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Curso de roteiro
Autor: Emilio Carlos 
1 
mailxmail - Cursos para compartir lo que sabes
Presentación del curso
Con este curso puedes conocer todo el proceso necesario para orientarte al escribir
un guión destinado, especialmente, al cine o a la televisión. Prueba este curso y
verás como tu expresión lingüística en lengua portuguesa mejora mucho.
2 
mailxmail - Cursos para compartir lo que sabes
1. Introdução
Muita gente sonha em escreve um roteiro para Cinema e/ou TV.
As dificuldades começam ao se buscar informação a respeito. Poucos são os livros
disponíveis. Cursos geralmente só acontecem em grandes cidades e normalmente
são pagos. Mesmo na internet não se encontra muito.
Foi por isso que eu resolvi escrever esse Curso de Roteiro e disponibiliza-lo
gratuitamente no site Banco de Roteiros. É uma forma de democratizar mais a
informação, de dividir a experiência que eu tenho com você. É também uma forma
de agradecer a todos aqueles que colocam informação na internet em várias áreas,
da música à informática, e que já me ajudaram tanto em minhas pesquisas.
Objetivo - durante as aulas você vai acompanhar como eu escrevo um roteiro passo
a passo, etapa por etapa. No final, seguindo essas mesmas etapas, espero que você
possa também escrever o seu roteiro.
Faremos o roteiro de um Curta metragem. Os elementos da trama estão todos aí
como num longa, mas numa escala menor. Aconselho a escrever alguns curtas antes
de tentar escrever um longa-metragem.
3 
mailxmail - Cursos para compartir lo que sabes
2. Tudo que você puder
Ser roteirista é mais do que apenas escrever. Ser roteirista é também um estado de
espírito.
Muita gente acha que é roteirista quando senta ao computador e digita as primeiras
linhas de uma cena. Mas o verdadeiro roteirista é roteirista em tempo integra.
Digamos quase 24 horas por dia.
Ao seu lado ou na sua frente pode estar acontecendo algo que será o tema do seu
próximo roteiro. Ou até o próprio roteiro.
Afinal qual é a matéria-prima do roteiro? A vida, a imaginação, a observação e a
formatação artística de tudo isso temperada com o seu talento.
Talento: apenas uma palavra com tantos significados. Muitos tem talento, poucos o
usam. Muitos tem talento, poucos o desenvolvem.
Então você precisa ter e usar o seu talento. Sempre.
Estar sempre atento a realidade, às pessoas e situações a sua volta, a si mesmo. Um
roteirista, para ser original, precisa ter uma maneira original de ver a vida, de
entender pessoas, fatos e situações.
Veja, leia, analise tudo que você puder. Esteja atento. Suas observações vão
enriquecer suas personagens, histórias e ações.
Aquela pessoa que você tanto odeia pode ser a vilão do seu próximo roteiro. (Pior
pra ela: teve o que merecia... rss). Aquela situação vexatória que você acabou de
vivenciar pode ser a cena cômica de um roteiro.
Seja roteirista o tempo todo. Especialmente quando estiver trabalhando num novo
roteiro. Daí você precisa ser roteirista 36 horas por dia.
Eu costumo ficar vidrado no que estou escrevendo. Enquanto escrevo um roteiro
normalmente não penso em mais nenhuma história: toda a minha energia e
pensamento estão voltados para aquele roteiro.
Vá ao cinema, alugue todos os DVDs que puder. Assista todos os making offs dos
DVDs (eu disse todos).
Analise todos os filmes que você ver. Por que você gostou ou não gostou? O que fez
com que você odiasse tal personagem ou se importasse com tal?
Como a história flui? É lenta? Rápida? Acontece numa velocidade vertiginosa desde o
começo ou demora para acontecer? Tem barrigas (aquelas partes que o filme parece
parar e nos dá sono)?
Os filmes ruins podem nos ensinar tanto quanto os filmes bons. Com os bons você
aprende o que fazer; com os ruins você aprende o que não deve fazer nunca.
Assista, veja tudo que puder, mais de uma vez. E analise. Esse tipo de análise é
ainda mais produtivo quando você encontra uma pessoa ou um grupo de
interessados em debater o filme com você. Se você conhece outros roteiristas - ou
aspirantes a roteiristas - aproveite e faça um grupo de estudos de roteiros com eles.
Juntem-se, assistam ao filme e depois debatam. Você vai ver que será muito útil.
4 
mailxmail - Cursos para compartir lo que sabes
Juntem-se, assistam ao filme e depois debatam. Você vai ver que será muito útil.
Sabe aqueles filmes que você adora? Os seus preferidos? Assista muitas vezes.
Muitas. Até que você consiga não mais se envolver com o filme, não ver mais a
história em si mas sim a técnica, o que o levou a escolher aquele filme como seu
preferido.
No fim muitos roteiristas escrevem (e até se especializam) no gênero de filmes que
gostam de ver. Por isso defina: quais são seus gêneros preferidos? Comédia? Drama?
Aventura? Suspense?
Quanto mais você conhecer do mundo, das pessoas, da sétima arte e de você
mesmo mais material terá para seus roteiros.
5 
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3. Formatando o roteiro
Mal o sujeito decide escrever um roteiro e lá vem a dúvida cruel: em que formato se
deve escrever um roteiro?
Existe uma tentativa de estabelecer normas para o formato de um roteiro. Livros,
manuais e alguns sites abordam isso.
Existem até alguns programas que prometem facilitar essa formatação.
Há um tempo atrás eu também fiquei na dúvida. Queria formatar corretamente meus
roteiros conforme mandavam os manuais. Daí comecei a ler roteiros de descobri que
a grande verdade é uma só: cada roteirista acaba escrevendo da maneira como
achar mais cômodo. É isso que pouca gente diz pra você.
Pessoalmente achei mais fácil desenvolver uma forma do que aprender a operar
esses programas. E depois que eu li o roteiro do longa Cidade de Deus fiquei mais
tranqüilo em relação a formato.
Então o meu conselho é o seguinte: na dúvida escreva do seu jeito, do jeito que você
achar melhor. Se você ficar se preocupando com isso agora sua idéia de roteiro vai
por água abaixo e você ficará preso nas teias das teorias e normas.
Depois que você acabar de escrever e revisar seu roteiro aí se preocupe com a
formatação. Baixe alguns roteiros na internet, dê uma boa lida e analise que tipo de
estilo combina mais com você.
No meu ofício de roteirista tenho desenvolvido não uma mas várias formas de
escrever um roteiro, desde o tipo mais próximo do tradicional até os mais ousados.
Pra você ter uma idéia: o roteiro do Curta O MEDO mais parece um Plano de Câmera
do que vai ser filmado. O roteiro do Curta O TELEFONEMA parece um Plano de
Edição. NAMORO NA INTERNET já tem um formato mais tradicional.
Tudo depende muito do que eu estou querendo/precisando escrever. No caso do
MEDO e do TELEFONEMA eu (roteirista) quis fazer um roteiro detalhado do que tinha
imaginado para que eu (diretor) pudesse filmar depois com mais facilidade. É a
vantagem de você filmar seus próprios roteiros.
Via de regra, porém, você não precisa se dar a esse trabalho. Pode apenas indicar o
lugar onde se passa a cena, o momento, se é interna ou externa. São informações
que ajudam o diretor a compreender melhor o roteiro.
Outra coisa que você vai observar nos meus roteiros: dificilmente uso palavras em
inglês. Procuro sempre o equivalente em português. Isso faz parte da busca de uma
identidade tupiniquim para o cinema nacional. Sei que o assunto é polêmico mas é
assim que eu trabalho. Busco criar uma nova linguagem dentro de uma nova estética
até mesmo na formatação do roteiro. Mentes novas, idéias novas.
6 
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4. A idéia
O fantasma da folha em branco vem assolar todos nós, escritores e roteiristas. A
abertura do filme JOGUE A MAMÃE DO TREM tem uma seqüência primorosa de um
escritor com a síndrome da folha em branco. Sentado à frente de sua máquina de
escrever o pobre homem sofre um bocado sem conseguir uma frase que preste para
começar seu novo romance. Folhas e mais folhas são tiradas da maquina,violentamente amassadas e jogadas ao lixo.
Como o filme é um pouco antigo hoje em dia o escritor estaria na frente da tela em
branco do Word...
De onde vem a idéia? Como e quando um roteiro realmente começa?
Eu tenho 2 processos de criação. Estando sempre atento a observar o mundo e
tentar entende-lo nesse processo aparecem boas idéias. Uma notícia num jornal,
uma observação feita acerca de determinada situação, um tema que me pareceu
pouco (ou erroneamente) explorado pela mídia, tudo isso me fornecem idéias.
Esse primeiro processo é muito mais cerebral, fruto de usar a observação aliada ao
talento. Depende de você estar conscientemente atento e fazer um trabalho que
parte muitas vezes do racional para o emocional.
Mas existe um segundo processo que é mais, digamos assim, mágico, um tanto
quanto incontrolável e imprevisível: a inspiração. Você não pode prever quando ela
vem nem força-la a vir. Mas quando ela vem ela vem com tudo.
De estalo, aparentemente do nada, tenho uma idéia. Ao invés de deixa-la passar, de
espanta-la como se espanta uma mariposa que voa em volta da nossa cabeça eu a
deixo voar. Deixo a idéia evoluir na frente dos meus olhos pra ver até onde vai dar.
Daí o roteiro me aparece quase pronto. Seqüências inteiras estão ali, diante dos
meus olhos, numa velocidade vertiginosa. E é preciso anotar tudo nessa hora -
porque depois vai ser tarde demais. Porque isso é um processo emocional e a parte
racional agora estragaria tudo.
Nessas horas o negócio é anotar com o máximo de detalhes possíveis a idéia e se
lançar ao roteiro o quanto antes. Porque depois o tempo vai passando, as cores da
idéia vão se desbotando, e o que poderia ser o roteiro do ano pode acabar com mais
um pedaço de papel amassado no fundo da gaveta.
Para esses momentos mágicos recomendo estar sempre com caneta e um bloco de
anotações à mão. Afinal você nunca sabe onde vai ter uma idéia: pode ser no
serviço, no ônibus, no carro enquanto você dirige (esse é o pior dos momentos),
enfim em qualquer lugar.
Muitas vezes um pensamento se encadeia com outro, que não tinha nada a ver com
o primeiro nem com onde eu estava, e de repente se abre a janela da mente e voa a
idéia fazendo suas evoluções magníficas. Outras vezes um fato acontecido ali na
minha frente liberta a idéia - que no fim não vai ter nada ou pouco a ver com o fato
que a originou.
Muita gente fica esperando a vida toda por esses momentos mágicos que ou não
vem ou quando vêm não podem ser aproveitados. Então meu conselho como
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roteirista é: trabalhe. Não espere a idéia pintada de dourado na sua frente. Porque
no fim as idéias nascem mesmo das nossas observações. E observar ajuda muito a
inspiração.
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5. Personagem principal, Gênero e Tema
Como eu disse antes a idéia é escrever um Curta. Todos os elementos do drama ou
da comédia condensados em poucos minutos de filme. E como é difícil dizer tanta
coisa quando se tem pouco tempo pra dizer.
Eu gosto de escrever: crônicas, roteiros, textos de teatro, histórias. São vários
formatos, várias técnicas diferentes. Mas isso me abre um leque maior de escolha. O
roteiro O TELEFONEMA, por exemplo, foi feito em cima de uma crônica minha.
Então isso significa que você leu uma crônica em um jornal, gostou e daí vai e adapta
para o cinema? Não, não é bem assim.
Existe o problema dos direitos autorais. Você não pode adaptar uma crônica de
alguém a não ser que esse alguém lhe dê autorização expressa e por escrito pra que
depois você não tenha problemas.
Como todo mundo começa no cinema independente, sem dinheiro nem patrocínio
algum, a maioria dos mortais não terá dinheiro para pagar os direitos autorais de
um escritor de nome. Se bem que às vezes, dependendo da seriedade do projeto e
do autor que você aborda, ele pode até topar a parada, liberar você de lhe pagar,
tudo em nome do cinema nacional.
Mas não vamos esperar pela sorte. Isso é quase como esperar pela borboletinha
dourada da inspiração. Vamos arregaçar as mangas e trabalhar.
Há vários jeitos de começar. Você pode decidir, por exemplo, o gênero que pretende
escrever. "Ah, agora quero escrever uma comédia". Ou: "Quero um drama". São
muitas possibilidades. No gênero Comédia, por exemplo, há comédias românticas,
comédias escrachadas, besteirol, e um sem número de definições que tentam definir
um filme na maioria das vezes sem sucesso.
Então se você define um gênero o seu roteiro já começou. É um jeito de começar.
Ou você viu/passou por alguma situação que valia a pena ser transformada em
roteiro. É uma outra possibilidade.
Digamos que resolvemos escrever uma comédia. Vamos definir personagens?
Via de regra um curta é curto (sem querer fazer trocadilho...). Ao contrário da novela
das 8, que vai durar por 7-8 meses e tem um sem-número de personagens, aqui
você precisa se concentrar num núcleo mais conciso.
Regras são regras e existem para serem quebradas. O que eu vou fazer é dar
sugestões, apontar caminhos para que você os siga ou não. Depende de você.
Depende do roteiro.
Mas aconselho um núcleo pequeno. Uma personagem principal e alguns outros que
circulam em volta desse núcleo como forma de mostrar mais a personagem
principal, interagir com dela para deixa-la mais a nu para o espectador.
Quem é sua personagem? Adulto, criança ou idoso? Homem ou mulher? Qual a sua
orientação sexual? Sua religião? Onde ele mora? O que faz da vida? Do que ele gosta
e do que não gosta? Qual sua situação financeira? O que ele já conquistou e o que
ele quer da vida?
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Mora com a família ou sozinho? É casado, solteiro, separado? Tem algum problema
com a justiça? O que ele come?
Qual é o seu aspecto físico? É um esportista da geração saúde ou um sedentário?
Essas perguntas vão ajudando você a visualizar a personagem principal. Agora ele
pode ser tudo e quem você quiser. Mas tal como Frankstein depois que você cria-lo
não poderá mais muda-lo. Não terá mais forças sobre ele, e sim ele sobre você.
Por isso capriche. Não se importe tanto se você vai ganhar o próximo prêmio do
Festival ou não. Apenas crie. A satisfação de criar é o meu maior prêmio. Ver surgir
do nada uma história é um prazer indescritível. Mostra que você está vivo e que
exerce seu talento a pleno vapor.
Esteja pronto para desafios. Nem sempre é fácil. Muitas vezes há altos e baixos.
Numa hora parece a idéia mais maravilhosa do mundo e depois parece a pior de
todas. Não se desanime. Na dúvida guarde todos os seus rascunhos. Muitos artistas
já rasgaram, jogaram fora e até queimaram idéias só pra depois se arrependerem.
Sei disso por experiência própria.
Não busque a perfeição logo de cara. Saiba que muitas folhas foram rasgadas e
muitas telas apagadas antes que os roteiros que você gosta tomassem o formato
final. Por isso não seja crítico. Deixe apenas sua imaginação fluir.
Crie uma personagem. Qual é a sua motivação? O que ele quer? Todos queremos
alguma coisa e uma frustração é natural quando não a conseguimos.
Então qual é o conflito da sua personagem? O que ele quer que o empurra pra
frente?
Ou vai ver ele não quer nada, é só empurrado pra fora da cama e levado pelo
sistema, e é nisso que consiste seu roteiro: mostrar a alienação do homem do século
XXI, a falta de esperança e horizonte.
Percebe por que é útil se observar, observar as pessoas e o mundo? Você vai
precisar dessas informações na hora de escrever. Vai precisar desse raciocínio
Depois que você montar sua personagem principal pense: sobre o que é o seu filme?
Sobre o que ele versa? O que você quer mostrar/dizer?
Qual é o tema? Engano, tédio, depressão, uma lição filosófica, uma crítica social,
uma comédia de erros. Sobre o que você gostaria de falar?
Resumindo essa aula, e pra você pensar até a próxima:
- defina o gênero do filme
- crie sua personagemprincipal: descreva-a
- defina o tema: sobre o que é o seu filme
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6. Sucesso ou não? eis a questão
Eu disse na aula 4 que você precisa andar com lápis e papel na mão o tempo todo.
Outra boa opção são esses mini-gravadores que cabem tranqüilamente numa bolsa
ou num bolso. Com um desses você não vai precisar nem anotar nada e ainda pode
gravar a emoção e a idéia no impacto do momento.
É uma coisa de testar o que dá mais certo pra você: se rascunhar a idéia ou se
gravar esse rascunho. Cada roteirista precisa achar as suas soluções, o que dá certo
pra ele. É uma coisa muito pessoal.
Alguém disse - e depois copiaram bastante - que o sucesso é 10% de talento e 90%
de suor. Bom, eu ainda acho que é meio a meio. Mas de qualquer forma você precisa
trabalhar. E muito.
E já que falamos de sucesso, o que é sucesso?
Muita gente busca o sucesso em várias carreiras. Essa é uma palavra que escapou
do domínio dos artistas para cair nas mãos de todos.
Mas o que é sucesso? É preciso pensar nisso.
Porque tem gente que já começa querendo escrever um roteiro de sucesso mesmo
sem saber direito o que isso significa.
Porque o conceito de sucesso é uma coisa muito pessoal. O que é sucesso pra mim
pode não ser pra você, e assim por diante.
Se você quer fazer um roteiro de sucesso, por onde começa?
Basicamente definindo: o que você quer dizer com isso? Fama, glória, poder,
dinheiro, lindas mulheres (ou lindos rapazes, já que temos cada vez mais mulheres
na profissão). O que é sucesso pra você?
Muitos dirão que é tudo isso, outros dirão que é um pouco de cada, outros ainda
dirão que não é nada disso.
Eu democraticamente respeito opiniões e aspirações. Mas depois de 20 anos de
carreira artística eu lhe digo: para mim o sucesso mesmo é você fazer o que você
gosta. Pra mim não adiantaria ganhar rios de dinheiro com um trabalho que eu não
ia querer ver nem morto.
Então sucesso é:eu ser eu mesmo na hora de escrever, ter a liberdade de criar o que
eu quiser sem interferência de mercados, emissoras ou coisa parecida, escrever o
que eu quiser e gostar de escrever.
O ponto alto de tudo isso é quando, mesmo com você escrevendo o que você quer,
o que lhe dá prazer, o público vai ver o seu trabalho e... gosta! Isso sim é um
sucesso estrondoso.
Na tentativa de escrever O roteiro do ano, O roteiro de sucesso, muita gente escreve
fragorosos fracassos. Deixam o melhor deles engavetado e só põe pra fora o que
eles acham que as pessoas vão gostar, que o público vai querer, que vai ser sucesso.
O público é muito fragmentado. Cite o nome de um filme que todo mundo viu (eu
disse todo mundo) ou de um cantor/banda que todos adoram (todos mesmo). É
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disse todo mundo) ou de um cantor/banda que todos adoram (todos mesmo). É
complicado. Nada é unanimidade - e já dizia Nelson Rodrigues que toda
unanimidade é burra.
Daí é preciso levar em conta que às vezes o roteiro da sua vida não é aquele que vai
estourar nas bilheterias - mas é o que vai marcar muita gente que foi assistir. E isso
também é sucesso.
Cada roteiro tem um público. Às vezes amplo, às vezes restrito.
De mais a mais ainda tem outra coisa que é preciso levar em conta: o tempo.
Quantos desses filmes que vemos hoje no circuito comercial resistirão ao tempo?
Quantos serão vistos daqui a 20 anos? Daqui a 50?
O nosso Zé do Caixão ousou, fez um cinema à sua moda quando o que ele fazia não
era moda. Viu narizes torcidos de muitos intelectuais e setores do público na sua
época. Hoje seus filmes viraram clássicos em DVD.
Então, o que é sucesso?
O Cinema americano tentou responder a essa pergunta. Diretores e roteiristas sem
conta perderam os cabelos tentando buscar a fórmula mágica do sucesso. Como
fazer sucesso sempre?
Depois de décadas de cinema muita gente chegou a seguinte conclusão: não há
como saber. Os diretores que estão rodando hoje os filmes que você vai ver no ano
que vem simplesmente não sabem se vão estourar ou não. Eles acham que, os
produtores acham que, mas no final ninguém tem certeza.
Daí diretores e atores mais experientes resolveram deixar essa neurose de sucesso e
se divertirem com o que estão fazendo agora, se envolverem e se realizarem com o
atual filme que estão rodando. Porque na satisfação pessoal, na realização
profissional, reside o verdadeiro sucesso.
Se você tentar escrever o roteiro que vai estar em Cannes daqui a 2 anos pode não
conseguir nem começar.
Então o conselho é: simplesmente escreva. Seja roteirista na hora em que estiver
escrevendo - não um empresário.
Escrever um roteiro requer trabalho, dedicação, arte. Você precisa dar o melhor de
você.
Vivencie essa experiência: a emoção de trazer do nada uma obra de arte. Não deixe
nada estragar esse momento.
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mailxmail - Cursos para compartir lo que sabes
7. Começando a escrever
Como eu já disse às vezes você tem aquela inspiração e o filme parece rodar na
frente dos seus olhos, na tela interna da imaginação. Outras vezes você tem que
trabalhar duro pra chegar lá.
Começar do nada é sempre mais difícil. Há mais perguntas a responder do que
quando você tem a bendita inspiração.
Mas às vezes podemos dar uma ajudinha ao processo criativo se estivermos atentos.
Resolvi dar um exemplo desses primeiro. Porque do seu lado todo dia acontecem
milhares de coisas. Com você, com as pessoas que o cercam. Tudo é material para
um bom roteiro.
Você é um bom material para um roteiro. As coisas que você vê, vivencia, pensa.
Desde os tempos de cronista que eu me uso como material de trabalho.
Tem muitos escritores e roteiristas que fazem isso: vão escrevendo a suas biografias
aos pedaços. Mas esse não é o meu caso.
Muitas vezes eu parto de algo que aconteceu comigo, ou de um pensamento, de
uma emoção, e extrapolo. Às vezes crio toda uma situação em cima de um
fragmento, de um detalhe, de uma sensação. Outras vezes escracho o que está
acontecendo comigo mesmo, crio personagens, dou-lhes vida - e no final o que é
escrito nem tem mais a ver com a situação que originou todo o processo.
Quis dar esse exemplo primeiro porque você passa por situações assim no cotidiano
e nem presta a atenção. Coisas interessantes estão acontecendo agora e poderiam
ser seu próximo roteiro, se você estivesse ligado, pronto para ver a oportunidade.
Então vou contar primeiro o que aconteceu comigo no começo do ano.
Era uma noite dessas mornas. Tudo parecia calmo e eu me sentia bem comigo
mesmo. Nada tinha acontecido de especial, nada de anormal. Eu só estava me
sentido bem.
Daí jantei e fui escovar os dentes. Abri o armário com espelho do banheiro, peguei a
escova e já ia pegar a pasta dental quando a porta do armário resolveu fechar na
minha mão. Calmamente abri novamente a porta só pra ela se fechar de novo
inexplicavelmente.
A porta do armário nunca tinha feito isso, e eu tentei abrir de novo. Mas ela insistia
em fechar. Aquilo se repetiu por mais algumas vezes.
Eu confesso que isso estragou o meu humor. Você pode pensar que é pouco pra se
perder o humor - mas tente ficar abrindo uma porta de armário com ela insistindo
em fechar umas 20 vezes no seu dedo.
Eu percebi que tinha me irritado. E aquela prometia ser uma noite perfeita. Então,
agora com a boca cheia de espuma de pasta de dente, e escovando os dentes com
meu dedo doendo, pensei nas variações de humor que assolam o ser humano. Em
como a sensação de felicidade pode ser fugaz, pode se evaporar de um momento
para o outro. Em como o que parecia um dia perfeito se transforma num péssimo
1 3 
mailxmail - Cursos para compartir lo que sabes
dia - e quantas vezes a gente passa por esse tipo de situação.
E pensando assim pensei que tudo isso daria um roteiro de um curta. Até pra levar
as pessoas a refletirem sobre tudo isso e não se deixarem levar - como eu - por
tropeços tão pequenos. E foi assim que surgiua idéia do roteiro HOJE VAI SER UM
DIA PERFEITO.
Claro que eu podia só ter me chateado, saído do banheiro e procurado uma chave
de fendas pra consertar o maldito armário. Mas uma idéia levou a outra e eu saí
com mais uma idéia.
Quis mostrar aqui o encadeamento de idéias, de pensamentos, de colocações que
me levaram até esse roteiro. O que importa mais pra você não é o roteiro em si, mas
o processo de criação.
Você precisará abstrair do gênero que você gosta ou não para perceber o processo
de criação que eu vou descrever nas próximas aulas. Se conseguir perceber o
mecanismo pode usar esse processo pra escrever um filme de suspense - bem
diferente dessa comédinha que eu escrevi.
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8. Registre seu roteiro
Antes de continuarmos é interessante falar sobre o registro de roteiros.
Para garantir os direitos autorais sobre o seu roteiro (e sobre músicas, letras de
músicas, livros, poesias, crônicas, etc) você deve registra-lo.
A maneira correta é registrar na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
A BN tem várias sub-sedes espalhadas Brasil afora, nas capitais. Você pode ir a
alguma delas ou fazer o registro pelo correio.
O custo é de 20 reais por roteiro (isso agora em 2005).
Pra mais informações entre no site www.bn.br
 
Clique em EDA - Escritório de Direitos Autorais.
Ali vão aparecer informações sobre os procedimentos a adotar para registrar seu
trabalho.
Quando eles fizerem o registro - leva de 1 a 2 meses, conforme a carga de trabalho
deles - você vai receber um documento provando que o roteiro é seu. Daí estará
tranqüilo para mostrar seu roteiro pra todo mundo, pôr na internet, mostrar pra
empresários, produtores, diretores, atores, etc
É o que eu faço com tudo que eu escrevo: antes de mostrar eu registro tudo. Daí fico
sossegado.
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9. Nome do Personagem e Cenário
Todo roteiro meu tem um motivo pelo qual eu o escrevi, uma espécie de história
antes da história, o que o originou e o que eu estou querendo dizer.
Assim escrevi O MEDO para abordar o medo que as crianças tem as vezes de coisas
que para os adultos parecem insignificantes. E fui também motivado pelo desejo de
fazer um filme totalmente doméstico, caseiro e em VHS, experimental - idéia que eu
já tinha e que foi muito alimentada depois que eu vi o making off dos Pequenos
Espiões 3, com o talentoso diretor Robert Rodrigues.
NAMORO NA INTERNET é uma comédia que aborda a solidão das pessoas e a busca
constante de um relacionamento ainda que pela internet - e a falsidade dos perfis
eletrônicos que costumamos ler por aí. É também um alerta de que no mundo
virtual muita coisa/gente não é o que parece.
O SEQUESTRO DE VICTOR LIMA é um retrato do preconceito racial presente em nossa
sociedade, e as desgraças que isso ocasiona. Escrevi em homenagem ao dentista
negro assassinado pela Polícia em São Paulo.
E o mesmo se repetiria com HOJE VAI SER UM DIA PERFEITO.
De posse da minha idéia fui para o computador pensando como transformar isso
tudo em roteiro: banheiro, humores perdidos, porta de armário chata, filosofia no
banheiro. Como?
Associação de idéias de novo: o que eu queria dizer? O que eu queria mostrar? Como
é frágil o estado de espírito humano e como é preciso sabedoria para preserva-lo.
Como um dia que começa perfeito pode terminar péssimo, e às vezes por uma coisa
boba e sem tanto sentido. Como algo que é grande pra mim pode ser pequeno pra
você - e do exagero de uma emoção muitas vezes vem a graça - embora eu não
estivesse perseguindo o objetivo de ser engraçado no roteiro.
Como um dia que era perfeito pra você pode se transformar num dia péssimo e
ainda assim ser perfeito pra outra pessoa.
Foram as idéias que eu fui tendo.
Mas pra contar tudo isso não queria contar o que você leu na lição 7. Ia escrever
uma coisa daquelas? Um roteirista no banheiro com problemas com a porta do
armário? Não, eu já estava muito além disso, como mostrei acima.
Bem, precisa de um personagem.
 
Quem era ele? O que fazia? De onde vinha e para onde ia?
Quanto mais detalhes você der dos personagens para si, e para o diretor e atores
que irão filmar o seu roteiro, melhor pra tudo mundo. Em cada lacuna que você
deixar eles serão obrigados a criar, pra preencher os vazios deixados pelo roteirista.
Então quem seria meu personagem? Um homem de seus 25-30 anos.
Quando chega na hora do nome é fogo. Pra mim o nome tem que ter a cara do
personagem que eu estou imaginando. Eu preciso sentir que o nome combinou com
o personagem.
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Pra isso preciso de mais dados: onde ele mora? Na cidade. Numa cidade média ou
grande. Tanto faz nesse caso, mas tem que ser num prédio. Você vai ler depois
porque (não quero estragar a surpresa).
Trabalha onde? Num escritório. Num escritório de um banco, onde tem mais contato
com papéis e chefia, nada de clientes (eu gosto desse tipo de personagem). Então
ele tem cara de que?
Tenho um dicionário de nomes aqui em casa, mas fica na biblioteca a uns 5 passos
do computador - o que na hora em que você está digitando é o mesmo que dizer
que fica a 5 milhões de anos-luz. Já pensou parar de escrever pra ir pegar o
dicionário e daí procurar um nome?
Então, sentindo o personagem aqui na minha frente pedindo pelamordedeus um
nome, eu fito os olhos dele e arrisco: Astrogildo?
Pela cara que ele fez claro que não. Emiliano? Vão falar que eu pus o nome de
Emiliano só por causa do meu nome. Apesar de eu nunca ter usado esse nome antes.
Francisco? Daí vira Chico, sei lá. Não tem cara disso. Apelido? Não, nome mesmo. É
um nome pro roteiro, eu sei. Já visualizei o curta e sei que ninguém vai falar o nome
dele. Mas eu preciso saber o nome dele. O diretor precisa saber. O ator nem se fala.
Um nome é um nome, coisa importante.
Estou descrevendo tudo isso pra você ver o dilema que é colocar um nome em um
personagem. E como um nome é importante. Tem gente que não se preocupa com
isso - e o nome fica falso depois.
Vou vasculhando meu arquivo mental de nomes: Tonho? Não, ele não é da roça. É
um cara da cidade (mais uma descrição, dessa vez ajudada pelo nome). Valério?
Depois das CPIs melhor não. Cindi? Nem sei porque pensei nisso, mas tenho certeza
que não - ele é hetero e jamais seria Cindi.
Miltinho. Parece nome de pessoa mais velha. Sobretudo porque eu conheço um
Miltinho que tem uma auto-elétrica e uns 50 anos, daí...
Opa, cuidado pra não se perder nas idéias e nas associações delas. Senão logo você
vai levar seu carro pra consertar e o roteiro fica ali pra nunca mais ser feito.
De tudo que eu pensei gostei mais de Marcos. É um nome comum mas nem tanto.
Curto, nada muito chamativo (como Xenofonte, por exemplo), bem o nome de um
cara comum numa vida comum (que me desculpem aqueles Marcos especiais...).
Gostei: ele tem cara de Marcos.
Mas e quanto ao Tempo? Onde ele está? Quando se passa a trama?
A trama se passa nos dias de hoje. Pode estar acontecendo agora.
Onde? E o cenário? Já sabemos que ele mora num apartamento. Preciso que seja ali
pelo 5o. ou 6o. andar. Pode ser um pouco mais pra cima.
Preciso do quarto dele e do banheiro - e que os 2 sejam conjugados, como numa
suíte. Depois vou precisar de uma externa da janela dele.
Como é o quarto dele? Quarto de rapaz, um tanto bagunçado. Decidi não colocar os
tradicionais pôsteres de mulheres sem roupa. Ele recebe visitas ali e não combina
com o perfil que ele quer mostrar às visitas.
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Ele mora sozinho nesse apartamento. O quarto é de tamanho médio, assim como o
banheiro. Ele tem um rádio-relógio que o desperta todo dia. Ele odeia acordar cedo
para trabalhar. Até coloca o relógio pra despertar bem antes pra não ter que sair
correndo. Porque ele não pega no tranco - acorda aos poucos.
É o tipo do cara metódico que já cronometrouquanto tempo leva pra acordar e deu
quase 2 horas. É metódico mas não o esteriótipo a que a palavra remete
normalmente as pessoas. Metódico no sentido de ter método, ser organizado, não
chato, cafona e ultrapassado.
Já disse que um curta é pra ser curto. Nada de ficar enfiando personagens
desnecessários que não acrescentam nada - mas que distraem pra burro - nem
cenários ou efeitos mirabolantes.
O truque é: coloque somente o que precisa. Nem mais e nem menos. Só o
necessário.
Se você exagerar inviabiliza inclusive a produção do filme. O que será muito chato.
Pior ainda é você ver depois que colocou um monte de coisas que simplesmente não
acrescentam à história, que não levam a história para frente.
Então abaixo ao supérfluo! Nada de exageros.
Eu vou precisar disso por enquanto:
Personagens:
- Marcos
- Narrador do rádio-relógio (que acorda Marcos)
Cenários:
- Quarto
- Banheiro
Por agora é só.
É legal você visualizar um pouco do cenário e até dos figurinos pra ir dando pistas
pro pessoal da produção. A recomendação é sempre a mesma: só dê o necessário.
Se você começar a descreve a cor e o modelo da cueca do Marcos que nem vai
aparecer no filme, o diretor vai ficar maluco.
Vamos para o resumo do roteiro.
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10. Resumo do Roteiro
De posse de todas aquelas definições e idéias me pus a escrever o resumo do
roteiro.
Aqui cabe tudo que eu imaginei. E escrevi em forma de narrativa mesmo, descritiva,
sem me preocupar praticamente nada com o formato do roteiro, ângulos de câmera,
divisão de cenas, etc
Nada. Não tem nem muito diálogo. O que interessa é a seqüência de acontecimentos
- pra que depois eu me lembre do que criei hoje.
Depois a gente revê tudo, corta isso e mais aquilo, acrescenta outro tanto. Mas
agora tem que registrar a idéia, ali fresquinha na minha frente, dando piruetas e
cambalhotas.
Então lá vai o resumo:
HOJE VAI SER UM DIA PERFEITO! 
6:30. O rádio-relógio liga. Um programa de notícias qualquer desfila suas
catástrofes matutinas.
Ele acorda. Incomodado com o barulho tenta desligar o rádio-relógio com gestos
desconexos, descoordenados. Depois desiste e decide acordar. Quando vai desligar
o rádio uma voz diz:
- Não desligue agora porque aí vem o Dr. Positivo e seu otimismo diário!
Ele decide deixar o rádio ligado, se levanta e vai ao banheiro. Está mal, não acordou
direito ainda. E o Dr. Diz:
- Hoje vai ser um dia perfeito!
E prossegue assim, com sua dose de otimismo diário.
Ele olha no espelho, ouve o doutor e procura se animar. Tenta dar um sorriso.
Parece meio falso, mas ele tenta. E tenta. E tenta. Daí desiste de achar uma
expressão ideal e resolve escovar os dentes.
Primeiro o armário abre normalmente. Mas ele aperta demais o tubo e a pasta sai
aos montes (ou será que ela está mais aguada e por isso saiu tanto?).
Ele limpa a sujeira e repete a operação. No rádio o Dr. Positivo diz:
- Nada pequeno vai lhe atrapalhar hoje! Porque hoje vai ser um dia perfeito!
Ele começa a escovar os dentes. E a porta do armário resolve fechar sozinha. Ele
abre, ela fecha. Podia escovar os dentes com a porta fechada. Mas é um hábito
antigo: escovar os dentes com a porta do armário aberta. E é bom pra não ver sua
cara logo de cara.
Ele abre a porta do armário de novo. E ela... fecha de novo. 2, 3, 4 vezes. Ele se irrita
e fecha a porta com força.
- Não se irrite com nada. Respire fundo. - diz o doutor.
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Ele respira fundo mas engasga com a pasta e tosse. Retoma a escovação tentando
acompanhar os movimentos que faz com a escova de dentes para relaxar.
Daí a porta do armário abre vagarosamente, sozinha. E ele, instintivamente,
acompanha o espelho com a cabeça. Quando se dá conta fecha a porta do armário
de novo. E ela se abre sozinha novamente. Ele fecha, e a cena se repete mais uma,
duas vezes. Ele se irrita, pega um esparadrapo e fecha o armário.
Termina a escovação. Cospe, enche o copo com água e põe na boca - mas antes
olha bem pra ver se não tem nada no copo.
- Você não tem nada a temer hoje, diz o doutor.
Tenta abrir o armário para guardar a escova, mas ele não abre. Aí ele se lembra do
esparadrapo, tenta dar um meio sorriso e tira o esparadrapo. Mas mesmo assim o
armário não abre.
Faz força (¨Sim, faça força meu amigo.¨) mas o armário não abre. Bate no armário
com uma escova, com o desentupidor, mas nem assim ele consegue.
- Acredite amigo: hoje vai ser um dia perfeito - diz o doutor.
Ele se irrita ainda mais, tem um acesso de raiva, grita, bate em tudo que vê, joga a
escova de dente no vaso sanitário.
- Nada pode lhe perturbar. Hoje vai ser um dia perfeito.
Aí ele percebe esse fator de irritação. Do banheiro olha para o rádio e marcha como
um vulcão em sua direção.
- Você! - diz o doutor como se sentisse a vinda dele. Eu sei que o seu dia não
começou tão bem mas...
- Cale a boca!!!
- ... esse vai ser um dia perfeito.
- Aaahhhhhh!
Ele tira o rádio da tomada, mas o rádio continua falando.
- Se acalme!
- Nãããooooo!
Ele enrola o rádio com o fio como se tentasse amordaçar o doutor (que vai falando
com uma voz cada vez mais abafada como se estivesse sendo amordaçado).
- Respire fundo. Conte até 10. Não, até 1000. Se acalme. Eu garanto: hoje vai
ser um dia perfeito.
O homem dá um grito e joga o rádio pela janela do 6o. andar. E o doutor grita:
- Socooooorroooooo!
Ele vai até a janela para ver o rádio se esborrachar no chão e grita:
- Rá!
Daí volta pra dentro e retoma sua vida.
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O rádio está perto do seu fim. Vai se esborrachar no chão, se quebrar em pedaços e
ser atropelado pelo trânsito.
- Oh, acho que vou ficar irreconhecível - diz a voz do doutor. Isso vai doer. Oh!
No último segundo aparece uma pessoa, um catador de lixo com sua carrocinha. E o
rádio cai na carroça, em cima de papéis e garrafas PET que o catador já pegou.
- Hum, que macio - diz a voz do doutor.
O catador olha para trás e vê o rádio. Vai até o rádio e ouve o doutor dizer:
- Hoje vai ser um grande dia!
O catador dá um grande sorriso e diz:
- Pode apostar.
E vai todo contente com o rádio-relógio que acabou de ganhar.
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11. A diferença entre o meu banheiro e o do Marcos
A diferença entre os nossos banheiros?
A diferença, na verdade as diferenças, são muitas.
Releia as últimas aulas e compare.
Compare o que aconteceu comigo no banheiro - aula 7 - com o resumo do roteiro
na aula 10.
Está tudo ali: os mesmos elementos, as mesmas idéias. Está e não está. Ou está de
uma forma completamente diferente, mais artística agora.
Só que o Marcos não sou eu. A situação é diferente: pra mim a noite parecia ótima,
pra ele o dia já começou péssimo porque ele teve que acordar. Eu não moro num
apartamento, e sim numa casa - isso foi só um recurso dramático de cena - para a
cena final.
O Marcos é mais novo que eu, que nunca trabalhei em banco. Moro com minha
família e seria impossível levantar de manhã sem ouvir "bom-dia" de todo mundo da
casa.
Também não uso rádio-relógio: eu simplesmente acordo bem antes pra não perder
a hora. Ou me acordam.
Se você ler a situação da pag 7 e perceber pra onde um acontecimento banal no
banheiro nos levou, talvez possa começar a fazer o mesmo com os acontecimentos
da sua própria vida.
Mais uma vez repito: eu não escrevo somente sobre o que acontece comigo. Ao
contrário. Mas o próprio roteirista é também um bom material para um roteiro.
Na próxima começaremos a transformar o resumo num roteiro.
Não perca.
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12. Recapitulando
Até aqui vimos o seguinte:- seja roteirista 24 horas por dia e esteja sempre atento. Tudo que você ver e
observar da vida, das pessoas, do cotidiano poderá ser material para o seu próximo
roteiro
- veja todos os filmes que puder ver e analise um por um, cena por cena.
Defina seus gêneros preferidos e invista neles
- existem programas que formatam roteiros e existem roteiros a disposição
para que você veja mais sobre a formatação. Mas no momento da criação não vamos
nos preocupar com isso - apenas com a criação
- se você teve uma idéia sente e escreva. Ou grave. Ande com uma caneta e
um bloco de notas - ou um mini-gravador - no bolso e registre suas idéias
- se, por outro lado, você não teve ainda a idéia defina: sobre o que gostaria de
escrever? Que gênero? Sobre o que é sua história? E parta disso para criar seu roteiro
- quando você começa a criar personagens e histórias podem ser tudo que
você quiser. Mas quanto mais você escrever menos opções vai tendo. Pode ser que
termine um roteiro de um jeito totalmente diferente do que imaginou quando
começou. Pode ser que aquela seqüência que lhe pareceu brilhante no início seja
agora dispensável. O importante é: não force! Crie bem as personagens e depois as
deixe seguir o seu caminho
- defina o gênero do seu roteiro, o tema (sobre o que é) e o personagem
principal. Defina também o núcleo que circula em volta desse personagem - mas só
o que for realmente essencial ao roteiro e levar o filme pra frente. Porque há varias
formas de você dizer as mesmas coisas - e se você ficar parando toda hora para
explicar tudo pode estar perdendo o ritmo do filme
- não fique se importando com o sucesso. Simplesmente escreva o que está a
fim de escrever. Você ficaria surpreso em saber quantos filmes já foram feitos que
nem desconfiavam se seriam ou não sucesso e foram. AMADEUS, de 1984, é um
desses exemplos que só se teve idéia real do sucesso do filme depois das primeiras
exibições. (Uma grande dica pra você ver. Na Versão do Diretor tem um making off
primoroso).
- Você pode ser seu próprio personagem. O ator e dramaturgo Juca de Oliveira
disse certa vez que os personagens que ele escreve na verdade estão dentro dele,
fazem parte dele. Tem gente que trabalha assim mesmo. Afinal quantas facetas
temos dentro de cada um de nós, e deixamos transparecer somente as que
queremos?
- Outra técnica é colocar parentes e amigos no seu filme. Ou ainda partir de
pessoas que você conhece para formar personagens totalmente diferentes. A uma
certa altura você vai estar criando personagens sem usar esses artifícios. Sua técnica
terá evoluído para você montar personagens que são sínteses, súmulas do que você
já observou e pensou ao longo da vida. Serão personagens Franksteins, que terão
um traço de personalidade de um amigo, outro traço de sua observação, outro ainda
do que você está querendo mostrar/criticar
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- Ficção ou não-ficção? Na ficção você está livre para criar, falar o que quiser.
Na não-ficção você está mais preso a realidade, vai ter que pesquisar mais sobre a(s)
pessoa(s) biografada(s) e tentar dar forma artística a uma pessoa/vida real. São dois
trabalhos distintos e interessantes, duas formas diferentes, dois desafios que valem
a pena.
- Registre seu roteiro pra não ter surpresas depois.
- Se você teve uma idéia a ponto de sentir o personagem como se estivesse
vendo-o na frente, isso é muito bom: escreva febrilmente tudo que lhe vier a mente.
Mas caso esse milagre não aconteça - e não acontece todo dia - comece
desenvolvendo uma idéia. Dê um nome ao personagem, comece a descreve-lo,
descrever o cenário em que ele vive..
- Quem é ele? O que ele quer? Por que ele está aqui? Onde ele quer chegar? De
onde veio? Que tipo de pessoa ele é? Que tipo de pessoa ele aparenta ser? Quem se
relaciona com ele e quem ele prefere evitar? Tudo isso são subsídios para você
começar a compor o personagem
- Em que tempo ele está? Agora, no futuro ou no passado? E ele é uma pessoa
do seu tempo? Ou muito avançado em relação a sua época? Ou talvez muito
atrasado?
- Faça o resumo do seu roteiro, sem a preocupação agora de formatar nada - a
não ser que você já visualize roteiros assim. Não se preocupe com diálogos agora,
mas anote tudo que você pensar como referencia posterior.
- Escreva um resumo com começo-meio-fim. Nem que seja pra mudar tudo ou
parte depois. Mostre para alguns amigos, tente contar a história pra alguém, veja
como lhe parece. "Estou escrevendo uma história sobre um noivo que na manhã do
seu casamento acha o cadáver da noiva na sala dele. Detalhe: não era o cadáver da
noiva dele - mas uma mulher desconhecida vestida de noiva". Ou então: "É a história
de uma mulher que descobre que está sendo traída pelo namorado e resolve
revidar". Veja a reação das pessoas. Se familiarize com sua história.
- Pense sua história 24 horas por dia: na mesa, no banheiro, na condução,
comendo, bebendo, dormindo. Inspire suas idéias e expire seu roteiro.
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13. Antes, durante e depois
Todo mundo tem isso o tempo todo: o antes, o durante e o depois.
Veja você agora: tem um antes de chegar no curso, o durante o curso e o depois do
curso.
Antes de chegar aqui tem uma longa história, certo? Você nasceu, e é assim que
geralmente tudo começa. Quem é você? Que tipo de infância teve? E a adolescência?
Que tipos de filmes via? A partir de quando decidiu/quis ser roteirista? Já escreveu
alguma coisa antes? Foi filmada? Você ficou contente com o que escreveu antes do
curso?
Daí tem o durante. Durante o curso você vai ter grandes idéias ou não. Vai achar
que o curso lhe abriu caminhos ou vai se aborrecer porque o professor fala pra
caramba e não chega nunca no roteiro... rsss
Vai achar que aqui tem grandes idéias para serem aproveitadas - ou que isso tudo
você já sabia. Vai deixar sua namorada (ou namorado) pra fazer o curso ou vai
deixar o curso pra namorar. Vai ficar esperando pelas aulas ou só vai lembrar
quando receber um e-mail. Vai começar um roteiro junto comigo ou vai esperar eu
terminar esse pra daí você começar o seu.
Depois do curso você vai sentir que agora pode mais que antes ou que deu na
mesma. Pode escrever um roteiro inspirado ou achar que não era isso que você
queria e no final seu negócio é ser ator. Não sei. Tudo pode acontecer.
O personagem é assim também. Tem o antes, o durante e o depois. Ou seja: tem o
de onde ele veio, onde ele está e para onde ele vai.
Quem estabelece tudo isso é você, o roteirista, o criador de tudo isso. É você, e só
você, quem sabe de tudo isso a respeito de seus personagens. E se não sabe...
deveria saber. Porque se você não sabe quem é que vai saber, não é?
Então pegue o Marcos, de HOJE VAI SER UM DIA PERFEITO. Eu o descrevi lá na aula 9,
enquanto estava procurando seu nome e descrevendo o cenário onde tudo se passa.
Tudo num filme tem que falar sobre o personagem: suas roupas, seu modo de
falar/andar, o lugar onde mora/trabalha, as pessoas com quem prefere ou não
conviver, manias, etc
Tudo que você descreve vai para o roteiro, seja nas primeiras páginas (como vou
mostrar na próxima lição), seja nas entrelinhas do próprio roteiro. E quanto mais
você souber de seus personagens melhor. Agora é a hora: não dá pra ficar
escrevendo um roteiro pra lá no meio parar pra tentar descrever o personagem
principal.
Então descreva-o agora. Claro: faça mil rascunhos se precisar - o que hoje é fácil
com os programas de texto. Mas deixe o personagem completo. Nada pior que
aqueles personagens vazios que se der um vento leva o coitado voando.
Esse cuidado é pra todos os personagens, do principal até o menor deles. Do galã
até o porteiro que só aparece por 1 minuto e meio. Não importa: todos os papéis
são importantes.Todos! Roteiristas e diretores que sabem disso e põe em prática
são os que fazem os grandes filmes, sem barrigas, sem paradas, filmes que fluem
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são os que fazem os grandes filmes, sem barrigas, sem paradas, filmes que fluem
aos nossos olhos e que quando acaba você olha no relógio e não acredita que já se
passaram 2 horas.
Então seu personagem está vindo de algum lugar, está aqui agora e vai para outro
lugar. Antes-durante-depois da cena.
Há uma mudança? A situação pela qual que ele passa o transforma de alguma
forma? É uma abordagem de roteiro.
Por outro lado ele pode passar por tudo e não mudar nada, o que faz com que o
roteirista critique o marasmo de certos seres humanos que insistem em não
aprender.
Tudo vai depender da sua filosofia de vida, da forma como você enxerga as coisas e
do que quer colocar no seu filme.
O ator Bill Murray gosta de fazer filmes onde o seu personagem começa meio
ranzinza e vai sofrendo uma transformação no decorrer do filme até ficar simpático.
No início a gente não dá muita bola para o personagem dele. Depois vai vendo a
mudança, começa a se importar com o personagem e a torcer por ele. Veja por
exemplo O Feitiço do Tempo.
Quando o público se importa com o personagem então você ganhou o dia. Ou o
filme. Esse é o segredo. Em Um Monge à Prova de Balas o dono do cinema onde o
herói trabalha aparece em poucas cenas. Mas ele é tão marcante (e a interpretação
do ator tão densa) que quando ele é assassinado a platéia leva um choque. Porque
se importava com ele, mesmo sendo um papel secundário.
Esse é o segredo: personagens densos. Aliás muito além de meros personagens:
pessoas que a gente pode conhecer no dia a dia e que estão ali sofrendo, rindo,
aproveitando a vida ou sendo aprisionado por ela.
O público se importa com personagens que sejam reais, como se existissem
mesmo, fossem de carne e osso. E isso só acontece quando você tem o
antes-durante-depois do personagem.
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14. As primeiras páginas
Considero as primeiras páginas como as mais importantes do roteiro.
Quando um diretor, produtor ou ator/atriz pegar o seu roteiro pra ler, pra ver se
interessa, são as primeiras páginas que eles vão ler primeiro.
Por isso as primeiras páginas devem conter informação suficiente para despertar o
interesse do leitor pelo roteiro.
A primeira página do roteiro deve conter:
- Título
- Nome do roteirista
- Gênero do roteiro (comédia, drama, suspense, ação, etc)
- Sinopse do roteiro
Muitos roteiristas não fazem isso. O resultado é que se o leitor quiser saber do que
se trata o roteiro terá que ler pelo menos a metade dele para se inteirar do assunto.
Isso se ele não se cansar antes...
Por isso a sinopse é totalmente necessária. Com poucas linhas.
Agora vamos para a segunda página do texto. Ela deve conter:
- Descrição dos personagens: nome de cada personagem com um resumo de
quem ele é
- Cenários: resumo dos cenários onde se passa a sua história
- Observações: tudo que é pertinente ao roteiro e não coube nos 2 tópicos
acima
Descrever os personagens é essencial para que o leitor perceba desde o início quem
é quem na trama, e como cada personagem é.
Muitos roteiristas iniciantes não fazem essa descrição inicial. E o resultado é que
começamos a ler o roteiro sem ter uma idéia sobre quem é o personagem.
Resultado: o leitor é obrigado a tentar entender os personagens em meio à leitura
do roteiro.
Daí ao invés de ler a história e ver como o roteiro flui, o leitor fica tentando achar os
personagens no meio das descrições de cenas e dos diálogos. Pode ser que ele se
canse, jogue o seu roteiro do lado e leia outro que tenha as descrições dos
personagens logo no início...
Listar e descrever os cenários onde tudo acontece é excelente também para o leitor.
De cara ele vai ter uma noção da viabilidade da produção - ao invés de ter que ficar
procurando essa informação enquanto lê o roteiro.
E nas observações você esclarece pontos que não couberam nos itens anteriores.
Pontos que são necessários para entender o roteiro e clarear a produção do mesmo.
A idéia é simples: o leitor tem uma visão geral do roteiro antes de entrar nele. Fica
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sabendo sobre a história, sobre os personagens e cenários antes de ler o roteiro. E
quando entrar no roteiro está livre para se concentrar no que interessa: a história.
Você não pode esquecer que: você sabe sobre o que o roteiro trata, conhece os
personagens e tem a idéia dos cenários. Mas o leitor não.
É muito importante ser resumido nas informações. E escrever com linguagem clara.
Isso não é um tratado ou uma tese de doutorado. É o seu roteiro.
Não cometa o erro de a introdução ser mais longa que o roteiro: 30 páginas de
introdução e 15 páginas de roteiro. Informação demais acaba confundindo o leitor e
isso cansa.
Então escreva como se você estivesse conversando com o leitor. Como aliás eu
tenho feito durante todo esse curso.
Não se esqueça de numerar as páginas do roteiro. Normalmente se usa a letra
Times New Roman tamanho 12.
Não abuse dos negritos - só use quando realmente for necessário.
Por último vamos falar sobre o título do roteiro.
O título é a primeira coisa que o leitor do seu roteiro - e depois o público - vai ver.
O papel do título é altamente importante. Ele pode ser chamativo e atrair o público -
ou ser inexpressivo e não despertar a atenção.
Não de vê ser muito longo nem muito curto. O tamanho deve ser o suficiente para
chamar a atenção. De preferência se destacar no meio de um monte de outros
roteiros e filmes.
O título precisa dar uma idéia do seu roteiro, dizer alguma coisa sobre ele. Sugiro
que você vá até uma locadora e faça uma análise apurada dos títulos. Tanto dos
filmes que você gosta como daqueles que você nunca viu. Você vai ver que alguns
títulos são muito felizes e outros totalmente infelizes.
Ao escrever a continuação do NAMORO NA INTERNET eu pensei em dar um outro
título. É a história de Cacilda, uma jovem solteira que procura um namorado na
internet. Ela, que é desleixada com sua aparência, coloca uma foto de uma modelo
lindíssima no seu perfil. E acaba atraindo um homem lindo também.
Quando ele quer se encontrar com ela, depois de semanas de namoro virtual, ela
está numa grande encrenca. Afinal ela não é a moça da foto - como vai se encontrar
com aquele homem maravilhoso?
Pensei no título O PAR IDEAL. Até podia ser. Mas não tinha totalmente a ver com a
história. E pra piorar não gostei do título. Não achei chamativo.
Acabei colocando NAMORO NA INTERNET 2 - que tem muito mais a ver com o filme,
já que eles namoram boa parte do tempo pela internet, e esse inclusive é o tema dos
2 filmes.
Pensando assim mudei o nome desse curta também. HOJE VAI SER UM DIA PERFEITO
é bem interessante. Mas achei longo demais e resolvi mudar para UM DIA PERFEITO.
O primeiro tem jeito de nome de crônica - o segundo tem jeito de nome de filme.
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Títulos são como nomes de personagens. Enquanto você não achar aquele que você
sente que combina o roteiro não vai funcionar. Por isso - para o caso de nomes de
personagens - adquira um dicionário de nome (muito bom naqueles dias em que
você simplesmente não tem um nome que sirva para seu personagem).
Vamos então às primeiras páginas do roteiro HOJE VAI SER UM DIA PERFEITO:
UM DIA PERFEITO (de Emílio Carlos)
 
Comédia
 
Sinopse:
 
São 6:30 da manhã. Marcos dorme abraçado com seu travesseiro.
De repente o rádio-relógio liga automaticamente. A voz do Dr. Positivo acorda
Marcos dizendo:
- Levante-se! Hoje vai ser um dia perfeito!
O Dr. Positivo é muito conhecido pelo seu programa matinal de automotivação. E
pelo jeito conseguiu convencer Marcos,que se levantou da cama e foi até o banheiro
em busca do seu dia perfeito.
Mas será mesmo? Até que ponto esse dia que começou perfeito vai continuar sendo
perfeito?
Personagens 
Marcos: um rapaz de 25 anos que mora sozinho num apartamento no 5o. andar de
um edificio. Trabalha no setor administrativo de um banco onde não tem contato
com o público. Todos os dias inevitavelmente seu rádio-relógio desperta as 6:30 da
manhã, e tem início sua rotina diária. Ontem ele resolveu que hoje despertaria com
o programa do Dr. Positivo, para tomar uma injeção de ânimo enquanto acorda - e
assim tentar acordar mais rápido do que o normal. É o tipo do cara metódico que já
cronometrou quanto tempo leva pra acordar e deu quase 2 horas. É metódico mas
não o esteriótipo a que a palavra remete normalmente as pessoas. Metódico no
sentido de ter método, ser organizado, não chato, cafona e ultrapassado.
.Ele tem um rádio-relógio que o desperta todo dia. Ele odeia acordar cedo para
trabalhar. Até coloca o relógio pra despertar bem antes pra não ter que sair
correndo. Porque ele não pega no tranco - acorda aos poucos.
Dr. Positivo: típico auto-motivador da era neo-liberal. Você conhece o tipo: tem
alguns livros de auto-ajuda lançados, vive dando palestras de motivação para
empregados de empresas e agora conseguiu um programa de rádio só seu.
Ele transpira auto-confiança. É um ser tão auto-suficiente e tão confiante em si
próprio que chega até a incomodar um pouco. É comos e ele dissesse o tempo todo
que "você também pode ser como eu se fizer meus cursos" quando você sabe que
não pode.
Mas por pressão da empresa em que trabalha você vai acabar fazendo um desses
cursos. Afinal os outros colegas vão fazer e você não quer ficar para trás na fila de
uma possível promoção.
Catador de Papel: um homem que vive nas ruas andando o dia todo em busca do
seu ganha-pão. Ultimamente a mídia passou a chamá-lo de agente de reciclagem. O
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que não mudou a sua realidade.
Apesar da vida dura, puxando seu carrinho pelas ruas (que com o passar do dia fica
mais pesado) ele não perdeu o bom-humor. Sabe que pra viver no meio do transito
e das pessoas - do engravatado ao mais humilde - ele precisa ter jogo de cintura. É
um sujeito simpático que sabe que o lixo de uns é luxo pra outros.
CENÁRIOS 
Quarto de Marcos: (Interno) quarto típico de rapaz solteiro, meio desarrumado,
conjugado com um banheiro. Como ele recebe visitas ali tentar dar uma aparência
de quem ao menos tentou arrumar o ambiente. E como as visitas incluem moças
nada de pôsteres de mulheres sem roupa.
Prédio de Marcos: visão externa do 5o. andar e rua da frente da 
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15. O idioma dos termos técnicos do roteiro
Há alguns anos acompanhei uma discussão sobre qual deveria ser o idioma dos
termos técnicos a ser usado no roteiro.
De um lado um grupo argumentava que já há algum tempo se usam termos em
inglês - e que por isso mesmo não se deveria mudar nada.
De outro lado outro grupo argumentava que:
- estamos no Brasil e falamos o português. Por isso o idioma tem que ser o
português (ou o "brasileiro", como querem alguns movimentos lingüísticos).
- Que jamais um norte-americano colocaria termos técnicos em português em
seu roteiro - o que é mais uma razão para usarmos o nosso idioma.
Como roteirista eu sempre preferi usar termos em português. Acho que facilita mais
a comunicação entre o roteirista, o diretor e a equipe. Afinal todos nós crescemos e
convivemos com nossa língua pátria.
Como professor do curso de roteiro deixo à sua escolha o idioma que vai usar para
os termos técnicos.
Muita gente tem dificuldade em traduzir os termos do inglês para o nosso
português (ou brasileiro). Por isso nessa lição publico uma lista de termos
equivalentes garimpada na internet na época dessa discussão sobre idiomas.
DICIONÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS EM PORTUGUÊS
 
CLOSE UP: Primeiro plano
CLOSE SHOT: Plano próximo
EXTREME CLOSE UP: Primeiríssimo plano
DISSOLVE TO: Fusão
FIRST DRAFT: Primeiro Tratamento
FINAL DRAFT: Tratamento Final
FADE OUT: Tela escurece
FADE IN: Tela clareia
GIMMICK: Reversão de expectativa
INSERT: Inserção
INTERCUT: Montagem paralela
OFF ou O.S: Fora do Quadro (F.Q) ou Fora do Plano (F.P)
SHOOTING SCRIPT: Roteiro Técnico ou Roteiro de Filmagem
STORY LINE: Síntese
STORYBOARD: Desenho dos planos ou Esboço das seqüências
VOICE OVER ou V.O: Narração (NAR)
CUT TO: Corta para
SERIES OF SHOTS: Série de Planos
MASTER SHOT: Plano mestre
ESTABLISHING SHOT: Plano de ambientação
CLOSE SHOT: PLANO PRÓXIMO
CLOSE UP: PRIMEIRO PLANO
CUT TO: CORTA PARA
CUT UP: PLANO DETALHE
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DISSOLVE TO: FUSÃO
DOLLY IN: CÂMARA SE APROXIMA
DOLLY OUT: CÂMARA SE AFASTA
ESTABLISHING SHOT: PLANO DE AMBIENTAÇÃO
EXTREME CLOSE UP: PRIMEIRÍSSIMO PLANO
FADE IN: TELA CLAREIA
FADE OUT: TELA ESCURECE
FINAL DRAFT: TRATAMENTO FINAL
FIRST DRAFT: PRIMEIRO TRATAMENTO
FLASHBACK: LEMBRANÇA ou PASSADO
FREEZE: CONGELA
GIMMICK: REVERSÃO DE EXPECTATIVA
INSERT: INSERÇÃO
INTERCUT: MONTAGEM PARALELA
LONG SHOT: PLANO GERAL
MASTER SHOT: PLANO MESTRE
OFF SCEREEN ou O.S: FORA DO QUADRO (F.Q) ou FORA DO PLANO (F.P)
PLOT: TRAMA
QUICK MOTION: CÂMARA RÁPIDA
SERIES OF SHOTS: SÉRIE DE PLANOS
SHOOTING SCRIPT: ROTEIRO TÉCNICO ou ROTEIRO DE FILMAGEM
SLOW MOTION: CÂMARA LENTA
SPLIT SCREEN: TELA REPARTIDA
STORY LINE: SÍNTESE DA HISTÓRIA
STORYBOARD: DESENHO DOS PLANOS ou ESBOÇO DAS SEQUÊNCIAS
SUBPLOT: TRAMA SECUNDÁRIA
TAKE: TOMADA
TRAVELLING: CARRINHO
VOICE OVER ou V.O: NARRAÇÃO (NAR)
PLONGÉE: CÂMARA ALTA
CONTREPLONGÉE: CÂMARA BAIXA
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16. Termos Técnicos parte 2
Para que o roteirista possa melhor se expressar no roteiro é bom que ele conheça os
termos técnicos que são usados no Cinema e no Vídeo, do roteiro à edição.
Abaixo listo vários desses termos com uma breve explicação de cada um deles:
A
AÇÃO - Termo usado para descrever a função do movimento que acontece frente à
câmara.
AÇÃO DIRETA - Roteiro que obedece à ordem cronológica.
AÇÃO DRAMÁTICA - Somatório da vontade do personagem, da decisão e da
mudança.
ADAPTAÇÃO - Passagem de uma história de uma linguagem para outra. Assim, um
conto pode ser adaptado para ser filmado como um longa metragem ou um seriado
para televisão.
ÂNGULO ALTO - Enquadramento da imagem com a câmara focalizando a pessoa ou
o objeto de cima para baixo.
ÂNGULO BAIXO - Enquadramento da imagem com a câmara focalizando a pessoa ou
o objeto de baixo para cima.
ÂNGULO PLANO - Ângulo que apresenta as pessoas ou objetos filmados num plano
horizontal em relação à posição da câmara.
ANTECIPAÇÃO - A capacidade que tem a platéia de antecipar uma situação. Criação
de uma expectativa.
ANTIPATIA - Reação ao personagem.
ARGUMENTO - Percurso da ação, resumo contendo as principais indicações da
história, localização, personagens. Defesa do desenrolar da história. Tratando-se de
telenovela, chama-se sinopse. Não confundir com story-line que é o resumo
resumido.
ÁUDIO - A porção sonora de um filme ou programa de tv.
C
CÂMARA OBJETIVA - Posicionamento da câmara quando ela permite a filmagem de
uma cena do ponto de vista de um público imaginário.
CÂMARA SUBJETIVA - Câmara que funciona como se fosse o olhar do ator. A câmara
é tratada como "participante da ação", ou seja, a pessoa que está sendo filmada olha
diretamente para a lente e a câmara representa o ponto de vista de uma outra
personagem participando dessa mesma cena.
CAPA - Folha do roteiro que contém o título, nome do autor, etc.
CENA - Unidade dramática do roteiro, seção contínua de ação, dentro de uma
mesma localização. Seqüência dramática com unidade de lugar e tempo, que pode
ser "coberta" de vários ângulos no momento da filmagem. Cada um desses ângulos
podeser chamado de plano ou tomada.
CENA MASTER - É a filmagem em um único plano de toda a ação contínua dentro do
cenário. A cena master dá ao Diretor a garantia dele ter "coberto" toda a ação numa
só tomada.
CENAS DO PRÓXIMO CAPÍTULO - Pistas, indícios do que está para acontecer,
pequenas revelações do encaminhamento da ação. Essas pequenas insinuações
constituem verdadeiro trunfo das emissoras de TV, pois servem para prender o
telespectador à narrativa. O recurso foi ignorado na década de 60: o seu
aproveitamento iniciou-se na década de 70, sendo novamente abandonado nos
anos 90. Os antigos folhetins costumavam, também, insinuar o que estava para
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anos 90. Os antigos folhetins costumavam, também, insinuar o que estava para
acontecer, ao suspenderem a narração escrita.
CENOGRAFIA - Arte e técnica de criar, desenhar e supervisionar a construção dos
cenários de um filme.
CHICOTE - Câmara corre lateralmente durante a filmagem de uma determinada
cena, deslocando rapidamente a imagem.
CLAQUETE - Quadro usado para marcar cenas e tomadas e cujo som, na montagem,
serve como ponto para sincronização de som e imagem.
CLICHÊ - Cacoetes verbais. Uso repetitivo e enfadonho de diálogos e soluções
cênicas em qualquer tipo de produção artística.
CLÍMAX - Ponto culminante da ação dramática.
"CLOSE-UP" - Plano que enfatiza um detalhe. Primeiro plano ou plano de pormenor.
Tomando a figura humana como base, este plano enquadra apenas os ombros e a
cabeça de um ator, tornando bastante nítidas suas expressões faciais.
COMPILAÇÃO - Tipo de montagem onde a imagem do filme passa a ser uma
"ilustração" da narração.
COMPOSIÇÃO - Características psicológicas, físicas e sociais que formam um
personagem (composição da imagem/tipologia).
CONFLITO - Embate de forças e personagens, através do qual a ação se desenvolve.
CONSTRUÇÃO DRAMÁTICA - Realização de uma estrutura dramática.
CONTINUIDADE - Seqüência lógica que deve haver entre as diversas cenas, sem a
qual o filme torna-se apenas uma série de imagens, com pulos de eixo, ação e
tempo. Há diversos tipos de continuidade: de tempo, de espaço, direcional
dinâmica, direcional estática, etc.
CONTRACAMPO - Tomada efetuada com a câmara na direção oposta à posição da
tomada anterior.
CONTRASTE - Criação de diferenças explícitas na iluminação de objetos ou áreas.
CORTE - Passagem direta de uma cena para outra dentro do filme.
CORTE DE CONTINUIDADE - Corte no meio de uma cena, retomando logo a seguir a
mesma cena em outro tempo.
CRÉDITOS - Qualquer título ou reconhecimento à contribuição de pessoas ao filme.
Relação de pessoas físicas e jurídicas que participam da - ou contribuem para a -
realização de um produto audiovisual. Geralmente, é mostrada no final da produção.
CRISE DRAMÁTICA - Ponto de grande intensidade e mudanças da ação dramática.
CURVA DRAMÁTICA - Variação da intensidade dramática em relação ao tempo.
CUT-AWAY CLOSE-UP - Este conceito só tem significado dentro do contexto da
montagem. É uma tomada em close-up de uma ação secundária que está
desenvolvendo-se simultaneamente em outro lugar, mas que tem uma relação
direta com a ação principal. O cut-away close-up deve ser montado entre duas
tomadas da ação principal.
CUT-IN CLOSE-UP - Como o item acima, este conceito só tem significado no
contexto da montagem. É uma tomada em close-up de uma parte importante da
ação principal, e que deve ser montada entre duas tomadas normais dessa ação.
D
DECUPAGEM - Planificação do filme definida pelo diretor, incluindo todas as cenas,
posições de câmara, lentes a serem usadas, movimentação de atores, diálogos e
duração de cada cena.
DESFOCAR - Câmara muda o foco de um objeto para outro.
DIÁLOGO - Corpo de comunicação do roteiro. Discurso entre personagens.
DISSOLVE - Imagem se dissolve até o branco ou se funde com a outra.
DIVISÃO DO QUADRO - Registro fotográfico de duas ou mais imagens distintas em
um mesmo fotograma.
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DOLLY - Veículo que transporta a câmara e o operador, para facilitar a
movimentação durante as tomadas.
"DOLLY BACK" - Câmara se afasta do objeto. Travelling ou grua de afastamento.
"DOLLY IN" - Câmara se aproxima do objeto. Travelling ou grua de aproximação.
"DOLLY OUT" - Câmara recua, abandona a cena.
"DOLLY SHOT" - Movimento de câmara que se caracteriza por se aproximar e se
afastar do objetivo, e também por movimentos verticais.
DUBLAGEM - Inclusão de diálogo, narração, canto, etc. sobre a imagem filmada
anteriormente.
E
EIXO DE AÇÃO - Linha imaginária traçada exatamente no mesmo itinerário de um
ator, de um veículo ou de um animal em movimento. É também a linha imaginária
que interliga os olhares de duas ou mais pessoas paradas em cena.
ELENCO - Conjunto de pessoas (atores, atrizes, figurantes) selecionados para uma
produção, que representam as personagens e fazem a figuração de um filme.
ELIPSE - Passagem muito rápida de tempo.
EMISSOR - Quem transmite a mensagem no processo de comunicação.
EMPATIA - Identificação do público com o personagem.
ENCADEADO - Fusão de duas imagens, uma sobrepondo-se à outra.
ENQUADRAMENTO - Limites laterais, superior e inferior da cena filmada. É a imagem
que aparece no visor da câmara.
ENTRECORTES - Tomadas da ação principal ou de uma ação secundária (ligada
direta ou indiretamente à ação principal), que permitem uma montagem mais
flexível em termos de continuidade.
EPÍLOGO - Cenas de resolução.
EPÍSTOLA - Técnica narrativa (narrativa epistolar), que consiste em abrir uma obra
com uma carta em que o autor se dirige a um amigo seu, a fim de relatar uma
história pretensamente verídica. Este recurso foi largamente utilizado pelos autores
românticos (José de Alencar, por exemplo, entre nós) e, por sua vez, foi inspirado
em narradores do século XVIII (Richardson, Goethe, Rousseau), que abusavam do
estratagema, fazendo com que seus romances se constituíssem inteiramente em
troca de cartas entre as diversas personagens.
ESFUMAR - A imagem dissolve-se na cor branca ou funde-se com outra.
ESPELHO - Página de roteiro, geralmente de abertura, contendo informações como
personagens, cenários, locações, etc.
ESTRUTURA - Fragmentação do argumento em cenas, arcabouço da seqüência de
cenas.
"ETHOS" - Ética, moral da história.
EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS - Cenas de informações, explicativas.
EXTERNAS - Cenas filmadas nas praças, ruas, parques, campos, estádios, rodovias,
enfim, ao ar livre.
EXTRAS - São os figurantes de um filme: pessoas contratadas para desempenhar
papéis secundários, como os componentes de uma multidão.
F
"FADE IN" - O surgir da imagem a partir de uma tela escura ou clara, que
gradualmente atinge a sua intensidade normal de luz..
"FADE OUT" - Escurecimento ou clareamento gradual da imagem partindo da sua
intensidade normal de luz.
FICÇÃO - Inventar, compor e imaginar. Recriação do real.
"FLASH-BACK" - Cena que revela algo do passado, para lembrá-lo, situar ou revelar
enigmas.
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"FLASH-FORWARD" - Cena que revela parcialmente algo que acontecerá após o
tempo presente. O mesmo que flash para frente.
FOLHA DE ROSTO - Página de roteiro contendo informações de título, nome do
autor, etc.
FOLHETIM - Longa história parcelada, desenrolando-se segundo vários
trançamentos dramáticos, apresentados aos poucos. É a origem histórica das
telenovelas. O vocábulo vem do termo francês feuilleton e designava uma seção
específica dos jornais franceses da década de 1830 - o rodapé -, introduzida pelo
jornalista Émile de Girardin, que aproveitou o gosto do público pelo romance como
chamariz para vendas maiores. A peculiaridade do folhetim residia na exploração de
histórias repletas de peripécias, com um sem-número de personagens, às voltas
com temas que iam desde a orfandade, casamentos desfeitos por tramas diabólicas,
raptos, até vingançasaltamente elaboradas, testamentos perdidos e recuperados,
falsas identidades, etc. O mais famoso folhetim - e mais aproveitado posteriormente
pelo cinema e pela televisão - foi O conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas. O
mais extraordinário e mais bem elaborado foi a obra-prima Os mistérios de Paris de
Eugène Sue.
FOLHETIM EXÓTICO - Diz-se do folhetim que, via de regra, tem sua ação situada em
lugares distantes, exóticos, suscitando uma atmosfera misteriosa. Caso, por
exemplo de narrativas localizadas no Oriente, como a novela O sheik de Agadir.
FOLHETIM MELODRAMÁTICO - Narrativa excessivamente maniqueísta, em que os
personagens encarnam o Bem, ou o Mal, não havendo meios-termos: característica,
enfim do melodrama, gênero teatral do início do século XIX. O Mal, no melodrama,
tem sempre forma concreta, personificando-se num indivíduo propositadamente
mau, o vilão. Do outro lado, encarnando o Bem, estão outros indivíduos, sempre
virtuosos, procurando provar, a qualquer custo, a verdade.
FOTONOVELA - Ver Novela.
"FREEZE" - Manter uma mesma imagem por repetição de quadro. Congelar.
FULL SHOT - Ver long shot.
FUSÃO - Fusão de duas imagens, a 1ª sobrepondo-se à 2ª. Serve para mudar de
cena ou enfatizar a relação entre elas
G
GANCHO - Momento de grande interesse que precede a um comercial. Pequenos ou
grandes clímax, arranjados de modo tal que não permitam que o telespectador
abandone a história. Na exibição diária de telenovelas, há três ganchos de menor
grau - pausas para comerciais -, e um de maior grau, para o dia seguinte. Aos
sábados, ocorre o "gancho do diálogo" ou "grande break", pois haverá a pausa de
domingo, quando não se exibe as histórias. O "grande break" sempre será um
momento de alto suspense e pensado calculadamente para o retorno da
segunda-feira.
"GIMMICK" - Recurso usado para resolver uma situação problemática. Reversão de
expectativa.
GUERRA DO PAPEL - Momento de discussão e análise, depois da escrita do primeiro
roteiro.
H
HALO DESFOCADO - Câmara desfoca as coisas em torno do objeto, mantendo-o em
foco.
I
IDÉIA - Semente da história, idéia primeira.
INDICAÇÕES - Anotações sobre a cena, o estado de ânimo, etc.
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"INSERT" - Imagem breve, rápida e quase sempre inesperada que lembra
momentaneamente o passado ou antecipa algum acontecimento. Os inserts podem
ser variados ou repetidos, estes servindo, às vezes, de plot, o núcleo dramático ou
algo que o simbolize.
INTENÇÃO - Vontade implícita ou explícita do personagem.
L
LOCALIZAÇÃO - Localização de uma história no espaço.
LOCUÇÃO EM OFF - Texto que acompanha a ação do filme, pronunciado por um
locutor ou locutora que não aparecem em cena. O mesmo que off.
"LOGOS" - Palavra, discurso, estrutura verbal de um roteiro.
"LONG SHOT" - "Full shot", plano geral; plano que inclui todo o cenário. É usado
para mostrar um grande ambiente.
"LOOP" - Segmento de filme, cortado e separado para montagem. Fita ou aro de
película
M
MACROESTRUTURA - Estrutura geral do roteiro.
MANIQUEÍSMO - Princípio filosófico segundo o qual o universo foi criado e é
dominado por dois princípios antagônicos: Deus ou o Bem absoluto, e o Mal
absoluto, ou o Diabo. A partir desse princípio, aplica-se o termo à cosmovisão que
enxerga o mundo à luz dessa dualidade.
MEIO - Instrumento de transmissão da mensagem.
MENSAGEM - Sentido político, social, filosófico ou qualquer outro que uma história
pode conter. Quase a moral da história, das fábulas.
MICROESTRUTURA - Estrutura de cada cena.
MINISSÉRIE - Obra fechada, com vários plots que se desenrola durante um número
de episódios, geralmente não superior a dez.
MOVIOLA - Máquina usada para a edição e montagem de filmes ou vídeo.
MUDANÇAS DE EXPECTATIVAS - Quando o curso da história muda de repente.
"MULTIPLOT" - Várias linhas de ação, igualmente importantes, dentro de uma
mesma história.
N
NOITE AMERICANA - Técnica de iluminação e filtragem utilizada utilizada para
simular um efeito noturno numa imagem filmada durante o dia.
NOVELA - Obra aberta, com multiplot.
NOVELA DENTRO DA NOVELA - Simultaneidade narrativa superpondo tempos. O
exemplo mais bem-acabado desta técnica foi a telenovela O casarão, de Lauro César
Muniz, enfocando cinco gerações de uma família estabelecida ao norte de São Paulo,
na fase áurea do café. Um casarão de fazenda colonial foi o centro gerador da
história, desde que foi construído, em 1900, até a modernidade, em 1976. Outro
exemplo é Espelho mágico, do mesmo autor, onde, além da história propriamente
dita (a vida dos astros e estrelas no cotidiano), há ainda a gravação de uma novela,
Coquetel de amor, encenada pelos astros da primeira história, e a montagem da
peça teatral Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand.
NOVELÃO - Nome pejorativo, análogo a dramalhão, que conota a telenovela repleta
de conflitos sentimentais, com muita recorrência à emoção fácil. O mesmo que
telelágrima.
NÚCLEO DRAMÁTICO - Reunião de personagens ligados entre si pela mesma ação
dramática, organizados num "plot".
O
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OBJETIVO DRAMÁTICO - A razão da existência de uma cena.
OBJETOS DE CENA - São todos os itens utilizados para decoração do cenário:
cinzeiros, vasos, telefones, objetos de arte, etc.
"OFF" - Vozes ou sons presentes sem se mostrar a fonte emissora.
OLIMPIANO - Adjetivo usado por Edgar Morin (Cultura de massas no século XX) para
designar a categoria sagrada dos campeões, príncipes, reis, astros de cinema,
playboys, artistas célebres. Diz Morin: "o olimpismo de uns nasce do imaginário,
isto é, dos papéis encarnados nos filmes (astros); o de outros nasce de sua função
sagrada (realeza, presidência), de seus trabalhos heróicos (campeões, exploradores)
ou eráticos (playboys).
P
PANORÂMICA - (pan) Câmara que se move de um lado para outro, dando uma visão
geral do ambiente, mostrando-o ou sondando-o.
PASSAGEM DE TEMPO - Artifício usado para mostrar que o tempo passou.
"PATHOS" - Drama, conflito.
PERCURSO DA AÇÃO - Conjunto de acontecimentos ligados entre si por conflitos
que vão sendo solucionados através de uma história.
PERIPÉCIA - O mesmo que incidente, aventura. Excesso de ação, recurso
marcadamente usado em telenovelas, em folhetins, no melodrama, na radionovela.
O romance romântico abusou da peripécia: aí alguns críticos apontam a causa maior
de seu sucesso junto ao público feminino, no século XIX.
PERSONAGEM - Quem vive a ação dramática.
PING-PONG - Tipo específico de montagem onde duas imagens semelhantes, em
termos de ângulo, tamanho e posicionamento dentro do quadro, se alternam
regularmente; mantendo a unidade da cena.
PLANO AMERICANO - Plano que enquadra a figura humana da altura dos joelhos
para cima.
PLANO DE CONJUNTO - Plano um pouco mais fechado do que o plano geral.
PLANO DE DETALHE - Mostra apenas um detalhe, como, por exemplo, os olhos do
ator, dominando praticamente todo o quadro.
PLANO GERAL - Plano que mostra uma área de ação relativamente ampla.
PLANO MÉDIO - Plano que mostra uma pessoa enquadrada da cintura para cima.
PLANO PRÓXIMO - Enquadramento da figura humana da metade do tórax para cima.
"PLOT" - Dorso dramático do roteiro, núcleo central da ação dramática e seu
gerador. Segundo os teóricos literários, uma narrativa de acontecimentos, com a
ênfase incidindo sobre a causalidade. Em linguagem televisual, todavia, o termo é
usado como sinônimo do enredo, trama ou fábula: uma cadeia de acontecimentos,
organizada segundo um modo dramático escolhido pelo autor. Em uma história
multiplot, o plot principal será aquele que, num dado momento, se mostrar
preferido pelo público telespectador.
PONTES - Tomadas escolhidas para interligar duas cenas que não poderiam ser
montadas seguidamente. As pontes ajudam a resolver problemas de continuidade
do filme.
PONTO DE IDENTIFICAÇÃO - Relação convergente entre platéia e ação dramática.
PONTO DE PARTIDA

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