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RESUMO CIVIL II AV1

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Obrigação como dever social: é uma acepção bastante ampla que equipara obrigação a qualquer dever que o sujeito tem de se comportar de determinada forma, sob pena de sanção. Nessa acepção, o próprio conceito de sanção é amplo, eis que abrange também sanções sociais, não necessariamente jurídicas. Assim, os deveres de uma pessoa não mentir a um amigo (norma social) ou de confessar-se ao menos uma vez no ano (norma religiosa) podem ser considerados obrigações nessa concepção. 
Obrigação como dever jurídico: também é uma acepção ampla, embora um pouco mais contida do que a obrigação como dever social. Aqui a obrigação é entendida como um dever imposto por norma jurídica, sob pena de sanção. Para melhor compreender essa acepção, vale lembrar os elementos estruturantes das relações jurídicas: o sujeito passivo é titular do dever jurídico, ao passo que o sujeito ativo é titular do direito subjetivo. Nesse caso, a obrigação confunde-se com o próprio dever jurídico titularizado pelo sujeito passivo. Por exemplo, aquele que causa dano a outra pessoa tem a obrigação (dever) de reparar os prejuízos.
Obrigação como relação jurídica: é a acepção estrita de obrigação, objeto do Direito das Obrigações. A obrigação é uma relação jurídica transitória em que o devedor (sujeito passivo/solvens) tem o dever de realizar uma prestação de natureza econômica, consistente em um dar, fazer ou não fazer (objeto) em favor do credor (sujeito ativo/accipiens), sob pena de o seu patrimônio responder pelo descumprimento (garantia). Traduzindo em exemplo, a relação jurídica entre locador e locatário de um imóvel é uma obrigação (ou relação jurídica obrigacional). 
ᴥ A obrigação, enquanto relação jurídica complexa e dinâmica, desenvolve-se para atingir um fim, qual seja o interesse do credor. 
Princípios norteadores das relações obrigacionais 
Autonomia privada: talvez seja um dos princípios mais importantes de todo o Direito Privado. Essa liberdade que a pessoa tem para criar regras aplicáveis aos seus negócios consiste justamente na autonomia privada - daí porque ela é comumente conceituada como o poder de autorregulamentação dos próprios interesses. As pessoas podem celebrar negócios jurídicos, considerados fontes de relações obrigacionais , é assim com a compra e venda, empréstimo, títulos de crédito e tantos outros. É no âmbito dos negócios jurídicos, portanto, que a autonomia privada encontra ambiente para desenvolver-se.
- Não é irrestrita e tem limites impostos pelo próprio ordenamento jurídico por meio de normas cogentes. Por mais que os sujeitos tenham liberdade para estabelecer as regras próprias de seus negócios, não podem contrariar disposições normativas de imperatividade absoluta, sob pena de invalidade do ato praticado.
- Normas de ordem pública, como as que tutelam os direitos de personalidade, ou as cláusulas gerais da boa-fé objetiva e função social do contrato não podem ser afrontadas pelo exercício da autonomia. 
Boa-fé: divide-se em boa fé subjetiva que consiste em crenças internas, conhecimento e desconhecimentos, convicções internas, consiste basicamente, no desconhecimento de situação adversa, por exemplo, comprar coisa de quem não é dono sem saber disso e em boa-fé objetiva que reflete a exigência de respeito, colaboração e fidelidade recíprocos, a boa fé objetiva são fatos sólidos na conduta das partes, que devem agir com honestidade, correspondendo à confiança depositada pela outra parte.
- Princípio da boa-fé objetiva foi positivado no art. 422 sob a forma de cláusula geral irradiante: ainda que esteja na parte relativa à Teoria Geral dos Contratos, deve ser aplicada a todas as relações jurídicas obrigacionais, contratuais ou não, que tenham o Código Civil como fonte direta ou subsidiária, como por exemplo, nos contratos administrativos.
- Pela cláusula geral da boa-fé objetiva, foi criado o padrão social do bom negociante, indivíduo no qual pode ser depositada confiança por apresentar conduta correta, leal e proba, cooperando sempre com a satisfação da obrigação
Destinatários da boa-fé objetiva:
– ao devedor que cabe cumprir a obrigação, conforme o espírito com a qual foi criada.
– o credor deve corresponder à confiança nele depositada e colaborar para a satisfação da obrigação.
– todos os sujeitos envolvidos precisam cooperar para atingir à finalidade objetiva do negócio com respeito e lealdade recíprocos.
ᴥ Apesar de estar de estar sendo explicitamente explicada no art.422 a Boa-fé Objetiva, a Boa-fé se encontra em outros artigos do código, tais como:
-Art.422= Função de criação de deveres anexos: A boa-fé objetiva é fonte de deveres. A relação jurídica obrigacional, além dos deveres de prestação e contraprestação, apresenta deveres anexos, também chamados de laterais ou deveres de conduta, que surgem não da vontade das partes, mas do padrão de conduta estabelecido pela boa-fé. Os deveres de proteção, lealdade e esclarecimento são deveres anexos na relação jurídica obrigacional.
Ex: Em um contrato de compra e venda de um veículo usado os deveres de prestação e contraprestação consistem na entrega do automóvel e no pagamento do preço, há também o dever anexo de o vendedor informar ao comprador se o bem já sofreu algum sinistro.
- Art. 113= Função de cânone interpretativo: A interpretação das regras que regem a obrigação deve ser feita conforme a boa-fé objetiva. 
- Art.187= Função de controle do abuso de direito ou limitação do exercício de direitos subjetivos: O exercício dos direitos subjetivos decorrentes das relações jurídicas obrigacionais é limitado pela razoabilidade imposta pela boa-fé objetiva, considerando ilícito o excesso que prejudique terceiros, ainda que não intencionalmente. 
ᴥ A obrigação pelo ângulo da boa-fé, passa a ser encarada como uma relação complexa que compreende, para além dos deveres de prestação voluntários, deveres involuntários de conduta.
Responsabilidade Patrimonial: previsto no art. 391, CC e no art. 78910 do CPC de 2015. 
Em um contrato de mútuo oneroso, empréstimo de bem fungível, se o devedor não pagar o valor devido no vencimento deverá arcar com juros, multa (se houver), podendo ter o seu patrimônio executado pelo credor pela via judicial. O patrimônio do devedor responderá pelos prejuízos sofridos pelo credor -art. 391-, tanto de ordem patrimonial quanto extrapatrimonial. Com exceção da prisão do devedor de alimentos, a prisão civil por dívida não é admitida no Direito brasileiro.
Exceções previstas em lei: 
a) os bens do sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação reipersecutória (art. 790, I, CPC/1512).
b) os bens do sócio, nos termos da lei (art. 790, II, CPC/15)
c) os bens do devedor, quando em poder de terceiros (art. 790, III, CPC/15)
d) os bens do cônjuge, nos casos em que os seus bens próprios, reservados ou se sua meação respondem pela dívida (art. 790, IV, CPC/15);
e) os bens alienados ou gravados com ônus real em fraude à execução (art. 790, V, CPC/15)
f) bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução (art. 833, I, CPC/1513)
g) os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida (art. 833, II, CPC/15)
h) os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor (art. 833, III, CPC/15)
i) os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional14 (art. 833, IV, CPC/15)
j) os livros, máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão (art. 833, V, CPC/15)
k) o seguro de vida (art. 833, VI, CPC/15)
l) os materiais necessários para obras emandamento, salvo se essas forem penhoradas (art. 833, VII, CPC/15)
m) a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família (art. 833, VIII, CPC/15)
n) os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social (art. 833, IX, CPC/15)
o) a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos (art. 833, X, CPC/15
p) os recursos públicos do fundo partidário recebidos por partido político, nos termos da lei (art. 833, XI, CPC/15) 
q) o bem de família, na forma da Lei n. 8.009/90.
r) bens cuja alienação ou gravação com ônus real tenha sido anulada em razão do reconhecimento, em ação autônoma, de fraude contra credores (art. 790, VI, CPC) s) bens do responsável, nos casos de desconsideração da personalidade jurídica (art. 790, VII, NCPC
t) os créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime de incorporação imobiliária, vinculados à execução da obra (art. 833, XII, NCPC).
Relatividade das obrigações: a obrigação é relativa porque ela vincula somente os sujeitos envolvidos na relação. O credor de uma obrigação apenas pode exigir o dever de prestação de seu devedor. Isso ocorre, por exemplo nas dívidas de pessoa falecida: em conformidade com o art. 1.997, CC15 , é o patrimônio do de cujus que responderá pelas dívidas até a partilha; uma vez realizada a partilha, o herdeiro responderá, porém nos limites das forças da herança.
- a Relatividade das Obrigações também apresenta temperanças, tanto advindas da própria lei (como na estipulação em favor de terceiros - arts. 436-438, CC) quanto da boa-fé objetiva e da função social do contrato (art. 421, CC).
Normas cogentes: Também chamadas de normas de ordem pública ou normas impositivas, são aquelas de imperatividade absoluta, ou seja, não podem ser derrogadas pela vontade das partes.
Caracteristicas da Relação Obrigacional
Relação Complexa: ou sistêmica significa admitir a existência de direitos e deveres que vão além do crédito e do débito propriamente ditos, é aceitar que cada posição subjetiva da relação obrigacional encerre um feixe de direitos (subjetivos e potestativos), deveres (de prestação e de conduta) e ônus que surgem durante o desenvolvimento da relação obrigacional, desde antes de sua formação até depois do seu cumprimento. 
ᴥ O direito subjetivo típico na obrigação é o direito de crédito. A noção de crédito compreende também o direito de o credor exigir prestações de dar coisa diferente de dinheiro, de fazer, de não fazer. O crédito tem que ser exigido apenas daquele que se comprometeu ao dever de prestação.
ᴥ O dever jurídico típico da relação obrigacional é o débito ou dívida. No sentido técnico envolvem qualquer dever de prestação que o devedor tem de realizar para a satisfação do interesse do credor. 
- Nas obrigações negociais o dever existe somente com relação àquele que anuiu com a criação da obrigação. Já nas obrigações decorrentes de ato ilícito ou de enriquecimento sem causa, o devedor encontra-se obrigado por fatores outros que independem de sua vontade de integrar a relação na qualidade de devedor. 
- A obrigação é uma relação transitória que é extinta quando for satisfeito o interesse do credor. Pelo princípio da responsabilidade patrimonial, todo o patrimônio do devedor responde pelo adimplemento da obrigação (art. 391, CC). 
- Não apenas o adimplemento extingue a obrigação. Outras situações podem dar causa à extinção como: a destruição ou inutilidade do bem aos fins a que se destina.
- Tanto no contrato de seguro quanto no de previdência privada, a morte do credor extingue a obrigação. O que se deve, portanto, ter em mente é que a obrigação não é perpétua.
Patrimonialidade da prestação: é tema sobre o qual não há consenso na doutrina. O objeto da prestação em uma relação obrigacional deve ter conteúdo patrimonial, apreciável economicamente direta ou indiretamente.
- A relação obrigacional é um vínculo que une credor e devedor, não podendo ser oposto a outra pessoa estranha à relação. Apenas credor e devedor estão vinculados e, em regra, o credor pode exigir a prestação apenas do devedor. Logo é uma Eficácia Relativa. 
Direito Patrimoniais podem se dividir em dois:
Direitos pessoais: são os direitos subjetivos que decorrem da relação obrigacional (direitos de crédito). Caracterizam-se por serem dotados de eficácia relativa e por exigirem uma conduta, positiva ou negativa, do sujeito passivo, que pode ser determinado ou ao menos determinável. São transitórios e podem ser típicos ou atípicos, as partes podem criar diferentes tipos de obrigação, independentemente de previsão legal, desde que respeitem normas cogentes.
Ex: O comprador tem o direito de exigir apenas do vendedor que entregue o bem mediante o pagamento do preço (eficácia relativa). Uma vez entregue o bem e pago o valor a ele correspondente (necessidade da ação de outro sujeito para a satisfação do direito), a relação é extinta, assim como os direitos de crédito (transitoriedade).
Direitos reais: têm eficácia absoluta (oponibilidade erga omnes) e correspondem à sujeição de uma coisa ao poder do titular do direito. Por terem oponibilidade erga omnes, não apresentam um destinatário determinado: todas as pessoas têm o dever de não obstar o exercício do direito real pelo seu titular, sendo chamado pela doutrina de sujeição passiva universal. Dessa maneira, o exercício de um direito real se opera independentemente da conduta de qualquer outro sujeito. São perenes e típicos e por aderirem à coisa podem recobrá-la das mãos de quem quer que seja (sequela). Integram o rol dos direitos reais a propriedade e seus desdobramentos (art. 1.225, CC).
Ex: Uma vez adquirida a propriedade na forma da lei, o proprietário pode usar gozar e dispor da moto (sujeição da coisa ao titular), sem interferência de outras pessoas, que devem apenas respeitar a propriedade alheia (eficácia absoluta). O direito de propriedade sobre a moto é perene e apenas será extinto pela alienação, abandono, renúncia, destruição da coisa ou pela usucapião. 
- A tutela externa do crédito suaviza a eficácia relativa das obrigações e questiona a dicotomia entre direitos pessoais e direitos reais na medida em que protege o crédito de intervenções externas, impedindo que terceiros acabem por frustrar o interesse do credor. 
- Causa e controvérsia: a causa (a lide deduzida em juízo) e a controvérsia (a questão jurídica a ser resolvida), dizem respeito à situação jurídica de mutuários em relação à cessão de títulos de crédito caucionados entre o agente financeiro primitivo e a Caixa Econômica Federal-CEF, sucessora do BNH, quando se dá quitação antecipada do débito. A CEF pretende exercer seus direitos de crédito contra os mutuários, ante a inadimplência do agente financeiro originário. Ausência de precedentes nos órgãos da Primeira Seção.

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