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PSICOLOGIA E DIREITO: UMA ESTREITA RELAÇÃO ENTRE ÉTICA E JUSTIÇA

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PSICOLOGIA E DIREITO: 
UMA ESTREITA RELAÇÃO ENTRE JUSTIÇA E ÉTICA 
Letícia Rabelo Ramos 
 
As relações entre a Psicologia e o Direito se iniciaram ainda no final do 
século XIX, com a necessidade de avaliar a veracidade dos testemunhos 
apresentados à Justiça. Essa proximidade influenciou diretamente no 
surgimento dos laboratórios de Psicologia experimental, onde práticas e 
estudos sobre temas relacionados ao testemunho foram desenvolvidos e 
aprimorados. Posteriormente, os psicólogos também ganharam a função de 
determinar a periculosidade dos criminosos baseados em provas, técnicas e 
até mesmo em gráficos de reincidência. 
No Brasil, a relação entre ambas às áreas se iniciou no reconhecimento 
da Psicologia enquanto profissão na década de 60. Os primeiro trabalhos 
visavam fundamentar as decisões de magistrados por meio de diagnósticos 
técnicos cientifico na área da psicopatologia. Contudo, os profissionais não 
eram servidores do judiciário, mas sim, indicados como peritos pelos 
magistrados que visavam à resolução do caso. 
Com fundamentos nos pareceres psicológicos, o poder judiciário 
realizava regressões e progressões de regime para os detentos em questão, o 
que causou animosidade entre os profissionais da Psicologia, pois os mesmos 
julgavam não ser competência da categoria propor tais possibilidades. Outra 
alegação comum são os termos e expressões alheios à bagagem teórica dos 
psicólogos, cabendo a eles um intenso questionamento a respeito do que os 
mesmos devem realizar. 
Atualmente, o numero de casos repassados aos psicólogos que 
trabalham em conjunto com o poder judiciário é crescente, principalmente nas 
varas da infância e juventude, em casos de violência sexual, doméstica e 
bullying. Juntamente com eles, vêm termos e questões até então 
desconhecidas, o que causa conflitos entre os órgãos reguladores quanto aos 
métodos de intervenção a serem utilizados em cada caso. 
Sob justificativa de proteção de direitos e de segurança, constantes 
indagações são feitas a respeito dos limites no papel do psicólogo, a exemplo, 
os casos de crianças que sofrem violência sexual e são reencaminhadas 
crescem exponencialmente e através do “Depoimento sem dano”, há a 
tentativa de extrair detalhes sobre o crime, e na ânsia de obter provas o 
suficiente e solucionar o caso, os profissionais quebram regras primordiais no 
conselho de ética, estando aí, o maior impasse de todos: a ética profissional 
versus a justiça pela vitima e por toda uma sociedade que cobra a punição dos 
culpados. 
Por outro lado, esses mesmos réus que são considerados culpados, 
também possuem o direito de tratar-se psicologicamente, e passado 
determinado prazo, realizarem um teste criminológico para qualificarem se 
estão aptos a receberem uma progressão de pena. Além da avaliação 
psicológica, os psicólogos auxiliam na implantação de medidas 
socioeducativas, de proteção, e acompanhamento de crianças e adolescentes 
infratores, bem como de detentos no sistema penitenciário. 
Situações como estas, onde a ética profissional do psicólogo conflita 
com a necessidade de atender o poder judiciário, faz com que grandes 
estudiosos considerem como o mais correto o desligamento dos profissionais 
da psicologia da área jurídica, sendo nomeados para atender casos específicos 
apenas quando julgarem extremamente necessários, pois desse modo, a 
atuação do psicólogo seria construída de acordo com as demandas 
repassadas, com ética, discernimento e conhecimento e não mais pautada por 
outras disciplinas. 
Percebe-se a inconstância nas opiniões dos doutrinadores e conselhos, 
porém uma coisa é certa: a inserção de uma equipe psicossocial no âmbito 
jurídico auxilia na preservação do emocional da vitima, aumentando a 
credibilidade dos depoimentos por eliminar falsas memórias, tornando o 
processo menos prejudicial e doloroso. Logo, o grande desafio da Psicologia 
enquanto ciência que estuda o comportamento humano e seus processos 
mentais é mesclar os conhecimentos adquiridos na área da psicologia com os 
das demais ciências a fim de compreender o máximo da mente humana, 
considerando os mais variados aspectos.

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