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que a seleção do currículo escolar da disciplina Ciências não é meramente uma simplificação do conhecimento científico. Ao serem transpostos de maneira simplificada para o contexto escolar, determinados elementos do saber acadêmico desaparecem e outros são criados. Consequentemente, esse processo de transformação resulta num conteúdo descaracterizado e descontextualizado. Em relação a isso, Nehring (2002, p. 4) afirma que O sistema didático não consegue dar conta de toda a sua complexidade, por isso este conhecimento é apresentado em fragmentos, sucessão de capítulos e lições, muitas vezes desconsiderando o fato de que um conceito científico ganha significado e valor no interior de uma estrutura teórica […]. É difícil acreditar que a transposição de conhecimento entre universos tão distintos como aquele da pesquisa e da sala de aula não esteja sujeita a modificações significativas, como parecem crer professores/as de Ciências. Embora seja uma transformação necessária, na maioria das vezes, resulta na desconsideração de aspectos que seriam fundamentais para que os/as estudantes pudessem compreender o conhecimento científico como o resultado de um processo que tem por objetivo a busca de respostas a problemas. De fato, é fundamental que os/as professores/as, as escolas e suas comunidades escolares discutam e organizem os currículos e conteúdos a serem trabalhados. É nesse sentido que apresentamos o documento de Educação em Ciências para a rede municipal de Juiz de Fora. Organizar currículos e conteúdos significa pensar acerca da transposição didática. Sem isso, os conteúdos escolares ficariam sem sentido e a aprendizagem comprometida. Nesse sentido, Marandino1 (2005) ressalta que: Sem a mediação da transposição didática, a aprendizagem e a aplicação de estratégias e procedimentos de ensino tornam-se abstratas, dissociando teoria e prática. Essa aprendizagem é imprescindível para que, no futuro, o professor seja capaz tanto de selecionar conteúdos como de eleger as 1 A autora analisa a transposição didática a partir do parecer CNE/CP 009/2001 do Conselho Nacional de Educação, aprovado em 08/05/2001, que trata das “Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica”, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. estratégias mais adequadas para a aprendizagem dos educandos, considerando sua diversidade e as diferentes faixas etárias. (MARANDINO, 2005, p.8). Enfim, o contato com a Ciência amplia a visão de mundo e torna a educação científica uma realidade para as/os estudantes. É uma tarefa dos/as professores/as, juntamente com toda comunidade escolar, implementar esta forma de Educação em Ciências, voltada para compreensão do mundo natural e dos saberes originados na pesquisa sobre este mundo e capaz de transformar as pessoas em cidadãos críticos e conscientes de seu papel nesta comunidade-mundo. Ressaltamos ainda que a tarefa de selecionar e organizar conteúdos para a Educação em Ciências, como para qualquer outra disciplina, requer que façamos opções, priorizando alguns temas e conteúdos, em detrimento de outros. Como selecioná-los, então? Por que devemos escolher um determinado conteúdo e não outro? Quais conteúdos são mais relevantes? Estas são questões que devem ser ampla e necessariamente debatidas entre os/as professores/as, sempre na perspectiva dos objetivos do Ensino Fundamental e considerando os contextos específicos de cada comunidade onde as escolas se inserem. Os PCN para o Ensino Fundamental (BRASIL, 1998) elencam alguns objetivos das Ciências, que são: Compreender a natureza como um todo dinâmico, sendo o ser humano parte integrante e agente de transformações do mundo em que vive; Identificar relações entre conhecimento científico, produção de tecnologia e condições de vida, no mundo de hoje e em sua evolução histórica; Formular questões, diagnosticar e propor soluções para problemas reais a partir de elementos das Ciências Naturais, colocando em prática conceitos, procedimentos e atitudes desenvolvidos no aprendizado escolar; Saber utilizar conceitos científicos básicos, associados a energia, matéria, transformação, espaço, tempo, sistema, equilíbrio e vida; Saber combinar leituras, observações, experimentações, registros, etc., para coleta, organização, comunicação e discussão de fatos e informações; Valorizar o trabalho em grupo, sendo capaz de ação crítica e cooperativa para a construção coletiva do conhecimento; Compreender a saúde como bem individual e comum que deve ser promovido pela ação coletiva; Compreender a tecnologia como meio para suprir necessidades humanas, distinguindo usos corretos e necessários daqueles prejudiciais ao equilíbrio da natureza e ao homem. 4 EIXOS DE CONTEÚDOS 4.1 Vida e Ambiente 4.1.1 Por que trabalhar com o eixo “Vida e Ambiente” na escola? O principal objetivo do trabalho com este eixo é ampliar o conceito de ambiente, criando condições para o exercício da cidadania com consciência social e ecológica. Dessa forma, visa fornecer a compreensão do ambiente como um conjunto de interações entre os diversos componentes, vivos e não vivos, promovendo a valorização da biodiversidade e da qualidade de vida. O conceito de ambiente ampliado se alia à percepção de que a sobrevivência do ser humano depende diretamente da preservação dos recursos naturais, à mudança de valores associados ao consumo e à identificação de que existem relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade para formar o cidadão que age de forma a valorizar e preservar seu entorno socioambiental. No final do século XX, com a emergência dos problemas ambientais graves, a preocupação com o ambiente ganhou muito espaço. É crescente a consciência de que a proteção e a preservação do ambiente significam comprometimento com as futuras gerações. Nesse processo, o papel da educação básica aliada à Educação Ambiental, vista como o processo educativo que tem por objetivo formar cidadãos éticos nas suas relações com a natureza e com a sociedade, é fundamental na busca por soluções. Tomando a visão de ambiente a ser desenvolvida, ou seja, aquela que integra relações sociais e culturais, e não apenas as naturais, torna-se importante a inserção do conceito de cidadania, por meio do qual ampliamos nossa participação na sociedade. Nesse sentido, Pelicioni (2000, p. 21) afirma que: A educação ambiental deve, portanto, capacitar ao pleno exercício da cidadania permitindo a formação de uma base conceitual suficientemente diversificada, técnica e culturalmente de modo a permitir que sejam superados os obstáculos à utilização sustentável do meio. Para que isso ocorra, é preciso formar pessoas conscientes, críticas, éticas, preparadas, portanto, para enfrentar esse novo paradigma. A educação ambiental nos níveis formais e informais tem procurado desempenhar esse difícil papel resgatando valores como o respeito à vida e à natureza, entre outros, de forma a tornar a sociedade mais justa e feliz. A Educação em Ciências deve familiarizar o/a estudante com o universo da temática ambiental a fim de torná-lo/a capaz de se sentir participante do processo de tomada de decisões e discussões sobre os impactos de suas ações como cidadão sobre o ambiente. A escolha de conteúdos para este eixo, portanto, deve priorizar a interpretação do ambiente do/a estudante, o lugar onde ele/a efetivamente vive. Sobre isso, os PCN indicam que “[…] os conteúdos devem ser relevantes do ponto de vista social, cultural e científico, permitindo