citadas. O endosso pode ser próprio ou impróprio. O endosso próprio é o visto acima, que transfere a propriedade do título e acarreta a responsabilidade solidária do endossante pelo pagamento do crédito. O endosso impróprio é o que não transfere o domínio da cártula, mas apenas permite que o endossatário exerça alguns direitos relativos ao título. O endosso impróprio possui duas espécies: o endosso-mandato e o endosso-caução. Endosso-mandato ou endosso-procuração é o que apenas permite ao endossatário representar o endossante quanto aos direitos referentes ao título (ex.: cobrar o título do devedor). Exemplo: CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 21 Endosso por procuração a Carlos Lima José Oliveira O endossatário de endosso-mandato só pode endossar novamente o título na qualidade de procurador, com os mesmos poderes que recebeu. Além disso, se houver morte ou superveniente incapacidade civil do endossante, o endosso-mandato não perde eficácia. Ademais, como o endossatário é mero representante do endossante, o devedor do título pode opor ao endossatário as exceções pessoais que tiver contra o endossante (art. 18 da LUG e art. 917 do CC/2002). Endosso-caução, endosso-garantia ou, ainda endosso- pignoratício (o termo vem de penhor) é aquele em que o endossante entrega o título ao endossatário como garantia de uma dívida que aquele tenha com este. Exemplo: Endossado em garantia ao Banco Cruzeiro S.A. Carlos Barbosa O endosso-caução confere ao endossatário o exercício dos direitos inerentes ao título, mas ele só poderá realizar novo endosso na qualidade de procurador. O devedor do título não pode opor ao endossatário de endosso- penhor as exceções que tinha contra o endossante, salvo se aquele (endossatário) tiver agido de má-fé, em detrimento do devedor (ex.: o endossatário recebe o título sabendo que o valor já havia sido pago ao endossante e mesmo assim promove sua cobrança) (art. 19 da LUG e art. 918 do CC/2002). O título endossado em garantia permanece empenhado com o endossatário até que o endossante lhe pague a dívida que há entre ambos. Havendo inadimplemento do endossante, o endossatário terá direito à efetiva propriedade do título. É possível que o endosso seja feito após o vencimento do título. Nesse caso, ele terá os mesmos efeitos que o endosso anterior ao vencimento. Por outro lado, se o endosso for feito após o protesto por falta de pagamento ou após a expiração do prazo para protestar (endosso póstumo ou tardio) produzirá apenas os efeitos de uma cessão ordinária (civil) de créditos. Se o endosso for feito sem data, presume-se, CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 22 salvo prova em contrário, que ele foi feito antes de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto (art. 20 da LUG). Veja esta questão da Esaf sobre o endosso: (ESAF/FISCAL DE TRIBUTOS ESTADUAIS/PA/2002) O endosso é instituto de direito cambiário que a) se aplica apenas para representar a transferência de titularidade. b) serve para determinar a legitimação cambiária. c) impõe ao endossante o dever de garantir a legitimidade dos endossos anteriores. d) deve ser em preto para garantir a formação da cadeia de regresso. e) serve para indicar que alguém deixa de ser titular do direito cambiário. Gabarito: B A letra A é errada, pois o endosso pode transferir a titularidade do título de crédito (endosso próprio) ou não (endosso impróprio). A letra B é o gabarito porque, por meio da análise da cadeia de endossos do título, pode- se determinar quem é o seu legítimo titular. A letra C é falsa, já que o endossante não garante a legitimidade dos endossos anteriores. Ele não responde, por exemplo, pela autenticidade das demais assinaturas. A letra D é incorreta porque o endosso pode ser em branco ou em preto. E a letra E é errada, pois o endosso impróprio não faz com que o endossante deixe de ser o titular do crédito. E aí aprendeu tudo sobre endosso? É um assunto interessante e que costuma ser cobrado em prova, assim como o próximo assunto, o aval... Então bastante atenção e vamos juntos... Aval O aval é uma garantia cambial firmado por uma pessoa, chamada avalista ou dador do aval, por meio da qual ela garante o pagamento do título. A pessoa por quem o avalista se obriga é o avalizado, a qual pode ser o sacador, o devedor original ou um dos endossantes do título. O avalista pode ser um terceiro ou mesmo um dos signatários do título (art. 30 da LUG). O aval deve ser escrito na própria cártula ou na folha de alongamento. Exprime-se pelas palavras “bom para aval”, “avalizo” ou por qualquer outra fórmula equivalente e deve ser assinado pelo avalista. Se aposto na face anterior do título (anverso), basta a simples assinatura do avalista, salvo se CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 23 se tratar das assinaturas do sacado ou do sacador. Inserido no verso, deve haver indicação expressa de que se trata de um aval (art. 31 da LUG). O aval, como regra, deve indicar a pessoa do avalizado (aval em preto). Na falta de indicação (aval em branco), a definição de quem será o avalizado dependerá da legislação específica de cada título. No caso da nota promissória, por exemplo, será o subscritor do título (arts. 31 e 77 da LUG). No cheque, será o seu emitente (art. 30, par. único, da Lei 7.357/1985). Na duplicata, vai depender do caso concreto, conforme veremos adiante. Veja estes exemplos: Aval em preto a João da Silva, feito por Pedro de Souza: Avalizo João da Silva. Pedro de Souza Aval em branco, feito por Pedro de Souza (na frente do título): Pedro de Souza O avalista, assim como os demais coobrigados, são responsáveis solidários pelo pagamento do crédito. Na cadeia de endossos, o avalista se posiciona imediatamente após o seu avalizado. Além disso, a obrigação do avalista mantém-se mesmo no caso de a obrigação garantida pelo aval ser nula por qualquer razão, salvo se em razão de um vício de forma do título (art. 32 da LUG). Isso se deve ao princípio da autonomia, isto é, entende-se que a obrigação do avalista é autônoma em relação à do avalizado e às demais constantes do título, devendo ser por ele honrada ainda que haja alguma nulidade na obrigação garantida (ex.: falsidade da assinatura do avalizado). Veja como a questão já foi cobrada pela Esaf: (ESAF/AFTN/TRIBUTAÇÃO E JULGAMENTO/1996/ADAPTADA) Nos títulos de crédito, o aval é uma garantia acessória do pagamento do título. Gabarito: Errado O item é errado porque a obrigação do avalista é autônoma, e não acessória, em relação à do avalizado. CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 24 Se o avalistapagar a obrigação, ficará sub-rogado nos direitos emergentes desse título contra o avalizado e os demais coobrigados anteriores a ele na cadeia de endossos (art. 32 da LUG). O aval cancelado deve ser considerado como não-escrito (art. 898, § 2.º, do CC/2002). O aval pode ser total ou parcial (art. 30 da LUG). Embora o Código Civil vede o aval parcial (art. 897, par. único), tal regra não prevalece para os títulos que possuem lei especial dispondo diversamente (art. 903 do CC/2002), como a letra de câmbio e a nota promissória (LUG), o cheque (art. 29 da Lei 7.357/1985) e a duplicata (art. 25 da Lei 5.474/1968). Caso o aval seja dado após o vencimento do título, ele produzirá os mesmos efeitos do anteriormente dado (art. 900 do CC/2002). O aval pode ser dado também a outro avalista. Imagine que Fulano é o devedor principal de um título de crédito e tem Beltrano por seu avalista. Ocorre que Beltrano, por sua vez, é avalizado por Sicrano, que se torna, desse modo, avalista do avalista. Neste caso, os avais são chamados de sucessivos. Por outro lado, é possível que o devedor possua dois avalistas garantindo a sua dívida, quando teremos avais simultâneos. DIFERANÇA DE FUNDAMENTAL CONHECIMENTO: Não se confunde o aval com a fiança (arts. 818 a 826 do CC/2002). A FIANÇA é um instituto de garantia regulado pelo Direito Civil, O AVAL uma garantia regida pelo Direito Cambial (é muito comum o contrato de fiança vinculado a um contrato de aluguel de imóvel, quando o locador exige que o locatário apresente um fiador). A obrigação do avalista é autônoma e solidária em relação à do avalizado, como visto acima. Já a do fiador é acessória e subsidiária, de modo que uma nulidade na obrigação do afiançado contamina a obrigação do fiador. Além disso, este só pode ser cobrado após a impossibilidade de pagamento da dívida pelo afiançado (benefício de ordem). Já o avalista, por ser solidário com o avalizado, não possui tal benefício, podendo ser acionado diretamente pelo credor do título. Outra diferença é que o aval deve estar contido na cártula, em atenção ao princípio da literalidade. Já a fiança pode estar no próprio contrato da respectiva obrigação ou em instrumento separado. Além disso, tendo em vista o princípio da autonomia, não pode o avalista opor as exceções pessoais do avalizado para se defender do credor de boa-fé (ex.: avalizado que já tenha pago a obrigação). Na fiança, as exceções pessoais do afiançado podem ser alegadas pelo fiador. CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 25 Por fim, destaque-se que um cônjuge não pode prestar fiança ou aval sem a autorização do outro, exceto se o regime do casamento for o de separação absoluta de bens (art. 1.647, III, do CC/2002). Veja como essa questão já foi cobrada: (CESPE/FISCAL DE TRIBUTOS/PREFEITURA DE RIO BRANCO/2007) Depois do novo Código Civil, conforme sucede com a fiança, em regra, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, prestar aval. Gabarito: Certo O item é correto, já que, com visto acima, o CC/2002 estabelece que um cônjuge só poderá prestar fiança ou aval sem a autorização do outro, se o regime do casamento for o de separação absoluta de bens. Vencimento e Pagamento Vencimento é a data em que a obrigação constante do título pode ser exigida do devedor, para que este efetue o respectivo pagamento da dívida. Somente com o vencimento o título se torna exigível. O vencimento pode ser ordinário ou extraordinário. O primeiro decorre da regra prevista no próprio título, que, como vimos, pode ser à vista, a certo prazo da vista, a data certa e a certo prazo da data. O segundo surge com a ocorrência de algum fato anormal antes do vencimento ordinário (ex.: falência do devedor), devendo haver o protesto do título para reconhecimento do vencimento antecipado (art. 19, II, do Decreto 2.044/1908). Na data do vencimento, para que a obrigação seja exigida, deve o título ser apresentado pelo portador ao devedor, em função do princípio da cartularidade. O título de crédito representa uma dívida quesível (quérable), isto é, em que o credor deve ir até o devedor para receber o respectivo valor, e não o contrário (dívida portável ou portable). A apresentação deve se dar no lugar de pagamento do título. A nota promissória à vista vence no momento da apresentação ao devedor, o que deve ocorrer até um ano, a contar da data de emissão (art. 34 da LUG). No cheque, o vencimento é sempre à vista e o prazo de apresentação para pagamento é de 30 ou 60 dias, conforme o caso (veremos isso quando estudarmos o cheque). Aquele que paga o título no vencimento fica validamente desobrigado, salvo se tiver agido de má-fé. É seu dever verificar a regularidade da CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 26 sucessão dos endossos, mas não a veracidade das assinaturas dos endossantes (art. 40 da LUG e art. 39 da Lei 7.357/1985). Antes do vencimento, o credor não é obrigado a aceitar o pagamento, nem o devedor pode ser obrigado a honrá-lo. Vencido o título, porém, o credor não pode recusar o pagamento, ainda que parcial (art. 902, § 1.º, do CC/2002). Sendo o pagamento parcial, o portador não entregará o título ao devedor, mas apenas dará quitação em separado da parte paga e a firmará também no próprio título, que se tornará exigível apenas pelo restante, inclusive dos demais coobrigados (art. 902, § 2.º, do CC/2002). Ao pagar o título, o devedor deve exigir que lhe seja entregue a cártula, cuja posse presume o pagamento da dívida cambial (princípio da cartularidade). Se o devedor não se apossar do título, este poderá ser endossado a terceiro de boa-fé, que terá o direito de cobrar novamente a obrigação do devedor, sem que este possa opor a exceção pessoal de já ter realizado o pagamento, conforme já comentado antes (inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé). Se o devedor original não pagar a obrigação, o credor poderá se voltar contra os demais coobrigados. Para isso, deverá antes efetuar o protesto do título. Protesto Protesto, como dito antes, é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida (art. 1.º da Lei 9.492/1997). Deve ser feito no Cartório de Protesto de Títulos. O protesto dá publicidade ao título e prova a impontualidade do devedor, constituindo-o em mora (atraso). Por meio dele, o portador faz prova aos coobrigados do título de que o devedor original não honrou sua obrigação. Não é necessário protestar o título para cobrar a dívida do devedor principal (emitente da nota promissória ou do cheque e aceitante da duplicata) e seu respectivo avalista, mas para que os demais coobrigados (endossantes do título e respectivos avalistas) sejam demandados, o protesto é requisito prévio fundamental. Por isso, costuma-se dizer que o protesto é facultativo em relação ao devedor original e seu avalista e obrigatório quanto aos demais responsáveis solidários e seus respectivos avalistas. A perda do prazo para protesto, assim, acarreta a perda do direito de regresso do credor contra os demais coobrigados no título. CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 27 Veja como a questão já foi cobrada pela Esaf: (ESAF/AFTN/TRIBUTAÇÃO E JULGAMENTO/1996/ADAPTADA) Nos títulos de crédito, a falta do protestonecessário, nos prazos legais, exonera os coobrigados. Gabarito: Certo O item é correto porque a execução dos coobrigados nos títulos de crédito depende da prévia realização do protesto. O protesto por falta de pagamento só pode ser feito após o vencimento (art. 21, § 2.º, da Lei 9.492/1997), e deve ocorrer: - nos dois dias úteis seguintes àquele em que o título for pagável, para a nota promissória (art. 44 da LUG). Há autores, contudo, que entendem que deve ser seguida a regra do art. 28 do Decreto 2.044/1908, que estabelece que o título deve ser entregue ao tabelião no primeiro dia útil após o vencimento; - antes de expirado o prazo de apresentação ou, se esta ocorrer no último dia do prazo, no primeiro dia útil seguinte, para o cheque (art. 48 da Lei 7.357/1985); - em 30 dias, contados do vencimento, para a duplicata (art. 13, § 4.º, da Lei 5.474/1968). O sacador do título pode inserir a cláusula “sem protesto” ou “sem despesas” no título, o que permitirá que o portador fique dispensado de fazer o protesto para poder exercer seu direito de ação contra os coobrigados. Se a cláusula for inserida por um endossante ou avalista, ela só produzirá efeito em relação a esse endossante ou avalista (art. 46 da LUG e art. 50 da Lei 7.357/1985). O portador do título deve avisar que houve a falta de pagamento ao seu endossante e ao sacador dentro dos quatro dias úteis que se seguirem ao dia do protesto ou da apresentação, no caso de o título conter a cláusula “sem despesas”. Cada um dos endossantes deve, por sua vez, dentro dos dois dias úteis que se seguirem ao da recepção do aviso, informar o seu endossante do aviso que recebeu, e assim sucessivamente até se chegar ao emitente. Os prazos acima indicados contam-se a partir da recepção do aviso precedente. O respectivo avalista deve ser avisado dentro do mesmo prazo de tempo. A pessoa que não der o aviso dentro do prazo acima não perde os seus direitos, mas será responsável pelo eventual prejuízo decorrente de sua negligência, limitada a indenização à importância do título (art. 45 da LUG e art. 49 da Lei 7.357/1985). CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 28 2 – NOTA PROMISSÓRIA Muitas das características da nota promissória já foram referenciadas acima, quando do estudo da matéria geral de títulos de crédito. Agora serão tratados alguns aspectos particulares deste título. Veja abaixo um modelo possível de nota promissória: A nota promissória, como já foi dito, é uma promessa de pagamento. Por meio dela, o promitente declara que pagará, no futuro, determinada valor expressa no título. A figura apresentada é apenas um possível modelo, porque a promissória é um título de forma livre, bastando, para sua validade, que contenha os elementos essenciais citados em lei, quais sejam (art. 75 da LUG): - a denominação “nota promissória” inserta no próprio texto do título e expressa na língua empregada para a redação desse título; - a promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada; - a época do pagamento; - a indicação do lugar em que se efetuar o pagamento; - o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga (a nota promissória não pode ser emitida ao portador); - a indicação da data em que e do lugar onde a nota promissória é passada; - a assinatura de quem passa a nota promissória (subscritor). CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 29 O título em que faltar algum dos requisitos acima não produzirá efeito como nota promissória, salvo nos casos seguintes (art. 76 da LUG): - a nota promissória em que não se indique a época do pagamento será considerada à vista. - na falta de indicação especial, o lugar onde o título foi passado considera-se como sendo o lugar do pagamento e, ao mesmo tempo, o lugar do domicílio do subscritor da nota promissória. - a nota promissória que não contenha indicação do lugar onde foi passada considera-se como o tendo sido no lugar designado ao lado do nome do subscritor. Veja esta questão sobre os requisitos da nota promissória: (CESPE/EXAME DE ORDEM/OAB/2008.2) Os títulos de crédito são tradicionalmente concebidos como documentos que apresentam requisitos formais de existência e validade, de acordo com o regulado para cada espécie. Quanto aos seus requisitos essenciais, a nota promissória: A) poderá não indicar o nome do sacado, permitindo-se, nesse caso, saque ao portador. B) precisa ser denominada, com sua espécie identificada no texto do título. C) poderá ser firmada por assinatura a rogo, se o sacador não puder ou não souber assiná-la. D) conterá mandato puro e simples de pagar quantia determinada. Gabarito: B A letra A é errada porque a promissória é título à ordem, não podendo ser emitida ao portador. A letra B é correta, pois a denominação “nota promissória” inserta no próprio texto do título é requisito essencial à sua validade. A letra C é falsa, já que a nota promissória deve conter a assinatura de quem a passou (subscritor). E a letra D é incorreta porque a promissória não é uma ordem de pagamento, é uma promessa de pagamento. Quanto ao prazo, a nota promissória pode ser à vista, a dia certo ou a tempo certo da data (art. 55 do Decreto 2.044/1908). O emitente pode estipular que a nota promissória pagável à vista não deverá ser apresentada a pagamento antes de uma certa data. Nesse caso, o prazo para apresentação conta-se dessa data (art. 34 da LUG). CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 30 Existe uma importante exceção ao princípio da autonomia, no caso da nota promissória. Uma prática muito comum dos bancos era a exigência de que o tomador de empréstimo bancário emitisse uma nota promissória em favor do banco, como garantia de pagamento da quantia liberada. Com isso, os bancos pretendiam ter mais facilidade para cobrar seu crédito, em caso de inadimplência do devedor. Todavia, o contrato de abertura de crédito bancário não goza de liquidez, pois seu valor não é previamente definido, dependendo da quantia efetivamente tomada e dos juros que incidam no período. Em função disso, o STJ decidiu que: “A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou” (Súmula 258). Aplicam-se à nota promissória as regras vistas sobre endosso, aval, vencimento, pagamento e protesto. Eis uma questão da Esaf sobre a nota promissória: (ESAF/DEFENSOR PÚBLICO/CE/2002) A nota promissória: A) pode ser emitida ao portador; B) deve, obrigatoriamente, conter o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga; C) não pode ser endossada; D) precisa, necessariamente, ser avalizada. Gabarito: B A letra A é errada, pois a nota promissória não pode ser emitida ao portador, devendo, obrigatoriamente, conter o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga. Em função disso, a letra B está certa. Nada impede, contudo, o endosso em branco da nota, o que a transformará em um título ao portador. Aliás, a letra C é incorreta, ao dizer que a promissória não pode ser endossada, já que esse título pode ser objeto de endosso normalmente. E a letra D é falsa, pois não é obrigatória a existência de aval na nota promissória. Ação Cambial Como os demais títulos de crédito, a nota promissória é um título executivo extrajudicial (art. 585, I, doCPC). Assim, para sua cobrança, não é necessário um processo de conhecimento, podendo o credor ajuizar diretamente a ação de execução. A ação contra o devedor principal e seu avalista é chamada de direta e contra os endossantes e seus avalistas é denominada de regressiva, lembrando que a ação contra estes exige o prévio protesto do título. Em função do princípio da cartularidade, o título CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 31 original deve acompanhar a petição inicial (salvo se estiver juntado a outro processo judicial, conforme visto antes). Os embargos do devedor (espécie de defesa processual) só poderão versar sobre defeito formal do título (ex.: ausência do nome do título, indefinição da quantia a ser paga, rasura, etc.), direito pessoal contra o exequente (ex.: pagamento anterior ao exequente, dolo do exequente) ou ausência de requisito para o exercício da ação executiva (ex.: falta de protesto). O que não se admite é o executado alegar contra o credor de boa- fé alguma exceção pessoal que tiver contra o beneficiário original, conforme já estudado (ex.: pagamento anterior ao credor inicial, dolo do credor inicial, etc.). Segundo o STJ, a execução pode ser fundada em mais de um título executivo extrajudicial relativo ao mesmo negócio (Súmula 27). Assim, nada impede que o exequente promova a execução da dívida com base em um cheque e uma nota promissória, ambos utilizados pelo executado para pagar determinada transação comercial. Prescrição A prescrição é a perda da pretensão de exigir a reparação de um direito violado, em função do decurso de um prazo legal. Na prática, é a perda do direito do interessado de entrar com uma ação judicial, para fazer valer seu direito. Todas as ações contra o emitente e seu avalista relativas à nota promissória prescrevem em três anos a contar do seu vencimento. As ações do portador contra os endossantes e respectivos avalistas prescrevem em um ano, a contar da data do protesto feito em tempo útil ou da data do vencimento, se se tratar de título que contenha a cláusula “sem despesas”. As ações dos endossantes uns contra os outros e respectivos avalistas prescrevem em seis meses, a contar do dia em que o endossante pagou a letra ou em que ele próprio foi acionado (art. 70 da LUG). As causas que interrompem a prescrição só produzem efeito em relação à pessoa para quem a interrupção foi feita (art. 71 da LUG). Além disso, segundo a Súmula 153 do STF: “Simples protesto cambiário não interrompe a prescrição”. Esta súmula vale para os títulos de crédito em geral. Tudo beleza até aqui? Podemos continuar? CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 32 3 – CHEQUE Esse título de crédito todo mundo conhece né? Talvez, por isso seja um pouco mais fácil aprender. Alguns vão aprender regras que nunca tinham visto, como o cheque administrativo, o cheque cruzado, a legalidade ou não do cheque pré-datado. Preparado? Vamos prosseguir pois a caminhada é longa. O cheque é uma ordem de pagamento à vista, por meio da qual o emitente (sacador) ordena ao sacado (banco ou instituição financeira equiparada) que pague ao tomador (beneficiário) determinada quantia em dinheiro expressa na cártula, a qual deve estar depositada na conta corrente que o emitente possui junto ao sacado. O cheque deve ser emitido contra banco ou instituição financeira equiparada, sob pena de não valer como cheque (art. 3.º da Lei 7.357/1985 – Lei do Cheque). O emitente deve ter fundos disponíveis em poder do sacado e estar autorizado a emitir cheque sobre esses fundos, em virtude de contrato expresso ou tácito celebrado com o banco. A infração desses preceitos, contudo, não prejudica a validade do título como cheque. A existência de fundos disponíveis é verificada no momento da apresentação do cheque para pagamento (art. 4.º da Lei do Cheque – LC). O cheque é um título à vista (art. 32 da LC). Considera-se não-escrita qualquer estipulação de juros nele inserida (art. 10 da LC). O sacado (BANCO) não tem nenhuma obrigação cambial pelo pagamento do cheque, que dependerá de o sacador (quem emite o cheque) ter fundos suficientes em sua conta. Tanto é assim que o emitente garante o pagamento, considerando-se não-escrita a declaração pela qual ele se exima dessa garantia (art. 15 da LC). Em função disso, também, o cheque não admite aceite, considerando-se não-escrita qualquer declaração com esse sentido (art. 6.º da LC). Por fim, é vedado ao sacado endossar ou avalizar o cheque (arts. 18, § 1.º, e 29 da LC). O cheque é um título de modelo vinculado, que só pode ser emitido por um banco ou instituição financeira assemelhada, nos moldes definidos pelo Banco Central. Veja abaixo um modelo desse título: CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 33 Para sua validade, o cheque deve conter os seguintes elementos essenciais (art. 1.º da Lei 7.357/1985): - a denominação “cheque” inscrita no título, na língua em que este é redigido; - a ordem incondicional de pagar quantia determinada (quanto a este elemento e ao anterior, veja a frase: “pague por este cheque a quantia de”, antes do valor por extenso, na figura acima); - o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado); - a indicação do lugar de pagamento; - a indicação da data e do lugar de emissão; - a assinatura do emitente (sacador) ou de seu mandatário com poderes especiais para emitir o título. A assinatura do emitente ou a de seu mandatário com poderes especiais pode ser constituída, na forma de legislação específica, por chancela mecânica ou processo equivalente (art. 1.º, par. único, da LC). O título a que falte qualquer dos requisitos enumerados acima não vale como cheque, salvo nos seguintes casos (art. 2.º da LC): - na falta de indicação especial, é considerado lugar de pagamento o lugar designado junto ao nome do sacado. Se designados vários lugares, o cheque é pagável no primeiro deles. Não existindo qualquer indicação, o cheque é pagável no lugar de sua emissão; - não indicado o lugar de emissão, considera-se emitido o cheque no lugar indicado junto ao nome do emitente. CURSO ONLINE - DIREITO COMERCIAL AFRFB/AFT 2012 PROFESSORES LUCIANO OLIVEIRA E CADU CARRILHO – AULA 04 www.pontodosconcursos.com.br 34 O cheque pode ser pagável no domicílio de terceiro, quer na localidade em que o sacado tenha domicílio, quer em outra, se esse terceiro for um banco (art. 11 da LC). Havendo indicação da quantia em algarismos e por extenso, prevalece esta, no caso de divergência. Se a quantia for indicada mais de uma vez, quer por extenso, quer por algarismos, prevalece, no caso de divergência, a indicação da menor quantia (art. 12 da LC). O cheque deve conter ainda o CPF ou CNPJ do titular, a data de abertura da respectiva conta de depósitos, bem como, no caso de titular pessoa física, o número de identidade do correntista (Resolução 2.537/1998 do Banco Central). O cheque incompleto ou assinado em branco pode ser completado até o momento da apresentação. Contudo, se o portador completá-lo com inobservância do que houver sido convencionado com o emitente, este não poderá opor tal fato ao portador de boa-fé, que terá direito ao recebimento do título (art. 16 da LC). Por exemplo, imagine
Compartilhar