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1 UNIDADE 04 UNIDADE 04 Na unidade anterior verificamos o conceito de pesquisa científica e analisamos a sua tipologia, classificando-a segundo a sua natureza, os seus objetivos, a fonte dos dados e os procedimentos de coleta dos dados. O quadro abaixo bem sintetiza tal classificação: Natureza Objetivos Fonte dos dados Procedimento a) pura/teórica; b) aplicada/prática. a) exploratória; b) descritiva; c) explicativa. a) bibliográfica; b) documental; c) de campo; d) laboratorial. a) por levantamento; b) estudo de caso; c) experimentação; d) pesquisa-ação. Esta unidade continuará abordando o tema “pesquisa científica”, mais especificamente quanto aos métodos científicos. 1 MÉTODOS E TÉCNICAS Como já dito repetidas vezes, a pesquisa, para ter cunho científico, precisa estar calcada em métodos e técnicas de investigação e apresentação. Para conhecer é preciso usar de estratégias capazes de colocar o pensamento de acordo com o objeto; para tanto é preciso escolher um caminho, um meio que assegure a obtenção da verdade. O método é esse conjunto de meios e processos utilizados durante a busca da verdade, capazes de garantir o seu alcance. (NASCIMENTO, 2002, p. 17) De forma sucinta, métodos científicos são os possíveis caminhos que o pesquisador poderá tomar para se chegar às respostas que investiga. Contudo, deve ficar registrado que métodos e técnicas não são sinônimos. [...] reserva-se a palavra método para significar o traçado das etapas fundamentais da pesquisa, enquanto a palavra técnica significa os diversos procedimentos ou a utilização de diversos recursos peculiares a cada objeto de pesquisa, dentro das diversas etapas do método. (RUIZ, 2006, p. 138) (Grifos no original) 2 UNIDADE 04 Imaginem que vocês precisam se deslocar até o centro da cidade para um compromisso. A primeira providência é escolher o meio de transporte: a pé, de ônibus, de taxi, de carro etc. As opções de condução são métodos que estão à sua disposição. Caso você decida ir de ônibus, terá opções de linhas e conexões em terminais que poderão tornar o deslocamento mais rápido ou mais demorado. Se optar por ir de carro, terá de escolher a rota, geralmente baseando-se no horário e no fluxo das ruas e avenidas. Assim, escolhido o método, será necessário pensar nos detalhes. Esses detalhes representam as técnicas. O fato é que você chegará ao seu destino, mas a maneira como isso irá acontecer dependerá dos métodos e técnicas que adotar. Outro exemplo do nosso dia a dia são os métodos contraceptivos. O objetivo é evitar a gravidez, mas pode-se fazer isso de várias maneiras (camisinha, pílula, DIU, etc), cada uma delas apresentando pontos positivos e negativos, cabendo ao casal escolher a que melhor lhe convém, a partir da conjugação desses fatores. Os exemplos acima corroboram o conceito de método proposto por MARCONI e LAKATOS (2007, p. 83), para quem: [...] método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros –, traçando o caminho a ser seguido, detectando os erros e auxiliando as decisões do cientista. Assim como há vários caminhos para se chegar a um lugar, também há vários tipos de métodos que podem ser adotados para conduzir uma pesquisa, conforme se verá adiante. 2 TIPOS DE MÉTODOS Não há consenso entre os teóricos acerca dos tipos de métodos de pesquisa. Assim, será adotada a classificação mais comum, que se mostra, também, 3 UNIDADE 04 mais didática, a qual divide os métodos em: indutivo, dedutivo, hipotético-dedutivo e dialético. 2.1 MÉTODO INDUTIVO O método indutivo, também conhecido como método analítico ou probabilístico, consiste em “um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas” (MARCONI e LAKATOS, 2007, p. 86). As autoras acima citadas explicam que a indução envolve três etapas: a) observação dos fenômenos; b) descoberta da relação entre eles; e c) generalização da relação (Ibid. p. 87). Exemplificando: Cobre conduz energia. Zinco conduz energia. Cobalto conduz energia. Ora, cobre, zinco e cobalto são metais. Logo, (todo) metal conduz energia. (MARCONI e LAKATOS, 2007, p. 86) Neste exemplo, na primeira etapa apenas se observa o comportamento dos vários materiais analisados, os quais conduzem energia. Em seguida, procura-se o que há em comum entre eles. No caso, todos os materiais são metais e esta é a relação entre eles. Por fim, chega-se à conclusão generalizada de que todos os metais conduzem energia. Assim, a indução “é um processo que consiste em generalizar uma relação de causalidade entre dois fenômenos” (BIAGI, 2011, p. 75). Em outras palavras: observamos vários fenômenos individuais, verificamos o fato comum entre eles, para se chegar a uma regra geral. 2.2 MÉTODO DEDUTIVO Também conhecido como método racionalista, o método dedutivo “tem sua base no uso do intelecto” (METRING, 2011, p. 69). Ao adotar tal método, o 4 UNIDADE 04 pesquisador busca, a partir de verdades universais, tirar conclusões particulares. Em outras palavras, o pensamento dedutivo ocorre quando, “a partir de enunciados mais gerais dispostos ordenadamente como premissas de um raciocínio, chega a uma conclusão particular ou menos geral” (RUIZ, 2006, p. 138). O exemplo clássico de pensamento dedutivo é o seguinte: [...] todo homem é mortal – regra geral ou premissa maior derivada do conceito de que todo homem morre, evidência irrefutável; Pedro é homem – fato individual ou premissa menor passível das influências da regra geral, mas também irrefutáveis à evidência; logo, deduz-se que Pedro é mortal – conclusão derivada do fato de Pedro ser homem, e homem ser mortal, e isso ser inquestionável. Portanto, das duas primeiras premissas verdadeiras, conclui-se por uma terceira, que não poderá ser falsa nem questionável. (METRING, 2011, p. 70) Como se pode ver, o raciocínio e as conclusões do pesquisador se dão de forma diferente no método dedutivo e no indutivo. MARCONI e LAKATOS (2000, p. 63) propõem dois exemplos para ilustrar a diferença nos argumentos dedutivos e indutivos: Dedutivo: Todo mamífero tem um coração. Ora, todos os cães são mamíferos. Logo, todos os cães têm um coração. Indutivo: Todos os cães que foram observados tinham um coração. Logo, todos os cães têm um coração. Observem que a conclusão foi a mesma, mas a forma de chegar até ela foi diferente. No exemplo acima, do ponto de vista de vista do método dedutivo, tem-se duas premissas verdadeiras: 1) todos os mamíferos têm um coração; e 2) todos os cães são mamíferos, o que gerou uma terceira premissa igualmente verdadeira: todos os cães têm um coração. Para que a terceira premissa fosse falsa, uma das duas premissas anteriores deveria ser falsa, como no exemplo dado por METRING (2011, p. 70-71): [...] toda ave voa – premissa maior; urubu é ave – premissa menor; portanto, conclui-se que urubu voa. Podemos perceber que a premissa maior não é verdadeira, pois nem toda ave voa, ou seja, o fato de ser uma ave não 5 UNIDADE 04 significa que deva voar, mas simplesmente que existe a probabilidade de que voe, e probabilidade é típico do indutismo e não do dedutismo. [...] não é porque urubu é uma ave que deva levar à conclusão de que ele voe, já que não são todas as aves que voam, como, por exemplo, o pinguim, que, como todos sabem, não voa. A figura abaixo ilustra, de forma objetiva, a diferença entre método dedutivoe método indutivo: 2.3 MÉTODO HIPOTÉTICO-DEDUTIVO Desenvolvido por Sir Karl Raymund Popper, o método hipotético-dedutivo consiste: na construção de conjecturas, que devem ser submetidas a testes, os mais diversos possíveis, à crítica intersubjetiva, ao controle mútuo pela discussão crítica, à publicidade crítica e ao confronto com os fatos, para ver quais as hipóteses que sobrevivem como mais aptas na luta pela vida, resistindo, portanto, às tentativas de refutação e falseamento. (MARCONI e LAKATOS, 2000, p. 72) De acordo com POPPER apud MARCONI e LAKATOS (2000, p. 73), “toda pesquisa tem sua origem num problema para o qual se procura uma solução, por meio de tentativas (conjecturas, hipóteses, teorias) e eliminação de erros”. Com base nesta teoria, a pesquisa inicia-se com a formulação de um problema. Depois de identificado o problema, “o pesquisador formula hipóteses e busca outros conhecimentos e instrumentos que possam auxiliá-lo no desenvolvimento de um trabalho que permita solucionar a questão, confirmar a hipótese ou refutá-la” (METRING, 2011, p. 71). Assim, se a hipótese não supera os testes, será falseada, ou seja, refutada, o que exigirá do pesquisador uma reformulação do problema e da hipótese. Por 6 UNIDADE 04 outro lado, uma vez superados os testes rigorosos, a hipótese restará confirmada provisoriamente, já que testes futuros ou novas investigações poderão levar o pesquisador a novos resultados. 2.4 MÉTODO DIALÉTICO Dialética é “um método de diálogo cujo foco é a contraposição e contradição de ideias que levam a outras ideias”1. Em outras palavras, a dialética é uma forma de analisar a realidade a partir da confrontação de teses, hipóteses ou teorias. De acordo com METRING (2011, p. 72): Este método é muito empregado em pesquisa qualitativa, utilizando perguntas e respostas em amplo confronto, através da tríade dialética: tese, antítese e síntese. Tese é a situação inicialmente dada; antítese é uma oposição oferecida propositalmente à tese; a síntese surge como resultado do conflito inicial gerado, uma nova situação que incorpora e carrega em si os elementos primordiais resultantes do debate. Os passos do método dialético são os seguintes: Para exemplificar esse método, METRING (2011, p. 72) cita o problema agrário no Brasil. Neste caso, a tese, situação inicial, é o latifúndio; a antítese, em oposição ao latifúndio, são os sem-terra. A síntese, decorrente do debate inicial, pode ser a reforma agrária. Neste caso, a reforma agrária seria a solução para o momento atual vivenciado pelos brasileiros. A reforma agrária se torna uma nova tese que pode vir a ser contestada futuramente (antítese), surgindo uma nova solução (síntese), e assim o ciclo dialético recomeça. 1 Wikipédia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Dial%C3%A9tica>. Acesso em: 04/09/2014. 7 UNIDADE 04 Ao completar esta unidade você deverá ser capaz de diferenciar os diversos métodos de pesquisa. REFERÊNCIAS BIAGI, Marta Cristina. Pesquisa científica – roteiro prático para desenvolver projetos e teses. 1. ed. 2. reimpr. Curitiba: Juruá, 2011. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia científica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000. ______. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. 4. reimpr. São Paulo: Atlas, 2007. METRING, Roberte Araújo. Pesquisas científicas: planejamento para iniciantes. Curitiba: Juruá, 2011. NASCIMENTO, Dinalva Melo do. Metodologia do trabalho científico: teoria e prática. Rio de Janeiro: Forense, 2002. RUIZ, João Álvaro. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006. Wikipédia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Dial%C3%A9tica>. Acesso em: 04/09/2014. Nesta unidade aprendemos a diferença entre métodos e técnicas. Além disso, analisamos os quatro principais tipos de métodos de pesquisa.
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