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ml no 3 - DEZ/2004 
- a - L - - - Ii INFORMATIVO CEATRIM 
Centro de Apoio à Terapia Racional pela Informação sobre Medicamentos 
. -c A Organização Mundial de Saúde aponta a disseminação de informação sobrè plantas medicinais como uma das estratégias a 
m; i3 
2 m 8 serem implementadas para assegurar o uso racional destes produtos. Entre os problemas mais comumente citados na literatura 
encontra-se a interação entre ~lantas medicinais e os medicamentos, razão pela qual se constitui o tema deste boletim. 
0 o 
- 
Interacões entre Plantas e Medicamentos 
C) 
Débora Ornena Futuro*, Fi~iti,iiida de Souza Fiorini*", Selma Rodiigues de Castilho*** 
"Profa. Adjunto, Departamento de Tecnologia Farmacêutica e de Cosméticos, Fac. Farmácia - UFF 
**Acadêmica, Estagiária do CEATRIM/CMF/UFF 
"""Profa. Adjunto, Departamento de Farmácia e Administração Farmacêutica, Fac. Farmácia - UFF 
Descle o início da história das civilizações -o homem apren- 
deu a distinguir dentre as plantas aquelas que eram vene- 
nosas e as que poderiam favorecê-lo como alimento ou no 
alívio de suas dores. Foi pela curiosidade e pela necessi- 
dade que esse homem desenvolveu gradualmente o dom 
de manipulá-las e transformá-las em poções, experimen- 
tando-as das mais variadas formas. 
A arte de curar foi transmitida, no início, pela tradição oral. 
Mais tarde, esse conhecimento foi perpetuado sob a forma 
escrita em papiros, placas de argila, pergaminhos, manus- 
critos herbais e farma~o~éias. ' No aperfeiçoamento da ci- 
ência médica, tornou-se indispensável a conjugação de es- 
forços para o entendimento dos medicamentos criados. A 
Botânica ofereceu instnimentos para a classificação e a 
identificação das espécies vegetais usadas, a Química pos- 
sibilitou o conhecimento das substâncias sintetizadas pelo 
reino vegetal e colaborou com a Farmacologia no estabe- 
lecimento dos princípios ativos de muitas plantas medicinais. 
A evolução da Química tornou possível a síntese de produ- 
tos naturais biologicamente ativos e sua modificação es- 
trutural para obtenção de medicamentos mais eficazes que 
os de oiigem natural. 
Progressivamente, as preparações fitoterápicas passaram 
a ser menos 'procuradas. Contudo, sua utilização reapare- 
ce com força revigorada nas últimas décadas. É a volta ao 
natural, movimento observado em países desenvolvidos e 
subdesenvolvidos na procura de métodos alternativos de 
terapia em reação aos exageros e abusos no emprego de 
produtos químicos e de fáimacos sintéticos. Não demorou 
muito para que a demanda por produtos fitoterápicos de- 
monstrasse uma força genuína, que passou a chamar a aten- 
ção de grandes laboratórios farmacológicos. O potencial 
de. mercado desses produtos tem mostrado uma tendência 
de crescimento considerável, bem acima do mercado de 
produtos farmacêuticos como um todo. ' 
A medida que um maior número de pessoas recorre 
aos fitoterápicos e à s plantas medicinais, o número 
d e interações relatadas en t re es tes medicamentos 
vem crescendo. No entanto, suspeita-se que um nú- 
mero ainda maior de interações deixou de s e r noti- 
f icado pelo fato dos pac ien tes não relatarem aos 
profissionais d e s aúde o uso conjunto d e medica- 
men tos e produtos f i t o t e r áp i cos , complemen tos 
nutricionais e preparações caseiras a base de plan- 
tas medicinais. 
Indispensável , portanto, iniciar a discussão sobre 
a i n t e r f e r ê n c i a d o s p rodu tos f i t o t e r á p i c o s n a s 
ações de medicamentos, de forma a ampliar a ca- 
pac idade d e percepção dos profissionais d a á r ea 
de saúde para ocorrências des te tipo. 
As i n t e r a ç õ e s e n t r e m e d i c a m e n t o s e p l a n t a s 
m e d i c i n a i s p o d e m s e r d e n a t u r e z a 
f a r m a c o c i n é t i c a o u f a r m a c o d i n â m i c a . As 
i n t e r a ç õ e s ' f a r m a c o c i n é t i c a s oco r r em p o r e f e i - 
tos d e t rocas na q u a n t i d a d e d e s u b s t â n c i a s a t i - 
vas d i spon íve i s e s ão consequênc ia s d e a l t e r a - 
ções e m s u a abso.rção, me tabo l i smo , d i s t r i b u i - 
ç ã o o u e l i m i n a ç ã o . A s i n t e r a ç õ e s 
f a r m a c o d i n â m i c a s têm l u g a r no s í t i o q u e a t u a 
o m e d i c a m e n t o e p o d e m s e r t a n t o a g o n i s t a s 
como a n t a g o n i s t a s . Por exemplo , u m p a c i e n t e 
q u e tome d i g o x i n a e u m a p l a n t a q u e t a m b é m 
possua g l i cos ídeos , como S c r o p h u l a r i a nodosa , 
pode r i a expe r imen ta r n íve is e a t i v idade exces - 
s i v o s d e g l i c o s í d e o s , e m d e c o r r ê n c i a do 
somatór io d o s e f e i t o s d a s d u a s s ~ b s t â n c i a s . ~ 
O r e s u l t a d o d a i n t e r a ç ã o e n t r e m e d i c a m e n t o e 
p l a n t a med ic ina l pode s e r benéf ico , dan inho ou 
n e u t r o , d e p e n d e n d o d o n í v e l e d o t i p o d e 
i n t e r a ç ã o . 
A l g u m a s p l a n t a s p o s s u e m p r o p r i e d a d e s 
h i p o g l i c e m i a n t e s q u e p o d e m t e r u m e f e i t o 
s i n é r g i c o com os a g e n t e s h i p o g l i c e m i a n t e s d e 
p r e s c r i ç ã o . Em um p a c i e n t e p o u c o in fo rmado , 
um a g e n t e h i p o g l i c e m i a n t e d e o r igem v e g e t a l 
p o d e p rovoca r n í v e i s p e r i g o s a m e n t e r e d u z i d o s 
d e g l i cose no ~ a n g u e . ~ 
Ex i s t em i n t e r a ç õ e s po t enc i a i s b a s e a d a s no co- 
nhec imen to d a f a rmacod inâmica d e um produto 
e a a p l i c a ç ã o d e p r i n c í p i o s b á s i c o s d e f a r m a - 
co log ia . Ass im, t o d a s a s p l a n t a s q u e possuem 
e f e i t o l a x a n t e po r a u m e n t a r o bolo i n t e s t i n a l 
( s e n e , c á s c a r a s a g r a d a , f r a n g u l a , P l a n t a g o 
ova ta ) pode r i am d i m i n u i r a abso rção d e de t e r - 
m i n a d o s m e d i c a m e n t o s ( c á l c i o , f e r r o , l í t i o , 
d igox ina e a n t i c o a g u l a n t e s ora is ) . '* 
S e g u n d o in fo rme r e c e n t e , a E r v a d e S ã o João medicamentos . E a warfar ina é no fármaco a q u e 
( H y p e r i c u m p e r f o l i a t u m ) é a p l a n t a m a i s c o m m a i s f r e q ü ê n c i a s e c i t a e m c a s o s d e 
f r e q u e n t e m e n t e i m p l i c a d a com i n t e r a ç õ e s com i n t e r a ç õ e s e n t r e med icamen tos e p l an t a s . 
É provavelmente a forma mais freqüente de interação. buir para a ocorrência d e transtornos hemorrágicos, 
As mais comuns envolvem a warfarina. As plantas que dificultando a absorção e o metabolismo, imitando a 
possuem c u m a r i n a s ou s u b s t â n c i a s s imi l a r e s à atividade anti-plaquetária ou por mecanismos desco- 
cumarina ou análogos da vitamina K podem contri- nhecidos. 4-8 
P l a n t a s q u e p o d e m 
i n t e r a g i r c o m war fa r ina 
Pimpinella anisum (Erva doce) 
Capsicum annum (Pimentão) 
Angélica sinensis (Angélica chinesa) 
Allium sativum (Alho) 
Zingiber oficinale (Gengibre) 
Eleutherococclls senticosus (Ginseng siberiano) 
Ginkgo biloba (Ginkgo) 
Camellia sinensis (Chá preto) 
Curcuma longa (Açafrão) 
Tanacetum parthenicum 
Salvia miltiorrhiza 
Chamomile recutita 
Hypericum perfoliatum (Erva de São João) é uma das plan- sos graus. 'O-'' Também utiliza aspectos do citocromo P- 
tas medicinais mais empregadas no mundo, sendo indicada 450 e inibe a absorção gastrointestinal de várias substân- 
para o tratamento da depressão, da ansiedade e da insônia. cias. Devido a seu amplo espectro de atuação, pode interagir 
Estudos in vitro demonstraram que pode interferir com váriosdiminuindo os níveis dos seguintes fármacos por aumentar 
neurotransmissores, como a serotonina, ácido gamma seu metabolismo: 
sminobutirico (GABA), dopamina e norepinefrina em diver- 
ciclosporina amitriptilina 
digoxina indinavir 
Simvastatina Midazolam 
warfarina teofilina 
contraceptivos orais 
inibidores seletivos da recaptação de serotonina e loperamida 
PLANTAS COM POTENCIAL ELETROL~TICO E DE ALTERAÇÁO DE FLUIDOS 
Alguns medicamentos, como os corticóides e certos terar os níveis de potássio, podem interagir com estes me- 
diuréticos, reduzem os níveis de potássio no corpo. Outros, dicamentos. Plantas com atividade laxante podem alterar 
como a digoxina, têm efeitos que variam em função da os níveis de eletrólitos e a absorção de outros medicamen- 
quantidade de potássio do paciente. tos orais.6 Substâncias que promovem a depleção de potás- 
As substâncias de origem vegetal, que são capazes de al- sio mediante ação diurética, laxante ou outras, estão em: 
Aloe barbadensis (Babosa) 
Curum carvi (Alcaravia) 
Ricinus communis (Mamona) 
Taraxacum officinale (Dente-deleão) 
Scrophularia nodosa (Escrofulária) 
Linum usitatissimum (Linhaça) 
Mentha piperita (Hotelá-pimenta) 
Triticum vulgare (Trigo) 
Achillea millefolium (Mil-folhas) 
Sambucus canadensis 
Helichrysum petiolare 
Plantago afra-psilium 
PLANTAS COM ATIVIDADES HIPOGLICÊMICAS E HIPERGLICÊMICAS 
Algumas plantas podem causar hipoglicemia se forem utilizadas de forma sinérgica com medicamentos de prescrição 
em pacientes diabéticos ou com controle de glicemia alterado.'' 
Entre as plantas que podem causar hipoglicemia, estão: Entre as que possuem potencial hiperglicemico, estão: 
T k F n f J a h ~ (Feno Grego) Ephedra sinica (Efedra) 
Allium sativum (Alho) Zingiber officinale (Gengibre) 
C e m * (GOmaW?) Urtiga dióica (Urtiga) 
Plantago ovata 
As propriedades sedativas dos benzodiazepínicos, barbitúncos e narcóticos podem ser potencializadas quando são utiliza- 
dos junto com determinadas plantas por ocorrer uma potencialização do efeito depressor sobre o Sistema Nervoso 
São elas: 
Capsicum annum (Pimentão) Humulus lupulus (Lúpulo) 
Nepeta cataria (Gataria) Piper methysticum (Icava kava) 
Apium graveolens (Aipo) Melissa ofJicinalis (Melissa) 
Matricaria chamomilla (Camomila) Sassafrás albidum (Sassafrás) 
Panax ginseng (Ginseng) Urtiga dióica (Urtiga) I 
Gingiber officinale (Gengibre) Valeriana oficinalis (Valeriana) I 
Plantas com atividades cardíacas, combinadas com fármacos cardíacos de prescrição, incluindo anti-hipei-tensivos e 
agentes cronotrópicos e ionotrópicos, podem causar alterações cardiovasculares.3 
Entre os exemplos estão: 
C-- (Erva-de-São-Cristóvão) Trigonella graceum 
Cola acuminata Cola Panax ginseng 
H ~ ~ p v r x z r m b a i s Garra-do-Diabo Glycyrrhiza glabra 
Ephedra sinica E fedra Daucus carrota 
Zingiber oficinale 
Ginseng 
Alcaçuz 
Gengibre 
O conhecimento sobre estas interações é limitado, tanto 
pela população quanto pelos profissionais de saúde. Ván- 
os problemas contribuem para a ocorrência da interação 
entre plantas e. medicamentos, bem como pela baixa difu- 
são desta informação na sociedade. 
Entre estes fatores destacam-se: o problema de uma iden- 
tificação correta das espécies vegetais usadas em produ- 
tos naturais; a falta de padronização dos princípios ativos 
constituintes de muitos extratos vegetais, a ausência de 
estudos formais sobre interações medicamentosas, a falta 
de incorporação sistemática das plantas nos programas de 
farma~ovi~ilância, a falta de atenção por parte dos médi- 
cos sobre o consumo destes produtos e muito provavel- 
mente falta. de treinamento dos profissionais de saúde de 
identificarem episódios de interações medicamentosas em 
geral. 
Todos estessfatores são agravados pela falsa sensação de 
segurança quanto ao uso de plantas medicinais, caracte- 
rística na maioria dos usuários. Desta forma, 
muitas vezes, o uso concomitante destes produtos com ou- 
tros medicamentos das mais variadas origens sequer é co- 
municado aos profissionais de saúde. 
Sem dúvida, existem casos documentados o suficiente para 
recomendar uma atitude vigilante, especialmente quanto 
aos pacientes que se tratam com medicamentos com po- 
tencial para provocar interações clinicamente relevantes 
(anti-coagulantes, anti-epiléticos, anti-retrovirais, 
imunosupressores, etc). 
Além das publicações e notificações de casos, existem 
múltiplos compêndios que podem ser utilizados como fon- 
tes de informações sobre plantas medicinais com um grau 
variável de aval científico das distintas propriedades que 
são atribuídas a eles. A contribuição dos farmacêuticos é 
muito importante no sentido de orientar e esclarecer os 
usuários de fitoterápicos não só sobre os cuidados na sua 
utilização, mas também sobre seus riscos em potencial, 
trabalhando pelo fim do conceito popular de que tudo que é 
natural ou vindo da natureza é "inócuo", não faz mal. 
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2003, 27(6):162-167. http://www.msc.es/farmacia/ 
infmedic, acessado em 2811 1/2004, 
CEATRIM 
Faculdade de Farmácia da UFF - Rua Mário Vianna, 523 - Santa Rosa - Niterói (RJ). 
Farmácia Universitária da UFF - Rua Marquês do Paraná, 282 Centro - Niterói (RJ). 
Telefones: (21) 2629-9600 e (21) 2629-9451 
E- mail: ceatrim@vm.uff.br 
E O U I P E 
Profa. Selma Rodrigues de Castilho (coordenadora) 
Profa. Débora Omena Futuro. 
Prof. José Raphael Bokehi. 
Bolsistas: Ana Alice Pereira, Wagner Decotte Vianna, Flávia Cardoso Soares. 
Estagiários: Marcelo Marsico, Aline Moreria Affonso, Luciana Almeida, Fernanda Fiorinni, Feinanda Affonso, 
Ulisses R. do Nascimento.

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