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CONCEITOS A genética da transmissão é o processo geral em que as característi- ■ cas controladas por fatores (genes) são transmitidas, por meio dos gametas, de geração a geração. Seus princípios fundamentais foram formulados primeiramente por Gregor Mendel em meados do sécu- lo XIX. Trabalhos posteriores, realizados por outros pesquisadores, mostraram que os genes estão nos cromossomos e que as linhagens mutantes podem ser usadas para mapeá-los cromossomicamente. O reconhecimento de que o DNA codifica a informação genética, a ■ descoberta da estrutura do DNA e a elucidação do mecanismo de expressão gênica constituem o fundamento da genética molecular. A tecnologia do DNA recombinante, a qual possibilita aos cientis- ■ tas o preparo de grandes quantidades de sequências específicas de DNA, revolucionou a genética, lançando a base para novos campos – e para esforços como o do Projeto Genoma Humano – que combi- nam a genética com a tecnologia da informação. A biotecnologia inclui o uso de organismos geneticamente modifi- ■ cados e seus produtos em uma ampla variedade de atividades que envolvem a agricultura, a medicina e a indústria. Os organismos-modelo, empregados nas pesquisas genéticas desde ■ o início do século XX, são atualmente usados em associação à tec- nologia do DNA recombinante e à genômica para estudar as doen- ças humanas. A tecnologia genética está se desenvolvendo mais rapidamente do ■ que as políticas, as leis e as convenções que regulam o seu uso. 1 Cromossomos humanos em metáfase, cada um composto de duas cromátides-irmãs unidas por um centrômero comum. A metáfase é a fase da divisão celular em que os membros de cada par de cromátides estão em vias de se separar e de ser distribuídos entre as duas novas células. Introdução à Genética PARTE I 2 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À GENÉTICA Em dezembro de 1998, após meses de veemente deba-te, o Parlamento Islandês aprovou uma lei que con-cedia à deCODE Genetics, uma empresa de biotec-nologia com sede na Islândia, uma licença para criar e administrar um banco de dados com informações detalhadas obtidas dos registros médicos de todos os 270.000 residentes naquele país. Nesse banco de dados do Setor de Saú- de Islandês (ou HSD), os registros foram codificados de modo a garantir seu anonimato. A nova lei também permitia que a deCODE Genetics cruzasse os dados de informações médicas do HSD com um amplo banco de dados genealógico dos Arqui- vos Nacionais. Além disso, a referida empresa estaria apta a cor- relacionar as informações desses dois bancos de dados com os resultados dos perfis de ácido desoxirribonucleico (DNA) cole- tados de doadores islandeses. Essa combinação de informações médicas, genealógicas e genéticas seria um recurso poderoso, disponível exclusivamente à deCODE Genetics, para negociar com os pesquisadores e outras empresas durante um período de 12 anos, a começar no ano 2000. Esse não é um roteiro de ficção científica de um filme como Gattaca, mas um exemplo real da interação cada vez mais com- plexa da genética com a sociedade no início do século XXI. O desenvolvimento e o uso desses bancos de dados na Islândia ge- raram projetos semelhantes em outros países também. O mais amplo é o empenho do “UK Biobank”, lançado na Grã-Bretanha em 2003, no qual um vasto banco de dados com informações ge- néticas de 500.000 britânicos será compilado a partir de um gru- po inicial de 1,2 milhão de habitantes. Esse banco de dados será usado para pesquisar genes de suscetibilidade que controlam as características complexas. Desde então, já foram anunciados ou- tros projetos na Estônia, Letônia, Suécia, Singapura e no Reino de Tonga, enquanto nos Estados Unidos programas em menor escala, envolvendo dezenas de milhares de indivíduos, encon- tram-se em andamento na Clínica Marshfield, em Marshfield, Wisconsin; na Northwestern University, em Chicago, Illinois, e na Howard University, em Washington, D. C. A deCODE Genetics selecionou a Islândia para seu projeto sem precedente porque seus habitantes têm um nível de unifor- midade genética raramente observado ou acessível à investiga- ção científica. Esse alto grau de relacionamento genético deriva da fundação daquele país, há aproximadamente 1.000 anos, por uma pequena população oriunda principalmente de localidades escandinavas e célticas. As reduções periódicas subsequentes da população, por doenças e desastres naturais, diminuíram pos- teriormente sua diversidade genética, e, até as últimas décadas, poucos imigrantes chegavam para trazer novos genes à popu- lação. Além disso, uma vez que o sistema de saúde da Islândia tem suporte estatal, os registros médicos de todos os habitantes remontam até o início do século XX. As informações genealógi- cas estão disponíveis nos Arquivos Nacionais e nos registros ecle- siásticos para quase todos os residentes e para mais de 500.000 dos 750.000 indivíduos estimados que tenham vivido sempre na Islândia. Por todas essas razões, os dados islandeses constituem uma enorme vantagem para os geneticistas na pesquisa dos ge- nes que controlam as doenças complexas. Esse projeto já tem muitos resultados bem-sucedidos a seu crédito. Os cientistas da deCODE Genetics isolaram 15 genes com 12 doenças comuns, incluindo a asma, a doença cardíaca, o acidente vascular cerebral e a osteoporose. No lado inverso desses sucessos, estão questões de privaci- dade, consentimento e comercialização – problemas centrais de muitas controvérsias surgidas das aplicações da tecnologia ge- nética. Cientistas e não cientistas estão disputando, de modo se- melhante, o destino e o controle das informações genéticas, bem como o papel da lei, do indivíduo e da sociedade nas decisões a respeito de como e quando a tecnologia genética deve ser usada. Por exemplo, como será usado o conhecimento da sequência nu- cleotídica completa do genoma humano? A revelação das infor- mações genéticas sobre os indivíduos causará discriminação em empregos ou seguradoras? Tecnologias genéticas como o diag- nóstico pré-natal ou a terapia gênica devem ser disponibilizadas para todos, independentemente de sua capacidade de pagamen- to? Mais do que em qualquer outra época na história da ciência, a avaliação das questões éticas que envolvem uma tecnologia emergente é tão importante quanto a obtenção de informação a partir dessa tecnologia. Este capítulo introdutório fornece uma visão geral da ge- nética, em que examinamos alguns pontos importantes de sua história e fornecemos descrições preliminares de seus princípios centrais e dos avanços recentes. Todos os tópicos discutidos nes- te capítulo serão analisados com muito mais detalhes em outras partes do livro. Os últimos capítulos também voltarão a abor- dar as controvérsias já aludidas e discutirão outros inúmeros problemas que são fontes atuais de debate. Jamais existiu um período mais estimulante para participar da ciência das carac- terísticas hereditárias, mas nunca a necessidade de cautela e de consciência das consequências sociais foi mais evidente. Este texto irá habilitá-lo a alcançar uma compreensão profunda da genética moderna e de seus princípios fundamentais. Ao lon- go do caminho, deleite-se com seus estudos, mas se encarregue de suas responsabilidades, como um geneticista iniciante, com muita seriedade. 1.1 A genética progrediu de Mendel ao DNA em menos de um século Uma vez que os processos genéticos são fundamentais para a própria vida, a ciência da genética unifica a biologia e funciona como seu centro. Desse modo, não é surpreendente que a gené- tica tenha uma longa e rica história. Seu ponto de partida foi o jardim de um mosteiro da Europa Central na década de 1860. O trabalho de Mendel sobre a transmissão de características Nesse jardim (Figura 1-1), Gregor Mendel, um monge agostinia-no, realizou uma série de experimentos com ervilhas-de-jardim durante uma década. O trabalho de Mendel mostrou que as ca- racterísticas dos seres vivos são transmitidas dos genitores para a prole de maneira previsível. Esse monge concluiu que as ca- racterísticas das ervilheiras, tais como altura da planta e cor da flor, são controladas por unidades descontínuas de herança, que agora denominamos genes. Posteriormente, concluiu que cada característica da planta é controlada por um par de genes e que os membros de um par de genes se separam durante a forma- ção de gametas (a formação dos óvulos e dos espermatozoides). 3 Seu trabalho foi publicado em 1866, mas continuou desconhe- cido até ser parcialmente duplicado e citado em artigos de Carl Correns e outros, em torno de 1900. Confirmados por outros, os resultados de Mendel tornaram-se reconhecidos como a explica- ção da transmissão de características nas ervilhas-de-jardim e em todos os demais organismos superiores. Seu trabalho constitui a fundação da genética, a qual é definida como o ramo da biologia envolvido no estudo da hereditariedade e da variação. A história de Gregor Mendel e do início da genética é contada em um livro cativante, The Monk in the Garden: The Lost and Found Genius of Gregor Mendel, the Father of Genetics (O monge no jardim: o gênio perdido e reencontrado de Gregório Mendel, o pai da genética), de Robin M. Henig. A genética mendeliana será discu- tida nos Capítulos 3 e 4. A teoria cromossômica da herança: unindo Mendel e a meiose Mendel realizou seus experimentos previamente ao conheci- mento da estrutura e do papel dos cromossomos. Cerca de 20 anos depois de seu trabalho ser publicado, os avanços em mi- croscopia possibilitaram aos pesquisadores a identificação dos cromossomos (Figura 1-2) e o estabelecimento de que, na maio- ria dos eucariontes, os membros de cada espécie têm um número de cromossomos característico, denominado número diploide (2n), na maioria de suas células. Por exemplo, os humanos têm um número diploide de 46 (Figura 1-3). Nas células diploides, os cromossomos existem aos pares, chamados cromossomos homólogos. Os membros de um par são idênticos em tamanho e localização do centrômero, uma estrutura à qual se ligam as fibras do fuso durante a divisão celular. Nas últimas décadas do século XIX, os pesquisadores tam- bém descreveram o comportamento dos cromossomos durante duas formas de divisão celular, a mitose e a meiose. Na mito- se (Figura 1-4), os cromossomos são copiados e distribuídos, de modo que cada célula-filha receba um conjunto diploide de cromossomos. A meiose é associada à formação de gametas. As células produzidas por meiose recebem somente um membro de cada par cromossômico, e, nesse caso, o número de cromosso- mos resultante é denominado número haploide (n). Essa redu- ção no número de cromossomos é essencial se a prole que surge da união de dois gametas parentais deve manter, ao longo das gerações, um número constante de cromossomos característico de seus genitores e de outros membros de sua espécie. FIGURA 1-1 O jardim do mosteiro em que Gregor Mendel re- alizou seus experimentos com ervilhas-de-jardim. Em 1866, Mendel formulou os principais postulados da genética da transmissão. FIGURA 1-2 Imagem colorizada dos cromossomos humanos que se duplicaram durante a preparação para a divisão celular, quando são visualizados ao microscópio eletrônico de varredura. FIGURA 1-3 Imagem colorizada do conjunto cromossômico humano masculino. Nessa disposição, o conjunto é denominado ca- riótipo. 1.1 A GENÉTICA PROGREDIU DE MENDEL AO DNA EM MENOS DE UM SÉCULO 4 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À GENÉTICA No início do século XX, Walter Sutton e Theodore Bove- ri notaram, independentemente, que os genes, de acordo com a hipótese formulada por Mendel, e os cromossomos, como eram observados ao microscópio, têm várias propriedades em comum e que o comportamento dos cromossomos durante a meiose é idêntico ao comportamento presumido dos genes durante a formação de gametas. Por exemplo, os genes e os cromossomos existem aos pares; além disso, os membros de um par gênico e os membros de um par cromossômico se separam um do ou- tro durante a formação de gametas. Com base nesse paralelismo, Sutton e Boveri propuseram, individualmente, que os genes es- tão contidos nos cromossomos (Figura 1-5). Essa proposição é a base da teoria cromossômica da hereditariedade, a qual afirma que as características hereditárias são controladas por genes lo- calizados nos cromossomos, esses são fielmente transmitidos por meio dos gametas, mantendo a continuidade genética de geração a geração. Os geneticistas encontraram muitos exemplos diferentes de características hereditárias, entre 1910 e em torno de 1940, possibilitando-lhes testar essa teoria repetidamente. Às vezes, os padrões de herança diferiam dos exemplos simples descritos por Mendel, mas a teoria cromossômica da herança sempre podia ser aplicada. E continua a explicar como as características são trans- mitidas de geração a geração em uma variedade de organismos, inclusive os humanos. Variação genética Aproximadamente na mesma época em que a teoria cromossô- mica da herança foi proposta, os cientistas começaram a estu- dar a herança de características da mosca-das-frutas, Drosophi- la melanogaster. Uma mosca de olhos brancos (Figura 1-6) foi descoberta em um frasco que continha moscas normais (do tipo selvagem) de olhos vermelhos. Essa variação era produzida por uma mutação em um dos genes que controla a cor de olhos. As mutações são definidas como qualquer modificação hereditária e constituem a fonte de toda a variação genética. FIGURA 1-4 Fase da mitose em que os cromossomos (corados em azul) se separam. I scute bristles, sc white eyes, w ruby eyes, rb crossveinless wings, cv singed bristles, sn lozenge eyes, lz vermilion eyes, v sable body, s scalloped wings, sd Bar eyes, B carnation eyes, car little fly, lf FIGURA 1-5 Representação esquemática do cromossomo I (o cromossomo X, um dos cromossomos que determinam o sexo) de D. melanogaster, mostrando a localização de vários genes.* Os cro- mossomos podem conter centenas de genes. FIGURA 1-6 A cor de olhos vermelha normal de D. melanogaster (inferior) e a cor e de olhos branca mutante (superior). * N. de T. Tradução das denominações dos genes: scute bristles, cerdas em escu- do; white eyes, olhos brancos; ruby eyes, olhos vermelho-rubi; crossveinless wings, asas sem nervuras transversais; singed bristles, cerdas curtas; lozenge eyes, olhos em losango; vermilion eyes, olhos vermelho-vivo; sable body, corpo preto; scalloped wings, asas recortadas; Bar eyes, olhos em barra; carnation eyes, olhos vermelhos; little fly, mosca pequena. 5 O gene da cor de olhos variante descoberto em Drosophila é um alelo do gene que controla a cor de olhos. Os alelos são defi- nidos como formas alternativas de um gene. Os diferentes alelos podem produzir dissimilaridades nos aspectos observáveis, ou fenótipo, de um organismo. O conjunto de alelos para uma dada característica, carregado por um organismo, é chamado genó- tipo. Usando genes mutantes como marcadores, os geneticistas foram capazes de mapear a localização dos genes nos cromos- somos. A pesquisa sobre a natureza química dos genes: DNA ou proteína? O trabalho sobre a Drosophila de olhos brancos mostrou que a característica mutante podia ser rastreada até um único cro- mossomo, confirmando a ideia de que os genes estão localiza- dos nos cromossomos. Uma vez estabelecida essa relação, os investigadores voltaram sua atenção para identificar qual com- ponente químico dos cromossomos carregava a informação ge- nética. Por volta de 1920, os cientistas estavam cientes de que as proteínas e o DNA eram osprincipais componentes químicos dos cromossomos. As proteínas são o componente mais abun- dante nas células. Existe uma grande quantidade de proteínas diferentes, e, devido à sua distribuição universal no núcleo e no citoplasma, muitos investigadores pensavam que as proteínas seriam apresentadas como sendo as portadoras da informação genética. Em 1944, Oswald Avery, Colin MacLeod e Maclyn McCarty, três pesquisadores do Instituto Rockefeller, em Nova York, publi- caram os experimentos que mostraram que o DNA era o porta- dor da informação genética em bactérias. Essa evidência, embora bem clara, não conseguiu convencer muitos cientistas influentes. A evidência adicional do papel do DNA como portador da infor- mação genética veio de outros pesquisadores que trabalhavam com vírus que infectam e matam células da bactéria Escherichia coli (Figura 1-7).Os vírus que atacam as bactérias são chamados bacteriófagos, ou fagos, para abreviar, e, como todos os vírus, consistem em uma capa proteica que circunda um núcleo de DNA. Os experimentos mostraram que, durante a infecção, a capa proteica do vírus permanece fora da célula bacteriana, ao passo que o DNA viral entra na célula e dirige a síntese e a mon- tagem de mais fagos. Essa evidência de que o DNA contém a in- formação genética, juntamente com outras pesquisas realizadas durante os anos seguintes, forneceu uma prova consistente de que o DNA, não a proteína, é o material genético, estabelecendo a fase de trabalho para definir a estrutura do DNA. 1.2 A descoberta da hélice dupla iniciou a Era da Genética Molecular Uma vez aceito que o DNA é o portador da informação genética, os esforços concentraram-se em decifrar a estrutura da molécula de DNA e os mecanismos pelos quais a informação nele arma- zenada é expressa para produzir uma característica observável, denominada fenótipo. Nos anos subsequentes à consecução des- ses objetivos, os pesquisadores aprenderam a isolar e fazer cópias de regiões específicas de moléculas de DNA, abrindo o caminho para a era da tecnologia do DNA recombinante. As estruturas do DNA e do RNA O DNA é uma longa macromolécula, semelhante a uma esca- da que se espiraliza para formar uma hélice dupla (Figura 1-8). Cada fita da hélice é um polímero linear composto de subuni- dades chamadas nucleotídeos. No DNA, há quatro nucleotídeos diferentes, e cada nucleotídeo desses contém uma das quatro bases nitrogenadas, abreviadas por A (adenina), G (guanina), T (timina) e C (citosina). Essas quatro bases, em várias combina- ções de sequências, especificam, em última análise, as sequências de aminoácidos das proteínas. Uma das grandes descobertas do século XX foi feita em 1953, por James Watson e Francis Crick, os quais estabeleceram que as duas fitas de DNA são comple- mentos exatos uma da outra, de modo que, na hélice dupla, os degraus da escada são sempre constituídos pelos pares de bases A “ T e G ‚ C. Juntamente com Maurice Wilkins, Watson e Crick receberam o Prêmio Nobel de 1962 por seu trabalho sobre a estrutura do DNA. Um relato em primeira mão da corrida para descobrir a estrutura do DNA é efetuado no livro The Double Helix (A hélice dupla), de James Watson. A estrutura do DNA será discutida no Capítulo 10. Como veremos em capítulos posteriores, a relação de com- plementaridade entre adenina e timina e entre guanina e citosi- na é essencial para a função gênica, servindo como a base tanto para a replicação do DNA (Capítulo 11) quanto para a expressão gênica (Capítulos 14 e 15). Durante ambos os processos, as fitas de DNA servem como moldes para a síntese de moléculas com- plementares. Na Figura 1-8, são mostradas duas representações da estrutura e dos componentes do DNA. O RNA, outro ácido nucleico, é quimicamente similar ao DNA, mas contém um açúcar diferente (ribose em lugar de de- soxirribose) e a base nitrogenada uracila em lugar de timina nos seus nucleotídeos. Além disso, ao contrário da estrutura em hé- lice dupla do DNA, em geral o RNA é de fita única. Note-se que o RNA pode formar estruturas complementares com uma fita de DNA. Expressão gênica: do DNA ao fenótipo Como observado anteriormente, a complementaridade de nu- cleotídeos é a base para a expressão gênica, a cadeia de eventos que leva um gene a produzir um fenótipo. Esse processo começa no núcleo com a transcrição, na qual a sequência nucleotídi- FIGURA 1-7 Fotomicrografia eletrônica que mostra um fago T infectando uma célula da bactéria E. coli. 1.2 A DESCOBERTA DA HÉLICE DUPLA INICIOU A ERA DA GENÉTICA MOLECULAR 6 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À GENÉTICA ca em uma fita de DNA é usada para construir uma sequência de RNA complementar (parte superior da Figura 1-9). Uma vez produzida, a molécula de RNA se move para o citoplasma. Na síntese proteica, esse RNA – denominado RNA mensageiro, ou mRNA, abreviadamente – se liga a um ribossomo. A síntese de proteínas sob a orientação do mRNA é denominada tradu- ção (parte inferior da Figura 1-9). As proteínas, produto final de muitos genes, são polímeros compostos de monômeros de aminoácidos. Existem 20 aminoácidos diferentes encontrados, comumente, nas proteínas. Como a informação contida no mRNA pode orientar o acréscimo de aminoácidos específicos nas cadeias proteicas à me- dida que são sintetizadas? A informação codificada no mRNA e denominada código genético consiste em séries lineares de trin- cas de nucleotídeos. Cada trinca, chamada códon, é complemen- tar à informação armazenada no DNA e especifica a inserção de um aminoácido específico em uma proteína. A junção proteica é realizada com o auxílio de moléculas adaptadoras, chamadas RNA transportador (tRNA). Dentro do ribossomo, os tRNAs reconhecem a informação codificada nos códons do mRNA e transportam os aminoácidos apropriados para a construção da proteína durante a tradução. Como a análise anterior mostra, o DNA faz o RNA, o qual, na maior parte das vezes, faz a proteína. Essa sequência de even- tos, conhecida como o dogma central da genética, ocorre com grande especificidade. Usando um alfabeto de somente quatro letras (A, T, C e G), os genes dirigem a síntese de proteínas com alto grau de especificidade, as quais funcionam, em conjunto, como a base de todas as funções biológicas. Proteínas e função biológica Como já mencionamos, as proteínas são os produtos finais da expressão gênica. Essas moléculas são responsáveis pela atri- buição das propriedades dos sistemas vivos. A diversidade das proteínas e das funções biológicas que elas podem desempenhar – a diversidade da própria vida – origina-se do fato de que as proteínas são constituídas de combinações de 20 aminoácidos diferentes. Considerando que uma cadeia proteica que contenha 100 aminoácidos pode ter em cada posição qualquer um dos 20 aminoácidos, o número possível de proteínas diferentes com 100 aminoácidos, cada uma com uma sequência exclusiva, é igual, portanto, a 20100. Uma vez que 2010 ultrapassa 5 � 1012, ou 5 trilhões, imagine como é grande o número 20100 O número imenso de sequências de aminoácidos possíveis, nas proteínas, conduz à enorme variação em suas conformações tridimensionais possíveis. Obviamente, a evolução se apoderou de uma classe de moléculas com potencial para uma diversidade estrutural imensa, a qual funciona como o sustentáculo dos sis- temas biológicos. A maior categoria de proteínas é a das enzimas (Figura 1-10). Essas moléculas funcionam como catalisadores biológi- cos, estimulando essencialmente as reações bioquímicas, para que ocorram nas taxas necessárias à sustentação da vida. Redu- zindo a energia de ativação nas reações, as enzimas capacitam o metabolismo celular a prosseguir em temperaturas corporais, quando, de outro modo, essas reações exigiriam intenso calor ou pressão para ocorrerem. Inúmeras proteínas, diferentesdas enzimas, são compo- nentes essenciais das células e dos organismos. Essas proteínas incluem: a hemoglobina, o pigmento que se liga ao oxigênio e o transporta nos eritrócitos (ou hemácias); a insulina, o hormô- nio pancreático; o colágeno, a molécula de tecido conjuntivo; a queratina, a molécula estrutural do cabelo; as histonas, proteínas integrantes da estrutura cromossômica em eucariontes (isto é, os organismos cujas células têm núcleo); a actina e a miosina, Açúcar (desoxirribose) Nucleotídeo Fosfato Par de bases complementares (timina-adenina) A G C GC T AT P P P P P P P P FIGURA 1-8 Esquema da estrutura do DNA, ilustrando a dis- posição da hélice dupla (à esquerda) e os componentes químicos que compõem cada fita (à direita). DNA mRNA Ribossomo Proteína Tradução tRNA Aminoácido Transcrição FIGURA 1-9 A expressão gênica consiste na transcrição do DNA para o mRNA (superior) e na tradução (ao centro) do mRNA (com o auxílio de um ribossomo) em uma proteína (inferior). 7 as proteínas dos músculos contráteis e as imunoglobulinas, as moléculas de anticorpos do sistema imune. A forma e o com- portamento químico de uma proteína são determinados por sua sequência linear de aminoácidos, a qual é determinada pela informação armazenada no DNA de um gene que é transferida para o RNA, ácido nucleico que, então, orienta a síntese dessa proteína. Repetindo, o DNA produz o RNA, o qual, então, pro- duz a proteína. Ligando o genótipo ao fenótipo: a doença das células falciformes Uma vez construída a proteína, seu comportamento bioquímico ou estrutural em uma célula desempenha um papel na produ- ção do fenótipo. Quando uma mutação altera um gene, pode modificar ou até eliminar a função usual da proteína codificada, causando um fenótipo alterado. Para seguir o curso da cadeia de eventos que se origina da síntese de uma dada proteína à pre- sença de um determinado fenótipo, examinaremos a doença das células falciformes (anteriormente denominada anemia falcifor- me), uma doença genética humana. A doença das células falciformes é causada por uma forma mutante de hemoglobina, a proteína que transporta o oxigênio dos pulmões para as células corporais (Figura 1-11). A hemo- globina é uma molécula composta, formada por duas proteínas diferentes, a �-globina e a �-globina, codificadas por genes dife- rentes. Cada molécula de hemoglobina funcional contém duas �-globinas e duas �-globinas. Na doença das células falciformes, uma mutação no gene que codifica a �-globina causa a substitui- ção de um aminoácido dos 146 aminoácidos dessa proteína. A Figura 1-12 mostra parte da sequência do DNA, os códons cor- respondentes do mRNA e a sequência de aminoácidos para as formas normal e mutante da �-globina. Observe que, na doença das células falciformes, a mutação consiste na substituição de uma base em um nucleotídeo do DNA, que acarreta a mudança no códon 6 do mRNA, de GAG para GUG, o que, por sua vez, troca o 6º aminoácido na �-globina de ácido glutâmico para va- lina. Os outros 145 aminoácidos dessa proteína não são alterados por essa mutação. Os indivíduos com duas cópias mutantes do gene da �-globina têm a doença das células falciformes. Suas �-globinas mutantes levam as moléculas de hemoglobina a se polimerizarem nos eritrócitos, quando a concentração de oxigênio do sangue é baixa, formando longas cadeias de hemoglobina que distorcem a forma dessas células (Figura 1-13). As células deformadas são frágeis e se rompem facilmente, de modo que o número de eri- trócitos na circulação é reduzido (a anemia é uma insuficiência de eritrócitos). Além disso, quando as células sanguíneas tomam a forma de foice, bloqueiam o fluxo sanguíneo nos vasos capila- res e nos pequenos vasos sanguíneos, causando dor grave e dano ao coração, ao encéfalo, aos músculos e aos rins. A doença das células falciformes pode causar infartos e acidentes vasculares cerebrais, podendo ser fatal, se não for tratada. Todos os sinto- mas dessa doença são causados por uma mudança em um único nucleotídeo de um gene, que troca um só aminoácido dos 146 aminoácidos da molécula de �-globina, demonstrando a íntima relação entre o genótipo e o fenótipo. FIGURA 1-10 Conformação tridimensional de uma proteína. A proteína aqui mostrada é uma enzima. FIGURA 1-11 A molécula da hemoglobina, mostrando as duas cadeias alfa (�) e as duas cadeias beta (�). Uma mutação no gene da cadeia beta produz moléculas de hemoglobina anormais e doença das células falciformes. ......... B-GLOBINA NORMAL B-GLOBINA MUTANTE DNA...........................TGA ACU CCU GGA CTC GAG CTC............ TGA GGA CAC CTC............ GAG............ ACU CCU GUG GAG............ thr pro glu glu 4 5 6 7 4 5 6 7 thr pro val glu mRNA........................ Aminoácido............. DNA........................... mRNA........................ Aminoácido............. ......... FIGURA 1-12 A substituição de um único nucleotídeo no DNA que codifica a �-globina (CTC S CAC) causa uma alteração no códon do mRNA (GAG S GUG) e a inserção de um aminoácido diferente (glu S val), produzindo a versão alterada da proteína �-globina, responsável pela doença das células falciformes. 1.2 A DESCOBERTA DA HÉLICE DUPLA INICIOU A ERA DA GENÉTICA MOLECULAR 8 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À GENÉTICA 1.3 O desenvolvimento da tecnologia do DNA recombinante iniciou a Era da Clonagem A era do DNA recombinante começou no início da década de 1970, quando os pesquisadores descobriram que as bactérias se protegem das infecções virais mediante produção de enzimas que clivam, ou cortam, o DNA viral em sítios específicos. Quan- do cortado, o DNA viral não pode comandar a síntese das par- tículas de fagos. Os cientistas perceberam, imediatamente, que essas enzimas, chamadas enzimas de restrição, poderiam ser usadas para cortar o DNA de qualquer organismo em sequências nucleotídicas específicas, produzindo um conjunto de fragmen- tos reproduzíveis. Isso determinou a fase de desenvolvimento da clonagem do DNA, isto é, a produção de grande número de có- pias das sequências de DNA. Pouco depois que os pesquisadores descobriram que as en- zimas de restrição produzem fragmentos específicos de DNA, fo- ram desenvolvidos os métodos para inserir esses fragmentos em moléculas portadoras de DNA, chamadas vetores, para a produ- ção de moléculas de DNA recombinante e sua transferência para as células bacterianas. Quando as células bacterianas se repro- duzem, são produzidas milhares de cópias, ou clones, do con- junto de vetor e fragmentos de DNA (Figura 1-14). Essas cópias clonadas podem ser recuperadas das células bacterianas, poden- do ser isolada uma grande quantidade de fragmentos de DNA clonados. Logo que esse montante de fragmentos específicos de DNA se tornou disponível mediante clonagem, foi usado para diferentes objetivos: para isolar genes, estudar sua organização e expressão e analisar sua sequência nucleotídica e evolução. Ao mesmo tempo em que as técnicas se tornaram mais sofisticadas, foi possível clonar fragmentos de DNA cada vez maiores, preparando o caminho para criar coleções de clones que representassem o genoma de um organismo, ou seja, o con- teúdo haploide completo do DNA específico do organismo con- siderado. As coleções de clones que contêm um genoma inteiro são denominadas bibliotecas genômicas, as quais atualmente são disponíveis para centenas de organismos. A tecnologia do DNA recombinante não apenas acelerou imensamente o ritmo das pesquisas, mas também deu origem à indústria da biotecnologia, a qual nos últimos 25 anos cresceu tanto a ponto de se tornar uma grande contribuinte da economia norte-americana. 1.4 O impacto da biotecnologia está em contínua expansãoTranquilamente e sem provocar muita publicidade nos Estados Unidos, a biotecnologia revolucionou muitos aspectos da vida co- tidiana. Os humanos usaram microrganismos, plantas e animais durante milhares de anos, mas o desenvolvimento da tecnologia do DNA recombinante e de técnicas associadas permite-nos modificar geneticamente os organismos de novas maneiras e usá-los, ou seus produtos, para tornar as nossas vidas mais intensas. A biotecnolo- gia é o uso desses organismos modificados ou de seus produtos; FIGURA 1-13 Eritrócitos normais (de forma discoide) e falcifor- mes. As células falciformes bloqueiam os vasos capilares e os peque- nos vasos sanguíneos. Molécula de DNA recombinante Fragmento de DNA Vetor Inserção na célula bacteriana Os clones são produzidosA bactéria se reproduz FIGURA 1-14 Na clonagem, o vetor e o fragmento de DNA resul- tante de clivagem com uma enzima de restrição são reunidos, produ- zindo uma molécula de DNA recombinante. Esse DNA é transferido para uma célula bacteriana, onde é clonado em muitas cópias por re- plicação da molécula recombinante e por divisão da célula bacteriana. 9 atualmente, encontra-se em evidência nos supermercados, nos consultórios médicos, nas farmácias, nos magazines, nos hospitais e nas clínicas; nas fazendas e nos pomares; em imposições legais e proteção infantil judicial, e até em substâncias químicas industriais. Há uma análise minuciosa da biotecnologia no Capítulo 24, mas, por enquanto, vamos considerar o impacto da biotecnologia so- mente em uma pequena amostragem de exemplos cotidianos. Plantas, animais e provisão alimentar As modificações genéticas de plantas cultivadas constituem uma das áreas da biotecnologia de mais rápida expansão. Seus esforços se concentraram em características como: a resistência a herbicidas, insetos e vírus; o aumento do conteúdo oleaginoso, e o atraso do amadurecimento (Tabela 1.1). Atualmente, foram aprovadas mais de uma dezena de plantas cultivadas genetica- mente modificadas para uso comercial nos Estados Unidos, com mais de 75 outras sendo testadas em experimentos de campo. O milho e a soja (ou feijão-de-soja) resistentes a herbicidas fo- ram plantados pela primeira vez em meados da década de 1990, e agora cerca de 45% do cultivo de milho e 85% do de soja, nos Es- tados Unidos, são geneticamente modificados. Além disso, mais de 50% do cultivo de canola e 75% do de algodão originam-se de linhagens geneticamente modificadas. Estima-se que mais de 60% dos alimentos processados, naquele país, contenham ingre- dientes de plantas cultivadas geneticamente modificadas. Essa transformação agrícola é uma fonte de controvérsia. Os críticos se preocupam com o fato de que o uso de plantas cultivadas resistentes aos herbicidas acarretará dependência da manipulação química das ervas daninhas e poderá, finalmente, resultar no surgimento de ervas daninhas resistentes aos herbici- das. Também se inquietam com a possibilidade de que as caracte- rísticas de plantas cultivadas geneticamente modificadas possam ser transferidas para plantas selvagens, de maneira a causarem mudanças irreversíveis no ecossistema. A biotecnologia também está sendo utilizada para aumentar o valor nutritivo das plantas cultivadas. Mais de um terço da po- pulação mundial usa o arroz como alimento principal em sua die- ta, mas a maioria das variedades dessa gramínea contém pouca ou nenhuma vitamina A, cuja deficiência causa mais de 500.000 ca- sos de cegueira infantil anualmente. Uma linhagem geneticamen- te modificada, chamada arroz dourado, tem altos níveis de dois compostos que o organismo converte em vitamina A. No futuro próximo, o arroz dourado estará disponível para plantio, com o objetivo de reduzir a carga de morbidade. Outras plantas cultiva- das, incluindo o trigo, o milho, os feijões e a mandioca, também estão sendo modificadas com o intuito de elevar seu valor nutriti- vo, mediante aumento de seu conteúdo vitamínico e mineral. Rebanhos de gado ovino e bovino já são clonados comercial- mente há mais de 25 anos, principalmente pelo método conhe- cido como divisão de embriões. Em 1996, a ovelha Dolly (Figura 1-15) foi clonada por transferência nuclear, um método em que o núcleo de uma célula diferenciada adulta (significando uma célula reconhecível como pertencente a algum tipo de tecido) é transfe- rido para um óvulo cujo núcleo foi previamente removido. Esse método de transferência nuclear possibilita a produção de dezenas ou centenas de proles com características desejáveis. A clonagem por transferência nuclear tem muitas aplicações na agricultura, nos esportes e na medicina. Alguns traços importantes, como a grande produção de leite nas vacas ou a alta velocidade nos ca- valos de corrida, só aparecem na idade adulta; em vez de cruzar dois adultos e esperar para ver se sua prole herda as características desejadas, atualmente os animais sabidamente possuidores desses traços podem ser produzidos por clonagem de células diferen- ciadas de um adulto com alguma de tais características. Para as aplicações médicas, os pesquisadores transferiram genes humanos para animais – os chamados animais transgênicos –, de modo que, quando adultos, esses animais produzem proteínas humanas em seu leite. Por meio de seleção e clonagem de animais com altos níveis de produção de proteínas humanas, as empresas biofarma- cêuticas podem fornecer um rebanho com taxas uniformemente altas de produção proteica. As proteínas humanas provenientes de animais transgênicos estão agora sendo testadas como fármacos terapêuticos para doenças como o enfisema. Se bem-sucedidas, tais proteínas logo estarão disponíveis comercialmente. A quem pertencem os organismos transgênicos? Uma vez produzidos, uma planta e um animal transgênicos po- dem ser patenteados? A resposta é positiva. Em 1980, a Supre- FIGURA 1-15 Dolly, uma ovelha Finn Dorset clonada a partir do material genético de uma célula mamária adulta, é mostrada junto ao seu cordeiro primogênito, Bonnie. TABELA 1.1 Algumas características geneticamente alteradas em plantas cultivadas Resistência a herbicidas Milho, soja (feijão-de-soja), arroz, algodão, beterraba sacarina, canola Resistência a insetos Milho, algodão, batata Resistência a vírus Batata, abóbora amarela, mamão Reforço nutricional Arroz dourado Conteúdo oleaginoso alterado Soja (feijão-de-soja), canola Atraso do amadurecimento Tomate 1.4 O IMPACTO DA BIOTECNOLOGIA ESTÁ EM CONTÍNUA EXPANSÃO 10 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À GENÉTICA ma Corte dos Estados Unidos decidiu que os organismos vivos e os genes individuais podem ser patenteados, e em 1988 foi patenteado, pela primeira vez, um organismo modificado pela tecnologia do DNA recombinante (Figura 1-16). Desde então, já foram patenteados inúmeros animais e plantas. A ética de re- querer patente de organismos vivos é uma questão litigiosa. Os defensores do patenteamento argumentam que, sem a capaci- dade de patentear os produtos de pesquisa para recuperar seus custos, as empresas de biotecnologia não investirão em pesquisa e desenvolvimento em grande escala. Além disso, argumentam que as patentes representam um incentivo para desenvolver no- vos produtos, pois essas empresas colherão os lucros da tomada de riscos para oferecer novos produtos ao mercado. Os críticos argumentam que as patentes para organismos como as plantas cultivadas concentrarão a propriedade da produção alimentar nas mãos de um pequeno número de empresas de biotecnolo- gia, tornando os agricultores economicamente dependentes das sementes e dos pesticidas produzidos por essas empresas e re- duzindo a diversidade genética das plantas cultivadas, à medida que os agricultores descartarem as cultivares locais que possam conter importantes genes para resistência a pragas e doenças. A resoluçãodessas questões e de outras suscitadas pela biotecno- logia e suas utilizações exigirá consciência pública e educação, política social esclarecida e legislação de cuidadosa redação. Biotecnologia em genética e medicina A biotecnologia, na forma de testagem genética e terapia gênica, já sendo uma parte importante da medicina, terá um papel de liderança na decisão sobre a natureza da prática clínica no sécu- lo XXI. Nos Estados Unidos, mais de 10 milhões de crianças ou adultos sofrem de alguma forma de doença genética, e cada casal gerando um filho se encontra em um risco de aproximadamen- te 3% de ter uma criança com alguma forma de má formação genética. A base molecular de centenas de doenças genéticas já é conhecida atualmente (Figura 1-17). Os genes da doença das células falciformes, da fibrose cística, da hemofilia, da distrofia muscular, da fenilcetonúria e de muitos outros distúrbios meta- bólicos foram clonados, sendo usados para a detecção pré-natal de fetos afetados. Além disso, presentemente se dispõe de testes que informam os genitores sobre seu estado de “portadores” para uma grande quantidade de doenças hereditárias. A combinação de testagem e aconselhamento genéticos fornece informações objetivas aos casais, nas quais podem basear suas decisões quan- to à geração de prole. Atualmente, a testagem genética já é acessí- vel para várias centenas de distúrbios hereditários, e esse número crescerá à medida que mais genes forem identificados, isolados e clonados. O uso da testagem genética e de outras tecnologias, in- cluindo a terapia gênica, aumenta os problemas éticos que ainda têm de ser resolvidos. Em lugar de testar um gene de cada vez para descobrir se alguém contém um gene mutante que possa produzir um distúr- bio em sua prole, está em desenvolvimento uma nova tecnologia que permitirá a triagem de um genoma inteiro para determinar o risco de um indivíduo desenvolver uma doença genética ou de ter um filho com uma doença genética. Essa tecnologia usa dis- positivos chamados microarranjos de DNA, ou chips de DNA (Figura 1-18). Cada microarranjo pode conter milhares de genes. Na realidade, atualmente já são comercializados microarranjos que contêm um genoma humano inteiro, sendo usados para tes- tar a expressão gênica em células cancerosas como uma etapa no desenvolvimento de terapias talhadas especialmente para formas específicas de câncer. Quando a tecnologia se desenvolver mais, será possível fazer a varredura do genoma de um indivíduo em uma só etapa para identificar os riscos de fatores genéticos e am- bientais que possam desencadear uma doença. Na terapia gênica, os clínicos transferem genes normais para indivíduos afetados por distúrbios genéticos. Lamentavelmente, embora em princípio muitas tentativas de terapia gênica tenham parecido bem-sucedidas, os fracassos terapêuticos e as mortes de pacientes desaceleraram o desenvolvimento dessa tecnologia. Espera-se, contudo, que novos métodos de transferência gênica reduzam esses riscos; portanto, parece indiscutível que a terapia gênica venha a se tornar um recurso importante no tratamento das doenças hereditárias e que, quanto mais for aprendido sobre a base molecular das doenças humanas, mais terapias desse tipo serão desenvolvidas. 1.5 A genômica, a proteômica e a bioinformática são novas áreas em expansão Logo que as bibliotecas genômicas se tornaram disponíveis, os cientistas começaram a considerar os meios de sequenciar todos os clones de tais bibliotecas, a fim de decifrarem as sequências nucleotídicas dos genomas dos organismos. Laboratórios de várias partes do mundo iniciaram projetos para sequenciar e analisar os genomas de diferentes organismos, incluindo os que causam doenças humanas. Até hoje, foram sequenciados os ge- nomas de mais de 550 organismos, estando em andamento apro- ximadamente mil projetos de genomas adicionais. O Projeto Genoma Humano começou em 1990 como um esforço governamental internacional para sequenciar o genoma humano e os genomas de cinco organismos-modelo usados nas pesquisas genéticas (a importância desses organismos-modelo é analisada a seguir). Quase ao mesmo tempo, foram iniciados vários projetos genômicos patrocinados por empresas privadas. O primeiro genoma sequenciado de um organismo de vida livre, uma bactéria (Figura 1-19), foi relatado em 1995 por cientistas de uma empresa de biotecnologia. FIGURA 1-16 O primeiro organismo geneticamente alterado a ser patenteado foi a linhagem de camundongo onc, a qual, por meio de engenharia genética, tornou-se suscetível a muitas formas de cân- cer. Esses camundongos destinavam-se ao estudo do desenvolvimen- to do câncer e ao projeto de novos medicamentos anticancerígenos. 11 Distrofia muscular Deterioração progressiva dos músculos Doença de Gaucher Deficiência enzimática crônica que ocorre frequentemente entre os judeus asquenazes Síndrome de Ehlers-Danlos Doença do tecido conjuntivo Retinite pigmentar Degeneração progressiva da retina Doença de Huntington Doença neurológica degenerativa, de início tardio e letal Polipose adenomatosa familiar (FAP) Pólipos intestinais que levam ao câncer colorretal Hemocromatose Absorção anormalmente alta do ferro consumido na dieta Ataxia espinocerebelar Destruição dos neurônios do encéfalo e da medula espinal, resultando em perda do controle muscular Fibrose cística Muco nos pulmões, interferindo na respiração Síndrome de Werner Envelhecimento prematuro Melanoma Tumores que se originam na pele Neoplasia endócrina múltipla, tipo 2 Tumores nas glândulas endócrinas e em outros tecidos Doença das células falciformes Anemia crônica hereditária em que os eritrócitos se tornam falciformes, obstruindo as arteríolas e os vasos capilares Fenilcetonúria (PKU) Distúrbio metabólico hereditário que, se não for tratado, resulta em deficiência mentalRetinoblastoma Tumor ocular infantil Doença de Alzheimer Distúrbio encefálico degenerativo, marcado pela senilidade prematura Doença de Tay-Sachs Distúrbio hereditário fatal que envolve o metabolismo dos lipídeos e ocorre frequentemente nos judeus asquenazes Doença do rim policístico Cistos que resultam em aumento dos rins e insuficiência renal Câncer de mama 5% de todos os casos Neurofibromatose 1 (NF1) Tumores benignos do tecido nervoso subcutâneo Amiloidose Acúmulo de uma proteína fibrilar insolúvel nos tecidos Distrofia miotônica Uma forma de distrofia muscular do adulto Hipercolesterolemia familiar Níveis de colesterol extremamente altos Imunodeficiência de ADA (adenosino-desaminase) Primeira condição hereditária tratada por terapia gênica Esclerose lateral amiotrófica (ALS) Doença neurológica degenerativa letal, de início tardio Síndrome de má-absorção da glicose-galactose Distúrbio digestivo potencialmente fatal Adrenoleucodistrofia (ALD) Doença neurológica fatal Azoospermia Ausência de espermatozoides no sêmen Hemofilia A Deficiência da coagulação sanguínea Número do cromossomo humano 1YX 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 121314 15 16 17 18 19 20 21 22 teste de DNA disponível atualmente FIGURA 1-17 Diagrama do conjunto cromossômico humano, mostrando a localização de alguns genes cujas formas mutantes causam doenças hereditárias. As condições diagnosticáveis mediante análise do DNA estão indicadas por um ponto vermelho. FIGURA 1-18 Parte de um microarranjo de DNA. Os microar- ranjos contêm milhares de campos (os círculos), aos quais se ligam as moléculas de DNA. Disposto em um microarranjo, o DNA de um indi- víduo pode ser testado para detectarem-se cópias mutantes dos genes. FIGURA 1-19 Fotomicrografia eletrônica colorizada de Haemo- philus influenzae, uma bactéria que foi o primeiro organismo de vida livrea ter seu genoma sequenciado. Essa bactéria causa infecções respiratórias e meningite bacteriana em humanos. 1.5 A GENÔMICA, A PROTEÔMICA E A BIOINFORMÁTICA SÃO NOVAS ÁREAS EM EXPANSÃO 12 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À GENÉTICA Em 2001, o Projeto Genoma Humano, de financiamento pú- blico, e um projeto genômico privado, patrocinado pela empresa Celera, relataram o primeiro esboço da sequência do genoma humano, abrangendo cerca de 96% do seu conteúdo gênico. Em 2003, foi completada e publicada a sequência do conteúdo gêni- co codificador remanescente. Atualmente, os esforços se concen- tram no sequenciamento das regiões não codificadoras do geno- ma. Os cinco organismos-modelo cujos genomas foram também sequenciados pelo Projeto Genoma Humano são: Escherichia coli (bactéria), Saccharomyces cerevisiae (levedura), Caenorhabditis elegans (nematódeo; verme cilíndrico), Drosophila melanogaster (mosca-das-frutas) e Mus musculus (camundongo). À proporção que os projetos genômicos se multiplicaram e cada vez mais sequências genômicas foram obtidas, surgiram várias disciplinas novas na área biológica. Uma delas, denomi- nada genômica (o estudo dos genomas), sequencia os genomas e estuda a estrutura, a função e a evolução dos genes e genomas. Uma segunda disciplina, a proteômica, é derivada da genômi- ca. A proteômica identifica o grupo de proteínas presentes em uma célula, sob um dado conjunto de condições, e estuda adi- cionalmente a modificação pós-traducional dessas proteínas, sua localização no interior das células e as interações proteína- proteína que ali ocorrem. Para armazenar, recuperar e analisar a quantidade maciça de dados gerados pela genômica e pela pro- teômica, foi criado um subcampo especializado da tecnologia da informação, chamado bioinformática, cuja finalidade é desen- volver hardware e software para processar os dados nucleotídicos e proteicos. Considere que o genoma humano contém mais de 3 bilhões de nucleotídeos, representando cerca de 25.000 genes que codificam dezenas de milhares de proteínas, e você poderá avaliar a necessidade de bancos de dados para armazenar tantas informações. Essas novas disciplinas estão transformando drasticamente a biologia, de uma ciência de base laboratorial para uma ciência que combina os experimentos laboratoriais com a tecnologia da informação. Atualmente, os geneticistas e outros biólogos usam as informações de bancos de dados que contêm sequências de ácidos nucleicos e de proteínas, bem como redes de interação gênica, para resolver problemas experimentais em uma questão de minutos, em lugar de meses e anos. Um destaque denomi- nado Explorando a genômica, localizado ao final de todos os capítulos deste manual, fornece-lhe a oportunidade de explorar sozinho esses bancos de dados, enquanto completa um exercício interativo de genética. 1.6 Os estudos genéticos contam com o uso de organismos-modelo Após a redescoberta dos trabalhos de Mendel, em 1900, as pes- quisas genéticas sobre uma ampla variedade de organismos confirmaram que os princípios da hereditariedade que esse cientista descreveu eram de significância universal entre as plantas e os animais. Ainda que continuassem a pesquisar a ge- nética de muitos organismos diferentes, os geneticistas gradual- mente passaram a focalizar com atenção especial um pequeno número de organismos, incluindo a mosca-das-frutas (Droso- phila melanogaster) e o camundongo (Mus musculus) (Figura 1-20). Essa tendência se desenvolveu por duas razões princi- pais: a primeira é a evidência de que os mecanismos genéticos eram os mesmos na maioria dos organismos, e a segunda, as espécies preferenciais tinham diversas características que as tornavam especialmente adequadas para as pesquisas genéticas. Cresciam facilmente, tinham ciclos vitais relativamente curtos, produziam muitas proles, e sua análise genética era razoavel- mente simples. Ao longo do tempo, os pesquisadores criaram um grande catálogo de linhagens mutantes dessas espécies preferenciais, e as mutações foram cuidadosamente estudadas, caracterizadas e mapeadas. Graças à sua genética bem caracteri- zada, essas espécies se tornaram organismos-modelo, definidos como organismos usados para o estudo de processos biológicos básicos. Apesar de desenvolvidos originalmente para o estudo de mecanismos genéticos, os organismos-modelo atualmente estão sendo utilizados no estudo de eventos celulares em ge- ral, bem como da origem e dos mecanismos de muitas doenças humanas (genéticas ou não), e no desenvolvimento de terapias inovadoras para tratá-las. Nos últimos capítulos, veremos como as descobertas nos organismos-modelo estão esclarecendo mui- tos aspectos da biologia, como o envelhecimento, o câncer, o sistema imune e o comportamento. O atual conjunto de organismos-modelo genéticos Gradualmente, os geneticistas acrescentaram outras espécies à sua coleção de organismos-modelo, abrangendo os vírus (como os fagos T e o fago lambda) e os microrganismos (a bactéria Escherichia coli e a levedura Saccharomyces cerevisiae) (Figura 1-21). Alguns desses organismos foram escolhidos pelas razões resumidas anteriormente, enquanto outros foram selecionados em virtude de outras características que facilitavam mais o estu- do de certos aspectos genéticos. Mais recentemente, três espécies adicionais foram desen- volvidas como organismos-modelo, cada uma escolhida para o estudo de algum aspecto do desenvolvimento embrionário. Para estudar o sistema nervoso e seu papel no comportamento, foi escolhido o nematódeo Caenorhabditis elegans [Figura 1-22(a)] como um sistema-modelo. É um animal pequeno, fácil de cres- cer, e seu sistema nervoso contém somente algumas centenas de células. A Arabidopsis thaliana [Figura 1-22(b)] é uma planta pequena com um ciclo vital curto que pode desenvolver-se em (a) (b) FIGURA 1-20 A primeira geração de organismos-modelo, na análise genética, incluiu (a) o camundongo e (b) a mosca-das-frutas. 13 laboratório. Foi usada inicialmente para o estudo do desenvol- vimento floral, mas se tornou um organismo-modelo para o estudo de outros inúmeros aspectos da biologia vegetal. O peixe- zebra, ou paulistinha, Danio rerio [Figura 1-22(c)], tem diversas vantagens para o estudo do desenvolvimento de vertebrados: tem tamanho pequeno, reproduz-se rapidamente, e seus ovos, embriões e larvas são transparentes. Organismos-modelo e doenças humanas O desenvolvimento da tecnologia do DNA recombinante e os resultados do sequenciamento genômico confirmaram que to- das as formas de vida têm uma origem comum. Devido a essa origem comum, os genes com funções similares, em diferentes organismos, tendem a ter estrutura e sequência nucleotídica se- melhantes ou idênticas. Portanto, grande parte do que os cientis- tas aprendem estudando a genética de outras espécies pode ser aplicada aos humanos e serve como base para a compreensão e o tratamento das doenças humanas. Além disso, a capacidade para transferir genes entre as espécies possibilitou aos cientistas o desenvolvimento de modelos de doenças humanas em organis- mos que abrangem das bactérias aos fungos, plantas e animais (Tabela 1.2). A ideia de estudar uma doença humana como o câncer co- lorretal mediante utilização de E. coli pode surpreendê-lo como algo estranho, mas os passos básicos de reparação do DNA (um processo que está defeituoso em algumas formas de câncer co- lorretal) são os mesmos em ambos os organismos, e o gene en- volvido (mutL em E. coli e MLH1 em humanos) é encontrado também nos dois organismos. O mais notável é que E. coli tem a vantagem de se multiplicar mais facilmente (as células dividem- se a cada 20 minutos), de modo que os pesquisadores podem criar e estudar novas mutações, sem dificuldade, no gene bac- teriano mutL, a fim de imaginar como esse genefunciona. Esse conhecimento poderá levar finalmente ao desenvolvimento de fármacos e outras terapias para tratar o câncer colorretal em humanos. A mosca-das-frutas, D. melanogaster, também está sen- do usada para o estudo específico de doenças humanas. Foram identificados genes mutantes em D. melanogaster que produzem fenótipos com anormalidades do sistema nervoso, incluindo anormalidades da estrutura encefálica, degeneração do sistema nervoso com início no adulto e defeitos visuais como a dege- neração da retina. As informações provenientes de projetos de 1.6 OS ESTUDOS GENÉTICOS CONTAM COM O USO DE ORGANISMOS-MODELO (a) (b) FIGURA 1-21 Os microrganismos que se tornaram organismos- modelo para os estudos genéticos incluem (a) a levedura S. cerevisiae e (b) a bactéria E. coli. (a) (b) (c) FIGURA 1-22 Os organismos-modelo mais recentes na genética incluem (a) o nematódeo C. elegans, (b) a planta A. thaliana e (c) o peixe-zebra, D. rerio. 14 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À GENÉTICA sequenciamento genômico indicam que quase todos esses genes têm correspondentes humanos. Por exemplo, os genes envolvi- dos em uma doença humana complexa da retina, chamada reti- nite pigmentar, são idênticos aos genes de Drosophila causadores de degeneração retiniana. O estudo dessas mutações nas moscas- das-frutas está ajudando a análise dessa doença complexa e a identificação das funções dos genes envolvidos. Outra abordagem do uso de Drosophila para estudar as doenças do sistema nervoso humano é a transferência de genes de doenças humanas para as moscas, por meio da tecnologia do DNA recombinante. As moscas transgênicas são, então, usadas para o estudo dos próprios genes humanos mutantes, dos genes que afetam a sua expressão e dos efeitos das drogas terapêuticas na atividade daqueles genes, consistindo todos em estudos difí- ceis ou impossíveis de serem realizados em humanos. A aborda- gem da transferência gênica está sendo usada no estudo de prati- camente uma dúzia de distúrbios neurodegenerativos humanos, incluindo a doença de Huntington, a doença de Machado-Jose- ph, a distrofia miotônica e a doença de Alzheimer. À medida que estiver lendo este livro, você encontrará esses organismos-modelo repetidamente. Sempre que os encontrar, lem- bre-se de que eles não somente têm uma valiosa história em pesqui- sa de genética básica, mas também estão na vanguarda dos estudos de distúrbios genéticos e doenças infecciosas em humanos. O uso de organismos-modelo para a compreensão da saúde e doença humanas é um dos vários meios pelos quais a genética e a biotecnologia estão mudando rapidamente a vida cotidiana. No entanto, como será discutido na próxima seção, ainda temos de alcançar um consenso sobre como e quando essa tecnologia é segura e eticamente aceitável. 1.7 Vivemos na idade da genética Mendel descreveu seu projeto de uma década sobre a heredi- tariedade nas ervilheiras em um artigo de 1865, apresentado-o em um encontro da Sociedade de História Natural de Brunn, na Moravia. Exatamente 100 anos mais tarde, o Prêmio Nobel de 1965 foi concedido a François Jacob, André Lwoff e Jacques Mo- nod por seu trabalho sobre a base molecular da regulação gênica em bactérias. Esse intervalo abrange os anos que prepararam o caminho para a aceitação do trabalho de Mendel, a descoberta de que os genes se localizam nos cromossomos, os experimentos que provaram que o DNA codifica as informações genéticas e a elucidação da base molecular da replicação do DNA. O rápido desenvolvimento da genética, do jardim do mosteiro de Mendel ao Projeto Genoma Humano e eventos posteriores, está resumi- do em uma cronologia constante na Figura 1-23. O Prêmio Nobel e a genética Embora outras áreas científicas também apresentem expansão recente, nenhuma tem igualado a explosão de informações e a instigação gerada pelas descobertas em genética. Em parte al- guma esse impacto é mais aparente do que na lista de Prêmios Nobel relacionados à genética, iniciando com os que foram con- cedidos no início e em meados do século XX, e continuando até o período atual (veja o verso da capa). Os Prêmios Nobel das categorias de Medicina ou Fisiologia e Química foram compati- velmente concedidos para trabalhos em genética e áreas associa- das. O primeiro Prêmio Nobel atribuído para tais trabalhos foi dado a Thomas Morgan, em 1933, por sua pesquisa sobre a teoria cromossômica da herança. A essa distinção, seguiram-se muitas outras, inclusive prêmios pela descoberta da recombinação gené- tica, relação entre os genes e as proteínas, estrutura do DNA e o código genético. Neste século, os geneticistas continuam a ser re- compensados por seu impacto na biologia no presente milênio. O Prêmio de 2002 para Medicina ou Fisiologia foi outorgado a 1860s 1870s 1880s 1890s 1900s 1910s 1920s 1930s 1940s 1950s 1960s 1970s 1980s 1990s 2000s . . . . . . . . . . . . . . . . . Trabalho de Mendel é publicado É proposta a teoria cromossômica da herança. A genética da transmissão evoluiu Desenvolveu-se a tecnologia do DNA recombinante. Inicia-se a clonagem do DNA Começa a aplicação da genômica Comprovou-se que o DNA contém a informação genética. Modelo do DNA é proposto por Watson-Crick O trabalho de Mendel é redescoberto e correlacionado com o comportamento dos cromossomos na meiose Era da Genética Molecular. A expressão e a regulação gênica são compreendidas Inicia-se a genômica. O Projeto Genoma Humano é iniciado FIGURA 1-23 Cronologia que mostra o desenvolvimento da genética, do trabalho de Gregor Mendel com as ervilheiras à atual era da genômica e suas inúmeras aplicações em pesquisa, medicina e sociedade. O conhecimento da história das descobertas em genética deve propi- ciar-lhe um proveitoso embasamento à medida que você prosseguir a leitura deste livro texto. TABELA 1.2 Organismos-modelo usados no estudo de doenças humanas Organismo Doenças humanas E. coli Câncer colorretal e outros cânceres S. cerevisiae Câncer, síndrome de Werner D. melanogaster Distúrbios do sistema nervoso, câncer C. elegans Diabete D. rerio Doença cardiovascular M. musculus Doença de Lesch-Nyhan, fibrose cística, sín- drome do X- frágil e muitas outras doenças 15 Sydney Brenner, H. Robert Horvitz e John E. Sulston pelo seu trabalho sobre a regulação genética do desenvolvimento orgâni- co e da morte celular programada. Em 2006, as distinções agra- ciaram Andrew Fire e Craig Mello pela sua descoberta de que as moléculas de RNA desempenham um papel importante na regulação da expressão gênica e Roger Kornberg pelo seu traba- lho sobre a base molecular da transcrição eucariótica. O Prêmio Nobel de 2007 foi concedido a M. R. Capecchi, O. Smithies e M. J. Evans pelo desenvolvimento de tecnologia de marcação gênica, essencial para a criação dos camundongos nocaute, que servem como modelos animais de doenças humanas. Genética e sociedade Assim como jamais houve uma época tão estimulante para estu- dar genética, o impacto dessa área na sociedade nunca foi mais profundo do que agora. A genética e suas aplicações em biotec- nologia estão se desenvolvendo com muito maior rapidez do que as convenções sociais, as políticas públicas e as leis necessárias para regular seu uso (veja o ensaio na seção “Genética, tecnologia e sociedade” deste capítulo). Como membros da sociedade, esta- mos lutando com uma grande quantidade de questões delicadas relacionadas à genética, as quais abrangem as preocupações com testagem pré-natal, cobertura de seguros, discriminação genéti- ca, direito de propriedade dos genes, acesso à terapia gênica e segurança dessa forma de terapia e privacidade genética. Na épo- ca em que você terminar o seu curso, terá visto evidências mais do que suficientes para convencê-lo de que o momento atual é a Idade daGenética e compreenderá a necessidade de ponderar e tornar-se participante no diálogo relativo à ciência da genética e ao seu uso. G E N É T I C A , T E C N O L O G I A E S O C I E DA D E Genética e sociedade: a aplicação e o impacto da ciência e da tecnologia Um dos aspectos especiais deste texto é a série de ensaios sobre Genética, tecnologia e socieda- de que você encontrará na conclusão da maioria dos capítulos. Esses ensaios explo- ram tópicos relacionados com a genética que exercem um impacto na vida de cada um de nós e, desse modo, na sociedade em geral. Hoje em dia, a genética envolve todos os aspectos da vida moderna, acar- retando rápidas mudanças em medicina, agricultura, direito, indústria farmacêutica e biotecnologia. Os médicos agora usam centenas de testes genéticos para diagnos- ticar e predizer o curso de uma doença, bem como para detectar defeitos genéticos intra-uterinamente. Os métodos com base no DNA permitem aos cientistas traçar a rota de evolução seguida por muitas es- pécies, inclusive a nossa. Os fazendeiros e agricultores desenvolvem o cultivo de plan- tas resistentes às doenças e à seca e criam animais domésticos mais produtivos, ori- ginados por meio de técnicas de transfe- rência gênica. Os métodos de obtenção do perfil do DNA aplicam-se aos testes de paternidade e às investigações criminais. As biotecnologias resultantes das pesqui- sas genômicas exercem efeitos dramáticos sobre a indústria em geral. Enquanto isso, a própria indústria biotecnológica gera mais de 700.000 empregos e uma receita de US$ 50 bilhões anuais, duplicando seu tamanho a cada década. Juntamente com essas tecnologias ge- néticas que rapidamente se modificam, so- brevém uma série de dilemas éticos. Quem possui e controla as informações genéti- cas? As plantas e os animais domésticos submetidos a melhoramento genético são seguros para os humanos e seu ambiente? Temos o direito de patentear organismos e tirar proveito de sua comercialização? Como podemos assegurar-nos de que as tecnologias genômicas serão acessíveis a todos, e não apenas aos indivíduos sadios? Quais são as prováveis consequências so- ciais das novas tecnologias reprodutivas? É uma época em que todos precisam co- nhecer a genética, a fim de tomar decisões pessoais e coletivas complexas. Os ensaios da seção Genética, tecno- logia e sociedade exploram a interface da sociedade e da tecnologia genética. Espe- ramos que esses textos representem vias de acesso para sua exploração da infini- dade de aplicações da genética moderna e suas implicações sociais. A seguir, lista- mos os tópicos que servem de base para muitos desses ensaios, acompanhados do número do capítulo em que cada um é encontrado. Ainda que sua disciplina de genética não abranja certos capítulos, es- peramos que você considere interessantes os ensaios desses capítulos. Boa leitura! Câncer de mama: a faca de dois gumes da testagem genética (2) Doença de Tay-Sachs: a base molecular de um distúrbio recessivo em humanos (3) Melhorando o destino genético dos cães de raça pura (4) Genes bacterianos e doenças: da expres- são gênica às vacinas comestíveis (6) Uma questão de gênero: seleção sexual em humanos (7) O elo entre os sítios frágeis e o câncer (8) O DNA mitocondrial e o mistério dos Ro- manovs (9) As torções e as voltas da revolução heli- coidal (10) Telômeros: definindo o fim da linha? (11) Além de Dolly: a clonagem de humanos (13) Silenciamento de genes com base em ácidos nucleicos: atacando o mensageiro (14) A doença da vaca louca: a história do prí- on (15) À sombra de Chernobyl (16) Quorum Sensing: como as bactérias se comunicam entre elas (17) Regulação gênica e distúrbios genéticos humanos (18) As guerras das células-tronco (19) O câncer na mira: fazendo pontaria com terapias objetivas (20) Projetos genômicos personalizados e a busca do genoma de $ 1.000,00 (21) Afinal de contas, de quem é o DNA? (23) Terapia gênica – dois passos à frente e dois passos atrás? (24) A revolução verde revisitada: pesquisas ge- néticas com o arroz (25) Genética da orientação sexual (26) Rastreando nossos vestígios genéticos africanos (27) O que podemos aprender do fracasso do movimento eugenista? (28) Os conjuntos gênicos e as espécies ame- açadas: a difícil situação da pantera da Flórida (29) GENÉTICA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE 16 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À GENÉTICA E X P L O R A N D O A G E N Ô M I C A Recursos da Internet para o conhecimento dos genomas de organismos-modelo A genômica é uma das áreas da ge-nética de mais rápida mudança. As novas informações, nesse campo, estão acumulando-se em uma velocidade espantosa. O acompanhamento do desen- volvimento atual na genômica, proteômi- ca, bioinformática e outros exemplos da era “ômica” da genética moderna é uma tarefa verdadeiramente desafiadora! Em consequência, os geneticistas, os biólogos moleculares e outros cientistas valem-se de bancos de dados on-line para compartilhar e comparar novas informações. O objetivo da seção “Explorando a ge- nômica”, que aparece no fim de cada ca- pítulo, é apresentar ao leitor um conjunto de bancos de dados da Internet, com os quais os cientistas de todo o mundo con- tam para compartilhar, analisar, organi- zar, comparar e armazenar os dados dos estudos em genômica, proteômica e áreas afins. Exploraremos esse conjunto incrível de novas informações – abrangendo alguns dos melhores recursos públicos disponíveis mundialmente – e iremos mostrar-lhe como usar as estratégias da bioinformática para analisar os dados de estrutura e sequência ali encontrados. Cada série de exercícios da seção “Explorando a genômica” forne- cerá uma introdução básica sobre um ou mais bancos de dados ou programas espe- cialmente úteis ou relevantes, e depois irá orientá-lo ao longo dos exercícios que usam esses bancos de dados para ampliar ou re- forçar os conceitos importantes analisados no capítulo. Esses exercícios são elaborados para ajudá-lo a navegar nos bancos de da- dos, mas suas explorações não precisam li- mitar-se a tais experiências. Parte do prazer da aprendizagem em genômica consiste em descobrir, por si próprio, esses importantes bancos de dados, de maneira que você pos- sa obter as informações mais recentes sobre qualquer tópico que lhe interesse. Aproveite suas pesquisas! Neste capítulo, discutimos a importân- cia dos organismos-modelo para as abor- dagens experimentais clássicas e modernas da genética. Em nossa primeira série de exercícios de “Explorando a genômica”, apresentamos vários sites da Internet que são excelentes fontes de informações atua- lizadas sobre uma ampla variação de proje- tos genômicos completos ou em andamen- to que envolvem os organismos-modelo. Exercício I – Genome News Network ■ (Rede de Informações Genômicas) A partir de 1995, quando os cientistas descobriram o genoma de Haemophilus in- fluenzae, fazendo dessa bactéria o primeiro organismo a ter seu genoma sequenciado, foram completadas as sequências de mais de 500 organismos. O Genome News Ne- twork é um site* que dá acesso às infor- mações básicas sobre sequências genômi- cas recém-completadas. 1. Visite o Genome News Network em www.genomenewsnetwork.org. 2. Clique no link “Quick Guide to Se- quenced Genomes” (Guia Rápido para Genomas Sequenciados). Role a pági- na; clique nos links apropriados para encontrar as informações sobre os ge- nomas de Anopheles gambiae, Lactococcus lactis e Pan troglodytes e responda às se- guintes questões para cada organismo: a. Quem sequenciou o genoma desse organismo, e em que ano esse se- quenciamento se completou? b. Qual é o tamanho do genoma de cada organismo em pares de bases? c. Quantos genes existem em cada ge- noma aproximadamente? d. Descrevabrevemente por que os ge- neticistas estão interessados em es- tudar o genoma desse organismo. Exercício II – Explorando os genomas ■ dos organismos-modelo Dispõe-se de uma imensa quantidade de informações sobre os genomas de muitos organismos-modelo que desempenharam papéis inestimáveis no progresso de nos- so conhecimento de genética. A seguir, constam links para diversos sites* que são recursos excelentes para o seu estudo de * A manutenção e a disponibilização dos sites (em inglês) são de responsabilidade de seus de- senvolvedores. genética. Visite o site relativo ao seu orga- nismo-modelo preferido para aprender mais sobre o seu genoma! Ensembl Genome Browser ■ www.ensembl.org/index.html. Site importante para informações ge- nômicas sobre muitos organismos- modelo. Flybase: flybase.bio.indiana.edu. ■ Grande banco de dados sobre os genes e genomas de Drosophila. Gold ■ TM Genomes OnLine Databa- se: www.genomesonline.org/gold. cgi. Acesso amplo aos projetos ge- nômicos mundiais completos e em andamento. Model Organisms for Biomedical ■ Research: www.nih.gov/science/ models/. Site dos Institutos Nacio- nais de Saúde com uma riqueza de recursos sobre organismos-modelo. Mouse Genome Informatics: ■ www.informatics.jax.org/. Genéti- ca e genômica de camundongos de laboratório. Rat Genome Project: ■ www.hgsc.bcm.tmc.edu/projects/ rat/. Site do Baylor College of Me- dicina sobre o genoma de rato. Saccharomyces ■ Genome Database: www.yeastgenome.org/. Banco de dados para a genética de Saccha- romyces cerevisiae, conhecido como o fermento do padeiro. Science Functional Genomics: ■ www.sciencemag.org/feature/plus/ sfg/. Hospedada pelo periódico Science, é uma boa fonte de informa- ções sobre os genomas de organis- mos-modelo e outras áreas atuais da genômica. The ■ Arabidopsis Information Resour- ce: www.arabidopsis.org/. Banco de dados genéticos para a planta- modelo Arabidopsis thaliana. WormBase: ■ www.wormbase.org. Banco de dados genômicos para o nematódeo cilíndrico Caenorhabditis elegans. 17TESTE SEU CONHECIMENTO 1. O trabalho de Mendel sobre as ervilheiras estabeleceu os princípios da transmissão gênica dos genitores para a prole, que são os funda- mentos da ciência da genética. 2. Os genes e os cromossomos são as unidades fundamentais na teoria cromossômica da herança. Essa teoria explica a transmissão das in- formações genéticas que controlam as características fenotípicas. 3. A genética molecular – com base no dogma central de que o DNA é um molde para formar o RNA, o qual codifica a estrutura linear das proteínas – explica os fenômenos descritos pela genética mendelia- na, também referidos como genética da transmissão. 4. A tecnologia do DNA recombinante, uma metodologia de longo alcance usada em genética molecular, possibilita que os genes de um organismo sejam encadeados em vetores e clonados. 5. Genômica, proteômica e bioinformática são novas áreas derivadas da tecnologia do DNA recombinante. Essas novas áreas combinam a genética com a tecnologia da informação, possibilitando que os cien- tistas explorem as sequências dos genomas, a estrutura e a função dos genes, o conjunto de proteínas intracelulares e a evolução dos genomas. O Projeto Genoma Humano é um exemplo de genômica. 6. A biotecnologia revolucionou a agricultura, a indústria farmacêuti- ca e a medicina. Tornou possível a produção em massa de produtos gênicos clinicamente importantes. A testagem genética permite a detecção dos indivíduos com distúrbios genéticos e dos que se en- contram em risco de ter prole afetada, enquanto a terapia gênica oferece a esperança de tratamento de distúrbios genéticos graves. 7. Na genética, o estudo de organismos-modelo acelerou o conhe- cimento dos mecanismos genéticos e, conjugado à tecnologia do DNA recombinante, produziu modelos de doenças genéticas hu- manas. 8. Os efeitos da tecnologia genética na sociedade são profundos, e o desenvolvimento de política e legislação está retardando as inova- ções resultantes. 1. Descreva as conclusões de Mendel sobre como as características são transmitidas de geração a geração. 2. Qual é a teoria cromossômica da herança, e como se relaciona com as descobertas de Mendel? 3. Defina genótipo e fenótipo e descreva como estão relacionados. 4. Que são alelos? É possível que existam mais de dois alelos de um gene? 5. Dado o estado do conhecimento na época do experimento de Avery, MacLeod e McCarty, por que foi difícil, para alguns cien- tistas, a aceitação de que o DNA é o portador da informação ge- nética? 6. Diferencie cromossomos e genes. 7. Como é codificada a informação genética em uma molécula de DNA? 8. Descreva o dogma central da genética molecular e como ele serve como a base da genética moderna. 9. Quantas proteínas diferentes, cada uma com uma sequência de aminoácidos única, podem ser construídas com a extensão de cinco aminoácidos? 10. Esquematize os papéis desempenhados pelas enzimas de restrição e pelos vetores na clonagem do DNA. 11. Quais são alguns dos impactos da biotecnologia sobre as plantas cultivadas nos Estados Unidos? 12. Resuma os argumentos favoráveis e contrários ao patenteamento de organismos geneticamente modificados. 13. Possuímos de 25 mil a 30 mil genes em nosso genoma. Até agora, foram fornecidas patentes para mais de 6 mil desses genes. Você pensa que as empresas ou os indivíduos estariam qualificados para patentear os genes humanos? Por que, ou por que não? 14. Como o uso de organismos-modelo acelerou nosso conhecimento dos genes que controlam as doenças humanas? 15. Se você soubesse que uma doença hereditária de início tardio ocorre em sua família (em outras palavras, uma doença que só aparece mui- to mais tarde na vida) e pudesse ser testado quanto a essa doença aos 20 anos de idade, desejaria saber se você é um portador? É provável que sua resposta se modifique quando você chegar aos 40 anos? 16. A “Idade da Genética” foi ocasionada por avanços marcantes nas aplicações da biotecnologia na manipulação dos genomas de plan- tas e animais. Dado que a população mundial alcançou 6 bilhões, e é esperado que esse número duplique nos próximos 50 anos, al- guns cientistas propuseram que somente a introdução mundial de alimentos geneticamente modificados (GM) possibilitará o atendi- mento às futuras demandas nutricionais. A resistência a pestes, a herbicidas, ao frio e à seca e a tolerância à salinidade, juntamente com o aumento do valor nutritivo, são vistos como atributos positi- vos dos alimentos GM. No entanto, outros advertem que o dano in- voluntário a outros organismos, a eficiência reduzida aos pesticidas, a transferência gênica a espécies não objetivadas, a alergização e, por enquanto, os efeitos desconhecidos na saúde humana são pos- síveis preocupações em relação aos alimentos GM. Se você estivesse em posição de controlar a introdução de um produto alimentício básico GM (o arroz, por exemplo), quais seriam os critérios que você estabeleceria antes de permitir tal introdução? 17. O evento da BIO (Biotechnology Industry Organization; Organiza- ção das Indústrias de Biotecnologia) realizado na Filadélfia (junho de 2005) reuniu os líderes mundiais das indústrias biotecnológica e farmacêutica. Simultaneamente, a BioDemocracy 2005, um grupo composto de pessoas que procuram ressaltar os riscos das aplicações disseminadas da biotecnologia, se reuniu também na Filadélfia. Os benefícios da biotecnologia estão esboçados em seu texto. Faça uma predição de alguns dos riscos que, sem dúvida, foram discutidos no encontro da BioDemocracy. Resumo Teste seu conhecimento
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