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I I DENOMINA-SE MEMÓRIA À AQUISrçÀO, ARMAZENAMEN- I TOeevocaçãodeinformações.A aquisiçãoétambém i denominadadeaprendizado. I A memóriaéumafunçãodosistemanervoso.As I célulasnervosasouneurôniosemitemprolongamen- I I toschamadosaxônios,queenviaminformação,eden- i dritos,quea recebemde substânciasliberadaspelas i terminaçõesdosaxônios,chamadasneurotransmisso- I res.Essasestruturasagemaosecombinarcomproteí- i nasdasuperfíciedendrítica,denominadasreceptores. I Oneurotransmissorexcitatóriomaisimportanteéoglu- I tamato,paraoqualexistemdiversostiposdereceptor. I O principaléo ácidogama-aminobutírico(GABA, I i eminglês).Outrosneurotransmissoressãoaacetilco- l lina,anoradrenalina,adopaminaeaserotonina,qua- I setodoscomfunçõesmodulatórias.Dependendode I qualsejao neurotransmissorenvolvidoassinapsesseI '" I denominamglutamatérgicas,GABAérgicas,colinérgi- ~i cas,dopaminérgicas,noradrenérgicasouserotonérgicas. ~ I Acredita-sedesdeRamónyCajal(1893)queasme- ! I móriasconsistembasicamentenamodificaçãodaforma ~ I e,portanto,dafunçãodassinapsesqueintervieramna ~i formaçãodessasmemórias.A maioriadasinformações'" I WWW.SCIAM.COM.BR queconstituemmemóriaséaprendidaatravésdossen- I tidosemepisódiosquesãodenominadosexperiênci- as.Algumas,porém,sãoadquiridaspeloprocessamento internodememóriaspreexistentes,modificadasounão, o que,eminglês,sechamainsight. Há tantasmemó- riaspossíveiscomoháexperiênciase insights.Porém, é útil classificarasmemóriasdeacordocomsuafun- ção,conteúdoe duração. A memóriadetrabalho,oumemóriaoperacional,é a interfaceentreapercepçãodarealidadepelossenti- doseaformaçãoouevocaçãodememórias.Neurônios docórtexpré-frontaledosnúcleosdaamígdala,nolobo I temporal,reconhecemoinícioeofimdecadaexperiên- cia,por meiode circuitosqueligamessasestruturas entresiecomocórtextemporalinferioreohipócampo. O funcionamentodessescircuitosé rápidoe,assim,o cérebroreconhecesea informaçãoqueestásendopro- cessadaénovaounão,seéimportante,eserequeruma respostaimediataounão.A memóriadetrabalhoébasi- camenteon linee durasegundosou poucosminutos. Um bomexemploé a memóriadaterceirapalavrada fraseanterior,queutilizamosdurantepoucossegun- dosparapodercompreenderessafrasenumdetenni- SOE}.'TIp::~.'S~D-.',BP..l5~ 99 nadocontexto.e apagamosimediatamente.Outro é a memóriadeumnúmerotelefônicoquealguémnosdize esquecemoslogodepoisdediscar. A memóriadetrabalhonãoformaarquivosduradou- rosnemdeixatraçosbioquímicos.É, portanto,funcional- mentedistintadasdemaisformasou tiposde memória queformamarquivosatravésdeseqüênciasdeprocessos bioquímicos.A memóriadetrabalhodependeda transmissãoglutamatérgicanocórtexpré-frontalecoli- nérgicanaamígdala.Muitosreconhecemamemóriade trabalhocomoograndesistema"gerenciador"deinfor- maçõesdocérebro,jáqueelaliteralmentedecidequeme- móriasvamosformarouevocar. Asdemaisformasdememóriadeixamtraçosdecur- taduração(horas)oudelongaduração(dias,décadas). Classificam-seemdoisgrandestipos:asmemóriasde- clarativaseasmemóriasdeprocedimentosouhábitos. Asmemóriasdeclarativasenvolvemfatoseconhecimen- tos(memóriasemântica:porexemplo,o idiomainglês) demserdecurtaduração(minutos,poucashoras)ede longaduração(dias,semanas,anos).Estaclassificação éparticularmenteimportanteparaasmemóriasdeclara- tivas,cujasformasdelongaduraçãolevamváriashoras paraserefetivamenteconsolidadasemsuaformamais oumenosdefinitiva.A memóriadecurtaduraçãoper- mitesuprirosprocessosmnemônicosenquantoame- móriadefinitivanãofoiaindaconstruída.Nesseaspec- to,amemóriadecurtaduraçãotemsidocomparadaà moradiatemporáriadealguémnumhotelounumabar- racaenquantosuacasa,.estásendoconstruída.Conver- samos,aprendemosalermapas,eutilizamosemgerala linguagemoraleescritaenquantoasmemóriasdefiniti- vasaindasãolábeisenãoestãoconsolidadas.A faseem quesótemoscompletaamemóriadecurtaduraçãoea delongaduraçãonãoestáfixada,élábil:umtraumatis- mocraniano,umeletrochoqueconvulsivo,umahipoxia ouumaintoxicaçãoalcoólicaimpedemquesefixemas memóriasqueacabamdeseradquiridase,comoresul- DiferentesáreascerebraisPROCESSAMDIFERENTESTIPOS, DEMEMORIA.Naesquizofreniaháalteraçõesdocórtex pré-frontal,responsávelpelamemóriadetrabalho ouepisódios(memóriaepisódicaouautobiográfica:por exemplo,asaulasde inglês).A memóriasemânticare- sultadoprocessamentodememóriasgeralmenteadqui- ridasemepisódios,misturadasamemóriaspreexisten- tesegerando,àsvezes,novosinsights. O processamentodasmemóriasdeclarativasenvol- veo hipocampo,o córtexentorrinaleváriasoutrasáreas corticais.Entreasmemóriasdeclarativas,asmaisaversi- vas,emocionaisoualertantessãofortementemoduladas pelosnúcleosbasale lateraldaamigdala.As memórias proceduraissãoprocessadaspreponderantementepelo neostriatumepelocerebeloesistemasaelesassociados. Do pontodevistadesuaduração,asmemóriaspo- 1 '1 'I I I i 1. 111 II 100 SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL .tado,apessoanãoconseguelembrardosminutosou horasanterioresaoacidenteouàintoxicação. A perdadememóriasedenominaamnésia.O pro- cessoanteriormentereferido,relacionadoatraumatis- mosouintoxicações,configuraaamnésiaretrógrada, porqueabrangeo períodoanteriorà açãodo agente patogênico.Na verdade,essetipodeamnésiaé um déficitdegravação.Lesõese edemado hipocampo podemcausaramnésiasretrógradasqueabrangempe- ríodosdemesesouanos.Essaslesõesimpedemtam- bémadquirirnovasmemórias,o quesedenomina amnésiaanterógrada.Sóépossívelavaliaramemória atravésdaevocaçãoourecordação.Podemacontecer déficitsespecíficosdaevocação.Oscasosmaistípicos sãoosdenominados"brancos",devidosaestresseou ansiedadeexcessivaecausadospelaaçãosobreaamíg- dalabasolateralouohipocampodecorticóidessecre- tadosemexcessopelaglândulassupra-renais. NeurologiaBásicadaMemória COMO VIMOS, DIFERENTES ÁREAS CEREBRAIS processam diferentestiposdememória.Na esquizofreniaháaltera- çõescongênitasdocórtexpré-frontalanterolateral,e,em conseqüência,damemóriadetrabalho.Ospacientestêm dificuldadeem distinguirum estímulode outros.Por exemplo,aoverumasériedepessoasencostadasnuma OUTUBRO 2003 I l paredenãoconseguemdistinguirbemumaspessoasdas outrasnemda parede.Percebemo mundocomoalgo alucinatórioeassustador.Comotambémtêmalterações no lobo temporal,guardammalessasmemórias,e sua relaçãocomo mundoficadifícilepenosa. J;,.esõesdeorigemvascularoutumoralemregiõesdo CÓIteXpré-frontalcausammuitasvezesalteraçõesnaca- pacidadederealizarjulgamentosdevalores.A realidade, nomomentodeserpercebida,nãoconseguefazercone- xãocommemóriasdevaloreseconceitosemocionais.Os sujeitosnãoconseguemdistinguiralgoquelheséprejudi- cialdealgoquelhescausabenefícios,ecometematosmui- tasvezesinsensatos,aindaquesuainteligênciasejanormal. Lesõesdo córtexparietaloutemporalsãoacompa- nhadasdeumaperdadetiposdememóriacircunscrita como,porexemplo,adenomesdepessoas,lugaresou objetos,emboraretenhamo conceitode quemsãoou comosãoessaspessoas,lugaresouobjetos. Lesõesda amígdalabasolateralseacompanhamde umaincapacidadedereconhecerou devalorizarosas- pectosemocionaisdeumadeterminadamemóriaouaté deformarouevocarmemóriasdeconteúdoemocional. Lesõesconjuntasdocórtexentorrinaledohipocam- pocausamamnésiamuitointensaparamemóriasdecla- rativasde longaduração,principalmenteanterógrada, mastambémretrógrada.A amnésiaglobaltransitória resultadetraumatismoscranianosqueproduzemede- mauni oubilateraldohipocampoedocórtextemporal. Os componentesretrógradoe anterógradodaamnésia sereduzemcomo passardo tempo,atéqueo primeiro ficalimitadoaumperíododeminutosouhorasanterio- resaotrauma,eo segundodesaparece. O estudodosmecanismosíntimosdosprocessosde consolidaçãoe evocaçãoavançoumuitonos últimos anos,peladescoberta,em1973,deumfenômenoeletro- fisiológicochamado"potenciaçãodelongaduração",que consisteno aumentoduradourode umarespostamo- nossinápticadepoisdaestimulaçãorepetitivadeumavia aferente.O fenômenofoi primeiroobservadonohipo-campoe,depois,emmuitasregiõescerebrais. Os mecanismosmolecularesdamemóriaparatare- fassimplesinvivoapresentamsemelhançasediferenças comosmecanismosdapotenciaçãodelongaduraçãoe com os da memória real.Amedida que seavançanestes estudos,maissenotamdiferenças.Por exemplo,a for- maçãodememóriasrequerdoispicosdeexpressãogê- nicae sínteseprotéicano hipocampo,um logoapósa aquisiçãoeoutro3-6horasmaistarde.Essespicoscoin- cidemnotempocomaativaçãoseqüencialdenumero- sasenzimasedefatoresdetranscriçãopresentesnonú- cleocelular.Na potenciaçãodelongaduraçãoháumpico WWW.SCIAM.COM.BR só,easeqüênciadeativaçãodasenzimasnohipocampo édiferentedadasmemórias.Paralelamente,edemanei- raorquestrada,ocorremoutrascadeiasbioquímicasdis- tintasnaamígdalabasolateral,nocórtexentorrinaleem outrasáreascerebrais,quevariamcomotipodememó- ria. Na potenciaçãodelongaduraçãohipocampalesta estruturaatuaisoladamente.A formaçãodememóriasé altamentereguladaporviasnervosasvinculadascomas emoçõeseestadosdeânimo(colinérgicas,noradrenér- gicas,dopaminérgicas,serotonérgicas).Napotenciação de longaduraçãoissonão ocorre.Paraa formaçãoda IVÁN fIOU/éROO é professor titular colaborador convidado e coordenador do Cen- tro de Memória do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). MÔNfCA R.M. VfANNA ébolsistapós-doutoralnoMontreal Neurologicallnstitute.MARTíN CAMMAROTA é professorvisitantedo Centrode Memória do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). LUClANAA. fIOU/EROO ébolsistapós-doutoralnoDepartamento de Fisiologia da Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre. SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL 101 memóriatantodecurtacomodelongaduraçãopartici- pamdemaneiracrucialprocessosdependentesdefatores tróficoscerebrais(BDNF); napotenciação,nãonecessa- riamente.Na formaçãodememóriaénecessáriaaativa- çãodoprincipalsistemaproteolíticofisiológico:odasubi- quitinaseproteasomas.As ubiquitinassãoenzimasque, ao seligarcompartículascelulareschamadasproteaso- mas,digeremrapidamenteproteínasefragmentosdepro- teínasrecém-utilizadas.Paraconstruir,no casodasme- mórias,é necessáriodesmatare aplainaro terreno.Para apotenciaçãodelongaduração,não.A memóriaanimal ou humananãodependedenenhumaestruturanervosa isolada,masdaintensainteraçãoentreelas.Os mecanis- mosmolecularesdasmemóriassãocomplexos. Os mecanismosde formaçãoda memóriade curta duraçãoenvolvemalgunsdospassosutilizadosnohipo- campoenocórtexentorrinalparaaconsolidaçãodame- móriadelongaduração.Mas amaioriadeseusmecanis- mosé diferente.Entreeles,aativaçãodeváriasenzimas ocorrecomumperíododetemposeparadoemcadaum cionadassãofortementemoduladorasdaformaçãotan- to da memóriadecurtacomodade longaduração.A primeiraéreguladanosprimeirosminutosapósaaqui- siçãoporreceptoresdopaminérgicos,noradrenérgicos, serotonérgicosecolinérgicosno hipocampoeno cór- texentorrinaleparietalposterior.O efeitodasdiversas viasé complexoe dependedeaçõesde sinalàsvezes contrárionasdiversasestruturas. A memóriadelongaduraçãoéfortementemodulada porreceptoresdopaminérgicos,noradrenérgicos,seroto- nérgicose colinérgicosmuscarínicosno hipocampo,no córtexentorrinal,cinguladoeparietalposterior.Pelome- nosastrêsprimeirasviasexercemsuamodulaçãoviare- gulaçãodaadenilatociclase,enzimaqueintervémnasín- tesedeum compostodenominadocAMP queregulaa atividadedeumadasprincipaisenzimasenvolvidasna formaçãoe evocaçãode memórias,a PKA. A terceiralinhademoduladoresdaconsolidação dasmemóriasatuabasicamentesósobreaconsolida- çãodememóriasdelongaduraçãoeestácomposta AformaçãodememóriaséALTAMENTEREGULADAPORVIAS NERVOSASvinculadasàsemoçõeseaosestadosdeânimo. Napotenciaçãodelongaduraçãoissonãoocorre dessestiposdememória.A memóriadecurtaduraçãonão requerexpressãogênicanemsínteseprotéica.Na memó- riadelongaduração,asmodificaçõesestruturaissãoini- cialmenteproduzidaspelasíntesedeproteínasdeadesão celularcausamalteraçõesmorfológicasdassinapsesque cadamemóriaativou. ModulaçãodaMemória OS PRINCIPAIS SISTEMAS MODULADORES DA FORMAÇÃO detodoequalquertipodememóriasãoneurôniosGA- BAérgicosagindosobrereceptoreschamadosGABAA nohipocampo,córtexentorrinal,córtexcingulado,cór- texparietaleamígdalaparaasmemóriasdeclarativas, nostriatumenocerebeloparaasmemóriasprocedu- rais,enocórtexpré-frontalparaamemóriadetrabalho dassinapsescerebraisdosmamíferos. A segundalinhademoduladoressãoasviasdopa- minérgica,noradrenérgica,serotonérgicaecolinérgicas docérebro,agindorespectivamentesobrereceptoreses- pecíficos.Essasviastêmpoucaounenhumaimportân- cianaregulaçãodaconsolidaçãodememóriasprocedu- rais.A viacolinérgicaea dopaminérgicamodulama memóriadetrabalhonocórtexpré-frontale,nocasoda primeira,tambémnaamígdalabasolateral. Jáparaasmemóriasdeclarativas,todasasviasmen- 102 SCIENTIFICAMERICANBRASIL poralgunsneuromoduladores(l3-endorfina,vasopres- sina,outrospeptídiosebenzodiazepinasendógenas) eporvárioshormôniosperiféricos.Destessedesta- camoschamados"hormôniosdoestresse",adreno- corticotrofina(ACTH), oscorticóides,eaadrenali- na,noradrenalinae vasopressinacirculantes.Todos esseshormôniosagematravésdocomplexobasolateralda amígdala;osglucocorticóides,demaneiradireta,por receptorespróprios,easrestantessubstânciasporme- canismosreflexosqueativamosistemadereceptores l3-noradrenérgicosdessaestrutura.Salvoal3-endorfina, queinibeaconsolidaçãoemqualquerdose,asdemais substânciasmencionadasnesteparágrafocomohormô- niosdoestressemelhoramaconsolidaçãoemníveismo- deradoseainibememdosesouconcentraçõeselevadas. Emdiversostiposdeexperiênciasomaterialapren- didoincluioefeitodealgumadrogaqueestejaagindo nomomento.O efeitodasubstânciaquímicatorna-se, então,partedaexperiênciaeémemorizadojuntocom esta.Assim,podeservirdedicanahoradaevocação.É clássicoofatodeque,emmuitoscasos,apessoasólem- bradoquefezduranteumaintoxicaçãoalcoólicaquan- doestivernovamentealcoolizada.A memóriatorna-se assimdependentedoestadofarmacológicodapessoa. A dependênciadeestadoocorrefisiologicamenteem OUTUBRO2003 --- - r I I ! NESTEESOUÊMADESINAPSgentreumáxônioprocedentedêoutra regiãodo hipocampoeúrnac~JUlatJiramidalâa região"GA1 do hipocampo,o neurotransmissol"glutamato(bolinhasemrosa)é liberadopelaterminaçãodo axônioe atuasobrereceptores designi3dos com ilS siglas M~LU, NMDAeAMPA. D NMD.A,deixiI entrar cálcio (Ca2+)na célula piramidal; o cálcio ativa várias enzimas (GaMKII, que fosforilae assim ativa'6s receptores AMPA, e PKG, liberandováriassllbstâncias(ND,m, PAF)queagemsobreoterminal axônico, fazendo"aliberar'mais,glutilmato. Outra enzima,FaPKG, contribuifO,sforilando.~..ativando\.ImaproteínadQterrninal~,xôniço, aGAP-43,quemobilizamaisglutamatorumoàfendasináptica.Outras situaçõesdemedo,estresseouextremaaversão,ondehá umaforteliberaçãodehormôniosdo estresse.O sujeito passaalembrarclaramentedaexperiênciasóquandoesti- vernovamentenumasituaçãoneuJo-humoralsemelhan- te,naqualocorraliberaçãoaumentadadessassubstâncias. O valordestefenômenocomomeiodesobrevivênciaé óbvio:apessoanãotemporqueficarrelembrandoalgo assustadorconstantemente,masprecisafazê-Ioquando estiveroutraveznumasituaçãodemedo. EvocaçãodaMemória Na evocaçãoparticipampelomenosseisestruturasce- rebraisinterligadas:ocórtexpré-frontal,ohipocampo,os córticesentorrinal,parietalecinguladoanterior,eaamíg- dalabasolateral.O córtexpré-frontalatuaatravésdesua WWW.sCIAM.COM.BR enzimassão ativadasno processo:a cadeiadaproduçãode cAMP, pelaaden!lato'cicla~e, q\.lese!igi3,+~PKAeilcad~ia dilM.A,PK, estimuladaporfatoresextracelulares.Âadenilatociclaseéregulada por sinapses noradrenérgicas,dopaminérgicase serotonérgicas com receptoreschamadmõ,b,D1 e lA respectivamente..A,PKA, a MAPK e tarnbéroa PKGfosforililrn e ativarrHatoresdetraLlscriçã6 protéicosnonúç,leo,dosquaisoBrincipalse,chamaCREB.Esteativa genesparaproduzirmRNAque,traslildadpaosribossQmo~,ordena a síntesedeprpteínas.Algt.!rnilSmestà,~!prg,~eína;vão~efix~tne~$a e/ou(Jutras sinapses,aumenta!jdoaades~ocelulare mOdifican.do a estruturae a função dessas sinapsesdurantehoras. memóriadetrabalho.Em cadasituaçãodesuavida,a pessoaanalisaascircunstânciasemqueseencontra,e examinasesãonovas,semerecemrespostaimediataetc. A evocaçãorequer,nohipocampoenocórtexentorri- nal,parietalecingulado,aativaçãodediferentesrecepto- resglutamatérgicosedepelomenosduasgrandesviasen- zimáticas:a PKA e a ERKs. A evocaçãoé fortemente moduladaemtodasasestruturascorticaismencionadas pelasviasdopaminérgica,noradrenérgica,serotonérgica e colinérgica.A amígdalabasolateraldesempenhaum papelmoduladornahoradaevocaçãomuitosensívelà açãodehormôniosperiféricos.Em geral,oshormônios do estressemelhorama evocação,à exceçãodosgluco- corticóides,queainibematémesmoemdosesbaixas. Não guardamostodasasmemóriasquefazemose,da SCIENTIFICAMERICANBRASIL 103 maioriadelas,conservamossófragmentos.Sepergunta- remaqualquerumdenóso quelembramosdenossain- fância,contaremostudooquehonestamenterecordamos emumahoraou menos;isso,apesardequefoi segura- menteaépocamaisricaemexperiênciasvaliosasdetoda nossavida. Num contofamoso("Funeso memorioso"), JorgeLuis Borgesdemonstraa impossibilidadedecon- servartudona memória:paraevocarum dia inteirode nossavidaprecisaríamosdeoutrodiainteirodenossavida; sempoderesquecernadanãopoderemosefetuargenera- lizaçõesesemelasseriaimpossívelpensar. Partedasmemóriasseperdeporsimplesinatividade da(s)via(s)nervosa(s)correspondente(s)acadaumade- las:a inatividadesinápticacausaumaatrofiaprimeiro funcionalemaistardemorfológicadassinapses.Outras memóriasseperdempormorteneuronal,fenômenoque ocorredesdeo nascimentoatéo fimdenossasvidas.A a eventual extinção da memória dessa situação. A extinçãopodetambémseremparteproposital.Os funcionáriosdepistadosaeroportosextinguemrapida- mentesuareaçãoaobarulhodosaviõesqueligamseus motoresapoucosmetrosdeles,pornecessidade. A enxurradade informaçõesgenético-molecularese bioquímicasqueocorreunosúltimos10anosnoestudo daformaçãodamemóriafoi centradanaáreaCAI dohi- pocampoparaumatarefa,a esquivainibitória,quese aprendeemsegundo;.É possívelextrapolardosachados nessatarefaparaoutrasmemóriasdeclarativas,porquepre- sumivelmentehámecanismoscomunsparatodaselas,mas istorequerestudosqueaindanãoforamfeitos. Alémdisso,essaregiãoatua,nasmemóriasdeclarati- vas,comopartede umaredeneuronalcomplexaque abrangeocórtexentorrinal,outrasregiõescorticais,euma fortefunçãomoduladoradaamígdala.A formaçãodasme- PartedasmemóriassePERDEPORINATIVIDADEda(s)via(s) nervosa(s)correspondente(s):ainatividadesináptica causaumaatrofiamorfológicaefuncionaldassinapses 'I ~I I perdadememóriasporfaltadeusooumortesinápticaou neuronalsedenominaesquecimento. Outraformadeobturaroudeefetivamentecancelar memóriassedenominaextinção.Foi descobertapor Pavlovháumséculoeconstituiumprocessoativode aprendizagemememóriadecorrentedareapresentação daexperiênciaoriginalsemoscomponentesbiologicamen- tesignificativosdesta.Porexemplo,ensinamosumrato delaboratórioanãodescerdeumaplataformaparaevitar umchoqueelétrico.No momentoemque,tendoapren- didoisto,deixamosoanimaldescereomitimosochoque, oanimal"desaprende":passaaassociaroatodedescer daplataformanãomaiscomochoquemascomafaltade choque.Sevamostodososdiasaumdeterminadoende- reçoparareceberumpagamentoeapartirdecertomo- mentoachamosaportasemprefechada,acabaremospor nãoirmais.Esteprocessodeadquirirumnovosignifica- doparaoestímulocondicionado,opostoaoanterior,se denominaextinção. A extinçãoseproduznohipocampoenaamígdala basolateral,erequerexpressãogênica,sínteseprotéica eváriosoutrosprocessosbioquímicos.A extinçãotem umaclaraaplicaçãoterapêuticanotratamentodasfo- bias:síndromedepânico,quadrosdeansiedadege- neralizadaeprincipalmenteoestressepós-traumáti- co.A exposiçãoreiteradadopacienteaumaversão amenizadadasituaçãoquelhecausouafobiaoutrau- ma,acompanhadadepsicoterapiaapropriada,causa 104 SCIENTIFICAMERICANBRASIL móriasdeclarativasdecurtaelongaduraçãorequertodas estasestruturasatuandodemaneiraintegrada,eevidên- ciasindicamqueoprocessamentodasmemóriaséexerci- doprincipalmentepelasregiõesextra-hipocampaisdepois dealgunsminutosouhoras.A evocaçãodependedaação conjuntade,pelomenos,ohipocampo,oscórticesentor- rinal,parietalecingulado. Mas o"códigoreal",o segredoúltimodamemória, aquelequealgumdianosdiráexatamenteemquesi- napsese atravésde que modificaçõesestruturaisse guardacadamemória,aindaé desconhecido.Levará anosparadesvendá-lo. f!!i.1 Memória.IZOUIEROO I.Porto Alegre:Artes Médicas, 2002. Behavioural pharmacology and its contributiontothe molecular basis of memory consolidation.IZOUIERDO 1.,McGAUGH J.L. Behaviaural Pharmaeology, 11,págs. 517-534,2000. Molecularpharmacological dissection ofshort- and long-term memory. IZOUIEROOLA, BARROSO.M.,VIANNA M.R.M., COITINHOA.S., DE OAVIOE SILVA1, CHOIH., MOLETTAB., MEOINAJ.H., IZOUIEROOI.Cellularand Mo- leeular Neurobiology, 22, págs. 269-287, 2002. The ubiquitin-proteasome cascade is required for mammalian long- term memory formation. LDPEZ-SALDNM., ALONSOM., VIANNA M.R.M., VIOLA H., MELLO E SOUZA1, IZOUIERDO1.,PASOUINIJ.M., MEOINA J.H. t:uropean Journal ofNeuroscienee, 14,págs. 1820-1826,2002. Memory-Acentury ofconsolidation. McGAUGHJ.L. Seienee,287:págs. 248-251,2000. 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