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UNIDADE CENTRAL DE EDUCAÇÃO FAEM FACULDADE - UCEFF FACULDADE EMPRESARIAL DE CHAPECÓ – FAEM UCEFF FACULDADES ARQUITETURA E URBANISMO PARQUE URBANO NO BAIRRO PINHEIRINHO - CHAPECÓ SC ANDRESSA ESTER PIN Trabalho de Conclusão de Curso Chapecó (SC), Julho de 2018. Unidade Central de Educação Faem Faculdade - UCEFF Faculdade Empresarial de Chapecó – FAEM Uceff Faculdades Curso de Arquitetura e Urbanismo Período: 10° Disciplina: Trabalho de Conclusão de Curso Professor: Ma. Adriana Diniz Baldissera PARQUE URBANO NO BAIRRO PINHEIRINHO - CHAPECÓ SC ANDRESSA ESTER PIN Chapecó (SC), Julho de 2018. ANDRESSA ESTER PIN PARQUE URBANO NO BAIRRO PINHEIRINHO - CHAPECÓ SC Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Curso de Arquitetura como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade Empresarial de Chapecó, UCEFF. Professor Orientador: Me. Adriana Diniz Baldissera Chapecó (SC), Julho de 2018. Dedico esta monografia aos meus pais, Vitor (in memoriam) e Salete, com todo o meu amor e gratidão, por tudo o que fizeram por mim ao longo desta minha vida, em especial a meu amado companheiro pelos momentos de auxílio e alegria que me proporciona. AGRADECIMENTOS Quero agradecer, em primeiro lugar, a Deus, que permitiu que tudo isso acontecesse, ao longo desta minha vida е não somente nestes anos como universitária, mas, que em todos os momentos é o maior mestre que alguém pode conhecer. Agradeço também aos meus amados pais Vitor Lirio Pin (in memoriam) e Salete Maria Schneider Pin, pela fé e confiança demonstrada, por todos os conselhos e toda ajuda, que me levaram até aqui. Agradeço ainda a meu companheiro, Maicon de Oliveira, que ao longo da caminhada me deu suporte e força em todas as dificuldades, manteve-se ao meu lado e ajudou-me sempre. Por fim, agradeço aos professores, e todos aqueles que contribuíram para o meu crescimento intelectual, em especial para minha Orientadora Me. Adriana Diniz Baldissera, por toda paciência, auxílio, conhecimento transmitido e principalmente, pelo incentivo à dedicação ao urbanismo. RESUMO A cidade de Chapecó, Santa Catarina está em constante expansão urbana e as regiões periféricas acabam sofrendo com desequilíbrios socioeconômicos, uma vez que, novos parcelamentos de solo são feitos sob diretrizes e legislações vigentes que promovem o ordenamento e progresso da cidade, assim os bairros antigos ficam estagnados, com falta de infraestrutura e projetos de desenvolvimento, acarretando uma inconstância social. Por sua vez, a cidade é onde o espaço urbano pode ser modelado por meio das relações sociais. Atualmente os bairros Pinheirinho e Jardim Europa da cidade de Chapecó, bem como, as regiões limítrofes não possuem um espaço físico adequado e projetado para o lazer e recreação, tão pouco, para relação de seus habitantes, uma vez que se encontra a margem dos projetos públicos nesta área da cidade, dado o contexto social a que se encontra. Além de sofrer principalmente o bairro Pinheirinho com falta de infraestrutura básica como, pavimentação de vias e drenagem, devido a sua ocupação irregular ao longo do tempo, corrobora ainda, como problemática, que a arquitetura empregada no local aliada ao descaso sociopolítico, conduziu a segregação geoespacial do conceito de sociedade, aqui analiticamente enfrentado. Este projeto procura abordar os potenciais e as carências do bairro, embasado juntamente com educação e vida em sociedade, a fim de, através da arquitetura e urbanismo, buscar a equalização entre diferentes classes sociais, proporcionando espaços agradáveis e contemplativos em meio a natureza, tornando o habitat um lugar que valorize seus moradores como um todo. Palavras-chave: Projeto urbanístico, Intervenção urbana, Parque urbano. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Taxa de urbanização brasileira. ............................................................................... 19 Figura 2 - População Bairro Pinheirinho. ................................................................................. 23 Figura 3 - Características arquitetônicas de cada bairro. (A) e (B) Bairro Pinheirinho, (C) e (D) Bairro jardim Europa. ............................................................................................................... 26 Figura 4 - Padrões de efeitos topológicos e perspectivos. ........................................................ 29 Figura 5 - Exemplo de mapa mental. ........................................................................................ 30 Figura 6 - Elementos que formam a imagem mental do espaço. .............................................. 31 Figura 7 - Exemplos de composição da malha. ........................................................................ 32 Figura 8 - Exemplos de configuração de relevo. ...................................................................... 33 Figura 9 - Relações das edificações. ......................................................................................... 34 Figura 10 - Jardim de chuva do conjunto de apartamentos Buckman Heights em Portland, Oregon. ..................................................................................................................................... 42 Figura 11 - Esquema de um jardim de chuva. .......................................................................... 43 Figura 12 - Corte esquemático de um jardim de chuva. ........................................................... 43 Figura 13 - Tratamento de desníveis. ....................................................................................... 48 Figura 14 - Mapa de localização de Passo Fundo - RS. ........................................................... 50 Figura 15 - Implantação do Parque da Gare. ............................................................................ 51 Figura 16 - Setorização do Parque da Gare. ............................................................................. 52 Figura 17 - Visuais Parque da Gare. (A) Lago; (B) Pórtico; (C) Pista de Skate e Quadra poliesportiva. ............................................................................................................................ 52 Figura 18 - Elementos arquitetônicos construídos. (A) Acesso a edificação onde fica a feira do produtor; (B) Detalhe janelas; (C) Interior da edificação. ........................................................ 53 Figura 19 - Mapa de acessos e circulações do Parque da Gare. ............................................... 54 Figura 20 - Mapa de vegetação e edificação. ........................................................................... 55 Figura 21 - Eixos de equilíbrio e simetria Parque Gare. .......................................................... 56 Figura 22 - Materiais e mobiliários utilizados no Parque da Gare. (A)Deck em madeira entorno do lago; (B) Pergolado em estrutura metálica; (C) Pista de skate em concreto; (D) Brinquedos em madeira e ciclovia; (E) Escorregador em concreto polido; (F) Ponte sobre ....................... 57 Figura 23 - Mapa de localização de Changsha - China. ........................................................... 58 Figura 24 - Implantação The Hillside Eco-Park. ...................................................................... 59 Figura 25 - Setorização The Hillside Eco-Park. ....................................................................... 60 Figura 26 - Estilos e linguagem arquitetônica. (A) Passarelas sobre o lago; (B) Raso de água; (C) Rampas sobre o lago. ......................................................................................................... 60 Figura 27 - Mapa de acessos e circulações The Hillside Eco-Park. ......................................... 61 Figura 28 - Mapa de vegetação e edificação. ........................................................................... 62 Figura 29 - Mobiliários e materias utilizados e projetados. (A) Tapete de madeira; (B) Escultura da lagarta em aço inoxidável junto ao escorregador; (C) Parede educativa; (D) Escultura de joaninha em aço inoxidável; (E) Tapete de madeira que possibilita descanso;........................ 63 Figura 30 - Mapa de localização de Porto Príncipe - Haiti. ..................................................... 64 Figura 31 - Implantação Tapis Rouge. ..................................................................................... 65 Figura 32 - Setorização Tapis Rouge. ...................................................................................... 66 Figura 33 - Pintura de artistas locais nas paredes. .................................................................... 66 Figura 34 - Mapa de acessos e circulações no Tapis Rouge. ................................................... 67 Figura 35 - Eixos de equilíbrio e simetria Tapis Rouge. .......................................................... 68 Figura 36 - Materiais e mobiliários utilizados. (A) Anfiteatro aberto, pavimentado com paver de concreto; (B) Bancos em concreto; (C) Academia ao ar livre. ............................................ 69 Figura 37 - Mapa de localização de Chapecó, Santa Catarina. ................................................ 69 Figura 38 - Inserção urbana da área de intervenção na cidade de Chapecó-SC. ...................... 70 Figura 39 - Índices e parâmetros urbanísticos. ......................................................................... 71 Figura 40 - Legislação. ............................................................................................................. 72 Figura 41 - Sistema viário principal. ........................................................................................ 73 Figura 42 - Sistema viário entorno da área de intervenção. ..................................................... 74 Figura 43 - Conexões verdes a partir da área de intervenção. .................................................. 75 Figura 44 - Transporte público urbano. .................................................................................... 76 Figura 45 - Uso do solo. ........................................................................................................... 77 Figura 46 - Escolas. .................................................................................................................. 77 Figura 47 - Gabarito. ................................................................................................................ 78 Figura 48 - Figura-fundo .......................................................................................................... 79 Figura 49 - Malha urbana. ........................................................................................................ 80 Figura 50 - Topocepção na imagem mental do espaço. ........................................................... 81 Figura 51 - Topocepção na percepção espacial. ....................................................................... 81 Figura 52 - (A e C) direcionamento; (B e F) visual fechada e (D e E) mirante. ...................... 82 Figura 53 - Mapa de hipsometria. ............................................................................................. 83 Figura 54 - Condicionantes físicos e corte esquemático. ......................................................... 83 Figura 55 - Área de Preservação Permanente. .......................................................................... 84 Figura 56 - Sanga e área de APP. ............................................................................................. 85 Figura 57 - Sanga e área de APP. ............................................................................................. 86 Figura 58 - Sanga e área de APP. ............................................................................................. 87 Figura 59 - Gênero e faixa etária. ............................................................................................. 88 Figura 60 - Renda familiar........................................................................................................ 88 Figura 61 - Escolaridade. .......................................................................................................... 88 Figura 62 - Em qual bairro reside. ............................................................................................ 89 Figura 63 - Há quanto tempo reside no bairro. ......................................................................... 89 Figura 64 - No bairro em que você reside existe alguma praça ou parque público.................. 90 Figura 65 - Você gostaria que existisse praça ou parque público em seu bairro. ..................... 90 Figura 66 - Quais atividades você costuma praticar. ................................................................ 90 Figura 67 - Em quais locais você costuma praticar. ................................................................. 91 Figura 68 - Quais atividades você gostaria que tivesse. ........................................................... 91 Figura 69 - Fluxograma. ........................................................................................................... 95 Figura 70 - Conexões e centralidades. ...................................................................................... 96 Figura 71 - Partido. ................................................................................................................... 97 Figura 72 - Conceito. ................................................................................................................ 98 Figura 73 - Cortes esquemáticos para a proposta. .................................................................... 98 Figura 74 - A marca. ................................................................................................................. 99 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Evolução da população na cidade de Chapecó-SC. ................................................ 22 Tabela 2 - Programa de necessidades uso cultural. .................................................................. 92 Tabela 3 - Programa de necessidades uso educacional. ........................................................... 93 Tabela 4 - Programa de necessidades uso lazer e convívio. ..................................................... 93 Tabela 5 - Programa de necessidades uso comum. .................................................................. 94 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT – Associação Brasileira de NormasTécnicas APP – Área de Preservação Permanente IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística PDC – Plano Diretor da Cidade de Chapecó SUMÁRIO AGRADECIMENTOS ............................................................................................................. 5 RESUMO ................................................................................................................................... 6 LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................... 7 LISTA DE TABELAS ............................................................................................................ 10 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................................... 11 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 15 1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA DA PESQUISA ............................................................... 16 1.1.1 Questão problema .......................................................................................................... 16 1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 17 1.2.1 Objetivo geral ................................................................................................................. 17 1.2.2 Objetivos específicos ...................................................................................................... 17 1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 17 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................................... 19 2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA URBANIZAÇÃO ....................................... 19 2.1.1 Urbanização brasileira .................................................................................................. 19 2.1.2 Urbanização da cidade de Chapecó e dos Bairros Pinheirinho e Jardim Europa .. 20 2.2 DINÂMICA ESPACIAL DA SEGREGAÇÃO URBANA ............................................... 23 2.2.1 Segregação socioespacial entre os Bairros Pinheirinho e Jardim Europa. .............. 25 2.3 A DIMENSÃO MORFOLÓGICA TOPOCEPTIVA DOS LUGARES ............................ 28 2.3.1 Topocepção na percepção espacial ............................................................................... 28 2.3.2 Topocepção na imagem mental do espaço ................................................................... 30 2.3.3 Topocepção no conhecimento especializado dos lugares ........................................... 32 2.4 A CIDADE PARA PESSOAS ............................................................................................ 34 2.5 O ESPAÇO PÚBLICO ....................................................................................................... 36 2.6 O ESPAÇO PÚBLICO ALIADO A EDUCAÇÃO SOCIAL ............................................ 39 2.7 SOLUÇÕES URBANÍSTICAS .......................................................................................... 41 2.7.1 Sistema de iluminação com células fotovoltaicas ........................................................ 41 2.7.2 Pavimentações permeáveis ............................................................................................ 41 2.7.3 Jardins de biorrentenção .............................................................................................. 42 2.7.4 Revitalização da Área de Preservação Permanente ................................................... 44 2.7.5 Produção na escala do bairro ....................................................................................... 44 2.7.6 Arborização urbana ....................................................................................................... 45 2.8 LEGISLAÇÕES PERTINENTES ...................................................................................... 45 2.8.1 Estatuto da Cidade ........................................................................................................ 45 2.8.2 Plano Diretor de Chapecó ............................................................................................. 45 2.8.3 Plano Municipal de Mobilidade Urbana de Chapecó ................................................ 46 2.8.4 Diagnóstico socioambiental ........................................................................................... 47 2.8.5 ABNT NBR 9050:2015: Acessibilidade ........................................................................ 47 3. METODOLOGIA ............................................................................................................... 49 4. RESULTADOS DA PESQUISA ....................................................................................... 50 4.1 ESTUDOS DE CASO ........................................................................................................ 50 4.1.1 Parque da Gare .............................................................................................................. 50 4.1.2 The Hillside Eco-Park ................................................................................................... 57 4.1.3 Tapis Rouge .................................................................................................................... 64 4.2 DIRETRIZES DE PROJETO ............................................................................................. 69 4.2.1 Histórico da Área ........................................................................................................... 69 4.2.2 Inserção urbana ............................................................................................................. 70 4.2.3 Legislação ....................................................................................................................... 71 4.2.4 Sistema viário ................................................................................................................. 73 4.2.5 Conexões verdes ............................................................................................................. 75 4.2.6 Transporte público urbano ........................................................................................... 76 4.2.7 Uso do solo ...................................................................................................................... 76 4.2.8 Gabarito .......................................................................................................................... 77 4.2.9 Figura-fundo .................................................................................................................. 78 4.2.10 Malha urbana ............................................................................................................... 79 4.2.11 Morfologia urbana ....................................................................................................... 80 4.2.12 Condicionantes físicos ................................................................................................. 82 4.2.13 Perfil e demanda .......................................................................................................... 87 4.2.14 Programa de necessidades e pré-dimensionamento ................................................. 91 4.2.15 Fluxograma .................................................................................................................. 94 4.2.16 Estudo de manchas ...................................................................................................... 95 4.2.17 Conceitoe partido ........................................................................................................ 97 4.2.18 A marca ......................................................................................................................... 99 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 101 APÊNDICES ....................................................................................................................... 1017 15 1. INTRODUÇÃO A cidade de Chapecó está em constante expansão urbana e as regiões periféricas acabam sofrendo com desequilíbrios socioeconômicos, uma vez que, novos parcelamentos de solo são feitos sob diretrizes e legislações vigentes que promovem o ordenamento e progresso da cidade, assim os bairros antigos ficam estagnados, com falta de infraestrutura e projetos de desenvolvimento, acarretando uma inconstância social. Devido à projeção do contorno viário leste, a região dos bairros Pinheirinho e Jardim Europa, vem se tornando cada vez mais valorizada pela especulação imobiliária. São dois bairros separados pela Sanga Iracema. O bairro Pinheirinho é o mais antigo, se encontra à margem dos projetos públicos, estagnado frente ao desenvolvimento, sofre com a falta de infraestrutura adequada, pavimentação, drenagem pluvial, coleta de esgoto, segurança e por não possuir espaços públicos para convívio e lazer. Já o Jardim Europa é mais recente, em processo de ocupação, este é dotado de novos valores de usos e de uma nova densidade socioespacial. Desta maneira, busca-se o desenvolvimento do projeto de um parque urbano naquela localidade, para que promova mais qualidade de vida aos moradores, através de um estudo detalhado das legislações pertinentes e uma importante pesquisa da segregação urbana que ocorre naquela região da cidade, na premissa de estreitar a relação de convívio dos habitantes de ambos os bairros, considerando seus hábitos, costumes e cultura. Portanto, tem por escopo esta pesquisa, abordar os potenciais e as carências dos bairros, embasado juntamente com educação e vida em sociedade, de modo a, através da arquitetura e urbanismo, buscar a equalização entre diferentes classes sociais, proporcionando espaços agradáveis e contemplativos em meio a natureza, bem como, para prática de esportes e recreação, tornando os bairros um lugar que valorize seus moradores como um todo. O objetivo é desenvolver um anteprojeto de um parque no Bairro Pinheirinho em Chapecó, capaz de tornar-se um elemento de ligação física e social do tecido urbano. Ou seja, que proporcione uma relação entre os bairros enquanto parte da cidade e dos moradores como pertencentes a cidade. A fim de alcançar este objetivo, é necessário especificar como se deu a urbanização da cidade de Chapecó, por conseguinte, dos bairros Pinheirinho e Jardim Europa, bem como, a dinâmica espacial da presente segregação urbana. 16 Após, deve-se destacar a importância da cidade para as pessoas e como proporcionar com êxito, que estas e as próximas gerações tenham uma melhor qualidade de vida através da implantação de espaços públicos destinados a usos socioeducativos, esportivos e de convívio. Aplicando-se as legislações vigentes, aliadas a novas tecnologias e formas de projetar espaços para tais finalidades. Para melhor entender os espaços públicos, sua funcionalidade e contextualização, será realizado estudos de casos de parques e praças que possuam as conotações aplicáveis e compatíveis com o objetivo da pesquisa. Para a aplicação dos estudos concretizados, serão realizados levantamentos de dados e cartografia da área, ressaltando as carências e potencialidades dos bairros em análise, para que ocorra o desenvolvimento do anteprojeto de um parque urbano. A pesquisa será realizada com método científico indutivo, com caráter ao nível exploratório, delineada por levantamento bibliográfico tendo como principais autores, Roberto Lôbato Côrrea, Elaine Kohlsdorf, Jan Gehl, Jane Jacobs, Richard Rogers, Milton Santos, dentre outros, os mesmos foram trazidos para elucidar todo o contexto de urbanização, segregação socioespacial e como produzir espaços públicos para as pessoas. Questionários padronizados com perguntas estruturadas serão realizados utilizando técnicas de análise quantitativa e qualitativa, para apurar as opiniões do público alvo. A análise e interpretação dos resultados se dará pela apresentação de gráficos e tabelas. 1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA DA PESQUISA Anteprojeto de um parque urbano no Bairro Pinheirinho na cidade de Chapecó. 1.1.1 Questão problema Atualmente os bairros Pinheirinho e Jardim Europa, bem como, as regiões limítrofes não possuem um espaço físico adequado e projetado para o lazer e recreação, tão pouco, para relação de seus habitantes, uma vez que se encontram à margem dos projetos públicos nesta área da cidade, dado o contexto social a que se encontra. Além de sofrer principalmente o bairro Pinheirinho com falta de infraestrutura básica como, pavimentação de vias e drenagem, devido a sua ocupação irregular ao longo do tempo, corrobora ainda, como problemática, que a 17 arquitetura empregada no local aliada ao descaso sociopolítico, conduziu a segregação geoespacial do conceito de sociedade, aqui analiticamente enfrentado. Como promover maior qualidade de vida as pessoas através do urbanismo? 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo geral Desenvolver um anteprojeto de um parque urbano no Bairro Pinheirinho em Chapecó, capaz de tornar-se um elemento de ligação física e social do tecido urbano. 1.2.2 Objetivos específicos • Conhecer a história da urbanização da cidade de Chapecó e dos Bairros Pinheirinho e Jardim Europa; • Investigar a dinâmica espacial da segregação urbana na cidade de Chapecó; • Destacar a importância da cidade para pessoas; • Pesquisar a temática parque urbano e educação social; • Explorar soluções urbanísticas para o tema; • Buscar legislações referentes ao tema; • Realizar estudos de caso; • Desenvolver levantamentos de dados e cartografia da área; • Elaborar diagnóstico evidenciando potencialidades e carências da área; • Apresentar proposta de intervenção urbana com alicerce socioeducativo 1.3 JUSTIFICATIVA Tem por justificativa o anteprojeto de um parque que o mesmo proporcione espaços de recreação e lazer com conotação socioeducativa e contemplativa na região dos Bairros Pinheirinho e Jardim Europa, na cidade de Chapecó. 18 Nesta região periférica da cidade existe uma grande expansão urbana, devido a projeção do contorno viário leste, por conseguinte houve um desiquilíbrio socioeconômico entre os novos habitantes e os moradores antecedentes aos mesmos. Novos loteamentos estão sendo implantados levando em consideração a legislação e fiscalização pertinente no que tange a infraestrutura e desenvolvimento, entretanto o retro exposto, há divergência no que se refere aos investimentos nos bairros antigos, que se encontram repletos de vazios urbanos, áreas sem infraestrutura, sem pavimentação, drenagem e sem áreas de convívio públicas. Gerando assim, uma preocupante dissintonia social. Atualmente o bairro Pinheirinho não possui um espaço físico adequado e projetado para o lazer e recreação, tão pouco, para relação de seus habitantes, uma vez que se encontra a margem dos projetos públicos nesta área, dado o contexto social a que se encontra. Este projeto procura abordar os potenciais e as carências do bairro, embasado juntamente com educação e vida em sociedade, a fim de, através da arquitetura e urbanismo, buscar a equalização entre diferentesclasses sociais, proporcionando espaços agradáveis e contemplativos em meio a natureza, tornando o habitat um lugar que valorize seus moradores como um todo. 19 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA URBANIZAÇÃO 2.1.1 Urbanização brasileira Nos primórdios o Brasil, era um país essencialmente agrário, onde sua principal atividade econômica era a exportação de produtos de derivação agrícolas e extrativista. Segundo Milton Santos, em seu livro A Urbanização Brasileira: O processo de urbanização do país iniciou por volta da década de 1950, no século XIX, na era da industrialização, a mecanização do campo e a concentração fundiária de grandes produtores, dentre outros fatores, foram preponderantes para o êxodo rural, gerando um aumento populacional e o desenvolvimento do espaço urbano (SANTOS, 2013, p. 19). Em 1970, a maioria da população brasileira já vivia nas cidades, devido à grande oferta de emprego, saúde e educação nas mesmas. A taxa de urbanização que em 1940 era 26,36%, em 1980 alcança 68,86% (Figura 1). Figura 1 - Taxa de urbanização brasileira. FONTE: IBGE (Censos demográficos 1940 – 2000), 2017. Por conseguinte, esta urbanização desenfreada provocou várias mudanças e problemas na organização socioespacial do país, cada região de uma forma particular (SANTOS, 2013, p. 31). 0% 20% 40% 60% 80% 100% 1940 1960 1980 2000 Taxa de urbanização brasileira RURAL URBANA 20 O forte movimento de urbanização que se verifica a partir do fim da Segunda Guerra Mundial é contemporâneo de um forte crescimento demográfico, resultado de uma natalidade elevada e de uma mortalidade em descenso, cujas causas essenciais são os progressos sanitários, a melhoria relativa nos padrões de vida e a própria urbanização (SANTOS, 2013, p. 33). Milton Santos comenta; “Quanto mais intensa é a divisão do trabalho numa área, tanto mais cidades surgem e tanto mais diferentes são umas das outras” (SANTOS, 2013, p. 57). Ou seja, quanto mais uma cidade produz, mais ela vai se desenvolver, devido ao aumento de suas necessidades. Espaços distintos começam a ser criados, caracterizando seus moradores de formas opostas, divididos entre os bairros de classes econômica e sociais. Os planos urbanísticos e a atividade de planejamento no Brasil chegam a seu auge, na década de 1960 e início da de 1970 (...) entendia-se por planejamento urbano o conjunto das ações de ordenação espacial das atividades urbanas que, não podendo ser realizadas ou sequer orientadas pelo mercado, tinham de ser assumidas pelo Estado, tanto na sua concepção quanto na sua implementação (DEÁK e SCHIFFER, 2004, p. 13). O planejamento é de responsabilidade do Estado, na maioria das vezes, não é devidamente adequado a toda sociedade. Conectadas ao planejamento urbano estão as leis de zoneamento que determinam as formalidades do uso e a ocupação do solo (MARICATO, 2013). Portanto, o processo de urbanização brasileira progrediu de forma concentradora, com seus altos e baixos, apesar de em tese, se propor a melhorar a qualidade de vida da população e diminuir as distâncias, acabou se tornando um tema complicado, pois acarretou amplos problemas, que crescem a cada dia e acabam se tornando difíceis de serem resolvidos. 2.1.2 Urbanização da cidade de Chapecó e dos Bairros Pinheirinho e Jardim Europa O Município de Chapecó localiza-se no oeste do Estado de Santa Catarina, na inserção da bacia hidrográfica do Rio Uruguai, cujo curso define a divisa com o Estado do Rio Grande do Sul. “A história de sua colonização fazia parte de um projeto de colonização feito pelo governo estadual que objetivava colonizar todo o oeste de Santa Catarina, considerado pelas autoridades da época como um vazio demográfico” (ALBA, 2002, p. 21). O território do oeste e extremo-oeste de Santa Catarina, até 1916, tinha sido alvo de disputas entre Santa Catarina e Paraná, e anteriormente entre Brasil e Argentina – divergências conhecidas como a “Questão de Palmas” e a “Questão das Missiones”, respectivamente, sendo 21 esta última iniciada a partir da criação da Colônia do Sacramento, tendo o caso se encerrado em 1884 com a intervenção do presidente Cleveland, dos Estados Unidos, dando ação favorável ao Brasil (BELLANI, 1989). A desenvolvimento urbano de Chapecó está ligado ao processo histórico e econômico que compôs a região Oeste Catarinense (BAVARESCO, 2006, p. 1). Hass (2003), descreve que quando os primeiros desbravadores chegaram por volta de 1920, para explorar os recursos naturais, pinhais cercavam o pequeno povoado cortado pelo rio Passo dos Índios. Naquela época, Chapecó abrangia uma área de 14.053 Km², que atualmente seria a região Oeste Catarinense. A sede do município, inicialmente, estava situada no Passo Bormann, alternando-se com Xanxerê até que, em 1931, passou para a localidade de Passo dos Índios, que é hoje Chapecó (BELLANI, 1990). Em 1931, houve a primeira tentativa de planejar o espaço urbano com o desenho do traçado das ruas, o que se pode associar com o esboço do primeiro Plano Diretor, famoso por possuir o traçado de malha urbana ortogonal, com isso, Chapecó ficou conhecida como uma cidade planejada. As ruas foram organizadas e projetadas com um traçado largo, longo e retilíneo, já pensadas para um desenvolvimento futuro (FUJITA, BERTO e FACCO, 2014). O traçado lembra um tabuleiro de xadrez, proposto em virtude da busca pela uniformidade e regularidade da malha, sem considerar o relevo e a hidrografia existentes, (ZENI, 2007). O traçado implementado ocasionou diversos problemas na qualidade urbana e ambiental. Em 1960, o município de Chapecó exibia grande importância comercial em Santa Catarina. Foram aprovados então doze novos loteamentos na cidade de Chapecó, devido a demanda, pois, imigrantes vinham procurar emprego e necessitavam de lugar para morar (FUJITA, BERTO e FACCO, 2014). A década de 1970 foi marcada pelo desenvolvimento através de novas ações oficiais e de incentivos governamentais assim, o setor das agroindústrias se acentuaram na cidade (ZENI, 2007, p.39). A cidade de Chapecó, localizada na região de um dos maiores complexos agroindustriais do Brasil (...) quando se verifica uma desmetropolização e em contrapartida, um crescimento das médias e novas cidades, não é desprezível ao crescimento populacional e das atividades econômicas de Chapecó e, por conseguinte, do seu espaço geográfico (ALBA, 2002, p. 10). Através da Lei nº 068/74, surgiu em 1974, o 1º Plano de Desenvolvimento Urbano do Município, o mesmo fazia referência ao traçado original e adotava-o para estabelecer o ordenamento de uso e ocupação do solo (ALBA, 2002). 22 A partir do final da década de 1970 e decorrer da década de 1980, houve um aumento significativo das áreas habitadas. E em 1990 foi proposto um novo Plano Diretor para Chapecó, seguindo os princípios da Lei Complementar nº 04 de 31/05/1990, onde apresentava diretrizes urbanísticas, relativas ao meio ambiente, parcelamento do solo urbano, sistema viário, zoneamento e o código de obras (ZENI, 2007, p.40). Posteriormente, o Plano Diretor sofreu diversas alterações. Segundo o IBGE, em 2010, o município possuía uma população de 183.530 habitantes, 91,6% dos quais em área urbana e ocupa uma área de 626 km², apresentando uma densidade demográfica de 293,2 hab/km². O índice anual de crescimento de 2000 a 2010 foi igual a 2,48%, Tabela 1. Tabela 1 - Evolução da população na cidade de Chapecó-SC. ANO POPULAÇÃO TOTAL URBANA % RURAL % 1960 52.089 16.668 32 35.421 68 1970 49.865 20.275 40,7 29.590 59,3 1980 83.768 55.269 66 28.49934 1991 123.050 96.751 78,6 26.299 21,4 2000 146.967 134.592 91,6 12.375 8,4 2010 183.530 168.113 91,6 15.417 8,4 FONTE: IBGE (Censos demográficos 1960 – 2010), 2010. Conforme o censo 2010 feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população do Bairro Pinheirinho é disseminada entre homens e mulheres. Sendo que a população masculina, representa 1.040 habitantes, e a população feminina, 1.037 habitantes. O gráfico (Figura 2) a seguir evidencia essa relação: 23 Figura 2 - População Bairro Pinheirinho. Fonte: Censo IBGE, 2010. 2.2 DINÂMICA ESPACIAL DA SEGREGAÇÃO URBANA A cidade, enquanto agrupamento de pessoas diferentes, é uma estrutura complexa que abrange diversas experiências, sejam elas boas ou ruins. A diversidade qualitativa que é própria da cidade, abeira-se da desigualdade, pois, são as diferenças que geram a heterogeneidade e vitalidade dos organismos urbanos (SANTOS, 1988, p. 15). Ao longo de suas existências, as cidades sempre historiaram, de variados modos, as diferenças culturais, sociais e econômicas das classes que as miscigenam, muitas vezes por meio de dinâmicas espaciais segregatórias, onde as mesmas, vem assumindo características cada vez mais intransigentes na cidade contemporânea (VILLAÇA, 2001, p. 142). A segregação [no Brasil] afeta uma enorme parcela, não raro a maioria da população de uma cidade, a qual mora em favelas, em loteamentos de periferia ou em cortiços. Não se trata, nessa situação da segregação de um grupo especifico, por razões fortemente étnicas ou culturais, embora a correlação entre pobreza e etnicidade seja, conforme já se disse, forte, o que se tem é uma situação na qual os pobres são induzidos, por seu baixo poder aquisitivo, a residirem em locais afastados do centro comercial [...]. Nesses locais não é apenas a carência de infraestrutura a contrastar com os bairros privilegiados da classe média e das elites, que é evidente, a estigmatização das pessoas em função do local de moradia, é muito forte (SOUZA, 2011, p. 69). As dificuldades urbanas atuais, consubstanciam-se em, desigualdades sociais, irregularidade fundiária, precariedade habitacional, dificuldades de acessibilidade e mobilidade urbana, permanência do automóvel particular como meio de locomoção principal, aumento 24 desordenado das cidades, vazios urbana. Tudo isso, leva a uma fragilização do tecido urbano e, consequentemente, gera insegurança e violência, acarretando em disposições espaciais que provocam afastamento, domínio e privatização das rotinas diárias. A segregação como um mecanismo de dominação e exclusão, sempre impede ou dificulta o acesso dos segregados a algum serviço, benefício, direito ou vantagem, seja público, seja privado. Pode ser o conforto de um serviço de transportes, um bom parque, os serviços públicos ou os shoppings. A segregação espacial urbana atua através da acessibilidade ou seja, através das facilidades ou dificuldades de locomoção no espaço urbano. Uns têm os equipamentos e serviços urbanos mais acessíveis, outros, menos acessíveis entendendo-se acessibilidade em termos de tempo e custo de deslocamento no espaço urbano (VILLAÇA, 2001, p. 2) Conforme reforça Roberto Lobato Corrêa: A segregação é dinâmica, envolvendo espaço e tempo, e este processo de fazer e refazer pode ser mais rápido ou mais lento, de modo que uma fotografia, um padrão espacial, pode permanecer por um longo período de tempo ou mudar rapidamente. A dinâmica da segregação, no entanto, é própria do capitalismo, não sendo típica da cidade pré-capitalista, caracterizada por forte imobilismo sócio-espacial” (CORRÊA, 1989, p. 69). Conforme o autor, “a dinâmica espacial da segregação gerou, de um lado, aquilo que a literatura registra como sendo a “zona em transição”, área de obsolescência em torno do núcleo central, também denominada de “zona periférica do centro” (CORRÊA, 1989, p. 70). Essa organização no espaço também gera o padrão de segregação “centro x periferia”, em que: O primeiro, dotado da maioria dos serviços urbanos, públicos e privados, é ocupado pelas classes de mais alta renda. A segunda, subequipada e longínqua, é ocupada predominantemente pelos excluídos. O espaço atua [assim] como um mecanismo de exclusão (VILLAÇA, 1998, p. 143). Neste contexto de dinâmica da segregação, os bairros que possuem acesso fácil as atividades comercias e sociais, são valorizados cada vez mais, impedindo que muitos adquiram um imóvel nesta região, somados a especulação imobiliária que mantêm imensos vazios na cidade à expectativa de valorização. Este processo proporcionou que bairros habitados por pessoas de uma classe com melhores condições, fossem sendo constituído de novos valores de usos e uma nova segregação socioespacial. Para Corrêa, “Reproduz-se assim, através de novas formas, novas áreas sociais, segregadas e dotadas de “novos estilos de vida” (CORRÊA, 1989, p. 71). Ainda no mesmo condão, conforme citado anteriormente, famílias são levadas a deixar áreas centrais e se dirigirem para as zonas periféricas, carentes de uma infra-estrutura adequada e longe dos trabalhos e comércios. Nestes bairros, a criminalidade só aumenta e a qualidade de vida está cada vez mais precária. Eles carecem de uma atenção particular do Estado, com 25 projetos que busquem uma solução viável a essas regiões e sua população (MARICATO, 2013). Neste interím, há de se fazer um esforço coletivo para repensar, sob um olhar ético filosófico, os valores e propósitos da arquitetura e do urbanismo contemporâneos, buscando uma justa contribuição para a melhoria da qualidade de vida do ambiente construído e das cidades. Fica uma certeza, de que não se deve afastar pessoas e, sim promover contatos e vitalidade. 2.2.1 Segregação socioespacial entre os Bairros Pinheirinho e Jardim Europa. O surgimento de novos espaços urbanos com a implantação de loteamentos em locais afastados do centro, conquentemente gerou a disseminação de moradias irregulares em diversas áreas da cidade. “A cidade possui seu espaço urbano segregado, originado principalmente pela intervenção do Estado, do setor agroindustrial e dos promotores imobiliários no espaço, através do poder político, econômico e ideológico” (BEDIN e NASCIMENTO, 2010, p. 16). Na cidade de Chapecó, a segregação apresenta características espaciais próprias do modelo denominado “centro x periferia”, caracterizado pela concentração de camadas de alta renda nas áreas centrais e dos estratos menos favorecidas economicamente nas periferias. Apesar desta característica ainda ser predominante na cidade, percebe-se o início de uma mudança neste padrão espacial em decorrência de novas atividades de consumo e também uma mudança no padrão de habitação, que começa a destacar-se na atualidade, mediante o surgimento de condomínios residenciais fechados afastados da área central e de favelas dispersas ao longo do tecido urbano (BEDIN e NASCIMENTO, 2010, p. 3). Em Chapecó, a região do bairro Pinheirinho, localizado na área Leste da cidade, pode ser citado como exemplo de bairro periférico que persiste com problemas sociais que tem origem ainda no seu surgimento (GOMES, 1998). Vieira (2005, p. 14) entende a segregação socioespacial a partir da análise das relações que ocorrem: A segregação socioespacial se apresentaria como um processo de acesso desigual entre as diferentes classes da cidade, com um diferenciado consumo e utilização dos meios ou bens de consumo coletivo, como também com relação à sua localização espacial – ricos de um lado e pobres de outro (...) a segregação socioespacial nãoocorre de forma espontânea ou por vontade ou desejo próprio dos moradores – quando se trata da classe de menor renda – mas sim, determinada, programada e planejada, de modo a separar ricos e pobres (VIEIRA, 2005, p. 14-18). O bairro Pinheirinho é limítrofe do bairro Jardim Europa, sendo que os mesmos são separados pela Sanga Iracema, um afluente do Lajeado Passo dos Índios, muito embora a 26 proximidade física e geográfica, visualiza-se uma clara segregação socioespacial, uma assimetria georeferencial que converge na clara dissonância visual. Tal segregação deriva-se de muitas especificidades, dentre elas, data de criação dos bairros, sua população preponderante, descaso político no que se refere a infraestrutura, sua localização geográfica. E principalmente devido as habitações irregulares dispersos no tecido urbano do bairro, mas, principalmente junto às margens Sanga Iracema. Historicamente analisando o bairro Pinheirinho foi habitado, mesmo que em alguns pontos irregularmente, a mais tempo do que seu vizinho Jardim Europa, é perceptível em suas características arquitetônicas e urbanísticas, sua forma de habitação, disposição ou malha urbana, entre outros, conforme pode-se perceber na Figura 3. Figura 3 - Características arquitetônicas de cada bairro. (A) e (B) Bairro Pinheirinho, (C) e (D) Bairro jardim Europa. Fonte: A autora, 2017. A segregação urbana na área é visível, derivando-se de questões sociais e culturais, localização geográfica, status econômico da população predominante, aliada a falta de infraestrutura básica. Numa análise mais a fundo da segregação urbana e sua contextualização denota-se que o bairro Pinheirinho é povoado por população de classe média e baixa, esta localizado em região periférica da cidade, distante cerca de 10 (dez) quilômetros do centro da mesma, tendo sido A B C D 27 povoado de forma precária sem observância de infraestrutura básica, por este motivo, o valor imobiliário é mais acessível. Já, o bairro Jardim Europa é mais ressente e foi concebido de um projeto arquitetônico e urbanístico seguindo novos padrões legislativos, sendo implantado atendendo os elementos de infraestrutura básica, alem do projeto em questão, não ser pautado em viabilidade social para população de baixa renda. Diante do exposto, incorre nas duas localidades em análise a gritante segregação urbana, aonde uma microssociedade efetivamente não convive com a outra, desta maneira, motivada pelas diferenças culturais e socioeconômicas, contribui para a separação a falta de interesse público no que tange a soluções da problemática. “A dinâmica da cultura depende de crenças, convicções e comportamentos que são adquiridos. O estudo dos processos por meio dos quais a cultura é transmitida implica que nos interessemos, antes de tudo, pelas relações individuais” (CLAVAL, 2002, p. 145). “A cultura desempenha um papel crucial na produção do espaço urbano e na projeção da importância de uma cidade para fora de seus limites físicos, assim como o poder” (SOUZA, 2011, p. 28). Inclusão/exclusão social é o conceito utilizado para fazer referência a inserção de pessoas, grupos ou segmentos sociais que não têm as mesmas oportunidades dentro da sociedade, por motivos relacionados a condições socioeconômicas, de gênero, cor de pele, socioculturais, falta de acesso a tecnologias, entre outros. Tal inserção deve considerar as condições concretas em relação à existência da exclusão (LINDO, 2011, p. 50). A falta de investimento e interesse público na área, com foco nos habitantes, não tem desenvolvido projetos a fim de reduzir a desigualdade social, uma vez que, o conceito adotado na cidade de Chapecó, e desenvolvimento econômico industrial, desconsiderando o bem-estar dos citadinos. Os bairros em estudo, são a exemplificação clara da segregação urbana sócio espacial e de como a inobservância e ausência de políticas públicas do poder público pode causar um verdadeiro abismo social entre uma mesma sociedade, separando-as por classe econômica, expressões culturais, investimento infra estrutural, tornando uma incongruência físico temporal a existência de ambos os espaços. A segregação: Deve ser analisada segundo índices e critérios diferentes: ecológicos (favelas, pardieiros, apodrecimento do coração da cidade), formais (deterioração dos signos e significações da cidade, degradação do urbano por deslocação de seus elementos 28 arquitetônicos), sociológico (níveis de vida e modos de vida, etnias, culturas e sub- culturas etc.) (LEFEBVRE,2001, p.98) Desta incoerência espacial observada, se faz necessário, a fim de proporcionar inter- relação entre as massas, mecanismos de aproximação das pessoas, dos habitantes da localidade, neste aspecto, o planejamento urbanístico tem fundamental papel, ao passo que pode criar movimentos, relações, interesses convergentes, levando a convivência harmônica dos habitantes e proporcionando condições de vida aos moradores dos bairros. 2.3 A DIMENSÃO MORFOLÓGICA TOPOCEPTIVA DOS LUGARES A dimensão topoceptiva estrutura-se em três níveis cognitivos que são: percepção espacial, imagem mental e modo especializado. Relacionando a configuração espacial à noção de lugar, que mantém a segurança emocional dos indivíduos. Topocepção, é composto por topo, do grego, que significa lugar e ceptere e capetere, do latim, que indicam receber, apreender. O termo caracteriza-se pela observação e projeção do espaço, o que proporciona assim, orientabilidade e identificabilidade do lugar (KOHLSDORF e KOHLSDORF, 2017, p. 261). “A condição dessa experiência infinita é o próprio quadro urbano: a infinitude dos percursos anda junto com um espaço singular. ... Oferecendo um enquadramento para a caminhada, o espaço permite ... aventurar-se sem se perder” (MONGIN, 2009, p. 48). 2.3.1 Topocepção na percepção espacial O desempenho topoceptivo na percepção se realiza mediante atributos morfológicos de sua configuração que se dividem em incidentes nas dimensões morfológicas e específicos à dimensão topoceptiva (KOHLSDORF e KOHLSDORF, 2017, p. 272). Não se pode considerar a morfologia como se fosse realidade autônoma, que encontrasse em si mesma sua própria natureza e atributos. Assim, quer se trate de padrões gerais de organização do espaço, quer de elementos pontuais que o mobilizam, é preciso ir além do puro nível empírico, visual (MENESES, 1996, p. 148). Os atributos incidentes nas dimensões morfológicas, são um processo de construção da noção de lugar adaptados a topocepção em termos de: percursos significativos na situação 29 considerada, eventos gerais das sequências e campos visuais. As noções espaciais nos atributos específicos à dimensão topoceptiva constroem-se sobre composições de elementos morfológicos que podem ser materializados de diversas formas, “os efeitos topoceptivos estabelecem noções sobre o lugar por correspondência às duas relações nas quais aquelas se baseiam: a topológica e a perspectiva” (KOHLSDORF e KOHLSDORF, 2017, p. 275). “Toda a ação que humaniza a paisagem pode conter objetivos e valores estéticos que se comunicam através dos sentidos ou da percepção” (LAMAS, 2014, p. 58) As principais configurações de cenas topológicas mostram: estreitamento, paredes próximas ao observador; alargamento, paredes afastadas do observador; alargamento parcial, quando apenas uma das paredes aparentemente distancia-se; amplidão, quando todas as paredes estão muito longe; enclausuramento, quando todas as paredes estão próximas. Os efeitos perspectivos proporcionam a composição do observador com o espaço, dentreeles tem-se o direcionamento, emolduramento, impedimento, visual fechada, mirante, conexão efeito em Y e realce, Figura 4. Figura 4 - Padrões de efeitos topológicos e perspectivos. Fonte: Kohlsdorf, 2017. 30 Portanto o estudo da percepção ambiental interessa-nos enquanto compreensão das unidades selecionadas para compor a experiência visual. Para o Desenho Urbano, os objetivos principais destes estudos se tornam claros: a identificação de imagens públicas e da memória coletiva. A partir do estudo do que os usuários percebem, como e com que intensidade pode-se montar diretrizes para a organização físico-ambiental (DEL RIO, 1990, p. 92). 2.3.2 Topocepção na imagem mental do espaço As características desta topocepção encontram-se em qualquer representação imaginética de espaços, Figura 5, através de elementos como caminhos, bairros, limites, pontos focais e marcos visuais, que proporcionam orientabilidade e identificabilidade. “E significa necessariamente considerar as relações entre cada um destes e entre seus conjuntos, porque elas geram níveis informativos equilibrados, escassos, excessivos, ambíguos ou irrefutáveis” (KOHLSDORF e KOHLSDORF, 2017, p. 278). Figura 5 - Exemplo de mapa mental. Fonte: Kohlsdorf, 2017. . Caminhos, segundo Kevin Lynch, “são canais ao longo dos quais o observador costumeiramente, ocasionalmente, ou potencialmente se move. Podem ser ruas, calçadas, linhas de trânsito, canais, estradas-de-ferro” (LYNCH, 1960, p. 47). Importa ao efetivo desempenho topoceptivo que os caminhos sejam representados precisamente, de forma hierarquizada ou não, incluindo caminhos informais e também de vias sem pavimentação (KOHLSDORF e KOHLSDORF, 2017, p. 279). Na percepção de Lynch, bairros são partes razoavelmente grandes da cidade na qual o observador “entra”, e que são percebidas como possuindo alguma característica comum, 31 identificadora. (LYNCH, 1960, p. 66). Os bairros são separados por limites, podendo ser considerados barreiras ou pontos de ligação, conforme confirma Lynch: Limites, bordas ou fronteiras se podem configurar na imagem como barreiras, quando indicam separações entre partes; sob forma de costuras, caso em que exerçam papel de aproximá-las ou as unir; e também serem indefinidos sempre que não se apresentarem com nitidez no mapa mental (KOHLSDORF e KOHLSDORF, 2017, p. 279). Pontos focais, “são pontos estratégicos de uma cidade através dos quais o observador pode entrar, são os focos intensivos para os quais ou a partir dos quais ele se locomove” (LINCH, 1960, p. 52). Marcos visuais, possuem atributos principalmente relacionais, Lynch (1960, p. 53) destaca que “alguns marcos são distantes, tipicamente vistos de muitos ângulos e distâncias, acima do ponto mais alto de elementos menores e usados como referências radiais”. Pontos focais, assim como os marcos visuais possuem, hierarquia, intensidade e tamanhos. “Seus atributos de tamanho e forma se associam à hierarquia devida a suas intensidades, para estabelecer quantidade e a qualidade de informação que oferecem e assim incidir no desempenho topoceptivo dos lugares” (KOHLSDORF e KOHLSDORF, 2017, p. 279). (Figura 6). Figura 6 - Elementos que formam a imagem mental do espaço. Fonte: Kohlsdorf, 2017. 32 Ante o exposto, as características na imagem mental do espaço podem sofrer além das citadas, outras inspirações, “existem outras influências atuantes sobre a imaginabilidade, como o significado social de uma área, sua função, sua história ou mesmo seu nome” (LINCH, 1960, p. 51). “Com isto, objetivava identificar as imagens e as suas partes/elementos mais significativos” (DEL RIO, 1990, p. 93). 2.3.3 Topocepção no conhecimento especializado dos lugares Esta topocepção divide-se em três categorias, global, parcial e síntese. A categoria global refere-se a planta baixa, “nela se definem os elementos malha, macroparcelamneto, microparcelamento e relações entre cheios e vazios e semicheios, como relevantes à topocepção” (KOHLSDORF e KOHLSDORF, 2017, p. 282). Malha, Figura 7, é a composição dos eixos das vias de circulação, adjacente a malha tem-se as macroparcelas, que nada mais são do que a marcação das quadras, suas subdivisões correspondem aos lotes, estes designados de microparcelas. Por fim, a representação de cheios e vazios dentro dos lotes, é a projeção das edificações implantadas, através deste mapa é possível identificar o alinhamento da edificação em relação ao lote, além de proporcionar a visão dos espaços em que existem adensamentos de habitações (KOHLSDORF e KOHLSDORF, 2017, p. 283-284). Figura 7 - Exemplos de composição da malha. Fonte: Kohlsdorf, 2017. 33 A categoria parcial, segundo Kohlsdorf (2017, p.288), representa os elementos do sítio físico (Figura 8), bem como, relevo do solo, vegetação e sistema hídricos, juntamente com a composição espacial volumétrica das edificações, no que tange tamanho, forma, proporção e relações entre seus elementos arquitetônicos. Já, a categoria síntese representa os atributos morfológicos em um parâmetro geral, da estrutura interna do espaço, Figura 8 e Figura 9. Figura 8 - Exemplos de configuração de relevo. Fonte: Kohlsdorf, 2017. 34 Figura 9 - Relações das edificações. Fonte: Kohlsdorf, 2017. A importância da categoria de análise de “Morfologia Urbana” está em compreender a lógica da formação, evolução e transformação dos elementos urbanos, e de suas inter-relações, a fim de possibilitar-nos a identificação de formas mais apropriadas, cultural e socialmente, para a intervenção na cidade existente e desenho de novas áreas (DEL RIO, 1990, p. 85). 2.4 A CIDADE PARA PESSOAS O conceito de cidade para as pessoas tem por premissa tentar proporcionar com êxito que estas e as próximas gerações tenham uma melhor qualidade de vida através da implantação de espaços públicos com usos socioeducativos, esportivos e de convívio. (GEHL, 2013) O grande desafio a ser contraposto ao este conceito organizacional é a visão de cidade indústria, como se o conceito de pessoa aqui se opusesse a máquina, a capital, a lucro, a desenvolvimento e a progresso. Há desentendimento relativo a lógica do capital e do progresso, no que tende a pessoa, que atrela o bem-estar a decrescimento econômico, por exemplo. (GEHL, 2013) O arquiteto Jan Gehl, no livro “Cities for people”, Cidade para Pessoas, em tradução livre, (Island Press, 2010, 1ª ed.), sustenta, entre outras teses, que uma cidade para pessoas não 35 tem edifícios altos, pois o contato com a vida da cidade só se pode obter até o quinto andar, e que a questão da densidade se resolve com projetos arquitetônicos orientados por uma ideia humanista. Neste condão, uma cidade para pessoas teria políticas públicas a fim de transformar os espaços de mera capitalização de lucros focado somente em desenvolvimento econômico, que usa dos mecanismos do poder gerencial somente para movimento em espaços de convivência e desenvolvimento intelectual, desfocando a utilização do serviço público, do conceito de sobrevivência, elevando ao patamar de dignidade e vivencia (GEHL, 2013). Tudo é passível de associações simbólicas, possui referências a práticas e tradições locais – valores esquecidos por essa voga cultural, que parece querer a todo custo devolver aos cidadãos cada vez mais diminuídos nos seus direitos, materialmente aviltados e socialmente divididos, sua “identidade” (ou algo similar que o console de um embrulho cotidiano), mediante o reconhecimento de suas diferenças “imateriais” (ARANTES, 2014, p. 142).Segundo Jahn Gehl, os espaços públicos têm papel basilar na formação e conservação da identidade cultural de um povo. “Quanto mais espaço é ofertado, mais vida tem a cidade”. (Gehl, 2013, p.12), assim, as praças, parques e ruas de uma cidade devem ser pensados para a população, considerando o clima e os costumes locais e não somente a economia determinante. Seguindo essa ótica, é necessário estudar os desejos e necessidades dos citadinos, para que se possa entender como desenvolver os espaços públicos urbanos. Proporcionando espaços mais atrativos, criando e recriando mais cidades voltadas às pessoas (GEHL, 2013). O ponto fundamental tanto do jantar comemorativo quanto da vida social nas calçadas é precisamente o fato de serem públicos. Reúnem pessoas que não se conhecem socialmente de maneira íntima, privada, e muitas vezes nem se interessam em se conhecer dessa maneira (...) se os contatos interessantes, proveitosos e significativos entre os habitantes dascidades se limitassem à convivência na vida privada, a cidade não teria serventia (...) a confiança na rua forma-se com o tempo a partir de inúmeros pequenos contatos públicos nas calçadas. (...). Grande parte desses contatos é absolutamente trivial, mas a soma de tudo não é nenhum pouco trivial. A soma desses contatos públicos casuais no âmbito local – a maioria dos quais é fortuita, a maioria dos quais diz respeito a solicitações, a totalidade dos quais é dosada pela pessoa envolvida e não imposta a ela por ninguém- resulta na compreensão da identidade pública das pessoas, uma rede de respeito e confiança mútuos e um apoio eventual na dificuldade pessoal ou da vizinhança. A inexistência dessa confiança é um desastre para a rua. Seu cultivo não pode ser institucionalizado. E, acima de tudo, ela implica não comprometimento pessoal (JACOBS, 2000, p. 59-60). Para que os espaços públicos atraiam pessoas, é importante que estes ofereçam infraestrutura eficiente, pensando por exemplo, em lugares seguros e adequados para proteger- se do calor, da chuva e do vento, e evitar, assim, uma experiência sensorial desagradável, 36 espaços para descanso, leitura, observação, lazer, prática de exercícios áreas que se relacionem com a paisagem e os condicionantes. (GEHL, 2013) Uma rua com infra-estrutura para receber desconhecidos e ter a segurança como um trunfo devido à presença deles – como as ruas dos bairros prósperos – precisa ter três características principais: 1) Deve ser nítida a separação entre o espaço público e o espaço privado. O espaço público e o privado não podem misturar-se, como normalmente ocorre em subúrbios ou em conjuntos habitacionais. 2) Devem existir olhos para a rua, os olhos daqueles que podemos chamar de proprietários naturais da rua. Os edifícios de uma rua preparada para receber estranhos e garantir a segurança tanto deles quanto dos moradores devem estar voltados para a rua. 3) A calçada deve ter usuários transitando ininterruptamente, tanto para aumentar o número de olhos atentos quanto para induzir um número suficiente de pessoas de dentro dos edifícios a observar as calçadas (JACOBS, 2000, p. 35-36) Ainda que o conceito de cidade para pessoas seja em tese conflitante com o conceito de crescimento econômico e capital, deve-se tentar buscar um equilíbrio, a fim de que as políticas públicas sejam desenvolvidas pautadas em um conceito de “saúde ambiente e bem-estar”, assim teremos um capital econômico saudável pois a população que gera o desenvolvimento, também estará saudável. “Não só ao prazer estético do viver bem, mas sobretudo ao imperativo social de utilizar os meios técnicos ao nosso alcance em função da melhoria material da condição de vida dos habitantes” (ARANTES, 2014, p. 122). A primeira coisa que deve ficar clara é que a ordem pública – a paz na calçada e nas ruas – não é mantida basicamente pela polícia, sem isso negar a sua necessidade. É mantida fundamentalmente pela rede intrincada quase inconsciente, de controle e padrões de comportamento espontâneos presentes em meio ao próprio povo e por ele aplicados” (JACOBS, 2000, p. 32). 2.5 O ESPAÇO PÚBLICO Espaço segundo (CONCEITO.DE, 2013) é um termo que vem do latim spatium e que admite várias acepções. A principal diz respeito à extensão que contém a matéria existente, ou em uma acepção semelhante, o espaço é a parte que ocupa um objeto sensível e a capacidade de terreno ou lugar. No mesmo sentido determinante, público seria, portanto, do latim publicus, é um adjetivo que permite qualificar aquilo que é manifesto, notório, sabido ou visto por todos, e aquilo que pertence a toda a sociedade e que é comum ao povo. Em um conceito direto e etimológico espaço público, portanto, é o lugar, terreno, matéria que está aberto, a disposição de toda a sociedade, para fins de uso e gozo da população geral, assim, conclui-se que, em regra, qualquer pessoa tem o domínio, ainda que precário, 37 daquele bem, e neste corolário, focando na matéria, podendo circular ou fazer uso livremente do mesmo. (CONCEITO.DE, 2013) Habitualmente, abrangendo o conceito, espaço público seria um lugar destinado ao uso social típico da vida urbana, como um parque para o qual vão as pessoas com fins de lazer ou descanso, no qual, a administração pública é responsável pela regulação e pela gestão, fixando as suas condições de uso (CONCEITO.DE, 2013). “Em certos aspectos de seu desempenho, todo parque urbano é um caso particular e desafia as generalizações” (JACOBS, 2000, p. 98). Para Vicente Del Rio, os espaços públicos desempenham funções importantes, como relações sociais, culturais, de circulação e higiene, tanto mental como física. Sua importância não está na quantidade, mas nas suas relações ao contexto urbano a às atividades sociais (DEL RIO,1990). O órgão público tem por premissa garantir a acessibilidade dos espaços públicos a todos os cidadãos, sem distinções de qualquer tipo, por exemplo, não pode estar fechado a nenhuma classe social ou etnia que seja resguardado as especialidades legais, as quais não são o foco do presente estudo (CONCEITO.DE, 2013). Os espaços públicos “devem estar envolvidos pelo tecido urbano ou, pelo menos, encostados nele, com uma boa ligação ao sistema de transporte público e privado da cidade” (MASCARÓ, 2008, p. 29). Outro aspecto do espaço público é abrangido pela perspectiva de atuação política, analisado sob o foco de sua inclusão na categoria de objeto com propósito de uso e gozo comum, aberto a todos, este tem a finalidade, em conceitos abrangentes, a interação social, subdividido em funções materiais, qual seja, dar apoio físico às atividades coletivas e funções simbólicas, permitir o intercâmbio e o diálogo entre os membros da comunidade. (SERPA, 2007) Entre os denominados "filósofos do espaço público", destacam-se, as contribuições de Flannah Arendt e o filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas. Para Arendt, o espaço público é apresentado como “… lugar da ação política e de expressão de modos e subjetivação não identitários, em contraponto aos territórios familiares e de identificação comunitária.” (SERPA, 2007, p.16) e para Habermas, “… o espaço público seria o lugar para exellence do agir comunicacional, o domínio historicamente constituído da controvérsia democrática do uso livre e público da razão.” (SERPA, 2007, p.16). 38 Assim, neste contexto de espaço público com finalidade específica, junto a atuação da administração pelo ente governamental, pautado no conceito de bem comum de uso e gozo de todos, transcreve-se observações indispensáveis no que tange a responsabilidade de criação do que seria o espaço ideal. “O desafio do espaço públiconão se refere somente a espaço bem projetado, mas principalmente à programação e ativação do espaço” (KNUIJT, 2015, p. 86). A cidade em seu dinamismo próprio vai produzindo modificações na qualidade de seu espaço, destruindo “lugares” e substituindo-os por “não-lugares”, em sentido negativo se o planeamento urbano não é praticado por uma forte atuação governamental, monitorada por ativa participação da cidadania, controlando o sistema de circulação e a localização de atividades pelo seu zoneamento no espaço de uma cidade, à medida que ela vai crescendo. (FILHO, MALTA, 2003, p. 79) Ressalta-se um afastamento entre intimidade e exterioridade, entre o que pertence ao privado e ao público e uma sociedade que se ergue no declínio da experiência e na intensificação da vivência, marcando uma crise na forma e na capacidade de relação entre pessoas. É neste aspecto de antítese da vida em sociedade que o espaço público deve fazer seu papel reformador. (SERPA, 2007) As relações sociais constituídas entre os indivíduos e se transformam em sistemas simbólicos que para Serpa passam a ser caracterizados socialmente onde a “… diferença e desigualdade articulam-se num processo de apropriação espacial, definindo uma acessibilidade que é, sobretudo, simbólica” (SERPA, 2007, p.20). Os parques de bairro ou espaços similares são comumente considerados uma dádiva conferida à população carente das cidades. Vamos virar esse raciocínio do avesso e imaginar os parques urbanos como locais carentes que precisem da dádiva da vida e da aprovação conferida a eles. Isso está mais de acordo com a realidade, pois as pessoas dão utilidade aos parques e fazem deles um sucesso, ou então não os usam e os condenam ao fracasso (JACOBS, 2000, p. 97). “Caminhamos para a consagração do individualismo como modo de vida ideal em detrimento de um coletivo cada vez mais decadente” (SERPA, 2007, P.35), onde elevam-se barreiras alegóricas que alteram o espaço público e ocasionam uma aproximação de espaços, porém, individualizados. Conforme se observa, há uma dissintonia do conceito de sociedade no que tange a vida em coletividade, passando a ser mero agrupamento de pessoas em determinado espaço, tal fato se dá, entre outros motivos, mas com pontualidade na arquitetura e urbanismo público, na má gestão dos espaços públicos, que tem como foco a economia e capitalização e não a saúde e o bem-estar social (SERPA, 2007). 39 A visão econômica, se evidencia na valorização imobiliária, os parques urbanos são os artifícios de consumo, onde os mesmos são “… produtos de operações urbanas que buscam vantagens comparativas e atratividade para as áreas requalificadas” (SERPA, 2007, p.53). Os parques acabam valorizando a área onde são implantados, visto que, atraem aqueles que buscam uma melhor qualidade de vida e repelem aqueles com menores condições. “Os novos parques parecem ter sido concebidos como elementos centrais de operações urbanas para provocar voluntariamente uma implacável mecânica de substituição de população, funcionando como aceleradores das mudanças no perfil social dos bairros e cidades requalificados.” (SERPA, 2007, p.42). Diante de todo exposto, pode-se ressaltar a contradição conceitual de espaço público e sua aplicabilidade socioeconômica, o que pode ser acarretado como distorção da finalidade, estes aspectos relacionam-se para a resistência da segregação social, onde pessoas de baixa renda, aos poucos são afastadas dos lugares que pertenciam, ante a crescente habitação de uma classe social contrária e educacionalmente separatista, que se impõe através do potencial econômico direcionado aos espaços que julgam melhores pela infraestrutura apresentada. Considerando a preponderância de políticas públicas voltadas para crescimento do capital econômico no que tange a estrutura das cidades, os espaços públicos deveriam ser criados distintamente deste conceito, levando em consideração as pessoas e suas relações de convivência, preservando o idealismo conceitual de cidades para pessoas. Devemos buscar a recuperação de áreas verdes e espaços institucionais ocupados pela população empobrecida, sem alternativa de moradia (FILHO e MALTA, 2003, p. 69), para isso, não basta criar espaços públicos pois a Lei assim determina, é necessário que estes tenham a finalidade de destino, o conceito de cidade para pessoas, pode ser deslocado do macro espaço, para o micro espaço, a fim de auxiliar na gestão adequada destes espaços, aproximando-os da finalidade correspondente. 2.6 O ESPAÇO PÚBLICO ALIADO A EDUCAÇÃO SOCIAL A educação social, contextualizando com a dialética apresentada, deve ser entendida como educação além do espaço escolar, como uma progressão do indivíduo, a fim de aprimorar suas maneiras de interação e relações sociais (FREIRE, 1993). E ainda; 40 “Neste Serviço, entende-se por ação socioeducativa intervenções de caráter preventivo, que ampliam a possibilidade de trocas culturais e de vivências, desenvolvendo o sentimento de pertença e de identidade, fortalecendo vínculos familiares e incentivando a socialização e a convivência comunitária.” (SEDEST, 2014, p. 7) Inicialmente, ressalta-se a crescente ocupação dos espaços públicos na busca de maior aproximação da arte com o público, bem como com o cotidiano. Já a educação social na atualidade tende a acontecer somente no ambiente escolar. Num contexto urbano, tanto em função do sistema capitalista, quanto pelo desempenho da arte em espaço público de modo a tentar amenizar os conflitos por ele suscitados, a cidade deve ter o seu papel de educadora, como ressalta Freire: “...há um modo espontâneo, quase como se as Cidades gesticulassem ou andassem ou se movessem ou dissessem de si, falando quase como se as Cidades proclamassem feitos e fatos vividos nelas por mulheres e homens que por elas passaram, mas ficaram, um modo espontâneo, dizia eu, de as Cidades educarem” (FREIRE, 1993, p. 23). Por sua vez, segundo Freire pensar o espaço público é ao mesmo tempo pensar a cidade, no que tange, o cotidiano dos indivíduos, relações de convívio, de lugares diversos, a fim de contribuir positivamente na formação do indivíduo. Percebe-se que é na vida social e nos espaços do cotidiano, que acontecem a socialização e o entendimento dos valores sociais. As necessidades sociais[...] compreendem a necessidade de segurança e a de abertura, a necessidade de certeza e a necessidade de aventura, a da organização do trabalho[...]. O ser humano tem [...] necessidade de ver, de ouvir, de tocar, de degustar e a necessidade de reunir essas percepções num mundo. A essas necessidades antropológicas socialmente elaboradas[...] acrescentam-se necessidades específicas, que não satisfazem os equipamentos comerciais e culturais [...] trata-se da necessidade de uma atividade criadora, de obra, necessidades de informação, de simbolismo, de imaginário, de atividades lúdicas (LEFEBVRE, 2001, p. 105). Por isso, proporcionar sociabilidade e convivência ao mesmo tempo, também promove a ressignificação de realidades individuais e coletivas apresentando-se como um meio para a educação social. O conceito de educação urbana está diretamente relacionado com outros como equidade, cidadania inclusiva, coesão, sustentabilidade e educação para a paz. (PARK, 1967, p. 20). “Trata-se de uma lição de urbanidade que as pessoas contratadas para cuidar de criança snão têm condições de ensinar, porque a essência dessa responsabilidade é que ela seja exercida sem a necessidade de um contrato” (JACOBS, 2000, p. 91). Um dos principais sentidos da educação é a capacidade de promover o melhor crescimento possível ou desenvolver as potencialidades
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