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Apostila de Direito Civil IV Direito das Coisas até Direito de Construir Maria Helena Diniz Código Civil Comentado

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LIVRO III 
DO DIREITOS DAS COISAS 
(*) Há muito o Título do Livro II do nosso Código Civil, “Direito das Coisas”, sofre severas críticas da 
doutrina contemporânea. ao procurar demonstrar que a expressão utilizada afigura-se restritiva e 
incompatível com a amplitude do próprio Livro, à medida que trata da posse (considerada como um 
fato sócio-econômico potestativo e não como um direito real), assim como regula todos os direitos 
reais. 
Por outro lado, a palavra “coisas” denota apenas uma das espécies de “bens” (gênero) da vida, razão 
pela qual seria manifesta a técnica jurídica continuar conferindo a um dos Livros do Código Civil o 
Título de Direito das coisas , uma vez que regula as relações fáticas e jurídicas entre sujeitos e os 
bens da vida suscetíveis de posse e direitos reais. 
Em face dessas ponderações e considerando-se que o novo Código primou por conferir a melhor 
terminologia aos institutos jurídicos, títulos, capítulos e seções, seria de boa índole que se corrigisse 
este lapso, conferindo ao Livro III a denominação adequada: “Da Posse e dos Direitos Reais”. 
APOSTILA DE DIREITO CIVIL IV
5º SEMESTRE
TURMA 3001
DIREITO DAS COISAS 
Da Posse (art. 1.196)
até
Do Direito de Construir (art. 1.299)
Código Civil Comentado
Maria Helena Diniz e Outros
- 2018 -
Compilado por Fazendo Direito
Visite-nos em
https://direitonaestaciofapbelem.blogspot.com
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
• Sugestão Legislativa: Apresentamos ao Deputado Ricardo Fiuza proposta para alteração do título do
Livro RI da Parte Especial, que passaria a ser: “Da posse e dos direitos reais”.
 TÍTULO I 
DA POSSE 
CAPITULO I 
DA POSSE E SUA CLASSIFICAÇÃO 
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercido, pleno ou não, de 
algum dos poderes inerentes à propriedade. 
• O dispositivo em tela não foi atingido por qualquer espécie de modificação, seja da parte do Senado
Federal, seja da parte da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A 
redação atual é a mesma do anteprojeto.
• Assinala-se que o teor do dispositivo é, praticamente, o mesmo contido no art. 485 do CC de 1916,
apenas com a acertada supressão da palavra “domínio”, tomando-se assim a redação mais técnica e
correta, tendo-se em conta que a expressão rechaçada é limitada aos bens corpóreos, enquanto a
posse, como situação potestativa sócio-econômica de projeção no plano fatual do mundo jurídico
nele, pode refletir-se, tendo por objetos bens semimateriais ou semi-incorpóreos (energias elétrica,
térmica, nuclear, gasosa e solar, ondas de transmissão de freqüência radiotelevisiva, linhas
telefônicas (infovias). Por isso, a expressão poderes inerentes à propriedade” designa de maneira
muito mais adequada o instituto em questão.
Doutrina 
• A posse é uma situação fática com carga potestativa que, em decorrência da relação sócio-
económica formada entre um bem e o sujeito, produz efeitos que se refletem no mundo jurídico. O
seu primeiro e fundamental elemento é, portanto, o poder de fato, que importa na sujeição do bem à
pessoa e no vínculo de senhoria estabelecido entre o titular e o bem respectivo. A posição de
senhoria exterioriza-se através do exercício ou da possibilidade de exercício do poder, como
desmembramento da propriedade ou outro direito real, no mundo fático. Por sua vez, o poder
exteriorizado ou a possibilidade do seu exercício estará, via de regra, em consonância com o direito
real que ele representa na órbita do mundo de fato. Em outras palavras, a situação potestativa do
mundo fático corresponderá àquela pertinente ao mundo jurídico, dentro de suas limitações. Assim,
por exemplo, todo aquele que possui, como se fosse dono, tem o poder de fato pertinente ao
respectivo direito real de propriedade. A POSSe do exercício do poder mas sim o poder
propriamente dito que tem o titular da relação fática sobre um determinado bem, caracterizando-se
tanto pelo exercício como pela possibilidade de exercício. Ela é a disponibilidade e não a
disposição; é a relação potestativa e não, necessariamente , o efetivo exercício. O Titular da posse
tem o interesse potencial em conservá-la e protegê-la de qualquer tipo de modéstia que porventura
venha a ser praticada por outrem, mantendo consigo o bem numa relação de normalidade capaz de 
atingir a sua efetiva função sócio-econômica. Os atos de exercício dos poderes do possuidor são 
meramente facultativos — com eles não se adquire nem se perde a senhoria de fato, que nasce e 
subsiste independentemente do exercício desses atos. Assim, a adequada concepção sobre o poder 
fático não pode restringir-se às hipóteses do exercício deste mesmo poder. O possuidor dispõe do 
bem, criando, em relação a ele, um interesse em conservá-lo. 
• Por tudo isso, perdeu-se o momento histórico para corrigir um importantíssimo dispositivo que vem
causando confusão entre os jurisdicionados e, como decorrência de sua aplicação incorreta,
inúmeras demandas.
Ademais, o dispositivo mereceria um ajuste em face das teorias sociológicas, tendo-se em conta que
foram elas, em sede possessória, que deram origem à função social da propriedade. Nesse sentido,
vale registrar que foram as teorias sociológicas da posse, a partir do início do século XX, na Itália,
com Silvio Perozzi; na França, com Raymond Saleilles e, na Espanha, com Antonio Hemandez Gil,
que não só colocaram por terra as célebres teorias objetiva e subjetiva de Jhering e Savigny como
também tornaram-se responsáveis pelo novo conceito desses importantes institutos no mundo
contemporâneo, notadamente a posse, como exteriorização da propriedade (sua verdadeira “função
social”).
• Ademais, o conceito traz em seu bojo o principal elemento e característica da posse, assim
considerado pela doutrina e jurisprudência o poder fático sobre um bem da vida, com 
admissibilidade de desmembramento em graus, refletindo o exercício ou possibilidade de exercício
de um dos direitos reais suscetíveis de posse.
• Assim, evolui-se no conceito legislativo de possuidor , colocando-o em sintonia com o conceito de
posse, em paralelismo harmonizado com o direito de propriedade, como sua projeção no mundo
fatual.
• Por isso, afigura-se de bom alvitre uma nova redação para este dispositivo.
Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em 
virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o 
possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. 
Histórico 
• O presente dispositivo não foi objeto de emenda, quer por parte do Senado Federal, quer por parte
da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A redação atual é a mesma do
anteprojeto.
• Encontra 4isposição similar no CC de 1916 no art. 486.
Doutrina 
• Sem maiores dificuldades, percebe-se que o legislador deixou de acolher, nesse dispositivo, a
orientação da doutrina dominante das últimas décadas, diferentemente do que fez em tantas outras
passagens do NCC. Na verdade, a redação desse artigo apresenta-se bastante truncada, o que
dificulta sensivelmente a sua aplicabilidade e compreensão, valendo ressaitar que problemas de
ordem prática, sobretudo por se tratar de artigo de larga aplicabilidade, certamente surgirão. Por
isso, apresentei proposta de alteração ao ilustre Relator, Deputado Ricardo Fiuza, para modificação
do dispositivo, durante a vacatio legis.
•O dispositivo versa sobre os desmembramentos voluntários e classificação das posses com base nos
poderes de ingerência dos titulares sobre o mesmo bem da vida, sem que sobre eles as posses se
sobreponham ou se anulem (v. g. arrendante e arrendatário, locador e locatário). Em outras palavras,
como a posse pressupõe a existência de poder fático, e não necessariamente o seu exercício, que é
uma forma de exteriorização deste poder, classifica-se em dois grupos distintos: a) posse absoluta(própria); e b) posse relativa ‘(imprópria ) fático que tem origem no desmembramento de um direito
(posse non domino), não gerando efeitos à prescrição aquisitiva (posse ad usucapionem)
Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com 
outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. 
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em 
ralação ao bem e a outra pessoa , presume-se detentor, ate que prove o contrario. 
Histórico 
• O dispositivo em tela não sofreu alteração substancial, seja por parte do Senado Federal, seja por
parte da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A redação atual é,
basicamente, a mesma do anteprojeto.
•Durante a fase final de revisão do texto do projeto, apresentei ao Relator-Geral, Deputado Ricardo
Fiuza, proposta (acolhida) para substituição, no parágrafo único, da expressão a coisa por “ao bem”.
Em síntese, observei como justificativa que a palavra coisa denota uma espécie mais restrita de bem
da vida, enquanto os bens são o génem e, desta feita, referem-se aos móveis, imóveis, bem como os
materiais, semimatcriais, e imateriais, em toda a sua amplitude.
• O dispositivo praticamente repete o Art. 487 do CC de 1916.
Doutrina 
• O detentor (fâmulo da posse) não exerce poderes sobre o bem da vida, mas os atos que pratica
assim os faz em nome de outrem, isto é, do possuidor Por isso, em relação ao detentor, presume a lei
(presunção juris tantum) que a situação se mantenha indefinidamente. Caso contrário, o ônus da
prova compete ao detentor, que por inversão da situação precedente deu origem (causa
possessionis) a atos potestativos de ingerência socio-econômica sobre determinado bem da vida,
excluindo terceiros e o legítimo possuidor. Em outras palavras, quem era mero detentor pratica
esbulho, nada obstante passe a exercer poderes (posse) sobre o bem da vida.
Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre 
ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores. 
Histórico 
• O presente dispositivo não serviu de palco a qualquer alteração, seja por parte do Senado Federal,
seja por parte da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A redação atual
é a mesma do anteprojeto.
• Trata-se de redação aprimorada do antigo Art. 488 do CC de 1916.
Doutrina 
• A posse exclusiva não se confunde com a posse absoluta (própria e plena); enquanto a primeira tem
pertinência à titularidade do poder de fato — exclusivo de um único possuidor — a segunda diz 
respeito à manifestação do conteúdo deste poder.
• Assim, fica mais fácil compreender que composse é a posse comum sobre o mesmo bem (divisível
ou indivisível), exercida concomitantemente por dois ou mais sujeitos (pessoas físicas e/ou 
jurídicas). Está a composse para o mundo fático, assim como o condomínio está para o mundo
jurídico. Pode verificar-se dentro da organização vertical da posse, no tocante ao bem, a composse
como se os co-titulares fossem condôminos (posse de coisa indivisa), ou a posse de um bem atravês
do gozo do mesmo direito real limitado, isto é, composses absolutas ou próprias e plenas.
• Diz-se que a composse pode ser pra diviso ou pra indiviso. Na compossessio pro divisa, o poder
fático comum manifesta-se de maneira que cada possuidor, individualmente, externa poderes sobre
uma quota ou parte especifica do bem. Na compossessio pra indiviso, não existe uma parte ou 
quinhão determinado para atuação do poder fático, sendo que todos os sujeitos da comunhão têm 
poderes sobre a coisa em sua inteireza. Tem posse tanto o sujeito que direciona o poder fálico sobre 
parte determinada da coisa como aquele outro que possui parte ideal inespecifica . Não obstante, “... 
só a compossessio pro indiviso é verdadeiramente composse (José Carlos Moreira Alvcs, Posse. 
Estudo dogmático, Rio de Janeiro, Forense, 1991, v. LI, t. 1, n. 31, p. 498-519). 
• A composse não é apenas um paralelo da compropriedade no mundo fático, podendo apresentar-Se 
da mesma forma com relação aos outros direitos reais (excluída a hipoteca) 
• Denomina-se posse periódica a relação do mundo fâtico desmembrada da multipropriedade ou 
propriedade periódica . Essa nova variação pretende adaptar-Se juridicamente ao instituto da 
propriedade comum, possibilitando a utilização de imóveis, em unidades autônomas (v. g. casas, 
chalés, apartamentos), em determinados períodos ou temporadas, por pessoas que não desejam 
pagar o preço total do respectivo empreendimento referente à aquisição efetiva do bem em questão 
, tampouco alugar o imóvel a cada ano. Nessa modalidade de “uso” do imóvel em períodos 
compartidos sucessivos, vende-se regularmente a propriedade a diversos adquirentes de um mesmo 
bem com prévia definição de utilização durante determinado mês (ou dias) do ano, variando o preço 
de compra conforme o tempo de uso e temporada (alta, média ou baixa). Essa situação fática e 
jurídica não foi regulamentada pelo NCC; assemelha-se ao instituto do direito civil americano 
conhecido por leasehold, que significa, em síntese, o direito de usar a propriedade alheia sob 
condições previamente estipuladas num contrato, tendo por objeto, via de regra, um bem tangível. 
• Conforme a relação fática que se venha a formar, o sistema organizacional da manifestação do 
poder de ingerência dos compossuidores sobre um bem pode criar situações diversas apresentadas 
num paralelismo entre o mundo fático e o jurídico. Assim, nada obsta a que se verifiquem: pro-
priedade e composse; compropriedade (condomínio) e posse singular (exclusiva ou múltipla); 
compropriedade e composse; ou compropriedade sem posse ou sem composse. 
 
 
Bibliografia 
• José Carlos Moreira Alves, Posse. Estuda dogmático. Rio de Janeiro, Forense, 1991, v. II, t. 1 (ii. 
31, p. 498-519). 
 
 
 
 
 
Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária . 
 
 
Histórico 
 
• O dispositivo em tela não foi atingido por qualquer espécie de modificação, seja da parte do Senado 
Federal, seja da parte da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A 
redação atual é a mesma do anteprojeto. 
• Idêntica à redação conferida ao art. 489 do CC de 1916. 
 
 
Doutrina 
• O conceito de posse justa (ou injusta) não se confunde com aquele definido no art. 1.228 do NCC 
(Art. 524 do CC de 1916). Em sede possessória, a concepção de injustiça ou justiça da posse 
restringe-se aos três vícios que a maculam (stricto sensu), enquanto, no que concerne à propriedade, 
a expressão é empregada para designar todas a situações (e não apenas aqueles vícios ) que 
repugnam ao mais amplo direito real. 
 
• São as circunstancias do mundo fâtico, definidas nesse dispositivo. que maculam a aquisição da 
posse, tornando-a injusta e mantendo-a com essas mesmas características, indefinidamente, salvo 
prova em contrario . 
 
• Caracteriza-se o vício por ser inerente ao momento da aquisição da posse em relação ao novo titular. 
Assim, a posse pode ser viciosa por motivos objetivas (em conseqüência do fato que lhe deu 
origem), ou subjetivos (em face do conhecimento da mácula). 
• Posse injusta não se confunde jamais com má-fé.
• Violência é a maneira de consecução o do ato espoliativo mediante constrangimento físico ou moral
praticado contra o possuidor ou contra quem possui em nome dele. Configura-Se pela utilização da
força física (armada ou não), ou por intermédio da vis compulsiva. Prescinde de confronto material
ou tumulto entre as partes conflitantes (possuidor e esbulhador.
• Clandestinidade ~ o vício que se manifesta pela ocultação do ato espoliativo, de forma que o
possuidor não tenha conhecimento dele. Não é suficiente o desconhecimento do ato, fazendo-se
necessário que a posse tenhasido tomada às escondidas e com emprego de manobras tendentes a
deixar o possuidor em determinada posição de efetivo não conhecimento do esbulho. Assim, se o
esbulhador não agiu ocultamente, em que pese o possuidor desconhecer a prática do ato por
qualquer motivo, o vício da clandestinidade, neste caso, não se configura.
• Precariedade configura-se como vício da posse, nas relações em que o sujeito tem consigo,
anteriormente , um bem a título precário e recusa-se a devolvê-lo ao legítimo possuidor. quando
requerido ou chegando o momento oportuno. Resulta de um abuso de confiança por parte daquele
que previamente recebera a coisa do possuidor, assumindo o compromisso (tácito ou expresso) de
restituí-la em certo momento, ou quando se verificasse determinada condição ou termo.
A.rt. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a
aquisição da coisa. 
Parágrafo único. o possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova 
em contrário, ou quando a lei expressa-mente não admite esta presunção. 
Histórico 
• O presente dispositivo não foi objeto de emenda, quer por parte do Senado Federal, quer por parte
da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A redação atual é a mesma do
anteprojeto, cujo Livro flI, referente ao Direito das Coisas, ficou a cargo de Ebcrt Vianna Chamoun.
• Redação idêntica à do Art. 490 do CC de 1916.
Doutrina 
• Considerando-se os contornos legais estabelecidos, a boa-fé significa o estado de subjetividade
(animus) em que se encontra o possuidor, correspondente ao desconhecimento de qualquer dos
vícios (violência, clandestinidade ou precariedade) ou obstáculos (permissão ou tolerância),
impeditivos à aquisição da posse. Esse desconhecimento em ofender o direito alheio exclui a
possibilidade de culpa grave, aqui considerada no sentido de erro inescusável ou grosseira
ignorância.
• Tendo-se em conta que a posse justa respeita à inexistência de vício objetivo (causa possessionis =
origem ou título da posse), a posse de boa-fé tem pertinência à ausência de defeito subjetivo
(desconhecimento da relação viciosa antecedente).
• Justo título há de ser compreendido, antes de mais nada, desvinculado da idéia de “documento”,
tendo-se em conta que posse é situação pertencente ao mundo fático, desvinculada, portanto, do
mundo jurídico. Assim, a concepção de justo título deve estar ligada àquela de causa ou modo de
aquisição eficiente da posse (causa possessionis). Todavia, isso não significa que não possa estar
representado por um “título” (documento) — escritura publica ou particular.
• Da mesma forma, não se deve confundir justo título com título legítimo; o primeiro não é título
hábil à transferência da posse ou propriedade, revestindo-se de simples aparência de título legítimo,
ou seja, é o titulo que seria apto à transferência da posse, mas não que de fato o seja. Diverso é o
título legítimo, que se reveste de todos os requisitos objetivos (formais) e subjetivos capazes de
resultar na efetiva transferência da posse.
Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as 
circunstancias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente. 
Histórico 
• O dispositivo em tela não foi alvo de qualquer espécie de alteração, seja por parte do Senado
Federal, seja por parte da Câmara dos Deputados , no período final de tramitação do projeto. A
redação atual é a mesma do Anteprojeto, cujo Livro III, referente ao Direito das Coisas, ficou à
cargo do eminente jurista Ebert Vianna Chanoun.
• O dispositivo encontra o seu correspondente no Art. 491 do CC de 1916.
Doutrina 
• Várias são as circunstâncias que fazem presumir o desaparecimento da boa-fé: segundo Beviláqua,
as principais são as seguintes: a) confissão do possuidor de que não tem nem nunca teve título; b)
nulidade manifesta do título; c) existência de instrumentos repugnantes à legitimidade da posse, em 
poder do possuidor (Direito das coisas, 5. cd., Rio de Janeiro, Forense, v. 1, p. 45); d) contestação
da demanda (cf. Carvalho Santos, CC interpretado, Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1979, v. VII, p.
49-50; e Washington de Barros Monteiro, Curso de direito civil, São Paulo, Saraiva, 1979, v. VIII);
e) citação judicial (sem perder de vista a observação feita por Lafayette Pereira no sentido de que o
réu pode receber a comunicação e julgá-la infundada na crença — boa-fé — de que o bem lhe
pertence (cf. Direito das coisas, São Paulo, Freitas Bastos, 1943, v. 1).
• Os efeitos práticos dessa questão concernem às benfeitorias, frutos, direito de retenção e prescrição
aquisitiva. Para que os efeitos revertam positivamente em prol do possuidor, faz-se mister que a
posse seja adquirida com boa-fé e que essa circunstância perdure durante todo o tempo.
Bibliografia 
• Clóvis Beviláqua, Direito das coisas, 5. cd., Rio de Janeiro. Forense, v. 1;
J. M. Carvalho Santos, Código Civil brasileiro interpretado, Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1979,
v. VIII (p. 49-50); Washington de Barros Monteiro, Curso de direito civil, São Paulo, Saraiva, 1979,
v. VIII; Lafayette Pereira, Direito das coisas, São Paulo, Freitas Bastos, 1943.
Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi 
adquirida. 
Histórico 
• O presente dispositivo não serviu de palco a qualquer alteração, seja por parte do Senado Federal,
seja por parte da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A redação atual
é a mesma do anteprojeto.
• A redação desse artigo é idêntica à do Art. 492 do CC de 1916.
Doutrina 
• A presunção legal (“salvo prova em contrário”) — presunção juris tantum é no sentido de que se
violenta a posse, assim haverá de ser mantida indefinidamente; se adquirida com má-fé, igualmente.
Bibliografia 
• Joel Dias Figueira li., Posse e ações possessórias — fundamentos da posse, Curitiba, Juruá Ed., v.
1; idem, Liminares nas ações possessórias, São Paulo, Revista dos Tribunais; Tito Fulgêncio, Posse
e ações possessórias, Rio de Janeiro, Forense; Antonia Hernández Gil, Laposesión como inst itución
jurídica y social, Madrid, Espasa-Calpe, t. II; José Carlos Moreira Alves, Posse. Estudo dogmático,
Rio de Janeiro, Forense, v. 1, t. 1; idem, Posse. Evolução histórica, Rio de Janeiro, Forense, v. 1;
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, São Paulo, Revista dos
Tribunais; Clóvis Beviláqua, Direito das coisas, 5. ed., Rio de Janeiro, Forense, v. 1; J. M. Carvalho
Santos, Código Civil interpretado, Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1979, v. VII; Washington de
Barros Monteiro, Curso de direito civil, São Paulo, Saraiva, 1979, v. VIII; Lafayette Pereira, Direito
das coisas, São Paulo, Freitas Bastos, 1943.
 
 
 
CAPÍTULO II 
DA AQUISIÇÃO DA POSSE 
 
Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se toma possível o exercício, em 
nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. 
 
 
Doutrina 
 
• A alteração a que se procedeu no texto original do anteprojeto, modificando a sua 
redação, suprimindo a referência ao constituto possessório, foi providência, no mínimo, infeliz, que 
está a merecer reparo legislativo urgente, sem contar com outros aspectos de ordem técnica 
doutrinária que não podem passar despercebidos, em face da importância do dispositivo e da 
reformulação implementada com a reforma do Código. 
• Em primeiro lugar, a posse não se adquire pelo “exercício” do poder, mas pela obtenção do poder 
de fato ou poder de ingerência sócio-econômica sobre um determinado bem da vida que, por sua 
vez, acarreta a abstenção de terceiros em relação a este mesmo bem (fenômeno dialético). 
• Portanto, basta que se adquira o poder de fato em relação a determinado 
bem da vida e que o titular deste poder tenha ingerência potestativa sócio-econômica sobre ele, para 
que a posseseja efetivamente adquirida. Ademais, para se adquirir posse, não se faz mister o 
exercício do poder; basta a possibilidade de exercicio. Não se pode prescindir é da existência do 
poder de ingerência. 
• Em segundo lugar, é importante fazer a referência ao instituto jurídico do constituto possessório 
neste Art. 1.204, excluído acertadamente do atual art. 1.205 do NCC, que versa apenas sobre os 
sujeitos da aquisição (diferentemente do que se verificava no CC de 1916, Art. 494, que mesclava 
formas distintas de aquisição), mas eliminado sem razão do dispositivo em questão, para não se 
correr o risco de fazer crer (erroneamente). Aos mais afoitos, que ele teria desaparecido do sistema 
material. Por outro lado, a sua não inclusão neste dispositivo, por si só, não teria o condão de do 
sistema, sobretudo porque aparece mencionado em outros dispositivos do Livro dos Direitos Reais, 
e porque também, na qualidade de instituto jurídico milenar transcende tal circunstância. 
• De qualquer sorte, é de boa técnica e sistematização adequada que exista previsão normativa 
específica no Titulo 1 (Da Posse), a respeito do constituto possessório, prevenindo-se quaisquer 
dúvidas sobre tão importante matéria. 
• Ademais, não se pode ainda esquecer de que se trata de instituto jurídico que encontra grande 
aproveitamento nos dias de hoje, notadamente nas relações contratuais envolvendo a posse (v. g. 
arrendamento mercantil, leasehold, leaseback, leasing etc.). 
 
• Por último, veja-se, a esse respeito, a redação do art. 1.223 sobre a “perda da posse”, cujo teor vai 
justamente ao encontro do nosso entendimento (Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora 
contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196). 
• Em outros termos, o que se há de propor é a manutenção da redação primitiva do texto do 
anteprojeto, com pequenas alterações, tendo-se em conta que atende a melhor técnica jurídica e 
redacional. 
• Constituto possessório é o instituto jurídico que se verifica quando o possuidor na qualidade de 
absoluto (posse própria e plena), transfere a outrem a posse absoluta indireta (ou própria e mediata) 
e reserva para si a posse relativa direta (não-própria imediata). O constituto possessório não se 
presume (clausula constituti). É forma de aquisição e perda da posse. 
• É instituto muito utilizado também para obtenção rápida de capital de giro (working capital), à 
medida que se convertem os custos de ocupação em aluguel (leaseback). 
 
 
• Sugestão legislativa: Pelas razões antes expostas, oferecemos ao Deputado Ricardo Fiuza a seguinte 
sugestão: 
Art. 1.204. Adquire-se a posse de um bem quando sobre ele o adquirente obtém poderes de 
ingerência, inclusive pelo constituto possessório. 
Art. 1.205. A posse pode ser adquirida: 
1 — pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante; 
II— por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação. 
Doutrina 
• Além da hipótese de sucessão universal, por ato entre vivos, adquire-se a posse diretamente pela
pessoa natural que pretende atingir esse escopo, ou por terceiro com mandato (seu representante) ou
sem mandato, dependendo de ratificação sua. Tratando-se de pessoa jurídica, por atos praticados por
seus representantes legais.
Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos 
caracteres. 
Histórico 
• O dispositivo em tela tinha a seguinte redação, quando da remessa do anteprojeto à Câmara dos
Deputados: “A posse transmite-se aos herdeiros do possuidor com os mesmos caracteres, no
momento de sua morte”. Quando da primeira votação pela Câmara, por meio de emenda do Depu-
tado João Castelo, o dispositivo ganhou a redação atual, não tendo sido atingido por qualquer outra
espécie de modificação, seja da parte do Senado Federal, seja da parte da Câmara dos Deputados, no
período final de tramitação do projeto.
• A emenda procurou restaurar a redação do CC de 1916. Segundo o autor, era desnecessário
acrescentar a expressão “no momento de sua morte”, uma vez que, pelo princípio dominante no
direito das sucessões, a herança se transmite com a morte. No caso, ao falar-se em herança, já está
patente a configuração da morte do possuidor
• Redação praticamente idêntica à do art. 495 do CC de 1916.
Doutrina 
• O caráter ou natureza da posse mantém-se inalterado durante o período de permanência com seu 
titular, transmitindo-se aos herdeiros e legatários, tal como ocorria precedentemente. Recebendo-a,
o sucessor, a título universal dá continuidade à posse de seu antecessor com os mesmos caracteres
previamente estabelecidos (successio possessionis). Logo, se a posse padecia de algum vício
objetivo ou subjetivo, assim permanecerá com o seu sucessor
Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor 
singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais. 
Histórico 
• O presente dispositivo não serviu de palco a qualquer alteração, seja por pane do Senado Federal,
seja por parte da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A redação atual
é a mesma do anteprojeto.
• Redação idêntica à do art. 496 do CC de 1916.
Doutrina 
• Ao sucessor singular (accessio possessionis) é facultado unir a sua posse àdo antecessor, para os
efeitos legais. A matéria sobre a união de posses assume maior relevância, quando levada ao plano 
da prescrição aquisitiva. 
 
 
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não 
autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a 
clandestinidade. 
 
 
Histórico 
• O dispositivo em tela não foi atingido por qualquer espécie de modificação, seja da parte do Senado 
Federal, seja da parte da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A 
redação atual é a mesma do anteprojeto. 
 
• O presente dispositivo tem a mesma redação conferida ao art. 497 do CC de 1916. 
 
 
 
 
Doutrina 
• Os atos e circunstâncias descritas nesse artigo são do tpo que não conferem efeitos possessórios, 
tendo em vista que a manifestação de ingerência sobre determinado bem da vida é insuficiente para 
a configuração da relação fatual potestativa em questão. Por conseguinte, os sujeitos que se 
enquadram nessas hipóteses impeditivas à aquisição da posse não são possuidores. 
• A norma estatuída fundamenta-se na garantia dos direitos do possuidor que tolera ou permite certos 
atos praticados por outrem (atividade social, econômica e/ou produtiva), em seu próprio prejuízo, 
no uso ou gozo da coisa, assim procedendo com o objetivo exclusivo de favorecer a convivência 
social, especialmente as relações de vizinhança. 
• Tanto os atos de permissão, que decorrem de consentimento expresso do 
possuidor, como os atos de tolerância, que importam em uma autorização tácita, derivam de um 
espírito de condescendência, de relações de amizade e de boa vizinhança, caracterizados, via de 
regra, por elementos da transitoriedade e passividade. 
 
 
Art. 1.209. A posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a das coisas móveis que nele 
estiverem. 
 
 
Histórico 
• O presente dispositivo não foi objeto de emenda, quer por parte do Senado Federal, quer por parte 
da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A redação atual é a mesma do 
anteprojeto. 
• Esse dispositivo tem redação quase idêntica à do art. 498 do CC de 1916. 
 
 
Doutrina 
• Trata-se de presunção juris tantum. Porém a regra está fundamentada na circunstância de que os 
móveis, como acessórios, pertencem ao respectivo imóvel. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO III 
DOS EFEITOS DA POSSE 
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser manado na posse em caso de turbação, restituído no 
de esbulho, e segurado de violência iminente,se tiver justo receio de ser molestado. 
§ 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força,
contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à 
manutenção, ou restituição da posse. 
§ 2o Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro
direito sobre a coisa. 
Histórico 
• O dispositivo em tela não foi alvo de qualquer espécie de alteração, seja por parte do Senado
Federal, seja por parte da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A
redação atual é a mesma do anteprojeto, cujo Livro III, referente ao Direito das Coisas, ficou a cargo
de Ebert Vianna Chamoun.
• O dispositivo aglutina, em outros termos e com algumas modificações, as normas delineadas nos
arts. 499, 501, 502 e 505 do CC de 1916.
Doutrina 
• É de bom alvitre que se faça uma abordagem breve e preliminar acerca da perda da posse, da
pretensão de recuperação, sobre os atos turbativos e o justo receio de molestamento, porquanto são
eles os elementos essenciais formadores de todo o arcabouço que dará ensejo à pretensão de tutela
interdital (petitum e causa petendi) e, via de conseqüência, objeto de conhecimento do Estado-juiz.
• A perda da posse dos bens contra a vontade do possuidor ocorre somente quando ele não for
manutendo ou reintegrado em tempo hábil (art. 1.223 de art. 1.224 do NCC). Dentro de nossa
sistemática normativa, tempo competente é o período que o legislador entendeu razoável para o
possuidor esbulhado recuperar a posse, ou seja, um ano e um dia (art. 924 do CPC e art. 523 do CC
de 1916).
• O NCC, assim como o CC de 1916, não define o que venha a ser esbulho, mas permite-nos chegar
ao perfil necessário da actio spolii por meio de interpretação do art. 1.210. Na linguagem comum,
esbulhar significa privar alguém de alguma coisa, subtraindo-a, tolhendo-a, eliminando-a. A 
pretensão jurídica articulada pelo possuidor esbulhado é, inquestionatelmente, a restituição, a
reintegração na posse do bem que lhe foi espoliado. Portanto, esbulho representa a perda, total ou
parcial, do poder
Fáctico de ingerência sócio-econômica sobre um determinado bem da vida. O esbulho possesSório é
ato ilícito civil e penal (crime de usurpação, previsto nos incisos 1 e II do art. 161 do CP), praticado
por terceiro em detrimento da posse de outrem, que resulta no perdimento (absoluto ou relativo) do
poder de fato, invertendo-se a titularidade da relação possessória, passando o esbulhador a ter
injustamente (posse ilegítima) o uso e a disponibilidade econômica do bem respectivo. Em outras
palavras, é ato eficiente capaz de impedir o possuidor de prosseguir na sua normal relação fáctico-
potestativa. retirando o bem da esfera de seu poder e tornando-o disponível ao autor do esbulho ou a
terceiros. Em suma, o esbulho é qualquer ato de molestamento que acarrete ao possuidor,
injustamente, a perda da posse, correspondente à privação total ou parcial do poder de fato sócio-
econômico de utilização e disponibilidade.
• Quanto ao chamado elemento subjetivo (ou psicológico) do esbulho — o animus spoliandi — ou
seja, a intenção de praticar a ofensa possessória, entendemos ser de absoluta irrelevância para fins
de obtenção da tutela interdital, não podendo ser assimilado ou confundido com o dolo ou a culpa
preconizados na teoria aquiliana. O animus não é requisito fático para configuração da perda da
posse — o que se dá no mundo dos fatos — tampouco requisito legal, não passando de puro
questionamento ou especulação doutrinária. O componente subjetivo é supérfluo para a obtenção do
resultado — a tutela possessória — porquanto o fundamento da proteção reside na demonstração do 
elemento objetivo, qual seja a efetiva perda da posse, total ou parcial. No direito aplicado, o aspecto 
volitivo não está compreendido no ato-fato da moléstia (esbulho ou turbação), pois não pertence à 
estrutura do ato lesivo. Colocada a ação à exclusiva proteção de uma situação de fato, entendida no 
seu aspecto concreto e atual, não pode ser limitada pela falta de voluntariedade do ato nem pela 
circunstancia que poderia justificar o comportamento do agente. 
• Na distinção entre esbulho e turbação, o intérprete não deverá valorar a abstrata correspondência
dos atos lesivos à noção de moléstia; deve, sim, passar à análise dos verdadeiros impedimentos da
função social assinalada ao poder de fato sobre o bem da vida, dentro da relação possessória.
Somente comportamentos que determinem uma desfuncionalização do poder de fato, além da
normal tolerabilidade, merecem ser reprimidos por meio das ações possessórias. O esbulho significa
a perda (total ou parcial) da posse; a turbação, a prática de atos de molestamento.
•A turbação é todo ato ilícito de moléstia à posse, diverso do esbulho, não compreendendo, portanto,
qualquer situação fática de perda do poder de Ingerência sobre o bem. Contudo, para sua
caracterização faz-se mister a existência de uma lesão à posse, não sendo suficiente a turbação
simples ou a mera intenção de turbar; imprescindível toma-se o agravamento qualitativo ou 
quantitativo da situação possessória causada pela moléstia.
• Por sua vez, o interdito proibitório tutela a posse, garantindo a permanência do possuidor e a
abstenção por parte de terceiros da prática de turbação ou esbulho que ainda não se concretizaram,
mas que ele tem justo receio de que se realizem futuramente. Esse futuro foi chamado pelo
legislador de iminente. Tendo em vista as particularidades que envolvem as diversas situações de
fato, comumente complexas, não se pode interpretar de maneira literal iminente como imediato.
Assim, deve-se considerar que se pretendeu o não-rompimento do liame temporal em relação ao
interesse do possuidor, razão por que não há de se falar num futuro longínquo ou remoto, mas que
também não precisa ser breve ou imediato — basta que seja próximo. O justo receio de sofrer
perturbação importa em temor fundado, e não em mera possibilidade, especulação ou ilação do
possuidor Resultará de ameaça (verbal ou escrita) ou terá como causa o comportamento do sujeito
que exprima a sua vontade inequívoca em traduzir os seus gestos em atos de moléstia (esbulho ou 
turbação). A verdade é que a expressão justo receio representa juridicamente um conceito vago,
vinculando a interpretação do magistrado à análise das peculiaridades de cada caso concreto,
porquanto somente estas demonstrarão a existência desse requisito para a concessão da tutela de
conteúdo cominatório negativo.
• Verifica-se que as denominadas ações vindicatórias da posse (ou reivindicatórias da posse)
fundadas no art. 521 do CC de 1916 foram suprimidas (injustificadamente) do atual NCC, quando
deveriam ter sido apenas deslocadas do Capitulo IV, “Da perda da posse”, onde se encontravam,
passando a integrar este Capítulo III, “Dos efeitos da posse”, por ser o seu hábitat natural,
mantendo-se assim, a coerência do sistema.
• Por isso, afigura-se de boa técnica a inclusão da previsão normativa da demanda apontada,
para que dúvidas futuramente não pairem, a fim de autorizar o possuidor a proteção interdital 
(muitas vezes mais vantajosa), sem ter de recorrer à demanda de natureza real (reivindicatória),
visto que esta ação (vindicatória) pode ser dirigida contra terceiros com justo título e boa-fé, o que é
juridicamente impossível com as ações de reineração de posse.
• O § 1o versa a respeito da autotutela (legítima defesa e desforço incontinênti ). Sendo a posse um
importante fenômeno sócio-econômico do mundo fático, palco natural dos principais
acontecimentos da vida humana, permitiu o legislador que o possuidor turbado ou esbulhado pu-
desse ser mantido ou restituído por força própria, desde que a providência fosse tomada logo.
Contudo, esses atos de defesa ou de desforço não poderiam ultrapassar o limite indispensável à
manutenção ou restituiçãoda posse.
• São estes requisites que devem estar presentes para justificar a prática de atos de defesa (contra a
turbação) ou de desforço (contra o esbulho): a) ofensa à posse; b) imediatidade da repulsa
(resistência à turbação e recuperação da posse); e) moderação nos atos de defesa ou de desforço
(equili’brio entre a moléstia sofrida e o ato de repulsa); e d) prática dos atos pelas próprias mãos.
• A exceção de domínio (exceptio proprietatis), mesmo como regra de exceção, sempre violou a
pureza dos interditos, afrontando assim o senso maior dos puristas que preconizavam a tutela
possessória e o seu julgamento com base tão-somente na questão de mérito ancorada no ius
possessionis, à medida que neste tipo de ação não se discute o título de propriedade. A exceção
vinha à baila somente quando ambos os litigantes postulavam a posse com base em direito real, ou
quando duvidosas as posses. Nesses casos, aplicava-se a segunda parte do art. 505 do CC de 1916
— excerto não mais repetido no § 2o deste art. 1.210 do NCC —que assim preconizava: “Não se 
deve, entretanto, julgar a posse em favor daquele a quem evidentemente não pertencer o domínio”. 
• O próprio STF chegou a editar a Súmula 487 a respeito do tema: “Será deferida a posse a quem,
evidentemente, tiver o domínio, se com base neste for ela disputada”.
• A novidade insculpida no art. 1.210, § 22, do NCC modifica radicalmente o panorama sobre o tema
apresentado, considerando-se a supressão da segunda parte do antigo art. 505 do CC de 1916, que,
em outros termos, significa a não recepção do instituto jurídico da exceptio proprietatis. Doravante,
os julgamentos em sede possessória haverão de pautarase. tão-somente, com base na pureza dos
interditos, isto é, levando-se em conta, para a tomada de decisão, apenas as questões pertencentes ao
mundo dos fatos.
• Sugestão legislativa: Pelas razões expostas, oferecemos ao Deputado Ricardo Fiuza a seguinte
sugestão: 
Novo ~ 2o Se a coisa móvel ou título ao portador houverem sido furtados ou perdidos, o
possuidor poderá reavê-los da pessoa que o detiver; ressalvado a essa o direito de regresso contra
quem lhos transferiu . Sendo o objeto comprado em leilão público, feira ou mercado, o dono, que
pretender a restituição, é obrigado a pagar ao possuidor o preço por que o comprou.
Art. 1.211. Quando mais de uma pessoa se disser possuidora, manter-se-á provisoriamente a 
que tiver a coisa, se não estiver manifesto que a obteve de alguma das outras por modo vicioso. 
Histórico 
• O presente dispositivo não estava previsto no anteprojeto do eminente Ebert Vianna Chamoun,
tendo sido acrescentado por emenda do Deputado Marcelo Gato, ainda no período inicial de
tramitação na Câmara dos Deputados. Posteriormente não veio a sofrer qualquer nova alteração.
seja por parte do Senado Federal, seja por parte da Câmara dos Deputados, no período fina] de
tramitação do projeto.
• A emenda teve por escopo conservar a disposição constante do mi. 500 do CC de 1916, com uma
ligeira alteração: “tiver” em lugar de “detiver”. Comentando o art. 500, lembra Pontes de Miranda
que corresponde ao chamado summarissimum possessorium, ou seja, medida administrativa,
extrajudicial, de proteção da posse. Se o possuidor esbulhado pode desforçar-se, inclusive com 
emprego da violência, também pode, com maior razão, solicitar auxílio à autoridade judiciária. Esta,
obediente ao princípio da conservação da situação fática que preside a toda proteção possessória,
dar-lhe-á força, se for manifesto que o reclamante foi despojado da posse injustamente; caso
contrário, manterá na posse aquele que estiver em poder do bem.
• Trata-se de regra importante que merecia ser mantida no sistema. A proteção possessória não está
afeta apenas ao Judiciário, e suprimir tal regra significa dar alento aos inescrupulosos. A 
substituição do verbo “detiver’ pelo verbo “tiver” foi feita em atenção à terminologia do projeto,
que configura a detenção como a posse em nome de outrem. “Tiver”, aí empregada, alude a poder
corpóreo, físico, sobre a coisa, isto é, aquilo a que se chama “tença”.
• O art. 500 do CC de 1916 é praticamente idêntico ao que ora comentamos.
Doutrina 
• Nesses casos mencionados no dispositivo em análise, será provisoriamente mantida na posse do
bem a pessoa que estiver possuindo, no momento da propositura da ação, não sendo manifesto que a
obteve de outras por modo vicioso, isto é, se houver um possuidor aparente, cuja posse não seja
viciosa, este é quem deve ser mantido na posse, sem qualquer indagação sobre a qualidade dela.
Assim, o êxito da demanda interdital depende da qualidade da posse que se pretende manter ou 
recuperar.
• Porém, o NCC não recepcionou a regra insculpida no art. 507 do CC de 1916 que sempre era
interpretado sistematicamente com o art. 500 e que, efetivamente, completavam-se entre si, in
verbis: “Na posse de menos de ano e dia, nenhum possuidor será manutenido, ou reintegrado
judicialmente, senão contra os que não tiverem melhor posse. Parágrafo único. Entende-se melhor a 
posse que se fundar em justo título; na falta de tftulo, ou sendo os títulos iguais, a mais antiga; se da 
mesma data, a posse atual. Mas, se todas forem duvidosas, será seqüestrada a coisa, enquanto se não 
apurar a quem toque”. 
• Agora, à doutrina e aos tribunais caberá conferir esse entendimento, na interpretação e aplicação do
novo dispositivo.
Art. 1.212. O possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de indenização, contra o terceiro, 
que recebeu a coisa esbulhada sabendo que o era. 
Histórico 
• O dispositivo em tela não foi atingido por qualquer espécie de modificação, seja da parte do Senado
Federal, seja da parte da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A
redação atual é a mesma do anteprojeto.
• A redação atual é idêntica à do art. 504 do CC de 1916.
Doutrina 
• As ações de manutenção (turbação) ou de reintegração (esbulho) de posse somente podem ser
dirigidas contra o sujeito que, efetivamente, praticou o ato ou contra terceiros que se encontram em
poder do bem, sabedores dos vícios que maculam a posse adquirida. Em outras palavras, verifica-se
carência de ação por falta de legitimidade passiva no direcionamento de demanda interdita] contra
terceiro com justo título e boa-fé. Resta-lhe, se for também titular de direito real, ajuizar demanda
de natureza real (direito de seqüela e oponível erga omnes).
Art. 1.213. O disposto nos artigos antecedentes não se aplica às servidões não aparentes, salvo 
quando os respectivos títulos provierem do possuidor do prédio serviente, ou daqueles de quem este 
o houve.
Histórico 
• O presente dispositivo não foi objeto de emenda, quer por parte do Senado Federal, quer por parte
da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A redação atual é a mesma do
anteprojeto.
• Dispositivo semelhante ao art. 509 do CC de 1916.
Doutrina 
• A nova redação conferida ao art. 509 do CC de 1916 suprime as hipóteses de servidões contínuas e
descontínuas. O legislador de 2002 preferiu (acertadamente) simplificar o problema decorrente da
tutela interdital das servidões fazendo referência à questão efetiva que reside na falta de aparência
(servidões não aparentes), pouco importando se elas são contínuas ou descontínuas, tendo-se em 
conta que o cerne do enleio sempre foi a falta de sinais exteriores capazes de identificá-las, salvo se
os títulos respectivos se originassem do possuidor do prédio serviente, ou daqueles de quem este os
houvera, rechaçando, assim, qualquer possibilidade de confundir-se com os atos de permissão ou
tolerância.
• Nenhuma dúvida resta quanto à tutela interdita] que o sistema confere às servidões aparentes, diante
de sua fácil constatação (materialização).
Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos. 
Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempoem que cessar a boa-fé devem ser restituidos, 
depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos 
colhidos com antecipação. 
 
Doutrina 
• Conforme já anotamos nos comentários ao art. 1.202 (supra), se não ocorrerem situações que 
modifiquem o caráter subjetivo da posse, o possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela assim 
perdurar, aos frutos percebidos. 
• Terá igualmente direito aos frutos ainda não colhidos (“frutos pendentes”) enquanto durar a boa-fé, 
momento que serve de divisor de águas para a restituição, depois que se procederam as deduções 
das despesas de produção e custeio a eles relacionadas. 
• Os que foram colhidos com antecipação devem ser também restituídos ao legítimo possuidor, tendo 
em vista que a lei pressupõe a colheita no momento adequado, quando estejam aptos para satisfazer 
as necessidades humanas. Conduta em sentido inverso, já serve como indício de prática contrária à 
boa-fé nas relações possessórias. 
• Nesses casos, considera-se como não realizada a colheita. 
 
 
Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos, logo que são 
separados; os civis reputam-se percebidos dia por dia. 
 
 
Histórico 
• Este artigo não serviu de palco a qualquer alteração, seja por parte do Senado Federal, seja por parte 
da Câmara. dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A redação atual é a mesma do 
anteprojeto, cujo Livro III. referente ao Direito das Coisas, ficou a cargo do eminente Ebert Vianna 
Chamoun. 
• O dispositivo identifica-se como art. 512 do CC de 1916. 
 
 
 
Doutrina 
• Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos logo que são separados; o ato de separação é 
que dá aos frutos o caráter de “percebidos ou colhidos”, pouco importando se por ato próprio do 
possuidor ou meramente casual (natural). 
• Os frutos civis são prestações regulares e periódicas percebidas pelo preço do serviço ou da 
utilidade da coisa, tais como juros, aluguéis, foros, rendas ou importâncias decorrentes de 
contratação em face de um bem que constitui o seu objeto. Esses reputam-se percebidos dia a dia, 
significando dizer que o possuidor de boa-fé adquire o direito aos rendimentos do bem até a data do 
vencimento, pouco importando que tenham sido efetivamente pagos. 
 
 
Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem 
como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; 
tem direito às despesas da produção e custeio. 
 
 
Histórico 
• O dispositivo em tela não foi atingido por qualquer espécie de modificação, seja da parte do Senado 
Federal, seja da parte da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto, sendo a 
redação atual a mesma do anteprojeto. 
• O texto conferido a esse dispositivo é quase o mesmo encontrado no art. 513 do CC de 1916. 
 
Doutrina 
• O possuidor de má-fé responderá civilmente, indenizando a parte contrária pelos frutos colhidos e 
percebidos, assim como pelos que por “culpa” sua deixou de perceber, desde o momento da 
constituição deste estado subjetivo que maculou a sua posse. 
• O ilícito civil praticado que origina a obrigação de indenizar haverá de ser definido em 
sentença judicial, caso não acordado entre as partes extrajudicialmente. O valor da indenização será 
fixado com base na qualidade e quantidade dos frutos não colhidos ou percebidos, considerando-se 
as atividades executadas por um bom administrador. 
• O conceito de culpa contido no dispositivo é bastante amplo, à medida que ultrapassa as três
modalidades clássicas para açambarcar também a culpa grave e o dolo. Para o sistema civil, pouco
importa qual a modalidade da “culpa” em que incidiu o possuidor; o que efetivamente conta éque se
encontrava de má-fé e, como tal, haverá de responder pelos frutos colhidos e percebidos. bem como
pelos que deixou, por culpa sua, de perceber desde o momento em que não mais exerceu poderes de
ingerência sócio-econômica sobre um determinado bem da vida, com boa-fé.
Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não 
der causa. 
Histórico 
• O presente dispositivo não foi objeto de emenda, quer por parte do Senado Federal, quer por parte
da Câmara dos Deputados. no período final de tramitàção do projeto. A redação atual é a mesma do
anteprojeto.
• Este dispositivo tem a mesma redação do art. 514 do CC de 1916.
Doutrina 
• O dispositivo regula a irresponsabilidade civil do possuidor de boa-fé pela perda ou deterioração do
bem a que não der caust A responsabilidade existirá somente para as hipóteses de dolo ou culpa.
Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que 
acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante. 
Histórico 
• O dispositivo em tela não foi alvo de qualquer espécie de alteração, seja por parte do Senado
Federal, seja por parte da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A
redação atual é a mesma do anteprojeto.
• A redação deste dispositivo é basicamente a mesma do art. 515 do CC de
1916.
Doutrina 
• A única exceção à responsabilidade civil de indenizar encontra-se na possibilidade de o
possuidor de má-fé provar que o resultado danoso ocorreria do mesmo modo, se o bem estivesse em
poder do postulante (“reivindicante”).
• Tendo em vista que o dispositivo faz uso da expressão “reivindicante”,
não é difícil concluir que a hipótese pressupõe a prática de ato espoliativo (perda do bem). Contudo,
a palavra reivindicante não está a indicar a propositura de ação reivindicatória, mas acena para a
existência de ajuizamento de ação de recuperação do bem da vida litigioso. Ora, se a situação é
possessória, em princípio a demanda haveria de ser interdital (reintegração de posse).
• De qualquer sorte, o dispositivo faz alusão à demanda ressarcitória (indenização por perdas e
danos); portanto, a interpretação a ser dada é que se esta diante de uma ação única de indenização
ou de ação de reintegração de posse de indenização, onde a palavra “reivindicante” encontra-se
empregada como sinônima de “postulante”, ou seja, aquele que “reivindica” em juízo alguma coisa,
no caso, a indenização em face do esbulho praticado que se agrava pela perda ou deterioração do
bem, ainda que acidentais, estando o possuidor de má-fé.
Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, 
bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem 
detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e 
úteis. 
 
 
Histórico 
• O presente dispositivo não serviu de palco a qualquer alteração, seja por parte do Senado Federal, 
seja por parte da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A redação atual 
é a mesma do anteprojeto. 
• A redação desse artigo é basicamente a mesma encontrada no art. 516 do 
CC de 1916. 
 
 
Doutrina 
• O dispositivo regula o direito do possuidor de boa-fé ao ressarcimento 
pelo implemento de benfeitorias necessárias, úteis e voluptuárias (art. 96, § 1o , 2o e 3o , NCC). 
Quanto às voluptuárias , se não lhe forem pagas, poderá o possuidor de boa-fé retirá-las do bem, 
quando o puder fazer sem causar danos. Poderá ainda exercer o direito de retenção em face do valor 
aplicado pelas benfeitorias necessárias e úteis. 
• Se a hipótese em concreto for uma ação especial de reintegração de posse (ação de força nova), em 
que sempre residem os pedidos liminares interditais, havendo benfeitorias realizadas por possuidor 
de boa-fé, ele deverá alegar, no primeiro momento processual, ou seja, na contestação, sob pena de 
preclusão, a existência das benfeitorias e de boa-fé,a fim de exercer o seu direito de retenção. Caso 
a liminar seja concedida inaudita altera pan, deverá agravar de instrumento, a fim de obter o efeito 
suspensivo da decisão favorável ao postulante. 
Bibliografia 
• Joel Dias Figueira Júnior, Ações sincréticas e embargos de retenção por benfeitorias no atual 
sistema e no 1 3~ Anteprojeto de Reforma do CPC— enfoque às demandas possessórias; RePro, 
98fl; idem, Liminares nas ações possessórias, São Paulo, Revista dos Tribunais. 
 
 
Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não 
lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias. 
 
 
Histórico 
• O dispositivo em tela não foi atingido por qualquer espécie de modificação, seja da parte do Senado 
Federal, seja da parte da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A 
redação atual é a mesma do anteprojeto. 
• A redação difere um pouco da encontrada no art. 517 do CC de 1916. 
 
 
 
 
Doutrina 
• Em nenhuma hipótese o sistema confere ao possuidor de má-fé direito de retenção, enquanto a 
pretensão ao ressarcimento limita-se às benfeitorias necessárias. 
 
 
 
 
Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e sã obrigam ao ressarcimento se ao 
tempo da evicção ainda existirem. 
 
 
Histórico 
• O presente dispositivo não foi objeto de emenda, quer por parte do Senado Federal, quer por parte 
da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A tedação atual é a mesma do 
anteprojeto. 
• O dispositivo é idêntico ao art. 518 do CC de 1916. 
Doutrina 
• Trata-se de hipótese anômala de compensação, conforme assinala o saudoso Rubens Limongi 
França, citado por Maria Helena Diniz. Ocorre que o instituto da compensação só opera, em regra,
entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis. “Assim, para evitar que proprietário e
possuidor, obrigados a pagar, um ao outro, determinadas quantias, movam uma ação contra o outro,
a lei permite a compensação, possibilitando, assim, entre eles um acerto de contas, de modo que
aquele em favor de quem ficar acusado um saldo receberá do outro o quantum respectivo” (Maria
Helena Diniz, CC anotado, São Paulo, Saraiva, 1995, art. 518, p. 394).
• Por outro lado, somente terá lugar a compensação dos danos causados com as benfeitorias
realizadas, se estas ainda existirem no momento em que se verificar a evicção.
Bibliografia 
• Maria Helena Diniz, Código Civil anotado, São Paulo, Saraiva, 1995 (p. 394, art. 518)
Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o 
direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor 
atual. 
Histórico 
• O dispositivo em tela tinha a seguinte redação quando da remessa do anteprojeto à Câmara dos
Deputados: “O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias, tem o direito de optar entre o seu
valor atual e o seu custo”. Quando da primeira votação pela Câmara, por subemenda do relator
Ernani Satyro, o dispositivo ganhou a redação atual, não tendo sido atingido por qualquer outra
espécie de modificação, seja da parte do Senado Federal, seja da Câmara dos Deputados, no período
final de tramitação do projeto.
• A nova redação procurou atender os reclamos da doutrina e jurisprudência dominantes, tendo em 
vista que, inversamente ao que ocorria com o Código antigo, faz distinção entre a indenização a ser
paga para o possuidor de boa-fé e para o de má-fé.
• O dispositivo em questão tem redação assemelhada ao art. 519 do CC de 1916, em que pese ter
trazido modificações importantes ao texto legal.
Doutrina 
• O reivindicante pode ser titular de direito real (proprietário) ou apenas possuidor que procura
retornar o bem que lhe foi esbulhado, por intermedio de ação de reintegração de posse. Assim, há de
se interpretar aqui o reivindicante como sendo o titular do direito subjetivo, autor da ação de
recuperação do bem litigioso.
• Faculta o NCC ao autor da demanda recuperatória, obrigado a indenizar ao possuidor de má-fé pelas
benfeitorias optar entre o respectivo valor atual ou o seu custo. Ocorre que as benfeitorias realizadas
podem valer mais ou menos do que teriam efetivamente custado.
• Ao possuidor de boa-fé, o reivindicante indenizará sempre pelo valor atual.
CAPITULO IV 
DA PERDA DA POSSE 
Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder 
sobre o bem, ao qual se refere o Art. 1.196. 
Histórico 
• O dispositivo em tela não sofreu praticamente nenhuma alteração substancial, seja por parte do
Senado Federal, seja por parte da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto,
tendo mantido basicamente a mesma redação do Anteprojeto..
• Quando da fase final de revisão do texto legal, apresentei proposta de correção encaminhada ao
ilustre Relator-Geral, Deputado Fiuza, que terminou por ser acolhida, no sentido de substituir, no
texto primitivo, a palavra “coisa” por “bem”, por ser esta mais adequada em face da sua amplitude
(gênero), enquanto aquela representa uma de suas espécies.
• O dispositivo encontra seu paralelo no art. 520 do CC de 1916, nada obstante as inúmeras alterações
verificadas.
Doutrina 
• O possuidor perde a posse quando não há mais, contra sua vontade, poder fático de ingerência
sócio-econômica sobre determinado bem da vida.
• Não se pode esquecer de que o poder de fato de ingerência sobre um bem da vida, capaz de excluir
terceiros e formar a relação sócio-econômica entre o seu titular e o bem respectivo (formação
dialética do fenômeno possessório) é o núcleo deste instituto, elemento imprescindível para a sua
configuração. Por isso, cessado esse poder contra a vontade do possuidor, considera-se perdida a
posse.
• Todavia, por verdadeira ficção jurídica, o possuidor esbulhado só vem a perder a posse de um bem
quando não busca a reintegração dentro do período de ano e dia, que passa a funcionar como uma
espécie de condição suspensiva fatual, ou seja, suspensão temporária do prazo com a expectativa de
recuperação (prazo decadencial que não se suspende ou Interrompe, não podendo ser ampliado ou 
reduzido). Trata-se de ficção jurídica porque o possuidor perde, de fato, a posse do bem. Não
obstante, a lei confere a garantia de manter-se ou restituir-se por força própria, contanto que o faça
logo (art. 1.210, § lo), ou, ajuizando demanda interdital, com rito especial, no prazo de ano e dia, a
contar da data do esbulho, para a obtenção da reintegração liminar. Caso contrário, aquele que
estiver na posse por mais de ano e dia, nela será mantido até ser convencido pelos meios ordinários.
Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo 
notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido. 
Histórico 
• O dispositivo em tela não foi atingido por qualquer espécie de modificação, seja da parte do Senado
Federal, seja da parte da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A 
redação atual é a mesma do anteprojeto, de autoria de Ebert Viaima Chamoun.
• O dispositivo encontra o seu similar no arts. 522 do CC de 1916; verificando-se substancialmente a
substituição da palavra “ausente” pela expressão “... para quem não presenciou o esbulho. .2, entre
outras modificações.
Doutrina 
• A doutrina e a jurisprudência, durante a vigência do Código de 1916, já assinalavam que a
expressão “ausente” empregada no art. 522 não tinha o mesmo sentido descrito no art. 463 daquele
mesmo Código (pessoa desaparecida de seu domicílio...), mas designava aquele que não está pre-
sente no momento da ocupação.
• A esse respeito, doutrina Carvalho Santos: “O dispositivo legal quer dizer é que a simples ausência
não importa na perda da posse, podendo o possuidor, embora ausente,continuar a posse solo animo,
ainda que a coisa possuída por ele tenha sido ocupada por um terceiro, durante a sua ausência” (CC
interpretado, Rio de Janeiro, Freitas Rastos, 1979, v. VII, p. 257).
Bibliografia 
• 1. J. Carvalho Rastos, 1979,Santos, Código Civil interpretado, Rio de Janeiro, Freitas v. VII (p.
257).
 
 
 
 TÍTULO II 
 DOS DIREITOS REAIS 
 
 CAPITULO ÚNICO 
 DISPOSIÇÕES GERAIS 
 
 
Art. 1.225. São direitos reais: 
 I — a propriedade; 
II — a superfície; 
 III — as servidões ; 
IV — o usufruto; 
 V—o uso; 
VI— a habitação; 
VII — o direito do promitente comprador do imóvel; 
VIII— o penhor; 
IX — a hipoteca; 
X — a anticrese. 
 
 
Histórico 
Este dispositivo não foi objeto de emenda, quer por parte do Senado Federal, quer por parte da 
Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A redação atual é a mesma do 
projeto, cujo Livro III, referente ao Direito das Coisas, ficou a cargo do eminente jurista Ebert 
Viamia Chamoun. 
 
 
 
Doutrina 
• Entende-se por direito real a relação jurídica em razão da qual o titular pode retirar do bem as 
utilidades que ele é capaz de produzir 
 
 
Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos 
entre vivos, só se adquirem com a tradição. 
 
 
Histórico 
• O dispositivo em tela não foi alvo de nenhuma espécie de alteração, nem da parte do Senado 
Federal, nem da parte da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A 
redação atual é a mesma do Projeto. 
 
 
Doutrina 
• Trata este artigo da criação de direitos reais sobre bens móveis por ato inter vivos, que se 
adquire com a entrega da coisa (tradição). É idêntico ao art. 675 do Código Civil de 1916, devendo 
a ele ser dado o mesmo tratamento doutrinário 
 
 
Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só 
se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 
1.247), salvo os casos expressos neste Código. 
 
 
Histórico 
• O dispositivo em comentário foi modificado por emenda aprovada pela Câmara dos Deputados, no
período final de tramitação do projeto. Foram substituidas as expressões “transcrição” e “Registro
de Imóveis” pela palavra “registro e por “Cartório de Registro de Imóveis”, respectiva-mente,
adequando-se sua redação à Lei dos Registros Públicos (Lei n.
6.015/73).
Doutrina 
• Trata este artigo do modo de se adquirirem direitos reais sobre bem imovel, que se concretiza
com o registro imobiliário, que é a forma solene pela qual se arquivam os atos translativos da
propriedade imóvel. É idêntico ao art. 676 do Código Civil de 1916, devendo a ele ser dado o
mesmo tratamento doutrinário.
Bibliografia 
• Entre os clássicos: Clóvis Beviláqua, Código Civil dos Estados Unidos do Brasil, 9. cd., Rio de
Janeiro, Livr. Francisco Aives, 1953, v. 3; João Luiz Alves, Código Civil da República dos Estados
Unidos do Brasil anotado, Rio de Janeiro, E? Briguiet, 1917; Virgilio de Sá Pereira e Dídimo da
Veiga, Manual do Código Civil brasileiro; direito das coisas, Rio de Janeiro, Ed. 1. Ribeiro dos
Santos, 1924, v. 8; J. M. de Carvalho Santos, Código Civil brasileiro interpretado; direito das
coisas, 14. ed., Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1989, v. 7 a 10.
• Entre os contemporâneos: Washington de Barros Monteiro, Curso de direito civil; direito das
coisas, 36. ed., São Paulo, Saraiva, 2001, v. 3; Silvio Rodrigues, Direito civil; direito das coisas, 26.
cd., São Paulo, Saraiva, 2001, v. 5; Orlando Gomes, Direitos reais, 18. cd., Rio de Janeiro, Forense,
2001; Caio Mário da Silva Pereira, Instituições de direito
civil, 13. cd., Rio de Janeiro, Forense, 1998, v. 4; Amoldo Wald, Curso de direito civil brasileiro;
direito das coisas, 10. ed., São Paulo, Revista dos Tribunais, 1995; Maria Helena Diniz, Curso de
direito civil brasileiro; direito das coisas, 7. ed., São Paulo, Saraiva, 1991. v. 4.
TÍTULO III 
DA PROPRIEDADE 
CAPÍTULO 1 
DA PROPRIEDADE EM GERAL 
Seção 1 
Disposições preliminares 
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-
la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. 
§ 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades
econômicas e sociais e de modo que sejam presenados, de conformidade com o estabelecido em lei 
especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e 
artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. 
§ 2o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e
sejam animados pela intenção de prejudicar outrem. 
§ 3o O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou
utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público 
iminente. 
§ 4o O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em
extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de 
pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços 
considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante. 
§ 5o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário;
pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores. 
Histórico 
• O dispositivo é praticamente o mesmo do projeto. Durante a tramitação no Senado a Emenda de n.
128 procurou modificar-lhe o § 2o , a fim de que viesse a apresentar a seguinte redação: “São
defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer utilidade, e sejam animados pela intenção
de prejudicar outrem”. O relator Fiuza discordou da alteração e propôs a sua rejeição, o que se deu
sob o argumento de que a redação original era mais ampla, além de “mais conveniente do ponto de
vista hermenêutico, mesmo porque estabelece simetria com a classificação das benfeitorias’.
Tratando dos bens reciprocamente considerados, o projeto distingue, ao lado das benfeitorias úteis
ou necessárias, também as voluptuárias’, caracterizadas, estas últimas, como sendo aquelas ‘de
mero deleite ou recreio, que não aumentem o uso do bem, ainda que o tomem mais agradável ou 
sejam de elevado valor’ (art. 96 e § 1o ). Não seria aceitável contemplar uma modalidade de
beneficiamento para, posteriormente, excluí-la, subsumindo-a noutra das categorias elencáveis.
Quanto ao mérito, é de considerar que a restrição, imposta ao direito de propriedade, repousa
essencialmente no intuito de prejudicar terceiros (animus nocendi), e não nos limites da fruição do
bem”.
No tocante aos § 4o e 5o , o relatório Fiuza, recepcionando por sua vez o relatório Emnani Satyro,
acolhe os argumentos do Prof. Miguel Reale quando afirma que se trata de “um dos pontos mais
altos do Projeto, no que se refere ao primado dos valores do trabalho como uma das causas
fundantes do direito de propriedade. De outro lado, não há, a nosso ver, nada de surpreendente no
fato de ser atribuído ao juiz competência para, no caso especialíssimo previsto no art. 1.266,
declarar a desapropriação dos bens reivindicandos, a fim de que seja pago ao reivindicante o justo
preço de seu imóvel, sem se locupletar ele à custa dos frutos do trabalho alheio. Como bem 
observou o Relator especial, os múltiplos casos de
‘desapropriação indireta’, que são casos típicos de ‘desapropriação pretoriana’, resultantes das
decisões de nossos tribunais, estão aí para demonstrar que o ato expropriatorio) não é privilégio nem
prerrogativa exclusiva do Executivo ou do Legislativo. Nada existe que tome ilegítimo que, por lei,
em hipótesesespecias, o poder de desapropriar seja atribuído ao juiz, que resolverá em função das
circunstâncias verificadas no processo, em função do bem comum. Sobretudo depois que a lei de
usucapião especial veio dar relevo ao trabalho como elemento constitutivo da propriedade,
conferindo efeitos dominicais à ‘posse-trabalhos (consoante terminologia do Prof. Miguel Reale, em 
sua Exposição de Motivos, ou à posse pro labore, segundo expressão do Estatuto da Terra), tomou-
se ainda mais imperioso dar garantia, no Código, àquelas situações em que se defrontam, de um 
lado, o possuidor de boa-fé, como produto de seu trabalho, e, do outro, o proprietário com o seu
título de domínio . Para atender a esse conflito de interesses sociais, o Projeto prevê que o juiz não
ordene a restituição do imóvel ao reivindicante, que teve êxito na demanda, mas que lhe seja pago o
justo preço. Solução equitativa e do maior alcance sócio-econômico, sobretudo porque tem em vista
regularizar, de maneira prática e imediata, a situação de considerável número de pessoas que, por
mais de cinco anos, com boa-fé, houverem realizado, em extensas áreas, obras e serviços
considerados pelo juiz de interesse social relevante”.
• Já na fase final e tramitação do projeto, emenda aprovada pela Câmara dos Deputados substituiu o
vocábulo “transcrição” pela palavra “registro”, visando adequar a redação do artigo à Lei dos
Registros Públicos (Lei n. 6 .015/73).
Doutrina 
• Na definição de R. Limongi França, “propriedade é o direito, excludente de outrem, que, dentro dos
limites do interesse público e social, submete juridicamente a coisa corpórea, em todas as suas
relações (substância, acidentes e acessórios), ao poder da vontade do sujeito, mesmo quando,
injustamente, esteja sob a detenção física de outrem” (Instituições de direito civil, São Paulo,
Saraiva, 1988, p. 436). Uso, gozo e disposição
indicam o conteúdo positivo do direito de propriedade. A expressão reavê-la do poder de quem quer
que injustamente a possua ou detenha”, contida na parte final do caput deste artigo, nada mais é do 
que o direito de seqüela que dá ensejo à ação reivindicatória. 
• O caput do artigo em comento é praticamente idêntico ao art. 524 do Código Civil de 1916,
devendo a ele ser dado o mesmo tratamento doutrinário.
• Sobreleva notar que no § 1o verifica-se a preocupação com a função social da propriedade, com a
preservação da flora e da fauna, com a defesa do meio ambiente e do patrimônio histórico através do
tombamento. Portanto o novo Código Civil, com esta regra, procurou despertar no homem comum o
exercício da cidadania, impondo limitações de caráter social ao direito de propriedade (v. Carlos
Alberto Dabus Maluf, Limitações ao direito de propriedade, São Paulo, Saraiva, 1997, p. 197). No
§ 2o novo Código condena o abuso de direito, ou daquele que age com mero espírito de emulação.
No que tange à desapropriação, que é um poder do Estado inerente à sua própria natureza, para
restringir o direito de propriedade dos particulares, serão feitas as considerações doutrinárias no
artigo específico. As regras contidas nos §~ 4o e 5o abalam o direito dopwøplø dade, incentivando
a invasão de glebas urbanas e rurais, criando uma forma nova de perda do direito de propriedade,
mediante o arbitramento judicial de uma indenização, nem sempre justa e resolvida a tempo, im-
pondo dano ao proprietário que pagou os impostos que incidiam sobre a gleba. As regras esculpidas
nesses parágrafos são agravadas pela letra do art. 10 e seus parágrafos da Lei n. 10.257, de 10-7-
2001, conhecida como o Estatuto da Cidade, uma vez que nela é permitido que essa usucapião
especial de imóvel urbano seja exercida em área maior de duzentos e cinqüenta metros,
considerando área maior do que essa “extensa área Prevê também que a população que a ocupa
forme, mediante o requerimento da usucapião, um condomínio tradicional; e mais, não dá ao pro-
prietário o direito a indenização. Tal forma de usucapião aniquila o direito de propriedade previsto
na Lei Maior, configurando um verdadeiro confisco, pois, como já dissemos, incentiva a invasão de
terras urbanas, subtrai a propriedade de seu titular, sem ter ele direito a qualquer indenização. Essas
regras, a do novo Código Civil e a do art. 10 e seus parágrafos da Lei n. 10.257/2001, devem ser
modificadas por um projeto de lei especifico, evitando-se, assim, que o Judiciário seja obrigado, por
intermédio de inúmeras ações que haverão de surgir, a declará-las inconstitucional.
• Sugestão legislativa: Em face dos argumentos acima aludidos, encaminhamos ao Deputado Ricardo
Fiuza proposta para alteração do § 9 deste artigo, que passaria a contar com a seguinte redação: 
s~ 5o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará ajusta indenização devida ao
proprietário; pago integralmente o preço pelo ocupante, valerá a sentença como título para o
registro do imóvel em nome do respectivo possuidor.
• Apresentamos, também, ao Deputado Ricardo Fiuza sugestão no sentido de propor à Câmara dos
Deputados a revogação do arA. 10 e parágrafos da Lei n. 10.257/2001.
Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em 
altura e profundidade úteis ao seu exercicio, não podendo o proprietário opor-se natividades que 
sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que cio tenha ele interesse 
legítimo em impedi-las. 
Histórico 
• O artigo em tela não foi atingido por nenhuma modificação, seja da parte do Senado Federal,
seja da parte da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A redação atual é
a mesma do projeto.
Doutrina 
• O espaço aéreo é caracterizado pela sua utilização, sem que agrida a propriedade de outrem nem 
ofenda a ordem pública. Subsolo é uma coisa corpórea que, pela sua natureza e ligação íntima com 
o solo, é suscetível de ser objeto do direito de propriedade (v. Carlos Alberto Dabus Malut
Limitações ao direito de propriedade, São Paulo, Saraiva, 1997, p. 85 e 91).
• Esse artigo repetiu a regra do art. 526 do Código Civil de 1916, condenando, mais uma vez, o uso
nocivo da propriedade para prejudicar terceiro. 
Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os 
potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis 
especiais. 
Parágrafo único, O proprietário do solo tem o direito de explorar 
os recursos minerais de emprego imediato na construção civil, desde que não submetidos a 
transformação industrial, obedecido o disposto em lei especial. 
Histórico 
Este dispositivo foi objeto de uma única emenda por parte da Câmara dos Deputados no período 
inicial de tramitação do projeto, com o fim de alterar a redação do parágrafo único. O texto do caput 
é o mesmo do projeto.para efeito de sua exploração ou aproveitamento. A mesma regra se aplica aos 
achados arqueológicos e a outros bens definidos em lei especial. O objetivo do artigo foi trazer para 
a lei civil disposição já contida no art. ~Q do antigo Código de Minas e repetida pelo Decreto-Lei n. 
227, de 28-2-1967. 
Doutrina 
• Antigamente, e até no regime do Código Civil de 1916, as minas eram de propriedade do
dono do solo. Posteriormente, as Constituições estabeleceram uma legislação especial referente às
riquezas do subsolo e à mineração (CF de 1988, art. 176 e seus parágrafos). Hoje, jazidas. minas e
demais recursos minerais são propriedade distinta do solo, para efeito de sua exploração ou 
aproveitamento. A Mesma regra se aplica aos achados arqueológicos e a outros bens definidos em 
lei especial. O Objetivo do artigo for trazer para a lei civil disposição já contida no art 8o do antigo
Código de Minas e repetida pelo Decreto-Lei n. 227, de 28-2-1967.
Art. 1.231. A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário. 
Histórico 
• O artigo não foi alvo de nenhuma espécie de alteração

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